Buscar

apostila-de-psicologia-jurdica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 40 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso apostilado 
PSICOLOGIA JURÍDICA 
 
Por Valter Barros Moura - psicanalista 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
2 
 
CONCEITO GERAL 
Este material tem por objetivo definir o papel da Psicologia Jurídica ou Forense no 
Brasil, bem como informar novos campos de trabalho ao jovem psicólogo nas áreas jurídicas, 
uma das mais emergentes na atualidade. Os profissionais que atuam nesta área têm um 
grande desafio pelo frente: o de utilizar seus conhecimentos técnicos e científicos com vistas a 
auxiliar a esclarecer dúvidas em relação à aplicação do Direito objetivo junto aos magistrados, 
promotores e até mesmo nas esferas policiais. Isso para que se tomem decisões judiciais mais 
justas e assertivas. Razão pela qual, o psicólogo jurídico tem como instrumentos básicos, além 
da observação criteriosa, a aplicação de testes específicos para tecer avaliações psicológicas e 
psicopatológicas. 
A subdivisão dos setores da Psicologia Jurídica fundamentou-se na classificação 
pertinente à publicação do Colégio Oficial de Psicólogos da Espanha. Há adequações nos 
termos utilizados que se referem à Psicologia Jurídica aplicada. NoDireito da Criança e do 
Adolescente, a Psicologia trata das questões contidas no atual Estatuto da Criança e do 
Adolescente com vistas à análise, por parte do profissional de psicologia, a reinserção social do 
menor infrator, do abandono, da disputa de guarda e onde possa haver situações de risco e 
violência familiar. 
Já a Psicologia Jurídica e o Direito de Família tratam de separações litigiosas, disputa 
de guarda, regulamentação de visitas e da destituição do pátrio poder. Neste setor, o 
psicólogo deverá atuar, designado pelo juiz, como perito oficial ou ad hoc (oficioso) e poderá 
atuar também como assistente técnico, como perito contratado por uma das partes do 
processo, cuja principal função será a de acompanhar o trabalho do perito oficial do Estado 
para emissão de laudos específicos. 
Na Psicologia Jurídica e o Direito Cível, o profissional estará envolvido em casos de 
interdição, indenizações, entre outras ocorrências cíveis, enquanto a Psicologia Jurídica do 
Trabalho tem por objetivo analisar e apurar as reais causas e conseqüências de acidentes de 
trabalho, garantindo ou não as indenizações pertinentes julgadas pelo judiciário. No Direito 
Penal (na fase processual) objetiva convalidar ou não os exames de corpo de delito, de 
sanidade ou insanidade mental entre outros procedimentos que serão convalidados 
juntamente com outro profissional da área médica, especificamente o especialista em 
psiquiatria. A Psicologia Judicial ou do Testemunho opera no estudo e validação dos 
testemunhos nos processos criminais, de acidentes ou acontecimentos cotidianos. 
Agora na Psicologia Penitenciária (fase de execução), o profissional tem seu trabalho 
voltado na execução e remissão das penas restritivas de liberdade e restritivas de direito. 
Psicologia Policial e das Forças Armadas: o psicólogo jurídico atuará na seleção e na formação 
geral ou específica do contingente de pessoal das polícias civil, militar e do exército. Na 
Vitimologia, o psicólogo jurídico buscará auxiliar na recuperação e reintegração afetiva, laboral 
e social das vítimas de violência. Existem no Brasil programas de atendimentos às vítimas de 
violência doméstica. Busca-se o estudo, a intervenção no processo de vitimização, a criação de 
medidas preventivas e a “atenção integral centrada nos âmbitos psico-socio-jurídicos” (Colégio 
de Psicólogos da Espanha, 1998, p. 117). 
Quanto a Mediação, trata-se de uma forma inovadora de se fazer imperar a justiça. As 
partes são as responsáveis pela solução do conflito com ajuda de um terceiro agente, o 
psicólogo jurídico, que de forma imparcial atuará como mediador. De acordo com Colégio 
Oficial de Psicólogos da Espanha “a base desta nova técnica está em encontrar uma forma de 
entender as relações entre o indivíduo e a sociedade distinta, sustentada pela 
autodeterminação e a responsabilidade que conduzem a um comportamento cooperativo e 
pacífico” (1998, p. 117). A mediação pode ser utilizada tanto no âmbito Cível como no 
Criminal. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
3 
 
O profissional de Psicologia na área jurídica também poderá atuar na formação e 
atendimento de juízes e promotores, com vistas a esclarecê-los o que é, como se desenvolve e 
opera o nosso equipamento psíquico, bem como as nossas relações com o meio e a sociedade. 
Posto isso, a mente humana pode e deve ser compreendida como uma estrutura fundamental, 
na qual podemos considerar que a base fundamental do Direito nasce das questões 
psicológicas geradas pelo ser humano no seu convívio social e normativo. 
A mente humana se estrutura. E Sigmund Freud empregou a palavra “aparelho” para 
caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas ou instâncias psíquicas, com 
funções específicas para cada uma delas e que estão interligadas entre si, onde ocupam certo 
lugar na mente. Em grego, “topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um 
“modelo de lugares”, sendo que Freud descreveu dois deles como sendo “a primeira tópica” 
conhecida como Topográfica e a “segunda tópica”, como Estrutural. 
Nesse 1º modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o 
inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs). Algumas vezes, Freud denominou 
este último sistema de percepção-consciência. Insatisfeito com o “modelo topográfico”, 
porque esse não conseguia explicar muitos fenômenos psíquicos, em especial àqueles que 
emergiam na prática clínica, ele gradativamente elaborou uma nova concepção. Até que, em 
1920, mais precisamente a partir do importante trabalho metapsicológico “Além do princípio 
do prazer”. Nele Freud estabeleceu, de forma definitiva, a clássica concepção do aparelho 
psíquico, conhecido como modelo estrutural (ou dinâmico), tendo em vista que a palavra 
“estrutura” significa um conjunto de elementos que isoladamente têm funções específicas, 
porém não são dissociados entre si, porque interagem permanentemente e influenciam-se 
reciprocamente. 
Ou seja, diferentemente da “primeira tópica”, que sugeria uma passividade, a 
“segunda tópica” é eminentemente ativa e dinâmica. Essa concepção estruturalista ficou 
cristalizada em “O ego e o id”, de 1923 e que consiste em uma divisão tripartite da mente em 
três instâncias: o id, o ego e o superego. Grosso modo, de maneira simples e objetiva, quando 
estabeleço uma nova relação clínica 
interpessoal ou diálogo, independentemente 
do gênero, seja ele masculino ou feminino, 
associo à mente das “criaturas” em questão a 
uma “cebola”. Explico: de forma metafórica, 
imagine a personalidade do indivíduo em 
questão como as primeiras camadas ou 
“cascas” exteriores que protegem a cebola, ou 
seja, o ego. Ao nos aprofundarmos cada vez 
mais nas áreas internas, ali encontraremos, 
então, o superego, o mediador e censor moral. 
Será ele quem deixará à mostra somente a 
parte exterior ou decidirá revelar algo mais, 
que pode nos fazer chorar ou não. Por fim, se chegarmos ao núcleo, nas primeiras camadas 
essenciais, nelas reside o inconsciente, onde a não há lógica e os instintos primários, o prazer 
sem quaisquer questionamentos morais ou culpa é tudo que importa. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
4 
 
1 - COMPREENDA NOSSO APARELHO PSÍQUICO 
Vamos recapitular. O id foi um termo introduzido por Georg Groddeck, em 1923, e 
conceituado por Sigmund Freud no mesmo ano, a partir do pronome alemão neutro da 
terceira pessoado singular (Es), para designar uma das três instâncias da segunda tópica 
freudiana, ao lado do ego (eu) e do superego (supereu). O id (isso) é concebido como um 
conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente. 
1.1 - O ID 
O id (ou isso) é uma das três instâncias diferenciadas por Freud na sua segunda teoria 
do aparelho psíquico. Nele se constitui o pólo pulsional da personalidade do indivíduo. Os seus 
conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e 
inatos e, por outro, recalcados e adquiridos socialmente. Do ponto de vista “econômico”, o id é 
para Freud um grande reservatório inicial da energia psíquica, enquanto sob a ótica 
“dinâmica”, ele abriga e interage, juntamente com as funções do ego e com os objetos, tanto 
os da realidade exterior, como aqueles introjetados e que habitam o superego, com os quais, 
quase sempre, entra em conflito. Porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de 
aliança e conluio com o superego. 
Agora, se observarmos, genericamente estas são as suas diferenciações. Do ponto de 
vista “funcional”, o id é regido pelo princípio do prazer logo, pelo processo primário, primeiro 
ou primitivo. Já do ponto “topográfico”, é no inconsciente, enquanto instância psíquica que 
coincide com o id, que consideramos o pólo psicobiológico da personalidade constituído pelas 
pulsões. 
1.2 - O EGO OU O EU 
Eis aqui um termo empregado na Filosofia e na Psicologia para designar a pessoa 
humana como consciente de si mesma e do objeto de pensamento. Retomado por Sigmund 
Freud, esse termo designou, num primeiro momento, a sede da consciência. O ego (eu) foi 
então delimitado num sistema chamado de primeira tópica, que abrangia o consciente, o pré-
consciente e inconsciente e que administram, dioturnamente, conflitos e tomadas de decisões. 
A partir de 1920, o termo mudou de estatuto, sendo conceituado por Freud como uma 
instância psíquica, no contexto da segunda tópica que abrange outras duas instâncias: o 
superego e o id. O ego tornou-se então, em grande parte, inconsciente. Essa segunda tópica 
(id, ego, superego) deu origem a três leituras divergentes da doutrina freudiana: a primeira 
destaca um eu concebido como um pólo de defesa ou de adaptação à realidade (Ego 
Psychology, annafreudismo); a segunda mergulha o ego no id, dividindo-o num ego (eu – 
menor) e num Ego (Eu - maior), cujo sujeito pode ser determinado por um significante 
(lacanismo); e a terceira inclui o ego numa fenomenologia do si mesmo ou da relação de 
objeto (Self Psychology, kleinismo). 
Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as 
reivindicações do id, como para com os imperativos e censuras do superego e exigências da 
realidade normativa. Embora se situe como o mediador, aquele que é encarregado dos 
interesses da totalidade da pessoa enquanto indivíduo, a sua autonomia é apenas relativa. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
5 
 
Quanto ao ponto de vista dinâmico, o ego representa, eminentemente, no conflito 
neurótico, o pólo defensivo da personalidade. Por essa razão ele põe em jogo uma série de 
mecanismos de defesas, as quais são motivadas pela percepção que um indivíduo possui sobre 
algum afeto desagradável (sinal de angústia). Do ponto de vista econômico, o ego surge como 
um elo, cujos fatores dessa ligação advém dos processos psíquicos. Mas, nas operações 
defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são contaminadas pelas características 
que especificam o processo primário: assumem um aspecto compulsivo, repetitivo e não real. 
Daí as repetições de modelos, neuroses e afins. 
A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros, relativamente 
heterogêneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo, diferenciado a partir do id em 
contato com a realidade exterior; quer definindo-o como o produto de identificações que 
levam à formação do indivíduo atrelado a um objeto de amor investido pelo id. Em relação à 
primeira teoria do aparelho psíquico, o ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente e 
inconsciente, na medida em que as suas operações defensivas são, em grande parte, 
inconscientes. 
Freud descreveu, então, o ego como uma parte do id, que por influência do mundo 
exterior, teria se diferenciado. No id reina o princípio de prazer, como já disse. Ora, o ser 
humano é um animal social e, se quiser viver com seus pares, não pode se instalar nessa 
espécie de nirvana que sugere o princípio de prazer, onde o ponto de menor tensão. Da 
mesma forma que lhe é impossível deixar que as pulsões se exprimam em estado puro, 
primevo e primitivo. 
Por essa razão, o mundo exterior impõe às crianças inúmeras proibições que provocam 
o recalcamento e a transformação das pulsões, na busca de uma satisfação substitutiva que 
lhes irá provocar no eu, por sua vez, um sentimento de desprazer. O princípio da realidade 
substitui o princípio de prazer. O eu se apresenta como uma espécie de tampão entre os 
conflitos e clivagens do aparelho psíquico, ao mesmo tempo que tenta desempenhar o papel 
de uma espécie de pára-excitação, em face das agressões do mundo exterior. 
1.3 - O SUPEREGO OU SUPER EU 
É uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu na sua segunda 
teoria do aparelho psíquico, cujo papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor moral ao 
ego. Freud viu na consciência moral, na auto-observação e na formação de ideais as funções 
do superego. De forma clássica, o superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo, 
que se constitui pela interiorização das exigências e das interdições parentais. Embora eu 
divirja, em parte, dessa teoria, alguns psicanalistas recuam, para mais cedo, a formação do 
superego, vendo esta instância em ação desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo 
menos procurando comportamentos e mecanismos psicológicos muito precoces que seriam 
precursores do superego (Glover, Spitz, por exemplo). 
De qualquer forma, todos concordamos que o superego é caracterizado como sendo a 
“voz da consciência”, nosso juiz interno e a incorporação de parte do superego dos nossos 
pais, da sociedade e das estruturas religiosas e normativas. Sigmund Freud estabeleceu, na 
primeira tópica, as fases Oral, Anal, Fálica, Latência e Genital. O id é caracterizado por ser uma 
estrutura regrada pelo princípio do prazer, o qual busca seu próprio “deleite”, e toda criança é 
regrada por este princípio. Para Sigmund Freud, o pai da psicanálise, os sonhos eram a via 
régia, a estrada principal para que esse princípio pudesse ser atingido pelo inconsciente do 
indivíduo. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
6 
 
Da importância da formação e estabelecimento de vínculos no desenvolvimento do 
ego, descritos pela psicóloga Melanie Klein, isso significa que sem vínculos um ser humano não 
se desenvolve. A arrogância impede a formação de vínculos e o indivíduo necessita dessa 
formação para que eles se estabeleçam e se desenvolvam. Arrogância e violência estão 
ligadas, de forma muito estreita, a não formação adequada desses vínculos. Esta visão 
proposta por Melanie Klein sofreu influência em seu discípulo Wilfred Ruprecht Bion. Portanto, 
a adequada formação e desenvolvimento humanos, para esses estudiosos, devem caminhar no 
sentido de que o ser humano aprenda a formar vínculos e para não se tornar um ser 
arrogante. 
 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
7 
 
2 - MECANISMOS DE DEFESA: ALIADOS OU INIMIGOS? 
Este foi o nome que Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de 
manifestações e as defesas que o ego pode apresentar, já que este não se defronta só com as 
pressões e solicitações do id e do superego, pois aos dois se atrelam o mundo exterior e as 
lembranças do passado.Portanto, o que vou apresentar são tipos de operações psíquicas que 
visam defender o ego de um indivíduo e que podem ser especificadas como mecanismos 
predominantes. Estes mecanismos diferem do segundo o tipo de pressão não resolvida pelo 
ego e o grau de elaboração do conflito defensivo entre outras coisas. Não há divergências 
quanto ao fato de que, os mecanismos de defesa são utilizados pelo ego, mas permanece 
aberta a questão teórica de sabermos se a sua utilização pressupõe a existência de um ego 
organizado e forte que seja o seu próprio suporte para as pressões do id e do superego. 
Isso porque, o ego ao ser coagido pelas forças imperiosas do id, as quais exigem a 
satisfação de seus impulsos instintivos e imediatos juntamente com a inflexível censura do 
superego que freqüentemente proíbe tais satisfações faz com que, por vezes, o ego se veja na 
contingência de sucumbir ora a uma ou a outra. Nestes casos, o ego precisa usar de certos 
mecanismos ou artifícios para apaziguar o id ou para dissimular ou desculpar seu modo de 
proceder diante das críticas do superego. Esse procedimento defensivo do ego foi observado 
primeiramente por Breuer e, atestado na seqüência, por Freud e foi designado por ambos com 
o nome de “mecanismo de defesa”. Por volta de 1900, Freud lhe deu o nome de “recalque”. 
Mais tarde Freud tornou a usar a primeira designação como denominação geral e utilizou a 
segunda para designar uma das espécies das “defesas do ego”. 
Quando o ego está consciente das condições reinantes ele consegue sair-se bem das 
situações sendo lógico, objetivo e racional. Contudo, quando ocorrem situações que possam 
vir a desencadear sentimentos de culpa ou ansiedade, o ego perde as três qualidades citadas 
acima e a ansiedade, que é um tipo de angústia, se instala de forma inconsciente e que ativa 
uma série de mecanismos de defesa com a finalidade de proteger esse ego contra uma dor 
psíquica iminente. Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes que outros e 
os que exigem menos dispêndio de energia para funcionarem a contento e outros que são 
menos satisfatórios, porém todos requerem gastos maiores ou menores de energia psíquica. 
As defesas do ego podem ser divididas em: 
A) Defesas bem sucedidas e que geram a cessação daquilo que se rejeita; 
B) Defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do processo de rejeição, a 
fim de impedir a erupção dos impulsos rejeitados. As defesas patogênicas, nas quais se 
radicam as neuroses pertencem à segunda categoria. Quando os impulsos opostos não 
encontram descarga, mas permanecem suspensos no inconsciente e, ainda aumentam, pelo 
funcionamento continuado das suas fontes físicas, se produz um estado de tensão, com 
possibilidade de erupção. As conseqüências é que o indivíduo “explode”, emocionalmente, de 
alguma forma. 
Daí por que as defesas bem sucedidas, que de fato, menos se entendem, têm menor 
importância na psicologia das neuroses. Nem sempre, porém, se definem com nitidez as 
fronteiras entre as duas categorias. Há vezes em que não se consegue distinguir entre “um 
impulso que foi transformado pela influência do ego” e “um impulso que irrompe com 
distorção, contra a vontade do ego e sem que este o reconheça”. Este último tipo de impulso 
produz atitudes comportamentais constrangedoras e há de se repetir continuamente, pois 
jamais permitirá relaxamento pleno, ao ponto de gerar fadiga mental e emocional no 
indivíduo. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
8 
 
2.1 - SUBLIMAÇÃO 
Este é o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os 
impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável. As defesas bem sucedidas 
podem colocar-se sob o título de sublimação, expressão que não designa um mecanismo 
específico, como, por exemplo, a transformação da passividade em atividade; o rodeio em 
volta do assunto ou inverter certo objetivo em um objetivo oposto. O fator comum está na 
finalidade ou no objeto (ou um e outro) sob a influência do ego que a transforma sem 
bloquear a descarga adequada, ou seja, um impulso é modificado de forma a ser expresso em 
conformidade com as demandas do meio, e isso ocorre de forma inconsciente e é considerada 
sempre como uma função de um ego normal. 
Nesse sentido específico, não é propriamente um mecanismo de defesa porque não 
impõe nenhum trabalho defensivo ao ego, não é necessário um controle sobre o impulso, pois 
este se apresenta modificado, de tal forma que, pode ser satisfeito sem quaisquer proibições. 
O ego, na sublimação, ajuda o id a obter expressão externa, o que não ocorre quando usa 
outros mecanismos de defesa. Embora o impulso original não seja consciente, na sublimação 
não existe a repressão porque ao deparar com a rejeição pela consciência, o impulso é 
desviado para canais socialmente aceitos. Exemplo: o desejo infantil que a criança tem de 
brincar com fezes, geralmente repudiado pelos pais, readequa-se e ganha expressão na 
atividade sublimada de um futuro escultor. 
Assim, fica simples compreender quando o impulso é canalizado a outros interesses. 
Outro exemplo surge na impossibilidade de se ter filhos, que pode ser sublimada pelo afeto 
aos bichos de estimação como cachorros, gatos, etc… Na sublimação, cessa o impulso original 
pelo fato de que a respectiva energia é retirada em benefício da catexia do seu substituto. Nas 
outras defesas, a libido do impulso original é contida por uma contracatexia elevada. As 
sublimações exigem uma torrente incontida de libido, tal qual a roda de um moinho precisa de 
um fluxo d’água desimpedido e canalizado. 
O fato empírico das sublimações, sobretudo as que se originam na infância, dependem 
da presença de modelos, de incentivos que o ambiente forneça direta ou indiretamente e 
corrobora a asserção de Freud, no sentido de que a sublimação talvez se relacione 
intimamente com a identificação. Mais ainda: os casos de transtorno da capacidade de 
sublimar mostraram que esta incapacidade do indivíduo corresponde às dificuldades na 
promoção de suas identificações. 
Tal qual ocorre com certas identificações, também as sublimações são capazes de 
opor-se e se desfazerem, com êxito maior ou menor, certos impulsos destrutivos infantis. 
Contudo, também podem satisfazer, de maneira distorcida, estes mesmos impulsos 
destrutivos. Certas reações de nojo, habituais entre as pessoas civilizadas, sem vestígio das 
tendências instintivas infantis contra as quais se desenvolveram originalmente, incluem-se 
nesta categoria. O que ocorre, então, é idêntico ao que Freud chamou transformação no 
contrário: uma vez completada, toda a força de um instinto opera na direção contrária. 
2.2 - REPRESSÃO 
Esta operação psíquica tem por objetivo fazer com que desapareça da consciência 
impulsos ameaçadores, sentimentos, desejos, ou conteúdos desagradáveis e inoportunos. Em 
sentido amplo, tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou 
inoportuno: uma idéia ou afeto e, nesse sentido, o recalque seria uma excelente opção, uma 
modalidade especial de repressão. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
9 
 
Em sentido mais restrito, designa certas operações diferentes do recalque: a) ou pelo 
caráter consciente da operação e pelo fato de o conteúdo reprimido se tornar simplesmente 
pré-consciente e não inconsciente; b) ou, no caso da repressão de um afeto, porque este não é 
transposto para o inconsciente e sim inibido, ou mesmo suprimido. 
A repressão afasta de nossa consciência uma idéia ou evento que poderia causar 
ansiedade, logo, angústia. Entretanto, esse conteúdo reprimido não é eliminado e continua no 
inconsciente. O resultado disso e suas conseqüências seriam algumas doenças psicossomáticas 
que podem estar vinculadas à essa repressão, tais como: asma, artrite, algumas fobias, frigidezetc. 
2.3 - RACIONALIZAÇÃO 
Esta é uma boa maneira que o indivíduo encontra de substituir, sempre por boas 
razões, para explicar uma determinada conduta que exija explicações, de um modo geral, da 
parte de quem adotou algum comportamento específico. Eu e alguns outros psicanalistas 
costumamos dizer, em tom de chiste, que “a racionalização é uma mentira inconsciente que se 
põe no lugar daquilo se reprimiu ou se quer reprimir”. Este é um processo pelo qual o sujeito 
procura apresentar uma explicação coerente do seu ponto de vista lógico, ou aceitável do 
ponto de vista moral, para uma atitude, uma ação, uma idéia, um sentimento ou 
comportamento, cujos motivos verdadeiros ele não percebe. Fala-se mais especialmente da 
racionalização excessiva como um sintoma de uma compulsão defensiva, de uma formação 
reativa. A racionalização intervém também no delírio, resultando numa sistematização mais ou 
menos acentuada. 
Racionalizar é um processo muito comum, que abrange um extenso campo que vai 
desde o delírio ao pensamento normal, e como qualquer comportamento, pode admitir uma 
explicação racional, muitas vezes é difícil diagnosticar se esta é uma falha ou não. Em especial, 
no tratamento psicanalítico, encontraríamos todos os intermediários entre esses dois 
extremos. Em certos casos é fácil demonstrar ao paciente o caráter artificial das motivações 
que ele invoca, e com isso pode-se incitá-lo a não se contentar mais com elas; em outros, os 
motivos racionais são particularmente sólidos (psicanalistas devem conhecer as resistências 
que, sob a “alegação da realidade”, por exemplo, pode se esconder uma dissimulação da 
realidade), mesmo assim pode ser útil colocar tais motivos “entre parênteses” para se 
descobrir as satisfações ou as defesas inconscientes que a eles se juntam. 
Na racionalização tenta-se explicar algo conscientemente, com o objetivo de justificar 
manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego do indivíduo. Por 
exemplo, uma atitude agressiva em relação a outros indivíduos pode ser justificada, pelo 
agressor, como defesa a uma provocação. O que o indivíduo não percebe são seus 
sentimentos de hostilidade para com as pessoas, independente de provocações. Quando esses 
sentimentos são expressos, o indivíduo procura explicá-los usando de argumentos 
aparentemente lógicos. Essas são racionalizações de sintomas, neuróticos, perversos ou 
compulsões defensivas (a exemplo dos excessivos rituais de limpeza, alimentares ou de 
higiene, por exemplo). 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
10 
 
2.4 - PROJEÇÃO 
O termo designa uma operação psíquica pela qual um fato neurológico ou psicológico 
localizado no exterior é deslocado e passa do centro para a periferia, ou seja, do sujeito para o 
objeto. No sentido psicanalítico, esta operação faz com que o indivíduo expulse de si e localize 
no outro (pessoa ou coisa) as qualidades, sentimentos e desejos objetais que ele desconhece 
ou que recusa a ver que possui em si próprio. Trata-se aqui de uma defesa de origem muito 
arcaica, que vamos encontrar em ação particularmente na paranóia e também em modos de 
pensar “normais”, como a superstição. 
Neste mecanismo de defesa do ego, um dos mais comuns e radicais, a projeção 
consiste em transferir, para as pessoas e objetos de nossas relações, os nossos próprios 
conflitos internos inaceitáveis. Ao contrário da conversão, pela qual transferimos tais conflitos 
para nós mesmos, convertendo-os em sintomas ou doenças, na projeção os transferimos para 
o exterior, para as outras pessoas ou coisas. Sua manifestação surge quando o ego não aceita e 
não reconhece um impulso do id, que para o próprio ego é inaceitável e o atribui a outra 
pessoa. É o caso do menino que gostaria de roubar frutas do vizinho, não tem a coragem para 
tanto, e diz que soube que um menino, na mesma rua, esteve tentando pular o muro do 
vizinho. 
Outro exemplo é o do homem que não pode, conscientemente, aceitar seus fortes 
sentimentos hostis em relação a um superior de quem depende, considera que este o 
persegue e o maltrata, embora isto não corresponda às atitudes reais do referido superior. Ou 
do indivíduo que muito se incomoda com a sexualidade ou o exercício dela de outrem, 
difamando-o ou exasperando-se ao ponto até de agredi-lo. Não só os impulsos hostis 
agressivos e sexuais, mas tudo o que é recalcado pode ser projetado para os demais. Eis alguns 
discursos comuns: “Não sou eu que o amo é ele que me procura...; não sou eu covarde, 
indiscreto, desonesto, ladrão, imbecil, etc., e sim ele (a)...; não sou eu que o odeio, mas ele sim 
que me odeia...; não desejo atacá-lo, é ele quem deseja atacar-me”. 
Em casos extremos, o indivíduo pode atribuir a outro as qualidades que são inventadas 
como nos delírios de persecução dos paranóicos; ou atribuir aos outros, características que ele 
mesmo possui; em casos mais leves basta exagerar as qualidades dos outros, para disfarçar as 
próprias. Neste processo mental, o que se vê são os atributos da própria pessoa, não aceitos 
conscientemente e que são imputados a outrem, sem levar em conta os dados da realidade, 
quando o próprio indivíduo coloca no outro, sentimentos, desejos ou idéias que são dele 
próprio. Esse mecanismo ajudaria então a lidar de uma maneira mais fácil com esses 
sentimentos, contudo a dificuldade consciente está em se admitir determinadas 
“características” de nossa própria personalidade que são amenizadas projetando-as no outro. 
Para entender esse processo, podemos considerar um indivíduo que tem pensamentos 
de infidelidade durante um relacionamento. Ao invés de lidar com tais pensamentos 
indesejáveis de forma consciente, o indivíduo os projeta, subconscientemente, no parceiro (a) 
e começa então a acreditar que o outro é que tem pensamentos de infidelidade, alucina e até 
acredita que ele ou ela tem outros “casos”. Nesse sentido, a projeção psicológica está 
relacionada com a recusa ou negação, que é o único mecanismo de defesa mais primitivo que 
a própria projeção. Como todos os mecanismos de defesa, a projeção possibilita um 
instrumento para que a pessoa possa proteger sua mente consciente de um sentimento que, 
de outra forma, para ela, seria repugnante. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
11 
 
2.5 - DESLOCAMENTO 
Este mecanismo é uma modalidade da projeção. Por meio dele, o objeto de uma 
atitude inaceitável é substituído ou trocado por outro, tornando-se mais fácil e aparentemente 
mais lógico. O marido que recebe uma repreensão no seu trabalho pode justificar esse 
incidente e investir a agressão direcionando-a a um colega, um subalterno, a esposa, os filhos 
ou mesmo ao cachorro, descarregando sua raiva por não poder descarregar no seu chefe, a 
quem teme ou a deve favores. 
O impulso sexual dirigido para a esposa, namorada ou parceira, se insatisfeito, pode 
ser deslocado para a empregada, a prostituta, etc. Quantas esposas se tornam as culpadas 
pelo marido, um quarentão, tê-las substituído por alguma aventureira desqualificada. Os 
impulsos agressivos podem ser aliviados se substituídos por algum exercício violento, como 
chutar bola, boxe, cortar madeira, respiração profunda, assistir a luta livre, etc. Exercícios 
podem ser muito benéficos, de forma a impedir que haja o recalque, como também 
necessário, porque é uma boa saída ou escape à energia emocional que o acompanha. 
O processo psíquico do deslocamento também se dá através do “Todo ser 
representado por uma parte ou vice-versa”. Pode ser uma idéia representada por outra que, 
emocionalmente, esteja associada a ela, pois esse mecanismo não tem qualquer compromisso 
com a lógica. É o caso de alguém que, tendo tido uma experiência desagradável com um 
policial reaja, desdenhosamente, em relação a todos os policiais. É muito comum nos sonhos, 
onde uma coisarepresenta outra e também se manifesta na transferência por associação, 
fazendo com que o indivíduo apresente sentimentos em relação a um indivíduo e que, na 
verdade, lhe representa outra coisa que advém do seu passado. 
Esse fenômeno é particularmente visível na análise do sonho, encontra-se na formação 
dos sintomas psiconeuróticos e, de um modo geral, em todas as formações do inconsciente. 
Na teoria psicanalítica do deslocamento existe a hipótese econômica de que uma energia de 
investimento é suscetível de se desligar das representações e deslizar por caminhos 
associativos. O “livre” deslocamento desta energia é uma das principais características do 
modo como o processo primário rege o funcionamento do sistema inconsciente. Isso porque, é 
através deste mecanismo que um impulso ou sentimento é inconscientemente deslocado de 
um objeto original para um objeto substituto. 
 Assim, o deslocamento trata-se de um mecanismos fundamental da neurose e das 
fobias. O exemplo clássico é o do pequeno Hans, tratado por Freud. O menino não podia 
aceitar, conscientemente, a idéia de odiar seu querido pai, procurou resolver o conflito entre 
amor e ódio, deslocando os sentimentos negativos para os cavalos. Os impulsos agressivos e os 
temores de desejar a morte dirigida, originalmente ao pai, passaram para aqueles animais. Por 
isso Hans os temia, a ponto de não mais sair de casa para não ter de encontrá-los. É assim, por 
meio do deslocamento, que o indivíduo se protege do sofrimento que resultaria da consciência 
da real origem de um problema e seus efeitos vem à tona, mas o motivo original e real é 
disfarçado. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
12 
 
2.6 - IDENTIFICAÇÃO 
Já este é um processo psíquico, por meio do qual, um indivíduo assimila um aspecto, 
uma característica de outro e se transforma, se modela total ou parcialmente, apresentando-
se conforme o modelo apresentado desse outro. A personalidade constitui-se e diferencia-se 
por uma série de identificações. Ou seja, o indivíduo assimila alguma característica de outra 
pessoa, adotando-a como modelo. Na PNL chamamos isso de modelagem quando existe a 
identificação na excelência de padrões e comportamentos os quais se deseja “copiar” 
conscientemente (para aprender como fazer isso, inscreva-se na jornada Gestão das Emoções, 
nível I). Freud descreveu o trabalho de interpretação dos sonhos como um processo que traduz 
a relação de semelhança e, por substituição de uma imagem por outra “identificando-a”, ela 
por si só não traduz um valor cognitivo: trata-se simplesmente de um processo ativo que 
substitui uma identidade parcial ou uma semelhança latente, por uma identidade total. 
2.7 - REGRESSÃO 
Neste processo psíquico, o ego recua com o objetivo de fugir de situações de conflito 
atual e passa para um estágio anterior. É o caso de alguém que, depois de repetidas 
frustrações na área sexual, regrida, para obter satisfações, à fase oral, passando a comer em 
excesso. Considerada, em sentido tópico, a regressão se dá por uma sucessão de sistemas 
psíquicos cuja excitação percorre para determinada direção. No seu sentido temporal, a 
regressão supõe uma sucessão genética e designa o retorno do sujeito a etapas ultrapassadas 
do seu desenvolvimento (fases libidinais, relações de objeto, identificações, entre outras). 
Já no sentido formal, a regressão designa a passagem a modos de expressão e de 
comportamento de nível inferior do ponto de vista da complexidade, da estruturação e da 
diferenciação. A regressão é uma noção de uso muito freqüente na Psicanálise e na Psicologia 
contemporânea e é concebida, na maioria das vezes, como um retorno a formas anteriores do 
desenvolvimento do pensamento, das relações de objeto e da estruturação do 
comportamento. Freud foi levado a diferenciar o conceito de regressão, como demonstra esta 
passagem acrescentada, em 1914, em três espécies de regressões: 
 A) Tópica, no sentido do esquema do aparelho psíquico é particularmente 
manifestada no sonho, onde ela prossegue até o fim e encontra-se em outros processos 
patológicos em que é menos global (alucinação) ou mesmo em processos normais em que vai 
menos longe (memória); 
B) Temporal, em que são retomadas formações psíquicas mais antigas e; 
C) Formal, quando os modos de expressão e de figuração habituais são substituídos 
por modos primitivos. 
Estas são três formas de regressão, porém, na sua base e estruturação, são apenas 
uma, e na maioria dos casos coincidem, porque o que é mais antigo no tempo é igualmente 
primitivo e ancestral na forma, pois a tópica psíquica situa-se mais peto da extremidade 
perceptiva. De qualquer forma, esse retorno do indivíduo aos níveis anteriores do 
desenvolvimento se dá quando ele se depara com uma frustração que não consegue ou não 
sabe como elaborar. Por exemplo, o choro das pessoas em certas situações pode ser uma 
regressão à infância, que pode advir de uma situação em que o choro “resolveu o problema”, 
então a pessoa, inconscientemente, usa esse mesmo padrão para “resolver” a nova situação. 
Fumar e usar outros tipos de objetos orais pode proporcionar prazer momentâneo, e isso pode 
ser uma regressão, na medida em que nos remete à satisfação de quando éramos um bebê 
que utilizava a boca no ato de sugar o leite materno. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
13 
 
Também podemos utilizar a regressão para fantasiar, com o objetivo de criar uma 
válvula de escape e nos defender de ameaças e angústias. É muito eficiente, pois dissipa a 
angústia e nos torna capazes de enfrentar novamente o problema. Entretanto, de forma 
constante, nos afasta da realidade, nos fornece falsos e efêmeros sentimentos de triunfo e o 
despertar para a realidade pode ser extremamente doloroso (porque ocorrerá através das 
constantes pressões do mundo objetivo). 
2.8 - ISOLAMENTO 
Esse é um processo psíquico típico da neurose obsessiva e consiste em se isolar um 
comportamento ou pensamento, de tal maneira que, as suas ligações com os outros 
pensamentos ou com o autoconhecimento ficam absolutamente interrompidas, já que foram 
(os pensamentos, os comportamentos) completamente excluídos do consciente. Entre os 
processos de isolamento, cito as pausas no decurso do pensamento, fórmulas, rituais e, de um 
modo geral, todas as medidas que permitem o indivíduo estabelecer um hiato na sucessão 
temporal dos seus pensamentos ou dos atos. 
Isso envolve uma “separação de sistemas” para que os sentimentos perturbadores 
possam ser isolados, de tal forma que a pessoa se torna completamente insensível em relação 
ao acontecimento sublimado, comentando-o como se tivesse acontecido com terceiros. Em 
certas circunstâncias é possível manter, lado a lado, dois conceitos logicamente incompatíveis, 
sem tomarmos consciência de suas gritantes divergências o que também chamamos de 
“comportamentos lógicos de estanques”. 
Isolar uma, dentre as várias partes do conteúdo mental, de maneira que as interações 
normais que ocorreriam entre elas sejam reduzidas e, com isso, os conflitos sejam evitados. 
Um exemplo seria um ladrão que rouba e não experimenta os sentimentos de culpa que estão 
ligados a esse ato; outro seria o do filho que, após a morte de sua mãe fala com uma 
freqüente naturalidade sobre a morte dela. 
O isolamento manifesta-se em diversos sintomas obsessivos. Pode-se notar, 
particularmente, sua ação no tratamento dirigido à associação livre por lhe ser oposta, o que o 
coloca em evidência (sujeitos que separam radicalmente a análise da sua vida ou de 
determinada seqüência de idéias do conjunto da sessão, ou determinada representação do seu 
contexto ideoafetivo). Freud reduz, em última análise, a tendência para o isolamento a um 
modo arcaico de defesa contra a pulsão, a interdição de tocar, uma vez que “… o contato 
corporal éa finalidade imediata do investimento de objeto, quer o agressivo quer o terno”. 
Nesta perspectiva, o isolamento surge como “… uma supressão da possibilidade de 
contato, um meio de subtrair uma coisa ao contato; do mesmo modo, quando o neurótico isola 
uma impressão ou uma atividade por pausa, dá-nos simbolicamente a entender que não 
permitirá que os pensamentos que lhes dizem respeito entrem em contato associativo com 
outros”. Na realidade, penso ser interessante reservar o termo isolamento para designar um 
processo específico de defesa que vai da compulsão à uma atitude sistemática e concentrada, 
e que consiste numa ruptura das conexões associativas de um pensamento ou de uma ação, 
especialmente com o que os precede e os segue no tempo. 
2.9 - FORMAÇÃO REATIVA 
Este mecanismo inconsciente se dá pelas atitudes, desejos e sentimentos, 
desenvolvidos pelo ego o que, na verdade, trata-se da antítese do que realmente é almejado 
pelos impulsos. Uma atitude de extrema solicitude para com os outros pode esconder 
sentimentos inconscientes de hostilidade ou um indivíduo ativo e batalhador poderá, 
inconscientemente, ter desejos de passividade e submissão. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
14 
 
Na formação reativa, o impulso inconsciente, em geral, consegue uma indireta 
satisfação. O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de cuidados e 
benevolências, mas que, inconscientemente, o rejeita. Sua superproteção poderá satisfazer os 
impulsos hostis inconscientes, porque, pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade e o 
desenvolvimento da criança. É um processo psíquico que se caracteriza pela adoção de uma 
atitude de sentido oposto ao desejo que tenha sido recalcado, constituindo-se, então, numa 
reação contra ele. Ou seja, há uma inversão do desejo real que é ocultado. Outro exemplo é do 
indivíduo extremamente rígido em relação à moral ou à sua sexualidade que pode ocultar seu 
lado permissivo, inseguro, imoral ou promíscuo. 
O indivíduo justifica, explica e tenta, de certa maneira, usar a lógica pra disfarçar os 
verdadeiros sentimentos. Aquilo que não é facilmente aceito, é “explicado e justificado” na 
tentativa de tornar essa criatura mais conformada diante de determinados fatos. Neste 
processo psíquico, fica claro que um impulso indesejável é mantido inconsciente, por conta de 
uma forte e rígida adesão ao seu contrário. Muitas atitudes neuróticas são tentativas 
evidentes de querer se negar e reprimir alguns impulsos, ou de defender a pessoa contra um 
perigo instintivo. Nesta ordem, a Psicanálise desmascara e prova que a atitude oposta a 
original ainda está presente no inconsciente. O indivíduo que aja e comporte-se contituído de 
formações reativas não desenvolve alguns mecanismos de defesa que lhe sirvam ante a 
ameaça de perigo instintivo. Isso porque ele modificou a estrutura da sua personalidade, como 
se este perigo estivesse incessantemente presente, de maneira que esteja sempre em 
“prontidão” caso uma situação ameaçadora ocorra. 
2.10 - SUBSTITUIÇÃO 
Quando um objeto é valorizado emocionalmente e não pode ser possuído, ele é 
inconscientemente substituído por outro, e geralmente se assemelha ao proibido. Essa é outra 
forma de deslocamento, contudo o inconsciente oferece à consciência um substituto aceitável 
para o indivíduo por meio do qual ele possa satisfazer o id ou o superego. Ou seja, é a 
satisfação imaginária do desejo oculto, cujo processo de um objeto valorizado 
emocionalmente, mas que não pode ser possuído e é inconscientemente substituído por 
outro, que geralmente se assemelha ao proibido. Um exemplo, o do bebê chupar o dedo ou a 
chupeta para sentir prazer como se estivesse no seio da mãe. 
2.11 - FANTASIA 
Neste processo psíquico o indivíduo concebe uma situação em sua mente que satisfará 
uma necessidade ou desejo que não podem ser, na vida real, satisfeitos. Trata-se da criação de 
um roteiro no qual o indivíduo imagina estar presente e representa de modo mais ou menos 
deformado, os processos defensivos onde a realização desse desejo é, em última análise, 
inconsciente. A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades: 
A) Fantasias conscientes ou sonhos diurnos; 
B) Fantasias inconscientes como as que a análise revela como estruturas subjacentes a 
um conteúdo manifesto e; 
C) Fantasias originárias, as quais um conjunto de ideias ou imagens mentais objetivam 
a resolução dos conflitos intrapsíquicos por meio da satisfação imaginária dos impulsos. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
15 
 
As fantasias conscientes, muito comuns na adolescência são também chamadas de 
sonhos diurnos. Em qualquer indivíduo as fantasias podem atuar como um saudável 
mecanismo de adaptação à realidade externa sempre que a obtenção de determinados 
desejos são impossíveis de satisfação imediata. Por exemplo, um estudante percebe seus 
professores demasiadamente austeros e exigentes, imagina-se como um futuro professor que 
tem, para com seus alunos, atitudes indulgentes e compreensivas. 
As fantasias inconscientes são formadas no próprio inconsciente ou se tornam 
conscientes para depois serem recalcadas. Por exemplo, fantasias a respeito do nascimento ou 
de relações incestuosas em geral são inconscientes. Sabemos delas por suas manifestações 
indiretas nos sonhos, nos jogos infantis, entre outras, como nas obras artísticas (minha tese se 
fundamenta em parte do trabalho da artista pictórica portuguesa Paula Rego). A fantasia se 
reveste de um caráter patológico quando tende a impedir continuamente a resolução dos 
conflitos, a satisfação real dos impulsos vitais e o contato verdadeiro com a realidade. 
2.12 - COMPENSAÇÃO 
Trata-se do mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo, inconscientemente, procura 
compensar uma deficiência real ou imaginária. Exemplo: Um homem com um defeito físico 
pelo qual se sinta inferiorizado perante aos demais, irá dispender energia e grandes esforços 
para desenvolver sua capacidade intelectual para chegar a tornar-se uma pessoa famosa ou 
poderosa socialmente. Não há consciência de que o prestígio ou poder alcançados foram 
motivados por seus sentimentos de inferioridade. 
Nesse processo psíquico, em que o indivíduo se compensa por alguma deficiência, seja 
física, intelectual ou emocional pela imagem que tem de si próprio. Por meio de outros 
aspectos que o caracterize, ele passará a considerá-lo como um triunfo. Há também a 
idealização e a supercompensação, Na primeira, idealizando o objeto amado (namorado, 
namorada), todas as qualidades boas lhe são atribuídas, existentes ou não, ao ponto do seu 
espírito crítico não ser mais capaz de discernir racionalmente a respeito. 
O neurótico formou seu “ideal” errado e a qualquer preço o quer conservar. Já pela 
supercompensação, outra espécie de deslocamento, uma atitude recalcada pode ser 
substituída pela sua oposta. Assim, a crueldade violenta que subjaz, inconscientemente no 
indivíduo e está recalcada pode ser compensada por uma compaixão e ternura extremas e 
exageradas pelos sofrimentos alheios (pessoas hiper-super-caritativas e freiras virgens que se 
esforçam em demasia para cuidar de crianças órfãs, que elas mesmas não puderam ter...). Essa 
hostilidade reprimida pode ser compensada, por uma submissão e humildade extremas; os 
sentimentos de timidez, de insegurança ou de inferioridade, compensam-se, muitas vezes, 
pela postura e exigências de um valentão-medroso. Um valente policial ou o mais perigoso 
meliante “armado” pode resultar no mais medroso ser humano, quando “desarmado”. O 
sentimento vaidoso da mulher pode ser supercompensado, quando possa aparecer como “a 
primeira ou a mais”, nem que seja a mais feia, a mais gorda, a mais intragável entre outros 
atributos. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-5016 
 
2.13 - EXPIAÇÃO 
Neste processo psíquico, o indivíduo deseja ser punido, quer pagar por um erro que 
tenha cometido imediatamente. O conceito secular de expiação passa por crenças sociais e 
normativas de que o “sofrimento nos redime das culpas”. Este é um dos sentimentos básicos 
instituídos pela vida individual, social e religiosa. Nosso código penal e as práticas religiosas do 
ascetismo, flagelação e penitências baseiam-se nele. O pecador libera-se da culpa pela 
penitência e o criminoso fica liberado e pode voltar à sociedade, depois de ter expiado sua 
culpa, cumprindo plenamente sua pena. 
 Assim, um dos mecanismos da defesa do ego mais comuns está baseado neste 
silogismo emocional de raízes psicológicas extremamente profundas: o de que o sofrimento 
expia e redime a culpa. Através do sofrimento, as pretensões do superego são satisfeitas e sua 
vigilância contra as tendências recalcadas no inconsciente são relaxadas, uma vez que as 
debilidades culposas do ego ficam punidas. Existe uma seqüência de acontecimentos 
derivados desse raciocínio: mau comportamento gera ansiedade que gera a necessidade de 
punição por meio da expiação e posteriormente o perdão, o esquecimento e a redenção. 
Para minorar a ansiedade originada desse sentimento de culpa, surge o desejo de ser 
punido para não ser rejeitado e continuar sendo amado. O próprio indivíduo que se sente 
culpado pode chegar a punir a si mesmo ou exigir que outros o castiguem. Este desejo de 
purificação, juntamente com outro sentimento oculto, o de ser admirado e ser amado por seus 
grandes sofrimentos (ser a mais sofredora ou sofredor) é o que leva muitos indivíduos ao 
masoquismo emocional ou físico. Assim, as pessoas que dispõem deste mecanismo castigam a 
si próprias, internamente através de seus sintomas psicopatológicos (doenças psicossomáticas) 
ou por penitências e castigos externos (flagelação e uma modalidade que surge nesses tempos 
modernos é o cutting, ou seja, o hábito de se cortar como forma de punição). 
2.14 - NEGAÇÃO 
A tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio sentimento de 
dor. É muito comum nas crianças pequenas negar realidades desagradáveis porque a negação 
realiza desejos ou simplesmente exprime a efetividade do princípio do prazer. A capacidade de 
negar fatos desagradáveis da realidade tem sua contrapartida na “realização alucinatória dos 
desejos”. Anna Freud chamou este tipo de recusa do reconhecimento do desprazer em geral 
“pré-estágios de mecanismos de defesa”. Nesse sentido, eu atribuo nas crianças a negação 
convertida em refúgio psíquico, uma forma elementar e básica para que o infante encontra 
para se desenvolver psíquica e mentalmente da maneira mais saudável possível, diante das 
pressões e angústias acarretadas em um ambiente familiar disfuncional. 
Já nos adultos, com freqüência usamos o mecanismo da negação do mundo exterior e 
dos conflitos interiores quando nosso ego se sente incapaz de superá-los. Então, passamos a 
ignorá-los para não ter que aceitá-los. “Estão verdes, dizia a raposa das uvas, que não podia 
alcançar”... Na impossibilidade de enfrentar certos fracassos ou situações difíceis de 
superação, um ego enfraquecido pode optar em fugir para situações onde supõe que sejam 
mais aceitáveis. Isso pode acontecer pela impossibilidade de agüentar um pai extremamente 
rigoroso, na impossibilidade de casar ou no caso de um namoro fracassado onde o indivíduo 
pode usar desse expediente para procurar fortuna no exterior, ingressar no exército ou num 
convento entre outros tantos exemplos de fuga e negação da realidade. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
17 
 
O isolamento é outra variante de fuga e nos casos de angústia invencível o indivíduo 
freqüentemente desiste e isola-se do drama. Quem não pode prevalecer sobre outra pessoa 
ou se sente fracassar em seu relacionamento com ela “isola-se dela”, corta as relações e, às 
vezes, quando isso se generaliza o indivíduo torna-se totalmente isolado, introvertido e 
neurótico. De certo modo, muitos introvertidos não o são por condicionamento filogenético, 
mas por condicionamento psíquico-educacional, por causa desta classe de “fuga, negação ou 
isolamento de uma realidade”. Ou são geralmente ambivalentes: muito faladores e às vezes, 
sentem grande prazer em estar sozinhos. 
2.15 - INTROJEÇÃO 
Originalmente, a idéia de engolir um objeto exprime uma afirmação, como tal é o 
protótipo de satisfação instintiva e não de defesa contra os instintos. No estágio do ego 
prazeroso e purificado, tudo o que possa agradá-lo é introjetado. Em última análise, todos os 
objetos sexuais derivam de objetos de incorporação. Ao passo que a projeção é o protótipo da 
recuperação daquela onipotência que foi projetada para os adultos, já a incorporação, embora 
exprima “amor”, destrói os objetos como tais, como coisas independentes do mundo exterior. 
Ao perceber este fato, o ego aprende a usar a introjeção para fins hostis como executora de 
impulsos destrutivos e como modelo definido de defesa. A incorporação é o mecanismo mais 
arcaico dentre os que se dirigem para um objeto, porque a identificação realizada através da 
introjeção é o tipo mais primitivo de relação objetal. 
2.16 - CONVERSÃO ORGÂNICA 
Entendo que esse é o mecanismo precursor e gatilho de doenças psicossomáticas, pois 
é pela conversão orgânica que se estabelecem os conflitos psíquicos inaceitáveis, os quais se 
convertem em conflitos orgânicos, patológicos e inconscientes. E são numerosas as 
perturbações psicossomáticas dos histéricos, desde as contrações musculares, falsas paralisias, 
perturbações sensoriais, tiques, gagueiras, morder as unhas entre outras. Existe o exemplo de 
Ana O. que converteu em paralisia no braço o medo de vê-lo convertido numa serpente, como 
tinha sonhado e o nojo, ao ver o cachorro beber a água do copo, impossibilitando-a dela 
própria levar o copo à boca para beber. Então, é “preferível morrer de sede e não beber a água 
que morrer de nojo bebendo-a e compartilhano-a com o cachorro”. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
18 
 
3 - DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL 
Fases Oral, Anal, Fálica, Latência e Genital 
 
Um bebê recém-nascido, segundo Freud, “borbulha de energia” (libido, energia 
psíquica). No entanto, esta energia é, sem foco ou direção, o que não permitiria a 
sobrevivência. Como, então, faz a criança desenvolver a habilidade de controlar e dirigir suas 
energias? A energia psíquica é um conceito importante na psicologia freudiana. A estrutura 
da mente e do desenvolvimento de todos giram em torno de como o indivíduo tenta lidar com 
a energia psíquica. Impulsos libinais fornecem o combustível básico que a mente possa 
executar o desejo. Mas o veículo (mente) precisa bem formado e bem afinado a fim de obter 
o máximo de energia na sua conquista. 
 A fim de compreender o desenvolvimento (e neuroses) devemos então “seguir essa 
energia pulsional” e ver para onde ela vai. Tal como acontece com a energia física, a energia 
psíquica não pode ser criada ou destruída em um sentido figurado, entretanto pode ser 
tratadas de maneira não-óbvia. Então, de onde a percepção do desejo da criança, do 
adolescente, do adulto está é de onde a energia ficará focada e Freud acreditava que esse 
desenvolvimento ocorre quando o bebê começa a concentrar seu desejo em um primeiro 
objeto e depois noutro. Como foco, a criança muda o estilo e tipo de gratificação e procura 
alterá-lo conforme seu desenvolvimento. Os objetos de foco para a energia da criança em 
desenvolvimento servem para definir cinco principais etapas do desenvolvimento psicológico: 
- Oral (0-18 meses) 
- Anal (entre os 18 meses até cerca dos dois anos) 
- Fálica (entre os dois anos até cerca dos seis anos) 
- Latência (dos seis anos à puberdade) 
-Genital (da puberdade à fase adulta) 
Cada estágio psicossexual possui três partes principais: 
Na 1ª - Há um foco físico que surge quando criança concentra sua energia pulsional 
para uma gratificação que quer obter; 
Na 2ª - Surge um tema psicológico que se relaciona ao físico e ao foco das exigências 
feitas sobre a criança pelo resto do mundo e como ele ou ela se desenvolvem. Para cada fase, 
pode haver dois extremos na reação psicológica - a de querer fazer muito ou não obter o 
suficiente do que lhe parece ser o ideal e; 
Na 3ª - Aflora um tipo de personagem adulto já que nas três primeiras fases e etapas 
do desenvolvimento surge um tipo de traço de caráter no adulto que é aquele que está 
relacionado a alguma possível fixação em alguma das fases ou mesmo se o indivíduo estiver 
preso nas mesmas. Se um indivíduo não resolve as questões psicológicas que surgem em 
algumas dessas fases ele terá problemas relacionados às respectivas fases associadas. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
19 
 
Sigmund Freud desenvolveu uma teoria de como a nossa sexualidade começa a partir 
de estágios na mais tenra idade e se desenvolve através de várias fixações. Se essas etapas 
não estão psicologicamente finalizadas e resolvidas o indivíduo pode ficar preso por elas e 
podem levar a termo vários mecanismos de defesa para evitar a ansiedade produzida pelos 
conflitos oriundos a elas em frente a realidade imediata. 
 OS ESTÁGIOS 
 IDADE FASE FONTE DE PRAZER CONFLITO 
0-2 Oral 
 Boca: sucção, mordida, 
deglutição 
 Desmame e 
afastamento do 
peito da mãe 
 2-4 Anal 
 Ânus: defecar ou reter as 
fezes 
 esfincteriano 
 4-5 Fálica Órgãos genitais 
Édipo (meninos), 
Electra (meninas) 
 6-puberdade Latência 
 Impulsos sexuais sublimadas 
em esportes e hobbies. 
amigos do mesmo sexo 
também ajuda a evitar 
sentimentos sexuais. 
 
Da puberdade 
em diante 
 Genital 
 As alterações físicas sexual 
despertar necessidades 
reprimidas. Direito aos 
sentimentos sexuais em 
relação aos outros que levem 
o sujeito à gratificação sexual. 
 As regras sociais 
 
3.1 - FASE ORAL: DO NASCIMENTO AOS 18 MESES (APROX.) 
Foco físico: a boca, a língua, os lábios (sucção). A sucção é a principal fonte de prazer 
para um recém-nascido. Tudo passa e vai pela boca, a exemplo da amamentação. 
Tema psicológico: a dependência. Um bebê é muito dependente e pouco pode fazer 
por si. Se os bebês têm as necessidades devidamente cumpridas podem avançar para a 
próxima fase. Mas se o bebê não tem preenchidas suas necessidades será desconfiado ou se 
superpreenchidas o bebê vai achar que é difícil lidar com um mundo que não atende a todas 
suas expectativas e exigências. 
Adulto personagem: altamente dependente / altamente independente. Se o bebê 
torna-se fixado, nesta fase, Freud achava que ele ou ela crescerá com a predisposição para ter 
um caráter oral. Para maior parte dessas pessoas se tornam indivíduos extremamente 
dependentes e passivos, que querem que tudo seja feito por eles. No entanto, Freud sugere 
ainda que, há outro tipo de caráter oral que é a pessoa que é muito independente e que, 
quando sob estresse o indivíduo, por via oral fixada, pode se transformar de um tipo para 
outro. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
20 
 
Isto exemplifica a doutrina de Freud opostos. A fixação oral pode resultar em duas 
possibilidades: tornar o receptivo da personalidade oral que está preocupado com a 
alimentação e ingestão de bebidas e reduz a tensão através da atividade oral, como comer, 
beber, fumar, roer as unhas. São geralmente indivíduos passivos, carentes e sensíveis à 
rejeição. São indivíduos que vão facilmente “engolir” as idéias de outras pessoas. Já os de 
personalidade agressiva oral tornam-se hostis e verbalmente se defendem do outro, usando 
como base a agressão verbal e a boca. 
3.2 - FASE ANAL: DOS 18 MESES AOS 3,5 ANOS (APROX.) 
Foco físico: o ânus (eliminação/retenção). Até agora, o bebê teve uma vida muito fácil e 
se pressupõe que ele controle suas entranhas e seus esfíncteres. Freud pressupôs que é nesse 
estágio no qual o bebê concentra seu prazer sexual, ou seja, em torno do ânus. 
Tema psicológico: controle/obediencia. Esses aspectos não estão apenas relacionados 
com o treinamento do toalete como, também, o de que o bebê deva aprender a controlar seus 
impulsos e comportamentos (pó sinal terríveis, a partir dos dois anos). O que vai mal aqui é se 
os pais forem demasiadamente controlares ou não controlarem seus impulsos o suficiente 
(Freud era um grande apoiador na moderação e no equilíbrio). 
Adulto personagem: o anal retentivo, pois se tornou uma pessoa rígida, excessivamente 
organizada, subserviente à autoridade e o seu inverso é a anal expulsiva, com pouco 
autocontrole, desorganizada, desafiadora e hostil. A fixação anal pode ter sido causada por 
punição durante o treinamento do toalete e tem dois resultados possíveis: formar a 
“personalidade retentiva anal” o que torna o indivíduo mesquinho, com uma procura 
compulsiva por ordem e arrumação. O indivíduo geralmente torna-se teimoso e perfeccionista. 
Já o “expulsivo da personalidade anal” é o oposto do retentivo, cuja personalidade tem 
características de falta de autocontrole e tornam geralmente esses indivíduos confusos e 
desatentos. 
3.3 - FASE FÁLICA: DOS 3,5 ANOS AOS 6 ANOS (APROX.) 
Foco físico: o pênis. Freud acreditava que tanto os meninos quanto as meninas estariam 
predispostos a se focarem no pênis. Para os meninos, surgiria a questão: por que ela não tem 
um? Já para as meninas: - por que não tenho um pênis? Normalmente, as crianças tornam-se 
particularmente interessadas em brincar com seus órgãos genitais nessa fase. 
Tema psicológico: a moralidade, a identificação da sexualidade e o desejo de descobrir o 
que significa ser uma menina ou um menino. As crianças, de acordo com Freud, têm 
sentimentos sexuais para com o pai frente a esta fase sexuada (e dificuldade em lidar com os 
complexos de Édipo / Electra - que é basicamente o apego erótico ao genitor do sexo oposto. E 
uma vez que esses sentimentos não são socialmente aceitáveis, as crianças podem se tornar 
hostis ou sentirem alguma hostilidade ao genitor do mesmo sexo. Os meninos sofrem de 
ansiedade e passam por experiências fantasiosas cujo medo é o da castração, já as meninas 
sofrem pela inveja do pênis. Durante esse tempo, os conflitos emocionais são resolvidos em 
virtude da eventual identificação com o genitor do mesmo sexo. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
21 
 
Adulto personagem: sexualizado ou promíscuo ou amoral / assexualizado e puritano 
(doutrina dos opostos). A fixação fálica se dá entre a idade de 5 a 6 anos, perto do final da fase 
fálica. Meninos experimentam o Complexo de Édipo enquanto as meninas experiência do 
Conflito de Electra (particularmente eu não o adoto. O Complexo de Édipo nos oferece pistas 
suficientes de resolução ou não desse estágio). Este é um processo através do qual, ambos, 
menino e menina aprendem a se identificar com o genitor do mesmo sexo e emulam o seu 
jeito de ser, às vezes muito semelhante com o que lhe é possível modelar. Os meninos sofrem 
de uma ansiedade de castração porque consideram que seu pai sabe sobre seu desejo em 
relação à sua mãe e, portanto, teme que ele irá castrá-lo. 
Assim, ele reprime seu desejo e, defensivamente, se identifica com o pai. Já as meninas 
sofrem de uma inveja do pênis, onde a filha está inicialmente ligada à mãe, mas uma mudança 
de ligação brusca ocorre quando ela percebe que não tem um pênis. Ela quer o pai e o vê 
como um meio para obter um substituto do pênis (uma criança). Então, reprime o desejo que 
sente pelo seu pai, incorpora os valoresde sua mãe e aceita sua pseudo “inferioridade”, 
inerente à sociedade e a cultura. Óbvio que Freud, mais tarde, se retratou dizendo que talvez 
tivesse dado demasiada ênfase na conotação sexual (isso em virtude da sociedade da época). 
3.4 - FASE DA LATÊNCIA: DOS 6 ANOS ATÉ A PUBERDADE (APROX.) 
Esta fase, a da latência trata-se de um período de relativa tranqüilidade, onde os 
impulsos sexuais e agressivos são menos ativos e há pouca conformação de conflitos 
psicossexuais. 
 
3.5 - FASE GENITAL: 18 ANOS (APROX.) 
Foco físico: os órgãos genitais. 
Tema psicológico: a maturidade, a criação e a valorização da vida. Portanto, esta fase 
não se trata apenas sobre a geração e criação de uma nova vida (reprodução), como também 
sobre a criatividade intelectual e artística. A tarefa nesse momento é a de aprender como 
adicionar algo construtivo para a própria vida e a sociedade. 
Adulto personagem: O caráter genital não é fixado em um estágio anterior. Este é o 
indivíduo que se obteve uma conformação para fora, para o mundo. O sujeito está 
psicologicamente bem ajustado e equilibrado e, de acordo com Freud, para atingir este estagio 
é preciso ter um equilíbrio entre ambas variáveis que são amor e trabalho. Se um indivíduo 
teve problemas durante qualquer uma dessas fases psicossexuais e que não são efetivamente 
resolvidos, então ele vai se fixar em uma das fases anteriores e, quando sob estresse, regredirá 
cada vez mais apresentando características da fase correspondente à sua fixação. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
22 
 
3.6 - A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIK ERIKSON 
Esta Teoria foi desenvolvida por Erik Erikson, nascido em 15 de junho de 1902, na 
Alemanha e falecido aos 92 anos de idade nos Estados Unidos. Estranho ou não, ele é 
considerado o primeiro psicanalista infantil norte-americano (vai entender os americanos). 
Tornou-se psicanalista após trabalhar com Anna Freud, porém, em seus estudos, não focou 
somente no id e nas motivações conscientes como os demais psicanalistas, e sim nas crises do 
ego e no problema da formação da identidade. A Teoria Eriksoniana é dividida em oito fases, 
mas com algumas características peculiares e correlacionadas às de Freud: 
 O ego é o seu foco, ao invés de Freud cujo olhar estava para o id; outras etapas do 
ciclo vital são estudadas. Freud valorizou a infância e Erikson reconhece o grande valor dessa 
etapa sem desvalorizar as demais como adolescência, idade adulta e velhice; 
 Em cada um dos oito estágios o ego passa por uma crise. O desfecho da crise pode ser 
positivo (ritualização) ou negativo (ritualismo); Entende-se por ritualização a substituição de 
certos comportamentos que perdem a sua função primitiva para se tornarem cerimônias 
simbólicas e aí surge um novo movimento instintivo cuja forma imita o comportamento e 
assume outra função. Já o rito advém do ato religioso simbólico e institucionalizado. Para 
realizar este ato utilizam-se, por vezes, objetos. Do ponto de vista da antropologia, o rito visa 
manter mitos religiosos ou sociais, ou, pelo menos, permitir-lhe representar crenças mágicas 
em uma sociedade. Em outras palavras, regras e cerimônias que devem ser observadas na 
prática de uma religião. 
 Já o ritual é conjunto de práticas consagradas pelo uso ou normas e devem ser 
observadas de forma invariável em ocasiões determinadas Portanto, o ritualismo trata-se do 
conjunto de ritos e evidencia o apego excessivo às cerimônias, sem suficiente atenção ao 
significado que veiculam. 
 De um desfecho positivo surge um ego mais forte e estável, enquanto o desfecho 
negativo gera um ego mais fragilizado; ocorre a reformulação e reestruturação da 
personalidade após cada crise do ego. Os estágios citados são chamados Estágios Psicossociais 
e correspondem às oito crises do ego que servem para fortificá-lo ou fragilizá-lo, dependendo 
do desfecho. Os termos - forte e frágil são usados no sentido freudiano. As crises que dão 
nome aos estágios psicossociais são: 
 Confiança básica X Desconfiança básica 
 Autonomia X Vergonha e Dúvida 
 Iniciativa X Culpa 
 Diligência X Inferioridade 
 Identidade X Confusão de Identidade 
 Intimidade X Isolamento 
 Generatividade X Estagnação 
 Integridade X Desespero 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
23 
 
3.6.1 - CONFIANÇA BÁSICA X DESCONFIANÇA BÁSICA 
Esta fase é análoga à fase oral na Teoria de Freud. Nela o bebê mantém seu primeiro 
contato social - com seus provedores – os quais, geralmente é a mãe quem assume esse papel. 
Para a criança, a mãe é um ser supremo, mágico, aquele que fornece tudo o que ela necessita 
para estar bem. Quando a mãe lhe falta, o bebê experimenta o sentimento de esperança. Por 
vezes, ele irá chorar e terá de esperar que sua mãe volte. Quando isso ocorre com freqüência, 
há o desfecho positivo e a Confiança Básica é desenvolvida e ao testá-la, ela é reforçada 
positivamente e introjetada. Do contrário, se a mãe não retorna ou demora muito a fazê-lo, o 
bebê perde a esperança. Esse é um desfecho negativo, e o que se desenvolverá é 
Desconfiança Básica. É necessário, portanto, que os provedores e cuidadores tratem a criança 
com muita atenção, carinho e paciência para que a confiança, a segurança e o otimismo se 
consolidem e sejam introjetados. Sem esses sentimentos, a criança crescerá insegura e 
desconfiada. 
Para Erikson, o excesso de carinho e cuidado podem, também, ser maléficos porque a 
criança visualiza sua mãe como algo muito superior, muito boa, perfeita, algo que jamais ela 
mesma poderá vir a ser. Por conta disso, ela desenvolverá a agressividade e a desconfiança 
que, no futuro, se transformarão em níveis baixos de competência, entusiasmo e persistência. 
A Confiança Básica é importante, porque é a partir dela que a criança aprenderá a confiar nos 
seus provedores externos e também na sua própria capacidade interna, em seus órgãos para 
buscar saciar seus desejos. 
3.6.2 - AUTONOMIA X VERGONHA E DÚVIDA 
A partir do controle de seus músculos, a criança inicia a atividade exploratória do seu 
meio. É neste momento que os pais surgem para ajudar a limitar essa exploração. Há coisas 
que a criança não deve fazer e seus pais devem se utilizar de meios para ensinar a criança a 
respeitar certas regras sociais. Esta crise culminará na estruturação da autonomia e pode ser 
comparada à fase anal freudiana. 
Os pais fazem uso da vergonha e do encorajamento para dar o nível certo de autonomia 
à criança enquanto ela aprende as regras sociais. Se a criança for exposta a vergonha 
constante, ela poderá reagir com o descaramento e a dissimulação, tornando-se um adulto 
com o sentimento freqüente de vergonha e dúvida sobre suas potencialidades e capacidades. 
O sentimento que se desenvolve nesta etapa é o da vontade. À medida que suas capacidades 
físicas e intelectuais se desenvolvem, ajudando-a na atividade exploratória, a criança tende a 
ter vontade de conhecer e explorar ainda mais. Porém, como também começa a assimilar as 
regras sociais, é necessário cuidado para que a vontade não seja substituída pelo controle. 
O controle sobre as regras que devem ser cumpridas a qualquer preço é algo ruim para a 
criança, porque ela pode se sentir bem ao ver outras pessoas (colegas, por exemplo) serem 
punidas pelo descumprimento destas normas e, ela mesma pode se sentir bem se for punida. 
Neste momento dizemos que a criança está se tornando legalista, ou seja, aprende a respeitar 
as normas. Neste estágio, o principal cuidado que os pais precisam tomar é dar um grau certo 
de autonomia à criança. Contudo, se exigida demais, a criança verá que não consegue dar 
conta dessa liberdade e sua auto-estima vai baixar. Se ela é pouco exigida, ela tem a sensação 
de abandono ede dúvida sobre suas reais capacidades. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
24 
 
Se a criança é amparada ou protegida demais, ela vai se tornar frágil, insegura e 
envergonhada. Se ela for pouco amparada, ela se sentirá exigida além de suas capacidades. 
Vemos, portanto, que os pais precisam dar à criança a sensação de autonomia e, ao mesmo 
tempo, estar sempre por perto, prontos a auxiliá-la nos momentos em que a tarefa estiver 
além de suas capacidades. Quando a criança começar a perceber de onde vem a sua vergonha 
(pais, objetos, adultos), ela vai evitar expressar-se diante deles. Cabe então às pessoas que 
convivem com ela explicar, carinhosamente, o que ela pode e o que não pode e não consegue 
fazer. 
3.6.3 - INICIATIVA X CULPA 
Comparada à fase fálica freudiana, é neste período, somado à confiança e à autonomia 
adquiridas nas etapas anteriores que chega a vez da iniciativa. Esta se manifesta quando a 
criança deseja alcançar uma meta e planeja suas ações, utilizando-se de suas habilidades 
motoras e intelectuais para isso. A iniciativa surge para atingir metas que, muitas vezes, 
podem se tornar uma fixação. Na Teoria de Freud a principal fixação que ocorre neste período 
é o Complexo de Édipo, caracterizado pela fixação genital pelo progenitor do sexo oposto. 
Assim, meninos nutrem verdadeira paixão por suas mães enquanto as meninas 
identificam-se mais com seus pais. Para Erikson, assim como para Freud, as metas elaboradas 
são impossíveis. Então toda a energia despendida em busca de algo socialmente inalcançável é 
revertida para outras atividades. É nesse período que as crianças ampliam seus contatos, 
fazem mais amigos, aprendem a ler e escrever que são frutos da energia proveniente da 
iniciativa. 
O senso de responsabilidade também pode ser desenvolvido durante esta terceira crise 
do ego. Nela, a criança sente a necessidade de realizar tarefas e cumprir papéis. Os pais devem 
dar oportunidade aos filhos para que eles realizem tarefas condizentes com seu nível motor e 
intelectual. É necessário que a tarefa seja possível de ser cumprida. Outras, como o desafio 
podem ser mais complexas, porém devem ser realizadas como apoio de alguém. 
3.6.4 - DILIGÊNCIA X INFERIORIDADE 
Quando a criança se torna confiante, autônoma e desenvolve a iniciativa para objetivos 
imediatos, passa à nova fase do desenvolvimento psicossocial - aquela que na Teoria 
Freudiana é chamada de fase de latência e que teve menos destaque - onde a criança aprende 
mais sobre as normas sociais e o que os adultos mais valorizam. 
Aqui as tarefas realizadas de maneira satisfatória remetem à idéia de perseverança, 
recompensa ao longo prazo e competência no trabalho. O ego está sensível, uma vez que se 
falhas ocorrerem ou se o grau de exigência for alto, ele voltar a níveis anteriores de 
desenvolvimento, implantando o sentimento de inferioridade na criança. 
Surge o interesse pelas profissões e a criança começa a imitar papéis numa perspectiva 
imatura, mas em evolução, de futuro. Por isso, pais e professores devem estimular a 
representação social da criança a fim de valorizar e enriquecer sua personalidade, além de 
facilitar suas relações sociais. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
25 
 
3.6.5 - IDENTIDADE X CONFUSÃO DE IDENTIDADE 
A adolescência é o período no qual surge a confusão de identidade. Questões como: O 
que sou? O que serei? Será que serei igual aos meus pais? serão levantadas e, somente 
quando forem respondidas, terá sido superada esta crise do ego. O adolescente se influencia 
facilmente pelas opiniões alheias e isso faz com que ele assuma posições variadas em 
intervalos de tempo muito curtos. Este estágio pode fazer o ego regredir como forma de fuga 
ao enfrentamento desta crise. 
Na Teoria Eriksoniana, quanto mais bem vividas as crises anteriores, ou seja, quando a 
Confiança Básica, a Autonomia, a Iniciativa e a Diligência têm desfechos positivos, mais fácil se 
tornará a superação da Crise de Identidade do ego. Lealdade e fidelidade para consigo mesmo 
são características do desfecho positivo desta etapa e estes sentimentos sinalizam para uma 
estabilização dos propósitos do indivíduo e para o senso de identidade contínua. 
3.6.6 - INTIMIDADE X ISOLAMENTO 
A identidade já está estabilizada, o ego está fortalecido e o indivíduo aprenderá conviver 
com outros egos. A vontade de uniões e casamentos surgirão espontaneamente nesta fase. Se 
as crises anteriores não tiveram desfechos positivos, a pessoa tende ao isolamento como 
forma de preservar seu ego frágil. 
O isolamento pode ocorrer por períodos curtos ou longos. No caso de um período curto, 
não podemos considerar negativo já que o ego precisa desses momentos para evoluir. Porém, 
quando o isolamento é longo e duradouro o desfecho dessa crise está sendo negativo. Erikson 
definiu o elitismo também como desfecho negativo desta fase. 
O elitismo consiste em uma espécie de narcisismo comunal ou em comunidade ou seja 
trata-se da formação de grupos fechados de pessoas identificadas com egos semelhantes 
caracterizam a incapacidade de conviver com outros egos e, portanto, os indivíduos não 
superam esta crise. 
3.6.7 - GENERATIVIDADE X ESTAGNAÇÃO 
Caracteriza-se pela necessidade que o indivíduo tem de gerar. Gerar qualquer coisa, 
algo que o faça se sentir produtor e mantenedor que pode ser filhos, negócios, pesquisas etc. 
Este é o resultado de quando um indivíduo tem um olhar para sua própria vida e percebe tudo 
o que produziu. Se houver satisfação, um sentimento de orgulho sem soberba pelo resultado 
até então ele sentirá a necessidade de compartilhar, de ensinar tudo o que sabe e o que 
aprendeu com outras pessoas. Se existe a oportunidade deste compartilhamento, o indivíduo 
sente que deixou algo de si nos e para os outros e o desfecho é extremamente positivo. 
Por outro lado, se houver o movimento oposto isto irá acarretar o sentimento da 
estagnação e possivelmente do fracasso. O não-compartilhamento de suas conquistas e 
criações com os outros acarreta o que Erikson chamou de estagnação que pode ser 
considerado um desfecho muito negativo. O fato de ser mais velho que um determinado grupo 
pode fazer com que o indivíduo sinta que tem alguma autoridade sobre os mais novos e, dessa 
autoridade em excesso, surgirá o autoritarismo e até a tirania. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
26 
 
3.6.8 - INTEGRIDADE X DESESPERO 
A Teoria Eriksoniana define esta fase como a final do ciclo psicossocial. É o que nós, 
psicanalistas, chamaríamos de culminância ou avaliação. E dessa fase há duas possibilidades: 
1º) o desfecho positivo, onde o indivíduo procura estruturar seu tempo, olha para trás 
e percebe o quanto viveu, produziu e gora é hora de se utilizar das experiências vividas em prol 
de viver bem seus últimos anos de vida ou; 
2º) o desfecho negativo, no qual irá se estagna diante do terrível fim, pois os filhos já 
se foram, as carícias desapareceram e o indivíduo entrará em desespero por coisas que 
gostaria de ter feito e não as realizou. 
 
MYTHOS | Prof. Ms. Valter Barros Moura – CRP 5701049-50 
 
27 
 
4 - A QUESTÃO DO AMOR TRANSFERENCIAL 
O conceito de transferência, em análise, não é fácil para muito profissionais 
elaborarem e compreenderem, dado que, a transparência e a clareza, não são virtudes 
constantemente presentes no campo das relações humanas. Inclusive, a relação que se 
estabelece entre analisando e analista, cuja base se encontra alicerçada em um amor fictício 
(automático e freqüentemente inconsciente) é regido por um registro simbólico e imaginário 
que procura dar conta do real da existência do indivíduo. Isso acontece, pois geralmente ama-
se aquele que se supõe saber algo sobre si. Existe a crença imaginária de que ao amar esse

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes