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Aula 8_2015.2_dano_apropriação indébita_receptação_escusas absolutórias

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DIREITO PENAL III
PARTE ESPECIAL DO CP
1
AULA 8 – DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO III
	Dano, Apropriação indébita, Estelionato, Receptação e Escusas Absolutórias.
1.  Dano – art. 163;
2. Apropriação Indébita – art. 168;
3. Apropriação Indébita Previdenciária – art. 168-A;
4. Estelionato – art. 171;
5.  Receptação – art. 180;
6. Escusas absolutórias – arts. 181 a 183.
	
1. Dano – art. 163, CP
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: 
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
	- todo crime produz um resultado danoso, quer de ordem econômica, quer moral etc.; 
	- por exemplo, aquele que furta a carteira de outrem causa a este um dano, pois lhe ocasionou um prejuízo financeiro. 
	- o art. 163, entretanto, cuida propriamente do dano físico, ou seja, daquele que recai diretamente sobre a coisa, causando nesta modificações de ordem material;
	Ex: destruição de um orelhão.
	- apesar de ser um crime contra o patrimônio, o fim de obtenção de vantagem econômica não constitui seu elemento essencial, nada impedindo, contudo, a sua presença.
 
Bem jurídico tutelado
	- tutela-se o patrimônio das pessoas físicas e jurídicas, indistintamente. 
 Objeto material
	- é a coisa alheia móvel ou imóvel, sobre a qual recai a conduta criminosa.
	
Estrutura do tipo penal
	- Dano simples: art. 163, caput – detenção, de 1 a 6 meses ou multa;
	(infração penal de menor potencial ofensivo) – Lei nº 9.099/95.
	- Dano qualificado: § único – detenção, de 6 meses a 3 anos, e multa, além da pena correspondente à violência; 
	(crime de médio potencial ofensivo)
	
Elemento subjetivo
	- é o dolo;
	- se o dano constituir-se em meio para a prática de outro crime, ou como qualificadora de outro delito, será por este absorvido;
Ex: art. 155, § 4º, I – o dano (crime-meio) é absorvido pelo furto (crime-fim);
	- não se admite a modalidade culposa.	
	
Dano culposo
Lei nº 9.605/98
Dos Crimes contra a Flora
        
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
        Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
    Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Dano culposo
Decreto-lei nº 1.001/1969 (Código Penal Militar)
Modalidades culposas 
      Art. 266. Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de detenção de seis meses a dois anos...
Ação Penal
	
	 Ação penal privada - de acordo com o art. 167 é cabível no crime de dano simples (caput) e qualificado (somente na hipótese do inciso IV do § único).
        Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.
	Ação penal pública incondicionada - é cabível nas demais hipóteses do art. 167 do CP.
       
Consumação e tentativa
	- trata-se de crime material; 
	- consuma-se no momento em que o agente efetivamente destrói, inutiliza ou deteriora a coisa alheia; 
	
Tentativa
	
	- é possível, porém, somente estará caracterizada quando não se produzir estrago significativo para a coisa alheia.
Exemplo: “A” ateia fogo no carro de “B” para destruí-lo; ocorre que o fogo é apagado sem causar prejuízo ao automóvel.
FIGURAS QUALIFICADAS – Art. 163, § único
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
 I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave;
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
        Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. (não é IMPO)
2. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (art. 168, CP)
Conceito
	Trata-se de crime que se caracteriza por uma situação de quebra de confiança, pois a vítima voluntariamente entrega uma coisa móvel ao agente, e este, após encontrar-se na sua posse ou detenção, inverte seu ânimo no tocante ao bem, passando a comportar-se como seu proprietário.
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
        § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
       I - em depósito necessário;
       II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
       III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
(na realidade, houve erro do legislador, pois trata-se de parágrafo único, já que não existe nenhum outro).
Código Civil
Art. 627. Pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame.
Bem jurídico tutelado
	- tutela-se o patrimônio, relativamente à propriedade e à posse legítima de bens móveis.
 Objeto material
	- é a coisa alheia móvel sobre a qual recai a conduta criminosa;
	
Elemento subjetivo
	- é o dolo;
	- pressupõe a intenção de apoderar-se da res, o propósito de assenhoreamento definitivo, ou seja, de não restituir, agindo como se dono fosse;
	- não se admite a modalidade culposa.	
	
Sujeitos do delito
	a) Sujeito ativo 
	- pode ser qualquer pessoa (crime comum), com exceção do proprietário, pois a lei fala em coisa “alheia” móvel. 
	- se o agente é funcionário público: o crime será de peculato-apropriação, na forma do art. 312, caput, 1ª parte, CP.
	b) Sujeito passivo 
	 - é a pessoa física ou jurídica, titular do direito patrimonial diretamente atingido pela ação criminosa;
	- ou seja, aquele que experimenta o prejuízo, que pode ser diverso daquele que entregou ou confiou a coisa ao agente.
Exemplo
	
	“A”, vendedor de uma loja, entrega em confiança uma peça de roupa para que “B” a prove em sua residência, a qual não vem a ser paga ou restituída. A vítima não será “A”, mas o estabelecimento comercial lesado em seu patrimônio.
	
Ação Penal
	
	- a ação penal é pública incondicionada em todas as espécies de apropriação indébita.
Consumação e tentativa - trata-se de crime material; 
	Espécies de apropriação indébita
a) Apropriação indébita propriamente dita: consuma-se com o ato de disposição da coisa. Só admite a modalidade comissiva. Ex: alienar a coisa dada em depósito. 
b) Apropriação indébita - negativa de restituição: consuma-se com a não restituição do bem uma vez vencido o prazo para a sua entrega. 
TENTATIVA
	
	É possível na apropriação indébita propriamente dita. 
	Ex: Manoel é preso em flagrante no momento em que vendia para Júlio um bem pertencente a Maria, do qual tinha a posse legítima e desvigiada. 
	
	
	
Entendimento do STJ:
	“O momento consumativo do crime de apropriação indébita e, pois, do aperfeiçoamento do tipo, coincide com aquele em que o agente, por ato voluntário e querido, inverte o título da posse exercida sobre a coisa, passando dela a dispor como se sua fosse. Uma vez operada a inversão verifica-se estar o crime perfeito e acabado”. 
				(HC 73.352/SP, de 29.11.2007)	
3. Apropriação Indébita Previdenciária - Art. 168-A, CP 
        Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
        	
	
Características do tipo penal
	- não se trata de crime contra o patrimônio;
	- trata-se de lei penal em branco homogênea: deve ser complementada pela legislação previdenciária em relação aos prazos de recolhimento;
	- não admite modalidade culposa;
	- crime de elevado potencial ofensivo: pena de 2 a 5 anos e multa.
	
	- não admite tentativa;
	-
a ação penal é pública incondicionada;
	- crime de competência da Justiça Federal;
	- mínimo para o ajuizamento das execuções fiscais perante a previdência social – R$ 10.000,00. 
	- incluído no CP pela Lei nº 9.983/2000.
Apropriação indébita privilegiada – art. 170, CP 
 Art. 170 - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no art. 155, § 2º.  
(§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. (furto privilegiado).
4. Estelionato – art. 171, CP
(PRÓXIMA AULA)
5. Receptação – art. 180, CP
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime (receptação própria), ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte (receptação imprópria):
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
	- o delito de receptação, embora seja classificado como acessório, é autônomo em relação ao crime anterior;
	- ou seja, não reclama o conhecimento do autor deste último, nem a possibilidade de ser ele punido. 
 Bem jurídico tutelado
	- tutela-se a inviolabilidade do patrimônio, tipificando-se a conduta que estimula o cometimento de outros crimes contra o patrimônio.
Observação
	- não há o crime quando a receptação for decorrente de contravenção penal.
 
 
Elemento subjetivo
	- é o dolo;
	- o tipo penal exige expressamente o dolo direto. 
Classificação doutrinária
	
	- material: depende da produção do resultado, ou seja, a diminuição do patrimônio da vítima;
	- formal (receptação imprópria): consuma-se com a prática de atos idôneos de mediação para o terceiro de boa-fé adquirir, receber ou ocultar coisa produto de crime. (basta influir...)	
	
Ação Penal
	
	- é pública incondicionada, tanto na receptação dolosa (nas suas diversas modalidades), como na receptação culposa.
Consumação e tentativa
a) Receptação própria	
	- trata-se de crime material, logo, consuma-se no momento em que o agente adquire, recebe, transporta, conduz ou oculta a coisa produto de crime; 
b) Receptação imprópria
	- trata-se de crime formal, logo, consuma-se com a prática de atos idôneos de mediação para o terceiro de boa-fé adquirir, receber ou ocultar coisa produto de crime; 
TENTATIVA
	
a) Receptação própria	
	- é possível em qualquer de suas formas;
b) Receptação imprópria
	- por ser um crime formal, basta a atividade de “influir” na vontade da pessoa honesta, pouco importando se o agente obtém ou não êxito em sua conduta;
	- logo, não admite a tentativa. 
FIGURAS TÍPICAS
Receptação qualificada
        
	§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: (11 núcleos)
       
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.
Norma penal explicativa ou complementar
	§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência.
Receptação culposa
	§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
        Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.
	- único crime patrimonial que admite a modalidade culposa;
	
Norma penal explicativa ou complementar
	§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
	- diz respeito à autonomia do crime de receptação, seja dolosa ou culposa.
				
Perdão judicial - § 5º - 1ª parte	
	§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
	- o § 3º se refere à receptação culposa;
	- natureza jurídica: trata-se de decisão declaratória de extinção da punibilidade, que nenhuma consequência gera para o réu.
Receptação privilegiada - § 5º - 2ª parte	
§ 5º...	
Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. 
Art. 155...	
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. 
Receptação e a Lei nº 10.826/03
	Se o agente adquire, recebe, transporta ou oculta arma de fogo (acessório ou munição), de uso permitido, de procedência ilícita, comete o delito mais grave previsto no art. 14 do Estatuto do Desarmamento;
	A pena varia de dois a quatro anos de reclusão, e multa. Não incide, nesse caso, a norma do art. 180 do CP, tendo em vista a especialidade do tipo penal do art. 14 da Lei nº 10.826/03.
	
6. Escusas absolutórias aplicáveis aos crimes contra o patrimônio – arts. 181 a 183.
	
	- dizem respeito a crimes patrimoniais praticados entre cônjuges ou parentes próximos;
	- o Estado não deve interferir, salvo em casos excepcionais, pois a punição do criminoso tornaria a vítima também culpada.
	
Art. 181 – Imunidades absolutas
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
       I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
   II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
	
	- trata-se de causa extintiva da punibilidade, tornando impuníveis os delitos patrimoniais não violentos, cometidos entre cônjuges ou parentes próximos, por razões de política criminal; 
	- não exclui a tipicidade, a antijuridicidade, nem tampouco a culpabilidade do autor;
	
Art.182 – Imunidades relativas
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
        I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
        II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
        III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
	
	- não há isenção de pena, mas os crimes de ação penal pública incondicionada passam a ser condicionados à representação do ofendido ou de quem o represente;
	- natureza jurídica: condição objetiva de procedibilidade para o exercício da ação penal.
	
Art. 183 - Hipóteses de inaplicabilidade das imunidades 	 penais. 
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
       
 I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
 II - ao estranho que participa do crime.
 III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
	
	- o CP indica no art. 183 as hipóteses em que os responsáveis por crimes patrimoniais não podem ser beneficiados pelas causas de isenção de pena;
	- inciso III: incluído pelo Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), com a finalidade de proporcionar proteção especial ao idoso nos crimes contra o patrimônio.
REFERÊNCIAS
 - MASSON, Cléber. Direito Penal Esquematizado: parte especial – vol. 2. 6 ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014. 
- CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 8. ed. São Paulo: Saraiva. v.3, 2010. 
51
EXERCÍCIOS
1. Josué, com 18 anos de idade, na companhia do amigo Régis, com 21 anos na data do fato, furtou R$ 700,00 (setecentos reais) da carteira do avô de Josué, seu Júlio, o qual contava, no dia do furto, com 61 anos de idade. Sobre a responsabilização penal dos autores do delito, é correto afirmar:
a) A responsabilização penal de Josué dependerá de queixa-crime e a de Régis de representação da vítima. 
b) Haverá isenção de pena quanto a Josué, por
se tratar de descendente da vítima, circunstância que alcançará o amigo Régis. 
52
c) Josué ficará isento de pena, mas tal circunstância não alcançará o amigo Régis. 
d) A responsabilização penal de ambos os agentes dependerá de representação da vítima. 
e) Josué responderá pelo delito de furto qualificado, assim como seu amigo Régis, sendo que não haverá isenção de pena para qualquer um dos agentes. 
53
1. RESPOSTA (Defensoria Pública/RS – 2011)
Alternativa “e” 
Fundamento: Art. 183, III, CP
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 
	
54
2. Tício, usuário de “maconha”, porém imputável e lúcido naquele momento, subtrai dinheiro que estava sobre a mesa da sala, deixado ali por sua avó, com mais de 60 (sessenta) anos de idade, visando adquirir entorpecente para uso próprio.
Assinale, dentre as alternativas mencionadas, qual delas é a correta.
(A) Tício é isento de pena, por ter praticado o furto contra ascendente.
(B) Tício responderá pelo furto, mas a ação penal estará condicionada à representação por parte da avó.
(C) Tício responderá pelo furto, independentemente de representação por parte da avó, pois, no caso, a ação penal
é pública incondicionada.
(D) Tício não praticou crime, pois agiu em estado de necessidade.
55
RESPOSTA
Alternativa “c”.
56

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