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LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL APLICADA Tiago Ferreira Santos Revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa Advogado Graduado em Ciências Sociais Especialista em Processo Civil Mestre em Direito Público Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin - CRB 10/2147 L514 Legislação empresarial aplicada / Tiago Ferreira Santos... [et al.]; [revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 304 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-437-3 1. Direito empresarial. 2. Direito comercial. I. Santos, Tiago Ferreira. CDU 347.72 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 2 29/05/2018 15:27:33 Atividade empresarial Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Caracterizar a atividade empresarial. Analisar a inscrição do empresário, bem como a sua capacidade. Explicar a importância do registro da empresa. Introdução Na contemporaneidade, é inegável a importância das empresas na sociedade. Diversas tecnologias, antes inexistentes, foram desenvol- vidas pela criatividade de pessoas que trabalhavam para elas e, além disso, muitos dos inventos apenas puderam ser objeto de produção em larga escala devido a essa forma específica de atividade econômica. Na verdade, mesmo áreas que em outros momentos eram incum- bidas exclusivamente ao Estado, atualmente estão sendo exercidas empresarialmente. Neste capítulo, você vai estudar os requisitos que caracterizam a atividade empresarial, bem como as principais disposições normativas acerca da inscrição e da capacidade do empresário. Ademais, será capaz de indicar a importância do seu registro e destacar os prejuízos decor- rentes do seu exercício irregular. Caracterização da atividade empresarial Na primeira fase do Direito comercial, a sua atividade era caracterizada por uma perspectiva subjetiva proveniente do registro das pessoas nas corporações de ofício e respaldo em usos e costumes. Posteriormente, surgiu a teoria dos atos do comércio de natureza objetivista, a qual infl uenciou o Direito brasileiro. Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 15 29/05/2018 15:27:34 Por fi m, atualmente, após a edição do atual Código Civil (CC), adotou-se a teoria da empresa de caráter subjetivista, mas com a peculiaridade de que ser empresário independe, em regra, de inscrição, bastando apenas o cumprimento de certos requisitos. A seguir serão estudadas as duas teorias que mais influenciaram o Direito brasileiro, acerca da forma de caracterização da atividade empresarial e de- signação mais condizente com o atual momento, embora não se negue que, por tradição, há ainda quem a designe como comercial. Teoria dos atos de comércio Na França, com o Código Comercial vigorante a partir de 1º de janeiro de 1808, um dos códigos napoleônicos, consolidou-se a teoria dos atos do comércio nesse país, o que infl uenciou, durante um largo período da história, o restante do mundo, sendo certo que no Brasil foi aprovado o Código Comercial de 1850 sob essa inspiração. Por essa teoria, as normas jurídicas exemplificavam os atos de comércio, os quais delimitavam, apenas por consequência, a figura do comerciante. Desse modo, ela é considerada pela doutrina como objetiva. O Direito brasileiro a adotava na primeira parte do mencionado código, o qual foi revogado, parcialmente, pelo CC de 2002, que preferiu a teoria da empresa de origem italiana. Segundo Tarcísio Teixeira (2018, p. 34), essa crise pela qual passou a teoria dos atos de comércio no Direito brasileiro se justifica, historicamente, pelo desenvolvimento das atividades econômicas industriais e de prestação de serviços, sendo que “[...] a teoria dos atos de comércio tornou-se insuficiente como disciplina jurídica para o Direito Comercial, até porque as novas ativi- dades econômicas não eram alcançadas” por ela. Em verdade, mesmo que o rol de atos de comércio previsto em normas jurídicas pudesse ser ampliado para fins de alcançar as novas atividades econômicas, ainda assim, terminologicamente, essa teoria de influência francesa parecia ser inadequada, além disso, tal situação poderia ser solu- cionada de forma mais satisfatória de acordo com a teoria da empresa de inspiração italiana. Teoria da empresa e atividade empresarial Em 1942, com a adoção da teoria da empresa pelo Direito italiano, espe- cialmente no art. 2081 do seu CC, ainda vigente, uma nova fase iniciou Atividade empresarial16 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 16 29/05/2018 15:27:34 no Direito empresarial, sendo esta mais adequada ao diminuído papel do comerciante, em contraste com o crescimento dos setores industriais e de serviços. Essa teoria, tanto no Direito italiano como no brasileiro, conceitua legal- mente a figura do empresário. Assim, é considerada uma teoria subjetiva moderna, ou seja, a conceituação jurídica de atividade empresarial não é diretamente proveniente da lei, mas, sim, de uma construção doutrinária e jurisprudencial. Nesse sentido, por uma interpretação do art. 966 do CC brasileiro, entende- -se que a atividade empresarial é aquela econômica, organizada e exercida profissionalmente para a produção ou a circulação de bens e serviços. A influ- ência da teoria da empresa é evidente. Na verdade, as disposições brasileiras e italianas são quase idênticas. Em consequência de uma interpretação dos requisitos de empresarialidade, a doutrina destaca ainda a habitualidade. Há de se destacar que não há empresarialidade, portanto, quanto à fina- lidade for atender ao consumo próprio ou familiar em vez de produção ou circulação de bens e serviços para o mercado. Nesse sentido, André Luiz Santa Cruz Ramos (2016, p. 38): “[...] só restará caracterizada a empresa quando a produção ou circulação de bens ou serviços destinar-se o mercado, e não ao consumo próprio”. Essa é a regra adotada pelo CC no art. 966, caput, consoante visto até o momento. Entretanto, há uma exceção relevante. Em princípio, essa atividade que será analisada a seguir atende, integralmente, aos requisitos estudados até aqui, mas, por determinação legal, especificamente do art. 966, parágrafo único, não é enquadrada na condição de atividade empresarial. Assim, no âmbito da teoria da empresa adotada no Brasil por influência italiana, o conceito de atividade empresarial decorre de uma interpretação doutrinária e jurisprudencial acerca da definição legal de empresário. Pois bem, ao dispor sobre a exceção, não foi diverso o tratamento. A lei afirmou, expressamente, que não “[...] se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou 17Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 17 29/05/2018 15:27:34 artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002, documento on-line). Profissão intelectual = científica, literária ou artística A profissão intelectual não é atividade empresarial, salvo se o exercício da profissão constituir elemento da empresa. A profissão intelectual de natureza científica “[...] está relacionada com quem é pesquisador ou cientista, ou seja, alguém especializado em uma ciência (conhecimentos sistêmicos)” (TEIXEIRA, 2018, p. 53). Nesse sentido, segue lição elucidativa: As atividades realizadas pelos profissionais de uma das áreas do conhecimento (humanas, exatas e biológicas) podem se enquadrar na atividade intelectual, citando-se, como exemplos, o preparador físico, o fisioterapeuta, o psicólo- go, o químico, o médico etc. Pode-se dizer que esses são cientistas nas suas respectivas áreas (TEIXEIRA, 2018, p. 53). Por sua vez, a profissão intelectual de natureza literária “[...] está relacio- nada com a expressão da linguagem, ideias, sentidos e símbolos, especial- mente por meio da escrita” (TEIXEIRA, 2018, p. 53). São seus exemplos, conforme aponta doutrina, “[...] o escritor, o compositor, o poeta, o jornalista etc.” (TEIXEIRA,2018, p. 53-54). Por fim, a profissão intelectual de natureza artística “[...] está relacionada com a arte, que é a produção de algo extraordinário com a utilização de habilidades e certos métodos para a realização. Também está relacionada com a expressão de sentidos e símbolos por meio de linguagem não escrita” (TEIXEIRA, 2018, p. 54), sendo seus exemplos “[...] o ator e o cantor (que não são intérpretes), o desenhista, o fotógrafo, o artista plástico” (TEIXEIRA, 2018, p. 54). Importa destacar, entretanto, que mesmo os profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial, mas apenas caso constitua elemento da empresa. Ou seja, se um médico abre um consultório em seu nome e atende pessoas, ainda que com o auxílio de empregados, não é uma atividade Atividade empresarial18 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 18 29/05/2018 15:27:34 empresarial por preponderar, especialmente, a sua intelectualidade para atração dos pacientes. Noutro giro, caso comece a ampliar seu consultório cada dia mais, até o ponto em que haja tantos médicos que a intelectualidade do sócio pouco importe e as pessoas passem a visitar a clínica ou o hospital inaugurado devido à credibilidade da instituição, não mais pela intelectualidade desse sócio, então há, inegavelmente, uma atividade empresarial. Afinal, vê-se que, nessa hipótese, a profissão intelectual se tornou tão somente um elemento da empresa. Enunciado 194 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal (CJF) Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida. Enunciado 195 da III Jornada de Direito Civil do CJF A expressão elemento de empresa demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. A pessoalidade exerce papel decisivo entre os profissionais intelectuais, também chamados de profissionais liberais. Entretanto, na atividade empresa- rial, ao contrário, essa característica é absorvida pela empresa, constituindo-se apenas como um de seus elementos. Ainda nesse assunto, circunstância peculiar há nos escritórios de advo- cacia, porque não são admitidas, nem podem funcionar todas as espécies de sociedades que apresentam forma ou características empresariais, consoante diretriz do art. 16, do Estatuto da Advocacia, considerado destoante da rea- lidade por parte da doutrina. Inscrição e capacidade do empresário Neste tópico, serão estudadas a inscrição e a capacidade do empresário. De logo, a incapacidade acontece nas mesmas hipóteses da Legislação Civil, arts. 3º e 4º do Código Civil, embora haja regramentos específi cos sobre o 19Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 19 29/05/2018 15:27:34 assunto em Direito empresarial, com destaque para o art. 972 e seguintes do referido diploma normativo. Após essas análises, serão estudados, ainda neste título, os principais dispositivos acerca da inscrição do empresário, regidos tanto pelo Código Civil, quanto pela Lei nº 8.934/94, a qual regula o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afi ns. Da capacidade do empresário A incapacidade do empresário para o exercício individual de sua atividade acontece nas mesmas hipóteses em que as pessoas são absolutamente ou rela- tivamente incapazes para atos civis. Assim, os artigos que regulam a matéria são os 3º e 4º do Código Civil. Portanto, são incapazes, para o exercício da atividade empresarial, os absolutamente incapazes consistentes nos menores de 16 anos (art. 3º, caput, do Código Civil), bem como os relativamente, os quais são os seguintes: I — os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II — os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; III — aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV — os pródigos. (BRASIL, 2002, documento on-line). Entretanto, há uma relevante exceção à exigência da maioridade para a capacidade civil com repercussão direta no Direito empresarial. Ela está prevista no art. 5º, parágrafo único, inciso V, do Código Civil, ao dispor que cessará, “[...] para os menores, a incapacidade pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria” (BRASIL, 2002, documento on-line). Nessa hipótese acima trazida, há a emancipação civil, ou seja, a capa- cidade civil pelo estabelecimento civil ou comercial que gera economia própria ao menor com 16 anos ou mais. Outra situação interessante a ser estudada é a possibilidade excepcional de o empresário individual exercer a sua atividade, mesmo sendo incapaz. Assim, o art. 974 dispõe que poderá, “[...] o incapaz, por meio de re- presentante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança” (BRASIL, 2002, documento on-line). Atividade empresarial20 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 20 29/05/2018 15:27:35 Enunciado 203 da III Jornada de Direito Civil do CJF O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte. Ressalta-se, inclusive, que a vedação é para titularizar a empresa na con- dição de empresário, ou seja, não há qualquer vedação para que ele assuma a condição de quotista ou acionista, observando-se o fato de que não poderá ser administrador de nenhuma delas (art. 974, parágrafo terceiro, inciso I, do Código Civil) (BRASIL, 2002). Caso o representante ou assistente legal sejam impedidos do exercício da atividade empresarial, será incumbido ao juízo nomear gerente, ainda que sob a fiscalização do responsável pelo civilmente incapaz de exercer os atos. Da inscrição do empresário Quem pratica uma atividade empresarial (empresa em sentido funcional) tem alguns deveres a cumprir de natureza formal, entre eles, o de se registrar na Junta Comercial (COELHO, 2017). Nesse sentido, o art. 967 do Código Civil é categórico: “É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade” (COE- LHO, 2017, p. 105). Atuar sem o registro, portanto, importa em irregularidade. A todo ato constitutivo de empresa será atribuído um Número de Identificação do Registro de Empresas (NIRE). É como o CPF das pessoas físicas, mas é de empresas e é obtido na Junta Comercial. Há, entretanto, uma exceção importante. O empresário rural tem o registro facultativo, nos termos do art. 971, e sua natureza, consoante aponta o Enun- ciado 202 da III Jornada de Direito Civil da CJF, é constitutiva porquanto inaplicável o regime empresarial até a inscrição. 21Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 21 29/05/2018 15:27:35 Já se apontou que o registro é executado na Junta Comercial, entretanto, importa conhecer todos os órgãos que compõem o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis e suas respectivas principais funções. Primeiro, o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), consoante designa a legislação, atualmente Departamento de Registro Empre- sarial e Integração (DREI) (COELHO, 2017, p. 107) por prática administrativa, tem suas competências reguladas pelo Código Civil e é um órgão federal (COELHO, 2017). Entre outras funções, incumbe-lhe “supervisionar e coordenar, no plano técnico, os órgãos incumbidos da execução dos serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins” (art. 4º, inciso I, da Lei nº 8.934), quer-se dizer, Juntas Comerciais; [...] exercer ampla fiscalização jurídica sobre os órgãos incumbidos do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, representando para os devidosfins às autoridades administrativas contra abusos e infrações das respectivas normas, e requerendo tudo o que se afigurar necessário ao cum- primento dessas normas. (art. 4º, inciso V, da Lei nº 8.934); [...] promover ou providenciar, supletivamente, as medidas tendentes a suprir ou corrigir as ausências, falhas ou deficiências dos serviços de Registro Pú- blico de Empresas Mercantis e Atividades Afins (art. 4º, inciso VII, da Lei nº 8.934). (BRASIL, 1994, documento on-line). Além disso, é sua atribuição ainda “organizar e manter atualizado o cadastro nacional das empresas mercantis em funcionamento no País, com a cooperação das Juntas Comerciais) (art. 4º, inciso IX, da Lei nº 8.934) e [...] instruir, examinar e encaminhar os processos e recursos a serem decididos pelo Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo, inclusive os pedidos de autorização para nacionalização ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento no País, por empresa estrangeira, sem prejuízo da competência de outros órgãos federais (art. 4º, inciso X, da Lei nº 8.934) (BRASIL, 1994, documento on-line). Como se pode verificar nos enunciados legais destacados, o DREI exerce “[...] funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, no plano técnico; e supletiva, no plano administrativo” (art. 3º, inciso I, da Lei nº 8.934) (BRASIL, 1994, documento on-line). Assim, em caso de dúvidas sobre as nor- mas que incidirão para realizar registro do empresário, a sugestão é pesquisar pelas suas instruções normativas sobre a matéria. Atividade empresarial22 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 22 29/05/2018 15:27:35 Segundo as Juntas Comerciais, são órgãos locais presentes “[...] em cada unidade federativa, com sede na capital e jurisdição na área da circunscrição territorial respectiva” (art. 5º, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Estes são administrativamente vinculados à esfera estadual, ao passo que tecnicamente são subordinados ao DNRC, atualmente DREI, tendo de seguir suas instruções normativas. A exceção a esse caráter híbrido da subordinação hierárquica das juntas fica com o Distrito Federal, onde ela é um órgão federal. Assim, o profissional irá se direcionar à Junta Comercial da capital da unidade federativa (Estados ou Distrito Federal) para realizar o registro do ato constitutivo da empresa, observando as instruções normativas do DREI. Afinal, a ela incumbe o registro pelo arquivamento. No caso de empresário, o requerimento conterá, nos termos do art. 968 do Código Civil, os seguintes dados: I – o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; II – a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1o do art. 4º da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006; IV – o capital; V – o objeto e a sede da empresa. (BRASIL, 2002, documento on-line). O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá inscrevê-la com a prova da inscrição originária. Nesse ínterim, ainda cabe ressaltar o relevante papel exercido pelo advo- gado no registro dos atos constitutivos de sociedades empresárias, porquanto, nos termos do art. 1º, parágrafo segundo, do Estatuto da Advocacia, os “atos e contratos administrativos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados”. Tal norma tem exceções, a saber, microempresas e empresas de pequeno porte, nos termos do art. 9º, parágrafo segundo, da Lei Complementar nº 123/06. 23Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 23 29/05/2018 15:27:35 Algumas terminologias técnicas devem ser usadas de forma adequada sobre essa matéria, importando distingui-las devidamente. Assim, há três atos que podem ir ao registro empresarial. A matrícula e seu cancelamento são os registros de profissionais elencados no art. 32, inciso I, da Lei nº 8.934/94, ou seja, “[...] leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais” (BRASIL, 1994, documento on-line). O arquivamento envolve, em princípio, nos termos do art. 32, inciso II, da Lei nº 8.34/94, “[...] constituição, alteração, dissolução e extinções de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas”, bem como “[...] atos relativos a consórcio e grupo de sociedade” e “[...] declarações de micro- empresa”. Por fim, a autenticação se destina aos instrumentos de escrituração (art. 32, inciso III, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Há de ser destacado, ainda, que sociedades cooperativas são, nos termos da legislação, sociedades simples e, assim, não regidas pelo Direito empre- sarial, situação oposta às sociedades por ações. Excetua-se, desse modo, o art. 966, caput, do Código Civil, para incidir o art. 982, parágrafo único, cuja redação segue: “Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. Entretanto, é-lhes exigido o registro por arquivamento de seus atos constitutivos nas Juntas Comerciais, sendo, portanto, uma situação atípica. Importância do registro da empresa O registro público preserva informações importantes em repartições oficiais, além de dar-lhes publicidade para a segurança dos envolvidos e de terceiros (MAMEDE, 2018). Assim, sócios, “credores, trabalhadores, clientes e o próprio Estado podem necessitar de informações, atuais ou passadas, socorrendo-lhes o registro mercantil” (MAMEDE, 2018, p. 54). No entanto, esclarece-se que não há nenhuma necessidade de indicar interesse para a obtenção de informações nas Juntas Comerciais, portanto, qualquer um pode requerê-las e obtê-las, desde que o faça adequadamente, assumindo os ônus, inclusive. As finalidades de tal registro são “[...] dar garantia, publicidade, auten- ticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis” (art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.934/94); e “[...] cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes” (art. 1º, inciso II, da Lei nº 8.934/94). Além disso, o registro Atividade empresarial24 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 24 29/05/2018 15:27:35 empresarial objetiva, ainda, a “[...] proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento” (art. 1º, inciso III, da Lei nº 8.934/94) (BRASIL, 1994, documento on-line). Entretanto, mesmo com as relevantes finalidades apontadas acima, ressalta- -se, para a caracterização da atividade empresarial, que não há necessidade de registro, ainda que seja inegável o fato de, pelo reconhecimento de sua situação irregular, haver restrições. Enunciado 198 da III Jornada de Direito Civil do CJF A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvas as incompatibilidades com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. Sobre isso, Fábio Ulhoa Coelho (2017) indica algumas dificuldades que empresários irregulares terão ao desenvolver suas atividades. Por exemplo, não serão realizados contratos com a administração pública, nem contrairão empréstimos em instituições bancárias, além disso, estes estarão impossibi- litados de requerer a recuperação judicial. Além dessas hipóteses, o art. 33, da Lei do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, indica que a “[...] proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos constitutivos de firmaindividual e de sociedades, ou de suas alterações” (BRASIL, 1994, documento on-line), ou seja, também essa segurança não lhes aplicará integralmente. A impossibilidade de celebrar contratos com a administração, entre outros, é consequência do art. 28, da Lei nº 8.666/93, o qual dispõe sobre a necessi- dade de comprovar documentalmente a habilitação jurídica. Noutro giro, a restrição à recuperação judicial decorre de expressa vedação legal do art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05. Pode-se apontar, ainda, que, na hipótese de empresa irregular, haverá res- ponsabilidade ilimitada decorrente da incidência também do regime da socie- dade em comum reconhecida pelo Direito (art. 990 do Código Civil), a única questão é saber se haverá benefício de ordem, ou seja, se os bens sociais serão executados inicialmente. No caso, apenas aquele que contrate por ela perderá 25Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 25 29/05/2018 15:27:35 até mesmo esse direito. Elucidativa é a lição de Fábio Ulhoa Coelho (2017, p. 112), como segue: “O sócio que se apresentou como representante da sociedade tem responsabilidade direta, enquanto os demais, subsidiária (CC, art. 990”. Essa é a adequada interpretação do Art. 990, o qual, sem muito acerto, afirma que todos “[...] os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade” (BRASIL, 2002, documento on-line). Enunciado 208 da III Jornada de Direito Civil As normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis, independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária). Assim, embora não seja o registro o que caracteriza a atividade empresarial, não é por isso que a atuação irregular se sujeitará integralmente ao regime empresarial, afinal, como explicado, há exceções decorrentes de incompati- bilidade ou expressa disposição normativa em contrário. Mais um prejuízo da ausência do devido registro consiste na ausência de “[...] legitimidade ativa para o pedido de falência de outro comerciante” (COELHO, 2017, p. 112). Por fim, ainda há de se destacar dificuldades trazidas por Fábio Ulhoa Coelho sobre alguns cadastros: [...] o descumprimento da obrigação comercial acarretará a impossibilidade de inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), e nos cadastros estaduais e municipais; também impossibilitará a matrícula do empresário no Instituto Nacional da Seguridade Social. Aliás, são simultâneos o registro na Junta e a matrícula no INSS (Lei nº 8.212/92, art. 49, I) (COELHO, 2017, p. 112). É importante ressaltar a exceção. Para o caso do empresário cuja atividade rural constitua sua principal profissão, o registro não é obrigatório, mas, sim, facultativo. Entretanto, é constitutivo do regime empresarial, ou seja, antes da inscrição não lhe incidirão tais normas. Assim, “[...] se aquele que desenvolve atividade rural não efetuar sua inscrição no Registro Público das Empresas Mercantis, não será Atividade empresarial26 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 26 29/05/2018 15:27:35 tido como empresário” (TEIXEIRA, 2018, p. 70) e, portanto, não se submeterá à disciplina da recuperação judicial e das falências, por exemplo. Dessa forma, para quem exerce atividade rural, o registro tem importância diferenciada. Ademais, é importante destacar também a relevância de se realizar o registro no prazo correto, afinal, o arquivamento na Junta, dentro de 30 (trinta) dias 27Atividade empresarial Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 27 29/05/2018 15:27:36 BRASIL. Lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacionalcontados da assinatura do documento, implicará retroatividade dos efei tos àquela data, o que não se aplica quando for fora desse prazo, situação em que o r- quivamento só terá eficácia a partir do despacho que o conceder. da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Brasília, DF, 2006. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras providências. Brasília, DF, 1994. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: . Acesso em: 16 abr. 2018. BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extra- judicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Brasília, DF, 2005. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018. COELHO, F. U. Curso de direito comercial: direito empresa. 21. rev., atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. v. 1. MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 10. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Atlas, 2018. RAMOS, A. L. S. C. Direito empresarial esquematizado. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. TEIXEIRA, T. Direito empresarial brasileiro: doutrina, jurisprudência e prática. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. Atividade empresarial28 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 28 29/05/2018 15:27:36 Leituras recomendadas BERLINI, L. F.; CAMPOS, A. F. O direito empresarial e o estatuto da pessoa com deficiên- cia: a (in) capacidade do empresário. Revista Brasileira de Direito Empresarial, v. 2, n. 2, p. 60-79, 2016. Disponível em: . Acesso em: 27 fev. 2018. BRASIL. Conselho de Justiça Federal. III Jornada de Direito Civil: enunciados. Brasília, DF, 2016. Disponível em: . Acesso em: 16 abr. 2018. BRASIL. Lei nº 8.906/94, de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Brasília, DF, 1994. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018. FERNANDEZ, J. A. da C. G. A caracterização da atividade empresária: identificação dos elementos de empresa sob a ótica sistêmica. Revista da ESMESC, v. 17, n. 23, p. 259-280, 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018. LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL APLICADA Jeanine dos Santos Barreto Atuação empresarial e função social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar regras que revelam a função social da empresa. Diferenciar a função social da repercussão e da responsabilidade social. Reconhecer como utilizar a função social em favor da empresa. Introdução Para que uma empresa desempenhe um papel social, não basta que ela funcione bem como organização. Atualmente, a visão individualista e puramente mercantil se tornou obsoleta. Assim, tem ganhado espaço uma perspectiva em que a responsabilidade social e os interesses da coletividade se combinam com o objetivo principal da empresa, ou seja, trazer ganhos para seus administradores. Neste capítulo, você vai estudara função social da empresa e verificar a diferença entre função social e responsabilidade social. Além disso, você vai ver como a função social pode ser utilizada em favor da organização. Regras que revelam a função social da empresa Os estudiosos do Direito das Empresas entendem que foi nos Estados Unidos que surgiu a discussão sobre a função e a responsabilidade social da empresa. O ponto culminante desse debate foi a Guerra do Vietnã, que se estendeu dos anos 1950 até os anos 1970. Nesse período, a sociedade começou a contestar as decisões e atitudes tomadas pelas empresas, principalmente aquelas que participavam diretamente da produção de armamentos para a guerra. Um dos efeitos desse movimento foi a divulgação de relatórios, chamados de balanços sociais, que traçavam relações necessárias entre as empresas e os interesses dos funcionários e da sociedade. Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 231 29/05/2018 15:28:08 Quando a humanidade tomou consciência de que o desenvolvimento das empresas estava levando à escassez dos recursos naturais, passou também a se preocupar com o planeta onde vive. A partir daí, surgiu uma filosofia chamada de ecocentrismo. Essa filosofia coloca a natureza em primeiro lugar e afirma que, se o homem faz parte da natureza, então deve se comportar de maneira harmoniosa e em equilíbrio com ela. O ecocentrismo surgiu em oposição à ideia de antropocentrismo, que coloca o homem em primeiro lugar no universo. Aos poucos, se disseminou a noção de que a atividade das empresas foi consolidada por meio da atuação humana e da intensa exploração dos recursos da natureza. Assim, a preocupação com a função social da empresa chegou também ao Brasil. A compreensão passou a ser a de que as empresas devem atuar de forma ponderada, principalmente se a sua atuação envolve prejuízo ao ambiente ou às pessoas. É um consenso entre os estudiosos e escritores do Direito que a função social da empresa não precisa estar prevista por escrito na legislação, mas, caso esteja, isso logicamente facilita a sua observância. Nesse sentido, você deve notar que a função social de uma empresa está além do cumprimento de todas as obrigações, previstas na legislação, às quais ela já está vinculada. A função social tem relação com uma atuação a favor dos interesses da coletividade. Ela se realiza quando o empresário divide com o Estado a garantia de certos direitos que precisam ser assegurados para todos (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012). No Brasil, a função social da empresa está prevista por escrito na Constitui- ção Federativa de 1988, no chamado princípio da função social da empresa. Esse princípio está descrito nos seguintes artigos do texto constitucional (BRASIL, 1988): Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabi- lidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] III – função social da propriedade; Atuação empresarial e função social232 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 232 29/05/2018 15:28:08 Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Pú- blico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. [...] § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exi- gências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. Art. 186 A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. É comum o entendimento de que a Constituição (BRASIL, 1988) fala somente sobre “propriedade” no texto, sem citar o termo “empresa”. O que acontece é que a interpretação do texto constitucional nunca deve ser restritiva, e sim extensiva. Desse modo, se pode entender que o termo “propriedade” é citado como um direito fundamental do cidadão brasileiro, por isso adquire significados maiores do que os comumente atribuídos a ele. Nesse sentido, a empresa e o seu controle decorrem do princípio da função social da propriedade. Já no Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002), a função social aparece nos seguintes artigos: Art. 421 A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. [...] Art. 1.228 O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de con- formidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. [...] Art. 2.035 Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Como você viu, a função social da empresa não envolve apenas a proprie- dade, mas também o contrato firmado entre as partes. Afinal, mesmo que seja um acordo entre indivíduos, ele funciona como uma forma de organização 233Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 233 29/05/2018 15:28:08 econômica e social. Nesse sentido, precisa considerar o interesse dos envolvidos e também daqueles que o cercam. Durante a I Jornada de Direito Civil, o Conselho de Justiça Federal editou o Enunciado nº 53, que determina que “Deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação das normas relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa” (CONSELHO DE JUSTIÇA FEDERAL, c2018). Partindo da previsão legal, você pode compreender a função social da empresa como algo que a impede de se estabelecer e de funcionar apenas em prol dos interesses de seus proprietários e administradores. Assim, ela deve agir a favor da coletividade, o que envolve o poder/dever do proprietário de dar uma destinação para a empresa que seja compatível com o interesse da sociedade que a cerca. Em outras palavras, a atividade empresária deve ter um equilíbrio entre seus próprios interesses e os interesses da sociedade, o que envolve a obediência a certos deveres. Por outro lado, uma vez que a atividade empresária não mantém traços de assistência social ou filantropia, a finalidade lucrativa da empresa não deve ser ignorada em detrimento da sua função social. Outra função que jamais pode ser ignorada para uma empresa é a da geração de empregos e a da garantia da circulação de bens, serviços e capitais da sociedade. A função social da empresa não deve se sobrepor à sua função econômica, nem retirar dos proprietários o seu meio de vida ou a sua lucratividade. Para que a função lucrativa e a função social da empresa caminhem juntas, é preciso que os administradores tomem decisões voltadas ao bem comum tanto de seus trabalhadores quanto da sociedade, sem que para isso esqueçam da finalidade primária da empresa, ou seja, o lucro. A instituição empresarial se define, por meio de sua função social, como algo que deve gerar riqueza e oportunidade de emprego, qualifica- ção e diversidadede mão de obra. Ela deve estimular o desenvolvimento científico e tecnológico e melhorar a qualidade de vida por meio de ações educativas, culturais e de defesa do meio ambiente, priorizando o desen- volvimento sustentável. O princípio da função social da empresa é um dos que trazem mais justiça para a sociedade, uma vez que tem o propósito de impedir abusos de inte- resses individuais de donos de empresas e promove muito mais os interesses Atuação empresarial e função social234 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 234 29/05/2018 15:28:08 da coletividade. A empresa deixa então de perseguir somente o lucro para trabalhar em prol da melhoria da vida em sociedade, mesmo que por meio da exploração econômica. Isso quer dizer que o lucro empresarial aparece como uma consequência, não como uma prioridade da atividade empresarial. De maneira resumida, uma empresa cumpre sua função social se gera empregos, supre as necessidades básicas de seus funcionários e garante a eles uma vida digna. Ela também deve se certificar de que os produtos e serviços que gera atendem aos interesses da sociedade e do meio ambiente. Além disso, não são ações de voluntariado esporádicas que definirão a sua função social. Os programas sociais dos quais a empresa faz parte e as obras sociais nas quais se envolve é que vão demonstrar o respeito e a gratidão que ela tem para com a comunidade que garante a manutenção da sua produção e a sua longevidade. Distinção entre função social, repercussão e responsabilidade social A função social não priva o empresário da liberdade de agir de acordo com os interesses da empresa. Contudo, ele terá de cumprir deveres perante a sociedade, agindo de acordo com princípios e normas jurídicas, estejam eles estabelecidos ou não na legislação. Em vista disso, não se pode exigir que uma empresa desempenhe uma função social relacionada a uma prática que não constitua o seu objeto, ou que não esteja ligada à sua atividade econômica. Ou seja, não se pode exi- gir o cumprimento de deveres para os quais as empresas não foram criadas fundamentando-se para isso na função social da organização, pois não há responsabilidade social do empresário nesse sentido (FEITOSA; LUPI, 2016). A função social da empresa surgiu da necessidade de limitar o individua- lismo dos empresários, garantindo a satisfação dos interesses da coletividade, o que atualmente é impossível de ser feito somente pelo Estado. Deve haver um equilíbrio entre os interesses da empresa e os interesses da coletividade, como a segurança, a dignidade humana e a saúde. Como a função social de uma empresa pode ser cobrada na medida do objeto para o qual a organização foi criada, é possível falar em responsabilidade social. A responsabilidade social surge quando uma empresa incorpora preocupações sociais e ambientais às suas operações, de maneira voluntária. De forma simplificada, a responsabilidade social surge quando a função social de uma empresa é integrada de maneira voluntária ao seu cotidiano, à sua produção e às relações entre a administração, os funcionários e a sociedade ao redor. 235Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 235 29/05/2018 15:28:08 Em 2016, a revista Exame publicou uma reportagem sobre as 20 empresas que de- monstraram atuar como modelos em responsabilidade socioambiental. Leia o texto no link a seguir. https://goo.gl/XyBHMm A responsabilidade social aparece quando o empresário ou a alta direção de uma empresa decide, de maneira espontânea e não compulsória, contribuir com ações que não pertencem diretamente às suas atividades-fim, ao seu objeto principal. Essas ações devem ser realizadas para a formação de uma sociedade mais justa e mais harmônica, para a satisfação dos interesses da coletividade, para a conservação do meio ambiente e para o desenvolvimento do país (GONÇALVES, 2013). Enquanto a função social envolve o fato de a empresa ter de harmonizar os seus interesses aos interesses da coletividade, a responsabilidade social envolve as ações que não estão ligadas ao objeto da empresa, mas que, uma vez executadas, trazem benefícios para os trabalhadores e para a sociedade ao redor da organização. Uma empresa pode demonstrar responsabilidade social com o público interno quando oferece cursos de capacitação e atualização para os funcionários nas atividades desem- penhadas, ou quando oferece creches em que as funcionárias que são mães podem deixar seus filhos enquanto trabalham. Para demonstrar responsabilidade social para o público externo, uma empresa pode oferecer patrocínio para eventos culturais, ou investir em recursos financeiros para diminuir a emissão de resíduos provenientes de sua produção. Atuação empresarial e função social236 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 236 29/05/2018 15:28:08 A Figura 1, a seguir, traça um comparativo entre a função social e a res- ponsabilidade social. Figura 1. Comparativo entre função social e responsabilidade social. Limita o individualismo do empresário Função social Garante a satisfação dos interesses da coletividade Equilibra os interesses da empresa com os da coletividade Responsabilidade social Integra a função social de maneira voluntária à empresa Envolve ações que não pertencem diretamente ao objeto da empresa Quando posta em prática, traz benefícios para trabalhadores e sociedade Como você viu, todos esses direitos deveriam ser assegurados pelo Es- tado, mas na prática não há possibilidade real de isso acontecer. Por isso, o Estado precisou transferir para algumas entidades a garantia do exercício de certos direitos. A responsabilidade social surgiu, então, porque o Estado não tinha condições de cumprir todos os seus deveres perante a sociedade. Os empresários passaram a ter certas obrigações por meio da legislação, ou a atuar voluntariamente quando sentem a necessidade de satisfazer à sociedade realizando alguma ação para ajudar. 237Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 237 29/05/2018 15:28:09 A Nestlé, uma das maiores empresas fabricantes de alimentos e bebidas do mundo, possui uma imagem, frente aos seus concorrentes e consumidores, de empresa socialmente responsável. Muitos programas voltados à comunidade, à cultura, à educação e ao meio ambiente foram criados pela empresa, como o Alfabetização Solidária. Além disso, a Nestlé dá importância a toda e qualquer atitude que se mostre favorável à saúde e ao meio ambiente. Prova disso foi a modificação das diretrizes mundiais da empresa, que criou a Política Nestlé para o Meio Ambiente. Assim, suas fábricas são abastecidas por fontes de energia renovável e não poluente, e grande parte de seus resíduos são utilizados para suprir a necessidade de energia. Para saber mais sobre a responsabilidade social da Nestlé, acesse o site da empresa, disponível no link: https://goo.gl/KgejnH Atualmente, a responsabilidade social é vista pelas empresas como atitudes e valores formadas ao longo dos anos e que se inseriram na missão e na visão empresariais. São iniciativas sociais, para o público interno e externo, cujo cumprimento se torna necessário para a empresa. A responsabilidade social nada mais é do que a necessidade que o empre- sário tem de agir aliando os interesses da empresa aos interesses do público interno e do público externo a ela, gerando benefícios para todos. Praticar a responsabilidade social em uma empresa consiste em agir de forma estratégica, transformando os esforços em atividades que priorizam a ética e a transparência com a sociedade em geral. O resultado da produção de bens e serviços aliada aos interesses da comu- nidade é o estreitamento do vínculo entre a empresa e as pessoas, melhorando a imagem da organização perante todos. Em síntese, você pode considerar que a função social aplicada por meio da responsabilidade social gera uma repercussão social, ou seja, uma reação na sociedadeao redor da empresa. Essa reação tem relação com as atitudes tomadas pelo empresário e com os benefícios trazidos para os públicos interno e externo à empresa. Atuação empresarial e função social238 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 238 29/05/2018 15:28:09 Como utilizar a função social em favor da empresa Como você sabe, hoje a administração das empresas costuma ser exercida por empresários ou administradores profi ssionais. Essas pessoas são altamente capacitadas e treinadas para ocupar posições de comando e controle. Em sua atuação, elas devem harmonizar os interesses próprios, os de seus clientes, os de seus fornecedores, acionistas e funcionários, os da sociedade em geral e também os do governo. Atualmente, o empresário não tem mais a imagem de um ser poderoso, que faz uma administração em causa própria ou de sua família, sem se preocupar com os interesses de mais ninguém. Agora, ele deve se preocupar com os interesses da coletividade. Assim, precisa considerar tanto os seus interesses e os de sua família quanto os de seus trabalhadores, os da sociedade ao redor e também os relacionados ao meio ambiente em que está inserido (FEITOSA; LUPI, 2016). Uma empresa com a intenção de permanecer por muito tempo no mercado precisa se humanizar e se tornar socialmente responsável, dando valor a fornecedores, trabalhadores, clientes e sociedade. Seu objetivo passa a ser a coletividade, não o lucro a qualquer custo. Uma das grandes vantagens que podem ser obtidas quando uma empresa valoriza a sua função social é a me- lhoria da sua imagem junto à sociedade. Por meio da divulgação das medidas tomadas para o grande público, com propagandas, anúncios e campanhas, é possível obter e fidelizar clientes para seus produtos e serviços. Afinal, os consumidores saberão que estão consumindo a produção de uma empresa que ajuda a sociedade e o meio ambiente. Sem dúvida, outra vantagem para uma empresa ciente da sua função social é a obtenção de benefícios fiscais. É possível trocar o pagamento de impostos pelo investimento na comunidade, dando outra destinação para o capital que iria diretamente para o Estado, mas poderia não ter a mesma utilização. É importante você lembrar-se de que a função social da empresa vem descrita na legislação como um princípio, como um fundamento no qual deveria se basear a atitude do empresário enquanto administrador. Nesse sentido, não há uma punição descrita em lei para aqueles que não desempenharem atividades relacionadas à função social da empresa (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012). 239Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 239 29/05/2018 15:28:09 Como a função social serve de apoio para as ações dos empresários, não existem sanções previstas para aquele empresário que não cumprir ou não desempenhar uma função social com a sua empresa. Quando um empresário polui o meio ambiente, as únicas sanções possíveis são as previstas no Direito Ambiental. Caso um empresário promova uma demissão em massa de seus funcionários, as sanções cabíveis serão as previstas na legislação trabalhista, incluindo o pagamento de todas as indenizações. Mas, além disso, nada poderá ser feito pela falta de cumprimento da função social, por ter deixado de tratar seus funcionários com dignidade. A função social da empresa envolve o fato de um empresário, no exercício da atividade empresarial, desenvolver suas atividades e produzir seus bens e serviços pautando-se na boa-fé, na ética, na probidade, prezando o cumpri- mento das normas ambientais, trabalhistas e tributárias e respeitando seus consumidores e sua concorrência. Uma empresa que é referência em responsabilidade social é a Microsoft, produtora de softwares conhecida mundialmente. Entre outros projetos idealizados pela empresa, está o Partners in Learning, que em português significa “Parceiros na Aprendizagem”. Esse projeto foi lançado em 2003 e tem como propósito investir na melhoria da qualidade da educação pública em países em processo de desenvolvimento. Para exercer a responsabilidade social por meio de um projeto como esse, os em- presários da Microsoft pensaram em aspectos como os seguintes: os frutos da produção da Microsoft, que são os softwares, chegam mais comu- mente às mãos de pessoas instruídas e raramente de pessoas analfabetas ou com falhas sérias de educação; a Microsoft precisa de funcionários com boa formação educacional e intelectual nos países em que atua. Nesse sentido, pode-se observar que a Microsoft consegue obter grandes benefícios com o seu investimento (logicamente, a longo prazo). Isso significa menos despesas com treinamento e capacitação posteriormente, quando as pessoas ingressarão no mercado de trabalho e supostamente trabalharão para a empresa. Em contrapartida, a sociedade também é muito beneficiada, pois o projeto idealizado pela Microsoft permite que pessoas que talvez não tivessem acesso facilitado ao estudo possam gozar de educação pública de qualidade. Atuação empresarial e função social240 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 240 29/05/2018 15:28:09 Praticar a função social traz para a empresa um diferencial competitivo com relação às empresas concorrentes, além da consequente valorização da sua imagem perante seus clientes e a sociedade em geral. Ao longo do tempo, a função e a responsabilidade social se estabeleceram de tal forma no cotidiano das empresas, que quando a sua produção influi de maneira negativa no meio onde estão instaladas, rapidamente são imaginadas ações para compensar a sociedade por isso. Entre os motivos pelos quais uma empresa deve exercer sua função e sua responsabilidade social, você pode considerar os seguintes (SEBRAE, 2018): Para aumentar o reconhecimento da sua marca, uma vez que uma empresa que se empenha e contribui de maneira positiva para o desenvol- vimento e a garantia de benefícios à comunidade tende a ter seu esforço reconhecido. Quanto mais uma empresa demonstrar envolvimento social com a comunidade onde atua, mais rapidamente os consumidores tendem a avaliá-la de maneira positiva. Para aumentar o volume de negócios fechados pela empresa, uma vez que empresas responsáveis socialmente são engajadas em objetivos que trazem retorno financeiro, mas também não financeiro, o que pode ser muito vantajoso. As empresas tendem a fechar negócios à medida que mantêm os interesses da sua comunidade inseridos na sua cultura, na sua missão, na sua visão e nos seus valores. Para aumentar suas vendas, obter e fidelizar clientes, pois na atualidade a simples oferta de bons produtos e serviços pode não ser suficiente para isso. Os consumidores tendem a ser mais leais a empresas que demonstram lealdade a eles e a suas causas. Para ganhar o respeito dos seus funcionários, pois a atuação ética e socialmente responsável da organização mantém os funcionários orgu- lhosos de colaborarem com a causa, faz com que eles se identifiquem com a cultura da empresa e queiram contribuir por meio de seu esforço no desempenho de suas atividades. Para ser um diferencial competitivo e garantir sua longevidade no mercado, uma vez que os consumidores tendem a dar preferência para empresas que defendem os seus interesses. Para reduzir seus custos operacionais, eliminando desperdícios e inefi- ciências, pois uma consciência ecológica traz benefícios também para o faturamento e para a diminuição de despesas da empresa. Para demonstrar lealdade no relacionamento com a comunidade in- terna e externa, uma vez que uma empresa que atua de maneira ética, 241Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 241 29/05/2018 15:28:09 responsável e transparente transmite confiança para seus funcionários, clientes, fornecedores e demais envolvidos. Por meio da responsabilidade social, as empresas vêm se responsabilizando pelos interesses da sociedade, lidando com questões como a educação, a pre- servaçãodo meio ambiente, a saúde, a segurança, entre outros. Quando exerce um papel socialmente responsável, a empresa demonstra que convive com a comunidade onde está inserida, pois é nela que provavelmente vai encontrar seus funcionários, seus clientes, seus fornecedores e seus concorrentes. Ao exercer a responsabilidade social, a empresa mostra para a comunidade ao seu redor que incorporou, na sua cultura e nos seus valores, a busca pelo bem-estar da coletividade associada ao desenvolvimento da própria organiza- ção. Sem dúvida, essa é uma das maneiras mais eficientes de valorizar a sua imagem perante a sociedade, gerando benefícios para empresários, gestores, trabalhadores e suas famílias, bem como para os demais indivíduos e também para o meio ambiente. Atuação empresarial e função social242 Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 242 29/05/2018 15:28:10 243Atuação empresarial e função social Legislacao_Empresarial_Aplicada_BOOK.indb 243 29/05/2018 15:28:10 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2018. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2018. CONSELHO DE JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado 53. Brasília, DF: CJF, c2018. Disponível em: . Acesso em: 30 mar. 2018. FEITOSA, R. J.; LUPI, A. L. P. B. Direito empresarial II. In: CONGRESSO DO CONPEDI, 25., 2016, Curitiba. Anais... Florianópolis: CONPEDI, 2016. Disponível em: . Acesso em: 31 mar. 2018. GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil: contratos: teoria geral. Saraiva: São Paulo, 2012. v. 4, tomo I. GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. SEBRAE. Responsabilidade social empresarial. Brasília, DF, 2018. Leituras recomendadas ANDRADE, T. P. Empresa, responsabilidade e função social. Curitiba: CRV, 2017. BARBOSA, V. 20 empresas-modelo em responsabilidade socioambiental. Exame, 13 set. 2016. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2018. BITTENCOURT, E.; CARRIERI, A. Responsabilidade social: ideologia, poder e discurso na lógica empresarial. Revista de Administração de Empresas, v. 45, p. 10-22, set./dez. 2005. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2018. NESTLÉ. Responsabilidade social. São Paulo, c2018. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2018. PINEDA, E. S.; MARROQUÍN, J. A. C. Ética nas empresas. São Paulo: McGraw-Hill, 2009. ARTIGO Direito do trabalho é o conjunto de normas jurídicas que regem as relações entre empregados e empregadores, trata dos direitos resultantes da condição jurídica dos trabalhadores. Estas normas, no Brasil, estão regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Constituição Federal de 1988 e várias leis esparsas (como a lei que define o trabalho do estagiário, entre outras). O Direito do trabalho interfere diretamente na atividade empresarial, é um dos ramos do direito que mais impactam a empresa. Vejamos agora alguns de seus princípios. Princípios do Direito do Trabalho Princípios são normas gerais já consolidadas e que expressam valores sedimentados na sociedade. Além dos princípios gerais do Direito com aplicabilidade sobre o Direito do trabalho, têm- se os princípios específicos desta área. De acordo com o princípio da prevalência da condição mais benéfica ao trabalhador, qualquer condição que seja concedida de forma habitual e tácita ao empregado e for ela mais benéfica do que outra decorrente de lei ou do contrato, passa então a prevalecer. Isso significa dizer que a condição mais benéfica incorpora-se ao patrimônio do empregado e não pode ser suprimida. Imagine, por exemplo, que um trabalhador contratado para trabalhar 44 horas semanais venha a trabalhar de forma efetiva, habitual e tacitamente aceita pelo empregado, apenas 40 horas semanais. Significa dizer que essa condição mais benéfica passa a ser regra e não pode ser suprimida. Informa-nos o princípio da norma mais favorável que, havendo duas normas aplicáveis ao mesmo trabalhador, deverá prevalecer aquela que for a mais favorável ao empregado. Significa dizer que, havendo, por exemplo, norma legal e convenção coletiva, prevalecerá aquela que for mais favorável for ao trabalhador. Por sua vez, o princípio do in dubio pro operario determina que, havendo mais de uma interpretação possível sobre uma norma, deverá prevalecer aquela que for mais favorável ao trabalhador, parte fraca da relação de emprego. Segundo o princípio da primazia da realidade vale mais o que aconteceu na prática do que o que as partes ajustaram. Isso significa dizer que, mesmo havendo documentos, deve prevalecer o que realmente aconteceu durante a relação de emprego. Um dos principais fundamentos consiste no fato de que o trabalhador, parte vulnerável, poderia ser compelido a assinar qualquer documento, por ser a parte frágil da relação, o que não poderia ser tido como legítimo. Pelo princípio da irredutibilidade salarial, tem-se que o salário do trabalhador é, a rigor, irredutível. Contudo, são admitidas as hipóteses de redução nos casos de acordo ou convecção coletiva. Já o princípio da continuidade da relação de emprego informa-nos que a relação de emprego tende a ser duradoura e, como regra, o contrato de trabalho vigora por tempo indeterminado. Isso significa que, não havendo contrato expresso por prazo determinado, o contrato de trabalho é tido como de prazo indeterminado. O princípio da inalterabilidade contratual prejudicial ao trabalhador determina que não pode haver alteração no contrato de trabalho que seja lesiva ao trabalhador. Significa dizer que as condições contratuais devem permanecer quando mais benéficas ao trabalhador, protegendo-o contra alterações contratuais lesivas aos seus direitos. Por fim, o princípio da irrenunciabilidade preceitua que, a rigor, não se deve renunciar aos direitos trabalhistas ou negociá-los, seja antes, durante ou depois da relação contratual. Esse princípio visa a tutelar o trabalhador. Ademais, as normas trabalhistas são cogentes, imperativas e, portanto, não podem ser negociadas. Conceito de Empregador Considera-se empregador a empresa (pessoa jurídica/pessoa física), individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço do empregado. Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como empregados. Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das suas subordinadas. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados. Conceito de Empregado Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. Empregado e empregador estabelecem um vínculo jurídico por meiodo contrato de trabalho, o qual se passa a analisar. Contrato de Trabalho O contrato de trabalho é o ajuste verbal ou escrito, por meio do qual uma pessoa se obriga a prestar trabalho a outra, de forma não eventual, em proveito do empregador, seja por tempo determinado ou por tempo indeterminado. A regra é a do contrato por tempo indeterminado, contudo, cabe ajustar contrato por tempo determinado, desde que seja feito de forma expressa entre as partes. Uma vez iniciando o trabalho, deve o empregador e o empregado firmar contrato por tempo determinado sob pena de, não o fazendo, ser o contrato considerado como de prazo indeterminado. Requisitos do Vínculo Empregatício Se, eventualmente, não houver a anotação da carteira de trabalho do empregado, para que ele prove ter havido um vínculo empregatício entre ele e seu empregador, inclusive para pleitear direitos não pagos junto à Justiça do Trabalho, é necessário demonstrar que houve a existência dos seguintes requisitos: 1. Empregado: deve ser uma pessoa física, pois não há a possibilidade de ser empregada uma pessoa jurídica. 2. Subordinação: o empregado deve estar sujeito às ordens e determinações do empregador, agindo de forma subordinada a este. 3. Onerosidade: o empregado deve perceber remuneração/salário, pois não há relação de emprego de forma graciosa, voluntária, mas sim mediante contraprestação de fundo econômico. 4. Habitualidade: o empregado deve entregar sua força de trabalho de forma habitual, ou seja, não pode ser eventual, esporádico. 5. Pessoalidade: o vínculo empregatício se desenvolve entre empregador e empregado, não podendo este se fazer substituir no seu trabalho. Presentes estes requisitos, estaremos diante de uma relação de emprego, na qual são devidos todos os direitos trabalhistas, a saber, férias, 13º salário etc. Atuação Empresarial e Direito do Consumidor O Direito do consumidor é um ramo do Direito que lida com conflitos de consumo e com a defesa dos direitos dos consumidores. Encontra-se desenvolvido na maior parte dos países com sociedades de consumo e sistemas legais funcionais. Entretanto, devemos, de uma forma coesa, atribuir os reais valores aos consumidores, reconhecendo as falcatruas e beligerantes atitudes de muitos fornecedores, quanto às condições dos vários produtos fornecidos aos consumidores. Entende-se por consumidor toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Contudo, equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Por sua vez, fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Já o Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. Enfim, o serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. O Código de Defesa do Consumidor define quais são direitos básicos do consumidor, a saber: I - Direito à proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos. II - Direito a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações. III - Direito à informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. IV - Direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. V - Direito à modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. VI - Direito à efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. VII - Direito ao acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados. VIII - Direito à facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo às regras ordinárias de experiências. IX - Direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. Acesso em: 30 jul. 2015. Verifica-se que, pelos direitos elencados em lei, o consumidor tem a sua saúde e segurança preservadas. Mais do que isso, ele é tutelado em face do fornecedor em razão da sua vulnerabilidade, que decorre do fato de ser hipossuficiente. Quanto aos vícios e defeitos dos produtos e serviços, a lei estabelece prazos para que o consumidor possa reclamar. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis; II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis. Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços. Interrompem a decadência: I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca; II - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm. Acesso em: 30 jul. 2015. Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. 4a 4b 4c