Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA NO ESTADO DEMOCRÁTICO AMBIENTAL Délton Winter de Carvalho 1 Sumário: 1. Introdução. 2. Estado Democrático Ambiental. 3. Responsabilidade Administrativa Ambiental. 4. Infrações e Sanções Ambientais Administrativas. Resumo: A produção dos riscos ecológicos pela Sociedade Pós-Industrial provoca a necessária absorção da função ambiental pelos sistemas sociais. Enquanto o Direito produz o Direito Ambiental, da integração entre a Política e o Direito surge o Estado Democrático Ambiental. Sendo este uma dimensão do Estado Democrático de Direito, a aplicação da responsabilidade administrativa ambiental no Estado Democrático Ambiental encontra-se fundada numa simultânea ampliação do sentido atribuído ao ilícito administrativo (infração administrativa ambiental), necessária ao cumprimento de sua função ambiental, porém limitando a aplicação das respectivas sanções aos termos e condições normativamente impostos. 1 Advogado. Consultor jurídico na área de Direito Ambiental. Mestre em Direito. Doutor em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professor de Direito Ambiental no Curso de Direito da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Coordenador e Professor no Curso de Especialização em Direito Ambiental do Centro Universitário FEEVALE. 2 1. Introdução: O amanhecer da Sociedade Contemporânea demarca uma nova forma social fundada na hipercomplexidade nas relações entre os sistemas sociais (Direito, Política e Economia), bem como na constatação de ser uma de suas principais características a produção de riscos globais, dentre os quais destacam-se os riscos ecológicos. Tomando em consideração o fato de que, paradoxalmente, estes riscos são gerados pela Sociedade e somente podem ser geridos pelas comunicações existentes nesta (jurídica, política e econômica), estas dimensões sociais passam a sofrer profundas alterações diante de sua exposição a novas situações e conflitos, marcadamente pós-industriais. Portanto, o Direito e a Política passam a reagir a estes “ruídos”, sob suas lógicas e racionalidades específicas, através da formação de um processo de Ecologização de suas estruturas que pode ser demonstrada na formação do sentido de Estado Democrático Ambiental. A partir da Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81) e, acima de tudo, da atribuição do meio ambiente como um direito fundamental de todos pelo art. 225 da Constituição, agrega-se às funções do Estado Democrático de Direito a função ambiental (proteção do meio ambiente e promoção da sadia qualidade de vida). É exatamente o exercício desta função ambiental pelo Estado Democrático de Direito que tem servido para dar sentido ao que tem sido, constantemente, descrito como Estado Democrático Ambiental. As nuances estruturais e funcionais do Estado Democrático de Direito na absorção desta, pode-se dizer, “nova” função são profundamente relevantes sempre que se pretender observar tutela administrativa do meio ambiente, pois esta é aplicada diretamente pelo próprio ente estatal ao administrado. A função ambiental assumida pelo Estado traz consigo a necessária aplicação de responsabilidade administrativa às infrações ambientais, tendo seus limites e condições ditados pela simbiose entre os direitos e garantias individuais e a tutela ambiental. A tensão entre estas 3 dimensões de direitos subjetivos e interesses transindividuais é capaz de demonstrar uma dinâmica na aplicação da responsabilidade administrativa ambiental no Estado Democrático Ambiental. Ao mesmo tempo em que há a ampliação das possibilidades de enquadramento de situações sociais à condição de infração administrativa (restringindo o direito de liberdade e exercício do direito de propriedade em um maior número de situações), a aplicação das respectivas sanções administrativas encontra-se condicionada aos limites e garantias individuais resguardados pelo Estado de Direito (Ambiental). 2. O Estado Democrático Ambiental: A Sociedade Contemporânea tem sido amplamente adjetivada, seja como uma Sociedade Globalizada, de Risco ou Pós-Industrial. O que importa para o presente estudo consiste na constatação de que a forma social contemporânea é caracterizada pela produção de riscos globais, dentre os quais destacam-se aqueles de natureza ecológica (aquecimento global, contaminações provenientes da indústria atômica e química, poluições industriais, falta de infra-estrutura nos grandes centros urbanos). Os sistemas sociais do Direito, Economia e Política desenvolvem estratégias comunicacionais para assimilar tais riscos, ou seja, produzir ressonâncias capazes de gerar processos de investigação, avaliação e gestão dos riscos ecológicos em cada um destas esferas de diálogos. A integração entre a Política e o Direito faz-se clara na construção dos Estados Constitucionais ocidentais, sendo estes organizações que, de forma local e territorializada, estruturam a complexidade social. Ao longo dos últimos séculos, o desenvolvimento técnico- científico foi colocado à disposição da Economia que, por sua vez, intensificou a sua utilização nas cadeias produtivas industriais, gerando um possível comprometimento das condições ambientais no Planeta. Enquanto o Direito produziu uma comunicação ecológica em seu âmbito (comunicação 4 jurídica), a partir da institucionalização do Direito Ambiental, a Política encontra-se fundada num fenômeno de Eco-democratização 2 . O ponto de contato entre o Direito e a Política Ambiental se dá a partir da noção de Estado Democrático Ambiental, cujo sentido consiste na absorção da função de proteção ambiental como tarefa e fim pelo Estado. O Direito na Modernidade encontra-se diretamente vinculado a uma noção forte de Estado, detendo uma racionalidade jurídica formada sob a égide do normativismo. 3 Neste sentido, faz-se fundamental lançarmos nossas observações sobre a evolução histórica do sistema político moderno ocidental, tendo o Estado como organização capaz de efetuar a função de integração entre Direito e Política. Após as revoluções liberais e a conseqüente institucionalização dos direitos individuais surge o Estado Liberal com a formação de garantias ao cidadão em relação ao (abuso de) poder do Estado. Tais direitos impõem obrigações de abstenção ao Estado, impedindo-o de intervir na esfera privada do indivíduo. O êxito da burguesia e de suas fundações filosóficas acarretou na constitucionalização dos direitos do indivíduo contra o Estado, impondo obrigações de abstenção e limites à intervenção estatal na vida privada do cidadão. Estes direitos civis e políticos têm como exemplos os direitos à liberdade, igualdade, propriedade, privacidade, entre outros direitos individuais de conteúdo negativo. O Estado Liberal consiste numa organização capaz de proporcionar a integração entre os diálogos do Direito e da Política, cujo átomo das concepções e construções filosóficas era o indivíduo. Tais direitos fundamentais apresentam um conteúdo abstencionista, cuja garantia depende apenas de um não agir por parte do Estado para a sua concretização. Os direitos fundamentais apresentam-se como um “medium” integrador do Sistema Político e o Sistema Jurídico. A relação Estado/Direito, que marca a Modernidade, enseja a vinculação desta geração de direitos com a caracterização do Estado de Direito, segundo o qual o 2 Denominamos de Eco-Democratização o processo de sensibilização das formas democráticas às necessidadesimpostas pela questão ambiental, devendo estimular a participação direta dos cidadãos (audiências públicas em processos de licenciamento ambiental) nos processos de tomada de decisão que possam comprometer os interesses das futuras gerações ou que façam uso de recursos naturais. 3 ROCHA, Leonel Severo. Epistemologia Jurídica e Democracia. 2 ed. São Leopoldo: UNISINOS, 2003. p. 185. 5 cidadão tem assegurado a imposição de limites, pelo Direito, para a intervenção estatal na esfera privada. Já a formação do Estado Social ou de Bem-Estar Social decorre do surgimento e constitucionalização dos direitos de segunda geração, impondo obrigações prestacionais ao Estado. A segunda geração de direitos fundamentais surge da constatação dos desequilíbrios materiais existentes entre grupos sociais, da massificação das relações sociais e da própria necessidade que os países capitalistas detinham em apresentar uma resposta à concorrência exercida bloco comunista. A ampliação dos poderes do Estado, justificados através dos direitos fundamentais positivos, dá azo ao caráter prestacional do ente estatal, demonstrando uma postura intervencionista do Estado. Tratando-se o Estado de Bem-Estar Social de uma evolução do Estado de Direito, este exerce seu caráter intervencionista por meio do direito e do dinheiro. 4 Estes direitos têm por característica a intenção de garantir uma igualdade substancial a determinados grupos sociais, através de prestações positivas por parte do Estado na forma jurídica de direitos subjetivos. O Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State efetua uma interface entre programas políticos e direitos subjetivos 5 , ou seja, entre Política e o Direito, como instrumentos de transformação e equilíbrio social. Por sua estrutura prestacional ou positiva, os direitos humanos de segunda geração (saúde, educação, trabalho, habitação, seguridade social, etc) dependem das condições estruturais e econômicas dos Estados, ao contrário dos direitos de primeira geração que dependem tão-somente da abstenção do Estado para a sua garantização. Conforme Norberto Bobbio: “Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado – e, portanto, com o objetivo de limitar o poder -, os direitos sociais exigem, para sua realização prática, ou seja, para a passagem da declaração puramente verbal à sua proteção efetiva, precisando o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado.”6 Nesta geração de direitos fundamentais os titulares dos direitos são sujeitos coletivos. Assim, no plano jurídico- dogmático, assiste-se a uma inversão do objeto do direito subjetivo: enquanto os clássicos direitos 4 LUHMANN, Niklas. Teoría Política en el Estado de Bienestar. Madrid: Alianza Universidad, 1997. p. 103-109. 5 DE GIORGI, Raffaele. Direito, Democracia e Risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre, 1993. p. 108-109. 6 BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p. 72. 6 individuais reconduziam-se a uma pretensão de omissão dos poderes públicos perante a esfera jurídica privada, os direitos a prestações postulam uma proibição de omissão, impondo ao Estado uma postura ativa a partir de prestações. 7 Como se sabe, os direitos de terceira geração são fruto da democratização na Sociedade Contemporânea que, através da maior participação dos movimentos populares, acompanha o surgimento do Estado Democrático de Direito. Nesta forma estatal, tem-se uma perspectiva democrática de gestão pública que, no entanto, não exclui as dimensões protegidas pelo Estado de Direito e pelo Estado Social. No Estado Democrático de Direito há a integração democrática e social entre as três formas estatais e suas gerações de direitos fundamentais (liberal, social e democrático). Com a estrutura política democrática do Estado, os direitos e expectativas proliferaram-se, uma vez que os novos atores sociais começaram a reivindicar prestações e a tutela de seus interesses (meio ambiente, consumidores, etc). Estes direitos de terceira geração apresentam a expansão da titularidade individual aos grupos, minorias étnicas, religiosas e à humanidade, isto é, sua marca consiste na sua transindividualidade. No entanto, enquanto os direitos coletivos (“stricto sensu”) surgidos no Estado Social são marcados pela necessária determinação dos titulares do direito (aposentados, trabalhadores de uma determinada empresa, etc), os titulares dos interesses tutelados nesta terceira geração dos direitos fundamentais são indeterminados (consumidores, vítimas de danos ambientais, atingidos por guerras, etc). Ao passo que os direitos coletivos (“stricto sensu”) decorrem de relações jurídicas de base (pensionistas, vínculos trabalhistas, participação de categorias e classes profissionais), os direitos transindividuais decorrem de situações fáticas, tais como danos ambientais e aos consumidores. Característicos à Sociedade de Massas estes direitos distinguem-se pelo caráter de solidariedade e na sua transindividualidade, pois seu escopo protetivo consiste na garantia de interesses que atingem o gênero humano como um todo (inclusive as futuras gerações). Dentro desta 7 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Estudos sobre Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra, 2004, p. 52. 7 geração encontram-se os direitos ao desenvolvimento, à paz, ao patrimônio comum da humanidade e, destacadamente, ao meio ambiente, entre outros interesses cuja titularidade encontra-se em uma universalidade de sujeitos indeterminados ou indetermináveis (titularidade difusa). Apesar de não estar inserido topograficamente no capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos (ou seja, fora do Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais -, Capítulo I – Dos Direitos Individuais e Coletivos, da Constituição Federal), não se contesta o conteúdo de direito fundamental à tutela ambiental. 8 A proteção do meio ambiente se manifesta, na dogmática jurídica contemporânea, como um direito fundamental de terceira geração 9 , uma vez que se trata de um corolário do próprio direito à vida. A previsão constitucional do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental, de natureza difusa, denota uma dimensão negativa e outra positiva, pois “de um lado, exige que o Estado, por si mesmo, respeite a qualidade do meio ambiente e, de outro lado, requer que o Poder Público seja um garantidor da incolumidade do bem jurídico, ou seja, a qualidade do meio ambiente em função da qualidade de vida.”10 Com a constitucionalização do direito das presentes e futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, tem-se a absorção da função ecológica pelo Estado Democrático de Direito. Assim, pode ser dito que a inserção da proteção ambiental como objetivo fundamental do 8 Para exemplificar a sedimentação deste posicionamento citamos, de forma não exaustiva, algumas obras que atribuem, expressamente, uma qualidade de direito fundamental à proteção do meio ambiente: MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio Ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002; ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2002; DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997; SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002; MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004; CANOTILHO, José Joaquim Gomes. (coord.). Introdução ao Direito do Ambiente. Lisboa: UniversidadeAberta, 1998; MORATO LEITE, José Rubens. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000; TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Direitos Humanos e Meio Ambiente: paralelos dos sistemas de proteção internacional. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1993. 9 Apesar de José Joaquim Gomes Canotilho não hesitar em qualificar o direito ao meio ambiente como um direito fundamental, este apresenta a compreensão de que trata-se de um direito de quarta geração. CANOTILHO, José Joaquim Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República portuguesa anotada. 10 SILVA, José Afonso da. “Fundamentos Constitucionais da Proteção do Meio Ambiente”. In: Revista de Direito Ambiental, n. 27, ano 7, jul.-set. 2002, p. 52. 8 Estado repercute no surgimento da “hipótese do Estado de Direito Ambiental”, cuja finalidade consiste na defesa do ambiente e na promoção da qualidade de vida. 11 Neste fio condutor, Paulo de Castro Rangel descreve o Estado de Direito Ambiental sob um critério estrutural-funcional. No que diz respeito à estrutura do Estado nas relações tidas entre este e Sociedade, surge um Estado que ultrapassa o modelo intervencionista de inspiração keynesiana, promovendo uma postura de transação-negociação direta com os singulares cidadãos e demais pessoas jurídicas. Há um estímulo à participação cidadã através de órgãos com ou sem capacidade organizativa e reivindicativa. Para o mesmo autor, já no que diz respeito ao ponto de vista funcional, o Estado assume novas tarefas, tais como a defesa do meio ambiente e promoção da qualidade de vida. A absorção destas tarefas pelo Estado consiste em fins, qualitativa e substancialmente, diversos dos anteriores (Estado de Direito e Estado Social), sendo, muitas das vezes, inclusive, conflitantes com estes. 12 O Estado Democrático Ambiental 13 e o próprio Direito Ambiental consistem em alterações estruturais havidas, respectivamente, no Estado e no Direito para reagir aos riscos ecológicos produzidos e distribuídos Sociedade Pós-Industrial. Na verdade, pode-se, seguramente, concluir que o Estado Democrático Ambiental consiste num processo de Ecologização das estruturas do Sistema Político em “acoplamento”14 com a dinâmica de sensibilização do Direito às irritações ecológicas (na Ecologização do Direito). Contemporaneamente, pode-se dizer, ainda, que os “sistemas parciais 11 RANGEL, Paulo Castro. Concertação, Programação e Direito do Ambiente. Coimbra: Coimbra Editora, 1994. p. 33. 12 RANGEL, Paulo Castro. Concertação, Programação e Direito do Ambiente, p. 19-20. 13 O Estado Ambiental, na doutrina internacional, vem sendo objeto dos trabalhos de autores tais como Michael Kloepfer (Umweltrecht) e José Joaquim Gomes Canotilho (Estado Democrático Ambiental), sendo que, na doutrina brasileira acompanha-os José Rubens Morato Leite (MORATO LEITE, José Rubens; FERREIRA, Helene Sivini Ferreira (orgs.) Estado de Direito Ambiental: tendências. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004). 14 Fazemos uso da noção de “acoplamento (estrutural)” sob influência de LUHMANN, Niklas. Sistemas Sociales: lineamentos para uma teoria general. México: Alianza Editorial/Universidad Iberoamericana, 1991; ROMESÍN, Humberto Maturana; GARCÍA, Francisco J. Varela. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 3 ed. São Paulo: Palas Athena, 2001; ROMESÍN, Humberto Maturana; GARCÍA, Francisco J. Varela. De Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese – a Organização do Vivo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 9 procuram nas tecnologias clássicas do Estado de direito constitucional uma última ‘resposta’ ou ‘reflexão’ para os conflitos de racionalidades.”15 Portanto, a partir da constitucionalização da matéria ambiental (art. 225, CF), o Estado (Democrático Ambiental) tem a função de integração dos vários discursos existentes na Sociedade (Direito, Economia e Política), sob uma sensibilização ecológica e a partir da perspectiva moral dos direitos fundamentais como “superdiscurso social”.16 Após a constitucionalização da matéria ambiental no art. 225, da Constituição Federal de 1988, agrega-se às funções liberais e sociais do Estado um novo objetivo a estas: a proteção do meio ambiente e da qualidade de vida. Com isto, O Estado Democrático Ambiental trata-se de um Estado que leva o meio ambiente como um critério de aferição para tomar suas decisões. Para José Joaquim Gomes Canotilho, o Estado Democrático Ambiental “além de ser e dever ser um Estado de Direito Democrático e Social, deve ser também um Estado regido por princípios ecológicos”. Da mesma forma, este deve apontar para novas formas de participação política, numa verdadeira “Democracia Sustentada” cujo sentido consiste na forma de democracia adequada ao desenvolvimento ambientalmente justo e durador. 17 Desta forma, o Direito Ambiental impõem uma alteração no pilar democrático do Estado: há uma verdadeira superação da democracia representativa em prol de formas de participação direta dos cidadãos (por exemplo, através das audiências públicas em processos de licenciamento). O fortalecimento da democracia direta ou participativa em processos de tomada de decisão que repercutem ou possam repercutir na perda da qualidade ambiental tem por justificativa o fato de que as conseqüências das decisões tomadas acerca das questões ambientais não se prolongam apenas 15 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. “O tom e o dom na teoria jurídico-constitucional dos direitos fundamentais”. In: Estudos sobre Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra, 2004, p. 132. 16 Expressão extraída de CANOTILHO, José Joaquim Gomes. “O tom e o dom na teoria jurídico-constitucional dos direitos fundamentais”. In: Estudos sobre Direitos Fundamentais, p. 132. 17 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. “Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada” In: GRAU, Eros Roberto; CUNHA, Sérgio Sérvulo da (coord.). Estudos de Direito Constitucional, p. 101-10. 10 pelos períodos em que os representantes ocupam seus cargos políticos, mas propagam-se por anos e gerações à frente. Ainda, José Joaquim Gomes Canotilho descreve o Estado Democrático Ambiental a partir de uma delimitação negativa e outra positiva. Em sua delimitação negativa, deve haver uma recusa à estatização/publicização do bem ambiental, pois a tutela do ambiente é uma função de todos; rejeita- se, ainda, a tecnicização da tutela ambiental (pressão da técnica sobre o Direito), uma vez que, embora muitas normas regulativas do ambiente tenham um aprofundamento técnico, não pode haver um afastamento da participação dos cidadãos da discussão e confecção das normas e regras ambientais, bem como dos procedimentos que envolvam interesses coletivos; ainda, o Estado Democrático Ambiental não deve ser visto apenas como um Estado liberal, como o Estado de Polícia, que limitar-se-ia a assegurar a existência de uma ordem jurídica de paz, confiando na livre regulação entre particulares para a solução dos problemas ambientais. Na sua dimensão positiva, o Estado Democrático Ambiental é descrito pelo autor lusitano como um Estado “aberto”, no qual os cidadãos têm o direito de obter dos poderes públicos informações sobre situações ambientais que lhes sejam relevantes ou desejadas (direito de informação sobre o “estado do ambiente”); a política do ambiente tem um suporte social generalizado e é dinamizada por iniciativas dos cidadãos, possibilitando a formação de um compromisso ambiental da sociedade civil no “Estado democrático do ambiente”; este último impõe uma dimensãoparticipativa que valoriza e, mesmo, estabelece como “dever” a participação dos cidadãos nos procedimentos administrativos ambientais; finalmente, as associações de proteção ao meio ambiente adquirem uma posição de destaque como instrumento de democracia direta (formação de grupos de pressão, legitimidade processual, fomentadores de informações e propostas ambientais, polícias do ambiente, etc). Assim, o Estado Democrático Ambiental tem por escopo a formação de um “Estado de Justiça Ambiental”, proibindo-se iniqüidade e qualquer espécie de discriminação ambiental tida através de quaisquer decisões, seleções, práticas administrativas ou ações materiais que digam respeito à tutela ambiental ou à transformação do território e que onerem 11 de forma injusta determinados grupos, comunidades, minorias, indivíduos, em vista de sua raça, situação econômica ou localização geográfica. 18 Em síntese, pode ser constatado que Estado Democrático Ambiental consolida-se como uma dimensão do próprio Estado Democrático de Direito, agregando às funções clássicas de garantização de direitos individuais (Estado de Direito) e sociais (Estado Social), a função ambiental, sob o resguardo democrático (Estado Democrático de Direito). A fim de descrever a necessária pré-compreensão dos operadores jurídicos no Estado Democrático Ambiental, pode-se dizer que, assim como a justiça social é a finalidade do Estado Democrático de Direito, a justiça ambiental é a tarefa e o fim a ser garantido pelo Estado Democrático Ambiental em relação às presentes e futuras gerações. 3. Responsabilidade Administrativa Ambiental: A proteção do meio ambiente e a promoção da qualidade ambiental dependem, incontroversamente, do controle e fiscalização estatal para sua efetividade, sob a formatação estrutural-funcional do Estado Democrático Ambiental. Neste sentido, deve-se avaliar as características da responsabilidade ambiental imposta pela Administração Pública no exercício do poder de polícia a fim de determinar as condições e os limites para a configuração das infrações administrativas e a aplicação das sanções da mesma natureza. Portanto, é sob a estrutura do Estado Democrático Ambiental que a responsabilidade administrativa ambiental deve ser promovida, demonstrando suas condições e limites punitivos. 18 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. “Direito Público do Ambiente. (direito constitucional e direito administrativo)”. In: Curso de Pós-Graduação. CEDOUA e Faculdade de Direito de Coimbra, 1995/1996. p. 30-5. 12 A Constituição Federal brasileira estabelece, no § 3º, do art. 225, a possibilidade de incidência cumulativa das responsabilidades civil, administrativa e penal em matéria ambiental às pessoas físicas ou jurídicas envolvidas, direta ou indiretamente. Isto é possível em virtude da especificidade funcional e dos critérios configuradores de cada uma das formas de responsabilidade, os quais passamos a avaliar em apertada síntese. A responsabilidade civil ambiental trata-se de responsabilidade objetiva e detém uma dúplice função reparadora e preventiva, encontrando previsão normativa no art. 14, §1º, da Lei n. 6.938/81. Tratando-se de forma de responsabilidade civil objetiva, a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente exige a comprovação de conduta, dano e o nexo causal entre estes, prescindindo da comprovação da culpa ou ilicitude na conduta do agente. A título de punição, pode ser dito que, caracterizada a ocorrência de danos ambientais, haverá a imposição prioritária de recuperação “in natura” do ambiente degradado ou, na proporção da impossibilidade, indenização pelos danos causados ao meio ambiente ou aos recursos naturais. À semelhança da responsabilidade penal, a responsabilidade civil só pode ser aplicada pelo Poder Judiciário. A responsabilidade penal consiste em recurso extremo para o exercício do jus puniendi pelo Estado, ficando o infrator sujeito à restrições a sua liberdade, à imposição de penas pecuniárias ou à restrição de direitos sempre que houver a caracterização de crime ou contravenção penal. Esta espécie de responsabilização tem como função a repressão de condutas típicas antijurídicas previstas em lei. Os crimes e sanções penais em matéria ambiental encontram-se previstos na Lei n. 9.605/98, sob as espécies de crimes contra a fauna, crimes contra a flora, crimes por poluição e outros crimes, crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural e crimes contra a administração ambiental. Assim, a ocorrência de um crime, como conduta típica antijurídica prevista em lei que atinja o meio ambiente ou lhe ponha em risco, desencadeia a aplicação da respectiva pena. Já a responsabilidade administrativa decorre, de forma genérica, das condutas que violam regras de natureza administrativa, ou seja, quando o uso ou gozo da propriedade e o desenvolvimento de determinadas atividades violam regras administrativas. A doutrina entende, de 13 forma unânime, que a responsabilidade administrativa resulta do cometimento de infração a normas administrativas, o que sujeita o infrator a uma sanção da mesma natureza. 19 Independentemente da da concretização de danos ao meio ambiente, o simples enquadramento de um evento à descrição legal da infração administrativa tem o condão de fazer incidir a respectiva sanção administrativa. Além de uma função repressiva (fiscalização e punição), a responsabilidade administrativa detém uma função preventiva, cujo aspecto teleológico consiste na orientação dos agentes acerca da adequação de suas condutas e da utilização da propriedade privada ou pública. O entendimento preponderante na doutrina de Direito Ambiental prevê, de forma genérica, a aplicação da responsabilidade administrativa independentemente da comprovação de culpa 20 , podendo haver previsões legais específicas em sentido contrário. Em matéria ambiental, a infração administrativa consiste em “toda a ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”, conforme os termos do art. 70 da Lei n. 9.605/98. Assim, a responsabilidade administrativa ambiental trata-se de um sistema híbrido de responsabilização, localizando-se entre a responsabilidade civil objetiva, sem a necessidade de comprovação de culpa salvo nas hipóteses em que o próprio tipo exigir o elemento subjetivo, e a responsabilidade penal, que exige a ilicitude para a configuração do tipo infracional. 21 Portanto, a responsabilidade administrativa tem como pressuposto a ocorrência de conduta ilícita capaz de desencadear uma sanção administrativa correspondente. A essência do regime da responsabilidade administrativa decorre, segundo Edis Milaré, da “ocorrência de uma infração, vale dizer, a desobediência a normas constitucionais, legais ou regulamentares ou a subsunção do comportamento do agente a um tipo infracional.”22 19 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 301. 20 Neste sentido, FREITAS, Vladimir de Passos. Direito Administrativo e Meio Ambiente. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2003. p. 80 a 81. 21 ABRÃO, Paulo de Tarso Siqueira, CASTRO, Daniella Mac-Dowell Leite de. “Direito Administrativo Ambiental.” In: Arlindo Philippi Jr., Alaôr Caffé Alves (ed.). Curso Interdisciplinar de Direito Ambiental. Universidade de São Paulo: Manole, 2005. p. 389 a 393. 22 MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 692 a 693. 14 A Lei n.9.605/98 consiste na previsão normativa geral acerca das infrações administrativas ambientais, estando prevista nos arts. 70 a 76. O Decreto Federal n. 3.179/99, que regulamenta os arts. 70 a 76 da Lei n. 9.605/98, estabelece as estruturas da responsabilidade administrava, com a previsão das infrações e sanções administrativas de natureza ambiental. De ser ressaltado, ainda, que a Lei n. 9.605/98 fez uso da competência constitucional concorrente da União para estabelecer normas gerais em matéria de meio ambiente (art. 24, VI, da CF), bem como proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (art. 24, VII, da CF). As condutas sujeitas a serem enquadradas como infrações administrativas consistem em infrações genéricas e específicas. Desta forma, genericamente, as condutas serão consideradas ilícitas para fins de imposição de responsabilidade administrativa quando violarem qualquer disposição jurídica que tenha por objeto, direto ou indireto, o uso, o gozo, a promoção, a proteção e a recuperação dos recursos ambientais e a conservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 70 da Lei n. 9.605/98). De maneira específica, as condutas previstas como tipos infracionais previstos no Decreto n. 3.179/99 tratam-se de condutas ilícitas caracterizadoras de infrações ambientais administrativas. A sanção administrativa “somente poderá incidir ante o perfeito enquadramento legal da conduta imputada ao agente, incluindo, se for o caso, a ocorrência do resultado danoso nos termos descritos no tipo.”23 Desta forma, somente após a configuração de uma infração administrativa é que terá lugar a imposição da sanção da mesma natureza. Neste sentido, o exercício do poder de polícia administrativa-ambiental pelo Estado Democrático Ambiental deve se dar mediante a integração de sua função de proteção do meio ambiente e promoção da qualidade de vida, dentro dos limites impostos pelo Estado de Direito, evitando-se o abuso de poder pelo Estado. A tarefa e o fim do Estado Democrático Ambiental, previstos no art. 225 da CF, devem ser exercidos em atendimento aos limites impostos pelo Estado de Direito, segundo o art. 37 da CF. Pode ser dito, desta maneira, que a proteção ambiental não se dá ao arrepio do Estado de Direito, mas é uma manifestação deste. A integração entre os direitos individuais e coletivos se dá a partir da própria noção do Estado Democrático Ambiental que nada 23 MILARÉ, Edis. op. cit. p. 694. 15 mais é do que um Estado de Direito, que, em adição às suas funções clássicas, absorve a proteção ambiental e a promoção da qualidade de vida com sua função, sob o comprometimento político- democrático. Conforme já visto, é corrente que o Estado de Direito exerce a garantização de direitos individuais fundamentais, ou seja, direitos negativos dos cidadãos em face ao Estado. Da mesma forma, este se encontra sob o âmago conceitual do Estado Democrático Ambiental que integra todas as dimensões do Estado (liberal, social e democrático) para o exercício de sua função ambiental. Portanto, o Estado de Direito estabelece os limites ao exercício do Poder do Estado em relação aos administrados, sendo o Princípio da Legalidade um dos principais contrapesos ao evidente desequilíbrio existente entre Administrador e Administrado. O Estado Democrático de Direito trata- se, antes de mais nada, de um Estado de Direito, impondo limites ao exercício das funções assumidas pelo Estado, garantindo assim não apenas os direitos fundamentais sociais, mas também as garantias individuais. Esta integração entre as dimensões do Estado é marcada pelo Princípio da Legalidade como limite ao Poder de Polícia do Estado sobre os administrados. Acerca da manutenção dos elementos do Estado de Direito no Estado Democrático de Direito, a partir de seus Princípios limitadores tais como o Princípio da Legalidade para o exercício de suas funções punitivas, faz-se o magistério de José Joaquim Gomes Canotilho, nos seguintes termos: “O princípio da legalidade da administração foi erigido, muitas vezes, em ‘cerne essencial’ do Estado de direito. (...) O princípio da legalidade postula dois princípios fundamentais: o ‘princípio da supremacia’ ou ‘prevalência da lei’ (Vorrang des Gesetzes) e o ‘princípio da reserva de lei (Vorbehalt dês Gesetzes). Estes princípios permanecem validados, pois num Estado democrático-constitucional a lei parlamentar é, ainda, a expressão privilegiada do princípio democrático (daí a sua supremacia) e o instrumento mais apropriado e seguro para definir os regimes de certas matérias, sobretudo dos direitos fundamentais e da vertebração democrática do Estado (daí a reserva de lei). De uma forma genérica, o princípio da supremacia da lei e o princípio da reserva de lei apontam para a ‘vinculação jurídico- constitucional do poder executivo. (...) Por sua vez, o princípio da reserva de lei afirma que 16 as restrições aos direitos, liberdades e garantias só podem ser feitas por lei ou mediante autorização desta.”24 (grifamos) Por isto, as punições exaradas, administrativamente, pelo Poder Executivo devem se dar sempre em estrita conformidade com o texto normativo que regulamenta a matéria, nos termos do artigo 37, caput, da Constituição brasileira. Trata-se verdadeiramente de questão de ordem pública, uma vez que a violação dos limites impostos pela lei ao poder punitivo da Administração Pública coloca em risco os postulados do Estado Constitucional em seus direitos e garantias fundamentais. Nestes diapasão faz-se o colóquio de Juarez Freitas, verbis: “(...) a limitação dos direitos individuais, sob pena de se converter em condenável abuso de poder, precisa cingir-se à legalidade, jamais ultrapassando os limites razoáveis de uma intervenção que se quer proporcional. (...) Com efeito, o exercício do poder de polícia deve significar uma intervenção reguladora, nunca mutiladora dos direitos em sua essência (...).” 25 A inserção da função ambiental como tarefa Estatal (Estado Democrático Ambiental) é capaz de trazer à tona uma tensão entre as gerações de direitos fundamentais (individuais e sociais). Contudo, a relativização recíproca entre os direitos individuais e a tutela ambiental se faz capaz de demonstrar uma necessária ponderação entre os interesses individuais e transindividuais envolvidos. A tutela do meio ambiente deve se dar nos limites do Estado de Direito, sob pena de perda da própria legitimidade democrática, necessária e conquistada pelo Estado Contemporâneo. 24 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª ed. Coimbra: Almedina, 1997. p. 256. 25 FREITAS, Juarez. Estudos de Direito Administrativo. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, p. 54-55. 17 4. Infrações e Sanções Administrativas Ambientais ante os limites impostos pelo Princípio da Legalidade: A responsabilidade administrativa ambiental envolve sempre a configuração, pelo órgão administrativo competente, de uma infração administrativa e, em decorrência desta constatação formal (através do auto de infração), a aplicação de uma sanção administrativa. O exercício do poder de polícia administrativa pela Administração Pública, por meio da aplicação da respectiva sanção administrativa, requer a instauração do processo administrativo punitivo. No referido processo administrativo deve ser conferido o exercício do direito ao contraditório e ao devido processo legal (art. 5º, LV, CF, Leis n. 9.605/99 e 9.784/99) para investigação da existência da infração administrativaambiental, bem como a avaliação da legalidade e da proporcionalidade das sanções administrativas impostas. O processo administrativo tem seu início com o auto de infração, representação ou peça informativa equivalente, devendo constar o nome do infrator, o fato constitutivo da infração e local, hora e data da sua ocorrência, a disposição legal ou regulamentar em que se funda a autuação, a penalidade a ser aplicada e, quando for o caso, o prazo para a correção da irregularidade e a assinatura da autoridade que lavrou a peça. 26 Em razão do evidente desequilíbrio entre o poder da Administração Pública em face ao administrado, justifica-se a imposição de limites ao exercício punitivo do Estado pelos princípios que garantem o Estado de Direito previstos no art. 37 da CF 27 . Para fins de enquadramento dos eventos sociais às infrações administrativas e aplicação das respectivas sanções administrativas faz- se necessário o devido respeito à Legalidade, ou seja, as sanções administrativas devem ser aplicadas nos casos e na forma prevista em lei. 26 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 303. 27 “art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...).” 18 Pode ser observada que a função ambiental assumida pelo Estado Democrático Ambiental e da complexidade de conceituação e delimitação das atividades que agridem o meio ambiente, o texto normativo previsto no art. 70 da Lei n. 9.605/98 (art. 1º do Decreto n. 3.179/99) prevê uma concepção ampla e aberta para a configuração das infrações ambientais. No entanto, apesar da textura aberta presente no sentido normativo atribuído para as infrações administrativas ambientais como “toda a ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente é considerada infração administrativa”, as sanções ambientais, em razão de sua natureza punitiva e restritiva de liberdades individuais, encontram-se condicionadas a um fechamento interpretativo que deve se restringir à estrita legalidade dos termos previstos na legislação competente (Lei n. 9.605/98 e Decreto n. 3.179/99). A existência de uma racionalidade dúplice no caso da responsabilidade administrativa ambiental demonstra a existência de uma abertura do direito para a configuração das infrações ambientais, mas uma vez constatadas, a imposição das sanções deve se de dar sob o fechamento normativo estrito. Neste sentido, o art. 72 da Lei. 9.605/98 (art. 2º do Decreto 3.179/99) prevê as sanções administrativas cabíveis em decorrência do cometimento de infrações ambientais, bem como as condições para a sua aplicação nos seguintes termos: “art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I – advertência; II – multa simples; III – multa diária; IV – apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V – destruição ou inutilização do produto; VI – suspensão de venda e fabricação do produto; VII – embargo de obra ou atividade; VIII – suspensão parcial ou total de atividades; X – (VETADO) XI – restritiva de direitos.” 19 Portanto, a aplicação da responsabilidade administrativa ambiental pauta-se pela abertura característica à configuração do ilícito administrativo ambiental, bem como pelo fechamento ao sentido normativo estrito no que diz respeito à aplicação das respectivas sanções administrativas. É a partir do Principio de Legalidade que se forma um equilíbrio entre a necessária imposição de responsabilidades ambientais para a garantização do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado assegurando pelo Estado Democrático Ambiental e as garantias individuais provenientes do Estado de Direito. A simbiose entre o Estado de Direito e o Estado Democrático Ambiental, normativamente condensada nos artigos 37 e 225 da Constituição, demonstra que a função ambiental assumida pelo segundo deve ser exercida sob uma ponderação desta com as garantias individuais. Por evidente, a função ambiental assumida pelo Estado acarreta na tipificação de condutas antes lícitas como passíveis de responsabilização administrativas, em razão dos riscos e danos ambientais gerados por estas. Contudo, as sanções devem atender à legalidade, sob pena de ter-se um perigoso retrocesso à tradição estatal autocrática e despótica existente em nosso país, o qual, sob a justificativa da inconteste e necessária tutela do ambiente, poderia exercer abusivamente atos de poder de polícia. Questão polêmica em nosso sistema jurídico tem sido o debate acerca das condições para a aplicação da espécie de sanção administrativa multa simples pelos órgãos competentes. A matéria encontra-se positivada no parágrafo terceiro do art. 72, da Lei n. 9.605/98 (cuja redação foi mantida no parágrafo terceiro do art. 2º, do Decreto 3.179/99): “§ 3º - A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido, por irregularidades, que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do Sistema Nacional do meio Ambiente – SISNAMA ou pela Capitania dos Portos do Comando da marinha.” (grifos nossos) 20 Assim, apesar da responsabilidade administrativa ter como regra geral a sua incidência objetiva, a legislação optou pelo requisito subjetivo para a aplicação da sanção multa simples. Como bem observa Paulo Affonso Leme Machado, “das 10 sanções previstas no art. 72 da Lei 9.605/98 (incs. I a XI), somente a multa simples utilizará o critério da responsabilidade com culpa; e as outras nove sanções, inclusive a multa diária, irão utilizar o critério da responsabilidade sem culpa ou abjetiva.”28 Não obstante a responsabilidade administrativa e da multa administrativa 29 terem como regra geral sua aplicação objetiva, a legislação ambiental estabeleceu condição específica para a aplicação da multa simples em decorrência de infrações ambientais, isto é, há a exigência legal da demonstração de negligência ou dolo para a aplicação desta espécie de sanção administrativa. Ainda mais polêmica faz-se a exigência imposta no inciso I do referido parágrafo terceiro, segundo o qual exige-se que o infrator seja “advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.” Do texto expresso da lei pode-se observar a exigência normativa da existência de conduta culposa ou dolosa pelo infrator e da comprovação de aplicação prévia de advertência “por irregularidades”, para que, deixando o infrator de saná-las, só então possa ser imposta a multa simples. O sentido da norma acima transcrita demonstra ter o escopo de orientar o autuado a corrigir sua atuação, adequando-a ecologicamente através da advertência. Considerando que a responsabilidade administrativa é aplicada pelo próprio Poder Público, ao contrário das responsabilidades civil e criminal, há limites à sua aplicação, nos termos do art. 37 da CF, a fim de evitar o abuso de direito. 28 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 295. 29 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito AdministrativoBrasileiro. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 178. 21 A existência de responsabilização administrativa ambiental por meio da aplicação de multa simples sem a existência de constatação prévia de infração administrativa pelo mesmo evento e a imposição de sanção de advertência, acarreta na sua nulidade. Nos termos da legislação ambiental (art. 72, §3º, Lei n. 9.605/98), a multa simples deve ser aplicada em casos em que o infrator já tenha sido advertido e, mesmo assim, tenha deixado de sanar as irregularidades existentes. No entanto, conforme já mencionado, nada impede a aplicação das outras espécies de sanções administrativas previstas na legislação, desde que sejam realizadas de forma proporcional e dentro dos limites impostos pela lei. A ilegalidade da multa simples aplicada, simultânea e cumulativamente, com advertência, é endossada por decisão prolatada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – TJRS, cuja Ementa passa-se a transcrever: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. Administrativo. Processual Civil. Município de São José do Ouro. Departamento Estadual de Florestas e Áreas Protegidas (DEFAP). Patrulha Ambiental (Patram). Autuação, Multa e Apreensão de 100 estéreos de lenha nativa, na mesma data. Ação Ordinária. Tutela Antecipada concedida na origem. Supressão da etapa de Advertência. Inexistência de plausibilidade a ensejar a concessão do efeito suspensivo à interlocutória hostilizada. Não-Conhecimento. INDEFERIMENTO LIMINAR DA INICIAL E EXTINÇÃO DO RECURSO.” (grifos nossos) (Agravo de Instrumento nº 70006452031, TJERGS, 4ª Câmara Cível, Rel. Des. Wellington Pacheco Barros). A fim de observarmos os limites impostos pelo Estado de Direito às funções ambientais do Estado Democrático Ambiental, importante a análise dos fundamentos utilizados para sustentar a decisão acima. O relator arrazoa o seu entendimento nos seguintes termos e razões jurídicas: “De outro ângulo, e contrariamente ao que sustenta, estão presentes sim os requisitos autorizadores da tutela antecipada, como previstos no art. 273 do CPC, e na exata medida em que bem vislumbrado pela origem o incabimento da autuação, da aplicação de multa e da apreensão de cem estéreos de lenha nativa que se encontravam no depósito secador do 22 agravado, sem que tenha havido antes a aplicação de advertência, supressão essa contrária ao comando de regência, o Decreto nº 3.179, de 21.09.1999, que diz textualmente (...)” (grifos nossos) Após a transcrição dos arts. 1º e 2º do Decreto nº 3.179/99, o relator conclui acerca da existência de violação do texto legal, em virtude de aplicação simultânea de multa simples e advertência, verbis: “No caso, mais ainda se acentua o descumprimento pela autoridade administrativa do regramento de regência porque a autuação, a multa e a apreensão foram efetuadas na mesma data, no mesmo momento, o que de todo incabível, como visto.” (grifos nossos) Há que se concluir no sentido de que a previsão normativa do inciso I, do §3º, do art. 72, da Lei n. 9.605/98 (inciso I, do §3º, do art. 2º, do Decreto nº 3.179/99) condiciona a validade jurídica da aplicação de sanção administrativa da espécie multa simples, sendo que o seu desrespeito acarreta na nulidade do auto de infração (ato administrativo punitivo) por violação ao Princípio da Legalidade que norteia e limita a atuação da Administração Pública em geral. Por estas razões, é o próprio Estado Democrático de Direito, como forma estatal que tem por função a proteção ambiental e promoção de políticas ambientais, que integra, sob os princípios democráticos, a função ambiental e o Estado de Direito. Nesta integração, o Princípio da Legalidade condiciona o exercício do poder de polícia ambiental, devendo a aplicação da multa simples estar condicionada à existência de prévia advertência pela Administração (fechamento normativo). No Estado Democrático Ambiental a necessária relativização dos direitos individuais em face ao surgimento dos interesses transindividuais não pode repercutir na sua absoluta violação. Tal equilíbrio só pode ser obtido caso a ampliação e o surgimento dos eventos tidos como infrações ambientais, permitida pela abertura interpretativa que marca a atribuição do sentido de infração administrativa ambiental, seja acompanhada pelo fechamento normativo estrito no que diz respeito às condições e limites para a aplicação das sanções administrativas. 23 Conforme previsto no inciso I, do art. 72 da Lei n. 9.605/98, a advertência consiste em sanção administrativa e, por isso, só pode ser aplicada após o enquadramento pela Administração de um evento típico em auto de infração. Por exemplo, uma previsão restritiva constante em licença ambiental (seja Prévia, de Instalação ou de Operação) não consiste em “advertência”, nos termos legais do inciso I do art. 72 da Lei n. 9.605/98, para desencadear a respectiva “sanção” administrativa. Por isso, a aplicação de uma sanção administrativa (como é o caso da advertência) não pode se antecipar ao cometimento da infração respectiva (por exemplo, a violação das restrições impostas por uma licença ambiental). A própria advertência consiste em sanção e, por este motivo, deve haver a caracterização de uma infração para sua aplicação. Do contrário, inválida a multa simples quando aplicada sem a existência de prévia advertência, uma vez que a interpretação diversa (aceitando a incidência da multa simples sem advertência prévia) violaria não apenas a legalidade (fechamento normativo) como também colocaria em risco o dogma da tripartição dos poderes e a própria estrutura democrática do Estado Democrático de Direito. A imposição de sanções administrativas ambientais ao arrepio dos termos legais estritos tem o condão de ocasionar a interferência entre os Poderes, produzindo ruídos de comunicação nos sistemas sociais, pondo em risco a tripartição dos poderes necessária à democracia moderna. 5. Conclusão: A institucionalização da função ambiental como tarefa e fim do Estado Democrático de Direito consolida-se na formação do Estado Democrático Ambiental, como uma poderosa síntese da tensão e relativização recíproca entre as garantias individuais e a tutela de interesses transindividuais. As alterações ou desvios existentes no Direito e na Política, em reação à crise ambiental, devem, no entanto, ter como condição de possibilidade os limites democráticos e normativos para aplicação de sanções administrativas impostos pelo Estado de Direito. 24 O Estado Democrático Ambiental, por isto, estabelece os parâmetros hermenêuticos e estruturais para a aplicação de responsabilidade administrativa a uma gama de eventos tidos como infrações administrativas ambientais. Esta é a dinâmica da responsabilidade administrativa ambiental, a aplicação de sanções administrativas às infrações ambientais. O sentido atribuído à infração administrativa ambiental pelo Direito brasileiro, para o enquadramento de uma situação social como ilícito ambiental, é marcado por uma textura interpretativa aberta, mediante uma previsão normativa genérica e abstrata. Esta ampliação do sentido de infração administrativa faz-se necessária em razão da própria complexidade que marca a capacidade descritiva dos múltiplos aspectos que caracterizam os sinistros e riscos ambientais. As sanções administrativas, que somente devem ser aplicadas em virtude do enquadramento dos eventos sociais como condutas tipificadas (infrações administrativas), devem se ater aos estritos limites e condições previstos na estrutura democrática do Estado de Direito, num fechamento à normatividade. Isto quer dizer que o exercício punitivoda Administração Pública, pela atribuição de sanções administrativas, deve ser realizado sob o respeito à estrita legalidade, sob pena de abuso de direito ou desvio de finalidade do instituto da responsabilidade administrativa. Em decorrência, a responsabilidade administrativa ambiental deve ter em sua base interpretativa um sentido amplo de infração ambiental (em razão da complexidade que demarca a descrição das questões ecológicas), porém um sentido restritivo no que pertine a aplicação das respectivas sanções ambientais administrativas (em face do desequilíbrio entre Administrador e administrado). Assim, a interpretação para enquadramento das situações sociais como infrações administrativas ambientais deve se dar sob a égide de uma abertura do Direito às novas tecnologias, riscos, descobertas e dúvidas científicas, possibilitando um sentido aberto e amplo de infração ambiental. Já a aplicação das sanções administrativas, por se tratarem de atos administrativos punitivos, qualquer que seja a sua natureza, deve se dar em conformidade com os limites e 25 condições normativas. Pode-se concluir que a Sociedade Contemporânea exige a imposição de responsabilidades administrativas a uma gama cada vez mais ampla e imprevisível de situações sociais como infrações administrativas em matéria ambiental. As respectivas punições, contudo, não podem fugir aos limites estabelecidos pelas estruturas democráticas do Estado de Direito, sob pena de produção de perigosas interferências comunicativas e desestabilizações entre os sistemas da Política, Direito e Economia. Neste sentido, tomando em consideração o texto do §3º art. 72, da Lei n. 9.605/98 - que exige (a.) a constatação de negligência ou dolo na conduta a ser responsabilizada e (b.) a aplicação de prévia advertência ao administrado como condição para a aplicação da multa simples -, e o fato da advertência consistir em sanção administrativa, pode-se concluir que somente em havendo a existência de reincidência ou continuação da conduta previamente punida com a advertência é que pode ser aplicada a multa simples. Nos demais casos, deverá o agente administrativo optar por outra espécie de sanção administrativa ambiental dentre aquelas arroladas no corpo do art. 72, da Lei n. 9.605/98. 6. Bibliografia: ABRÃO, Paulo de Tarso Siqueira, CASTRO, Daniella Mac-Dowell Leite de. “Direito Administrativo Ambiental.” In: Arlindo Philippi Jr., Alaôr Caffé Alves (ed.). Curso Interdisciplinar de Direito Ambiental. Universidade de São Paulo: Manole, 2005. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 6. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2002; BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. “Estado Constitucional Ecológico e Democracia Sustentada” In: GRAU, Eros Roberto; CUNHA, Sérgio Sérvulo da (coord.). Estudos de Direito Constitucional. 26 _____________________________. Estudos sobre Direitos Fundamentais. Coimbra: Coimbra, 2004. _____________________________. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª ed. Coimbra: Almedina, 1997. _____________________________. “Direito Público do Ambiente. (direito constitucional e direito administrativo)”. In: Curso de Pós-Graduação. CEDOUA e Faculdade de Direito de Coimbra, 1995/1996. p. 30-5. _____________________________. (coord.). Introdução ao Direito do Ambiente. Lisboa: Universidade Aberta, 1998. _____________________________; MOREIRA, Vital. Constituição da República portuguesa anotada. 3 ed. Coimbra: Coimbra, 1993. DE GIORGI, Raffaele. Direito, Democracia e Risco: vínculos com o futuro. Porto Alegre, 1993. p. 108-109. DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997; FREITAS, Juarez. Estudos de Direito Administrativo. 2ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, FREITAS, Vladimir de Passos. Direito Administrativo e Meio Ambiente. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2003. LUHMANN, Niklas. Sistemas Sociales: lineamentos para uma teoria general. México: Alianza Editorial/Universidad Iberoamericana, 1991; _________________. Teoría Política en el Estado de Bienestar. Madrid: Alianza Universidad, 1997. p. 103-109. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 1999. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação Civil Pública e a Reparação do Dano ao Meio Ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002. MORATO LEITE, José Rubens. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. MORATO LEITE, José Rubens. Estado de Direito Ambiental: Tendências. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. 27 RANGEL, Paulo Castro. Concertação, Programação e Direito do Ambiente. Coimbra: Coimbra, 1994. ROCHA, Leonel Severo. Epistemologia Jurídica e Democracia. 2 ed. São Leopoldo: UNISINOS, 2003. ROMESÍN, Humberto Maturana; GARCÍA, Francisco J. Varela. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 3 ed. São Paulo: Palas Athena, 2001; ROMESÍN, Humberto Maturana; GARCÍA, Francisco J. Varela. De Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese – a Organização do Vivo. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. SILVA, José Afonso da. “Fundamentos Constitucionais da Proteção do Meio Ambiente”. In: Revista de Direito Ambiental, n. 27, ano 7, jul.-set. 2002. TRINDADE, Antonio Augusto Cançado. Direitos Humanos e Meio Ambiente: paralelos dos sistemas de proteção internacional. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1993.
Compartilhar