Prévia do material em texto
79 2.5 os ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DO ESPAÇO URBANO A identificação de elementos morfológicos pressupõe conhecer quais partes do forma e o modo como se diferentes escalas identificadas. Sendo a leitura e composição urbanas essencialmente podemos aplicar espaço urbano os mesmo interpretativos do arquitectura. Num edifício, os elementos morfológicos são também elementos construtivos e espaciais. Nas épocas clássicas, do Renascimento ao Barroco, podem-se identificar as colunas, o frontão, o entablamento, a cornija, o soco e tantos outros. No arqui- tectura tais elementos não existem, mas existem outros: o pilar, a viga, a pala de betão e por fora. São elementos diferentes e, por serem diferentes e pe- lo modo como se organizam, diferenciam a arquitectura dessas Janelas e escadas e outros elementos sempre existiram e sempre desempenha- ram idênticas funções: iluminação interior ou união entre níveis diferentes. Tiveram dimensões e formas diferentes, posicionamentos diversos, intenções tas: umas vezes tratados como simples elementos funcionais e discretamente inseri- dos no edifício, outras tratados como elementos estéticos, marcantes, exacerbados, como a janela do Convento de Cristo, em Tomar. Estes elementos são, à partida e em si mesmos, exigências funcionais e construtivas. modo como se posicionam e se estruturam nos edifícios tem a ver com essas exigências, mas depende das inten- ções de comunicação ou daquilo a que se convencionou chamar a gem É evidente que, dizer isto, aceito os contributos semiolo- no medida em que codificação dos elementos arquitectónicos e a analogia com a linguagem um contributo teórico interessante Os elementos mais génericos, como as paredes, as coberturas, as janelas, os as portas, as escadas, as rampas e outros, são relativamente constan- fes no (como, no sentido mais geral, são relativamente constantes as palavras no linguagem ao longo dos tempos). As características e aspecto ex- terior, modo como se inter-relacionam num edifício é que variam de para époco ou de autor para autor e têm ver com linguagem, com a e o comunicação e com a organização do próprio espaço. Em arquitectura ocidental, podem-se identificar tais elementos: são las partes mínimas nos edifícios com uma função construtiva ou pro- gramática, uma finalidade estética e significante.Recorrendo a analogias estruturalistas da semiologia e com alguma prudência, po- deria comparar a linguagem arquitectónica e os elementos morfológicos dos edifícios com a linguagem (53), na qual existem o texto e as palavras. Estas articulam-se e posicionam-se para formar frases e ideias. Para transmitir uma ideia num texto, existem várias possibilidades linguísticas, literárias, de estilo e de forma, como mesmo edi- ou programa pode ser organizado e construído com formas e arqui- diversas. Pode-se também verificar que, sendo os elementos morfológicos relativamente constantes na arquitectura, é através do como se estruturam e se organizam que provém a comunicação estética do objecto arquitectónico. Esta constatação é também ao espaço urbano. Na cidade, sentido figu- rativo, como obra de arte colectiva, provém dos objectos - edifícios (ou construções) e da sua articulação com espaço por eles definido. que disse sobre os edifícios é extrapolável para o espaço urbano. Todavia, desde logo, existe a necessidade de estabelecer uma de leitura>>, ou seja, estabelecer quais os elementos mínimos na forma urbana! já o havia feito, quando, falar de portas, não mencionei as dobradicas, as fechaduras e batentes, ou, ao falar de escadas, não referi degrau, o cobertor, o espelho, ou, ao falar do espaço urbano, não falei dos postes de iluminação dos fios eléctricos, que também são importantes, mas certamente já em outro nível de leitura. o SOLO o PAVIMENTO É a partir do território existente e da sua topografia que se desenha ou constrói a ci- dade, e no chão que se pisa a identificar os elementos morfológicos do es- paço urbano. É a topografia e modelação do terreno, mas são também os revestimen tos e pavimentos, os degraus e passeios empedrados, os lancis, as faixas asfaltadas, os carris dos eléctricos e tantos outros aspectos. solo-pavimento é um elemento de grande importância no espaço urbano, mas elemento também de grande fragilidade e sujeito a Basta relem- brar as evoluções dos longo dos tempos. Mas, em contrapartida, re- lembraria a enorme de aspecto e comodidade que o correcto tratamento do solo e a pavimentação conferem à cidade. Registo os conflitos dos interesses que disputam o solo público - o tráfego rio e o uso pedonal, pelo menos, e a evolução negativa deste conflito em cidades como Lisboa, em que de ano para o ano solo disponível para o peão vai inexoravelmentePE DE As dos edifícios no forma do de Em boixo direito, um dos mais interessantes conjuntos no Rue Almirante dos junto à Ermido de N. do Destruido em Junho 2000. 81A forma urbana determinado pela dos elementos os edifi- A especulação sobre solo, e dinheiro, determinam a forma do New York. Vistas da meridional de Des. em 1980 822-20. edifício como elemento da forma urbana. conjunto - Ta- 83os EDIFÍCIOS o ELEMENTO MÍNIMO Para definir qual mínimo elemento morfológico na cidade, há que es- tabelecer uma hierarquia de valores e fazer uma selecção entre as colecções de objec- tos que povoam o espaço urbano. Em primeiro lugar, há que mencionar os objectos (54) tão profusa- mente ilustrados nas cidades capitalistas: néons, anúncios, escaparates, montras, etc., sucedem-se em profusão, com variações que alteram a imagem da cidade. A outro es- calão, mobiliário urbano: o banco, a bica, o e ainda a canteiro as plantas caracterizam a imagem do espaço urbano. Estas colecções de objectos são, afectando diferentemente a forma da cidade. Distinguiria, no entanto, a árvore, pela sua importância e papel qua- se idênticos aos dos edifícios. A esta questão voltarei mais tarde. É através dos edifícios que se constitui o espaço urbano e se organizam os diferentes espaços e com a rua, a praça, o beco, a avenida ou tros espaços mais complexos e historicamente determinados como as invenções dos ur- banistas ingleses do século XVIII: crescents, squares, circus, etc., ou, de outro modo, se identificam os espaços urbanos modernos. A Rue de Rivoli a Praça do seriam bem diferentes se os seus edifícios não tivessem as arcadas e expressão arquitectónica que as caracterizam. Os de em Tavira, sendo apenas partes dos edifícios, contam de modo determinante na forma da cidade. As varandas de (com balanços de cerca de 1,50 metros) constituem particularidades agressivas em cidades antigas. Romperam a lógica do espaço urbano, constituída por edifícios de fachada plana ou com ligeiras saliências, destruindo os en- fiamentos visuais de ruas e perspectivas. Todos estes elementos são determinantes na forma do espaço urbano, embora ao tratar de certas questões os tenha de secundari- zar. É uma necessidade interpretativa, como quando se semicerram os olhos para me- captar os traços essenciais do objecto. Não seria possível continuar a abordar esta questão sem referir os estudos de Aymonino, Rossi e outros, da Faculdade de Arquitectura de Veneza, sobre as relações entre a urbana e a tipologia Nesses trabalhos, os elementos primários da forma urbana são identificados com os tipos construtivos. Os edifícios agrupam-se em diferentes tipos, decorrentes da sua função e forma, estabelecendo re- lações e com as formas urbanas. A questão dos tipos edificados, tem sido abordada por vários autores: desde Palla- dio, em que os tipos se identificam com as villas residenciais, às propostas classificativas de de Quincy ou de Durand. Para este último, tipo é um esquema que 84D Variações da utilização do tipo J. N. L. Ensem- ble d'édifices resultant de diverses combinaisons horizontoles et verticales, d'après le carré divisé en deux, en trois, en et porches ouverts des Segundo Précis des Lecons d'Architecture Donnés à Polytechnique. Editado em 1813 85respeita as necessidades funcionais e permite elaborar um (56) distinguindo-se do que será a representação de uma outra realidade. Das relações tipologia-morfologia, ressalta que o espaço urbano depende dos tipos edificados e do modo como estes se agrupam. A tipologia determina a forma urbana, e a forma urbana é condicionado- ra da tipologia edificado, numa relação A evolução da arquitectura e do ur- banismo no período entre as duas guerras (1918-1939) revela inúmeros exemplos de procuras tipológicas no habitat residencial: no quarteirão nos bairros holandeses, nas Siedlungen sociais-democráticas alemas, ou nas Hoff austríacas, e até exemplos mais extremos, como a d'Habitation, de Le Corbusier, é o tipo edificado que vai origi- nar e as formas Esta interdependência é um dos campos mais sólidos em que se colocam as relações entre a cidade e a arquitectura. Pode ser observada ao longo da História, onde a for- ma urbana é resultado, produto, e simultaneamente geradora da tipologia edificada, numa relação eminentemente entre cidade e arquitectura, entre forma urba- na e edifícios. LOTE A PARCELA FUNDIÁRIA não pode ser desligado do lote ou de solo que o lote não é umg porção cadastral: é também a génese e fundamento do edificado. Não é sem razão que, na do construtor, as expressões e subs- tituem as expressões e lote é um princípio essencial da rela- dos edifícios com o terreno. A urbanização implica parcelamento, quer subdividin- do os parcelamentos rurais quer impondo nova divisão cadastral. Desde as mais antigas cidades até ao período moderno, a urbana foi in- terdependente da divisão cadastral. Construir uma cidade foi separar domi- nio público do domínio privado. A forma do lote é condicionante da forma do edifício e, consequentemente, da for- ma da cidade. Até aos anos vinte-trinta, o lote foi lugar do edifício e um meio e instru- mento de planificação e separação entre o espaço público e o privado. A colectiviza- ção do espaço urbano veio conferir ao lote o estrito papel de assento das edificações, retirando-lhe uma das suas principais características. Na unidade de habitação de Le Corbusier, o lote deixa, por assim dizer, de existir, uma vez que edifício não ocupa o solo definido pela sua projecção vertical. Assenta em pilares que saem de um terreno público, como público é todo o espaço circundante. 8687 2-22. Loteamentos clandestinos no concelho de Almada. Planta Cadastral, I.G.C., 1977, e Levantamento do Plano do Trafaria - Vila Nova - Costa da de Carlos Duarte-Jose Lamas 07Esta é, de resto, uma importante ruptura provocada pela cidade moderna, num quadro de relações diferentes dos elementos morfológicos com espaço urbano. Os estudos do Laboratorio de Urbanismo de Barcelona sistematizam três etapas no crescimento urbano: o Parcelamento (crescimento), a Urbanização (infra-estruturação) e a Edificação (construção de edifícios), e, verificam que nem sempre as três existem ou se encadeiam igualmente. Mas, na expansão urbana da cidade tradicional parcela- mento precede a urbanização, enquanto no conjunto moderno a ênfase é dada na ur- banização e já que o loteamento não existe, emboro se possa sempre iden- tificar como lote terreno debaixo do edifício QUARTEIRÃO A definição do quarteirão tanto pode basear-se na sua forma construída como no processo de e divisão quarteirão é um contínuo de edifícios agrupados entre si em anel, sistema fe- chado e separado dos demais; é espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias e subdivisível em parcelas de cadastro (lotes) para construção de edifícios. É tam- bem um modelo de distribuição de terra por proprietários fundiários. Como é também modo de agrupar edifícios no espaço delimitado pelo cruzamento de traçados. sistema do quarteirão é muito antigo. É um processo geométrico elementar, e CO- mo tal começou a sua existência. A partir desse processo elementar, foi adquirindo es- tatuto na produção da cidade, como unidade morfológica. Agrupa subunidades, mas pode também constituir a parte mínima identificavel estrutura urbana. Em muitas situações, o quarteirão subdivide-se num conjunto de edifícios e é delimi- tado por quatro Os edifícios delimitados pelo lote constituem partes do quartei- rão, partes essas por vezes diferenciadas em altura, em profundidade, em Noutros casos, como na Baixa Pombalina, o quarteirão confunde-se com um grande edifício grande parcela. No Plano do Martim Moniz, as unidades-base da forma urbana são quarteirões identificados com lotes ou os próprios edifícios, fornecendo uni- dades de edificação operativas no parcelamento do solo em direito de Todavia, se a marcação do lote se identifica com a delimitação do edifício, a marca- do quarteirão pressupõe uma hierarquia superior, identificando-se com a definição do espaço urbano. quarteirão não é autónomo dos restantes elementos do espaço urbano os ou as vias, os espaços públicos, os lotes e os edifícios. É simulta- neamente o resultado de regras geométricas de divisão fundiária do solo e de mento do espaço urbano, e um instrumento operativo de produção da cidade tradicio- nal. Esta dualidade confere-lhe um lugar determinante na cidade tradicional como 88PISO PISO CORTE 18 PISO 2 ALCADO ALCADO 0 2 2 CASA URBANA MEDIEVAL CASA URBANA PRE-RENASCENTISTA CASA URBANA as de habitação Evolução anterior sec. de casa de 2 chazada de do castelo das de un o superior (corresponde na (onde existen segundo piso a que corresponde janela reservado piso a primeira na USOR atc. de longo o primeiro abobadado A organização funcional sequência de de Aroucha Normalmente ao ander superior por escada, rectangulares hierarquia (4-6n), de porta A distribuição do caso sen anterior en certos para 19 piso expaços definidos por dividido dois recorte-se ao superior faz-se no piso, escada no tipo Na fachada são molduras composição da fachada respeita nodelo classico a Guando se de desenho de rua. necessario de de duas por no dos elementos ainda a vezes morfologia tradicional do e A cobertura A utilização de de no is alinhadas con sacadas no 20 existe piso mantendo horizontal constanto, do ao de parade que 2-23. Tipologias construtivas, segundo a analise do Plano do Centro de Moura C. e Jose Lamas) 89DO OCUPAÇÃO DO ORGANIZAÇÃO FACHADA A forma de ocupação do procade de principio de aproveitar toda extensão frente do lote, corresponde à fachada interior de lote conforme para logradouro de fachada modelo de Tavira: dois vezes de de 4 10 existen utilitario etc.) restantes de de e no no de na generalidade dos Ao longo do tendências 1. a conformação regular lote de 2. a multiplicação do de cus mais diminues entre si. E an tempo duas permanências: fachada que conforma 2. que definido interior edificada PISO PISON DE PLANO DE REABILITAÇÃO E SALVAGUARDA DO CENTRO DE TAVIRA 1 fase 9 tipologica CARLOS REGIONAL analise aglomerado e do edificado 2-24. Análise ocupação do lote organização das fachadas e no centro histórico Segundo o plano de Carlos Duarte José Larnas 90VOLUMETRIA I - Pequeno volume, de 1 piso, ou articulado outros, de 1 ou mais pisos. Frente estreita 6 grande Cobertu ras com telhados de 2 ou de tesouro (2) B II - Vários volumes articulados, 1.R 2 pisos, cobertos com telhados de tesouro e terraços (4, 5, 6) III - Grandes volumes, de 2 pisos, telhados de 7. ou e um anexo (7, 9) 10. volume, muito profundo, com telhado 2 perpendicular fachada, caracteristico de armazens e Note-se desenho da platibanda. 10. 3. 9. DE E SALVAGUARDA DO CENTRO HISTÓRICO DE TAVIRA 1985 1 fase 9 evolução tipologica - DE PLANEAMENTO E LDA GERAL REGIONAL analise aglomerado e do edificado 2-25. Análise da volumetria das construções e do lote. Segundo Plano de Centro Historico de Tavira 914 1 2 esc. 3 1:4 000 Estrutura dos e lotes em três de 1. Bairro Alto (sec. XVI); 2. Baixa Pombalina (1756); 3. Avenidas de Ressano Garcia (1880-1900). A estrutura do lote resulta de e gera a forma edificada. 4. Edifício estreito no limite do Bairro Alto, Lisboa, ocupando o lote disponível 92Arrangement des parcelles dans l'angle d'un do cité Parcelles coupées Fig 152. Parcelles bissectrice fig d'un grandilot de cité par deux places 0 Fig 153 Parcelles en évental Fig.154 Parcelles avec balancement d'un batiment. a étages VILLE MARSEILLE a prive LE PLACE 31 ) 2-27. Recomendações sobre a organização dos e Segundo Ed. Joyant Traité d'Urbanisme, 1929. Parcelamento renovação dos quarteirões da zona da Bol- em Marselha, segundo Plano Hebrard e (1906), mostrando os alinhamentos, volu- mes e redistribuição fundiária. 93elemento morfológico autónomo ou elemento à escala do bairro (do mesmo modo que escalão inferior se identificou o edifício). Ao longo da sua evolução, quarteirão foi sedimentando modos de utilização so- cial que culminaram nas complexas estruturas da cidade europeia dos finais do sécu- to XIX, de que são exemplos o quarteirão de Haussmann, em Paris, de Cerdá, em Bar- celona, ou de Ressano Garcia, em Lisboa. Nessas estruturas, o quarteirão organiza funções habitacionais, comerciais, de serviços e trabalho - artesanato e pequenas indústrias em função de práticas de utilização do espaço público: a da fren- te, a fachada principal, a entrada principal; espaço semicolectivo no logradouro inte- rior, com a entrada de serviço nas traseiras; espaço privado no interior do prédio e dos alojamentos. quarteirão agrega e organiza também os outros elementos da estrutura urbana: o lote e o edifício, traçado e a rua, e as relações que estabelecem com os espaços blicos, semipúblicos e privados. quarteirão foi (e é) um instrumento de trabalho na da cida- de tradicional, permitindo a localização da arquitectura e relacionando-a com estrutura urbana. Foi um elemento morfológico sempre presente nas cidades até ao período moderno, constituindo elemento da urbana. Movimento Moderno imprimiu ao quarteirão um processo de transformações cessivas que culminaram no seu abandono. num quadro mais vasto de profundas modi- ficações na maneira de pensar e organizar a cidade. quarteirão durou até pós-guerra, altura em que cedeu lugar a outras formas urbanas, para voltar à cena da composição urbanistica nos últimos dez anos. Por isso, reservo para mais tarde outras referências ao lugar e papel desempenha- do pelo quarteirão na estrutura urbana. A FACHADA, o PLANO MARGINAL Na cidade tradicional, a relação do edifício com espaço urbano vai processar-se pela fachada. Entalado entre duas outras empenas, cada edifício dispõe apenas da fa- chada para a comunicação com espaço urbano. A importância da fachada decorre da posição hierarquizada que lote ocupa no quarteirão. E a situação descrita é a situação corrente das tipologias habitacionais, com excepções evidentes quando edifício se situa no meio de um quarteirão ou do lo- te mais vasto que ocupa. São as fachadas que vão exprimir as características distributivas (programas, fun- organização), o tipo edificado, as linguagem arquitectónica (o 94SÉC. XVI E ANTERIORES XVII E METADE DO XVIII METADE DO SÉC. XVIII METADE DO SÉC. XIX 1 3 4 2° METADE DO XIX 1. 2. Manuelino 3. Renascimento 4 5. Séculos XVI XVII 5 6. 7. Barroco XVIII 6 7 8 8. Séc. XIX 2-28. Análise da forma dos e organização das fachadas no centro histórico de Plano do Centro Histórico de Tavira - C. Duarte - J. Lamas 95estilo, a expressão estética, a em suma, um conjunto de elementos que irão moldar a imagem da cidade. É através das fachadas dos edifícios (e dos seus volumes) que se definem os espaços urbanos. A fachada é o invólucro visivel da massa construí- da, e é também o cenário que define o espaço urbano. dos Santos, na Baixa Pombalina (1756); Percier e Fontaine, na Rue de Ri- voli (1819); Haussmann, nas renovações de Paris (1856); e também Wood (pai e filho), em Bath (1728 e 1774) acentuaram ainda mais a relação da forma urbana com as fa- chadas dos edifícios, através de sistemas em que a fachada é desenhada previamente. A fachada obedece ai a desenhos repetitivos. Por detrás das fachadas, os edifícios construíam-se com relativa independência, segundo programas diferentes. Este sistema evidencia outra da fachada, a transição entre mundo colec- tivo do espaço urbano e mundo privado das edificações. A fachada assume em de- terminadas épocas concentração do esforço estético, procurando o aparato, a repre- sentatividade, a ostentação e o prestígio, moldando a imagem e a estética das cidades. A partir do urbanismo moderno, o edifício, e consequentemente a sua fachada, dei- xa de ocupar no espaço urbano a posição que detinha na cidade tradicional, passando a ser um objecto isolado em redor do qual existe espaço livre. Desaparecem as empe- nas, e os lados passam a ser vistos e a pertencer à imagem da cidade. Consequente- mente, a orientação dos edifícios deixa de ser determinada pela orientação dos traça- dos e deixa de existir a principal para a Neste contexto, modifica-se for- temente a posição e a importância da fachada na morfologia urbana. Em paralelo, as regras de organização e desenho dos edifícios também se modifi- Até go Movimento Moderno, a fachada graus de autonomia em relação ao interior do edifício, obedecendo a leis de simetria, repetição, hierarquia e de alguns elementos mais significantes (a porta principal, andar nobre, o eixo de simetria e a parte central, etc.), evidentes nas arquitecturas eruditas e tantas ve- zes nas arquitectura populares. Tais regras eram aplicadas em função de uma imagem exterior pretendida, a que por vezes se subordinava interior dos edifícios. A arquitectura moderna vai esta situação, pela obrigação de traduzir espaço interno e as funções do edifício na imagem exterior. À planta deve correspon- der a fachada. A leitura dos textos de Bruno Zevi evidencia o esforço moderno de relacionamento entre interior e o exterior dos edifícios. Essa atitude teria no limite algumas perversões nos anos sessenta, em que os edifi- cios se organizavam como se de com paredes se tratasse. Por via das regras modernas, a importância da fachada é eliminada pela diferente posição do edifício na estrutura urbana e o volume e a massa edificada vão absorver o de comunicação estética entre o edifício e o espaço urbano, substituindo a mé- trica, ritmos e a estética das fachadas. 9697 1 2 3 2-29. A importância dos no espaço urbano. 1. Os desenhos de Percier e Fontaine a Rue de Rivoli (1800). 2. Os desenhos de dos Santos e Carlos Mardel para a Baixa Pom- 3. Fachadas dos palácios sobre rio em (secs. XVI, XVII, XVIII e XIX) 07Como se pode concluir, a fachada tem uma importância e significado diferentes na morfologia urbana da cidade tradicional e na cidade moderna. Para finalizar, direi que, ao identificar a fachada como um elemento morfológico, a entendo como um elemento determinante na forma e imagem da cidade, elemento ao qual desde sempre se atribuiu um alto significado no projecto arquitectónico. reen- contro com a arte urbana terá de assumir de novo o cenário urbano não desligando desenho das fachodas dos problemas de urbanismo - e através desta questão esta- belecer também um elo de continuidade e integração entre desenho urbano e projecto arquitectónico. LOGRADOURO logradouro constitui o espaço privado do lote não ocupado por construção, as traseiras, o espaço privado, separado do espaço público pelos contínuos edificados. logradouro foi, também, na cidade tradicional, um ou resultado dos acertos de loteamentos e de geometrias de ocupações dos lotes. Teve várias utilizações ao longo das épocas, desde a horta ou quintal até à oficina, garagem ou anexo, ou utilização colectiva em situações mais recentes, em sistema de condómino. É, em boa medida, na utilização do logradouro que se torna possível a evolução das malhas urbanas: densificação, reconstrução, ocupação. logradouro vai oferecendo solo às modificações e intensificações de acolhendo numerosas ac- tividades que não encontram outro lugar na cidade. É através da utilização e desenho do logradouro que se faz parcialmente a ção das formas urbanas do até ao Todavia não creio que o logradouro constituisse um elemento morfológico mo. É, fundamentalmente, um complemento residual, um espaço que fica não é utilizado pela habitação nem contribui para a forma dos espaços públicos. Este lugar modesto na morfologia da cidade tradicional é justamente o seu maior atributo, permitindo-lhe jogar um papel relevante na evolução da cidade. É através da utilização e desenho do logradouro que se faz parcialmente a evolu- ção das formas urbanas do até ao construído. o TRAÇADO/A RUA tracado é um dos elementos mais claramente tanto na forma de uma cidade como no gesto de a projectar. Assenta num suporte geográfico preexisten- 9829 20 21 2-30. Os traçados: 1. Projecto de urbanização da porte ocidental de Lisboa, por dos Santos e Corlos Mordel (1756); 2. de por Lúcio Costa (1956), esboco inicial 99te, regula a disposição dos edifícios e liga os vários espaços e partes da ci- dade, e confunde-se com gesto As antigas cidades romanas, de assentamento militar, provinham da disposição de dois traçados ortogonais principais (cardus e decumanus maximus), eles próprios na sua orientação e posição recíproca revestidos de atributos cósmicos e religiosos. Dois mil anos mais tarde Lúcio Costa explica assim de Nasceu do gesto inicial com que qualquer um localiza um lugar e dele toma posse. Dois eixos que se cruzam em recto, formando o sinal da cruz. Este sinal adaptou-se depois à topografia, à inclinação natural do terreno e à melhor orientação: os extremos de um dos eixos curvaram-se, formando um sinal que pode inscrever-se num triângulo equilátero que limita a zona a gesto do traçado quase fenómeno cósmico enraizado na humanidade é en- contrado também nos assentamentos coloniais, nas cidades militares e, de um modo geral, em todas as cidades planeadas. Para Poète, Lavedan e Tricart o traçado tem um carácter de permanência, não totalmente modificável, que lhe permite resistir às transformações Assim, encontramos traçado romano ainda visível em muitas cidades. tracado estabelece a relação mais directa de assentamento entre a cidade e o território. Na análise de M. Poète, a o relaciona-se directamente com a formação e crescimento da cidade de modo hierarquizado, em função da importância funcional deslocação, do percurso e da mobilidade de bens, pessoas e ideias. É que define plano intervindo organização da forma urbana a diferentes dimensões. É também de importância vital na orientação em uma qualquer cidade. Para finalizar, diria que a rua, existem como elementos morfológicos nos vários níveis ou escalas da forma urbana. Desde a rua de peões à à avenida, ou à via rápida, encontra-se uma correspondência entre a hierarquia dos e o hierarquia das da forma urbana. A PRAÇA Nas cidades a praça não existe. Quanto muito, cruzamento de ruas produz uma área mais larga no ponto de confluência. A é um elemento morfoló- gico das cidades ocidentais e distingue-se de outros espaços, que são resultado aciden- tal de alargamento ou confluência de pela organização espacial e intencio- nalidade de desenho. Esta intencionalidade repousa na situação da praça na estrutura urbana no seu desenho e nos elementos morfológicos (edifícios) que a caracterizam. A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa. Se a rua, 100FI 0000 PLACES PLACES AVEC CONSTRUCTIONS PAR UN 2-31. Robert Krier. Diferentes formas de praças apresentadas em L'Espace de la Ville 101o são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urba- na e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arqui- tecturas significativas. Outros espaços como o largo, o terreiro, não podem ser assimi- lados ao conceito de praça. São de certa maneira espaços acidentais: vazios ou alar- gamentos da estrutura urbana e que, com o tempo, foram apropriados e usados. Mas nunca adquirem significação igual ao da praça porque não nasceram como tal. Praça, largo, terreiro, são também elementos morfológicos na forma da cidade e utilizáveis no desenho urbano na concepção arquitectónica. A geometria de uma praça pode variar do quadrado passando por semicírculos, elipses, paralelogramos regulares, irregulares, etc. Robert Krier, no Espaço da Cidade (62), tenta uma colecção algo exaustiva de formas geométricas das praças. Colecção inesgotável, embora possa ser A praça é um elemento de grande permanência nas cidades. A Lisboa anterior ao terramoto de 1755 tinha já Terreiro do Paço no mesmo local onde dos Santos desenha a Praça do A Praça de São Marcos, em Veneza, evoluiu com modificações de forma e pormenores, mas mantendo a sua localização. largo do mercado, adro fronteiro à igreja, ou outros pequenos espaços vazios da cidade medieval não são ainda verdadeiras praças. É a partir do Renascimento que a praça se inscreve em definitivo na estrutura urbana e adquire o seu estatuto até fazer parte obrigatória do desenho urbano nos séculos XVIII e XIX A de praça na cidade tradicional implica, como na rua, a estreita relação do vazio (espaço de permanência) com os edifícios, os seus planos marginais e as fa- chadas. Estas definem os limites da praça e caracterizam-na, organizando cenário urbano. A praça reúne a ênfase do desenho urbano como espaço colectivo de signifi- cação importante. Este é um dos seus atributos principais e que a distingue dos outros vazios da estrutura das cidades. Na moderna, a praça permanece, embora suscitando as dificuldades de delimitação e provocadas pela menor cia dos edifícios e fachadas na sua No actualmente, re- curso ao desenho de praças tem sido por vezes um logro, na medida em que o desenho do espaço não é acompanhado pela qualificação e significação funcional. o MONUMENTO Os dicionarios definem o monumento como obra de arquitectura ou es- cultura destinada a transmitir à posteridade a recordação de um grande homem ou feito; ou obra de arquitectura considerável pela sua dimensão ou magnificiência; ou constru- ção que recobre uma 102103 * 2-32. A Praça do Plano Director da EXPO 98 apresentado Candidatura Portuguesa ao B.E.I. (1991/1992) Carlos Duarte e Lamas) como exemplo de espaço individualizado à dimensão sectorialmonumento é um facto urbano singular, elemento morfológico individualizado pela sua presença, configuração e posicionamento na cidade e pelo seu significado. Para Poète, é um dos elementos que fundamentam princípio das permanências um dos factos urbanos que melhor persistem no tecido urbano e resistem a transformações. A sua presença é determinante na imagem da cidade. A imagem de Roma, Paris ou Lis- boa é também a imagem dada pelos seus monumentos, sejam eles marcos sem finalida- de de uso, mas com significação social, histórica ou cultural (a coluna de Trajano, obelisco da Concorde a estátua equestre de D. José), edifícios utilitários com va- lor social e importância cultural. Poète identifica também no monumento um dos ele- mentos de maior potencial composição da cidade, mesmo após a perda do seu sig- nificado edifício público ou monumento como individualidade e como lo- calização devem intervir em primeira mão na composição da cidade. Não se localizam em qualquer ponto. Têm seu lugar Servem para compor a fisionomia urba- Rossi é mais peremptório ao afirmar que os factos urbanos persistentes se identi- ficam os monumentos, são persistentes na cidade e efectivamente persistem mente (excepto, finalmente, em casos bastante estudo dos monumentos permite também questionar as teorias funcionalistas bre a A existência do monumento situa-se muito para lá do desempenho de uma função e assume significados culturais, históricos e estéticos bem precisos, mesmo quando a sua função primitiva já não existe. monumento desempenha um papel essencial no desenho urbano, caracteriza a área ou bairro e torna-se pólo estruturante da cidade. Nas operacio- a ausência de monumentos representa, de certo modo, vazio de significado destas estruturas e o vazio cultural das gestões A ampliação do conceito de monumento desenvolvida nas últimas décadas partiu do elemento singular arquitectónico escultório para abranger conjuntos urbanos, centros históricos as próprias cidades. A evolução destes conceitos e um novo olhar sobre a cidade do passado como do presente a de pensar recolocando o património edificado na vida da sociedade. A distância é grande de atitudes como a do Plan Voisin, para Paris, as enuncia- das na Carta de Atenas ao património edificado. As áreas históricas e as áreas antigas vão assim constituír permanências cidade como os monumentos, mui- to embora o seu USO e função possa ser completamente diferente. As atitudes de Six- to V, traçar a Roma barroca sobre as ruínas da Roma Imperial, ou de Haussmann, ao destruir/reconstruindo casco histórico da Paris medieval, de Le Corbusier, pro- pondo a renovação do ilôt insalubre no Plan Voisin, já não são defensáveis nem deve- riam ser2-33. o monumento. Desenho de dos Santos para a estátua equestre de D. na Praça do Comercio e para e no pedestral (1757). chafariz na Rua do Junqueira, em Lisboa (1826). monumento 25 de Abril, em Concurso (1985) proposta do Arq. A. Marques Miguel 105A polémica internacional que envolveu a da Maison du Peuple de Victor Horta, em Bruxelas, a operação das Halles, em Paris, com a dos pavi- Baltard, em 1968, marcou o ponto de na reutilização dos velhos e das áreas antigas das cidades. Hoje, todos os arquitectos, urbanistas, administrado- res e a população em geral, estariam de acordo em salvar, com adaptação e novos usos, os famosos pavilhões. Todavia foi necessário cometer grandes erros (as Halles, em Paris, Monumental, em Lisboa vinte anos depois... e tantos outros), para que a consciencialização destes problemas se fosse enraizando na cultura Quer isto dizer que se ampliou e diversificou conceito de monumento e de património em con- cultural e em área geográfica, aplicando-se no caso-limite à totalidade da forma urbana. Conceito que se tornou operativo na gestão da cidade pela reabilitação e re- cuperação dos factos urbanos antigos para novos e novas funções. A ÁRVORE E A VEGETAÇÃO Do canteiro à árvore, ao jardim de bairro ou ao grande parque urbano, as estrutu- ras verdes constituem também elementos estrutura urbana. Carac- terizam a imagem da cidade; têm individualidade própria; desempenham funções pre- cisas: são elementos de composição e do desenho urbano; servem para organizar, de- finir e conter espaços. Certamente que a estrutura verde não tem mesma ou permanência que as partes edificadas da cidade. Mas situa-se ao mesmo nível da hie- rarquia morfológica e visual. Uma rua sem as suas árvores mudaria completamente de forma e de imagem; um jardim ou um parque sem a sua vegetação apenas num terreiro... As simples árvores e vegetação existentes em logradouros pri- vados são de grande importância na forma urbana, no controlo do clima e qualifica- ção da cidade, e como tal deveriam ser entendidas no urbanismo e gestão urbana. A este título veja-se a destruição das árvores no Rua da Junqueira, em Lisboa, realiza- em 1992. Uma rua viu-se pelas técnicas acéfalas do trânsito ro- doviário, pela diminuição dos passeios e destruição das árvores, para aumento da faixa de circulação. seu aspecto e forma mudaram radicalmente para pior. A construção do território tanto pode utilizar elementos duros ou minerais como ve- getais plantados. Trata-se de um mesmo problema de desenho arquitectónico em que a árvore, as se encontram na mesma escala de valores que a parede, a fachada ou tro elemento Um pode ser definido tanto por um alinhamento de árvores como por um alinhamento de edifícios. Uma praça 1062-34. e mobiliário urbano no Plano de Renovação Urbana da Área do Martim Moniz. As estão alinhadas e plantadas em caldeiras has faixas centrais do boulevard. Quiosques e bancos desenhados pelo pintor Costa na equipa Carlos Duarte-Jose Lamas 107Retomo aqui o que disse antes sobre a existência de arquitectura de intenção ca tanto nas estruturas rurais como nas urbanas, tanto no jardim como na cidade. desenho do espaço não tem duas áreas ou níveis de trabalho do edificado e das estruturas verdes. São ambos elementos da mesma actuação, porventura exigindo alguns conhecimentos disciplinares diferenciados. Os exemplos da são a este respeito concludentes. No Alhambra de Grana- da, construção e vegetação confundem-se num todo coerente. Haussmann, em Paris, compreende a importância da árvore nas avenidas e boule- Para evitar crescimento das árvores, que retardaria por dezenas de anos a contemplação e efeito da nova obra, desenvolve sistemas de transplantação de árvo- res já adultas. A inauguração dos boulevards dá-se assim com as suas estruturas ver- des totalmente desenvolvidas e acabadas, ou seja, com a sua imagem já sedimentada. Nas transformações recentes em Barcelona, Sevilha ou Madrid, também árvores adul- tas são plantadas, dando ao espaço seu aspecto final. E, de facto, o alinhamento de árvores plantadas em caldeira é tão fundamental na cidade tradicio- nal como é nas propostas actuais de novo urbanismo. o MOBILIÁRIO URBANO Deliberadamente, é no final que refiro mobiliário urbano, constituído por elemen- tos móveis que e equipam a cidade: banco, o chafariz, o cesto de papéis, candeeiro, marco do correio, a sinalização, etc., ou já com dimensão de constru- ção, como o quiosque, o abrigo de transportes, e outros. mobiliário urbano situa-se na dimensão sectorial, na escala da rua, não podendo ser considerado de ordem secundária, dadas as suas implicações na forma e equipa- mento da cidade. É também de grande importância para o desenho da cidade e a sua organização, para a qualidade do espaço e comodidade. Durante anos, terá sido des- curado em muitos arranjos e intervenções. Hoje voltou de novo à cena profissional, apoiando a requalificação da cidade e acabando por interessar à própria produção industrial. Também se poderia referir esse conjunto de elementos que nas socie- dades de consumo invadem e se colam às estruturas edificadas, como elementos posti- e móveis: anúncios, montras, sinais, reclamos, luzes, iluminações, etc. Por simplificação de exposição, não se conferiu a estes elementos a mesma impor- tância e relevo dados aos elementos da morfologia urbana. E também por razões que se relacionalizam quer com a mobilidade (sendo portanto efémeros, em constante mo- quer com as suas características de elementos e adicionais. Ven- 1082-35. desenho dos espaços verdes: a árvore e vegetação. 1. Jardins da Villa d'Este em Tivoli (sec. XVI). 2. Plano do Parque de Bercy - projecto vencedor do M. Fernand e I. le Caisne (paisagista) 109turi, em Learning from Las Vegas, demonstra o grau de impacte e comunicação que es- tes elementos levados à exacerbação e saturação podem assumir na imagem da cida- de. A imagem de Las Vegas é constituída em boa parte pela presença dos elementos parasitários e móveis: anúncios e letreiros, luzes, etc. Mas este é, sem dúvida, um caso extremo, que não pode ser generalizado. Chegado a este ponto, resta clarificar as relações dos elementos morfológicos com as dimensões ou escalas do espaço urbano. Na dimensão sectorial, à escala de rua, os elementos morfológicos são essencialmente os edifícios (com as suas fachadas e planos marginais), o traçado e também a árvore ou a estrutura verde, desenho do solo e o mobiliário urbano. Na dimensão urbana, escala de bairro, são os traçados e os quarteirões e monumentos, os jardins e áreas verdes, que constituem os elementos morfológicos Diremos também que a forma a esta escala se constitui pela adição de formas a escala inferior. movimento é necessário ao entendimento da cidade e à li- gação, ou colagem, das várias partes urbanas. Na dimensão territorial, escala urbana, os elementos morfológicos identificam-se com os bairros, as grandes infra-estruturas viárias e as grandes zonas verdes relacio- nadas com o suporte geográfico e as estruturas físicas da paisagem. Esta dos elementos morfológicos encadeada por agregação de uni- dades menores formando outras unidades a uma escala maior não significa a adopção de um sistema em homem vive totalidade de ambiente que não é seccionada por fronteiras rígidas. A experiência ambiental pressupõe o conhecimento de diversos conjuntos, a sua articulação e desagregação sucessivas. A leitura da cidade e do território faz-se simultaneamente a diferentes níveis ou es- calões e também pelo percurso e sequências, o que significa que a forma urbana só po- de ser estudada e compreendida em sistema de 110