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1 RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS EM FACE DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS DA PESSOA JURÍDICA Juliana Legunes Nenes 1 Reisson Ronsoni dos Reis 2 RESUMO Não é incomum, embora não dependa somente da vontade do Fisco, a desconsideração da personalidade jurídica de pessoas jurídicas e o redirecionamento de obrigações tributárias para a pessoa dos sócios, não necessariamente, embora mais facilmente identificável no Código Tributário Nacional (CTN), gerentes e administradores. Constata-se que isso se dá quando o sócio pratica alguma ilicitude ou irregularidade, seja em face da lei, seja em razão do estatuto ou contrato-social, o que faz com que, mesmo que não seja o nome do sócio inicialmente vinculado ao fato gerador, por sua culpa ou seu dolo, seja tal chamado à responsabilização. Palavras-chave: Código Tributário Nacional; fato gerador; ilicitude; responsabilização. Abstract: Is not unusual, though not solely dependent upon the will of the Treasury, the piercing the corporate veil of corporations and redirection of tax obligations to the person of the partners. Not necessarily, although more readily identifiable in the National Tax Code (CTN), are the managers and administrators. It appears that this happens when the partner practice any illegality or irregularity, whether in the face of the law, either because of the status or social contract. Which means that, even if it is not the name of the partner initially linked to the fact generator, it’s your fault or intent, this is called accountability. 1 Acadêmica de Direito da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, campus Gravataí. E-mail: julianalnenes@hotmail.com 2 Acadêmico de Direito da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, campus Gravataí. E-mail: reissonr.r@hotmail.com 2 Key-words: National Tax Code; generator fact; wrongfulness; accountability. Sumário: 1. Introdução; 2. Espécies de Responsabilidades Societárias Previstas no CC e em Lei Específica e sua Diferenciação na Cobrança de Débitos da PJ na Pessoa de seus Sócios de Acordo com o CC e com Lei Específica; 3. Requisitos do CTN para Responsabilização do Sócio; 4.Análise de Súmulas e de Jurisprudência sobre a Responsabilização do Sócio; 5. Considerações Finais; 6. Referências. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo expor o que dispõem os Códigos Tributário e Civil, os posicionamentos sumulados e jurisprudenciais, bem como doutrinários em face da obrigação tributária de sócios com relação a pessoas jurídicas e de fatos geradores a estas vinculados. Para tanto, analisa o à luz de doutrinadores específicos e gerais quando tratam da matéria de executar sócio por crédito da pessoa jurídica. Disso, compara-se com o que defendem as cortes em relação ao extremo ato de se fazer com que o Fisco mire como agente passivo o sócio, o que se demonstra não ser apenas pela livre vontade da Fazenda Pública. 2. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADES SOCIETÁRIAS PREVISTAS NO CC E EM LEI ESPECÍFICA E SUA DIFERENCIAÇÃO NA COBRAÇA DE DÉBITOS DA PJ NA PESSOA DE SEUS SÓCIOS DE ACORDO COM O CC E COM LEI ESPECÍFICA Para que se possa analisar de que forma cada sócio se responsabiliza e se pode ser responsabilizado para com os débitos da Pessoa Jurídica relativos ao Fisco, é imperioso que se observe como se comporta a responsabilidade dos sócios de cada espécie societária em face de terceiros. Isso porque, tal compreensão, por si só, já trará algumas formas pelas quais 3 o sócio responderá por créditos tributários, ou seja, em razão de relações com terceiros. Dessa forma, tem-se para objeto de estudo a definição dada por Mamede sobre o que são as sociedades. Para o referido autor, sociedades são reuniões de pessoas para consecução de determinado fim 3 , sendo o fim aqui apreciado, assim como para Mamede, o fim econômico 4 de que se revestem as sociedades estudadas no Direito Empresarial 5 . Nessa ótica, tomam-se inicialmente as sociedades não personificadas 6 , ou seja, aquelas em que existe uma sociedade fática, podendo ou não existir um contrato escrito entre os sócios, mas a sociedade não foi levada a registro 7 . Tal tipo de sociedade se desdobra em mais duas, a sociedade em comum e a sociedade em conta de participação. A sociedade em comum 8 é aquela em que há um contrato entre os sócios, mas não há registro daquela, logo, não há personalidade jurídica 9 . Sendo assim, a responsabilidade de cada sócio entre si está de acordo com o acertado no contrato 10 , porém, tal contrato não pode produzir efeitos da relação da sociedade perante terceiros. Nessas, por disposição do artigo 990 do Código Civil, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais 11 , pois, não existe uma pessoa jurídica com personalidade própria. Entretanto, como descreve Mamede, há a possibilidade de não serem todos os sócios responsabilizados, essa se faz quando o terceiro prejudicado tinha prévio conhecimento de que o sócio estava 3 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 04. 4 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 6ª ed. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 41. 5 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 04. 6 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 6ª ed. Vol 2. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 22/27. 7 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 12/13. 8 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 6ª ed. Vol 2. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 52. 9 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 14. 10 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 6ª ed. Vol 2. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 52/53. 11 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 19. 4 exercitando ato com excesso de poderes 12 . Ocorrendo isso, apenas os envolvidos responderão, obviamente após comprovado o ocorrido inequivocamente. Oportuniza-se aqui, um fato em que os sócios são, na verdade, o contribuinte previsto pelos tributos da sociedade, vez que a pessoa jurídica não existe. Em essa não existindo, cada um dos sócios passa ser responsável originário pelo adimplemento do tributo de que dê causa à obrigação tributária, mesmo que em nome da sociedade, ainda não existente no campo de direito, o que não impedirá, nos termos do contrato não registrado, o sócio de cobrar regressivamente os demais sócios por ter sido ele a alcançar valores aos cofres públicos quando ficou estipulado ato contrário no contrato entre os sócios. Outrossim, vislumbra-se a sociedade em conta de participação 13 , também uma das espécies societárias sem personalidade jurídica. Nessa sociedade há a figura do sócio ostensivo, que é aquele que se apresenta para, em nome próprio, tratar relações jurídicas com terceiros, e não em nome da sociedade 14 . Com isso, analogicamente, tem-se que esta espécie de sociedade é como um grupo de pessoas que elegem um campeão que as defenda. Se ele ataca (negocia) é responsabilidade dele, bem como se ele é atacado (chamado a pagar). O sócio ostensivo, ao negociar pela sociedade, mas apenas em nome dele, coloca-se com um anteparo ilimitado para qualquer cobrança que viria a ser feita à pessoa jurídica inexistente de direito aqui. Logo, tributos devidos pelapessoa jurídica ainda inexistente oficialmente serão cobrados daquele que figura como obrigado tributariamente, o sócio ostensivo. Todavia, não são somente sociedades não personificadas que existem. Existe também uma gama de sociedades personificadas de que se faz imperioso o estudo antes que se analise pontualmente, em matéria tributária, a responsabilização dos sócios em face das dívidas para com o Fisco da PJ. São elas aquelas que tiveram seja seu contrato social, seja seu estatuto levados a registro. Dentre suas espécies, destacam-se as sociedades em nome 12 MOREIRA, Amanda Alves. A Teoria do Ato: “Ultra Vires”. São Paulo, 1998. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/1998-dez-17/objeto_social_limites_atuacao_administrado>, Acesso em 30 ago 2014. 13 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 78. 14 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 21. 5 coletivo, comandita simples, comandita por ações, firmas individuais, limitadas, eirelis e sociedades anônimas. Tem-se então que as sociedades em nome coletivo são aquelas em que duas ou mais pessoas [...] exercem, sob uma razão social 15 , atividade empresária, respondendo todos solidariamente e ilimitadamente em face de terceiros 16 , mas subsidiariamente podem dispor entre si suas obrigações 17 . Contudo, é um caso em que, não podendo adimplir com suas obrigações tributárias, são os sócios responsáveis ilimitada e solidariamente perante o Fisco. Não obstante, observa-se a comandita simples, sociedade em que, excetuando-se os termos e a qualidade de estar personificada, muito se assemelha à sociedade em conta de participação, vez que há a figura do comanditado, que responderá ilimitadamente pelas obrigações sociais, e o comanditário, cujas obrigações são limitadas. Enquanto, na comandita por ações, tem-se que os sócios diretores respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais, enquanto as obrigações dos acionistas serão limitadas 18 ao valor de suas ações. Verificado esse ponto, o objeto de estudo torna-se a firma individual. A firma individual é a pessoa jurídica com um único sócio em seu quadro societário, o qual responde ilimitadamente pelas obrigações da pessoa jurídica. Tem esse seu estudo imperioso, vez que, na Eireli 19 , o sistema de composição é similar ao da firma individual, sendo composto o quadro societário por apenas um sócio, tal qual na firma individual, porém, a responsabilidade do sócio zeloso e honesto é limitada, e não ilimitada como na firma individual. Obriga-se ele, como obrigam-se os sócios de pessoas jurídicas da espécie limitada. 15 WALD, Arnoldo. A evolução da sociedade em nome coletivo e os poderes dos sócios não gerentes no direito brasileiro. Revista de Informação Legislativa, v.16, nº 64, 1979, p. 296. 16 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 148. 17 WALD, Arnoldo. A evolução da sociedade em nome coletivo e os poderes dos sócios não gerentes no direito brasileiro. Revista de Informação Legislativa, v.16, nº 64, 1979, p. 296. 18 MENDONÇA, Mário. Sociedade Empresária. Macapá: UNIFAP, 2011. Disponível em < http://www2.unifap.br/mariomendonca/files/2011/05/SOCIEDADES1.pdf>. Visualizado em 24/05/2014, p. 03. 19 Empresa individual de responsabilidade limitada. 6 Quanto à pessoa jurídica de responsabilidade limitada, diz-se que a responsabilidade de seus sócios honestos e zelosos é medida de acordo com os valores que faltam ser integralizados por cada um dos sócios, porém, o montante da diferença entre subscrição e integralização é de responsabilidade solidária de cada um dos sócios, podendo terceiro cobrar desses até o limite do valor que, não integralizando, devem à pessoa jurídica à qual pertencem ao quadro societário, o mesmo se aplicando às eirelis, com a ressalva de só haver um sócio nesta 20 . Nessas modalidades limitadas, é possível que se aplique um exemplo a fim de tornar mais didática sua compreensão. Toma-se a PJ como sendo credora de dos membros do seu quadro societário em 50% do capital que este ainda não integralizou, mas subscreveu, em um valor de R$ 10.000,00. Concomitantemente, a PJ é devedora de R$ 12.000,00 para um terceiro, só possuindo R$ 1.000,00 em seu patrimônio. O terceiro cobra sua dívida da PJ, mas, mesmo conseguindo retirar todo o patrimônio dela, ela ainda lhe deve R$ 11.000,00, e nada mais possui. Entretanto, considerando que o sócio X, não integralizou a totalidade de sua quota, mas tão somente 50%, ainda devendo R$ 10.000,00 à PJ, pode o terceiro cobrar do sócio X R$ 10.000,00 dos R$ 11.000,00 faltantes, pois é o que o sócio X deve à PJ. Ressaltando-se que no caso da Eireli, há apenas um agente possível para X, mas que nas limitadas há sempre mais de um, e o que, denomina-se aqui sócio Y, mesmo que tenha integralizado toda a sua parte, poderá responder solidariamente pelo que o X não integralizou, cabendo, posteriormente Y cobrar de X, o que X lhe deve. Observando-se que, caso todo o capital de todos os sócios tenha sido integralizado, o terceiro, salvo por vícios administrativo-gerenciais, não poderá cobrar dos sócios as obrigações da PJ, pois pessoas distintas. Por termo, estuda-se a sociedade anônima ou por ações. Cabe aqui, apenas o essencial para a compreensão da responsabilidade do sócio em face de terceiros para o Direito Empresarial. Dessa forma analisa-se que em uma sociedade por ações, cada sócio honesto e 20 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p. 51/55. 7 zeloso é responsável apenas pelo que falta integralizar do valor de sua ação adquirida ou subscrita, e nada mais 21 . Com isso, pode-se concluir que cada espécie societária à ilustração do Direito Empresarial possui uma forma diferente de responsabilizar os membros de seu quadro societário em face de terceiros. Todavia, há a necessidade de se verificar em que casos o Fisco, na condição de terceiro, pode desconsiderar a diferenciação desses e cobrar aquilo que lhe é devido. 3. REQUISITOS DO CTN PARA RESPONSABILIZAÇÃO DO SÓCIO Já havendo o CC e legislações específicas para disciplinar as responsabilizações dos sócios probos em face das dívidas da pessoa jurídica perante terceiros, o CTN trata de buscar pelos recursos que sócios ímprobos lhe furtaram. Com esse intuito, regra, algumas condições em que isso se pode dar: a do mau uso da personalidade jurídica por sócio gerente ou administrador da pessoa jurídica, quando da repartição do patrimônio líquido entre os sócios após ou durante a dissolução da pessoa jurídica e quando sócio não gerente ou administrador dá razão à obrigação tributária em nome da pessoa jurídica sem poderes para tanto. Isso, pela própria redação do artigo 135 do CTN, não diferenciando as diversas formas societárias 22 . Tendo aquela para matricial exploração, observa-se que a definição de Mamede para mau uso da personalidade jurídica envolve dolo e fraude, desvio de finalidade, confusão patrimonial, relações de consumo (abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito, má administração, ressarcimento frustrado) e relações de trabalho 23 . Abrindo com isso o que dispõe o CTN por independer a responsabilidade do agente passivo de dolo ou culpa, à luz de Mamede, tem-se por dolo ou fraude não se considera o não recolhimento de tributo, massim o uso de poderes de negociar estabelecimentos ou 21 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º Vol. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 01/03. 22 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p.138. 23 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.221/239. 8 qualquer forma de gerir recursos da PJ de forma a causar lesões à PJ e/ou a terceiros. Não obstante, o referido autor considera que desvio de finalidade, por dolo ou culpa é uma causa para desconsideração da personalidade jurídica, assim como a fraude, importando então responsabilidade pessoal, o que também caberia em uma análise do CC. Outrossim, outro dispositivo disposto no CC, mas que pode se enquadrar nas possibilidades de ação que por dolo ou culpa impossibilitam a PJ de adimplir com suas obrigações tributárias é o da confusão patrimonial. Esse consiste no sócio utilizar-se de estabelecimentos da PJ como se fossem seus, fazendo que, para olhares leigos, tudo pareça ser uma coisa só 24 . Disso então se percorrem desvios cíveis que implicam em danos tributários, tal qual o das relações de consumo. Nessas encontram-se o abuso de direito (quando o sócio, dolosa ou culposamente, perante consumidor, pratica ato que ocasione prejuízo à PJ em relação a alguma espécie de indenização por dado ao consumidor). O excesso de poder praticado pelo gerente não só é abordado pelo CDC, mas também pelo CTN como forma de despersonalização da PJ em relação ao terceiro, entretanto, se tal dano causa, em primeiro momento lesão à PJ, e ela vem a ficar desprovida de meio de recolher o que deve aos cofres públicos, será o sócio em questão o responsável pelo pagamento. Estando o ressarcimento frustrado aqui incutido, como dispõe Mamede quando trata de danos ao consumidor. Não obstando o disposto em lei própria as relações de trabalho que, por culpa ou dolo do administrador/gerente vier a causar dano ao patrimônio da PJ. Concomitantemente, há a questão do cometimento de infrações da lei que lesionem à PJ, as quais, inegavelmente, acarretariam responsabilidade do sócio gerente em relação a tributos. Isso inclui também questões em que esse envolve diretamente a PJ como forma de obter vantagem ilícita. O mesmo valendo por má administração, se é que tudo já exposto não seria por si só uma forma de mal administrar, considerando mal, agora, com um sentido moral, e não hábil, que é ao qual Mamede se refere. Consoante ao exposto tem-se o posicionamento de Almeida. Esse abre o debate com a evocação do artigo 128 do CTN, expondo que a lei pode atribuir responsabilidade pela 24 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.228/229. 9 obrigação tributária a terceiro 25 . Destacando então que, por infração à lei, também se deve entender que execução de atividades de administração ou gerência em dissonância de estatutos ou contratos sociais também implica em infração 26 , pela qual se deve responder, dentre outras formas, com a despersonalização da PJ em face de débito tributário, artigo 135, III, do CTN 27 . Outra questão que Almeida levanta é a da liquidação em que os sócios receberam suas parcelas do patrimônio líquido em prejuízo do erário, que não recebeu o recolhimento dos tributos referentes à liquidação da PJ, que acaba por se tornar irregular, transferindo à responsabilidade aos sócios na proporção do patrimônio por eles absorvido em relação à dissolução 28 . Além disso, ainda há a questão de que não se faz necessário haver o nome do responsável administrador ou gerente na certidão de dívida ativa, basta o agente o ser, para que, atendendo uma das condições acima, passe a responder solidariamente ao Fisco 29 pelo débito tributário 30 . 4. ANÁLISE DE SÚMULAS E DE JURISPRUDÊNCIA SOBRE A RESPONSABILIZAÇÃO DO SÓCIO Trazem Mamede e Almeida cargas jurisprudenciais do tempo de suas obras, refletindo o teor do exposto. Verifica-se no STF, no STJ, nos TFR e nos Tribunais de Justiça estaduais o posicionamento predominante quanto à interpretação legislativa no que tange responsabilização dos sócios em face de execução fiscal. 25 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p.136. 26 MOREIRA, Amanda Alves. A Teoria do Ato: “Ultra Vires”. São Paulo, 1998. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/1998-dez-17/objeto_social_limites_atuacao_administrado 27 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p.137/138. 28 Idem, p.138/139. 29 BARCELOS, Soraya Marina. A responsabilidade tributária dos sócios da pessoa jurídica em execuções fiscais. [s/l]. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/17694/a-responsabilidade-tributaria-dos-socios-da- pessoa-juridica-em-execucoes-fiscais>, Acesso em 30 ago 2014. 30 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p. 140/141. 1 0 Observa-se então, a súmula 184 do TFR 31 , que evoca o artigo 135, I e III, do CTN para, demonstrada a baixa irregular da PJ junto à Junta Comercial, legitimar a despersonalização da pessoa jurídica e, com isso, recair a execução sobre terceiro, ora embargante 32 . Não obstante, uma análise de um recurso sobre decisão da Justiça de Ribeirão Preto que concedeu, não sendo suficientes os fundos da PJ, que a execução prosseguisse sobre o sócio gerente. Tal decisão restou mantida, vez que o referido sócio, é sócio gerente, e se verificou a dissolução irregular da PJ. Outrossim, a defesa do sócio restou ineficiente, vez que, mesmo que o sócio não tenha o nome figurando como agente passivo contribuinte, é responsável nos termos do CTN por tais débitos quando agindo da forma com que agiu, a prejuízo do Fisco. Ressaltando que também se esclarece que não importa, aí, se a PJ possui responsabilidade limitada ou não, mas sim se há a presença de irregularidade. Citando-se, nesse quesito, jurisprudência do STF, em sendo (RTJ, 103/782 e 1274 e 106/1093; RE 101962-0-RJ,100920-9-SP, 100195-0-DF e 95022-2-RJ) 33 . Mamede, com sua abordagem mais focada no CC, trás posicionamentos que servem para a responsabilização do sócio em face de matéria tributária, vez que despersonalizam a PJ. Com isso, verifica-se o Recurso Ordinário em Mandado de Segurança 16105/GO, examinado pela terceira turma do STJ onde se decidiu que se prestigiaria fraude, ou seja, legitimaria essa, caso não se desconsidera-se a personalidade jurídica em face de confusão patrimonial 34 . Disso, Mamede conclui, no que se deve concordar, que não é necessário que se desconsidere a personalidade jurídica da PJ, mas sim, pode-se configurar solidariedade, subsidiariedade ou mesmo, declaração de nulidade do ato que deu origem à obrigação de pagar 35 , aqui, para o presente trabalho, o fato gerador da obrigação tributária, como se vê flagrante no disposto no art. 134, III, do CTN quando se refere à solidariedade dos sócios administradores ou gerentes pelo inadimplemento a que deram causa. 31 Em execução movida contra sociedade por quotas, o sócio, citado em nome próprio, não tem legitimidade para opor embargos de terceiro, visando livrar da constrição judicial seus bens particulares. 32 ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p. 140/141. 33 ALMEIDA, Amador Paes de. Execuçãode Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007, p. 141/143. 34 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.229. 35 Idem. 1 1 Tem-se então, em pesquisa ao TRF4 36 , em decisão da quarta turma no processo AG 38887620104040000 PR 0003888-76.2010.404.0000 que, mesmo acordando pela não despersonalização, apontou como justificativa a não comprovação de alguns dos casos legais previstos para tal despersonalização, demonstrando que não é simplesmente a vontade do ente federativo que fará com que se cobre terceiro como responsável no lugar do contribuinte. Concomitantemente, o mesmo Tribunal, no processo AG 42813 RS 2009.04.00.042813-1, em decisão também da quarta turma, acordou que há necessidade de comprovação de encerramento irregular da PJ, e não apenas mera vontade de desconsiderar a personalidade jurídica da PJ. Padrão que se mantém em AG 25970 RS 2009.04.00.025970- 9. Consoante a isso, tem-se o Mandado de Segurança impetrado pelo TCU em face de pessoas jurídicas que agiram de forma fraudulenta, causando prejuízo ao Fisco, tratam-se do MS 24510, MS 26094 e MS 26547 dos quais se subtrai a possibilidade jurídica de se desconsiderar a PJ e se cobrar diretamente dos sócios ao se verificar fraude no que tange as empresas da PJ. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ante o exposto, conclui-se que desconsiderar a personalidade jurídica de uma PJ é um recurso possível ao Fisco quando da busca pelo que lhe é devido, mas não é um ato que possa ferir direito de terceiros, no caso os sócios. É necessário que o sócio aja dolosa ou culposamente de modo a causar prejuízo direto ou indireto à PJ, fazendo assim com que ela não tenha condições de adimplir para com o Fisco. Sendo assim, verifica-se que não é indiscriminadamente que o sócio arcará com as obrigações tributárias da PJ, nem que só serão os sócios gerentes ou administradores, há outras condições, não diretamente expressas no CTN que isso faculta, vez que o CTN não é a única fonte de da matéria Direito 36 Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 1 2 Empresarial, porém, todo caso em que há a possibilidade de se executar o sócio, há uma ilicitude ou ato afim que justificam tal redirecionamento executório. 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Amador Paes de. Execução de Bens dos Sócios.8ª ed. São Paulo, Saraiva, 2007. BARCELOS, Soraya Marina. A responsabilidade tributária dos sócios da pessoa jurídica em execuções fiscais. [s/l]. Disponível em: < http://jus.com.br/artigos/17694/a- responsabilidade-tributaria-dos-socios-da-pessoa-juridica-em-execucoes-fiscais>, Acesso em 30 ago 2014. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 6ª ed. Vols 1 e 2. São Paulo: Saraiva, 2012. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 18ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades por Quotas de Responsabilidade Limitada. 4ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. NERY JÚNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. 1 3 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. MENDONÇA, Mário. Sociedade Empresária. Macapá: UNIFAP, 2011. Disponível em < http://www2.unifap.br/mariomendonca/files/2011/05/SOCIEDADES1.pdf>. Visualizado em 24/05/2014. MOREIRA, Amanda Alves. A Teoria do Ato: “Ultra Vires”. São Paulo, 1998. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/1998-dez- 17/objeto_social_limites_atuacao_administrado>, Acesso em 30 ago 2014. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 15ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 2º Vol. São Paulo: Saraiva, 2005. RODRIGUES, Nina T. Disconzi. O sentido e alcance do conceito e da natureza jurídica do tributo em face da Constituição Federal de 1998 e do Código Tributário Nacional. Brasília: 2001. SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Apropriação indébita tributária?. Revista de Informação Legislativa, v. 34, nº 136, 1997, p. 109-114. WALD, Arnoldo. A evolução da sociedade em nome coletivo e os poderes dos sócios não gerentes no direito brasileiro. Revista de Informação Legislativa, v.16, nº 64, 1979, p. 295-304.
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