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O aplicador do Direito contemporâneo 
sábado, 3 de setembro de 2011 
 
Por Silvio Venosa 
Não basta que o regime seja formalmente democrático. Há que se compreender que a 
democracia meramente formal ou técnica pode-se equiparar aos mais rígidos regimes 
autocráticos. A simples técnica jurídica não assegura a correta aplicação das leis e a proteção 
da dignidade. Por essa razão, a persistência do positivismo em setores muito marcantes da 
vida pública brasileira demonstra uma certa ambiguidade, pois muitas atitudes do legislador, 
dos operadores do direito e dos governantes mascaram atitudes marcantemente positivistas 
ou legalistas e até mesmo atentatórias à democracia, à liberdade e à dignidade humana, sob 
o manto de valores contrários ao interesse social, escamoteados e plenos de subterfúgios 
corporativistas. 
Para que o direito tenha uma aplicação em prol da sociedade e em resposta aos anseios dela 
é mister que os profissionais atuantes nesse campo estejam preparados. Sabido é que juristas 
e operadores do direito em geral não se fazem com rapidez. Gerações de estudiosos são 
necessárias. Colocada ao lado a crítica mais frequente vinda do lado positivista quanto à 
segurança jurídica, cabe ao operador do direito, na contemporaneidade, perante as cláusulas 
abertas da lei atual, mormente do Código Civil de 2002, ser um “ser humano do seu tempo”. 
De nada adianta apontar para a função social do contrato se o advogado ou o juiz é pessoa 
acomodada, inculta, que não percebe os anseios da sua sociedade. Por isso eternizam-se os 
processos nos ancinhos das cortes, sem que decisões efetivamente operacionais sejam 
proferidas. 
Cada vez mais se exige que o profissional do direito seja uma pessoa antenada com a 
realidade social, “mundano”, no sentido exato do termo: conhecedor do mundo. Não há mais 
espaço ao juiz, advogado ou qualquer outro operador jurídico preso a doutrinas teóricas ou 
arraigados no comodismo dos textos frios da lei. Nem mesmo se admite mais essa posição ao 
doutrinador. As dissertações de mestrado e teses de doutorado da área social em geral caem 
no vazio e na inutilidade de não apresentarem uma pronta possibilidade de aplicação 
material. 
Isso é tanto verdadeiro para o aplicador do direito patrimonial como para o do direito de 
família. Ações judiciais em torno de posse, propriedade, contratos e sua aplicação que 
poderiam ganhar decisões eficientes e socialmente aceitáveis perdem-se nos escaninhos dos 
tribunais, jogadas à própria sorte à base de um falso legalismo, questiúnculas procedimentais 
e de irritantes recursos inúteis, inócuos e procrastinatórios, que só ao mau pagador e ao juiz 
acomodado interessam. 
Ao lado desses aspectos, o especialista em família necessita ter um perfil psicológico e 
espiritual destacado. Será sempre e mais do que tudo um conciliador. Não há mais que se 
admitir encômios ao advogado de família litigante por natureza. O conhecido litigator dos 
escritórios internacionais não deve mais encontrar campo fértil no direito de família, campo 
reservado aos conciliadores e negociadores e não aos mercadores de almas e detratores de 
patrimônios. 
É sumamente lamentável verificar que ainda vicejam profissionais que fazem da petição 
inicial, nas medidas cautelares e liminares, as suas armas para aterrorizar, declinar vontades 
imperiais, destruir famílias e amesquinhar sentimentos que ainda podem ser sublimados. Cabe 
ao magistrado de família ter a perspicácia de obstar essas ações que nem sempre ocorre ou se 
torna possível. 
Ao juiz, a sentença na área de família, diferentemente das áreas patrimoniais, deve ser 
considerada uma tragédia. A sentença em ações de alimentos, guarda de filhos, busca e 
apreensão de menores e regulamentação de visitas, separação contenciosa e tantas outras 
representam, na grande maioria dos casos, mais um capítulo de um drama e nunca seu 
epílogo. Torna-se cada vez mais necessário e premente conciliar. Por isso cresce a 
necessidade de profissionais auxiliares do operador jurídico, de todas as especialidades. Não 
podemos mais prescindir de engenheiros, psicólogos, médicos, biólogos, psicólogos e tantos 
outros. 
Sob esse diapasão, toda uma nova onda ética e moral deve ser formada, a começar pela 
formação dos profissionais nas faculdades. Ademais, as bases de nossos cursos elementares e 
médios devem formar jovens patriotas e éticos e quiçá um dia não vejam eles, nem nossos 
filhos e netos, os pérfidos exemplos dos homens públicos que enxameiam as páginas diárias 
dos noticiários político-policiais e chafurdam na lama que não mais os oculta e que inunda o 
país. 
Para a crise moral brasileira, há necessidade que nossa democracia seja ética, não mais 
bastando belos e poéticos princípios inscritos na Constituição, vazios e deturpados em sua 
aplicação. Só há verdadeiramente direito em uma nação quando a consciência social o 
absorve, quando o ordenamento como um todo é justo e equitativo. E os profissionais do 
direito devem ser os artífices dessa consciência. 
Fonte: http://www.leieordem.com.br/2230.html

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