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Canal Ciências Criminais - A desvalorização da prova testemunhal da defesa no processo penal

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29/09/2015 A desvalorização da prova testemunhal da defesa no processo penal ­ Canal Ciências Criminais ­ Promovendo o SaberCanal Ciências Criminais ...
http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/a­desvalorizacao­da­prova­testemunhal­da­defesa­no­processo­penal/ 1/4
A DESVALORIZAÇÃO DA PROVA TESTEMUNHAL DA
DEFESA NO PROCESSO PENAL
por Aphonso Vinicius Garbin ­ 25/09/2015
Por Aphonso Vinicius Garbin
Conforme  bem  se  sabe,  em  se  tratando  de  Processo  Penal,  a  prova  judiciária  possuí
objetivo  bem  definido:  reconstruir  os  fatos  perseguidos  na  lide,  visando  a  maior
compatibilidade  com a  realidade  histórica  (a  verdade  dos  fatos),  como ela  decorreu  no
espaço  e  no  tempo,  tornando­se  uma  tarefa  de  grande  dificuldade,  quando  não
impossível: a reconstrução da verdade (OLIVEIRA, 2013, p. 325).
Buscando a demonstração da  “verdade processual” exsurge o dever de provar, onde o
ônus  da  prova  (a)  é  daquele  que  alega,  oportunidade  em  que  se  compromete  a
corroborar suas afirmativas (art. 156 do CPP), decorrendo daí a  divisão do dever entre a
acusação e a defesa, pelo qual a primeira deve demonstrar a autoria,  a materialidade do
delito,  o  dolo  ou  culpa  do  agente,  bem  como  fortuitas  circunstâncias  que  possam
influenciar na fixação da pena,  e à defesa compete demonstrar eventuais excludentes de
29/09/2015 A desvalorização da prova testemunhal da defesa no processo penal ­ Canal Ciências Criminais ­ Promovendo o SaberCanal Ciências Criminais ...
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ilicitude,  de  culpabilidade,  causas  de  extinção  da  punibilidade  e  circunstâncias  que
venham a minorar a pena.
É  imperioso  que  seja  visto  o  (b)  ônus  da  prova  no  campo  penal  de  acordo  com  a
presunção de inocência, e também em favor do réu, onde, caso a defesa quede­se inerte
no  andamento  da  lide,  e  as  provas  encartadas  sejam  parcas,  restando  o  julgador  em
dúvida, ele deve absolver o acusado, porquanto compete à acusação a responsabilidade
de provar, vez que a dúvida sempre é a favor do réu, posto que o art. 386, incisos II, V e
VII,  do  CPP,  prevê  que  o  marasmo  da  prova  implica  na  absolvição.  Em  que  pese  a
segunda conjectura ser a mais alinhavada à atual Constituição e ao Estado Democrático
de Direito, sob os primados da presunção de  inocência e o  in dubio pro reo,  levando o
ônus  probatório  somente  à  acusação,  a  primeira  hipótese  é  que  vem  prevalecendo  na
prática,  partilhando­se  o  ônus  da  prova  entre  acusação  e  defesa  (TÁVORA,  2013,  pp.
405­406).
Daí  que  a Constituição Federal  Brasileira  propicia  o  embate  processual  entre  defesa  e
acusação  em  paridade  de  armas  (art.  5º,  LV)  –  princípio  este  ainda  respeitado  ­,
buscando provar a  “verdade processual”. As provas produzidas por ambas as partes, a
priori, possuem  igual  valor, não devendo haver distinção entre elas, posto que as duas
podem espelhar a  forma como os  fatos perseguidos no  feito se deram no espaço e no
tempo.
Para  que  a  paridade  de  armas  entre  as  partes  e  o  desenvolvimento  leal  do  processo
criminal ocorra, é imperiosa a satisfatória igualdade entre os combatentes, onde a defesa
deverá ser dotada de idêntica capacidade e poderes da acusação (FERRAJOLI, 2006, p.
565), decorrendo daí o igual valor entre as provas produzidas por um e pelo outro, sem
distinções de lado.
Através do sistema de avaliação das provas pelo livre convencimento motivado, previsto
no  art.  155  do Código  de Processo Penal,  inexiste  ordem hierárquica  entre  as  provas,
ficando a cargo do julgador fazer constar na sua decisão a importância de cada qual que
fora produzida no feito, e, amparado nelas, fundamentar sua decisão, demonstrando com
arrimo nas provas coligidas, qual a razão da sua posição, salvaguardando às partes e o
interesse social (TÁVORA, 2013, pp. 409­410), devendo, ainda na sua sentença, analisar
todos os elementos probatórios que constam nos autos (RANGEL, 2011, p. 495).
Contudo,  apesar  da  paridade  de  armas  e  da  inexistência  de  menor  crédito  a  este  ou
aquele elemento probatório, a prova testemunhal da defesa, não raras vezes, vem sendo
desacreditada no momento da sua valorização na sentença no âmbito penal.
Diz­se  isso  porquanto  não  raro  vemos  no  cotidiano  do  forense  que,  ao  momento  da
prolação da uma sentença de mérito na esfera criminal de cunho condenatório, as provas
testemunhais  produzidas  pela  defesa  não  recebem  a  especial  atenção  desprendida  a
aquelas arroladas pela acusação, seja ela oriunda do inquérito policial ou não.
As testemunhas são consideradas os olhos e os ouvidos da Justiça, posto que desde a
existência dos homens e da vontade de se fazer justiça, ela é trazida como mais simples
e  corriqueiro meio  de  probatório  (ARANHA,  pp.  156­157).  As  testemunhais  de  defesa,
assim como as de acusação, podem demonstrar os fatos conforme ocorrido no espaço e
tempo,  como  se  deram,  dentre  outras  peculiaridades  do  caso,  sendo  dúbia  somente
quanto derruída, com o mínimo de elementos probatórios, pela parte adversa.
Os sintomas para o descrédito da  testemunha de defesa são diversos, o  fato social da
criminalidade, o pré­julgamento já estabelecido (juiz viciado pelas provas produzidas em
sede inquisitória, sem o mínimo de contraditório), alienação midiática, o desejo de gozar
29/09/2015 A desvalorização da prova testemunhal da defesa no processo penal ­ Canal Ciências Criminais ­ Promovendo o SaberCanal Ciências Criminais ...
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da sua tranquilidade, dentre outros diversos fatores.
Aliás,  Adauto  SUANNES  (2014,  p.  02)  já  esclarecia  esse  ponto,  quando  dizia  que  o
magistrado criminal, diverso do juiz no âmbito cível, tem certo interesse na condução do
processo, na medida em que é cidadão e convive no mesmo meio social do “criminoso”,
desejando usufruir da sua tranquilidade com seus familiares, afastando­se os riscos que o
“delinquente” pode oferecer.
Certo seria ser como afirma Luigi FERRAJOLI  (2006, p. 534), ao asseverar que  “O  juiz
não deve ter qualquer interesse, nem geral nem particular, em uma ou outra solução da
controvérsia que é chamado a resolver, sendo sua função decidir qual delas é verdadeira
e qual é falsa”, contudo não se pode almejar que um julgador tome o depoimento de um
assassino  da mesma  forma  que  escuta  um  demandante  na  seara  cível,  ao  passo  que
mesmo  que  ele  quisesse,  enquanto  ser  humano  excederá  a  linha  da  tranquilidade,
podendo, no máximo, se apegar formalidade do processo e garantir um julgamento justo
(SUANNES, 2014, pp. 152­153), daí decorrendo a equilibrada valoração dentre as provas
produzidas pela defesa e pela acusação.
Assim, de acordo com o “Princípio da Imparcialidade: o Juiz  ignora os fatos, mas não é
neutro,  já que possui suas conotações políticas,  religiosas,  ideológicas, etc.., mas deve
ser  imparcial:  afastamento  subjetivo  dos  jogadores e  do objeto  da ação penal”  (ROSA,
2013,  pp.  54­55),  devendo  se  delimitar  entre  aquilo  que  almeja  e  o  que  deverá  ser  o
desfecho do processo criminal, porquanto nem sempre se trata de jogo processual, nem
sempre  é  apontamento  de  meros  predicados,  muitas  vezes  a  prova  testemunhal  da
defesa  também pode  expressar  algo  próximo  do  que  verdadeiramente  ocorreu  –  posto
que a famigerada “verdade real” é inalcançável.
Porém,  ao  momento  de  valorizar  as  palavras  das  testemunhas  de  defesa,  muitos
magistrados  não  lhes  dão  o  devido  crédito  –  hipótese  lhes  cabível  pelo  livre
convencimento  motivado  (art.  155  do  CPP),  quando  “o  julgador  deixou  de  teruma
participação  meramente  instrumental  para,  finalmente,  ser  o  sujeito  responsável  pela
valoração da prova e conseqüente  tomada da decisão”  (GESU, 2010, p. 53) –, apenas
pela fato de ter sido arrolados pelo réu.
Conforme dito alhures, é garantia constitucional do acusado o devido processo  legal, o
contraditório e a ampla defesa, com a paridade de armas e  igualdade entre acusação e
defesa, não sendo possível desacreditar um depoimento porque arrolado pelo réu. Aqui o
processo deve ser Democrático, o relato impera como verdadeiro, somente podendo ser
desacreditado enquanto derruído por outras provas.
A  demanda  criminal  deve  ser  presidida  por  alguém  que,  além  de  acreditar  na  versão
acusatória, deve aceitar a inocência do réu (donde ele fará com as provas produzidas no
feito, notadamente as perquiridas por ele), afastando o fato social da criminalidade, que a
qualquer pessoa tormenta (SUANNES, 2004, p. 31).
Desta  forma,  tem­se que a prova  testemunhal produzida pela defesa deve ser afastada
de  qualquer  juízo  que  a  veja  de  menos  valia,  devendo  ser  creditada  consoante  sua
capacidade  probatória,  tratada  com  imparcialidade  pelo  julgador,  presumindo­se  a
veracidade  de  suas  palavras,  que  devem  ser  combatidas  pela  parte  adversa,  ou  seja,
acusação.
REFERÊNCIAS
ARANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo. Da prova no processo penal. 7. ed. São
29/09/2015 A desvalorização da prova testemunhal da defesa no processo penal ­ Canal Ciências Criminais ­ Promovendo o SaberCanal Ciências Criminais ...
http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/a­desvalorizacao­da­prova­testemunhal­da­defesa­no­processo­penal/ 4/4
Paulo: Saraiva, 2006.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e  razão:  teoria  do  garantismo  penal.  2.  ed.  São Paulo: RT,
2006.
GESU, Cristina Di. Prova penal e falsas memórias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
OLIVEIRA,  Eugênio  Pacelli  de. Curso  de  processo  penal.  17.  ed.  São  Paulo:  Atlas,
2013.
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 19. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
ROSA,  Alexandre Morais  da. Guia  compacto  de  processo  penal  conforme  a  teoria
dos jogos. 1. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.
SUANNES,  Adauto. Os  fundamentos  éticos  do  devido  processo  penal.  2.  ed.  São
Paulo: RT, 2004.
TÁVORA,  Nestor.  Curso  de  direito  processual  penal.  8.  ed.  Salvador:  JusPodivm,
2013.

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