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Palestra TJRS - FUNDAMENTOS_DO_NOVO_CPC_12_06_2015

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12/06/2015 
 CENTRO DE ESTUDOS 
FUNDAMENTOS DO NOVO CPC 
 
1 
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
26ª PALESTRA PROJETO HORIZONTES DO CONHECIMENTO: 
FUNDAMENTOS DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Bom-dia a todos. Quero 
saudar a presença do Presidente do Tribunal de Justiça, que prestigia este 
evento, o Des. José Aquino Flôres de Camargo. Saudando-o, quero saudar a 
todos aqui presentes, magistrados, funcionários do Poder Judiciário e demais 
convidados. 
Quero agradecer a presença da Dra. Jaqueline Mielke, que 
muito nos honra tendo aceitado esse convite para fazer uma palestra sobre os 
Fundamentos do Novo Código de Processo Civil, assim dando retomada ao 
Projeto Horizontes do Conhecimento com as palestras, os eventos culturais do 
Centro de Estudos, que, nos próximos meses, dará ênfase à promoção de 
eventos, de palestras a respeito do Novo Código de Processo Civil. 
É importante esclarecer que esse tipo de evento não dispensa 
a necessidade de um aprofundamento, de uma formação mais intensa 
mediante curso de atualização. Inclusive, aproveito para divulgar o curso de 
atualização sobre o Novo CPC, que está sendo promovido pela Escola 
Superior da Magistratura, tendo como público-alvo os magistrados e os 
funcionários do Poder Judiciário. Curso este que terá sua aula inaugural no dia 
2 de julho, com o Min. Paulo Sanseverino, e, a partir dali, toda sexta-feira 
seguinte haverá aulas, das 14h às 18h, sendo a própria Dra. Jaqueline Mielke 
uma das professoras deste curso de atualização na Escola Superior da 
Magistratura, que eu aproveito para fazer aqui a divulgação. 
Também um aviso, um esclarecimento de que o Tribunal de 
Justiça está também focado nas repercussões do Novo CPC, o impacto que 
isso terá na tramitação de nossos processos no 2º Grau. Já há duas 
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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL 
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
comissões formadas no âmbito do 1º Grau de Jurisdição, supervisionadas 
pela Corregedoria da Justiça, e o nosso Presidente Aquino formou um grupo 
de trabalho, que será instalado na semana que vem, focado no estudo do 
impacto do Novo CPC nos processos de trabalho, na tramitação do processo 
judicial no 2º Grau. Esse grupo será coordenado pelo Centro de Estudos, com 
a colaboração do Des. Almir Porto da Rocha Filho, do Des. Voltaire e de 
quatro Juízes-Assessores da Presidência – Juízes-Corregedores –, que são a 
Dra. Maria Thereza Barbieri, o Dr. Leandro, o Dr. Luís Antonio Behrensdorf e o 
Dr. Jerson Gubert. Esse grupo também contará com a contribuição de muitos 
funcionários, que somarão esforços, especialmente do Departamento de 
Informática, da Diretoria Processual e da Direção Judiciária. 
Desde já, quero colocar à disposição o e-mail do Centro de 
Estudos, que é de todos conhecido, para que os senhores possam enviar 
sugestões, críticas, preocupações. Aqueles que trabalham aqui no Tribunal de 
Justiça e que estão estudando o impacto do Novo CPC nos seus processos 
de trabalho na Informática, na Processual, nas Secretarias de Câmara, enviem 
para o e-mail do Centro de Estudos as suas sugestões e preocupações, 
porque esse grupo de estudos que eu mencionei há pouco vai propor, entre 
outras coisas, as alterações regimentais que serão necessárias para a 
adequação desses processos de trabalho. 
Então, com essas notícias iniciais, quero passar a palavra à 
Profa. Dra. Jaqueline Mielke, que é doutora em Direito pela Unisinos, 
advogada, professora em diversas instituições de ensino do Rio Grande do 
Sul, na FMP, na Escola da Magistratura, inclusive tenho a honra e o privilégio 
de ser seu colega de docência na Faculdade Inedi Cesuca, em Cachoeirinha, 
onde ambos lecionamos na graduação. 
Com essas informações, passo, desde logo, a palavra à Dra. 
Jaqueline para a sua explanação, que está programada para durar em torno 
de uma hora, para que os senhores tenham tempo e oportunidade de 
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participar. A Profa. Jaqueline colocará a palavra à disposição depois de uma 
hora, para que os senhores possam fazer perguntas e questionamentos. 
Passo a palavra à Dra. Jaqueline. 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – Bom-dia a todos. Eu gostaria 
inicialmente de agradecer o convite do meu amigo Des. Ney para estar aqui 
hoje pela manhã e rever tantos alunos, amigos na plateia, é sempre bom rever 
vocês. Gostaria de cumprimentar o Des. Aquino, Presidente do Tribunal – 
honra a sua presença na plateia –, a Dra. Maria Thereza, demais presentes, 
magistrados, assessores. 
Vamos conversar um pouco, então, nesta manhã, sobre o 
Novo Código de Processo. Eu, quando conversava com o Des. Ney sobre qual 
o tema, eu disse que, tendo em vista que falarei uma hora, parece-me que o 
melhor caminho é falarmos dos fundamentos do Novo Código. Não 
conseguiria, em uma hora, falar de execução – que é um mundo à parte –, 
recursos, são muitas coisas. Então, parece-me que os fundamentos gerais do 
Novo Código é o que temos de mais importante para vermos em uma hora. 
Começo sempre a minha fala, quando trato do Novo Código, 
dizendo que tenho uma visão bastante crítica desse novo sistema, até porque 
a minha formação – para quem me conhece, eu estudei com o Professor 
Ovídio Baptista da Silva praticamente 20 anos – é com base nele, que tem 
uma sustentação bastante crítica do sistema jurídico, do funcionamento do 
sistema. E o Professor Ovídio era um operador, era um advogado militante, e 
eu sou uma advogada militante também. 
O Novo Código veio com a promessa de resolver problemas 
que temos no âmbito do Poder Judiciário; problemas que temos com relação à 
morosidade, efetividade do processo, fundamentação de decisão judicial. 
Então, ele veio com essa promessa. Quando ouvimos o Min. Fux, ele vem 
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com essas promessas, como se fôssemos resolver os nossos problemas com 
o Novo Código. 
Eu sou bastante cética sobre essa questão da crise do Poder 
Judiciário, problemas com morosidade do processo, efetividade da Justiça, 
porque entendo que o Processo Civil não tem como resolver esses problemas. 
Na verdade, são problemas estruturais, são problemas sociais, políticos e 
econômicos, que o processo não tem como resolver. Mas ele tem como 
minorar o problema, nós temos como amenizar o problema; resolver, não. O 
Prof. Ovídio costumava dizer: “Jaque, nem em trezentos anos nós vamos 
resolver isso”. Então, nós podemos minorar. 
Na verdade, quando eu falo em problema – e aqui vou me 
valer novamente do Prof. Ovídio – no Judiciário, vejo dois grandes problemas 
que, se conseguíssemos resolver em parte, as coisas seriam bem melhores. 
Primeiro, o grande volume do Judiciário envolve demandas que são ajuizadas 
porque o Estado não cumpre o seu papel, o Estado não funciona, e aqui nós 
temos uma Justiça Federal feita para o Estado, temos Varas da Fazenda 
Pública sobrecarregadas, ou seja, se o Estado cumprisse o papel, nós 
eliminaríamos inúmeras demandas. 
O que ocorre atualmente? Temos o problema de judicialização 
de políticas públicas, que geram inúmeras demandas, demandas repetidas, 
muitas vezes, e que efetivamente acabam gerando uma sobrecarga dentro do 
Judiciário, que é um problema que não é do Judiciário, mas do Estado. E 
temos o problema das demandas repetitivas. 
Se conseguíssemos resolver o problema do Estado e o 
problema das repetitivas, a situação melhoraria bastante. Essa era uma visão 
que o Prof. Ovídio tinha. Inclusive, em algumas de suas conferências, logo 
antes de falecer,ele dizia: “O Estado não funciona, por isso que o Judiciário 
não funciona”. Então, o problema não é do Judiciário. Não é. O problema é 
maior. Qual é a minha preocupação? Ainda vem o Novo Código com essa 
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promessa de resolver. Não vai. Muito pelo contrário. E aqui também, via de 
regra, quando eu vou falar, as pessoas esperam que eu vá defender o Código, 
esperam que eu vá elogiar o Código, porque sou advogada, advogada 
militante. Por que esperam? Porque é um Código feito por advogados, mas, 
sem dúvida alguma, advogados com medo de Juízes. É isso, o Código é isso. 
Tentaram eliminar a criação judicial em vários dispositivos legais, mas não vão 
eliminar nunca. Não vão eliminar nunca o que pretenderam, mas, quando 
falam que o Código foi feito por advogados, concordo. Advogados que nunca 
pisaram no Foro – esse é o problema –, advogados teóricos. 
Tenho vários exemplos de mecanismos que foram colocados 
e que refletem isso. Vou começar com um exemplo do Novo Código, que 
alguns estão chamando de “embargos infringentes cover”, que são um 
arremedo de embargos infringentes. Só um sonhador, um utópico, vai 
imaginar que, no caso de um julgamento não unânime, por dois a um, que 
haveria Desembargadores à disposição, naquele dia, para continuar um 
julgamento e Desembargadores que vão se sentir confortáveis para votarem 
em um processo que nem conhecimento têm. Então, só um sonhador para 
imaginar que isso possa se realizar no dia a dia do Foro. Isso não existe. 
Chamam de “embargos infringentes cover”, porque é um arremedo dos 
infringentes. Conseguiram criar um negócio pior do que os infringentes, 
porque os infringentes não atrapalham em nada hoje, e até que o número de 
infringentes não é tão grande assim. Criaram infringentes para qualquer 
decisão não unânime, e ficou pior. Hoje o art. 530 restringe: apenas quando 
houver modificação da decisão de mérito do 1º Grau ou no caso de 
procedência não unânime de rescisória. No Novo Código, é para qualquer 
julgamento não unânime, e, pior, cabe, inclusive, de decisões não unânimes, 
em determinados casos, de agravo de instrumento. Então, foi ampliado o 
caso, por isso o arremedo de infringentes que temos hoje. Para criar isso, só 
quem nunca pisou no Foro, quem nunca fez uma petição de embargos 
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infringentes sabe que não atrapalha em nada efetivamente. O que ocorre? 
Esses reflexos, esse tipo de positivação, nós vamos encontrar em diversos 
dispositivos legais. 
E aqui eu vou aos fundamentos gerais do Novo Código. O que 
norteou o Novo Código? Basicamente, o que se observa, em termos gerais? 
Observa-se uma ideia de preservação muito forte, uma ideia de eliminação, 
primeiro, do protagonismo judicial – é essa a expressão que eles utilizam –; 
segundo, uma valorização do contraditório; terceiro, uma positivação e 
valorização do princípio da colaboração – a colaboração vem muito forte. 
O que vem muito forte ainda no Novo Código? A ideia da 
fundamentação das decisões judiciais, que me parece que é uma expressão 
do princípio do contraditório, e aquela ideia de eliminação do protagonismo 
judicial que é sustentada. Observa-se também – que me parece que é a 
melhor parte do Código que nós vamos ter, apesar de ter exageros também – 
a introdução do que parte da doutrina fala em formalismo valorativo e outros 
falam em princípio da instrumentalidade das formas, que efetivamente o 
Dinamarco fala há muito tempo, e depois introduziram com a ideia de 
formalismo valorativo. Parece-me a melhor parte, mas me parece também que 
há alguns exageros do Novo Código, porque qualquer vício é perdoado. 
Qualquer vício é perdoado dentro do novo sistema. 
Então, na verdade, são os princípios vetores, os princípios 
fundamentais que observamos existentes no Novo Código que estão por trás 
dos dispositivos legais. Partindo-se desses princípios, o que observamos? 
Ainda dentro do geral, para depois partirmos para as especificidades maiores. 
Observa-se que é um grande problema no Brasil, porque legislamos o novo 
com a sombra do velho. Digo que legislamos o novo com a sombra do velho e 
que costumamos importar soluções de modelos de sistemas estrangeiros e 
jogamos para dentro do Código, o que é outro problema. 
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Esse movimento que tivemos no Brasil, essas ideias, são 
movimentos mundiais de alteração da legislação processual civil. Não é uma 
invenção nossa, novamente nós copiamos outros sistemas mundiais. Na 
verdade, é isso. O que fizemos no Novo Código? Nós copiamos o de 73, o 
adaptamos. É muito fácil vocês verificarem isso. Comprem esses Códigos que 
comparam os dois – eu tenho sugerido para os meus alunos – e vocês verão a 
cópia de vários artigos. Eles mudaram o que quiseram, copiaram o velho e 
copiaram modelos de sistemas alienígenas, sem a devida adaptação à nossa 
cultura. 
Parece-me que, se pretendemos construir um Código novo, 
um sistema novo, ou nós construímos tudo novo ou ficamos com o velho. Não 
dá para fazer um arremedo, não dá para fazer cópia ou uma não adaptação à 
nossa realidade cultural, à realidade que temos no Poder Judiciário. É 
complicado isso. Nota-se que 60 a 70% desse Novo Código é o de 73 
adaptado. Alguns têm um trauma: “Ah, muda tudo!” E eu digo: “Tem muita 
colagem”, que, na verdade, tem que adaptar. Então, essa é outra grande 
crítica que eu faço, em termos gerais, a esse Novo Código, que é a forma 
como isso foi feito. Parece-me que essa colagem de um sistema antigo e essa 
importação de modelos de sistemas estrangeiros sem a devida adaptação, 
que está por trás da forma como tivemos esse Código redigido, são 
complicadas. Feitas essas breves considerações, vou propriamente a pontos 
específicos dentro do geral. 
Conforme mencionei inicialmente, um dos princípios que 
nortearam essa reforma foi o princípio do contraditório, muito forte. A ideia de 
um contraditório efetivo passa a imperar dentro do Novo Código, vinculada à 
ideia de colaboração, e não dá para esquecer que quem difundiu essa ideia, 
sem dúvida alguma, aqui no Rio Grande do Sul, foi o Dr. Carlos Alberto Alvaro 
de Oliveira. Essa ideia de um contraditório efetivo vinculado, atrelado à ideia 
de colaboração das partes na melhor construção de uma decisão judicial, que 
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vem de uma forma muito clara nos artigos iniciais do Novo Código, como no 
art. 9º, parte da doutrina que acadêmicos defendem hoje, que diz respeito a 
uma das aplicações maiores do Novo Código – e que eu critico – de que o 
Juiz continua podendo se pronunciar, evidentemente, sobre questões de 
ordem pública – pressupostos processuais, condições da ação, prescrição –, 
de ofício. Entretanto, antes de se pronunciar de ofício, ele precisará dar vista 
às partes. Então, é possível se pronunciar, mas, antes de se pronunciar de 
ofício, deve ouvir as partes, de modo que seja implementado o contraditório 
efetivo. 
O que ocorre aqui? Essa questão me parece complicada 
dentro da realidade forense atual que temos. Quem está no Foro todos os dias 
sabe que há processos em que temos um despacho por ano pelo volume de 
demandas. E qual vai ser o despacho? “Vista às partes para concordar ou não 
sobre o que eu estou pensando”. Na verdade, é isso. Quando se sabe, 
quando se forma a convicção sobre determinada questão, é difícil modificar. 
Quando é dada vista às partes, via de regra,o Juiz já sabe intimamente o que 
ele está pensando sobre o caso, sem dúvida alguma. E dar vista às partes 
para questão processual, é processo. Se for questão de ordem pública, 
efetivamente me parece um exagero, isso aqui vai trancar o procedimento. 
Quando eu comento isso para alunos que não sabem nada de Direito, eles me 
indagam: “Mas isso é celeridade?” Não é celeridade. Essa questão desse 
contraditório efetivo, da colaboração das partes, eles poderiam talvez ter 
introduzido para a prescrição, porque é mérito a prescrição. Mas me parece 
que há um exagero em estender-se para qualquer questão processual. Isso 
não é só para o Juiz de 1º Grau, mas para o Tribunal também. 
Por exemplo, surge uma questão de ordem pública no 2º 
Grau. Se surge durante o julgamento, tem que parar o julgamento. Pára o 
julgamento para dar vista às partes, vão colocar em pauta sabe-se lá quando 
o processo, com relação ao tempo. Mas é essa a ideia. Eles só 
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excepcionaram essa ideia do art. 9º naquelas liminares concedidas inaudita 
altera parte, daí seria um absurdo ter que ouvir sempre. Então, aqui o Código 
excepciona expressamente no art. 9º, mas me parece, sem dúvida alguma, 
um exagero. Obviamente que se busca uma melhor decisão judicial, mas 
também não adianta uma melhor decisão judicial que vá ser prolatada daqui a 
10 anos, 15 anos. Não tem condições. Vocês imaginem, para cada questão de 
ordem pública, tem que dar vista às partes com base nessa ideia de 
colaboração. 
Na época que o Prof. Ovídio era vivo ainda, ele dizia – e já 
defendiam isso, defendem isso há muitos anos e conseguiram colocar no 
Código – que isso é tese para biblioteca, para compor livros de biblioteca, são 
teses acadêmicas. Daí eu digo novamente: teses acadêmicas de pessoas que 
nunca entraram num Foro, porque, se tivessem entrado no Foro, não teriam 
dito isso, que era o que o Dr. Ovídio dizia sobre essa questão efetiva da 
colaboração. Ele dizia: “É uma visão romântica de processo”. É uma visão 
romântica que talvez seja compatível com o Judiciário que tivemos na década 
de 70, mas não com o Judiciário que temos em 2015. 
E a ideia de contraditório é outro problema que temos. O 
processo tem que evoluir de acordo com os avanços sociais. A sociedade hoje 
é uma, nós vivemos em uma sociedade massificada, com um grande número 
de demandas. Então, essa visão romântica talvez se adapte lá atrás, mas não 
hoje, em 2015. Evidentemente que o contraditório deve ser preservado, sem 
dúvida alguma, mas me parece um exagero essa questão de contraditório 
para questão processual, e não tenho a menor dúvida de que isso vai acabar 
trancando o processo, o processo vai emperrar. 
Outro princípio que está no Código – e já o encontramos 
aplicado no Judiciário, pela jurisprudência, e que decorre do art. 422 do 
Código Civil – é o princípio da boa-fé processual, que me parece importante 
no sentido de que a conduta das partes deve ser norteada pela boa-fé, sem 
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dúvida alguma. Então, o princípio da boa-fé, que hoje sustentamos a partir do 
art. 422 do Código Civil, que decorre do venire contra factum proprium, está 
presente no Novo Código. Parece-me importante, mas não temos nada de 
novo aqui também. Não temos nada de novo na exata medida em que a 
jurisprudência já aplica, só temos ele positivado. Então, existe, no Novo 
Código, na parte inicial, uma valorização bastante grande dos princípios, os 
princípios foram elencados de uma forma bastante clara. 
Outro princípio que norteia o Novo Código é o princípio da 
instrumentalidade das formas, que alguns preferem chamar de formalismo 
valorativo, que, na minha opinião, tem o mesmo significado. Eles ficam 
indignados quando eu digo isso e dizem: “Não, é outra coisa”. Mas me parece 
que estão falando da mesma coisa. Procurou-se desformalizar os 
procedimentos, o que me parece importante. Por exemplo, aquela ideia 
absurda que temos hoje de recurso prematuro, recurso intempestivo, porque 
interposto antes do prazo, termina de vez. Tiveram que colocar de uma forma 
expressa – o que é um absurdo, mas no fim eu acabo sendo a favor que 
escrevam isso – que recurso interposto antes do prazo é tempestivo. E dizem 
mais ainda: não precisa ratificar. Então, acabou o recurso intempestivo, o que 
me parece importante. 
Também verificamos uma ideia de desformalização no tocante 
ao exame dos requisitos de admissibilidade que, na minha opinião, tem um 
certo exagero. O que temos com relação aos requisitos de admissibilidade no 
Novo Código? Temos o art. 932, parágrafo único, do Novo Código, que digo 
que, se houver algum problema de forma, via de regra, exceto a 
tempestividade, tem segunda chance para sanar. Qualquer problema de 
forma. Não recolheu o preparo? Não tem problema, intima para recolher em 
dobro. Não juntou nenhuma peça no agravo de instrumento? Intima para 
juntar as peças. Isto é um exagero: não juntar nenhuma peça. Há exageros na 
jurisprudência, como exigir assinatura em cima da página ou quando é 
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evidente que o agravo é tempestivo. Por exemplo, indeferimento de liminares 
inaudita altera parte, a distribuição foi hoje, amanhã é o agravo disso; dizer 
que não comprovou a tempestividade, quando é evidente a tempestividade. 
Então, têm exageros, mas não juntar nenhuma peça de agravo me parece um 
exagero no sentido da desformalização, mas a ideia é desformalizar. 
Em resumo: erro de forma tem perdão – qualquer erro de 
forma –, só a tempestividade que não tem. Ainda acho que até a 
tempestividade, conforme o caso, irá ser perdoada também, que é o caso dos 
feriados locais. Contam-se prazos em dias úteis no Novo Código: só dias 
úteis; finais de semana não contamos, férias não contamos, feriados não 
contamos. Como advogada, eu vou continuar contando do jeito que eu conto, 
porque acho que é pior ficar contando dia útil, só que vocês efetivamente têm 
que contar em dia útil, porque a regra geral é essa. Há uma norma que diz 
que, se há feriado local, tem que haver a comprovação. Aí, se a parte não 
comprovou o feriado local, é intempestivo, e acho que darão prazo para que 
sanem o problema também. Então, até a tempestividade, conforme o caso – 
na ideia do Código, que é perdoar problemas de forma –, acho que darão 
oportunidade também. Existe uma completa desformalização nesse sentido. 
Há ainda uma completa desformalização quando eles retiram 
o juízo de admissibilidade do 1º Grau na apelação. Parece-me que não tinha 
problema nenhum isso, porque quando as apelações não são admitidas pelos 
Juízes de 1º Grau é porque têm problema. Então, me parece que isso não 
atrapalhava em nada, só que retiraram – e daí é uma loucura o que fizeram – 
o juízo de admissibilidade no REsp e no RExt. Tem advogado vibrando com 
isso, mas é muito pior deixar a porta aberta para o STJ e para o STF, porque – 
falo como advogada – já temos que pedir pelo amor de Deus para que leiam 
nossos recursos em Brasília com a porta fechada, imaginem com a porta 
aberta. Quem deve estar adorando isso são os advogados de Brasília, porque 
interpor recurso especial e recurso extraordinário, se hoje já é complicado sem 
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um acompanhamento em Brasília, fica impossível com esse Novo Código. 
Isso é impossível, é insustentável. Isso não é bom, ao contrário do que muitos 
dizem, porque vai generalizar.Quando reclamam efetivamente do filtro que é feito pelos 
tribunais de 2º Grau, pelos TJs e pelo TRF, que a maioria não sobe, na 
verdade, a maioria não tem que subir mesmo, porque são recursos muito 
restritos. Qual é o problema que o Prof. Ovídio levantava também? As 
pessoas têm a ilusão – e os advogados não gostam quando eu falo isso – de 
que um dia vão chegar à decisão correta e que essa decisão correta vai ser a 
do STJ e a do STF. Ledo engano, porque às vezes é pior a decisão que temos 
lá, e as pessoas recorrem, recorrem e recorrem com essa ilusão. Então, os 
filtros são uma coisa boa, e a opinião não é só minha, têm outras pessoas que 
eu tenho conversado – depois eu vou tocar na questão da fundamentação e 
do art. 489 –, como o Lenio Streck, que é o pai do art. 489, que diz: “Isso aqui 
não está bom, isso tem que ter um filtro. Não existe uma coisas dessas”. 
Então, o filtro é importante, sem dúvida alguma. 
Com relação a essa questão da admissibilidade no Recurso 
Especial e Extraordinário, eu não sei se não mudam a norma antes de o 
Código entrar em vigor, porque vai ser um caos para Brasília isso aqui. Essa 
eliminação é coisa de advogado que não está no Foro, eliminaram porque os 
advogados reclamam: “Ah tem o filtro, os nossos recursos ficam trancados”. 
Então, é fruto dessa desformalização o acesso amplo, que não é acesso na 
exata medida, porque certamente os recursos não serão analisados, os 
recursos não serão lidos. Na verdade, a comunidade jurídica deveria se 
conscientizar de que são recursos restritos. 
E aqui, novamente vou-me valer do que o que o Prof. Ovídio 
defendia, que é a eliminação de recursos, valorização da jurisdição de 1º 
Grau, um acesso restrito ao STF e ao STJ, porque é insustentável, com o 
número de demandas que temos. É insustentável uma briga de vizinhos 
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chegar ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, mas 
isso é fruto dessa desformalização que temos, desformalização que não existe 
só nos recursos. Quando eu falo na desformalização, gosto de falar dos 
recursos, em que a vejo mais forte. Esse remendo que pode ser feito nos 
recursos, esse perdão à forma é fortíssimo em todos os dispositivos. Esses 
dois: não pagar preparo, ter o perdão de ser possível depois, e de não juntar 
peça nenhuma no agravo de instrumento são exemplos marcantes dessa 
desformalização. 
Essa desformalização encontramos também, de uma forma 
forte, na tutela provisória, e aqui já estou usando a expressão do Novo 
Código, porque eles falam em tutela provisória. Tenho alguns amigos que 
dizem ter calafrios quando escutam o nome, pela critica que é feita, toda uma 
crítica teórica. Eu até não tenho grandes calafrios, eu falo de acordo como 
está no Código, mas tem problema a expressão. Dentro da tutela provisória, o 
que foi feito? E aqui, em parte, eu concordo com o que foi feito. Houve a 
revogação do Livro III do Código. Não temos mais um livro específico para a 
tutela cautelar. Acabou o Livro III, e, terminando o Livro III, foram revogadas 
todas as cautelares nominadas. Esta parte é a que eu gosto, a da revogação 
das nominadas. 
 O que ocorre? Esse tema relativo à tutela de urgência – que 
hoje chamamos de tutela de urgência – sempre foi um dos temas mais 
controvertidos no âmbito do processo. Temos, no Direito brasileiro, duas 
vertentes com relação à tutela de urgência. Uma segue o Calamandrei, o 
Calamandrei e o Carnelutti, e aqui no Rio Grande do Sul eu diria que, talvez, o 
que melhor entendeu a teoria dele foi o Des. Galeno Lacerda, que tem uma 
obra que reflete o pensamento desse autor, que escreveu como ninguém. De 
outro lado, temos o Prof. Ovídio Batista da Silva, que não concordava com 
nada do Calamandrei, que não concordava com nada do Livro III. O Prof. 
Ovídio dizia: “Nunca me entenderam.” Toda a fama o Prof. Ovídio começou a 
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conquistar quando ele fez o anteprojeto do art. 273, da tutela antecipada. 
Então, é um ponto que a doutrina discute, discute, discute, mas uma coisa 
todo mundo concorda: que as cautelares nominadas só têm problema. Se 
vocês pegarem qualquer livro de tutela, um livro que aprofunde a matéria com 
relação à tutela de urgência, vocês verão só críticas. E existe uma proposta do 
Carnelutti, de 1928, dizendo que tinha que revogar tudo. Em 1928. Nós 
revogamos em 2015. Na verdade, parece-me importante a revogação, mas eu 
escuto de alguns: “Mas e agora eu não vou ter mais o arresto?” Grande coisa 
o arresto, têm mecanismos muito melhores no Código do que o arresto. Nós 
vamos continuar tendo o arresto, o sequestro, o arrolamento. Inclusive, tem 
um artigo lá na tutela provisória que diz que é possível se buscar o 
cumprimento do provimento na forma de arresto, arrolamento. 
Na verdade, o que ficou melhor é que não vamos ter mais 
requisitos específicos, é geral. Só dois requisitos: probabilidade do direito e 
risco de dano irreparável. Acabou. Então, acabaram aqueles requisitos 
rigorosos lá dos artigos 813 e 814 do arresto, artigos 821 e 822 do sequestro. 
Terminaram. Então, é geral, e isso me pareceu bom, houve uma facilitação, 
nós não ficamos discutindo a forma dessas cautelares nominadas. 
Mas qual é o problema que eu vejo, ao contrário do que 
muitos? Então, revogamos o Livro III e não temos mais cautelares nominadas, 
não temos mais um livro próprio para tutela cautelar. Aí o que o Novo Código 
faz? Cria um livro no Livro I, é o livro V. O Livro V da parte geral, que nominam 
de tutela provisória. E o que é que eles colocam? Em onze artigos, eles 
dividem essa tutela provisória em tutela de urgência e tutela de evidência. E 
dentro da tutela de urgência, eles colocam a tutela de urgência cautelar e a 
antecipada. Em onze artigos, eles fazem isso. O que nós temos em vários 
artigos são resumidos a onze artigos. É evidente aqui a tentativa de 
desformalizar, só que eles acabam gerando problema de novo, porque falta 
teoria de base. E quem conhece a teoria de base da tutela de urgência, 
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enxerga problema nessa desformalização, que veio para facilitar, mas vai 
gerar problemas processuais. 
Eu disse no início que eles quiseram eliminar a criação do Juiz 
positivando. Eles tentaram imaginar, mas eles tentaram imaginar o que já 
existe de problema; os problemas futuros, eles não conseguiram imaginar. E 
aqui tem um problema. Na tutela, essa que eles chamam de tutela provisória, 
eles mantêm a tutela cautelar e mantêm a tutela antecipada. A tutela 
antecipada, em linhas gerais, eles dividem em incidente e antecedente. A 
incidente é a que temos hoje, apenas tiraram o requisito da prova inequívoca, 
que era fortemente criticado. Ficamos com a tutela antecipada com três 
requisitos: a probabilidade do direito, o risco de dano irreparável e a 
reversibilidade dos efeitos, porque eles continuam falando em reversibilidade 
dos efeitos, porque vamos continuar aplicando a tutela antecipada, ainda que 
os efeitos sejam irreversíveis, naqueles casos de demanda envolvendo saúde, 
por exemplo. Certamente nós vamos continuar aplicando, flexibilizando 
requisitos. Isso continua igual e continua sendo possível pedir tutela 
antecipada na petição inicial, no curso do processo. 
Então, as ações continuarão a ser feitas, se quisermos, do 
mesmo modo, mas eles criaram uma coisa diferente, que é a antecedente, 
importada de sistemas alienígenas, com forte inspiração no Direito francês, a 
chamada estabilização da tutela antecipada. Quando eu falo em estabilização,por todas as confusões que a estabilização pode gerar, as pessoas me dizem: 
“Eu não vou querer esse negócio nunca”. O que é estabilização? Quando a 
parte – está nos artigos 303 e 304 – ajuíza uma ação – eu vou sem bem 
simplista com relação a isso aqui –, por exemplo, ela pretende a exclusão do 
seu nome do SERASA e do SPC. Como é que fazemos hoje? Ajuíza-se a 
ação, pede-se a liminar de exclusão e a procedência da ação com a 
confirmação da liminar. Como é que poderemos fazer a ação à luz do Novo 
Código? Se a parte quiser se valer dessa técnica, ela tem que avisar na 
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petição inicial – está no art. 303, §5º –, tem que dizer: “Eu quero isso”. Se não 
disser, posso fazer do mesmo jeito que sempre fiz. A parte, quando ajuizar a 
ação, ela poderá, simplesmente, pedir a tutela antecipada e só colocar os 
requisitos da tutela antecipada. Ela não precisa mais fazer uma petição inicial 
completa, exaurindo fundamentos. Ela só coloca os requisitos, probabilidade, 
risco de dano irreparável e pede a concessão da liminar. Se a liminar for 
deferida, ela terá a oportunidade de aditar essa petição complementando com 
o que falta, complementando fundamentos, juntando documentos. Se for 
deferida a liminar e se o réu não agravar, haverá a extinção do processo, 
termina o processo, estabilizando-se o provimento, ou seja, pedi para sair do 
SERASA, estou fora do SERASA. Aí vem a questão: se o réu quiser me 
colocar de novo no SERASA, depois da extinção, terá que ajuizar uma ação 
para rever essa sentença. Foi isso que, em linhas muito simples, inventaram. 
Isso aqui gera problema que não acaba mais. 
Só para elencar um dos problemas que se cogita, que surge 
nessa ação do SERASA, que é uma ação bem simples. Alguns me 
perguntam: “O.k. é extinto. Mas se eu quiser pedir o dano moral?” Geralmente 
vem com dano moral junto. Eu quero sair do SERASA e quero dano moral. Eu 
não quero que seja extinto, porque, se for extinto, como é que vai ficar meu 
dano moral? Eu digo: “Se tu quiseres o dano moral, lamento, mas não peça a 
técnica. Se tu quiseres o dano moral, continues fazendo a ação do jeito que tu 
sempre fizeste”. Na verdade, isso pode só valer a pena naqueles casos em 
que eu não tenho cumulação de pedidos. Nas ações de fornecimento de 
medicamentos, isso pode valer a pena. 
Estava dando um curso para o Ministério Público, outro dia, 
daí uma Promotora disse: “Bah, agora vai ficar horrível. O Estado é obrigado a 
agravar de tudo”. O Estado terá que agravar de tudo, quando pedirem a 
técnica, e o Tribunal ficará sobrecarregado com esses agravos. Se na inicial o 
autor disser que quer a técnica, tem que interpor agravo de instrumento, 
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senão a situação fica pior do que está. Então, isso foi criado – está no art. 304 
–, mas têm – na manhã de hoje não vamos falar só de estabilização – 
inúmeros outros problemas que isso vai gerar, e este é apenas um deles. 
Então, digo para vocês que a tutela antecipada continua com ela é hoje, só 
muda se a parte quiser se valer da técnica. Qual é o problema? Tem gente 
confundindo tudo. As pessoas não se deram conta, acham que estabiliza 
sempre, misturam tudo. Não é. O que tem do art. 273, que a gente faz hoje, 
está em outros artigos. Se vocês olharem, só está a colagem do art. 273, e a 
técnica, se quisermos usar, usaremos. Mas não é nenhuma alteração que vá 
mudar tudo, não é difícil de compreender isso aqui, mas o chato é verificar 
todos os problemas que a estabilização possa gerar sempre que for requerida. 
O resto é igual. 
Na tutela provisória, eles fizeram ainda outra coisa – que 
também não é nenhuma novidade – para desformalizar e não se deram conta 
de um detalhe. Hoje, nós continuamos tendo ação cautelar, e a ação principal 
deve ser ajuizada num prazo de 30 dias a contar da efetivação das medidas, 
nos termos do art. 806. Então, temos uma ação cautelar e uma ação principal. 
O que o Código faz? Ele elimina a ação principal e fala em um pedido principal 
nos próprios autos, o pedido principal é feito junto, tudo no mesmo 
procedimento. Isso o Galeno Lacerda sustentava há 30 anos, não é nenhuma 
novidade, nos livros dele vocês já vão encontrar isso. E há 30 anos, o Prof. 
Ovídio já dizia que isso era um problema no processo, o de cumular. 
Vou dar um exemplo da cumulação, um exemplo que não tem 
como cumular, e que eles não se deram conta. Eu ajuízo uma cautelar com a 
finalidade de apreender bem para assegurar o pagamento de um crédito, que 
é o nosso arresto. Eu ajuízo um arresto com um nome que vai ter um nome de 
cautelar. Tendo em vista esse princípio da desformalização que impera no 
Código, se eu der o nome de arresto, parece-me que não tem problema 
nenhum também. Ajuízo uma ação cautelar, que, na essência, é um arresto, 
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só que eu sou credor de um crédito corporificado em um título, eu sou credor 
de uma nota, e o meu crédito está corporificado em uma nota promissória. 
Então, ajuizei o arresto. Qual é a minha ação principal? É uma ação de 
execução de título extrajudicial. Qual é o problema? Eu não tenho como fazer 
esse pedido nos mesmo autos, porque é execução, e ela é a ação. Como é 
que eu vou pedir nos mesmo autos que o réu seja citado para pagar em três 
dias? Aí vai embargar, e os embargos vão ficar em apenso nisso aqui? Então, 
parece-me que eles não lembraram que existe execução para dizer que o 
pedido é sempre nos próprios autos. Têm casos que não vamos conseguir 
fazer o pedido nos próprios autos, que é o caso da execução. Não dá para 
cumprir o que tem no Código. 
Por outro lado, quando eles falam em cumulação de pedido 
principal na própria ação, eles misturam lide cautelar com lide principal, que é 
um problema que temos no Brasil, e a maioria da doutrina não enxerga que 
temos uma lide cautelar com requisitos diversos de uma lide principal, ou seja, 
a lide cautelar não é uma parte da lide principal. Ela tem pressupostos 
distintos, e não enxergaram isso, não viram isso. Então, temos duas lides 
distintas no mesmo processo em que a instrução vai ser conjunta, o que causa 
tumulto, sem dúvida alguma. Essa era uma das grandes objeções que o Prof. 
Ovídio também fazia à ideia de cumulação, por estarmos diante de lides 
distintas. 
Ainda um detalhe com relação à cautelar. Se vocês lerem, é 
“recorta e cola” do art. 796 até o art. 812. A diferença é essa cumulação, 
porque o resto é praticamente igual ao que se tem, não tem grande diferença. 
Na tutela provisória, o que é o diferente? É a estabilização, que vai ser 
utilizada se a parte requerer. Ali é que tem uma série de discussões que 
podem ser levantadas; o resto é “recorta e cola” do que temos, não muda. 
Então, não é tão assustador assim como muitos colocam; com uma leitura 
atenta, se observa isso de uma forma muito clara. 
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Outro ponto do Novo Código que tem gerado grandes 
discussões – é o artigo da discórdia do novo Código – é o art. 489, que trata 
da questão da fundamentação das decisões judiciais. Os advogados amam, e 
os magistrados odeiam o art. 489, e a idéia deste artigo foi novamente a 
eliminação do protagonismo judicial – que eles gostam muito de falar, e eu 
estou usando exatamente as palavras daqueles que defendem o Código –, a 
eliminação de decisões-surpresa dentro dos processos. Então, a ideia é a 
eliminação efetivamente de algunsproblemas que temos hoje, estabelecendo-
se, no art. 489, requisitos para que uma decisão seja fundamentada com 
detalhes. Temos o art. 489 e temos os artigos 926 e 927, que são os artigos 
da vinculação da decisão judicial a precedentes. 
Em relação ao art. 489, temos ouvido falar que não temos 
mais livre convencimento judicial, que os magistrados não são mais livres para 
decidir. Eu ouvi isso, eu escuto isso. Eu digo que livre convencimento judicial 
motivado – eu acho que existe uma distorção de quando falam disso – não 
vamos eliminar nunca. Evidentemente que o Juiz vai ser livre para decidir, só 
que é obvio que o Juiz é livre, mas tem que decidir de acordo, primeiro, com a 
prova dos autos. Eu canso de fazer REsp por violação ao art. 131 e consigo 
provimento. Então, isso já existe. Segundo, é obvio que o Juiz é livre, só que o 
seu limite é a Constituição Federal. Ele não tem como ir além da Constituição, 
dizer diferente da Constituição. Isso nós não vamos eliminar. 
E aqui há um detalhe. A própria Constituição Federal 
possibilita, muitas vezes, duas respostas, a partir do próprio texto 
constitucional, e muitos falam em resposta adequada à Constituição. Então, 
uma resposta adequada à Constituição nós podemos ter. Têm princípios 
constitucionais que muitas vezes, no caso concreto, entram em choque. Têm 
direitos que entram em choque, que o Juiz vai para um lado, e aqui não é 
eliminado esse livre convencimento, não tem como eliminar o livre 
convencimento. Quando eu falo em livre convencimento, obviamente livre 
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convencimento motivado, uma decisão judicial vinculada, eu falo em 
Constituição Federal, porque muitas vezes a legislação infraconstitucional tem 
problemas. Se ela tem problemas, vamos à Constituição, por isso que eu falo 
dessa vinculação à Constituição, que é a nossa lei maior. Evidentemente essa 
vinculação existe, sempre existiu. Na verdade, o problema que existe de que 
acabou o livre convencimento, que eu vejo, é o livre convencimento sem 
motivação, este sim. 
Então, enxergamos abusos. Tenho exemplos na Justiça do 
Trabalho, onde isso acontece muito. Tem Juiz do Trabalho que diz que não 
existe prescrição, e a prescrição está na Constituição. Isso o Novo Código 
elimina, mas não tem como ir contra o que está na Constituição Federal. Na 
verdade, o que o Novo Código coloca – eu vejo dessa forma – é o motivo de 
acordo com a prova dos autos e que tem um limite, e o limite é a Constituição. 
Isso não tem como eliminar. A questão é o livre convencimento sem 
motivação nenhuma, daí é um ativismo, é invenção. É invenção dizer que 
prescrição não existe, e é isso que se procura eliminar, esse livre 
convencimento sem razão nenhuma, um livre convencimento que viola até a 
Constituição, mas o livre convencimento motivado, de acordo com as normas 
constitucionais, não vai mudar, não tem como. 
Quando se fala desse assunto, vem, geralmente, o nome do 
Lenio Streck, que foi o pai desse bendito art. 489, que é contra o ativismo 
judicial. O próprio Lenio, quando fala, fala dessa interpretação adequada à 
Constituição Federal. Ele fala isso nos livros dele. Então, esse livre 
convencimento sem fundamento nenhum, essa invenção, é que não pode. Eu 
tenho vários amigos Juízes que dizem: “Eu já faço isso aqui que tem no art. 
489”. Muitos fazem, é obvio. Eu tenho iniciais que eu contesto que eu fico 
irritada com o que fazem, tem tanto pedido absurdo que eu fico indignada com 
o advogado da outra parte. Se eu fosse Juíza, eu ia ficar furiosa de ter que 
rebater aquele monte de itens do pedido. 
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Dou um exemplo. Eu não trabalho com massa, mas teve uma 
ocasião em que eu fui surpreendida com o ajuizamento de trezentas 
revisionais de contrato de loteamento contra um cliente meu que era 
proprietário de loteamentos, e o advogado fez, como matriz daquelas 
trezentas revisionais, revisionais de contrato bancário, que não tinha nada a 
ver. Eu me irritava de olhar aquilo, imagina um Juiz, ficaria irritadíssimo 
também. Esse tipo de coisa não teria problema nenhum de fundamentar: “Os 
pedidos a, b, c e d são todos improcedentes porque se referem à revisional de 
contrato bancário”. 
Então, parece-me que o Judiciário vai ter que balizar isso, 
vamos ter que ter precedentes, orientações. Têm situações que me parece ser 
possível uma fundamentação em bloco. Eu tenho um pedido x que tem o 
mesmo fundamento e eu vou poder dizer: “Rejeito os pedidos, porque o 
fundamento é esse”. Não há problema nenhum. 
Esse caso que eu vi, que me irritou, dessas trezentas 
revisionais, que foram todas julgadas improcedentes, o meu cliente teve um 
prejuízo de quatro milhões por causa desses processos, todos com AJG. 
Então, na verdade, é possível, parece-me, essa fundamentação de que temos 
que fundamentar, mas fundamentação que seja relevante para a procedência 
do pedido. O artigo diz isso. Então, o que é irrelevante, em tese, ficaria até 
descartado, ficaria excluído. Não me parece tão assustador assim esse art. 
489, e têm muitos Juízes que já o aplicam, e me parece que é possível, 
principalmente nessas ações com esses pedidos absurdos, essa 
fundamentação em bloco, fundamentação com a mesma argumentação. 
Na verdade, a jurisprudência vai acabar indo nessa linha, e 
vocês, que decidem, é que vão acabar formando isso aqui e vão ter que lutar 
por isso, mas não me parece o horror que muitos estão pregando. Então, o 
livre convencimento não acabou, muitos daqueles que examinam processo já 
fazem isso, e essas fundamentações em bloco me parece que têm que ser 
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possíveis. Se a fundamentação é a mesma para todos os itens do pedido, não 
vejo problema nenhum com relação a essa questão também. 
No tocante a súmulas, vinculação a súmulas, via de regra, 
quando eu falo para advogados, eles não concordam com relação à aplicação 
de súmulas, principalmente em casos repetitivos, ação de massa. O que eu 
digo em relação a isso? Com relação a elas, parece-me que existe uma 
vinculação muito forte a precedentes que temos nos artigos 926, 927 e lá no 
489, ou seja, se o magistrado não quiser aplicar a súmula, o.k., mas ele tem 
que dizer que os casos que ensejaram a súmula não se enquadram naquele 
caso específico. Ou, se ele efetivamente quiser aplicar a súmula, ele tem que 
dizer: “Olha, se aplica por essa razão aqui”. Então, ele tem que fazer o devido 
distinguishing, que estão comentando, para ver o que aplica. Nos meus 
processos, eu faço o distinguishing desde que eu advogo, então eu sempre fiz 
isso: “Se aplica, tem aqui o caso, é o caso”. 
Com relação à aplicação de súmula e julgamentos em casos 
repetitivos, me parece que não adianta lutar contra uma súmula sozinho, 
decidindo contra: “O STJ diz dessa forma, só que eu não concordo com o STJ, 
a minha ideia é essa”. E o Ministro Carlos Veloso, que foi Presidente do 
Supremo Tribunal Federal, deu uma entrevista e disse: “São decisões por pura 
vaidade, que não vão a lugar nenhum”, porque, se tem súmula, se tem 
decisão em caso repetitivo, vai prevalecer a decisão no caso repetitivo, vai 
prevalecer a decisão da súmula. Na verdade, aquela decisão isolada não vai 
mudar toda a posição de uma Corte Superior, essa decisão isolada só acaba 
gerando mais recurso, esse é o problema. Então, parece-me razoável a 
vinculação, mas a maioria dos advogados é contra e dizem: “O Judiciário tem 
que respirar, precisamos de novas interpretações. Precisamos renovar, então 
não podemos ter essa forçatoda”. Nenhum Judiciário respira com esse 
número de ação, não vai ser em uma decisão judicial isolada. Se querem que 
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haja uma renovação, que introduzam outros mecanismos, mas não é esse o 
mecanismo, não é decidindo de forma diferente. 
Então, no caso de precedentes e no caso de repetitivos – 
repetitivos também têm a vinculação – existe a vinculação e me parece 
razoável, porque não vai ser o Juiz de 1º Grau, não vai ser o Desembargador 
que vai mudar a posição de uma Corte Superior. Na verdade, essas 
modificações exigem outros mecanismos, a movimentação tem que ser em 
outro sentido, porque só acaba gerando isoladamente mais recursos. 
Lamento. A súmula pode me prejudicar? Pode, mas vou fazer o quê? Não vou 
mudar, não tem como. Então, na verdade, eu acho interessante a vinculação, 
contrariando o que a maioria dos advogados dizem também com relação a 
isso, mas infelizmente é dessa forma, temos que nos adaptar aos novos 
tempos com relação a essa questão. 
Isso com relação ao art. 489, que eu não poderia deixar de 
falar, porque eu escuto falar tanto deste artigo, acho que é distorcido o que 
alguns dizem e desconfio que até o próprio Lenio Streck duvide que dentro da 
Constituição tu não possas ter mais que uma interpretação. Tu podes ter, sem 
dúvida alguma, dentro do texto constitucional. O que se busca aqui é que se 
fundamente. Se o Juiz quer decidir de determinada forma, o Juiz criativo tem 
muito mais trabalho, a criação dá trabalho, mas evidentemente continuaremos 
tendo criação, porque, se não admitirmos a criação, vamos voltar para um 
positivismo puro, que é justamente o que se critica. Fala-se que o modelo 
positivista é inadequado na nossa realidade contemporânea, porque a 
legislação não consegue acompanhar os avanços sociais. Então, obviamente 
que a interpretação existe, só que a questão é qual é a melhor interpretação. 
Na verdade é isso, e eu digo: melhor interpretação e também interpretação 
adequada ao texto constitucional, a Constituição é o limite, eu vejo dessa 
forma. Não temos como conviver dentro de um modelo puramente positivista – 
isso é impossível –, precisamos de interpretação – e são os magistrados que 
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interpretam a legislação –, precisamos dos magistrados e não temos como 
amarrá-los dizendo: “Agora vocês viraram máquinas, agora vocês viraram 
computadores”. Não temos como transformar a decisão judicial em um 
programa de computador, isso não existe, e Novo Código não diz isso em 
momento algum. Na verdade, ele só exige que o magistrado decline as razões 
e acabe não decidindo da forma como eu mencionei para vocês, como esses 
Juízes do Trabalho, que negam vigência à Constituição, porque aí acabam 
dizendo qualquer coisa. E o Supremo Tribunal Federal também, porque temos 
muitas decisões dizendo o que a Constituição não diz, temos exemplos no 
STF nesse sentido, e isso acaba gerando um perigo e comprometendo o 
estado social e democrático de direito. Então, por isso essa ideia, essa 
vinculação ao texto constitucional. 
Há ainda dois últimos tópicos – daí eu já encerro para as 
perguntas – do Novo Código, que me parecem importantes. 
Eliminamos do Novo Código o rito ordinário e o rito sumário e 
criamos um procedimento único, um procedimento comum, que é um misto 
das normas do rito ordinário com o sumário, é uma mistura se vocês olharem. 
Quem conhece bem o rito sumário e o rito ordinário vai ver as normas ali, é 
um misto. Tentam também desformalizar, mas esse procedimento comum 
introduz, no início do procedimento, uma audiência de tentativa de conciliação 
e mediação, que, na minha opinião, é bastante válida, porque eu acho 
importante a conciliação. Falo novamente como advogada e digo sempre que 
a conciliação é tanto boa para o autor, quanto para o réu, elimina anos de 
processo, elimina o desgaste de uma ação judicial, só que o Judiciário tem 
que ter estrutura para isso, evidentemente que os Juízes não têm com fazer 
tudo que é conciliação. 
Aqui no Rio Grande do Sul já estão formando mediadores, 
conciliadores, para que façam isso, só que não adianta introduzir uma 
audiência de conciliação e mediação se quem vai presidir essa audiência não 
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sabe conduzir. Já fiz inúmeras audiências na minha vida, e têm Juízes 
maravilhosos com conciliação, têm Juízes muito bons nisso, mas tem uns que 
não são bons na conciliação, tem Juiz que tenta, que tem paciência, porque 
perde tempo, e ainda não é só uma audiência, são várias que poderão 
ocorrer, e uma prolongando a outra; se não deu hoje, vamos tentar, vamos 
continuar discutindo, então serão várias, talvez, audiências de conciliação. 
Têm que ter paciência o conciliador e o mediador, terão que ter, sem dúvida 
alguma, uma formação, tem toda uma técnica nessas conciliações, nessas 
mediações, precisamos de pessoas preparadas. 
O nosso Judiciário tem desenvolvido essa formação de 
conciliadores e mediadores, mas no Brasil muitos não estão desenvolvendo 
isso. Em Minas Gerais, teve um magistrado que disse: “No nosso Estado essa 
audiência não vai acontecer, porque isso é impossível”. Ou seja, já estão 
negando vigência ao Código. Então, se tivermos pessoas preparadas, 
capacitadas, isso pode ser interessante, mas tem que ter formação, não é 
qualquer um que pode fazer isso. Vejo isso na Magistratura, que efetivamente 
têm alguns que são ótimos conciliadores e têm alguns que não são, não estão 
nem preocupados com a conciliação. Então, deve haver aqui toda uma 
formação, uma mudança de cultura no início do procedimento, que pode 
auxiliar, sem dúvida alguma. 
Por fim, ainda, outra novidade – isso que eu disse aqui: 
princípio do contraditório, colaboração, fundamentação de decisão, disso a 
academia fala há anos –, outro tópico que foi introduzido no Novo Código que 
me parece o novo, o diferente – que eu não sei se vão aplicar também, eu 
duvido, pelo menos quando já tem litígio instaurado –, que é o negócio jurídico 
processual, artigos 190 e 191 do Novo Código. Isso me parece o novo. 
As partes, no Novo Código de Processo, podem mudar o 
procedimento, pactuar normas de procedimento diversas das que temos 
previstas, estabelecendo um calendário processual. Podem negociar prazos, 
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por exemplo. E tem um artigo do Novo Código que diz que até os prazos 
peremptórios podem ser negociados, o que é diferente do que temos hoje. 
Então, as partes podem estabelecer, por exemplo, um calendário processual: 
“No nosso caso, o prazo da réplica não vai ser de 15 dias, mas vai ser de 30. 
O prazo de recurso também, o prazo de recurso não vai ser de 15 dias, mas 
vai ser de 30”. Então, por causa desse artigo que possibilita a negociação de 
prazos peremptórios, é possível a negociação. 
Parece-me possível a negociação de prova, a questão da 
prova me parece uma das mais interessantes até de negociar. Eu negocio 
quem vai ser o perito, negocio o prazo para quesitos, negocio o prazo para a 
entrega de laudos por assistentes técnicos. É possível a negociação, o Código 
não dá o limite para essa negociação. Será que é possível eu negociar: “As 
partes abrem mão de o Juiz ter que ouvir as partes na questão de ordem 
pública”? Será que pode negociar isso? Eu não vi ninguém falando disso, eles 
só dizem que pode negociar, e já têm livros sobre isso. 
Essa negociação não está sujeita à homologaçãodo Juiz, o 
Juiz não precisa concordar. Na verdade, haverá o controle das cláusulas que 
poderão ser aplicadas ou não posteriormente. Então, estabelece o calendário, 
vai seguindo o calendário, e esse controle desse calendário, do que for 
negociado efetivamente, vai se dar durante a marcha do processo. O que eu 
digo com relação a isso? Os livros e os artigos que já têm sobre isso – e esse 
tema vem da Alemanha, da França, dos Estados Unidos, trouxeram de outros 
países – dizem que as partes podem estabelecer o calendário naquela 
audiência de conciliação e mediação, no início. Mas quando há litígio, não se 
consegue fazer um acordo, vai ser muito difícil estabelecer um calendário 
nessa audiência, porque depois que já houver o desencadeamento do 
processo judicial, depois que já foi desencadeada a jurisdição, é muito difícil 
que partes negociem calendário no início, quando há o contencioso. 
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Onde me parece que isso possa ser interessante, que isso 
possa acontecer? No âmbito extrajudicial, nos contratos, ou seja, eu firmo um 
contrato, eu firmo um acordo extrajudicial. Como contém nos contratos, nós 
não estabelecemos clausula de arbitragem? Então, podemos estabelecer um 
rito, a criação de um rito, de uma marcha processual, no extrajudicial. 
Aí tem um detalhe: essa negociação processual é possível 
desde que uma das partes não seja vulnerável, hipossuficiente, 
evidentemente, porque, se for vulnerável, não tem como, no caso de 
vulnerabilidade, não é possível. Nos demais casos, sim. 
Parece-me que no extrajudicial talvez seja a maior aplicação 
prática disso, que é uma espécie de privatização da Justiça, nesses artigos 
190 e 191. O resto dos artigos são teses acadêmicas, “recorta e cola” do 
Código de 73. 
Com isso, então, eu encerro, agradecendo mais uma vez a 
atenção de todos vocês. Estou disponível para sanar eventuais dúvidas que 
vocês tenham a respeito do Novo Código. Obrigada. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Correspondeu e superou as 
expectativas a manifestação da Professora Dra. Jaqueline, a quem agradeço 
muito. 
Essa visão panorâmica, abrangente, no espaço de cerca de 
uma hora e dez minutos, brindou-nos com reflexões críticas importantíssimas, 
que me permitiram tomar uma série de notas valiosas para o nosso grupo de 
estudos que se debruçará sobre esse tema. 
Antes de colocar a palavra à disposição, permito-me alguns 
breves comentários. A Profa. Jaqueline mantém viva a memória e dá 
continuidade à obra do Prof. Ovídio, o que é extremamente importante e 
gratificante, tendo, inclusive, publicado um livro póstumo. Foi póstumo, não é? 
 
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DRA. JAQUELINE MIELKE – Foi o “A Epistemologia das 
Ciências Culturais”, que ele terminou de escrever quando estava muito 
doente, mas não deu tempo de publicar, e ele pediu para que eu 
providenciasse a publicação do livro, mas foi ele que terminou. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Foi uma publicação post 
mortem, embora o Prof. Ovídio tivesse finalizado o livro. 
Eu tive a felicidade, o privilégio, na graduação da UFRGS, em 
todos os semestres de Processo Civil, de ter sido aluno do Prof. Ovídio. 
Depois eu ainda fiz uma pós-graduação em Processo Civil na PUC, no ano de 
1989, e o Prof. Ovídio, naquela época, com os Professores Fábio Gomes e 
Sérgio Roberto Porto, lecionava na PUC. Naquela ocasião ainda tive também 
esse privilégio. 
Não obstante, também tive outro privilégio de ter trabalhado 
com o Prof. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, aqui no Tribunal, na 6ª Câmara 
Cível, quando ele integrava a Câmara, embora sabíamos que o Prof. Carlos 
Alberto e o Prof. Ovídio tinham posicionamentos opostos em muitas questões 
importantes, que hoje estão se materializando no Código. Às vezes, os 
Códigos tardiamente consagram algumas ideias, e ambos já faleceram. Talvez 
o Prof. Ovídio, se vivo fosse, ficasse muito chocado com esse Novo Código, 
que colide com muitos princípios e fundamentos que ele defendia. 
Eu queria fazer aqui uma breve anotação. Eu recebi esses 
números do Min. Paulo de Tarso Sanseverino – uma curiosidade para a Profa. 
Jaqueline –, eu encontrei o Ministro em um congresso, e ele me deu esses 
números redondos. O STJ recebe, em média, por ano, o número de recursos 
especiais que sobem é de 300 mil, e ele disse que a média nacional de 
negativa de seguimento de recursos dos Tribunais de Justiça e Tribunais 
Regionais Federais é de 50%. Então, o Min. Paulo fez um comentário comigo 
de que a lógica do Novo Código significa que, por ano, os recursos especiais 
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subiriam de 300 mil para 600 mil, já que a média nacional de negativa é de 
50%. 
Ele ainda me deu mais um dado curioso – são números 
redondos, a Dra. Maria Tereza Barbieri deve conhecer esses números no 
detalhe –, de que o Rio Grande do Sul é diferente, que os filtros são mais 
criteriosos e rigorosos. Ele disse que 20% dos recursos especiais sobem e 
80% não sobem, que no Rio Grande do Sul, nós temos mais critério para essa 
admissibilidade. 
Também tenho a informação de que, como esses recursos 
têm que ser digitalizados, segundo estou informado, a demora do nosso 
Tribunal para a digitalização, para o envio ao STJ, tem sido em torno de um 
ano, e se todos os recursos tiverem que subir, se não houver esse filtro, o 
departamento do Tribunal que digitaliza vai ter que quintuplicar a sua carga de 
trabalho, e demoraria no mínimo dois anos para que um recurso fosse enviado 
ao STJ pela necessidade da digitalização. Se eu estou falando um dado 
incorreto, eu pediria que a Dra. Maria Tereza Barbieri complementasse, 
porque tenho números muito grosseiros. 
Quero comentar também, Profa. Jaqueline, que é uma grande 
preocupação nossa – a minha leitura é do 2º Grau, o grupo de estudos que eu 
vou me envolver para as mudanças do Regimento Interno é todo focado no 2º 
Grau de Jurisdição – essa questão de quando um julgamento em curso tem 
dois a um, e nós teremos que chamar mais dois Desembargadores. Isso 
realmente é muito preocupante. Nós não temos como chamar mais dois no 
curso daquela sessão. Tudo indica que será suspenso o julgamento daquele 
processo, prosseguirá na sessão seguinte, com mais dois Colegas. 
E o próprio Código prevê a possibilidade da renovação da 
sustentação oral para que aqueles outros dois que serão convocados para 
prosseguir também sejam brindados e agraciados com a sustentação oral 
daqueles advogados que já haviam sustentado anteriormente para aqueles 
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três. Às vezes, em razão das sustentações orais, os nossos julgamentos se 
arrastam por horas, têm sessões de julgamentos que terminam à noite por 
causa das sustentações orais. Imagina elas sendo renovadas, isso realmente 
é um problema. Ainda no caso do nosso Tribunal, Profa. Jaqueline, a 
composição atual é de quatro Desembargadores por Câmara, não cinco, com 
a exceção de três Câmaras: a 23ª, a 24ª e a 25ª, e sempre tem um 
Desembargador em licença prêmio, um Desembargador em férias, um 
Desembargador doente, ou cargos vagos por remoção, por aposentadoria. 
Teremos que convocar Desembargadores até mesmo de outras Câmaras para 
compor, até que, no futuro, o Tribunal possa prover e nomear o quinto 
membro para cada Câmara, mas mesmo assim haverá inúmeras dificuldades 
quanto a isso. 
Também essa questão da conciliação e da mediação, quer meparecer que o Tribunal terá que se aparelhar com recursos humanos, o 
Tribunal terá que ter funcionários capacitados e remunerados para essa etapa 
inicial do processo, o que vai ter consequências, inclusive, orçamentárias. 
Em relação àquela questão da mudança de rito e de prazo, 
que o processo pode dispor, que as partes podem dispor de uma maneira 
diferente, que foi a sua última colocação, o nosso grupo de estudos também 
se preocupa com o nosso processo eletrônico, que está em fase de 
implantação. Os sistemas de informática estão sendo desenvolvidos para o 
processo eletrônico, e muitas etapas são customizadas e automatizadas. 
Imagina se nós temos que alterar o processo eletrônico porque em 
determinado processo as partes compuseram totalmente diferente o rito e os 
prazos. Isso vai demandar até uma janela de informática para que 
programadores possam mudar procedimentos e prazos, porque as partes 
transigiram, e isso vai interferir no processo eletrônico. Não sendo processo 
eletrônico, isso tem mais facilidade de controle pelo Escrivão e pelo Juiz, mas 
no processo eletrônico vai ser algo complicado. 
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Por último, um aspecto que talvez a Profa. Jaqueline não 
tenha comentado, mas é, para nós, importante, que é a questão da avocação, 
avocatória. Não é bem esse o termo da avocatória, mas aquela questão de 
quando começa a se formar uma matéria repetitiva no 1º Grau, e o Tribunal, 
percebendo, pode avocar aquele assunto e julgar no Tribunal, criando uma 
interpretação que vai impor ao 1º Grau uma solução padronizada para ações 
de massa, sem que tenha havido ainda o devido processo crítico de reflexão 
sobre alguma demanda repetitiva que começou a se formar no 1º Grau. Isso 
também, pra nós, é algo estranho, algo inusitado, porque a lógica atual do 
sistema é que o 1º Grau examina primeiro as ações repetitivas, faz o 
julgamento, e o Tribunal acaba – às vezes até naquelas ações populares, 
ações civil públicas, aquelas ações coletivas de consumo – dando uma 
uniformização, mas tendo um tempo maior de reflexão, de maturação. Depois, 
o próprio STJ, no art. 543-C dos recursos repetitivos, dá a padronização final. 
Isso aqui, para nós, é algo muito estranho, porque poderíamos atropelar o 1º 
Grau. 
Estas são essas considerações iniciais que eu queria colocar 
para a Profa. Jaqueline, se tiver algum comentário sobre isso. Depois, 
colocaremos a palavra à disposição. 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – Com relação aos repetitivos, os 
números que o Ministro te deu, eu pensei que fossem até maiores do que isso, 
eu pensei que o que chegaria lá, com a abertura da porta, seriam muito mais 
do que 600 mil, porque não dá pra fazer um cálculo linear disso, porque São 
Paulo manda mais, São Paulo tem um número muito grande. Então, eu acho 
que não é possível só dobrar pelos 50%, porque só São Paulo já deve ser 
bem maior do que esse número aqui. Se eu fosse os Ministros, eu estaria 
bastante preocupada com essa disposição. 
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A questão que tu colocaste do processo eletrônico, com 
relação ao negócio jurídico processual, é algo preocupante mesmo. O 
processo eletrônico é feito para esse procedimento. Então, se mudar todo o 
sistema, cria outro problema. Na verdade, é estranho eles não terem se 
preocupado com isso, porque vemos no Código a positivação de muitos 
procedimentos da Justiça Federal, e já temos o processo eletrônico há muito 
tempo, e funciona de forma diferente a Justiça Federal, ela é diferente das 
Justiças Estaduais. Então, foi uma preocupação que eles não tiveram e que é 
pertinente com relação ao processo eletrônico. 
No processo em papel, em tese, não teria o mesmo problema, 
mas as Justiças Estaduais um dia chegarão ao nível da Federal também, um 
dia vai ficar tudo eletrônico. Aí, como é que fica a negociação? Vão fazer um 
programa específico para aquele negócio? Uma coisa estranha. Eu vou 
contratar um programador para fazer um programa específico de um processo 
eletrônico diferente? Então, parece-me interessante a preocupação que 
efetivamente tu tiveste com relação a isso, com relação a essa adequação ao 
eletrônico. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Teria algum comentário 
sobre a avocatória ou não? 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – Eu concordo contigo com 
relação à avocatória. Realmente é um problema, mas a ideia é tentar resolver 
o problema dos repetitivos também, é essa a ideia. 
Eu sou uma grande crítica dos repetitivos, eu acho um horror 
aquilo, os repetitivos são um festival de “recorta e cola”, ninguém lê processo, 
o advogado não lê as petições, porque um recorta e cola do outro, aí o réu 
contesta, só recorta e cola, as sentenças são todas iguais. Então, parece-me 
que tem que ter esse tipo de mecanismo. Tudo que é mecanismo para reprimir 
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repetitivo, para tentar adequar, eu sou a favor, porque é um caos, é terrível. 
Para o advogado que trabalha com isso, é horrível; para o Juiz que trabalha 
com isso, é terrível também; para o assessor que fica lá tendo que recortar e 
colar decisão, também é horrível. Então, esses mecanismos me parecem 
razoáveis. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Vamos, então, colocar a 
palavra à disposição. A Dra. Maria Tereza vai contribuir. 
 
DRA. MARIA TEREZA BARBIERI – Inicialmente, gostaria de 
parabenizar o Des. Ney pela iniciativa, convite, retomando o Projeto 
Horizontes do Conhecimento, um tema tão fundamental, vital para todos nós 
operadores do Direito. Gostaria também de saudá-la pela brilhante exposição, 
pelas suas reflexões, estudo em tão pouco tempo, vamos dizer assim, a partir 
do Novo Código de Processo Civil, reflexões, análise percuciente que 
compartilha conosco e assim também nos motiva e incentiva a prosseguirmos 
no estudo, sempre aperfeiçoando, porque é o nosso dia a dia, o nosso 
trabalho, o nosso dever de buscar sempre esse aprofundamento. Contamos 
com a sua presença e participação em muitas outras oportunidades, com 
certeza prosseguindo nesse estudo e nessas reflexões. 
A partir da colocação do Des. Ney com relação aos nossos 
recursos especiais e extraordinários, peço que toda a equipe da Assessoria 
aqui presente me auxilie se faltarem alguma observação. Efetivamente, no 
ano passado, o nosso relatório apontou que foram analisados 
aproximadamente 120 mil recursos especiais e extraordinários no Estado do 
Rio Grande do Sul. Em torno de 80% ou mais são recursos que têm 
seguimento negado, denegado o próprio recurso em virtude de estar 
enquadrado em paradigma na repercussão geral ou dos recursos repetitivos. 
Com isso, o número que ascende às Cortes superiores é bem inferior, uma 
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vez que, sendo denegado o recurso, porque se enquadra nos recursos 
repetitivos, nos paradigmas da repercussão geral ou dos recursos repetitivos, 
rende agravo regimental, e a decisão é nossa, aqui do próprio Tribunal, 
conforme assim estabelece o nosso Regimento Interno. 
Os recursos que tem negado seguimento, enfim, possível 
agravo, art. 544 do Código de Processo Civil, são esses que constituem a 
grande maioria dos recursos que se encontram junto ao serviço de formação 
do processo digital. E o prazo é em torno de seis meses – não de um ano –, 
porque há carência – e aqui os colegas podem corroborar essa informação –, 
tanto de pessoal quando de recursos. Atualmente acredito que são três ouquatro servidores que têm a sua designação com fé pública para esses 
processos. 
Então, há grande massa de agravos, porque a parte 
remanesce inconformada com a decisão de negativa de admissibilidade do 
seu recurso. Eles são digitalizados, são indexados, validados e certificados, ou 
seja, todas as peças são identificadas e indexadas, e o Senhor Ministro-
Relator, após distribuído esse recurso digitalizado, via eletrônica, tem todas as 
peças indexadas, desde a inicial, contestação, sentença, recursos e acórdão. 
Enfim, é esse o trabalho que se faz, sempre com grande 
esforço, e posso assegurar, com orgulho, que aqui no Estado do Rio Grande 
do Sul o índice de erro é inferior a 0,00, alguma coisa assim, comparando, 
então, com todo o restante dos recursos que são digitalizados no País. 
Também gostaria de ressaltar que, em auxílio à prestação 
jurisdicional e à efetividade, nós temos inserido no nosso planejamento 
estratégico do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul a gestão 
estratégica das ações de massa. Esse é um trabalho que se faz aliado ao 
Núcleo de Repercussão Geral e Recursos Repetitivos, instituído no Estado do 
Rio Grande do Sul, no Poder Judiciário, no ano de 2012, a partir da Resolução 
nº 160 do CNJ. Com isso, todas as demandas de massa têm um tratamento 
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diferenciado; os recursos, com adesão dos colegas da jurisdição, ficam 
suspensos, aguardando, então, a decisão na ação coletiva ou na ação civil 
pública ou também, simultaneamente, ao recurso especial paradigmático. 
Esse é o trabalho que se faz, antes mesmo do que já agora institui o Novo 
Código de Processo Civil, é a prática que vamos aperfeiçoando. 
Então, são esses os esclarecimentos, a partir da colocação do 
Des. Ney, que penso pertinentes, convidando a todos, a partir dessas 
reflexões, junto com a Profa. Dra. Jaqueline, a prosseguir nesses estudos e 
reflexões sobre esse tema tão vital para todos nós operadores do Direito. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Muito obrigado. 
Vamos às contribuições dos colegas. 
 
PLATEIA – Estou fazendo pós-graduação na PUC do Novo 
Código de Processo Civil, e, ouvindo a senhora falar – quando foi instituído o 
Código de 73, que foi em 1º de janeiro, já em outubro foi feita uma nova lei 
que acrescentou 94 novos artigos no Código de 73 –, a impressão que dá – 
não sei se eu interpretei direito – é que esse nosso Novo Código, na verdade, 
em termos práticos, já vai, ano que vem, sofrer alterações. Não sei se é isso. 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – O que ocorre? O Código de 73, 
quando entrou em vigor, já entrou em vigor com diversos artigos alterados. 
Têm vários problemas esse Código atual, e um dos problemas que eu vejo é 
essa questão da admissibilidade no REsp e no RExt, essa de tirar a 
admissibilidade dos tribunais de origem. O que me parece? Isso aqui é uma 
questão que afeta diretamente as Cortes superiores, se torna insustentável. 
Então, eu acredito que possa haver um movimento muito forte para alterar 
esse ponto específico, para voltar a ser como temos hoje. Eu digo que não se 
deram conta quando efetivamente aprovaram dessa forma, parece que não se 
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deram conta disso aqui, estão se dando conta agora. Então, acho, sim, 
provável que tenhamos alterações. Talvez essa aqui seja uma delas, sem 
dúvida alguma, pelos reflexos que vai trazer. 
Não acredito que mude nada com relação ao contraditório, 
acho que isso eles vão deixar, essa questão que tem que ouvir as partes 
antes de o Juiz se pronunciar, até por questão de ordem pública, mas essa 
questão específica, porque afeta as Cortes superiores, acho, sim, que 
possamos ter alteração, como houve em 73; têm artigos que não entraram em 
vigor. Então, acho que teremos alterações no curso deste ano e essa acho 
que pode ser uma delas. 
 
DES. NEY WIEDEMANN NETO – Nesse sentido, o próprio 
Min. Paulo Sanseverino, quando tratamos desse assunto, me passou a 
informação de que haveria um movimento do STJ postulando, no Congresso, 
a alteração da lei antes de ela entrar em vigor. Já deve ter sido até 
protocolado o anteprojeto de reforma do CPC. Talvez não tenha sido 
divulgado, mas será apreciado exatamente por esse motivo da inviabilidade 
prática. 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – E em 73 aconteceu. Então, é 
bem provável que ocorra. E esse é um ponto complicado, então, nesse ponto 
específico, acho que haverá um movimento, mas é um exercício de 
previsibilidade, porque é problemático isso aqui que colocaram. 
 
PLATEIA – Uma dúvida, voltando ao início da palestra, em 
relação às condições da ação, que agora não poderiam ser mais conhecidas 
de ofício. 
 
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DRA. JAQUELINE MIELKE – Não é isso. Elas podem ser 
conhecidas de ofício, mas, antes de o magistrado conhecê-las de ofício, ele 
tem que ouvir as partes. O Juiz apensou: “Acho que falta legitimação para 
agir”. O Juiz se deu conta, o que ele tem que dizer? “Digam as partes sobre a 
legitimidade ativa”. Pode ser de ofício, ele tem a iniciativa, só que ele tem que 
ouvir antes. 
 
PLATEIA – Mas o que eu quero chegar é assim: se for um 
caso de um indeferimento de inicial, uma ilegitimidade ativa latente, o que o 
Juiz vai ter que fazer? 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – O que ocorre? O Código 
excepcionou a improcedência liminar. A improcedência continua lá no art. 332, 
ou seja, é possível a improcedência liminar do pedido sem a ouvida da outra 
parte. Aí tu perguntas o indeferimento de uma petição inicial. Ora, se pode 
julgar improcedente liminarmente o pedido, consequentemente deve-se 
estender também para o indeferimento da liminar, parece-me, no início do 
processo. Até porque, o que ocorre? Por que é possível a improcedência 
liminar sem a ouvida da outra parte? Porque beneficia o réu. Então, na 
verdade, o réu não tem prejuízo, e o indeferimento também me parece que 
não vai implicar em prejuízo, nesse caso específico. Então, eu estenderia o 
mesmo raciocínio que é feito para a improcedência liminar o art. 332 aqui. 
Mas, digamos, aí chega no Tribunal, e o Tribunal: “É parte ilegítima” ou “Má 
formação de litisconsórcio”, como têm situações em que há problema na 
formação do litisconsórcio, litisconsórcio ativo com problema. Não dá 
simplesmente para se pronunciar sem ouvir a parte. 
 
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PKATEIA – E agora uma pergunta com um enfoque diferente. 
De uma forma objetiva, a senhora acha que esse Novo CPC era necessário 
mesmo ou não? Vai trazer grandes alterações? 
 
DRA. JAQUELINE MIELKE – Eu sou bem cética quanto a 
isso. Na verdade, um dos principais problemas que temos no processo é a 
efetividade do processo, e eu nem cheguei a falar de execução, porque 
execução é um mundo à parte. Sobre efetividade, não tem nada de novo aqui 
praticamente. Se é para recortar e colar um Código velho, que fique com o 
velho. O que ocorre? Que a gente não fique – eu diria – com discussões 
novas de processo, porque vamos ter discussão de processo. Então, ficamos 
em torno do marasmo do processo quando o mais importante não é o 
processo, o mais importante é a realização do direito material da parte. Então, 
parece-me que, se é para introduzir esse tipo de situação, era melhor ficar 
como está. 
Na verdade, tem todo um mercado por trás do Novo Código 
de Processo. As pessoas escrevem livros, tem livro que não acaba mais que

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