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ENEM
Introdução à Literatura
L0009 - (Enem)
Foi sempre um gaúcho quebralhão, e despilchado
sempre, por ser muito de mãos abertas. Se numa mesa
de primeira ganhava uma ponchada de balastracas,
reunia a gurizada da casa, fazia pi! pi! pi! como pra
galinhas e semeava as moedas, rindo-se do formigueiro
que a miuçada formava, catando as pratas no terreiro.
Gostava de sentar um laçaço num cachorro, mas desses
laçaços de apanhar da palheta à virilha, e puxado a valer,
tanto que o bicho que o tomava, de tanto sen�r dor, e
lombeando-se, depois de disparar um pouco é que
gritava, num caim! caim! caim! de desespero.
LOPES NETO, J. S. Contrabandista. In: SALES, H.
(org). Antologia de contos brasileiros. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2001 (adaptado).
 
A língua falada no Brasil apresenta vasta diversidade, que
se manifesta de acordo com o lugar, a faixa etária, a
classe social, entre outros elementos. No fragmento do
texto literário, a variação linguís�ca destaca-se 
a) por inovar na organização das estruturas sintá�cas. 
b) pelo uso de vocabulário marcadamente regionalista. 
c) por dis�nguir, no diálogo, a origem social dos
falantes. 
d) por adotar uma grafia �pica do padrão culto, na
escrita. 
e) pelo entrelaçamento de falas de crianças e adultos. 
L0003 - (Enem)
1@professorferretto @prof_ferretto
A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da
obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na
representação gráfica, a inter-relação de diferentes
linguagens caracteriza-se por 
a) romper com a linearidade das ações da narra�va
literária. 
b) ilustrar de modo fidedigno passagens representa�vas
da história. 
c) ar�cular a tensão do romance à desproporcionalidade
das formas. 
d) potencializar a drama�cidade do episódio com
recursos das artes visuais. 
e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo
desequilíbrio da composição. 
L0004 - (Enem)
Esaú e Jacó
 
Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe
quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é
somente um meio de completar as pessoas da narração
com as ideias que deixarem, mas ainda um par de lunetas
para que o leitor do livro penetre o que for menos claro
ou totalmente escuro.
Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha
história colaborando nela, ajudando o autor, por uma lei
de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o
enxadrista e os seus trebelhos.
Se aceitas a comparação, dis�nguirás o rei e a dama, o
bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre,
nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca
e preta, mas esta não �ra o poder da marcha de cada
peça, e afinal umas e outras podem ganhar a par�da, e
assim vai o mundo.
ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1964 (fragmento).
 
O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o
narrador concebe a leitura de um texto literário. Com
base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta 
a) o leitor como peça fundamental na construção dos
sen�dos. 
b) a luneta como objeto que permite ler melhor. 
c) o autor como único criador de significados. 
d) o caráter de entretenimento da literatura. 
e) a solidariedade de outros autores. 
L0002 - (Enem)
A orquestra atacou o tema que tantas vezes ouvi na
vitrola de Ma�lde. Le maxixe!, exclamou o francês [...] e
nos pediu que dançássemos para ele ver. Mas eu só sabia
dançar a valsa, e respondi que ele me honraria �rando
minha mulher. No meio do salão os dois se abraçaram e
assim permaneceram, a se encarar. Súbito ele a girou em
meia-volta, depois recuou o pé esquerdo, enquanto com
o direito Ma�lde dava um longo passo adiante, e os dois
estacaram mais um tempo, ela arqueada sobre o corpo
dele. Era uma coreografia precisa, e me admirou que
minha mulher conhecesse aqueles passos. O casal se
entendia à perfeição, mas logo dis�ngui o que nele foi
ensinado do que era nela natural. O francês, muito alto,
era um boneco de varas, jogando com uma boneca de
pano. Talvez pelo contraste, ela brilhava entre dezenas de
dançarinos, e notei que todo o cabaré se extasiava com a
sua exibição. Todavia, olhando bem, eram pessoas
ves�das, ornadas, pintadas com deselegância, e foi me
parecendo que também em Ma�lde, em seus
movimentos de ombros e quadris, havia excesso. A
orquestra não dava pausa, a música era repe��va, a
dança se revelou vulgar, pela primeira vez julguei meio
vulgar a mulher com quem eu �nha me casado. Depois
de meia hora eles voltaram se abanando, e escorria suor
pelo colo de Ma�lde decote abaixo. Bravô, eu gritei,
bravô, e ainda os es�mulei a dançar o próximo tango,
mas Dubosc disse que já era tarde, e que eu �nha um ar
fa�gado.
CHICO BUARQUE. Leite derramado. São Paulo: Cia. das
Letras, 2009.
 
Os recursos expressivos de um texto literário fornecem
pistas aos leitores sobre a percepção dos personagens
em relação aos eventos da narra�va. No fragmento,
cons�tui um aspecto relevante para a compreensão das
intenções do narrador a 
a) inveja disfarçada em relação ao estrangeiro, sugerida
pela descrição de seu talento como dançarino. 
b) demonstração de ciúmes, expressa pela
desqualificação dos par�cipantes da cena narrada. 
c) postura aristocrá�ca, assinalada pela crí�ca à
orquestra e ao gênero musical executado. 
d) manifestação de desprezo pela dança, indicada pela
crí�ca ao exibicionismo da mulher. 
e) a�tude interesseira, pressuposta no elogio final e no
es�mulo à con�nuação da dança. 
L0010 - (Enem)
Guardar 
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. 
Em cofre não se guarda coisa alguma. 
Em cofre perde-se a coisa à vista. 
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por 
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. 
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por 
2@professorferretto @prof_ferretto
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, 
isto é, estar por ela ou ser por ela. 
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro 
Do que um pássaro sem voos. 
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, 
por isso se declara e declama um poema: 
Para guardá-lo: 
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: 
Guarde o que quer que guarda um poema: 
Por isso o lance do poema: 
Por guardar-se o que se quer guardar.
MACHADO, G. In: MORICONI, I.(org.). Os cem melhores
poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Obje�va,
2001. 
 
A memória é um importante recurso do patrimônio
cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças
do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o
fazer poé�co como uma das maneiras de se guardar o
que se quer, o texto 
a) ressalta a importância dos estudos históricos para a
construção da memória social de um povo. 
b) valoriza as lembranças individuais em detrimento das
narra�vas populares ou cole�vas. 
c) reforça a capacidade da literatura em promover a
subje�vidade e os valores humanos. 
d) destaca a importância de reservar o texto literário
àqueles que possuem maior repertório cultural. 
e) revela a superioridade da escrita poé�ca como forma
ideal de preservação da memória cultural. 
L0008 - (Enem)
O bonde abre a viagem, 
No banco ninguém, 
Estou só, stou sem. 
Depois sobe um homem, 
No banco sentou, 
Companheiro vou. 
O bonde está cheio. 
De novo porém 
Não sou mais ninguém. 
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Ita�aia,
2005. 
Em um texto literário, é comum que os recursos poé�cos
e linguís�cos par�cipem do significado do texto, isto é,
forma e conteúdo se relacionam significa�vamente. Com
relação ao poema de Mário de Andrade, a correlação
entre um recurso formal e um aspecto da significação do
texto é 
a) a sucessão de orações coordenadas, que remete à
sucessão de cenas e emoções sen�das pelo eu lírico
ao longo da viagem. 
b) a elisão dos verbos, recurso es�lís�co constante no
poema, que acentua o ritmo acelerado da
modernidade. 
c) o emprego de versos curtos e irregulares em sua
métrica, que reproduzem uma viagem de bonde, com
suas paradas e retomadas de movimento. 
d) a sonoridadedo poema, carregada de sons nasais, que
representa a tristeza do eu lírico ao longo de toda a
viagem. 
e) a ausência de rima nos versos, recurso muito u�lizado
pelos modernistas, que aproxima a linguagem do
poema da linguagem co�diana. 
L0001 - (Enem)
Caso pluvioso
 
A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.
 
A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.
 
E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.
 
E eu era todo barro, sem verdura...
maria, chuvosíssima criatura!
 
Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.
 
Era chuva fininha e chuva grossa,
Ma�nal e noturna, a�va... Nossa!
ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1952 (fragmento).
 
Considerando-se a exploração das palavras “maria” e
“chuvosíssima” no poema, conclui-se que tal recurso
expressivo é um(a) 
a) registro social �pico de variedades regionais. 
b) variante par�cular presente na oralidade. 
c) inovação lexical singularizante da linguagem literária. 
d) marca de informalidade caracterís�ca do texto
literário. 
e) traço linguís�co exclusivo da linguagem poé�ca. 
L0398 - (Enem PPL)
O mundo mudou
3@professorferretto @prof_ferretto
O mundo mudou. “O mundo mudou” porque está
sempre mudando. E sempre estará, até que chegue o seu
alardeado fim (se é que chegará). Hoje vivemos
“protegidos” por muitos cuidados e paparicos, sempre
sob a forma de “serviços”, e desde que você tenha
dinheiro para usá-los, claro. Carro quebrou na marginal?
Relaxe, o guincho da seguradora virá em minutos resgatá-
lo. Tem dificuldade de locomoção? Espere, a empresa
aérea disporá de uma cadeira de rodas para levá-lo ao
terminal. Surgiu uma goteira no seu chalé em plenas
férias de verão? Calma, o moço que conserta telhados
está correndo para lá agora. Vai ficando para trás um
outro mundo – de inicia�vas, de gestos solidários, de
amizade, de improvisação (sim, “quem não improvisa se
inviabiliza”, eu diria, parafraseando Chacrinha).
Estamos criando uma geração que não sabe bater um
prego na parede, trocar um bo�jão de gás, armar uma
rede. É, o mundo mudou sim. Só nos resta o telefone do
SAC, onde gastaremos nossa bílis com impropérios ao
vento; ou o site da loja de eletrodomés�cos onde
ninguém tem nome (que saudade dos Reginaldos,
Edmilsons e Velosos!). Ligaremos para falar com a nossa
própria solidão, a nossa dependência do mundo dos
serviços e a nossa incapacidade de viver com real
simplicidade, soterrados por senhas, protocolos e
pendências vãs. Nem Ka�a poderia sonhar com tal
mundo.
ZECA BALEIRO. Disponível em: www.istoe.com.br. Acesso
em: 18 maio 2013 (adaptado).
 
 
O texto trata do avanço técnico e das facilidades
encontradas pelo homem moderno em relação à
prestação de serviços. No desenvolvimento da temá�ca,
o autor 
a) mostra a necessidade de se construir uma sociedade
baseada no anonimato, reafirmando a ideia de que a
in�midade nas relações profissionais exerce influência
nega�va na qualidade do serviço prestado.
b) apresenta uma visão pessimista acerca de tais
facilidades porque elas contribuem para que o homem
moderno se torne acomodado e distanciado das
relações afe�vas.
c) recorre a clássicos da literatura mundial para
comprovar o porquê da necessidade de se viver a
simplicidade e a solidariedade em tempos de solidão
quase inevitável.
d) defende uma posição conformista perante o quadro
atual, apresentando exemplos, em seu co�diano, de
boa aceitação da pra�cidade oferecida pela vida
moderna.
e) acredita na existência de uma superproteção, que
impede os indivíduos modernos de sofrerem severos
danos materiais e emocionais.
L0399 - (Enem PPL)
Sou um homem comum
brasileiro, maior, casado, reservista,
e não vejo na vida, amigo
nenhum sen�do, senão
lutarmos juntos por um mundo melhor.
Poeta fui de rápido des�no
Mas a poesia é rara e não comove
nem move o pau de arara.
Quero, por isso, falar com você
de homem para homem,
apoiar-me em você
oferecer-lhe meu braço
que o tempo é pouco
e o la�fúndio está aí matando
[...]
Homem comum, igual
a você,
[...]
Mas somos muitos milhões de homens
comuns
e podemos formar uma muralha
com nossos corpos de sonhos e margaridas.
FERREIRA GULLAR. Dentro da noite veloz. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2013 (fragmento).
 
No poema, ocorre uma aproximação entre a realidade
social e o fazer poé�co, frequente no Modernismo. Nessa
aproximação, o eu lírico atribui à poesia um caráter de
4@professorferretto @prof_ferretto
a) agregação constru�va e poder de intervenção na
ordem ins�tuída.
b) força emo�va e capacidade de preservação da
memória social.
c) denúncia retórica e habilidade para sedimentar sonhos
e utopias.
d) ampliação do universo cultural e intervenção nos
valores humanos.
e) iden�ficação com o discurso masculino e
ques�onamento dos temas líricos.
L0401 - (Enem PPL)
Entrei numa lida muito dificultosa. Mar�rio sem fim o
de não entender nadinha do que vinha nos livros e do
que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me
cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo
o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e
meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por
trinta, �nha ladineza e entendimento. Na rua e na escola
– nada; era completamente afrásico. As pessoas eram
bichos do outro mundo que temperavam um palavreado
grego de tudo.
Já sabia juntar as sílabas e ler por cima toda coisa,
mas descrencei e perdi a influência de ir à escola, porque
diante dos escritos que o mestre me passava e das lições
marcadas nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de
marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa.
BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969.
 
O narrador relata suas experiências na primeira escola
que frequentou e u�liza construções linguís�cas próprias
de determinada região, constatadas pelo
a) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”.
b) emprego de regência não padrão em “chegar em
casa”.
c) uso de dupla negação em “não entender nadinha”.
d) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”.
e) uso de substan�vo “bichos” para retomar “pessoas”.
L0409 - (Enem PPL)
Fazer 70 anos
Fazer 70 anos não é simples.
A vida exige, para o conseguirmos,
perdas e perdas no ín�mo do ser,
como, em volta do ser, mil outras perdas.
[...]
Ó José Carlos, irmão-em-Escorpião!
Nós o conseguimos...
E sorrimos
de uma vitória comprada por que preço?
Quem jamais o saberá.
ANDRADE, C. D. Amar se aprende amando. São Paulo:
Círculo do Livro, 1992 (fragmento).
 
O pronome oblíquo “o”, nos versos “A vida exige, para o
conseguirmos” e “Nós o conseguimos”, garante a
progressão temá�ca e o encadeamento textual,
recuperando o segmento
a) “Ó José Carlos”.
b) “perdas e perdas”.
c) “A vida exige”.
d) “Fazer 70 anos”.
e) “irmão-sem-Escorpião”.
L0433 - (Enem PPL)
TEXTO I
Versos de amor
A um poeta eró�co
Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.
 
Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!
 
É a transubstanciação de ins�ntos rudes,
Imponderabilíssima, e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1996 (fragmento).
 
TEXTO II
Arte de amar
Se queres sen�r a felicidade de amar, esquece a tua
alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar sa�sfação.
Não noutra alma.
Só em Deus – ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1993.
 
Os Textos I e II apresentam diferentes pontos de vista
sobre o tema amor. Apesar disso, ambos definem esse
sen�mento a par�r da oposição entre
5@professorferretto @prof_ferretto
a) sa�sfação e insa�sfação.
b)egoísmo e generosidade.
c) felicidade e sofrimento.
d) corpo e espírito.
e) ideal e real.
L0416 - (Enem PPL)
Um cachorro cor de carvão dorme no azul etéreo de
uma rede de pesca enrolada sobre a grama da Praça
Vinte e Um de Abril. O sol bate na frente nos degraus
cinzentos da escadaria que sobe a encosta do morro até a
Igreja da Matriz. A ladeira de paralelepípedos curta e
íngreme ao lado da igreja passa por um galpão de barcos
e por uma casa de madeira pré-moldada. Acena para a
velhinha marrom que toma sol na varanda sentada numa
cadeira de praia colorida. O vento nordeste salgado
tumultua as árvores e as ondas. Nuvens esparramadas
avançam em formação do mar para o con�nente como
um exército em transe. A ladeira faz uma curva à
esquerda passando em frente a um predinho do século
dezoito com paredes brancas descascadas e janelas
recém-pintadas de azul-cobalto.
GALERA, D. Barba ensopada de sangue. São Paulo: Cia.
das Letras, 2012.
 
A descrição, subje�va ou obje�va, permite ao leitor
visualizar o cenário onde uma ação se desenvolve e os
personagens que dela par�cipam. O fragmento do
romance caracteriza-se como uma descrição subje�va
porque 
a) constrói sequências temporais pelo emprego de
expressões adverbiais.
b) apresenta frases curtas, de ordem direta, com
elementos enumera�vos.
c) recorre a substan�vos concretos para representar um
ambiente está�co.
d) cria uma ambiência própria por meio de nomes e
verbos metaforizados.
e) prioriza construções oracionais de valor semân�co de
oposição.
L0419 - (Enem PPL)
Chegou de Montes Claros uma irmã da nora de �a
Clarinha e foi visitar �a Agos�nha no Jogo da Bola. Ela é
bonita, simpá�ca e veste-se muito bem. [...] Ficaram
todas as �as admiradas da beleza da moça e de seus
modos polí�cos de conversar. Falava explicado e tudo
muito correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que
eu nunca �nha visto ninguém falar tão bem; tudo como
se escreve sem engolir um s nem um r. Tia Agos�nha
mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela
gostava de uvas. Ela respondeu: “Aprecio sobremaneira
um cacho de uvas, Dona Agos�nha.” Estas palavras nos
fizeram ficar de queixo caído. Depois ela foi passear com
outras e laiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar
conosco. Ela dizia: Vocês não �veram inveja de ver uma
moça [...] falar tão bonito como ela? Vocês devem
aproveitar a companhia dela para aprenderem”. [...] Na
hora do jantar eu e as primas começamos a dizer, para
enfezar laiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”,
“Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha”.
MORLEY, H. Minha vida de menina: cadernos de uma
menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1997.
 
Nesse texto, no que diz respeito ao vocabulário
empregado pela moça de Montes Claros, a narradora
expõe uma visão indica�va de
a) descaso, uma vez que desaprova o uso formal da
língua empregado pela moça.
b) ironia, uma vez que incorpora o vocabulário formal da
moça na situação familiar.
c) admiração, pelo fato de deleitar-se com o vocabulário
empregado pela moça.
d) an�pa�a, pelo fato de cobiçar os elogios de laiá sobre
a moça.
e) indignação, uma vez que contesta as a�tudes da moça.
L0596 - (Enem)
Feijoada à minha moda
Amiga Helena Sangirardi 
Conforme um dia prome� 
Onde, confesso que esqueci 
E embora — perdoe — tão tarde 
(Melhor do que nunca!) este poeta 
Segundo manda a boa é�ca 
Envia-lhe a receita (poé�ca) 
De sua feijoada completa. 
Em atenção ao adiantado 
Da hora em que abrimos o olho 
O feijão deve, já catado 
Nos esperar, feliz, de molho. 
Uma vez cozido o feijão 
(Umas quatro horas, fogo médio) 
Nós, bocejando o nosso tédio 
Nos chegaremos ao fogão
[…] 
De carne-seca suculenta 
Gordos paios, nédio toucinho 
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!) 
[…] 
Enquanto ao lado, em fogo brando 
Desmilinguindo-se de gozo 
6@professorferretto @prof_ferretto
Deve também se estar fritando 
O torresminho delicioso 
Em cuja gordura, de resto 
(Melhor gordura nunca houve!) 
Deve depois frigir a couve 
Picada, em fogo alegre e presto. 
[…] 
Dever cumprido. Nunca é vã 
A palavra de um poeta… — jamais! 
Abraça-a, em Brillat-Savarin, 
O seu Vinicius de Moraes.
MORAES, V. In: CÍCERO, A.; QUEIROZ, E. (Org.). Vinicius de
Moraes: nova antologia poé�ca. São Paulo: Cia. das
Letras, 2005 (fragmento).
 
Apesar de haver marcas formais de carta e receita, a
caracterís�ca que define esse texto como poema é o(a)
a) nomeação de um interlocutor.
b) manifestação de in�midade.
c) descrição de procedimentos.
d) u�lização de uma linguagem expressiva.
e) apresentação de ingredientes culinários.
L0599 - (Enem)
TEXTO I 
Capítulo 4, versículo 3 
Minha palavra vale um �ro, eu tenho muita munição 
Na queda ou na ascensão, minha a�tude vai além 
E tem disposição pro mal e pro bem 
Talvez eu seja um sádico ou um anjo, um mágico 
Ou juiz, ou réu, o bandido do céu 
Malandro ou otário, quase sanguinário 
Franco a�rador se for necessário 
Revolucionário, insano, ou marginal 
An�go e moderno, imortal 
Fronteira do céu com o inferno 
Astral imprevisível, como um ataque cardíaco do verso. 
RACIONAIS MCs. Sobrevivendo ao inferno. São Paulo:
Cosa Nostra, 1997 (fragmento).
 
TEXTO II 
Pode-se dizer que as várias experiências narradas
nos discos do Racionais tratam no fundo de um só
tema: a violência que estrutura a nossa sociedade.
O grupo canta a violência que estrutura as relações
entre os familiares, os amigos, o homem e a mulher,
o traficante e o viciado. Canta a violência do crime.
A violência causada por inveja ou por vaidade.
Também canta que a relação entre as classes sociais
é sempre violenta: o racismo, a miséria, os baixos
salários, a concentração de renda, a esmola, a
publicidade, o alcoolismo, o jornalismo, o poder
policial, a jus�ça, o sistema penitenciário, o governo
existem por meio da violência. 
GARCIA, W. Ouvindo Racionais MCs. Teresa: revista de
literatura brasileira, n. 5, 2004 (adaptado).
 
 
Na letra da canção, a tema�zação da violência
mencionada no Texto II manifesta-se 
a) como metáfora da desigualdade, que associa a ideia
de jus�ça a valores históricos nega�vos.
b) na referência a termos bélicos, que sinaliza uma crí�ca
social à opressão da população das periferias.
c) como procedimento metalinguís�co, que concebe a
palavra como uma forma de combate e
insubordinação. 
d) nas definições ambíguas do enunciador, que inverte e
rela�viza as representações da maldade e da bondade.
e) na menção à imortalidade, que sugere a possibilidade
de resistência para além da dicotomia entre vida e
morte.
L0600 - (Enem)
pessoas com suas malas 
mochilas e valises
chegam e se vão 
se encontram 
se despedem 
e se despem 
de seus pertences 
como se pudessem chegar 
a algum lugar 
onde elas mesmas 
não es�vessem 
 
Esse poema, por meio da ideia de deslocamento,
metaforiza a tenta�va de pessoas
a) buscarem novos encontros. 
b) fugirem da própria iden�dade.
c) procurarem lugares inexplorados.
d) par�rem em experiências inusitadas. 
e) desaparecerem da vida em sociedade.
L0602 - (Enem)
TEXTO I 
A 13 de fevereiro de 1946, Graciliano Ramos escreve
uma carta a Cândido Por�nari relembrando uma visita
que lhe fizera quando �vera a ocasião de apreciar
algumas telas da série Re�rantes. Diz o escritor
alagoano: 
Caríssimo Por�nari: 
A sua carta chegou muito atrasada, e receio que esta
resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre
7@professorferretto @prof_ferretto
gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu.
Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações;
contudo, as deformações e essa miséria existem fora da
arte e são cul�vadas pelos que nos censuram. [...]
Dos quadros que você me mostrou quando almocei
no Cosme Velho pela úl�ma vez, o que mais me comoveu
foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com
um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e
sem miséria, seria possível fazer-se aquilo? Numa vida
tranquila e feliz, que espécie de arte surgiria? Chego a
pensar que teríamos cromos, anjinhos cor-de-rosa, e istome horroriza. 
Graciliano 
Disponível em: h�ps://graciliano.com.br. Acesso em:
6 fev. 2024 (adaptado).
TEXTO II 
Histórias de ninar (adultos)
Houve um tempo — tão perto, e, ó, tão longe — em
que a arte era um holofote na unha encravada, não um
campeonato de melhores esmaltes. 
Raskolnikov matava velhinhas, a família de Gregor
Samsa o assassinava a “maçãzadas”, Memórias póstumas
de Brás Cubas (Machado de Assis) é o retrato mais
perfeito de tudo o que tem de pior na sociedade
brasileira, uma sequência tristemente hilária de ações
moralmente condenáveis, a�tudes pusilânimes, cálculos
mesquinhos e maus passos cre�nos.
A literatura, o cinema e o teatro vêm se
transformando num exercício de lacração: o mal está
sempre no outro, os protagonistas são ironmen/women
da virtude. A pessoa sai da leitura ou da sessão não com
a guarda abaixada, as certezas abaladas, mais próxima da
verdade (ou, à falta de uma palavra melhor, da
sinceridade): sai com suas certezas reforçadas. 
A realidade é confusa. Contraditória. Muitas vezes
incompreensível. A arte é onde tentamos nos mostrar
nus, com todos os nossos defeitos. 
PRATA, A. Disponível em: www1.folha.uol.com.br.
Acesso em: 12 jan. 2024 (adaptado).
 
No que diz respeito à arte, o posicionamento de Antônio
Prata, no Texto II, aproxima-se da tese de Graciliano
Ramos, no Texto I, uma vez que ambos
a) defendem a dignidade do o�cio dos ar�stas.
b) concluem que a arte reforça crenças pessoais.
c) apresentam a pobreza como inspiração para a arte.
d) afirmam o necessário caráter desestabilizador da arte. 
e) atestam que há mudanças significa�vas na produção
ar�s�ca.
L0604 - (Enem)
Data venia
Conheci Ben�nho e Capitu nos meus curiosos e
an�gos quinze anos. E os olhos de água da jovem de
Matacavalos atraíram-me, seduziram-me ao primeiro
contato. Aliados ao seu jeito de ser, flor e mistério. Mas
tomou-me também a indignação diante do narrador e
seu texto, feito de acusação e vilipêndio. Sem qualquer
direito de defesa. Sem acesso ao discurso, usurpado,
su�lmente, pela palavra autoritária do marido, algoz, em
pele de cordeiro vi�mado. Crudelíssimo e desumano: não
bastasse o que faz com a mulher, chega a desejar a morte
do próprio filho e a festejá-la com um jantar, sem
qualquer remorso. No fundo, uma pobre consciência
dilacerada, um homem dividido, que busca encontrar-se
na memória, e acaba faltando-se a si mesmo. Retomei
inúmeras vezes a triste história daquele amor em
desencanto. Familiarizei-me, ao longo do tempo, com a
crí�ca do texto; poucos, muito poucos, escapam das bem
traçadas linhas do libelo condenatório; no mínimo
concedem à ré o beneplácito da dúvida: convertem-na
num enigma indecifrável, seu atributo consagrador.
Eis que, diante de mais um retorno ao romance, veio
a iluminação: por que não dar voz plena àquela mulher,
brasileira do século XIX, que, apesar de todas as
ar�manhas e do maquiavelismo do companheiro, se
converte numa das mais fascinantes criaturas do gênio
que foi Machado de Assis? 
A empresa era temerária, mas escrever é sempre um
risco. Apoiado no espaço de liberdade em que habita a
Literatura, arrisquei-me. 
O resultado: este livro em que, além-túmulo, como
Brás Cubas, a dona dos olhos de ressaca assume, à luz do
mistério da arte literária e do próprio texto do Dr. Bento
San�ago, seu discurso e sua verdade. 
PROENÇA FILHO, D. Capitu: memórias póstumas. Rio
de Janeiro: Atrium, 1998.
 
Para apresentar a apropriação literária que faz da obra de
Machado de Assis, o autor desse texto 
a) relaciona aspectos centrais da obra original e, então,
reafirma o ponto de vista adotado.
b) explica os pontos de vista de crí�cos da literatura e,
por fim, os redimensiona na discussão.
c) introduz elementos relevantes da história e, na
sequência, apresenta mo�vos para refutá-los.
d) jus�fica as razões pelas quais adotou certa abordagem
e, em seguida, reconsidera tal escolha. 
e) contextualiza o enredo de forma subje�va e, na
conclusão, explicita o foco narra�vo a ser assumido.
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