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CIÊNCIA POLÍTICA - CCJ0107
Título
SEMANA 1
Descrição
Caso Concreto 1: 
Tema: Espaço social da palavra e complexidade do campo político 
Leia, atentamente, a palestra “O papel da universidade na sociedade brasileira: educação 
e pesquisa no ensino superior” de Sidnei Ferreira de Vares, e responda: 
1) Qual o espaço social da palavra política ele se refere? 
2) A qual tipo de discurso político ele se refere? Justifique as suas respostas.
Inicialmente, bom dia a todos. Gostaria de agradecer imensamente a presença de vocês e 
agradecer também ao convite que me foi feito pelo CIEE. Acredito que esse tipo de 
encontro, que, aliás, o Centro de Integração Empresa Escola sempre se esforça para 
realizar, contribua no sentido de uma discussão séria acerca dos problemas sociais e 
educativos que marcam a sociedade brasileira. Este esforço, portanto, não pode passar em 
claro. Bem, o objetivo do encontro desta manhã é discutir o papel da universidade na 
sociedade brasileira, como o próprio título da palestra apresenta sem muitos rodeios. Esse 
não é, efetivamente, um tema simples, pelo menos não para alguém que há alguns anos 
vivencia o dilema das universidades brasileiras de perto, sobretudo no que se refere ao 
Ensino Superior Privado. Sou professor universitário há 10 anos e muito cedo iniciei na 
profissão. Disso, certamente, decorrem algumas observações críticas em relação à 
maneira como o ensino superior se desenvolveu no Brasil, e também à maneira como 
atualmente está estruturado.
Minha proposta aqui é discutir o papel da universidade a partir de uma suspeita, reforçada 
ao longo de minha atuação como docente, a saber, a de que a universidade brasileira não 
cumpre o objetivo que deveria cumprir. Os motivos para essa “falta” são variados, mas, 
apontarei pelo menos três deles, a saber, (a) o desenvolvimento histórico e social da 
universidade no Brasil; (b) certa tendência antropofágica inerente à cultura brasileira 
(para me utilizar da expressão modernista), que geralmente retraduz elementos 
importados a sua maneira, mas que nunca são totalmente incorporados; (c) por fim, 
gostaria de ressaltar certa visão mercadológica, que invadiu o espaço universitário nas 
últimas décadas, e que acarretou uma série de problemas de ordem prática e ética.
Comecemos, portanto, com a análise histórica do desenvolvimento da universidade 
brasileira. Antes, porém, gostaria de me deter um pouco no surgimento da universidade, 
para depois falar de seu amadurecimento no Brasil. As primeiras universidades que se 
têm notícia surgiram no continente europeu entre os séculos XI e XII. Alguns estudiosos 
apontam a universidade de Bolonha como a primeira, e outros a de Paris. Esse é uma 
discussão vazia. O importante é saber que datam desse período. A maneira como surgem 
também não deixa de ser interessante. Algumas resultam de editos reais, outras de editos 
papais e há ainda aquelas derivam da reunião de professores, geralmente de escolas 
catedráticas, e que decidem fundar uma universidade.
Naquela ocasião a universidade atende um número muito restrito de alunos, quase sempre 
derivados da elite da época, isto é, da nobreza ou da burguesia que começava a se 
constituir. Ademais, sua estrutura física tinha pouco a ver com as universidades atuais. As 
aulas não eram realizadas necessariamente numa sala e a relação entre professor e alunos 
era certamente mais orgânica. O papel da universidade era o de exatamente integrar o 
conhecimento total. O método, embora rígido, estava calcado no trivium e quadrivium, 
que desde a antiguidade marcara a educação. Mas, há algo importante e que merece ser 
ressaltado: a universidade aparece com um espaço de produção de conhecimento.
Claro, alguns poderão objetar, essa produção tinha limites. Limites técnicos e mesmo 
culturais, haja vista a influência da religiosidade naquele período. De certo, essa 
influência atravancou o desenvolvimento da universidade, pelo menos até a modernidade. 
Mas, a partir do século XVII, a Europa passa de fato a ter uma produção científica de 
maior qualidade. Bem, no Brasil o chamado ensino superior é bem mais tardio. As 
primeiras faculdades datam do século XIX. A Faculdade de Medicina de Salvador e a de 
Direito do Largo São Francisco são exemplos disto. Até aquele instante não existiam 
faculdades e, portanto, os filhos das famílias mais abastadas tinham que estudar nas 
universidades europeias se desejassem fazer carreira acadêmica. Esse não é um fato 
irrelevante. São mais de 800 anos de atraso em relação à Europa. As diferenças são ainda 
mais gritantes quando se considera o surgimento da primeira universidade brasileira, a 
USP, em 1934, isto é, primeira metade do século XX. Com um caráter elitista, a 
universidade brasileira, pelo menos tinha algo importante nas suas raízes, a saber, ela 
procurou se desenvolver à luz da tradição europeia. Isso pode ser facilmente observado 
quando, por exemplo, se percorre a história da USP. E quanto aos professores 
franceses que vieram trabalhar no Brasil no intuito de contribuir para a estruturação 
aquela universidade? Gérard Lebrun, Claude Leffort, Claude-Levi Strauss, entre outros. 
Claro que essa presença trouxe resultados muito bons. Até os anos de 1960, pelo menos, 
a universidade brasileira tinha, apesar de sua incipiente estrutura, uma produção de 
altíssima qualidade, muito mais pela influência estrangeira no Brasil, do que 
propriamente por conta de uma inclinação cultural do povo brasileiro à ciência. Todo 
rigorismo intelectual e as técnicas de pesquisa desenvolvidas nesse período, devem muito 
aos ilustres estrangeiros que aqui estiveram, conquanto nomes como Sérgio Buarque de 
Holanda, Florestan Fernandes, Cruz Costa, Gilberto Freire, etc., também figurassem entre 
aqueles. Isso não tem nada a ver com “puxa-saquismo” ou com uma visão eurocêntrica. 
Simplesmente tem a ver com o que de fato aconteceu.
Isso, porém, não ofusca o brilho da geração de intelectuais brasileiros que seguiu e que 
contou com a ilustre presença de nomes como Otavio Iani, Fernando Henrique Cardoso, 
Alfredo Bosi, Antônio Candido, Darcy Ribeiro, enfim, um grupo brilhante de 
intelectuais. Contudo, a partir dos de 1960, mais precisamente com a instauração do 
regime militar, a universidade entrou num processo de sucateamento, que muito tem a ver 
com a série de acordos entre o MEC e a USAID (United States Agency for International 
Development), e que implicou na tecnização do ensino superior brasileiro, 
acompanhando o desenvolvimento industrial daquele período. No final dos anos 60, o 
regime militar facilitou a abertura de muitas universidades particulares. Aliás, muitas das 
universidades que estão no mercado atualmente, datam dessa época. A abertura dessas 
universidades, em si, não foi negativa, se tomarmos por base o fato de que, naquele 
tempo, o número de vagas nos estabelecimentos públicos ainda era muito diminuto. De 
todo modo, a divisão entre a rede pública e a privada fica mais delineada nesse momento. 
Deixemos, contudo, para falar das condições das universidades brasileiras no atual 
período, no final da explanação.
Passemos agora a analisar o segundo ponto que destaquei acima, isto é, certa tendência 
“antropofágica” que caracteriza alguns dos traços de nossa cultura. Durante a semana de 
1922 a referida expressão foi projetada para se referir à maneira como os brasileiros se 
apropriavam de elementos culturais exportados. Trata-se, nesse sentido, de um termo de 
valência positiva, pois demonstra a capacidade de nossa cultura de retraduzir influências, 
dando-lhe um toque tupiniquim. Contudo, no campo da educação as coisas não foram tão 
positivas assim. Todo o sentido da universidade europeia, principalmente no que toca a 
ideia de universalização do saber, não se consolidou. Desde o século XIX, quando as 
primeiras faculdades são fundadas, elas se dirigiam a uma parcela minoritáriada 
população, de modo que, longe de alcançar a todas as classes, a universidade brasileira 
caminhava para se tornar um antro elitista. Ademais, toda a estrutura que caracteriza as 
universidades europeias, simplesmente não se reproduziu aqui. Aliás, com raras 
exceções, podemos afirmar que até hoje as diferenças estruturais são muito significativas. 
Bibliotecas, laboratórios, professores estrangeiros, enfim, um conjunto de elementos que 
faltam às universidades brasileiras, mas não às estrangeiras. Em outros termos, nossa 
capacidade de retradução nesse caso foi muito pequena, para não dizer nula.
Mas o pior ainda está por vir. Refiro-me ao papel que a economia, representada, 
sobretudo, pelas grandes corporações, adquiriu no âmbito da educação. A partir do final 
dos anos de 1990, alguns grupos educacionais, ancorados nas brechas da lei, garantidas 
por governos que estão muito mais interessados em números e estatísticas, do que 
propriamente no alargamento da qualidade do ensino superior, perceberam o filão que 
representava a expansão das vagas com vistas às classes mais carentes. Nesse momento, 
muitas universidades, sobretudo particulares, passam a adotar métodos de captação de 
alunos sem maiores critérios. Vestibulares são substituídos por redações. O número de 
vagas entre universidades e centros universitários aumenta vertiginosamente, a ponto de 
termos hoje, em algumas áreas e cursos, mais vagas do que candidatos. E tudo isso sem o 
devido acompanhamento sério do MEC e do Ministério do Trabalho, o que resultou no 
sucateamento da remuneração docente e na qualidade duvidosa dos cursos oferecidos. A 
estratégica adotada, por um lado, foi a do barateamento dos preços das mensalidades, 
somada aos baixos salários dos professores e o descuido com a devida titulação docente, 
e, de outro, a uma propaganda agressiva e ilusória que pretende, a partir da inserção de 
um discurso de características teológicas, vender a ideia de que a felicidade individual 
(entenda-se a ampliação das oportunidades profissionais, o que implica em melhores 
empregos, salários, cargos, etc., típicos apelos da sociedade capitalista), só poderá ser 
alcançada via universidade.
O “capital cultural instituicionalizado”, como diria Pierre Bourdieu, através do diploma, 
se converte em diploma e abre portas. Isso é a pura lorota! O ensino superior fica assim 
reduzido a um “meio” e não a um “fim”. A mensagem é clara: adquira, o quanto antes, 
um diploma superior e conquiste o sucesso profissional (mais ganhos). Discurso atrativo, 
mas mentiroso. Sabe-se que na prática as coisas não funcionam bem assim. O diploma 
universitário não é uma garantia de estabilidade ou ascensão social. Este é um mito que 
os meios propagandísticos não cessam de difundir. Enquanto isso, preocupações básicas 
como qualidade de ensino, plano de carreira do professorado, desenvolvimento de 
projetos de pesquisa, iniciação científica, ficam a sombra. A discussão acerca da 
universidade fica reduzida a cooptação de alunos e as estratégias de marketing no sentido 
de “vender” o ingresso no paraíso via universidade.
A universidade está longe de ser um paraíso, embora também não seja um inferno. Ela é, 
sim, um espaço de formação e produção de conhecimento, e se os alunos não tiverem 
plena consciência disso, fica difícil, senão impossível, desenvolver um trabalho razoável. 
Ela não pode ser vista com um “meio”, mas como um “fim”. Seu papel é o de promover 
pesquisa, estudos em áreas específicas, com vistas ao desenvolvimento humano e 
tecnológico. Um país soberano depende estritamente disso. Mas do que meras estatísticas 
e índices de produção, precisamos reaver a essência mesma da universidade e, nesse 
sentido, revisitar suas origens está longe de ser um retrocesso, mas pode ser visto como 
uma oportunidade única para avançar.
Disponível em: <
http://revistaparametro.wordpress.com/2012/03/31/o-papel-da-universidade-na-
sociedade-brasileira-educacao-e-pesquisa-no-ensino-superior/
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