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m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ H E P A T O L O G I A HEPATITES VIRAIS FEVEREIRO/2022 P R O F . F E R N A N D A C A N E D O m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Hepatites virais PROF. FERNANDA CANEDO APRESENTAÇÃO: /estrategiamedt.me/estrategiamed Estratégia MED @fecanedo @estrategiamed Olá, Estrategista! Meu nome é Fernanda Canedo, sou carioca, moro em Curitiba desde 2017, sou casada e tenho dois filhos, Joaquim e Antônio. Pensei em ser médica ainda criança, por meio do contato com meu pediatra, por quem sempre tive muita admiração. Chegando ao vestibular, tive uma grande dúvida se era isso mesmo o que eu queria para a vida. Pesei os prós e os contras do que sabia sobre a carreira e decidi manter a minha decisão. Entrei para a faculdade de Medicina na UFRJ em 2002 querendo fazer Pediatria ou Cardiologia, pela influência do meu médico e porque meu pai, meu grande ídolo, foi submetido a uma cirurgia de revascularização do miocárdio no ano do meu vestibular. Então, entendi que queria salvar pessoas queridas para outras pessoas, como salvaram o meu pai. Talvez você também tenha passado por isso, mas, ao longo do curso, não me identifiquei com essas especialidades e segui em busca do que queria fazer. No sétimo período da faculdade, passei pela enfermaria de Gastroenterologia, muito disputada entre os alunos pela sua excelência. Foi aí que encontrei minha primeira paixão dentro da Medicina. Com professores inspiradores, decidi que seria gastroenterologista! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://t.me/estrategiamed https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://www.instagram.com/fecanedo/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ Hepatites virais Terminei a faculdade de Medicina no final do ano de 2007 e ingressei na Residência de Clínica Médica também na UFRJ, ainda com o objetivo de seguir na Gastroenterologia. Foi no segundo ano de Residência que me apaixonei pela Hepatologia! Na dúvida de que caminho seguir, optei por ingressar na Residência de Gastroenterologia da UFF, em Niterói-RJ, mas lá tive a certeza de que deveria complementar a minha formação na Hepatologia. Depois que terminei a segunda Residência Médica, então, fiz o processo seletivo para Residência de Hepatologia na UFRJ, completando meu quinto ano de especialização (na minha época, há alguns anos, Hepatologia era área de atuação e só era possível ingressar após 2 anos de Residência de Gastroenterologia). Foram anos de muitas inseguranças e medos, muita dedicação e muito aprendizado! Tive a oportunidade de acompanhar e fazer parte de uma das principais equipes de Hepatologia do Rio de Janeiro, trabalhando em hospitais públicos e privados e tendo contato com os mais diversos pacientes. Fiz parte também do ambulatório de Hepatologia da UFRJ, na assistência dos pacientes, contribuindo na formação de alunos de Medicina e Residentes. Em 2017, por questões pessoais, optei por me mudar para Curitiba, dando continuidade ao trabalho acadêmico e à assistência. A Hepatologia é um tema muito frequente nas provas de Residência Médica e Revalida, temido por muitos por sua aparente complexidade. Vamos desmistificar isso e transformar essa matéria tão importante em mais conhecimento e acertos nas suas provas! Nosso curso Revalida Exclusive foi pensado para abordar de forma completa, porém mais objetiva, todo o conteúdo necessário para que você compreenda o tema e seja capaz de responder às mais diferentes questões dos processos seletivos, com o objetivo de otimizar o seu estudo apenas com informações essenciais para o sucesso nas provas. Esse vai ser o seu diferencial rumo à aprovação! Vamos passar por mais essa etapa vitoriosa da sua formação e, em breve, comemorar o tão esperado CRM! Vamos juntos? m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 4 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais SUMÁRIO O QUE CAI SOBRE HEPATITES VIRAIS? 7 1.0 HEPATITE A 8 1.1 INTRODUÇÃO 8 1.2 TRANSMISSÃO 8 1.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 9 1.4 DIAGNÓSTICO 10 1.5 TRATAMENTO 13 1.6 PREVENÇÃO 13 1.7 IMUNIZAÇÃO 14 1.8 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO 14 2.0 HEPATITE B 15 2.1 INTRODUÇÃO 15 2.2 EPIDEMIOLOGIA 15 2.3 O VÍRUS DA HEPATITE B 16 2.4 MARCADORES SOROLÓGICOS 16 2.5 FORMAS DE TRANSMISSÃO 19 2.5.1 TRANSMISSÃO SEXUAL 20 2.5.2 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA 20 2.5.3 TRANSMISSÃO VERTICAL 20 2.5.4 TRANSMISSÃO PELO ALEITAMENTO MATERNO 21 2.5.5 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS 21 2.6 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 23 2.7 FASES CLÍNICAS 25 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 5 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.8 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 25 2.8.1 HEPATITE B AGUDA BENIGNA 26 2.8.2 HEPATITE B AGUDA GRAVE 26 2.8.3 HEPATITE B CRÔNICA 27 2.8.4 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS 27 2.9 DIAGNÓSTICO 30 2.9.1 INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS 31 2.9.2 OS MUTANTES 34 2.10 VACINAÇÃO 37 2.11 PROFILAXIA DA HEPATITE B 37 2.11.1 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO 38 2.11.2 PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO VERTICAL 41 2.12 TRATAMENTO 42 2.13 COINFECÇÕES 42 3.0 HEPATITE C 44 3.1 INTRODUÇÃO 44 3.2 TRANSMISSÃO 44 3.2.1 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA 45 3.2.2 TRANSMISSÃO SEXUAL 45 3.2.3 TRANSMISSÃO VERTICAL 46 3.2.4 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS 46 3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 47 3.3.1 HEPATITE C CRÔNICA 48 3.3.2 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS 48 3.4 DIAGNÓSTICO 49 3.4.1 ANTI-HCV 49 3.4.2 HCV-RNA 50 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 6 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.4.3 GENOTIPAGEM 51 3.5 TRATAMENTO 53 3.5.1 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 53 3.5.2 OBJETIVOS DO TRATAMENTO 53 3.5.3 ESQUEMAS DE TRATAMENTO 54 4.0 HEPATITE D (HEPATITE DELTA) 57 4.1 INTRODUÇÃO 57 4.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 58 4.3 DIAGNÓSTICO 58 5.0 HEPATITE E 61 5.1 INTRODUÇÃO 61 6.0 LISTA DE QUESTÕES 65 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 66 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 69 m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 7 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais O QUE CAI SOBRE HEPATITES VIRAIS? Querido aluno, estamos entrando em um tema muito frequente nos processos seletivos e, aqui, temos o principal tópico da Hepatologia em números de questões. No Revalida não é diferente! Em razão da sua importância e do seu impacto na saúde pública, desde 1996, todas as hepatites virais são doenças de notificação compulsória. Todos os casos confirmados devem ser notificados ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) em até 7 dias. Revisamos mais de 1.700 questões de Hepatologia das principais instituições de todo o Brasil desde 2003, sendo mais de 1.200 de 2015 até agora. Solucionamos e trazemos aqui para você mais de 500 questões de hepatites virais, sendo mais de 350 questões de hepatite B! Quando o assunto é Revalida, a hepatite B é bastante cobrada, especialmente nos últimos concursos, mas a predileção ainda é pela hepatite C. Vamos então focar no que é necessário saber de cada assunto para acertar as mais diversas questões! Bons estudos! 1.0 HEPATITE A CAPITÚLO 1.1 INTRODUÇÃO Apesar de ser uma infecção muito comum na prática clínica, a hepatite A não é um tema muito pedido nos concursos médicos, especialmente nas provas do Revalida. Em todas as provas do Revalida INEP e UFMT, tivemos apenas 2 questões que abordaram a hepatite A, no contextoda cesariana. Portanto, a via de parto deve ser decidida por motivos obstétricos, e não pela presença da infecção pelo HBV, independentemente de carga viral ou qualquer outro fator. O aleitamento materno não está contraindicado caso as medidas de profilaxia tenham sido seguidas. Analise esse quadro a seguir, que resume as medidas de profilaxia da transmissão vertical que aparecem na prova. Via de parto Indicação obstétrica Aleitamento materno Liberado Profilaxia Vacina + Imunoglobulina 200.000 UI/mL. 11. O HBV tem características oncogênicas e há risco de evolução para carcinoma hepatocelular, mesmo sem a presença de fibrose avançada e cirrose. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 44 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.0 HEPATITE C CAPITÚLO 3.1 INTRODUÇÃO Hepatite C é uma infecção comum em nosso meio e uma das principais causas de cirrose e indicação de transplante hepático no Brasil e no mundo! O vírus da hepatite C (HCV) é um vírus de RNA, pertencente à família Flaviviridae, com transmissão parenteral, ou seja, a partir de sangue e fluidos corporais contaminados. VÍRUS DA HEPATITE C Vírus de RNA Família Flaviviridae Transmissão parenteral É pouco comum a hepatite C manifestar-se como hepatite aguda sintomática. É, portanto, mais comum identificar o vírus já em sua fase crônica e é essa a hepatite viral que mais cronifica (até 80% dos pacientes!). A hepatite C é a hepatite viral que mais cronifica e é uma das principais indicações de transplante hepático no Brasil e no mundo! 3.2 TRANSMISSÃO m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 45 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Como já vimos até aqui, a transmissão do vírus da hepatite C é predominantemente parenteral, por meio de sangue e fluidos corporais contaminados. Após o início da testagem nos bancos de sangue em 1993, a transmissão pela transfusão de sangue e hemoderivados caiu muito, mas transfusões anteriores a essa data são sempre suspeitas. Além disso, nota- se prevalência aumentada da infecção pelo HCV em indivíduos com mais de 45 anos. Dessa forma, pessoas nascidas antes de 1975 devem ser testadas. A principal forma de contaminação nos últimos 20 anos é a partir do uso de drogas injetáveis e inalatórias, pelo compartilhamento dos instrumentos contaminados. Outras formas de contágio descritas são por meio de instrumentos perfurocortantes contaminados, como alicate de cutícula, lâminas de barbear ou equipamentos para tratamento odontológico e hemodiálise. A transmissão sexual e vertical é descrita, porém parece não ser muito frequente, estimada em cerca de 3-10%. Ainda assim, cerca de 40-50% dos casos permanecem com epidemiologia desconhecida. Até 1993, a principal forma de transmissão da hepatite C era a partir da transfusão de sangue e hemoderivados. Nos últimos 20 anos, o uso de drogas injetáveis ou inalatórias é o principal fator de risco para a infecção. 3.2.1 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA Atualmente, essa é a principal via de contaminação da hepatite C, por meio do compartilhamento de instrumentos para uso de drogas. Além disso, há risco de transmissão a partir do contato com objetos que tenham sangue ou fluidos contaminados, como lâminas de barbear e alicates de cutícula mal esterilizados. Acredita-se que o vírus da hepatite C sobreviva algumas horas a poucos dias fora do organismo e, portanto, é fundamental manter técnicas de esterilização adequadas e não compartilhar equipamentos que tenham contato com o sangue. Quando comparamos o risco de transmissão da hepatite B, da hepatite C e do HIV após acidentes com material biológico, o risco de transmissão da hepatite B é de aproximadamente 20% (6 a 30%), da hepatite C é em torno de 1,8% e do HIV é em tornode 0,3%. Não existe vacinação para a hepatite C ou qualquer medida profilática pós-exposição eficaz. Portanto, o mais importante é tomar os cuidados necessários para não entrar em contato com o vírus. 3.2.2 TRANSMISSÃO SEXUAL Há descrição de transmissão sexual esporádica do vírus da hepatite C. Ela pode acontecer de forma incomum em relações sexuais sem uso de preservativos, por isso a hepatite C é considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 46 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.2.3 TRANSMISSÃO VERTICAL Assim como a transmissão sexual, há risco de transmissão vertical, ainda que baixo, estimado em cerca de 3-10% dos casos. A principal fonte de infecção do HCV em crianças é a transmissão vertical periparto, sendo rara a contaminação intraútero. O risco de transmissão perinatal é maior a depender da gravidade da doença, da carga viral elevada ou da presença de coinfecção com HIV. Apesar de estar relacionada a piores desfechos maternos e fetais, a hepatite C não contraindica a gravidez. O ideal é que a mulher em idade fértil seja tratada para a hepatite C antes de engravidar, já que as medicações são potencialmente teratogênicas e proscritas durante a gestação. Após o tratamento, deve-se esperar, no mínimo, 6 meses para engravidar. Se a mulher estiver em tratamento quando descobrir uma gestação, as medicações devem ser prontamente suspensas. Como discutimos no material sobre hepatite B, aqui também não há benefício de uma via de parto em relação a outra e devemos seguir as indicações obstétricas. Além disso, não há contraindicação ao aleitamento materno. Diferentemente da hepatite B, não há, para a hepatite C, qualquer medida profilática eficaz para reduzir o risco de transmissão vertical. Felizmente, esse risco é baixo! • Via de parto deve seguir indicações obstétricas. • O aleitamento materno não está contraindicado. • Não há medidas para profilaxia da transmissão vertical da hepatite C. • O tratamento da hepatite C é contraindicado na gestação. 3.2.4 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS A transmissão a partir da transfusão de sangue e hemoderivados já foi a principal forma de contaminação até 1993, quando a testagem passou a ser obrigatória nos bancos de sangue. Toda transfusão anterior a essa data é altamente suspeita para a infecção pelo HCV e casos de hepatite pós- transfusional também devem ser investigados.m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 47 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A infecção pelo HCV pode cursar de forma assintomática, com infecção aguda sintomática, ictérica ou anictérica, e evoluir para a forma crônica, com risco de progressão para cirrose e CHC. Hepatite C aguda sintomática é incomum, ocorrendo em até 20% dos pacientes, e, destes, apenas 25% apresentarão icterícia. Hepatite fulminante pelo HCV é um evento raro, em geral associado à coinfecção com HIV e/ou hepatite B. O período de incubação da hepatite C varia entre 15 e 160 dias, com média de 7 semanas para o início dos sintomas. As transaminases costumam elevar em 2 a 8 semanas após a exposição, antes mesmo do aparecimento de sintomas. O HCV-RNA é o primeiro marcador a positivar e já pode ser detectado em 2 semanas após a contaminação. Em até 20% dos casos, na fase aguda, o anti-HCV estará negativo e, nesses casos, o HCV-RNA é o único marcador capaz de fazer o diagnóstico. Os níveis do HCV-RNA aumentam rapidamente após a infecção e seu pico ocorre imediatamente antes do pico das transaminases, podendo coincidir com o início dos sintomas. O surgimento do anti-HCV, ou seja, a soroconversão, em geral, ocorre em 30 a 60 dias, podendo acontecer em até 6 meses, SEMPRE após o aparecimento do HCV-RNA. Parece óbvio, não é? Primeiro temos o vírus circulante e depois produzimos o anticorpo. Isso já foi cobrado em prova de Residência Médica! Observe o gráfico a seguir, com a evolução dos marcadores da hepatite C. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 48 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Quando sintomática, a hepatite C aguda é semelhante a outras hepatites virais, podendo apresentar as 3 fases clínicas, a prodrômica, a ictérica e a de convalescença, discutidas no item “Manifestações Clínicas” em “Hepatite A”. Volte lá para retomar esses conceitos caso tenha ficado com alguma dúvida. A hepatite C aguda é, na maioria das vezes, subclínica e é mais comum fazermos o diagnóstico já na fase crônica da doença. Vamos agora conversar sobre a principal manifestação clínica da hepatite C, a hepatite C crônica! 3.3.1 HEPATITE C CRÔNICA A maioria dos pacientes que tiveram contato com o vírus da hepatite C vai evoluir com infecção crônica, até cerca de 80%, e essa é a hepatite viral que mais cronifica! A definição de hepatite C crônica é a persistência do anti-HCV por mais de 6 meses associado a HCV- RNA positivo por, pelo menos, 6 meses, confirmando a infecção. Vamos discutir mais sobre esses marcadores logo a seguir. Quando há fibrose avançada e cirrose hepática instalada, há risco de surgimento do carcinoma hepatocelular, neoplasia maligna primária do fígado mais comum, com prognóstico ruim e alta mortalidade. 3.3.2 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS As manifestações extra-hepáticas da hepatite C são comuns. Em torno de 30 a 40% dos pacientes podem apresentar pelo menos uma manifestação clínica extra-hepática. Pode apresentar-se como crioglobulinemia, glomerulonefrite, doenças autoimunes, como a síndrome de Sjögren e tireoidite de Hashimoto, porfiria cutânea tarda e líquen plano. A hepatite C também se associa ao linfoma não Hodgkin de células B (linfoma folicular, linfocítico crônico, linfoplasmocítico ou da zona marginal). A manifestação extra-hepática melhor documentada é a crioglobulinemia mista. É uma vasculite de pequenos e médios vasos, com aparecimento de púrpuras palpáveis e petéquias em membros inferiores, artralgia, doença renal, geralmente glomerulonefrite membranoproliferativa, e neuropatia periférica. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 49 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Cerca de 90% dos pacientes com diagnóstico de crioglobulinemia mista apresentam hepatite C crônica e metade daqueles com hepatite C também apresenta crioglobulinemia. O tratamento do HCV costuma cursar com resolução da crioglobulinemia mista e do acometimento renal. Nesta imagem, você pode observar as púrpuras e petéquias em membros inferiores, frequentemente presentes na crioglobulinemia mista e que auxiliam no diagnóstico dessa enfermidade. 3.4 DIAGNÓSTICO Aqui você será cobrado para saber interpretar o que é um anti-HCV positivo e quando realizar a dosagem do HCV-RNA e, muitas vezes, a sorologia da hepatite C virá dentro de uma questão sobre outras hepatites virais, em especial, hepatite B. Em geral, são questões simples. Vamos juntos? 3.4.1 ANTI-HCV Em relação à sorologia da hepatite C, existe apenas um anticorpo, o anti-HCV. Esse anticorpo surge quando o indivíduo entra em contato com o vírus da hepatite C e não confere imunidade, ou seja, uma vez curado da hepatite C, após tratamento ou espontaneamente, o paciente pode ser novamente contaminado, mesmo com anti-HCV positivo. IMPORTANTE: O ANTI-HCV NÃO CONFERE PROTEÇÃO CONTRA A HEPATITE C! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 50 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro2022 Hepatites virais Esse é o exame que deve ser realizado inicialmente quando vamos investigar um quadro de hepatite ou para triagem de pacientes dos grupos de risco. É um erro comum (que você não vai cometer!) acreditar que anti-HCV positivo é igual ao diagnóstico de hepatite C. Porém, ele marca “apenas” o contato com o vírus. O diagnóstico da hepatite C deve ser feito com a dosagem da carga viral (HCV-RNA). Se positiva, aí, sim, seremos capazes de dar um diagnóstico de hepatite C atual. Esse erro acontece porque a maior parte dos pacientes que tiveram contato com o HCV vai cronificar (cerca de 80%), e apenas uma minoria vai clarear (curar) o vírus espontaneamente. Portanto, NÃO podemos afirmar que anti- HCV positivo é igual à infecção ativa pelo HCV. Essa confirmação ocorrerá apenas após realização da carga viral. Em algumas situações, o anti-HCV pode não estar positivo, mesmo na presença de infecção ativa pelo vírus da hepatite C. Isso acontece em uma fase inicial da infecção aguda, em geral no primeiro mês após a exposição, quando ainda não ocorreu a produção do anticorpo, e em pacientes imunodeprimidos e/ou em diálise, pela incapacidade de produzir os anticorpos. Nesses casos, o diagnóstico deverá ser feito pela dosagem da carga viral que discutiremos a seguir. Em geral, o primeiro exame a ser solicitado é o anti-HCV pelo método ELISA. Caso venha positivo, pode-se confirmar seu resultado com o anti-HCV pelo método RIBA ou Imunoblot, mais específico que o ELISA. Um exame ELISA positivo com RIBA negativo é considerado um resultado falso-positivo! Na prática, após um anti-HCV positivo (mesmo no caso de teste rápido), a orientação é solicitar o HCV-RNA para confirmação de infecção ativa! Não há indicação de complementar com outro método de anti-HCV. 3.4.2 HCV-RNA O HCV-RNA é o primeiro marcador a positivar após o contato com o vírus da hepatite C e isso é fácil de entender: ele mostra que há vírus circulantes! Como já vimos, a soroconversão, com produção do anti-HCV, é posterior e pode ocorrer em até 6 meses da exposição ao HCV. A pesquisa dos ácidos nucleicos ou da carga viral faz o diagnóstico da infecção ativa pelo HCV! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 51 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Observe o quadro a seguir com as combinações possíveis de anti-HCV e HCV-RNA. Anti-HCV negativo/HCV-RNA negativo Nunca teve contato com o HCV Anti-HCV negativo/HCV-RNA positivo Hepatite C aguda ou incapacidade de produzir anticorpos Anti-HCV positivo/HCV-RNA positivo Hepatite C aguda ou crônica Anti-HCV positivo/HCV-RNA negativo Hepatite C curada ou falso positivo 3.4.3 GENOTIPAGEM Já foram descritos 7 genótipos para o HCV. O genótipo 1 é o mais prevalente no Brasil e no mundo, seguido pelo genótipo 3. Os genótipos 2 e 4 ainda podem ser encontrados no Brasil, em menor proporção. Os outros genótipos ainda não foram descritos no nosso território. Após a confirmação da infecção ativa pelo HCV, a genotipagem deve ser realizada com o objetivo principal de definir o esquema terapêutico, já que, dependendo do genótipo, podemos optar por um tratamento ou outro. Para tipar o genótipo, é necessário ter carga viral circulante, certo? Para isso, precisamos ter HCV-RNA > 500 UI/mL. Com os tratamentos antigos, o genótipo tinha relação com resposta virológica, mas, atualmente, os antivirais de ação direta são muito eficazes para todos os genótipos. Já caiu uma questão no Revalida sobre diagnóstico de hepatite C. Vamos ver? m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 52 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais CAI NA PROVA (Revalida Inep 2016) Durante uma campanha de prevenção de acidentes ocupacionais em ambiente hospitalar, uma mulher com 32 anos de idade, auxiliar de enfermagem, foi submetida à sorologia para hepatite C, por teste rápido presencial, revelando-se reativa. Está ansiosa, pois não entende bem o que tal resultado significa, já que “não sente nada” e “não tem ideia de como foi contaminada”. É referenciada ao Serviço de Apoio ao Trabalhador (SAT), no ambulatório do hospital, onde trabalha. Na primeira etapa de investigação, além de responder às dúvidas que a paciente apresentar durante o atendimento, é necessário que o médico do SAT priorize: A) A avaliação das provas de função hepática. B) A pesquisa de coinfecções pelo vírus HBV e HIV. C) A realização de teste de genotipagem para o HCV. D) A solicitação de teste de quantificação de carga viral do HCV. COMENTÁRIO: Nossa paciente realizou o teste rápido para hepatite C, com anti-HCV positivo. O que isso significa? Só podemos afirmar que ela teve contato com o vírus da hepatite C. Qual é, então, o próximo passo? Vamos analisar as alternativas. Incorreta a alternativa A: a paciente teve contato prévio com o vírus da hepatite C e sabemos que a grande maioria desses pacientes evolui com doença crônica. Inicialmente, precisamos confirmar se há infecção atual, a partir da dosagem da carga viral do HCV. Avaliar a função hepática é importante no acompanhamento dessa paciente, mas não é a medida que deve ser priorizada. Incorreta a alternativa B: até é importante investigar outras doenças que tenham as mesmas vias de transmissão, como a hepatite B e o HIV, mas essa não é a medida inicial a ser priorizada. Incorreta a alternativa C: a confirmação da hepatite C deverá ser feita com a dosagem da carga viral. Se positiva, faremos a genotipagem para guiar ao tratamento. Só seremos capazes de genotipar quando tivermos vírus circulantes. Correta a alternativa D: a paciente teve contato com vírus da hepatite C, pois o anti-HCV é positivo, mas precisa confirmar a infecção atual a partir da pesquisa de carga viral ou HCV-RNA. Essa é a nossa resposta!m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 53 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.5 TRATAMENTO Esse é o tema mais cobrado pelo Revalida, mas tem sido deixado um pouco para trás nos últimos concursos. Todas as questões do Revalida sobre esse tema estão desatualizadas, mas vamos adaptá-las para agregar conhecimento sobre um assunto que eles adoram e pode voltar a cair nos próximos anos! O tratamento da hepatite C passou por muitas mudanças recentes. Atualmente, a partir do PCDT publicado em 2019, está indicado o tratamento para TODOS os pacientes com diagnóstico de hepatite C, independentemente do grau de fibrose ou inflamação. Isso faz parte do “Plano de Eliminação da Hepatite C no Brasil”, que tem como objetivo a ampliação do diagnóstico e do tratamento, e a meta é a eliminação da hepatite C do Brasil até 2030. 3.5.1 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO De acordo com o PCDT, temos algumas medicações disponíveis para o tratamento da hepatite C, principalmente em terapia livre de interferon. Telaprevir, boceprevir, simeprevir e 3D não são mais usados no tratamento da hepatite C e sua produção foi descontinuada. Interferon peguilado e ribavirina têm indicação, ainda que excepcionalmente, na população pediátrica, entre 3 e 11 anos de idade, por 48 semanas, já que nesse grupo os antivirais de ação direta são contraindicados. 3.5.2 OBJETIVOS DO TRATAMENTO O tratamento tem como objetivo primário a erradicação do vírus, com negativação do HCV-RNA após o tratamento, alcançando a resposta virológica sustentada (RVS) e cura. A RVS é definida pela ausência de HCV-RNA (carga viral negativa) 12 ou 24 semanas (no caso de tratamento à base de interferon) após o término do tratamento e é sinônimo de cura da hepatite C. O tratamento do HCV costuma cursar também com melhora das manifestações extra-hepáticas da hepatite C, mas é importante ter em mente queesse não é o objetivo primário do tratamento e será decorrente da negativação da carga viral. É importante saber, por outro lado, que a cura da hepatite C não elimina o risco de evolução para carcinoma hepatocelular naqueles pacientes com fibrose avançada e cirrose, sendo fundamental manter o rastreamento com ultrassonografia e alfafetoproteína a cada 6 meses! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 54 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 3.5.3 ESQUEMAS DE TRATAMENTO As medicações previstas são os antivirais de ação direta (DAA), com esquemas incluindo daclatasvir com sofosbuvir, ledipasvir/sofosbuvir, elbasvir/grazoprevir, glecaprevir/pibrentasvir ou velpatasvir/sofosbuvir, por 8 a 24 semanas. De um modo geral, o tratamento deve ser estendido para 24 semanas em situações com menor chance de resposta, como em indivíduos com cirrose descompensada, Child-Pugh B e C, e naqueles que não responderam a tratamento prévio com DAA. A ribavirina e/ou o sofosbuvir podem ser associados em situações especiais, visando ao aumento da chance de cura. Os esquemas indicados para pacientes com disfunção renal, com depuração de creatinina inferior a 30 mL/min, são elbasvir/grazoprevir ou glecaprevir/ pibrentasvir. Nesses casos, como consta no nosso PCDT, retirado do EASL 2017 (Associação Europeia para Estudo do Fígado), o sofosbuvir pode ser usado com cautela e de forma individualizada, considerando-se os riscos e benefícios potenciais da terapia antiviral, uma vez que não há recomendação para o seu uso. O uso da ribavirina é contraindicado em gestantes pelo risco de teratogenicidade e tem contraindicação relativa em pacientes renais crônicos, com maior risco de hemólise e anemia. Como já conversamos, todas as medicações previstas para o tratamento da hepatite C são potencialmente teratogênicas e proscritas durante a gestação. Este quadro vai resumir os possíveis esquemas de tratamento de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde de 2019. Esquemas de tratamento da hepatite C Interferon peguilado + ribavirina *apenas para a população pediátrica entre 3 e 11 anos Daclatasvir com sofosbuvir Ledipasvir/sofosbuvir Elbasvir/grazoprevir *indicado para pacientes com disfunção renal Glecaprevir/pibrentasvir *indicado para pacientes com disfunção renal Velpatasvir/sofosbuvir m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 55 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Vamos praticar mais um pouco? As questões do Revalida foram adaptadas e atualizadas, de acordo com o PCDT vigente. CAI NA PROVA (REVALIDA INEP 2016 – adaptado EMED) Uma mulher com 40 anos de idade, solteira, iniciou seguimento no ambulatório de hepatites após seus exames de rotina terem apresentado resultado positivo para o anticorpo anti-HCV. Ela relatou ser enfermeira em Unidade de Terapia Intensiva há 15 anos e negou comorbidades ou quaisquer outros fatores de risco para contaminação pelo HCV. Na consulta de triagem, o exame físico foi normal e os resultados de exames laboratoriais não apresentaram alteração, à exceção das transaminases hepáticas, com valores 4 vezes acima do normal. No retorno ambulatorial, após 6 meses, foram observados os seguintes resultados dos exames: anticorpo anti-HCV positivo (segunda amostra); PCR em tempo real quantitativo para HCV-RNA com carga viral de 600.000 UI/mL (log = 5,78); HCV genótipo 2; transaminases nos mesmos níveis dos exames anteriores; alfafetoproteína normal; ELISA anti-HIV negativo. A ultrassonografia de abdome não evidenciou alteração no parênquima hepático e a elastografia hepática, realizada em seguida, foi compatível com Metavir F1. Considerando-se o caso acima, qual é a conduta indicada e o que deverá ser informado à paciente sobre a possibilidade de resposta ao tratamento? A) Iniciar terapêutica com interferon peguilado; informar à paciente que o genótipo 2 do HCV tem pouca resposta aos medicamentos, apesar de sua baixa carga viral pré- tratamento. B) Não iniciar terapêutica por ausência de fibrose significativa; informar à paciente que o genótipo 2 do HCV tem pouca resposta aos medicamentos, apesar de sua baixa carga viral pré-tratamento. C) Iniciar terapêutica com antivirais de ação direta; informar à paciente que o genótipo 2 do HCV tem relativa chance de resposta viral sustentada após 24 semanas de tratamento. D) Iniciar terapêutica com antivirais de ação direta; informar à paciente que o genótipo 2 do HCV tem boa chance de resposta viral sustentada após 12 semanas de tratamento. COMENTÁRIO: Estrategista, como vimos, atualmente, de acordo com o PCDT publicado em 2019, todo indivíduo com diagnóstico de hepatite C tem indicação de tratamento, independentemente de carga viral, genótipo ou grau de fibrose. Vamos discutir as alternativas. Incorreta a alternativa A: o interferon peguilado está indicado apenas para a população pediátrica, entre 3 e 11 anos. Incorreta a alternativa B: como discutimos, todo paciente com hepatite C tem indicação de tratamento, independentemente do grau de fibrose. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 56 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Incorreta a alternativa C: o tratamento realmente deve ser feito com os antivirais de ação direta por 12 semanas, com excelente chance de cura. Não indicamos 24 semanas de tratamento, já que a paciente não apresenta cirrose descompensada e nunca tratou com DAA. Correta a alternativa D: essa alternativa está correta, sem ressalvas! (Revalida Inep 2013- Adaptado EMED) Mulher com 48 anos de idade, durante investigação laboratorial de rotina em Ambulatório de Clínica Médica, é surpreendida com achado de aminotransferases cerca de duas vezes o limite superior da normalidade. Na investigação de órgãos e sistemas, a paciente relata apenas “cansaço frequente”. Foram solicitados marcadores virais de hepatites, os quais revelaram: Anti-HAV IgG não reativo; HBsAG não reativo; Anti- HBc IgG não reativo; Anti-HCV reativo. Diante dos resultados, foram adicionados à investigação a solicitação de PCR quantitativo para HCV, genotipagem do HCV, ultrassonografia abdominal e indicada vacinação para Hepatite A e B. No encaminhamento para hepatologista, qual situação indica a maior probabilidade de resposta virológica sustentada para tratamento antiviral é: A) Presença de fadiga. B) Transaminases elevadas. C) Genótipo 3. D) RNA do HCV detectável com > 600.000 Ui/ml. E) Ausência de cirrose descompensada. COMENTÁRIO: Com os novos DAAs, o tratamento é muito eficaz e os fatores que eram levados em consideração anteriormente não têm mais importância na avaliação de chance de resposta. Fatores que podem levar a uma menor chance de resposta aos DAAs incluem a presença de cirrose descompensada, Child-Pugh B ou C, e a ausência de resposta a tratamento prévio com DAA. Vamos ver as alternativas. Incorreta a alternativa A: a presença de fadiga não interfere na resposta ao tratamento da hepatite C. Incorreta a alternativa B: o valor das transaminases não tem relação com resposta virológica. Incorreta a alternativa C: com os novos DAAs, todos os genótipos apresentam excelente chance de cura. Incorreta a alternativa D: o valor da carga viral tem pouca relevância na chance de resposta ao tratamento atual. Em alguns casos excepcionais, uma carga viral mais baixa pode autorizar um tratamento mais curto, de 8 semanas. Correta a alternativa E: a presença de cirrose descompensada é um dos principais fatores que reduzem a chance de cura aos novos DAAs. Portanto, a sua ausência é um fator de bom prognóstico. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s. c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 57 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 1. Hepatite C é uma infecção muito prevalente em todo o mundo e uma das principais causas de cirrose e indicações de transplante hepático. 2. É um vírus de RNA, com transmissão parenteral. 3. A principal via de transmissão atualmente é por uso de drogas injetáveis e inalatórias. 4. A apresentação de sintomas na fase aguda da infecção é rara e é mais comum o diagnóstico já na sua fase crônica. 5. A hepatite C pode apresentar algumas manifestações extra-hepáticas e a mais comum é a crioglobulinemia mista. 6. O anti-HCV marca contato com o vírus e a confirmação do diagnóstico de infecção ativa ocorrerá pela pesquisa da carga viral! 7. O anti-HCV é o único anticorpo da hepatite C e NÃO CONFERE IMUNIDADE. 8. Atualmente, TODO paciente com diagnóstico de hepatite C tem indicação de tratamento com os antivirais de ação direta, com excelente chance de cura e tolerância. 9. A hepatite C é um importante fator de risco para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular, mas, diferentemente da hepatite B, apenas quando há fibrose avançada e cirrose. 4.0 HEPATITE D (HEPATITE DELTA) 4.1 INTRODUÇÃO Querido aluno, é muito raro encontrarmos questões específicas de hepatite D, mas já caiu uma questão específica no Revalida UFMT e uma outra questão sobre hepatites virais no Revalida INEP, que ainda veremos neste livro. Sendo assim, é interessante conhecer as principais características dessa doença. O vírus da hepatite D ou Delta (HDV) é um vírus de RNA da família Deltaviridae, que depende do vírus da hepatite B para se replicar, ocorrendo exclusivamente em indivíduos com hepatite B. As principais vias de transmissão da hepatite D, assim como ocorre na hepatite B, são percutânea, sexual, por hemotransfusão e vertical. CAPITÚLO m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 58 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais A infecção pelo vírus D pode ocorrer em dois cenários: Coinfecção: a infecção pelos vírus da hepatite B e hepatite D ocorre simultaneamente. Superinfecção: a infecção pelo vírus da hepatite D ocorre em indivíduo já infectado pelo vírus da hepatite B. Na coinfecção (infecção simultânea dos dois vírus), os pacientes geralmente se apresentam com hepatite aguda benigna e 95% dos casos evoluem com recuperação espontânea e completa. A evolução para hepatopatia crônica ou hepatite fulminante ocorre em aproximadamente 5% dos pacientes coinfectados. Na superinfecção (infecção pelo vírus D em indivíduo previamente infectado pelo vírus B), os casos são mais graves e têm pior prognóstico. A insuficiência hepática aguda pode ocorrer em até 20% dos casos e a cronificação ocorre em até 80% dos pacientes. Essas complicações ocorrem porque a pré-existência do vírus da hepatite B aumenta consideravelmente a replicação do vírus da hepatite D. Coinfecção: geralmente tem curso benigno. Superinfecção: maior risco de evoluir com hepatite fulminante e hepatopatia crônica. 4.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Assim como observamos nas outras hepatites virais, alguns indivíduos podem apresentar-se sem sintomas, enquanto outros apresentam-se com sinais e sintomas típicos de uma hepatite viral aguda (febre, icterícia, mal-estar, náuseas, vômitos e colúria). A febre de Lábrea é uma forma grave de hepatite D que se associa à alta mortalidade. Nesses casos, temos hepatite fulminante e uma forma íctero-hemorrágica que evolui com necrose hepatocelular e células em mórula (células com infiltração gordurosa) no exame histopatológico. Essa condição foi descrita inicialmente no Brasil, na cidade de Lábrea, no Amazonas, e também é chamada de hepatite espongiocitária. 4.3 DIAGNÓSTICO Lembre-se de que a hepatite D só ocorre em indivíduos com hepatite B, ou seja, o paciente com hepatite D obrigatoriamente tem que ter HBsAg positivo. O diagnóstico da doença baseia-se na detecção do anti-HDV, anticorpo que aparece 4 semanas após a infecção, e na confirmação com a dosagem do HDV-RNA, para detecção do genoma viral. O HDV-RNA também pode ser usado para monitoramento do tratamento. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 59 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Diagnóstico da hepatite D HBsAg positivo + Anti-HDV positivo Confirmação: HDV-RNA E como podemos diferenciar a coinfecção da superinfecção? Devemos lembrar que na coinfecção temos infecção simultânea pelos dois vírus. Sendo assim, encontraremos o perfil sorológico da hepatite B aguda (infecção recente pelo vírus da hepatite B). Ou seja, teremos HBsAg e anti-HBc IgM positivos, associado ao anti-HDV. Perfil sorológico da coinfecção HBsAg positivo com anti-HBc IgM positivo Anti-HDV positivo Já na superinfecção encontraremos o perfil sorológico de um paciente já infectado cronicamente pelo vírus da hepatite B. Em caso de dúvidas sobre a sorologia da hepatite B, volte para o tópico que aborda esse tema. É o que mais cai nas provas dentro da hepatologia! Perfil sorológico da superinfecção HBsAg positivo com anti-HBc IgG positivo Anti-HDV positivo Para finalizar, a questão a seguir revisa boa parte dos conhecimentos adquiridos neste capítulo. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 60 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais CAI NA PROVA (REVALIDA UFMT – REVALIDA UFMT 2014) Em relação à infecção pelo vírus D da hepatite, é CORRETO afirmar: A) A coinfecção com o vírus da hepatite B aumenta o risco de hepatite fulminante, sem alterar o risco de evolução para cirrose. B) Não está relacionada a um maior risco de desenvolvimento de hepatocarcinoma. C) Os marcadores sorológicos da doença, anti-HDV IgM ou IgG e a pesquisa HDV-RNA por PCR costumam aparecer tardiamente, após 8 semanas da infecção. D) A febre de Lábrea é uma forma peculiar de apresentação da infecção, caracterizada por necrose hepatocelular moderada, balonização e aumento do volume dos hepatócitos, com gotas de gordura no citoplasma, circundando o núcleo (espongiócitos). COMENTÁRIO: Incorreta a alternativa A: a coinfecção com o vírus da hepatite B aumenta o risco de evolução para cirrose. Incorreta a alternativa B: a hepatite D aumenta o risco de hepatocarcinoma (ou carcinoma hepatocelular). Incorreta a alternativa C: o aparecimento do HDV-RNA é precoce e o anti-HDV IgM geralmente aparece em 4 semanas. Correta a alternativa D: essa está correta, sem ressalvas! 1. O vírus da hepatite D depende do vírus da hepatite B para se replicar. 2. Coinfecção: a infecção dos dois vírus ocorre de forma simultânea. Esses casos geralmente evoluem com melhora espontânea. 3. Superinfecção: a infecção do vírus D ocorre em indivíduo já infectado pelo vírus da hepatite B. Geralmente tem pior prognóstico. 4. Diagnóstico da hepatite D: rastreamento com anti-HDV e confirmação com HDV-RNA. 5. Perfil sorológico da coinfecção: HBsAg positivo, anti-HBc IgM positivo e anti-HDV positivo. 6. Perfil sorológico da superinfecção: HBsAg positivo, anti-HBc IgG positivo e anti-HDV positivo. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 61 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 5.0 HEPATITE E 5.1 INTRODUÇÃO Estrategista, ainda não houve, no Revalida, nenhuma questão específica de hepatite E, mas ela apareceu em uma questão geral sobre hepatites virais. Vamos, então, falar brevemente sobre essa infecção. O vírus da hepatite E (HEV) é um vírus RNA, endêmico na Ásia, na África e no Oriente Médio, pertencente à família Hepeviridae. A principal via de transmissãoda hepatite E é a fecal-oral, assim como a hepatite A. Ocorre principalmente por ingestão de água ou alimento contaminado, sendo mais rara a transmissão interpessoal. A doença também pode ser transmitida por transfusões de sangue ou por via vertical, principalmente nas regiões endêmicas. Os suínos são os animais mais relacionados à transmissão, mas já houve relato de infecção por ingestão de carne malcozida de veados e javalis e consumo de órgãos de outros animais. Vias de transmissão da hepatite E Fecal-oral, principalmente por ingestão de água ou alimento contaminado (carnes malcozidas, frutos do mar e vegetais crus) Hemotransfusão Via vertical Ao lado, temos um esquema que pode ajudá-lo a entender as principais vias de transmissão da doença. A grande maioria dos pacientes com hepatite aguda pelo vírus da hepatite E apresenta-se sem sintomas ou com sintomas leves. Em áreas endêmicas, gestantes apresentam risco maior de hepatite fulminante, principalmente se forem infectadas no terceiro trimestre da gestação. A taxa de mortalidade da hepatite E aguda na gestação varia de 15 a 25%. CAPITÚLO m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 62 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Em cerca de 20% das mulheres grávidas, a hepatite E causa uma doença grave, com alta mortalidade, principalmente nas gestantes que estão no terceiro trimestre da gestação. Em imunodeprimidos infectados pelos genótipos 3 e 4 há risco de cronificação da hepatite, com evolução para fibrose e cirrose. Isso foi comprovado recentemente, e questões mais antigas não trazem esse conceito. A cronificação é quase uma exclusividade de imunodeprimidos infectados pelo genótipo 3, mas há casos descritos de hepatite crônica pelo genótipo 4. Quando devemos pensar em hepatite E? Em todo paciente com achados clínicos e/ou laboratoriais típicos de uma hepatite aguda ou crônica, com sorologias negativas para outras hepatites virais e em indivíduos com sintomas após viagem para regiões endêmicas. Uma atenção especial deve ser dada aos grupos de pacientes com maior risco de evoluir com complicações, como as mulheres grávidas, os indivíduos submetidos a transplante de órgãos e aqueles com doença hepática associada. Para o diagnóstico de hepatite E aguda, devemos solicitar o anti-HEV IgM. Em caso de positividade, devemos confirmar com a dosagem do anti-HEV IgG sérico e/ou pesquisa do RNA viral no sangue ou nas fezes. A presença de HEV-RNA no sangue ou nas fezes por mais de 6 meses define a hepatite E crônica. Aqui, trago um quadro com um resumo das principais características das hepatites virais. Hepatite A Hepatite B Hepatite C Hepatite D ou Delta Hepatite E Genoma RNA DNA RNA RNA RNA Transmissão Fecal-oral Parenteral Parenteral Parenteral Fecal-oral m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 63 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Cronifica? Não Sim Sim Sim Não* Características especiais Principalmente em locais com pouca higiene Transmissão sexual é a mais comum É a hepatite viral que mais cronifica Depende da infecção pelo HBV Mais grave em gestantes *Há risco de cronificação em imunodeprimidos. Vamos ver uma questão que traz alguns conceitos que discutimos ao longo deste livro. CAI NA PROVA (REVALIDA INEP 2012) Na diferenciação entre as hepatites virais deve-se considerar que A) todas as hepatites virais podem evoluir para a cronicidade. B) a persistência do vírus da hepatite C por mais de seis meses define a cronicidade. C) a frequência de sintomatologia na hepatite pelo vírus A é semelhante entre os grupos etários. D) os índices de endemicidade da hepatite pelo vírus B, no Brasil, são mais elevados nos grandes centros urbanos. E) os vírus A, D e E, do tipo RNA, têm transmissão entérica e as infecções ocorrem nas formas esporádica e epidêmica. COMENTÁRIO: Estrategista, vamos revisar um pouco das hepatites virais que discutimos ao longo deste livro? Incorreta a alternativa A: a hepatite A não cronifica e, na maioria das vezes, a hepatite E não cursa com a forma crônica. Correta a alternativa B: essa é exatamente a definição de hepatite C crônica e essa é a nossa resposta! Incorreta a alternativa C: em crianças, a apresentação assintomática ou oligossintomática é mais comum. Já em adultos, a hepatite A cursa mais comumente com a forma sintomática. Incorreta a alternativa D: a hepatite B tem distribuição heterogênea em todo o mundo. A maior parte do Brasil encontra-se no grupo de prevalência intermediária do HBV, entretanto, na Região Amazônica, a prevalência é considerada alta, principalmente em populações tradicionais, remanescentes de quilombos e povos indígenas. Incorreta a alternativa E: o vírus da hepatite D é de transmissão predominante parenteral, diferentemente das hepatites A e E, com transmissão fecal-oral. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 64 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 1. Vias de transmissão: fecal-oral, por consumo de água ou alimentos contaminados ou ingestão de carne malcozida de animais infectados (principalmente suínos). 2. Forma grave em gestantes, com hepatite fulminante e alta mortalidade, principalmente se a infecção ocorrer no terceiro trimestre de gestação. 3. A cronificação pode ocorrer com a infecção pelos genótipos 3 e 4, em indivíduos imunodeprimidos. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 65 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://estr.at/YZdo m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ https://estr.at/YZdo m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 66 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPITÚLO 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual dos centros de referência para imunobiológicos especiais. Brasília, 5. edição. Ministério da Saúde, 2019. 2. GLIKSON, M., ; GALUN, E., OREN, R,. et al. Relapsing hepatitis A. Review of 14 cases and literature survey. Medicine (Baltimore) 1992; 71:14. 3. GOLFMAN, L.; SHAFER, A. Cecil Medicina. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 4. INMAN, R.D.; HODGE, M.; JOHNSTON, M.E. et al. Arthritis, vasculitis, and cryoglobulinemia associated with relapsing hepatitis A virus infection. Ann Intern Med 1986; 105:700. 5. 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Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 25. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento De Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/ Aids e das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Vertical de HIV, Sífilis e Hepatites Virais. Brasília, 2019. 26. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/ Aids e das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à infecção pelo HIV, IST e hepatites virais. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 27. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/ Aids e das Hepatites Virais. Prevenção Combinada do HIV: Bases conceituais para profissionais trabalhadores(as) e gestores(as) de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. 28. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/ Aids e das Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 29. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 30. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. Brasília, 2016. 31. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções. Brasília, 2017. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 68 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 32. FATTOVICH, G.; GIUSTINA, G.; CHRISTENSEN, E. et al. Influence of hepatitis delta virus infection on morbidity and mortality in compensated cirrhosis type B. The European Concerted Action on Viral Hepatitis (Eurohep). Gut 2000; 46:420. 33. FONSECA, J.C.F. Hepatite D. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 35(2): 181-190, mar- abr, 2002. 34. GOLFMAN, L.; SHAFER, A. Cecil Medicina. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 35. KASPER, D.L. et al. Medicina Interna de Harrison. Porto Alegre: AMGH, 2017. 36. WEDEMEYER, H.; MANNS, M.P. Epidemiology, pathogenesis and management of hepatitis D: update and challenges ahead. Nat ver Gastroenterol Hepatol 2010; 7:31. 37. ZATERKA, S.; EISIG, N. Tratado de gastroenterologia: da graduação a pós-graduação. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. 38. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. Brasília, 2016. 39. GEROLAMI, R.; BORENTAIN, P.; RAISSOUNI, F. et al. Treatment of severe acute hepatitis E by ribavirin. J Clin Virol 2011; 52:60. 40. GOLFMAN, L.; SHAFER, A. Cecil Medicina. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 41. HERRERA, J.L. Hepatitis E as a cause of acute non-A, non-B hepatitis. Arch Intern Med 1993; 153:773. 42. HOOFNAGLE, J.H.; NELSON, K.E.; PURCELL, R.H. Hepatitis E. N Engl J Med 2012; 367:1237. 43. IZOPET, J.; TREMEAUX, P.; MARION O. et al. Hepatitis E virus infections in Europe. J Clin Virol 2019; 120:20. 44. KASPER, D.L. et al. Medicina Interna de Harrison. Porto Alegre: AMGH, 2017. 45. MIRAZO, S.; RAMOS, N.; MAINARDI, V. et al. Transmission, diagnosis, and management of hepatitis E: an update. Hepat Med 2014; 6:45. 46. PARANÁ, R.; SCHLNONL, M.I. Hepatite E. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 35(3): 247-253, mai-jun, 2002. 47. TRINTA, K.S.; LIBERTO, M.I.; DE PAULA, V.S. et al. Hepatitis E virus infection in selected Brazilian populations. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 96: 25-29, 2001. 48. ZATERKA, S.; EISIG, N. Tratado de gastroenterologia: da graduação a pós-graduação. São Paulo: Editora Atheneu, 2016. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 69 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Querido aluno, este foi nosso curso Revalida Exclusive de hepatites virais, tema muito importante nos concursos médicos! Lembre-se de que hepatites B e C são os assuntos que mais caem nas provas do Revalida dentro da Hepatologia! Aproveite este material para fixar os principais conceitos que você deve saber! Conte conosco e bons estudos! CAPITÚLO m e d v i d e o s . c o m Có pi a não é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ O QUE CAI SOBRE HEPATITES VIRAIS? 1.0 HEPATITE A 1.1 INTRODUÇÃO 1.2 TRANSMISSÃO 1.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 1.4 DIAGNÓSTICO 1.5 TRATAMENTO 1.6 PREVENÇÃO 1.7 IMUNIZAÇÃO 1.8 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO 2.0 HEPATITE B 2.1 INTRODUÇÃO 2.2 EPIDEMIOLOGIA 2.3 O VÍRUS DA HEPATITE B 2.4 MARCADORES SOROLÓGICOS 2.5 FORMAS DE TRANSMISSÃO 2.5.1 TRANSMISSÃO SEXUAL 2.5.2 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA 2.5.3 TRANSMISSÃO VERTICAL 2.5.4 TRANSMISSÃO PELO ALEITAMENTO MATERNO 2.5.5 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS 2.6 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA 2.7 FASES CLÍNICAS 2.8 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 2.8.1 HEPATITE B AGUDA BENIGNA 2.8.2 HEPATITE B AGUDA GRAVE 2.8.3 HEPATITE B CRÔNICA 2.8.4 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS 2.9 DIAGNÓSTICO 2.9.1 INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS 2.9.2 OS MUTANTES 2.10 VACINAÇÃO 2.11 PROFILAXIA DA HEPATITE B 2.11.1 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO 2.11.2 PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO VERTICAL 2.12 TRATAMENTO 2.13 COINFECÇÕES 3.0 HEPATITE C 3.1 INTRODUÇÃO 3.2 TRANSMISSÃO 3.2.1 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA 3.2.2 TRANSMISSÃO SEXUAL 3.2.3 TRANSMISSÃO VERTICAL 3.2.4 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS 3.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 3.3.1 HEPATITE C CRÔNICA 3.3.2 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS 3.4 DIAGNÓSTICO 3.4.1 ANTI-HCV 3.4.2 HCV-RNA 3.4.3 GENOTIPAGEM 3.5 TRATAMENTO 3.5.1 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO 3.5.2 OBJETIVOS DO TRATAMENTO 3.5.3 ESQUEMAS DE TRATAMENTO 4.0 HEPATITE D (HEPATITE DELTA) 4.1 INTRODUÇÃO 4.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 4.3 DIAGNÓSTICO 5.0 HEPATITE E 5.1 INTRODUÇÃO 6.0 Lista de questões 7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 8.0 CONSIDERAÇÕES FINAISde outras hepatites virais. Hepatite A é uma infecção causada por um enterovírus de RNA da família Picornaviridae, com transmissão predominante fecal-oral. É uma infecção frequente no Brasil, principalmente em aglomerados humanos, com baixas condições de higiene e saneamento básico. A seguir, vemos um esquema que ilustra o ciclo do vírus da hepatite A (HAV). Absorção pela mucosa intestinal Replicação nos hepatócitos Excreção pela via biliar e pelas fezes Ingestão do vírus Circulação porta m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 8 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 1.2 TRANSMISSÃO Como já vimos, a transmissão da hepatite A é principalmente por via fecal-oral, por meio do consumo de água ou alimento contaminado e, eventualmente, por contato interpessoal (de pessoa a pessoa). A transmissão parenteral é extremamente rara, podendo ocorrer especialmente a partir de relações sexuais anais desprotegidas. Apesar de o vírus ser encontrado na saliva, não há relatos de transmissão por essa via. A transmissão por transfusão de sangue já foi descrita, quando há doação no momento de alta viremia. As principais vias de transmissão estão listadas na tabela a seguir. Principais vias de transmissão da hepatite A Via fecal-oral Contato com água ou alimentos contaminados Transmissão interpessoal, de pessoa a pessoa: transmissão entre familiares, em quartéis, em alojamentos de longa permanência e em creches Transmissão sexual (rara) Transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis (rara) O período de incubação da hepatite A é de 15 a 45 dias (média de 4 semanas), e é nessa fase que temos maior viremia e maior eliminação do vírus nas fezes. O paciente infectado excreta nas fezes o vírus 1 a 2 semanas antes do início dos sintomas e permanece por 1 a 2 semanas após as manifestações clínicas. Indivíduos infectados transmitem a doença durante o período de incubação e por 1 a 2 semanas após o aparecimento dos sintomas. 1.3 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A infecção aguda pelo HAV, assim como em outras hepatites virais, pode manifestar-se com 3 fases clínicas: a prodrômica, a ictérica e a de convalescença. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 9 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Na fase prodrômica, iniciam-se os primeiros sintomas, geralmente inespecíficos, como febre leve, astenia, mal-estar, náuseas e vômitos, anorexia, diarreia, mialgia e artralgias. Pode ocorrer dor abdominal, em geral em razão da hepatomegalia dolorosa. Esplenomegalia é rara na doença aguda, podendo acontecer em cerca de 10% dos indivíduos, de forma leve. A fase ictérica pode surgir após um período de alguns dias ou poucas semanas ou pode, ainda, não acontecer. Ela manifesta-se com aparecimento de icterícia, associada ou não à síndrome colestática, com prurido, colúria, hipocolia ou acolia fecal. É comum os sintomas sistêmicos involuírem, com piora dos sintomas gastrointestinais. A fase de convalescença pode durar algumas semanas, e quando o paciente nota melhora completa dos sintomas, entende-se que a hepatite aguda tenha chegado ao fim. Na hepatite A, as crianças geralmente não apresentam os sintomas típicos, que são mais comuns em adultos. A icterícia pode ocorrer em até 70% dos adultos, sendo rara em crianças com menos de 6 anos. É interessante comentar que a febre é mais comum nas hepatites A e E e menos frequente nas hepatites B e C. Além disso, entre as hepatites virais, a hepatite A é a que mais cursa com a forma colestática, com icterícia, colúria, acolia fecal e prurido. A hepatite A é a hepatite viral que mais cursa com síndrome colestática! A hepatite fulminante é rara, ocorre em 0,1 a 0,5% ( AST. O grau de alteração das transaminases não tem relação com gravidade! Quando há evolução para a forma ictérica, vamos encontrar elevação de bilirrubinas, com predomínio da fração direta. Já vimos que a hepatite A é a hepatite viral que mais cursa com a forma colestática e, nessa circunstância, teremos também aumento das enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e gama GT). Em relação à sorologia, o anti-HAV IgM é o marcador da infecção aguda e já pode ser encontrado antes do início das manifestações clínicas, permanecendo positivo por cerca de 3 meses (raramente persiste por 6 a 12 meses). O anti-HAV IgG surge logo após o IgM e permanece positivo por tempo indeterminado, conferindo imunidade permanente após resolução da infecção aguda. A presença do anti-HAV IgG também pode significar imunidade vacinal e não é possível diferenciar da imunidade naturalmente adquirida. Marcadores sorológicos da hepatite A Anti-HAV Interpretação Anti-HAV IgM positivo Hepatite A aguda Anti-HAV IgM negativo com anti-HAV IgG positivo Imunidade -> já teve hepatite A ou foi vacinadom e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 11 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais É comum a hepatite A ser cobrada no contexto de outras hepatites virais. Vamos ver uma questão do Revalida INEP que ilustra o que conversamos até aqui? As principais características do curso da infecção pelo vírus da hepatite A estão resumidas na figura a seguir. CAI NA PROVA (Revalida INEP 2011) Paciente do sexo masculino, com 26 anos de idade, procura ambulatório de Clínica Médica com queixas, há uma semana, de mal-estar, febre de baixa intensidade não aferida, inapetência, vômitos ocasionais e aversão à fumaça de cigarro, evoluindo com colúria e acolia fecal há três dias. Relata que costuma alimentar-se em bares com baixo nível de higiene, próximos à universidade onde estuda; e viagem, há um mês, para acampamento. Informa manter relações sexuais sem uso de preservativos, com parceiros e parceiras desconhecidos. Ao exame físico apresenta-se em bom estado geral, corado, hidratado, ictérico ++/4+, lúcido, orientado, Pressão arterial =120 x 70 mmHg, Frequência cardíaca = 64 bpm. Fígado palpável a três centímetros do rebordo costal direito; baço impalpável. O restante do exame físico não mostrou alterações significativas. Foram solicitadas dosagens de aminotransferases, que se mostraram muito elevadas (>1000 UI/mL) e marcadores sorológicos virais das hepatites determinaram que o paciente era carreador crônico do vírus da hepatite B e apresentava também hepatite viral aguda pelo vírus da hepatite A. A infecção pelo vírus da hepatite C foi excluída por sorologia e técnicas moleculares. O perfil sorológico compatível com o diagnóstico do paciente é: m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 12 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais COMENTÁRIO: A questão apresenta o caso de uma paciente com achados clínicos (febre, vômitos, icterícia, acolia e colúria) e laboratoriais (aumento importante das transaminases) que sugerem o diagnóstico de hepatite aguda colestática. Note que a paciente se alimentaem locais com baixo nível de higiene e recentemente fez uma viagem para um acampamento. Lembre-se de que a principal via de transmissão da hepatite A é o consumo de água e alimentos contaminados. Ao avaliar os marcadores sorológicos, observou-se o diagnóstico de hepatite A aguda e hepatite B crônica. Portanto, qual é a sorologia que esperamos nesse caso? Incorreta a alternativa A: anti-HAV IgG positivo com IgM negativo é compatível com imunidade para a hepatite A, e não hepatite A aguda. Incorreta a alternativa B: em relação à hepatite B, a sorologia não é compatível com hepatite B crônica. Ainda discutiremos sobre hepatite B, que é o tema que mais cai, dentro da hepatologia, nas provas. Incorreta a alternativa C: em relação à hepatite A, temos um indivíduo susceptível. A sorologia da hepatite B é compatível com contato prévio com o vírus, e não com hepatite B crônica (HBsAg negativo). Incorreta a alternativa D: em relação à hepatite B, a sorologia não é compatível com hepatite B crônica. Correta a alternativa E: anti-HAV IgG positivo com IgM positivo pode ser encontrado na hepatite A aguda, em uma fase mais tardia. Em relação à hepatite B, HBsAg com anti-HBc IgG positivo e IgM negativo é compatível com hepatite B crônica. Essa alternativa está toda certa! 1.5 TRATAMENTO Como já discutimos, a infecção pelo HAV é, na maioria das vezes, benigna e autolimitada e o tratamento consiste no suporte sintomático. Assim, não há medicação específica e a grande maioria dos pacientes evolui com melhora espontânea, sem nenhuma sequela. Quando há progressão para hepatite fulminante, evento incomum nessa hepatite, é necessária a internação hospitalar para acompanhamento e avaliação para transplante hepático. A) anti-HAV IgG reativo e IgM não reativo; anti-HBc IgM e IgG reativos; HBsAg reativo. B) anti-HAV IgG e IgM reativos; anti-HBc IgG e IgM não reativos; HBsAg não reativo. C) anti-HAV IgG e IgM não reativos; anti-HBc IgG reativo e IgM não reativo; HBsAg não reativo. D) anti-HAV IgG não reativo e IgM reativo; anti-HBc IgM e IgG não reativos; HBsAg não reativo. E) anti-HAV IgG e IgM reativos; anti-HBc IgM não reativo e IgG reativo; HBsAg reativo. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 13 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 1.6 PREVENÇÃO Não se justifica o isolamento de contato de todo paciente sintomático, pois a fase de maior eliminação fecal do vírus é anterior ao início dos sintomas. Conforme o Ministério da Saúde, o afastamento de alguns pacientes pode ser necessário, como crianças que frequentam creches e escolas. Esse afastamento poderá ser indicado por 1 a 2 semanas e não por mais de 1 mês após o início dos sintomas. Para a prevenção da infecção pelo HAV, é fundamental melhorar as condições de higiene e o saneamento básico, além da vacinação, que discutiremos agora mesmo. 1.7 IMUNIZAÇÃO A vacina da hepatite A é composta de antígeno do vírus inativado e deve ser administrada preferencialmente por via intramuscular. São indicadas 2 doses com intervalo de 6 meses ou apenas 1 dose aos 15 meses de vida, de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 14 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 1.8 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO Os pacientes susceptíveis que não tiveram hepatite A ou que não foram vacinados (anti-HAV IgG negativo) podem receber profilaxia após contato com o vírus da hepatite A. Tal estratégia é efetiva se realizada em até 14 dias após a exposição, mas quanto mais precoce, melhor. As recomendações são as seguintes: • Indivíduos saudáveis entre 12 meses e 40 anos: dose única da vacina com vírus inativado. • Menores que 12 meses e maiores que 40 anos, imunodeprimidos, hepatopatas ou com contraindicação à vacina: imunoglobulina humana, 0,02 mL/kg, intramuscular. 1. Transmissão da hepatite A: principalmente por via fecal-oral (ingestão de água ou alimentos contaminados ou contato interpessoal). Por isso, é mais comum em locais com más condições de higiene e saneamento básico. 2. Manifestações clínicas: apenas 5 a 10% das crianças apresentam os achados clínicos típicos de hepatite aguda ictérica. A maioria das crianças apresenta-se sem sintomas ou com sintomas inespecíficos, que simulam um resfriado ou uma gastroenterite. Já entre os adultos, até 70% apresentam os sintomas típicos. Raramente ocorre hepatite fulminante (em menos de 1% dos casos). É importante lembrar que a hepatite A não cronifica! 3. Achados laboratoriais: espera-se encontrar aumento importante das transaminases, que podem ultrapassar 10 vezes o limite superior da normalidade. Podemos encontrar aumento da fosfatase alcalina e gama GT, além de hiperbilirrubinemia, nas formas colestáticas. A hepatite A é a hepatite viral que mais cursa com a forma colestática. 4. Marcadores sorológicos: a presença do anti-HAV IgM é diagnóstico de hepatite A aguda. A presença do anti-HAV IgG confirma a imunidade, seja por contato com o vírus selvagem, seja por vacinação. 2.0 HEPATITE B CAPITÚLO 2.1 INTRODUÇÃO A hepatite B é o tema mais prevalente dentro da Hepatologia nos processos seletivos, mas, no Revalida, ainda predomina a hepatite C, apesar de a hepatite B estar ganhando foco nos últimos anos! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 15 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.2 EPIDEMIOLOGIA Em todo o mundo, a distribuição da hepatite B é heterogênea, com áreas de maior ou menor prevalência. Alguns comportamentos de risco e a dificuldade de acesso ao sistema de saúde podem estar relacionados à incidência maior em determinados grupos. Como podemos observar a partir da imagem ao lado, a maior parte do Brasil encontra-se no grupo de prevalência intermediária do vírus da hepatite B (HBV), entretanto, na Região Amazônica, a prevalência é considerada alta, principalmente em populações tradicionais, remanescentes de quilombos e povos indígenas. Também são considerados grupos de risco indivíduos com acesso prejudicado à saúde, mesmo em áreas em que ela está presente, como profissionais do sexo, pessoas em situação de rua, usuários de drogas e pessoas privadas de liberdade. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 16 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais GRUPOS DE RISCO PARA INFECÇÃO POR HBV Remanescentes de quilombos Povos indígenas Profissionais do sexo Pessoas em situação de rua Usuários de drogas Pessoas privadas de liberdade 2.3 O VÍRUS DA HEPATITE B O vírus da hepatite B apresenta tropismo pelas células hepáticas e, uma vez em contato com a superfície dos hepatócitos, ele é internalizado, migra para o núcleo da célula e liga-se ao DNA do hospedeiro. A partir daí, a replicação viral ocorre no núcleo celular. Esse é um conceito importante de entendermos, já que, mesmo com a hepatite B “curada”, o genoma viral permanecerá ligado ao DNA do paciente infectado, com risco de reativação em determinadas situações que discutiremos mais à frente. O HBV é um vírus pertencente à família Hepadnaviridae, composto de DNA (HBV-DNA). Importante: é o único vírus de hepatite cujo genoma é composto de DNA! É um vírus com potencial oncogênico, com risco de evolução para o carcinoma hepatocelular (CHC), mesmo na ausência de fibrose avançada e cirrose hepática. Esse risco é maior quanto mais longa for a duração da doença e quanto mais alta for a viremia. O vírus da hepatite B é fator de risco importante para o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular, mesmo sem a presença de fibrose avançada e cirrose.2.4 MARCADORES SOROLÓGICOS Esse é o tema mais frequente nas provas quando o assunto é hepatite B, importante também nas provas do Revalida. Vamos entender e será questão garantida! Inicialmente, após a exposição de um paciente ao HBV, pode ser detectado no sangue o DNA viral (HBV- DNA), em até 1 mês, mas esse teste raramente é realizado na prática clínica para o diagnóstico de hepatite B aguda (e não vai aparecer na sua prova nesse contexto). m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 17 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Após, é possível detectar o antígeno de superfície (HBsAg), e esse sim é considerado o primeiro marcador a aparecer (assim que pode ser cobrado nas questões). A sua positividade representa infecção pelo HBV e ele geralmente aparece dentro de 1 ou 2 a 10 semanas (em média, 30 dias) após a infecção, até mesmo antes do aparecimento dos sintomas. O HBsAg está presente em altos títulos após a infecção e é marcador de doença atual. Se permanecer positivo por mais de 6 meses ou 24 semanas, tem-se o diagnóstico de infecção crônica. A persistência do HBsAg por mais de 6 meses ou 24 semanas define a hepatite B crônica. Logo em seguida, surge o anti-HBc IgM, anticorpo que marca a infecção aguda. Além de ser o marcador da hepatite B aguda, a persistência do anti-HBc IgM é fator preditivo de maior gravidade. É importante lembrar que o HBcAg não é liberado na corrente sanguínea, então não tem expressão na prática clínica. O anti-HBc IgG surge quase simultaneamente ao anti-HBc IgM e pode permanecer positivo por longos períodos, até indefinidamente, mesmo após a cura da doença, como cicatriz sorológica. Esse anticorpo marca o contato com o vírus selvagem da hepatite B (e não da vacina) e não é capaz de conferir imunidade. A seguir, o HBeAg pode ser observado, indicando a presença de replicação viral. Outro conceito que raramente é cobrado em prova e nunca apareceu no Revalida: após o início dos sintomas, a persistência do HBeAg por mais de 3-6 semanas é indicativo de maior risco de cronificar. O anti-HBs é o anticorpo contra o antígeno de superfície, HBsAg, e só é produzido quando o indivíduo consegue fazer o clareamento viral, espontaneamente ou após tratamento. Ele indica cura da hepatite B e sua presença CONFERE IMUNIDADE. O anti-HBs é também o anticorpo que esperamos após vacinação efetiva contra a hepatite B, vacina confeccionada a partir de vírus inativo (abordaremos esse assunto com mais detalhes ainda neste livro). Neste gráfico, podemos observar o comportamento dos principais marcadores sorológicos após infecção pelo HBV. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 18 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais PRIMEIRO MARCADOR – HBsAg PRIMEIRO ANTICORPO – anti-HBc IgM Marcador Resumo HBsAg Proteína de superfície do vírus da hepatite B, está presente em altos títulos na infecção aguda. É marcador da presença da proteína viral e se estiver positivo por mais de 6 meses, é indicativo de cronificação da hepatite B. anti-HBs Anticorpo produzido contra o HBsAg, indica imunidade contra o vírus. É produzido a partir da exposição ao vírus selvagem (infecção) ou após vacinação com vírus inativo. HBeAg Proteína “e” do vírus da hepatite B, sua detecção representa presença de replicação viral. Quando positivo, está associado a uma elevada carga viral circulante. Anti-HBe Anticorpo produzido contra o HBeAg. É capaz de controlar de maneira limitada a replicação do vírus por muitos anos, mas não de curar a infecção. anti-HBcIgM Anticorpo contra o HBcAg, surge precocemente e é indicativo de infecção aguda pelo HBV. anti-HBcIgG Anticorpo contra o HBcAg. Surge durante a fase aguda da infecção e persiste por toda a vida da pessoa que foi infectada. Sua presença indica que a pessoa está ou esteve infectada pelo HBV. O vírus inativo da vacina não induz a sua produção. Esse quadro vai resumir os principais marcadores e o seu significado. Vamos ver como aparece na prova e praticar um pouco? m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 19 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais CAI NA PROVA (Revalida UFMT 2007) Como é definido o estado de portador crônico do vírus da hepatite B do ponto de vista laboratorial? A) Presença de HBsAg por tempo superior a 3 meses. B) Presença de Anti-HBs por tempo superior a 3 meses. C) Presença de Anti-HBs por tempo superior a 6 meses. D) Presença de HBeAg por tempo superior a 3 meses. E) Presença de HBeAg por tempo superior a 6 meses. COMENTÁRIO: Estrategista, questão direta sobre o diagnóstico de hepatite B crônica! Como vimos, hepatite B crônica é definida pela persistência do HBsAg por mais de 6 meses ou 24 semanas. Portanto, é correta a alternativa E! 2.5 FORMAS DE TRANSMISSÃO O vírus da hepatite B é transmitido por via parenteral, ou seja, por meio do contato com sangue ou fluidos corporais contaminados. O risco é maior quando os indivíduos apresentam alta carga viral, com HBeAg positivo. Vamos discutir cada forma de transmissão a seguir. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 20 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.5.2 TRANSMISSÃO PERCUTÂNEA O HBV é um vírus resistente e pode permanecer viável em superfícies contaminadas por até 7 dias. Dessa forma, instrumentos contaminados podem ser uma via de transmissão importante, com maior risco de contaminação pelo HBV do que pelo vírus da hepatite C ou HIV, chegando a até 30%. Isso pode acontecer com pessoas que fazem uso de drogas injetáveis ou inalatórias, que sofrem acidentes perfurocortantes com material biológico contaminado, que são submetidas a hemodiálise, que compartilham lâminas de barbear, alicates de cutícula ou escovas de dente, entre outras. 2.5.3 TRANSMISSÃO VERTICAL A transmissão vertical ou perinatal ocorre pela presença do HBV no sangue e no líquido amniótico. Ela acontece principalmente no momento do parto, responsável por cerca de 90-95% dos casos de transmissão vertical, com maior risco quando a gestante apresenta alta viremia, com HBeAg positivo. A transmissão intrauterina é rara. É uma das principais formas de transmissão em populações com alta prevalência do HBV, como na Região Amazônica. O impacto da transmissão vertical da hepatite B é grande, já que há maior risco de cronificação quando a contaminação ocorre no recém-nascido, chegando a 90-95% dos casos. Quando há maior risco de evoluir para doença crônica, há também maior risco de evoluir para cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC). Lembre- se de que o HBV é um vírus oncogênico e tem risco de desenvolver CHC mesmo sem fibrose avançada e cirrose. Portanto, as medidas profiláticas são essenciais para reduzir essa via de infecção! 2.5.1 TRANSMISSÃO SEXUAL A transmissão por via sexual é considerada hoje a PRINCIPAL forma de contaminação do HBV no Brasil e no mundo. O vírus está presente em grandes quantidades nas secreções orgânicas, especialmente quando há alta viremia, e o risco de infecção é significativo com a prática sexual desprotegida. O uso de preservativos é essencial para a prevenção da hepatite B, além de outras infecções sexualmente transmissíveis. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 21 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.5.4 TRANSMISSÃO PELO ALEITAMENTO MATERNO Apesar de ser detectado o vírus da hepatite B no leite materno, não parece haver risco de transmissão se as medidas de profilaxia datransmissão vertical forem corretamente realizadas. Portanto, quando todas as recomendações profiláticas forem adequadamente realizadas, o aleitamento materno não está contraindicado e deve ser incentivado. Discutiremos mais profundamente esse tema ainda neste livro. 2.5.5 TRANSMISSÃO POR TRANSFUSÃO DE SANGUE E HEMODERIVADOS A transmissão a partir da transfusão de sangue e hemoderivados já foi prevalente, chegando a 50% o risco de contaminação na década de 1960. Entretanto, com a identificação do HBV, o início da testagem nos bancos de sangue e, posteriormente, a proibição da venda do sangue (a partir da década de 1990, a doação de sangue tornou-se estritamente voluntária, sendo proibido qualquer tipo de ganho financeiro), esse risco hoje é insignificante. Devemos suspeitar, portanto, de hepatite B em todo indivíduo submetido a transfusão de sangue e hemoderivados em cirurgias anteriores à década de 1990 ou em qualquer hepatite pós-transfusional, mesmo nos dias de hoje. É importante ter em mente que indivíduos com anti-HBc positivo, mesmo que tenham HBsAg negativo, não poderão ser doadores de sangue. Por quê? Isso acontece por um risco, ainda que mínimo, de transmissão da hepatite B, já que, como vimos anteriormente, o vírus acopla-se ao genoma do hospedeiro e permanece no DNA do indivíduo infectado, mesmo que tenha ocorrido clareamento viral, com perda do HBsAg. A doação de sangue está proibida em indivíduo anti-HBc positivo, demonstrando que o paciente teve contato com o vírus selvagem, mesmo que tenha HBsAg negativo e/ou anti-HBs positivo. Vamos ver como já caiu na prova? m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 22 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais CAI NA PROVA (Revalida INEP 2021)Um homem de 23 anos de idade, membro de um grupo de usuário de drogas ilícitas injetáveis, comparece à consulta no ambulatório de clínica médica com relato de “olhos amarelos e urina cor de mate”. Segundo informa, seu quadro clínico iniciou-se há cerca de 12 dias com mal-estar, febre (cerca de 38 °C), coriza e mialgias. Dois dias após, observou disgeusia e anosmia, além de diarreia. Procurou unidade de pronto atendimento, sendo agendada pesquisa para COVID-19, que foi realizada no 5º dia de evolução da doença, com resultado negativo. Passou a apresentar, também, dor abdominal (especialmente no hipocôndrio direito) e fadiga vespertina. Há 2 dias, observou que suas escleras ficaram amareladas e a sua urina assumiu aspecto sugestivo de colúria. Foi à mesma unidade onde havia sido atendido inicialmente, sendo solicitados exames complementares que são trazidos pelo paciente à consulta atual e que revelam: TGO/AST = 982 UI/L (valor de referência: 20 a 40 UI/L); ALT/TGP: 1 220 UI/L (valor de referência: 20 a 40 UI/L); bilirrubinas totais = 4,2 mg/dL (valor de referência: 0,2 a 0,8 mg/dL), com predomínio da fração direta (3,6 mg/dL - valor de referência: 0,1 a 0,5 mg/dL); hemograma com leucopenia e linfocitose, sem anemia; INR e tempo de tromboplastina parcial ativada normais. Em razão desses resultados, o paciente foi encaminhado ao ambulatório para complementação da investigação diagnóstica, tratamento e acompanhamento. Ao exame físico, o paciente encontra-se em razoável estado geral, estando com as escleras e a mucosa sublingual ictéricas, além de apresentar leve hepatomegalia (13 cm de extensão ao nível da linha hemiclavicular direita) dolorosa, com sinal de Murphy negativo. Acerca do caso desse paciente, pode-se afirmar que o diagnóstico mais provável e a lógica subjacente a tal conclusão são A) hepatite viral pelo vírus da hepatite C, por ser a causa mais comum de hepatite viral de apresentação aguda. B) hepatite autoimune do tipo 1, em função do gênero do paciente (sexo masculino) e do nível de transaminases. C) hepatite viral aguda pelo vírus da hepatite B, em razão do paciente ser usuário de drogas ilícitas injetáveis. D) leptospirose íctero-hemorrágica, em razão do leucograma e níveis séricos das aminotransferases. COMENTÁRIO: Estamos diante de um quadro de hepatite aguda colestática em um paciente usuário de drogas injetáveis. Quando analisamos os exames laboratoriais, temos aumento importante das transaminases, com hiperbilirrubinemia e predomínio da fração direta, além de leucopenia e linfocitose, que corroboram a etiologia viral. Vamos analisar as alternativas e encontrar a nossa resposta! Incorreta a alternativa A: apesar de o paciente ser usuário de drogas injetáveis, atualmente a principal forma de transmissão da hepatite C, essa hepatite raramente cursa com sintomas na fase aguda, sendo mais incomum ainda a apresentação com icterícia. Incorreta a alternativa B: a hepatite autoimune é mais comum em mulheres. Correta a alternativa C: essa é a nossa resposta! Incorreta a alternativa D: não temos, no enunciado, epidemiologia para pensarmos em leptospirose e não costumamos ver níveis tão elevados de transaminases. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 23 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais (Revalida UFMT 2014) Visando à avaliação dos riscos para transmissão vertical do vírus da hepatite B, o médico do PSF solicitou para a gestante a realização dos exames sorológicos para essa infecção. O risco de transmissão vertical será maior se o resultado for positivo para: A) HBeAg. B) HBsAg. C) HBcAg. D) HBdAg. COMENTÁRIO: Como vimos anteriormente, o risco de transmissão vertical da hepatite B é maior quando a gestante apresenta alta viremia, com HBeAg positivo. Portanto, está correta a alternativa A! 2.6 HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA O período de incubação da infecção pelo HBV é em média de 4 a 6 semanas, podendo, excepcionalmente, estender-se até 24 semanas, variando de acordo com a carga viral no momento da contaminação. Quando se iniciam os sintomas da infecção aguda, já é possível detectar na corrente sanguínea, além do HBV-DNA, o HBsAg, o anti-HBc e o aumento das enzimas hepatocelulares. Após a exposição ao HBV, a evolução da infecção é variável, podendo ser assintomática, aguda e autolimitada, evoluir para hepatite fulminante ou ainda cronificar, com risco de evolução para cirrose e CHC. A progressão para hepatite B crônica é mais provável quanto mais precoce for a infecção, ou seja, quando a contaminação acontece no período neonatal, há um risco de cronicidade que chega a 90- 95%; entretanto, quando ocorre na vida adulta, apenas 5-10% dos indivíduos vão evoluir para a doença crônica. É importante notar que o risco de cronificar tem relação com a idade em que ocorreu a infecção, e não com a via de transmissão! Quando a infecção ocorre em recém-nascidos, o risco de cronificar é de 90-95%; quando ocorre na infância, é de 25-50%; e quando ocorre na vida adulta, é de apenas 5-10%. A maioria dos indivíduos vai clarear o vírus espontaneamente! m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 24 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Quando há evolução para doença crônica, há 4 fases evolutivas possíveis: de imunotolerância; de imunoeliminação ou imunorreativa; de soroconversão ou portador crônico inativo; e de reativação. A fase imunotolerante acontece em adultos durante o período de incubação. Porém, quando a contaminação ocorre em crianças, pode durar muito tempo, até 30 anos. Ela é caracterizada por intensa replicação viral, HBsAg e HBeAg positivos, porém sem lesão dos hepatócitos, com transaminases normais e histologia hepática preservada. Após a fase de imunotolerância, observamos a fase imunorreativa, que é caracterizada por queda dos níveis do HBV-DNA no sangue. O HBeAg pode ser positivo ou negativo, quando há mutação pré-core, eas transaminases são flutuantes, com progressão da doença hepática. A terceira fase é a de soroconversão ou estado de portador crônico inativo. Nesse momento, observamos a conversão do HBeAg para o anti-HBe e parada na replicação viral, com níveis muito baixos ou indetectáveis do HBV-DNA. Essa fase é caracterizada pela normalização das transaminases (ou aminotransferases), sem progressão da lesão hepatocelular. A reativação pode acontecer com retorno da replicação viral em situações de imunossupressão ou se houver mutação viral, permitindo retorno da replicação por escape à resposta imunológica. No primeiro caso, geralmente observamos reversão da soroconversão, com retorno do HBeAg na circulação. Já quando há mutação, não há expressão do HBeAg, mas o anti-HBe não é mais capaz de suprimir a replicação viral. Resumindo... Fases evolutivas Resumo Imunotolerância • Acontece em adultos durante o período de incubação e em crianças pode durar até 30 anos • Intensa replicação viral, HBsAg e HBeAg positivos • Sem lesão dos hepatócitos, com transaminases normais e histologia hepática preservada Imunoeliminação ou imunorreativa • Caracterizada pela queda dos níveis do HBV-DNA no sangue • HBeAg pode ser positivo ou negativo, quando há mutação pré-core • Transaminases são flutuantes, com progressão da doença hepática Soroconversão ou portador crônico inativo • Conversão do HBeAg para o antiHBe e parada na replicação viral, com níveis muitos baixos ou indetectáveis do HBV-DNA • Normalização das transaminases, sem progressão da lesão hepatocelular m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 25 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.7 FASES CLÍNICAS Reativação • Retorno da replicação viral em situações de imunossupressão ou se houver mutação viral, na região pré-core e/ou core-promoter, permitindo retorno da replicação por escape à resposta imunológica As fases clínicas da hepatite B aguda são semelhantes às outras hepatites virais e já abordamos esse tema no item “Manifestações Clínicas” em “Hepatite A”. Volte lá para retomar esses conceitos caso tenha ficado com alguma dúvida. Agora analise este gráfico. Ele expressa uma infecção aguda pela hepatite B evoluindo com clareamento viral e resolução. 2.8 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A infecção pelo HBV pode cursar com infecção assintomática, infecção aguda benigna, ictérica ou anictérica, hepatite fulminante ou evoluir para a forma crônica, com risco de progressão para cirrose e CHC. É importante sabermos que a hepatite B é a hepatite viral com maior risco de evoluir para a forma fulminante (até 5% dos casos), com prevalência maior naqueles indivíduos com coinfecção com hepatite C, hepatite D e/ou HIV. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 26 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.8.1 HEPATITE B AGUDA BENIGNA A maioria dos pacientes expostos ao HBV apresenta formas benignas da doença. A grande maioria dos pacientes contaminados não apresenta sintomas na fase aguda, chegando a 80% dos casos. Quando apresentam sintomas, podem ser leves, sem icterícia, ou ictéricos, em cerca de 25% dos pacientes. Há ainda outras 2 formas menos frequentes, a recorrente e a colestática. Vamos abordar cada uma a seguir. • Assintomática: o diagnóstico é feito ao acaso, com dosagem das transaminases evidenciando sua elevação. Seguindo a investigação com os marcadores sorológicos, é possível fechar o diagnóstico. • Anictérica: os pacientes costumam apresentar apenas os sintomas da fase prodrômica, inespecíficos, como febre baixa, mialgias, anorexia, náuseas e vômitos, podendo assemelhar-se a um quadro gripal. Nesse momento, se realizarem exames com transaminases, elas estão aumentadas, geralmente acima de 500 UI/mL. • Ictérica: responsável por cerca de 25% dos casos de exposição ao HBV. Após a fase prodrômica, o paciente evolui para a fase ictérica, com diagnóstico fácil após a suspeição e avaliação laboratorial. • Recorrente: é caracterizada pelo aumento recorrente de transaminases após períodos de normalização. Pode ocorrer em até 6 meses do início da infecção, tempo que define o diagnóstico de hepatite aguda. • Colestática: é pouco comum na hepatite B e pode ocorrer inversão do padrão hepatocelular para o padrão colestático, com prurido, colúria, hipocolia ou acolia fecal, além da icterícia. Laboratorialmente, é observado aumento marcante das enzimas canaliculares, fosfatase alcalina e gama GT. Lembre que a hepatite A é a hepatite viral que mais cursa com a forma colestática. 2.8.2 HEPATITE B AGUDA GRAVE A infecção aguda pelo HBV é a principal causa de hepatite aguda grave, responsável por cerca de 30- 60% dos casos. Entre os infectados pelo HBV, até 5% podem evoluir com a forma grave, e essa é a hepatite viral com maior risco de fulminação. Os pacientes que desenvolvem essa forma de hepatite aguda apresentam maiores chances de clareamento viral espontâneo pela resposta imunológica intensa. A hepatite aguda grave pode, ainda, ser classificada como fulminante ou subfulminante, na dependência do tempo de aparecimento da encefalopatia. É considerada fulminante, quando a encefalopatia surge em até 8 semanas do início dos sintomas, e subfulminante, quando isso acontece entre 8 e 24 semanas, em indivíduos sem doença hepática prévia. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 27 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Além da presença da icterícia e encefalopatia, a hepatite aguda grave é marcada pelo aumento importante das transaminases e redução dos fatores de coagulação, como a protrombina e o fator V, habitualmente para níveis inferiores a 50%. Apresenta alta mortalidade, sendo a presença da encefalopatia um marcador de mau prognóstico, com indicação de início de terapia antiviral e, muitas vezes, transplante hepático. O tratamento da hepatite B aguda grave será discutido ainda neste livro! 2.8.3 HEPATITE B CRÔNICA Após primoinfecção pelo HBV, alguns pacientes podem evoluir para a doença crônica, definida por persistência da infecção e HBsAg positivo por mais de 6 meses ou 24 semanas. Já comentamos que o risco de cronificação é maior quanto mais jovem for o indivíduo contaminado. Em recém- nascidos, esse risco alcança 90-95% dos pacientes, é de 25-50% quando a exposição ocorre na infância e de apenas 5-10% entre os adultos. Apresentações da hepatite B Hepatite aguda benigna Assintomática Anictérica Ictérica Recorrente Colestática Hepatite aguda grave Hepatite fulminante Hepatite subfulminante Hepatite crônica Hepatite crônica ativa (replicativa) Portador crônico inativo Mutante pré-core 2.8.4 MANIFESTAÇÕES EXTRA-HEPÁTICAS As manifestações extra-hepáticas da hepatite B ocorrem em cerca de 10-20% dos indivíduos infectados, sendo mais prevalente naqueles com infecção crônica. Parecem ocorrer pela formação de imunocomplexos pela exposição ao HBsAg circulante. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 28 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais O quadro a seguir vai resumir o que precisamos saber sobre o tema. Manifestações extra-hepáticas da hepatite B Glomerulonefrite É mais comum em crianças, com predomínio da forma membranosa. Em crianças, tem curso benigno, com doença hepática leve e resolução espontânea em 6 meses a 2 anos. Quando surge em adultos, pode ser progressiva e evoluir para insuficiência renal. Poliarterite nodosa (PAN) Manifestação típica da hepatite B, com HBsAg positivo em 30% dos pacientes. É uma vasculite necrosante sistêmica, principalmente de médios e grandesvasos, caracterizada por sintomas inespecíficos, incluindo livedo reticular, mialgia e polineuropatia, mediada pela formação de imunocomplexos e anticorpos. Crioglobulinemia mista Vasculite de pequenos e médios vasos, muito associada à hepatite C, podendo ter relação também com o HBV. Apresenta-se com púrpuras palpáveis e petéquias em membros inferiores, artrite, glomerulonefrite e neuropatia periférica. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 29 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 30 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Aqui temos 2 esquemas com as mais importantes manifestações da poliarterite nodosa para ajudar a memorizar esta que é a principal manifestação extra-hepática da hepatite B. 2.9 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da hepatite B pode ocorrer na fase aguda da doença, com expressão laboratorial pelo aumento das enzimas hepatocelulares (ALT e AST), geralmente acima de 500 UI/L. Pode apresentar, além da elevação das transaminases, alterações laboratoriais inespecíficas, como leucopenia com linfocitose atípica, comum em outras infecções virais. O aumento da bilirrubina acontece especialmente nas formas ictérica, colestática e fulminante e representa lesão hepatocelular e/ou colestase. Na forma colestática, há aumento importante das enzimas canaliculares, fosfatase alcalina (FA) e gama GT. Com a cronificação em estágios iniciais, em portadores inativos e nos imunotolerantes, os exames estão normais. Com a replicação viral e a lesão hepatocelular, ocorre elevação das transaminases; e com a progressão da fibrose e a evolução para cirrose, podemos observar as alterações presentes na insuficiência hepática, como hipoalbuminemia, hiperbilirrubinemia e aumento do tempo de protrombina, em fases mais tardias, além das complicações da doença hepática avançada, como ascite, encefalopatia, hipertensão porta e hemorragia digestiva. Esses temas serão abordados no livro de complicações da cirrose. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 31 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais A hepatite B apresenta uma sorologia aparentemente complexa, mas que é essencial para fazer o diagnóstico da infecção pelo HBV e para a sua prova! É uma decoreba que vale a pena! Vamos juntos? 2.9.1 INTERPRETAÇÃO DOS MARCADORES SOROLÓGICOS Pela engenharia reversa, pudemos perceber que é um dos temas mais cobrados nas provas e você PRECISA SABER! Vamos esclarecer pontos importantes para facilitar a sua compreensão e tornar esse assunto mais fácil! Já apresentamos as definições dos marcadores sorológicos. Se tiver alguma dúvida, volte para rever os conceitos e consolidar o conhecimento. Esse quadro vai ajudar a memorizar a sorologia e os diferentes estágios da infecção pelo HBV e a vacinação. Gaste um tempo nele! Observe que alguns marcadores podem estar positivos ou negativos, sinalizados pelos símbolos “+/- “ ou “-/+”, na dependência do momento em que se encontra. Por exemplo, a hepatite B aguda é marcada por HBsAg positivo com anti-HBc IgM positivo. Em uma fase inicial, o anti-HBc IgG é negativo, mas em uma fase mais tardia, ainda na infecção aguda, esse marcador estará positivo. O inverso pode acontecer com o HBeAg, inicialmente estará positivo, mas pode negativar com o decorrer da infecção, especialmente naqueles indivíduos que vão evoluir para cura. Marcador Aguda Crônica ativa Crônica inativa Passado Vacinação HBsAg + + + - - HBeAg +/- + - - - Anti-HBc IgG -/+ + + + - Anti-HBC IgM + - - - - Anti-HBs - - - + + Vamos agora fazer o raciocínio inverso. A partir de situações clínicas, vamos ver quais seriam as sorologias possíveis. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 32 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Hepatite B aguda (fase precoce) Hepatite B aguda (fase tardia) Hepatite B aguda (janela imunológica) HBsAG+ HBsAg+ HBsAg- Anti-HBc IgM +/IgG- Anti-HBc IgM +/IgG+ Anti-HBc IgM +/IgG+ HBeAg+ HBeAg- HBeAg- Anti-HBe- Anti-HBe+ Anti-HBe-/+ Anti-HBs- Anti-HBs- Anti-HBs- Hepatite B crônica replicativa Hepatite B crônica (janela imunológica) Hepatite B crônica não replicativa HBsAg+ HBsAg- HBsAg+ Anti-HBc IgM -/IgG+ Anti-HBc IgM -/IgG-/+ Anti-HBc IgM -/IgG+ HBeAg+ HBeAg-/+ HBeAg- Anti-HBe- Anti-HBe+/- Anti-HBe+ Anti-HBs- Anti-HBs- Anti-HBs- Vacinação cicatriz imunológica HBsAg- HBsAg- Anti-HBc IgM-/IgG- Anti-HBc IgM-/IgG+ HBeAg- HBeAg- Anti-HBe- Anti-HBe- Anti-HBs+ Anti-HBs+ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 33 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Já que é um tema importante, vamos ver como já caiu no Revalida? CAI NA PROVA (REVALIDA INEP 2021) Um homem de 50 anos de idade realiza investigação ambulatorial devido ao aumento de transaminases: AST = 122 U/L (valor de referência:OS MUTANTES A replicação do HBV ocorre no núcleo do hepatócito infectado por meio de uma enzima transcriptase reversa, à semelhança do HIV. Esse mecanismo faz com que haja risco de indução de mutações no genoma viral. Após uma mutação, pode haver maior risco de exacerbações e quadros de hepatites fulminantes, associado à maior morbimortalidade. Existem 2 tipos de mutações possíveis que veremos a seguir. A mutação mais comum do HBV ocorre na região do pré-core do HBV-DNA, com falha na expressão do HBeAg. Nesse caso, observamos a presença do anti-HBe mesmo com alta replicação viral. A sorologia do portador crônico inativo e do mutante pré-core é exatamente a mesma. O que vai diferenciar, então? A carga viral (HBV-DNA). Isso acontece porque o portador crônico inativo apresenta replicação viral mínima, com HBV-DNA muito baixo ou indetectável, por definição, 2.000 UI/mL Outra mutação possível de ocorrer é a mutação por escape, menos frequente, na vida e na prova, quando o HBsAg sofre alteração e não é mais neutralizado pelo anti-HBs. Nesses pacientes, encontramos HBsAg positivo mesmo em altos títulos de anti-HBs. Não vemos ser cobrada essa mutação, mas ela pode aparecer dentro de alguma alternativa e você já vai saber do que se trata! As mutações nunca foram cobradas no Revalida, mas já caiu como alternativa em uma questão e ajudaria você a conhecer o conceito para acertar. Vamos ver? CAI NA PROVA (Revalida INEP 2017) Um homem com 25 anos de idade é atendido na unidade básica de saúde, com queixa de febre não aferida, associada à mialgia, edema perimaleolar ++/4+ há 2 semanas, quando foi submetido a exame do sedimento urinário, com o seguinte resultado: hematúria microscópica, cilindros hemáticos e leucocitários. Durante a anamnese, o paciente relatou que os sintomas apareceram após forte chuva ocorrida em seu bairro, quando precisou retirar a água que entrara em sua casa. Interrogado quanto ao uso de preservativos, referiu julgá-lo desnecessário, já que tinha única parceira, sua conhecida desde a infância. Mediante os fatos relatados, o médico solicitou alguns exames laboratoriais e indicou que retornasse em uma semana. No retorno, o paciente queixou-se de intensa dor nas articulações dos joelhos, punhos e mãos. O exame físico evidenciou paciente levemente ictérico e com discreto edema em punho direito, leve dor no hipocôndrio direito e uma ponta de baço palpável. Os resultados dos exames laboratoriais solicitados na primeira consulta revelaram: hemácias = 4.120.000/mm³ (valor de referência = 3.900.000- 5.000.000/mm³); hemoglobina = 13,40 g/dl (valor de referência = 12,0-15,0 g/dL); hematócritos = 44,8% (valor de referência = 35-45%); leucócitos = 10.000/mm³ (valor de referência = 3.500-10.500/mm³); com 4% de bastões (valor de referência = 1-5%); plaquetas = 298.000/mm³ (valor de referência = 150.000- 450.000/mm³); AST = 520 UI/L (valor de referência =os indivíduos. A revacinação está indicada se não há produção de anti-HBs após o esquema completo em algumas situações específicas, como em imunodeprimidos, profissionais de saúde e pacientes em hemodiálise. Se após 2 esquemas completos de 3 doses não houver soroconversão, esse indivíduo é considerado não respondedor e não há indicação de nenhuma dose ou esquema complementar. Ela também deve ser realizada como profilaxia pós-exposição, que discutiremos a seguir, ainda neste livro. Fique com a gente! Indicação de vacinação para hepatite B Recém-nascidos (4 doses: 0-2-4-6 meses) Adultos e idosos não imunizados, independentemente de idade ou situação de vulnerabilidade (3 doses: 0-1-6 meses) 2.11 PROFILAXIA DA HEPATITE B A profilaxia para a infecção por HBV tem um impacto significativo no número de novos casos e deve ser amplamente divulgada e realizada. Ela pode ser ativa (vacina) ou passiva (imunoglobulina específica anti-HBs) e pode ser realizada de forma preventiva ou após exposição ao HBV. Vamos ver? m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 38 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.11.1 PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO Após exposição a sangue ou fluidos de indivíduo infectado por HBV ou suspeito, especialmente aqueles com alta viremia, existem algumas situações em que a profilaxia é mandatória. Ela deve ser realizada com imunoglobulina específica anti-HBs (HBIg) e vacinação ativa contra o HBV, iniciando-se o esquema com as 3 doses previstas (0-1-6 meses). A imunoglobulina deve ser administrada no prazo de 7-14 dias, preferencialmente nas primeiras 24 horas após a exposição de risco. Observe o quadro a seguir com as indicações de profilaxia pós-exposição. Indicação de profilaxia pós-exposição ao HBV • Vítimas de acidente perfurocortante com material contaminado ou fortemente suspeito, susceptíveis • Vítimas de abuso sexual, susceptíveis • Contactantes sexuais de casos de hepatite B aguda, susceptíveis • Imunodeprimidos após exposição de risco, mesmo vacinados A seguir, temos a tabela com as recomendações para profilaxia da hepatite B após exposição ocupacional, levando-se em consideração o perfil sorológico da pessoa-fonte, adaptada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde. Analise com cuidado. Profilaxia da hepatite B após exposição ocupacional Situação vacinal e sorologia do paciente exposto Pessoa-fonte HBsAg positivo HBsAg negativo HBsAg desconhecido m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 39 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Profilaxia da hepatite B após exposição ocupacional Não vacinado Imunoglobulina + vacina Vacina Vacina + imunoglobulina se pessoa-fonte com alto risco de infecção para hepatite B (usuários de drogas, dialíticos, contato domiciliar ou sexual com indivíduo com hepatite B) Vacinação incompleta Imunoglobulina + completar vacina Completar vacina Completar vacina Resposta vacinal conhecida e adequada (anti-HBs maior ou igual a 10 mUI/mL) Nenhuma medida Nenhuma medida Nenhuma medida Sem resposta vacinal após 3 doses Imunoglobulina + vacina Nova série de vacinação (3 doses) Nova série de vacinação (3 doses) Sem resposta vacinal após 6 doses Imunoglobulina Nenhuma medida Imunoglobulina Resposta vacinal desconhecida Testar o paciente Se resposta vacinal adequada: nenhuma medida Se resposta vacinal inadequada: imunoglobulina + vacina Testar o paciente Se resposta vacinal adequada: nenhuma medida Se resposta vacinal inadequada: fazer segundo esquema de vacinação Testar o paciente Se resposta vacinal adequada: nenhuma medida Se resposta vacinal inadequada: fazer segundo esquema de vacinação Adaptado de: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para profilaxia pós-exposição (PEP) de risco à infecção por HIV, IST e hepatites virais, 2018. m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 40 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais Vamos ver uma questão que ilustra o que acabamos de ver. (Revalida INEP 2020) Uma escolar com 7 anos de idade foi levada para atendimento no pronto-socorro após episódio de violência sexual. A criança, no dia anterior, foi deixada aos cuidados do primo com 18 anos de idade para que os pais pudessem trabalhar. No dia seguinte, pela manhã, a mãe notou que a criança estava chorosa e com presença de sangue em roupas íntimas e de ferimento em região anal. Durante o atendimento, a criança informou que o seu primo introduziu o pênis em seu orifício anal e que isso tem acontecido há 1 ano. A caderneta de vacinação da criança encontra-se completa. Durante o exame físico, a criança mostra-se em bom estado geral, mas bastante assustada, com sinais vitais estáveis e presença de laceração em região anal. Após o atendimento inicial, são realizados exames laboratoriais e o resultado do anti-HBs da criança é negativo. O primo da criança encontra-se foragido. Segundo a linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças em situação de violências, para a profilaxia para hepatite B, recomenda-se realizar A) nova série de vacinação Anti-hepatite B (3 doses). B) acompanhamento clínico, sem medidas específicas. C) duas doses de imunoglobulina humana Anti-hepatite B. D) uma única dose de imunoglobulina humana Anti-hepatite B. COMENTÁRIO: Essa questão aborda um tema bastante específico, que não é tão frequente nas provas, mas vamos usá-la para consolidar o que discutimos! Vamos analisar o caso. Temos uma criança, vítima de violência sexual, com a caderneta de vacinação completa, portanto ela está previamente vacinada com três doses. Porém, a sua resposta sorológica está ausente e ela enquadra- se na linha “sem resposta vacinal após 3 doses”. Falta então sabermos a condição do autor da violência. O examinador relata que ele está foragido, portanto “HBsAg desconhecido ou não testado”. Com isso, pelo protocolo, devemos iniciar um novo esquema de vacinação, com 3 doses. Correta a alternativa A! CAI NA PROVA m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ m e d v i d e o s . c o m Có pi a nã o é ro ub o ♥ 41 Prof. Fernanda Canedo | Hepatologia | Fevereiro 2022 Hepatites virais 2.11.2 PROFILAXIA DA TRANSMISSÃO VERTICAL A transmissão perinatal ou vertical é tema importante e bastante frequente nas provas de Residência Médica. No Revalida, foi cobrado uma vez apenas, em uma questão direta, já abordada no item sobre transmissão vertical deste livro. Entretanto, temos alguns conceitos importantes para você saber! Vamos ver? Todos os recém-nascidos de mães HBsAg positivo devem receber imunização passiva e ativa nas primeiras 12 horas de vida, de preferência ainda na sala de parto, por meio da administração intramuscular da imunoglobulina hiperimune específica anti-HBs (HBIg) e da vacina, em diferentes grupamentos musculares. Essa estratégia foi capaz de reduzir a transmissão perinatal em cerca de 90%, porém, quando a mãe apresenta carga viral elevada, essa eficácia diminui em até 70%. Por esse motivo, a profilaxia da transmissão vertical foi atualizada, com indicação, além do uso de vacina e HBIg, de medicação específica para a hepatite B em gestante HBsAg positivo e HBeAg positivo ou HBV- DNA > 200.000 UI/mL. É preconizado o uso do tenofovir, mesmo que a gestante não tenha indicação de tratamento pela hepatite B (veremos no próximo tópico deste livro), a partir da 28ª semana de gestação (terceiro trimestre) até, pelo menos, 30 dias ou 4 semanas após o parto. Apesar de o maior risco de transmissão ocorrer no momento de passagem do bebê pelo canal vaginal, não há evidências do benefício