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Tipos e Gêneros Textuais

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Nilza Carolina Suzin Cercato 
Comunicação e Expressão
Tipos e gêneros textuais
Nilza Carolina Suzin Cercato 
Comunicação e Expressão
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Tipos e gêneros textuais
Um herói é um homem que faz o que pode.
Roman Rolland
Nesta aula, vamos trabalhar com os gêneros e tipos textuais, com as modalidades 
discursivas, evidenciando suas características e a necessidade dessa classificação. Esse 
estudo é importante para que haja uma comunicação mais efetiva, além de economia 
de esforço e tempo.
Gêneros textuais
Um aspecto interessante da classificação dos gêneros e tipos textuais e discursi-
vos é o fato de que eles nos apontam uma direção de leitura. Por exemplo, ao lermos 
uma carta, sabemos o que esperar, pela própria prática de leitura. Bakhtin diz (1992, 
p. 279):
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade 
humana é inesgotável e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso 
que vai diferenciando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
Quando fala em variedade virtual da atividade humana, prevê as possibilidades 
de novas formas e novos gêneros que podem surgir. Um exemplo disso são os novos 
repertórios de gêneros que apareceram por meio da internet.
Ao comparar a atividade humana com a esfera, faz lembrar o efeito que se obtém 
ao jogar uma pedra em um lago, os círculos se alargam, se expandem. Assim acontece 
com os gêneros. Alguns desaparecem, depois retornam com variações, novos gêneros 
surgem e se instalam.
A primeira classificação de gênero se estabeleceu entre prosa e poesia, sendo que 
a prosa aparecia em parágrafos e a poesia em versos. Mas sabemos que essa divisão 
fica limitada quando se pensa na obra de Guimarães Rosa, em que a prosa-poética 
está presente. Por outro lado, com o advento do Modernismo, o verso livre abandona 
algumas características que eram exclusivas da poesia, como a rima e a métrica a favor 
da melodia do verso. Aí está o que Bakhtin (1992, p. 279) explicita “[...] à medida que a 
própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.”
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Outra classificação que vem desde Platão é a distinção entre os gêneros líricos, 
épicos e dramáticos. Essa classificação, com algumas variações, permanece em nossos 
dias. O gênero lírico se caracterizaria pela presença da voz do autor somente. No gênero 
dramático, somente as personagens falam. No épico, autor e personagens têm direito 
à fala.
Notamos que a classificação dos gêneros é algo construído ao longo do tempo. 
Por isso, vale lembrar que, além da literatura, a retórica também apresenta uma clas-
sificação. Aristóteles dividiu a retórica em gêneros, que são até hoje fontes de conhe-
cimento. Ele os classificou de acordo com o objetivo: o deliberativo, para julgar uma 
ação futura; o judicial, para uma ação passada, e o epidíctico, em que o orador louva 
ou censura, exaltando o sucesso e condenando o fracasso.
Com essas classificações, evidencia-se que o estudo dos gêneros foi uma constan-
te. Segundo Brandão (2003, p.19),
Esta diversidade de campos do saber voltados à questão do gênero tem resultado numa variedade de 
abordagens – o que se atesta pela metalinguagem utilizada; tem-se usado, às vezes, indistintamente 
os termos: gêneros, tipos, modos, modalidades discursivas, espécies de texto e de discursos.
Com essas reflexões sobre gêneros e sua classificação histórica, justifica-se a ne-
cessidade de uma organização, divisão, para, como dissemos no início, por meio do 
gênero, direcionar nossa leitura, pois, como vimos, eles são dinâmicos, por isso mesmo 
não são formas fechadas.
Maingueneau diz isso claramente (2002, p. 59-60):
Tais categorias correspondem às necessidades da vida cotidiana e o analista do discurso não pode 
ignorá-las. Mas também não pode contentar-se com elas, se quiser definir critérios rigorosos. O rigor 
não impede, contudo, que se aceitem critérios variados, que correspondem a formas distintas de 
apreender o discurso.
Desse modo, os gêneros podem ser entendidos como um produto coletivo dos 
diversos usos da linguagem e que se realizam de diversos modos, de acordo com as 
necessidades comunicativas do dia a dia da comunidade.
Gêneros e tipologias na atualidade
Podemos entender gêneros como os diversos tipos de discurso associados a 
grandes setores da atividade social de comunicação. Esses setores da atividade social 
são os canais pelos quais os tipos são apresentados. Maingueneau nos dá um exemplo 
elucidativo (2002, p. 61):
Assim, o talk show constitui um gênero de discurso no interior do tipo de discurso “televisivo” que, 
por sua vez, faz parte de um conjunto mais vasto, o tipo de discurso “midiático”, em que figurariam 
também o tipo de discurso radiofônico e o da imprensa escrita.T
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Tipos e gêneros textuais
Exemplos de gêneros discursivos: carta, convites, cartões de natal, de felicitações, 
telegramas, novela, piadas humorísticas, cinema, teatro, crônicas, resenhas, propagan-
das, história em quadrinhos e assim por diante.
Notamos que os gêneros estão, conforme diz Maingueneau (2002, p. 61): “[...] em 
todos os setores da atividade social”.
Vejamos o que diz Bakhtin (1992, p. 279):
Se os gêneros do discurso não existissem e se nós não tivéssemos o seu domínio e se fosse preciso 
criá-los pela primeira vez em cada processo da fala, se nos fosse preciso construir cada um de nossos 
enunciados, a troca verbal seria quase impossível.
À mesma ideia refere-se Maingueneau, quando diz (2002, p. 64):
Graças ao nosso conhecimento dos gêneros do discurso, não precisamos prestar uma atenção 
constante a todos os detalhes de todos os enunciados que ocorrem a nossa volta. Em um instante 
somos capazes de identificar um dado enunciado como sendo um folheto publicitário ou como 
uma fatura e, então, podemos nos concentrar apenas em um número reduzido de elementos.
Notamos, então, como a identificação do gênero textual facilita a abordagem 
do leitor ou do ouvinte. Mentalmente nos preparamos para o que vamos ler ou ouvir. 
Claro que, se houver algo diferenciado, refazemos nosso percurso ou identificamos um 
novo formato. Esse comportamento é muito natural quando se dominam as formas 
dos gêneros textuais.
Veja o exemplo a seguir:
Receita de mãe
Nilza Cercato
Ingredientes:
– 5 xícaras de paciência
– 2 xícaras de dedicação
– 3 xícaras de perdão
– 1 pitada de raiva
– 2 colheres de humor
– 3 xícaras de preocupação
– 2 copos de lágrimas
– Amor à vontade, para dar o ponto.
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Modo de fazer:
Misture tudo, mexa com cuidado e junte o sorriso, mesmo nas dificuldades. Sinta 
a textura desse colo que sempre está à disposição, até quando os filhos forem adultos. 
Veja como à volta dela a vida gira e acontece. Evite magoá-la. Ao lado dela, sempre 
haverá amor de sobra para todos. Sirva-se à vontade.
Observe que estamos diante de uma receita, mas, à medida que vamos lendo, 
constatamos que essa receita não é de culinária comum, porque a autora usou um 
gênero, para falar de outro. Temos uma receita que se aproxima do gênero poético. O 
importante é que notemos o afastamento do usual de receita logo de início, até pelo 
título, embora os elementos componentes estejam presentes, como ingredientes e 
modo de fazer, que são marcados nas receitas culinárias. É por isso que Bakhtin (1992, 
p. 279) diz que “[...] a variedade virtual da atividade humana é inesgotável”.
Tipologia textual
Com relação às tipologias, a classificação mais usual na escola é a divisão entre 
narração, descrição e dissertação argumentativa. Cada uma delas tem suas especifici-
dades, mas é comum encontrarmos descrição em um texto narrativo, como também 
podemos encontrar narração em forma de poema.
Veja o seguinte exemplo:
O rumor das vozese dos veículos acordou um mendigo que dormia nos de-
graus da igreja. O pobre-diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, 
mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, 
impassível como ele, mas sem as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os 
andrajos, um céu claro, estrelado, sossegado, olímpico. (ASSIS, 1994, p. 65)
Nesse trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, temos uma narra-
ção no primeiro período, nos demais, o autor descreve a personagem. Um caso típico 
de narração com descrição.
Por isso, é preciso levar em consideração os seguintes aspectos:
 A linguagem é regida pelo princípio do dialogismo, isto é, há um “eu” e um 
“tu” virtualmente presentes. No exemplo anterior, o autor pressupõe um leitor. 
Então, o “eu” seria Machado de Assis, o autor; o “tu” seríamos nós, os leitores.
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Tipos e gêneros textuais
 O texto é constitutivamente heterogêneo, polifônico, quer dizer, vozes dife-
rentes aparecem no texto, de forma explícita ou implícita. No caso do exem-
plo, vemos que há uma reciprocidade entre o mendigo e o céu. Por outro lado, 
há uma voz que se faz presente pelo modo como opõe o mendigo ao céu.
 Não se textualiza sob uma única forma, podendo, no texto, aparecerem, 
concomitantemente, sequências narrativas, descritivas, explicativas, argumen-
tativas.
Vamos, agora, caracterizar essas tipologias, apresentando suas características, 
mas sempre lembrando que, em matéria de comunicação, variações e possibilidades 
surgem a cada momento e a cada contato.
Características da narrativa
Na narração, os fatos são apresentados numa sequência temporal e causal, uma 
vez que o interesse reside na ação e é por ela (ação) que as personagens ganham 
importância Concebe-se uma narrativa quando, em seu contexto, aparecem respostas 
às seguintes questões:
 O que está sendo contado?
 Quem praticou a ação?
 Quando?
 Em que lugar aconteceu o fato?
 Quem está contando?
Os fatos podem apresentar uma sequência lógica ou não, mas devem estar 
coerentes com o que é narrado. A seguir, temos o exemplo da narrativa do romance 
Memórias Póstumas de Brás Cubas:
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, 
isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o 
uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar 
diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas 
um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito 
ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não 
a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito 
isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na 
minha bela chácara de Catumbi. (ASSIS, 1992, p.18)
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Observamos que há um narrador que se apresenta na primeira pessoa. Brás Cubas 
está contando o fato. Quando? Depois da morte, pois se apresenta como um defunto 
autor. Onde? Na chácara de Catumbi. O que está sendo contado? As memórias.
Notamos que a sequência está invertida e o próprio autor coloca sua dúvida com 
relação a isso: “[...] suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento [...] me levaram 
a usar diferente método.”
As narrativas podem aparecer em contos, romances, lendas, novela, ficção cientí-
fica, biografias, crônicas, notícias, reportagens etc.
Notamos que as narrativas estão muito presentes em nossa vida. Contamos para 
nosso melhor amigo como foi o filme que vimos, o jogo a que assistimos, o encontro 
que tivemos no dia anterior, como foi a “bronca” do chefe, e assim por diante. Em nossas 
conversações e em nossos relatos, a sequência narrativa é uma tipologia constante.
Características da descrição
A tipologia descritiva apresenta traços diferenciadores de um objeto, de um 
personagem ou de um lugar. É como fazer uma pintura usando as palavras. Em geral, 
os substantivos e adjetivos são muito usados, pois essas categorias nomeiam e quali-
ficam seres. Descrever exige criatividade, pois, se houver apenas uma enumeração e 
qualificação do objeto a ser descrito, estaremos diante de uma listagem, apenas.
Veja o exemplo:
O ar ali estava mais frio. Sobre a cidade, graças ao céu limpo, o sol ainda brilha-
va, posto já sobre o lado do mar a cair, lançando uma luz suave, um afago luminoso 
a que daqui a pouco responderão as vidraças da encosta, primeiro com archotes vi-
brantes, depois empalidecendo, reduzindo-se a um pedacinho de espelho trêmulo, 
até se apagar tudo e começar o crepúsculo a peneirar a sua cinza lenta entre os pré-
dios, ocultando as empenas, apagando os telhados, ao mesmo tempo que o ruído 
da cidade baixa esmorece e recua sob o silêncio que se derrama destas ruas altas 
onde vive Raimundo Silva. (SARAMAGO, 2003, p. 83)
Observamos a beleza poética dessa descrição, o ar, o sol, o crepúsculo, as casas, as 
ruas, o ruído. Um pintor poderia desenhar essa paisagem, mas nunca captaríamos as 
nuances com que o autor descreve o pôr do sol. Considero essa descrição com traços 
poéticos, pela forma como a imaginação é convocada para recriar esse momento tão 
especial do pôr do sol.
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Tipos e gêneros textuais
Procure relacionar a qualificação que o autor faz de cada elemento que compõe 
esse belíssimo quadro, por exemplo: luz suave, afago luminoso, cinza lenta. Proceda da 
mesma forma com os outros elementos.
As tipologias descritivas aparecem quase sempre mescladas com a narrativa. 
Podemos ter uma descrição do mais belo gol de Neymar, até a da expressão mais sin-
gela de uma criança abrindo um presente. Creio que uma descrição criativa seja uma 
das formas mais complexas de criar um texto.
Características da argumentação
Argumentar tem o sentido de convencer, por meio de argumentos, isto é, por 
meio de ideias convincentes, defende-se um ponto de vista. Esses argumentos podem 
ser expressos por meio de exemplos, causas, consequências, comparações, oposições, 
dados científicos, resultados de pesquisas, em conversações e debates.
Geralmente, a dissertação argumentativa pressupõe uma tese, que vem a ser a 
ideia a ser defendida, o posicionamento tomado diante de um determinado assunto. Isto 
comporia a introdução. Em seguida, viriam os argumentos para demonstrar, convencer 
da legitimidade do que se defende e, por último, uma conclusão que reitera a tese.
Observe o seguinte exemplo:
A divisão social do trabalho, ao separar os homens em proprietários e não 
proprietários, dá aos primeiros poder sobre os segundos. Estes são explorados eco-
nomicamente e dominados politicamente. Estamos diante de classes sociais e da 
dominação de uma classe por outra. Ora, a classe que explora economicamente só 
poderá manter seus privilégios se dominar politicamente e, portanto, se dispuser de 
instrumentos para essa dominação. Esses instrumentos são dois: o Estado e a ideo-
logia. (CHAUÍ, 2001, p. 82)
Nesse parágrafo, a autora apresenta o seu ponto de vista em relação à ideologia 
e às classes sociais. Expõe a construção de uma sociedade formada a partir do poder 
econômico e político.
É preciso pensar que não existe linguagem inocente, sem objetivo. Em todo o dis-
curso há uma argumentatividade, pois desejamos convencer o outro de nosso ponto 
de vista. Para atingir esse objetivo, a construção de nossa comunicação se faz com os 
operadores argumentativos, como as conjunções e preposições, de forma a manter a 
coerência textual.
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Modalidades discursivas na análise do discurso
Para complementar esse estudo de gêneros e tipologias, vamos ver uma classifi-
cação usada na Análise de Discurso. As modalidades discursivas foram enunciadas por 
Orlandi(1987, p.154-156):
Discurso lúdico – diz-se do discurso que apresenta reversibilidade total entre os 
interlocutores, isto é, os interlocutores usam indiferentemente a voz, propondo senti-
dos, pois resulta de uma polissemia aberta do jogo com a palavra. Não há coerções, o 
que significa que não há desejo de convencer, apenas, uma expressão de sentimen-
tos ou opiniões, uma vez que o imperativo desaparece. Há um jogo de interlocuções 
(eu-tu-eu dinamizados) em que se percebe menos desejo de convencer; uma vez que 
o caráter desse discurso é polissêmico – trazendo riqueza de sentidos e encontro de 
novos significados.
Veja o exemplo:
Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários 
como velhas caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se 
desdentadamente, em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... 
Pobre velhinho! (Mário Quintana)
O jogo lúdico que o autor faz com as palavras traz uma polissemia aberta, podendo-
-se estabelecer novas significações, inclusive pelas figuras usadas, personalizando as pa-
lavras e associando-as à figura do próprio eu do autor.
Discurso polêmico – nessa modalidade, há reversibilidade em certas condições; 
pois se trava um embate/debate no qual a função referencial é disputada pelos interlo-
cutores; o “eu” domina, mas ouve o “tu” para rebater, por isso a polissemia é controlada 
e até instigante ao apresentar argumentos que podem ser contestados.
Observe o exemplo:
Geir Campos
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas avisar aos outros o quanto é amargo.
Cumprir o trato injusto e não falhar,
Mas avisar aos outros quanto é injusto.
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Tipos e gêneros textuais
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros o quanto é falso;
Dizer também que são coisas mutáveis...
A presença da adversativa “mas” caracteriza o embate entre duas situações. A cada 
denúncia do “eu”, surge a voz de um “tu” para desestabilizar a situação injusta, amarga, 
falsa. A argumentatividade presente no poema encaminha para o debate entre duas 
situações que emergem no dizer, por meio das pistas linguísticas. Sabemos que o “mas” 
é um operador argumentativo que opõe duas situações e, dessa forma, um debate se 
estabelece.
Discurso autoritário – é assim chamado porque a reversibilidade tende a zero, 
uma vez que resulta em verdade imposta, verificando-se o exercício de dominação 
pela palavra. É um discurso no qual não há lugar para a interlocução, pois o “eu” domina 
e o “tu” é reduzido ao silêncio, numa forma de discurso exclusivista que não permite 
mediações, já que é a voz da autoridade que se faz ouvir. O discurso de governos dita-
toriais, da igreja, da escola e da família, quando propõem comportamentos, costuma 
ser autoritário.
A seguir, veja um exemplo de discurso autoritário:
Quebre o silêncio. Converse com o seu parceiro e previna-se contra a AIDS. Cuide 
de você e da sua família. Use camisinha. (Campanha publicitária governamental)
Há, no exemplo, uma voz autoritária, que orienta e ensina no sentido educativo e 
preventivo. A coerência se faz quando a modalidade autoritária traz uma referência de 
bom senso, promotora do bem-estar social e político. Mas também podemos encon-
trar o discurso autoritário prejudicial, quando uma vontade é imposta para dominar, 
submeter injustamente.
Depois de passarmos por várias teorias sobre os gêneros, tipologias e modalida-
des discursivas, verificamos que é um princípio de economia na leitura e no conheci-
mento estabelecermos, logo nas primeiras linhas, a que gênero pertence o texto que 
estamos lendo. Por outro lado, como escritores, temos diante de nós uma facilidade na 
interação com o leitor.
84
Síntese
Conforme vimos, os gêneros são histórico-sociais e não devem ser fechados em 
regras aprisionadoras. As possibilidades de utilizar os gêneros e as tipologias facili-
tam a leitura, direcionam a comunicação. Vimos também que as tipologias designam 
composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).
Leitura indicada
Você deve aprofundar a questão dos gêneros e tipologias lendo o primeiro capí-
tulo do seguinte livro:
BRANDÃO, Helena N. Gêneros e tipologias textuais. In .).grO( .N aneleH ,OÃDNARB :
Gêneros de Discurso na Escola: mito conto, cordel, discurso político, divulgação cien-
Site indicado
<www.ich.pucminas.br/posletras/06.pdf>.
Referências
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: FTD, 1994.
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: FTD, 1992.
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
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Tipos e gêneros textuais
BRANDÃO, Helena N. Gêneros e tipologias textuais. In: BRANDÃO, Helena N. (Org.). 
Gêneros de Discurso na Escola: mito conto, cordel, discurso político, divulgação cien-
tífica. São Paulo: Cortez Ed. 2002.
CHAUÍ, Marilena. O que É Ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2001.
FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Contribuição a uma tipologia textual. Letras & Letras, Uber-
lândia, v.3, n.1, p. 3-10, 1987.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Â. et al. 
Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
ORLANDI, Eni P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, 
SP: Pontes, 1987.
______. Análise do Discurso: princípios & procedimentos. 6. ed. São Paulo: Pontes, 
2005.
SARAMAGO, José. História do Cerco de Lisboa. São Paulo: Folha de S.Paulo, 2003.

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