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Teoria da Comunicação IT0027 - (Enem) Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais bem- sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas a�vidades escritas? Não deve mais corrigir? Não! Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as ocasiões: o es�lo dos contratos não é o mesmo do dos manuais de instrução; o dos juízes do Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de seus colunistas. POSSENTI, S. “Gramá�ca na cabeça”. Língua Portuguesa, ano 5, n. 67, maio 2011 (adaptado). Sírio Possen� defende a tese de que não existe um único "português correto". Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras coisas, saber a) descartar as marcas de informalidade do texto. b) reservar o emprego da norma-padrão aos textos de circulação ampla. c) moldar a norma-padrão do português pela linguagem do discurso jornalís�co. d) adequar as formas da língua a diferentes �pos de texto e contexto. e) desprezar as formas da língua previstas pelas gramá�cas e manuais divulgados pela escola. IT0347 - (Enem) O complexo de falar di�cil O que importa realmente é que o(a) detentor(a) do notável saber jurídico saiba quando e como deve fazer uso desse português versão 2.0, até porque não tem necessidade de alguém entrar numa padaria de manhã com aquela cara de sono falando o seguinte: “Por obséquio, Vossa Senhoria teria a hipoté�ca possibilidade de estabelecer com minha pessoa uma relação de compra e venda, mediante as imposições dos códigos Civil e do Consumidor, para que seja possível a obtenção de 10 pãezinhos em temperatura estável para que a relação pecuniária no valor de R$ 5,00 seja plenamente legí�ma e capaz de saciar minha fome ma�nal?”. O problema é que temos uma cultura de valorizar quem demonstra ser inteligente ao invés de valorizar quem é. Pela nossa lógica, todo mundo que fala di�cil tende a ser mais inteligente do que quem valoriza o simples, e 99,9% das pessoas que es�vessem na padaria iriam ficar boquiabertas se alguém fizesse uso das palavras que eu disse acima em plenas 7 da manhã em vez de dizer: “Bom dia! O senhor poderia me vender cinco reais de pão francês?”. Agora entramos na parte interessante: o que realmente é falar di�cil? Simplesmente fazer uso de palavras que a maioria não faz ideia do que seja é um ato de falar di�cil? Eu penso que não, mas é assim que muita gente age. Falar di�cil é fazer uso do simples, mas com coerência e coesão, deixar tudo amarradinho grama�calmente falando. Falar di�cil pode fazer alguém parecer inteligente, mas não por muito tempo. É claro que em alguns momentos não temos como fugir do português rebuscado, do juridiquês propriamente dito, como no caso de documentos jurídicos, entre outros. ARAÚJO, H. Disponível em: www.diariojurista.com. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). Nesse ar�go de opinião, ao fazer uso de uma fala rebuscada no exemplo da compra do pão, o autor evidencia a importância de(a) a) se ter um notável saber jurídico. b) valorização da inteligência do falante. c) falar di�cil para demonstrar inteligência. d) coesão e da coerência em documentos jurídicos. e) adequação da linguagem à situação de comunicação. IT0030 - (Enem) Óia eu aqui de novo xaxando Óia eu aqui de novo para xaxar Vou mostrar pr'esses cabras Que eu ainda dou no couro Isso é um desaforo Que eu não posso levar Que eu aqui de novo cantando Que eu aqui de novo xaxando 1@professorferretto @prof_ferretto Óia eu aqui de novo mostrando Como se deve xaxar Vem cá morena linda Ves�da de chita Você é a mais bonita Desse meu lugar Vai, chama Maria, chama Luzia Vai, chama Zabé, chama Raque Diz que eu tou aqui com alegria BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em: www.Iuizluagonzaga.mus.br. Acesso em: 5 maio 2013 (fragmento). A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório linguís�co e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma caracterís�ca do falar popular regional é: a) “Isso é um desaforo”. b) “Diz que eu tou aqui com alegria”. c) “Vou mostrar pr'esses cabras”. d) “Vai, chama Maria, chama Luzia”. e) “Vem cá morena linda, ves�da de chita”. IT0024 - (Enem) As narra�vas indígenas se sustentam e se perpetuam por uma tradição de transmissão oral (sejam as histórias verdadeiras dos seus antepassados, dos fatos e guerras recentes ou an�gos; sejam as histórias de ficção, como aquelas da onça e do macaco). De fato, as comunidades indígenas nas chamadas “terras baixas da América do Sul” (o que exclui as montanhas dos Andes, por exemplo) não desenvolveram sistemas de escrita como os que conhecemos, sejam alfabé�cos (como a escrita do português), sejam ideogramá�cos (como a escrita dos chineses) ou outros. Somente nas sociedades indígenas com estra�ficação social (ou seja, já divididas em classes), como foram os astecas e os maias, é que surgiu algum �po de escrita. A história da escrita parece mesmo mostrar claramente isso: que ela surge e se desenvolve - em qualquer das formas - apenas em sociedades estra�ficadas (sumérios, egípcios, chineses, gregos etc.). O fato é que os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garan�ram a conservação e con�nuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narra�vas que sua tradição criou, através da transmissão oral. Todas as tecnologias indígenas se transmi�ram e se desenvolveram assim. E não foram poucas: por exemplo, foram os índios que domes�caram plantas silvestres e, muitas vezes, venenosas, criando o milho, a mandioca (ou macaxeira), o amendoim, as morangas e muitas outras mais (e também as desenvolveram muito; por exemplo, somente do milho criaram cerca de 250 variedades diferentes em toda a América). D’ANGELIS, W. R. Histórias dos índios lá em casa: narra�vas indígenas e tradição oral popular no Brasil. Disponível em: www.portalkaingang.org. Acesso em: 5 dez. 2012. A escrita e a oralidade, nas diversas culturas, cumprem diferentes obje�vos. O fragmento aponta que, nas sociedades indígenas brasileiras, a oralidade possibilitou a) a conservação e a valorização dos grupos detentores de certos saberes. b) a preservação e a transmissão dos saberes e da memória cultural dos povos. c) a manutenção e a reprodução dos modelos estra�ficados de organização social. d) a restrição e a limitação do conhecimento acumulado a determinadas comunidades. e) o reconhecimento e a legi�mação da importância da fala como meio de comunicação. IT0349 - (Enem) Assentamento Zanza daqui Zanza pra acolá Fim de feira, periferia afora A cidade não mora mais em mim Francisco, Serafim Vamos embora Ver o capim Ver o baobá Vamos ver a campina quando flora A piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora Quando eu morrer Cansado de guerra Morro de bem Com a minha terra: Cana, caqui Inhame, abóbora Onde só vento se semeava outrora Amplidão, nação, sertão sem fim Ó Manuel, Miguilim Vamos embora BUARQUE, C. As cidades. Rio de Janeiro: RCA, 1998 (fragmento). Nesse texto, predomina a função poé�ca da linguagem. Entretanto, a função emo�va pode ser iden�ficada no verso: 2@professorferretto @prof_ferretto a) “Zanza pra acolá”. b) “Fim de feira, periferia afora”. c) “A cidade não mora mais em mim”. d) “Onde só vento se semeava outrora”. e) “Ó Manuel, Miguilim”. IT0008 - (Enem) Falso moralista Você condena o que a moçada anda fazendo e não aceita o teatro de revista arte moderna pra você não vale nada e até vedete você diz não ser ar�sta Você se julga um tanto bom e até perfeito Por qualquer coisa deita logo falação Mas eu conheço bem o seu defeito e não vou fazer segredo não Você é visto toda sexta no Joá e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar Fim de semana2011/2016, do Ins�tuto Socioambiental, calcula 160. Antes da chegada dos portugueses, elas totalizavam mais de mil. Disponível em: h�ps://brasil.elpais.com. Acesso em: 11 jun. 2019 (adaptado). O movimento de recuperação da língua patxôhã assume um caráter iden�tário peculiar na medida em que a) denuncia o processo de perseguição histórica sofrida pelos povos indígenas. b) conjuga o ato de resistência étnica à preservação da memória cultural. c) associa a preservação linguís�ca ao campo da pesquisa acadêmica. d) es�mula o retorno de povos indígenas a suas terras de origem. e) aumenta o número de línguas indígenas faladas no Brasil. 19@professorferretto @prof_ferretto IT0300 - (Fuvest) A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a par�r da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era — depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita subs�tui a lei oral, o contrato escrito subs�tui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos. Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado. A locução conjun�va “de tal modo…que” e o advérbio “sobretudo”, respec�vamente, expressam noção de: a) conformidade e dúvida. b) consequência e realce. c) condição e negação. d) consequência e negação. e) condição e realce. IT0032 - (Enem) Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo” Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do futebol brasileiro a derrotar a cartolagem e a conquistar o Passe Livre, há exatos 40 anos Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez, então com a camisa do Santos (porque depois voltaria a atuar pelo New York Cosmos, dos Estados Unidos), em 1972, quando foi ques�onado se, finalmente, sen�a-se um homem livre. O Rei respondeu sem �tubear: — Homem livre no futebol só conheço um: o Afonsinho. Este sim pode dizer, usando as suas palavras, que deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. O resto é conversa. Apesar de suas declarações serem mo�vo de chacota por parte da mídia futebolís�ca e até dos torcedores brasileiros, o Atleta do Século acertou. E provavelmente acertaria novamente hoje. Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano. Pelo reconhecimento do caráter e personalidade de um dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. E principalmente em razão da história de luta — e vitória — de Afonsinho sobre os cartolas. ANDREUCCI, R. Disponível em: h�p://carosamigos.terra.com.br. Acesso em: 19 ago. 2011. O autor u�liza marcas linguís�cas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas marcas é iden�ficada em: a) “[...] o Atleta do Século acertou.” b) “O Rei respondeu sem �tubear [...]”. c) “E provavelmente acertaria novamente hoje.” d) “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez [...]”. e) “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.” IT0028 - (Enem) A forte presença de palavras indígenas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a par�r do século XIX é um dos traços que dis�nguem o português do Brasil e o português de Portugal. Mas, olhando para a história dos emprés�mos que o português brasileiro recebeu de línguas europeias a par�r do século XX, outra diferença também aparece: com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, par�cularmente, com a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da assimilação desses emprés�mos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas. ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006. Os emprés�mos linguís�cos, recebidos de diversas línguas, são importantes na cons�tuição do português do Brasil porque a) deixaram marcas da história vivida pela nação, como a colonização e a imigração. b) transformaram em um só idioma línguas diferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias. c) promoveram uma língua acessível a falantes de origens dis�ntas, como o africano, o indígena e o europeu. d) guardaram uma relação de iden�dade entre os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal. e) tornaram a língua do Brasil mais complexa do que as línguas de outros países que também �veram colonização portuguesa. IT0303 - (Fuvest) – Posso furar os olhos do povo? Esta frase besta foi repe�da muitas vezes e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje não vivem como an�gamente, escondidas, evitando os homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo. E eu de fato não �nha visto nada. As aparências mentem. A 20@professorferretto @prof_ferretto terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados injustamente neste mundo ruim! O re�rante que fora encontrado violando a filha de quatro anos – estava aí um exemplo. As vizinhas �nham visto o homem afastando as pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não exis�a. Julião Tavares era uma sensação. Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que ali estava a choramingar. Graciliano Ramos, Angús�a. Em termos crí�cos, esse fragmento permite observar que, no plano maior do romance Angús�a, o ponto de vista a) se acomoda nos limites da vulgaridade. b) tenta imitar a retórica dos dominantes. c) reproduz a lógica do determinismo social. d) a�nge a neutralidade do espírito maduro. e) revira os lados contrários da opinião. IT0346 - (Enem) Mas seu olhar verde, inconfundível, impressionante, iluminava com sua luz misteriosa as sombrias arcadas superciliares, que pareciam queimadas por ela, dizia logo a sua origem cruzada e decantada através das misérias e dos orgulhos de homens de aventura, contadores de histórias fantás�cas, e de mulheres caladas e sofredoras, que acompanhavam os maridos e amantes através das matas intermináveis, expostas às febres, às feras, às cobras do sertão indecifrável, ameaçador e sem fim, que elas percorriam com a ambição única de um “pouso” onde pudessem viver, por alguns dias, a vida ilusória de família e de lar, sempre no encalço dos homens, enfebrados pela procura do ouro e do diamante. PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. Ao descrever os olhos de Maria Santa, o narrador estabelece correlações que refletem a a) caracterização da personagem com mes�ça. b) construção do enredo de conquistas da família. c) relação conflituosa das mulheres e seus maridos. d) nostalgia do desejo de viver como os antepassados. e) marca de an�gos sofrimentos no fluxo de consciência. IT0312 - (Fuvest) Remissão Tua memória, pasto de poesia, tua poesia, pasto dos vulgares, vão se engastando numa coisa fria a que tu chamas: vida, e seus pesares. Mas, pesares de quê? perguntaria, se esse travo de angús�a nos cantares, se o que dorme na base da elegia vai correndo e secando pelos ares, e nada resta, mesmo, do que escreves e te forçou ao exílio das palavras, senão contentamento de escrever, enquanto o tempo, e suas formas breves ou longas, que su�l interpretavas, se evapora no fundo do teu ser? Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma. Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condição no mundo. Considerando-o como representa�vo desse seu aspecto, o poema “Remissão” a) traduz a melancolia e o recolhimento do eu lírico em face da sensação de incomunicabilidade com uma realidade indiferente à sua poesia. b) revela uma perspec�va inconformada, mesclando-a, livreda indulgência dos anos anteriores, a um novo formalismo esté�co. c) propõe, como reação do poeta à vulgaridade do mundo, uma poé�ca capaz de interferir na realidade pelo viés nostálgico. d) reflete a visão idealizada do trabalho do poeta e a consciência da perenidade da poesia, resistente à passagem do tempo. e) realiza a transição do lirismo social para o lirismo meta�sico, caracterizado pela adesão ao conforto espiritual e ao escapismo imagina�vo. IT0036 - (Enem) “Acuenda o Pajubá”: conheça o “dialeto secreto” u�lizado por gays e traves�s Com origem no iorubá, linguagem foi adotada por traves�s e ganhou a comunidade “Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!” Entendeu as palavras dessa frase? Se sim, é porque você manja alguma coisa de pajubá, o “dialeto secreto” dos gays e traves�s. 21@professorferretto @prof_ferretto Adepto do uso das expressões, mesmo nos ambientes mais formais, um advogado afirma: “É claro que eu não vou falar durante uma audiência ou numa reunião, mas na firma, com meus colegas de trabalho, eu falo de ‘acué’ o tempo inteiro”, brinca. “A gente tem que ter cuidado de falar outras palavras porque hoje o pessoal já entende, né? Tá na internet, tem até dicionário ...”, comenta. O dicionário a que ele se refere é o Aurélia, a dicionária da língua afiada, lançado no ano de 2006 e escrito pelo jornalista Angelo Vip e por Fred Libi. Na obra, há mais de 1.300 verbetes revelando o significado das palavras do pajubá. Não se sabe ao certo quando essa linguagem surgiu, mas sabe-se que há claramente uma relação entre o pajubá e a cultura africana, numa costura iniciada ainda na época do Brasil colonial. Disponível em: www.midiamax.com.br. Acesso em: 4 abr. 2017 (adaptado). Da perspec�va do usuário, o pajubá ganha status de dialeto, caracterizando-se como elemento de patrimônio linguís�co, especialmente por a) ter mais de mil palavras conhecidas. b) ter palavras diferentes de uma linguagem secreta. c) ser consolidado por objetos formais de registro. d) ser u�lizado por advogados em situações formais. e) ser comum em conversas no ambiente de trabalho. IT0021 - (Enem) Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928. [...] ADMINISTRAÇÃO Rela�vamente à quan�a orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos polí�cos são badalados. Porque se derrubou a Bas�lha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. es�cou a canela - um telegrama. Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929. GRACILlANO RAMOS RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Mar�ns Fontes, 1962. O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é des�nado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor a) emprega sinais de pontuação em excesso. b) recorre a termos e expressões em desuso no português. c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar in�midade com o des�natário. d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar conhecimento especializado. e) expressa-se em linguagem mais subje�va, com forte carga emocional. IT0326 - (Fuvest) Agora, o Manuel Fulô, este, sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo �po –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam-se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia-lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol. Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. *sem pelos, sem barba **tolo ***mes�ço O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que a) há clara an�pa�a do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. b) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refle�r a mescla de culturas própria ao es�lo do livro. c) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro. d) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narra�va Manuel Fulô sofre derrota na luta �sica. e) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua. IT0016 - (Enem) A língua tupi no Brasil 22@professorferretto @prof_ferretto Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Pira�ninga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”. Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à a�vidade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente ba�zou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua. “Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado. ANGELO. C. Disponível em: h�p://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado). O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguís�ca nacional. Quanto ao papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena a) contribuiu efe�vamente para o léxico, com nomes rela�vos aos traços caracterís�cos dos lugares designados. b) originou o português falado em São Paulo no século XVII, em cuja base grama�cal também está a fala de variadas etnias indígenas. c) desenvolveu-se sob influência dos trabalhos de catequese dos padres portugueses vindos de Lisboa. d) misturou-se aos falares africanos, em razão das interações entre portugueses e negros nas inves�das contra o Quilombo dos Palmares. e) expandiu-se paralelamente ao português falado pelo colonizador, e juntos originaram a língua dos bandeirantes paulistas. IT0307 - (Fuvest) Alferes, Ouro Preto em sombras Espera pelo ba�zado, Ainda que tarde sobre a morte do sonhador Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. Raios de sol brilharão nos sinos: Dez vias dar. Ai Marília, as liras e o amar Não posso mais sufocar E a minha voz irá Pra muito além do desterro e do sal, Maior que a voz do rei. Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de 1973. A imagem de Tiradentes – a quem Cecília Meireles qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”, em palestra feita em Ouro Preto– torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o már�r sonhador para resis�r ao discurso a) da doutrina revolucionária de ligas poli�camente engajadas. b) da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes. c) de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar. d) dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas. e) da �rania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro. IT0352 - (Enem) Esaú e Jacó Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao patamar de pedra, à porta da esquerda. Era uma criaturinha leve e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não se lhe podia negar um corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um pedaço de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja borla era suprida por um raminho de arruda. Já vai nisto um pouco de sacerdo�sa. O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste úl�mo estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento. Não te minto dizendo que as duas sen�ram tal ou qual fascinação. Bárbara interrogou-as; Na�vidade disse ao que vinha e entregou-lhe os retratos 23@professorferretto @prof_ferretto dos filhos e os cabelos cortados, por lhe haverem dito que bastava. – Basta, confirmou Bárbara. Os meninos são seus filhos? – São. ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. No relato da visita de duas mulheres ricas a uma vidente no Morro do Castelo, a ironia — um dos traços mais representa�vos da narra�va machadiana — consiste no a) modo de ves�r dos moradores do morro carioca. b) senso prá�co em relação às oportunidades de renda. c) mistério que cerca as clientes de prá�cas de vidência. d) misto de singeleza e astúcia dos gestos da personagem. e) interesse do narrador pelas figuras femininas ambíguas. IT0316 - (Fuvest) Can�ga de enganar (...) O mundo não tem sen�do. O mundo e suas canções de �mbre mais comovido estão calados, e a fala que de uma para outra sala ouvimos em certo instante é silêncio que faz eco e que volta a ser silêncio no negrume circundante. Silêncio: que quer dizer? Que diz a boca do mundo? Meu bem, o mundo é fechado, se não for antes vazio. O mundo é talvez: e é só. Talvez nem seja talvez. O mundo não vale a pena, mas a pena não existe. Meu bem, façamos de conta. De sofrer e de olvidar, de lembrar e de fruir, de escolher nossas lembranças e revertê-las, acaso se lembrem demais em nós. Façamos, meu bem, de conta – mas a conta não existe – que é tudo como se fosse, ou que, se fora, não era. (...) Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspec�va do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso-síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a �.” (“Legado”). O excerto de “Can�ga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada a) pela música, que ressoa em canções líricas. b) pela cor, brilhante na claridade solar. c) pela afirmação de valores sólidos. d) pela memória, que corre fluida no tempo. e) pelo despropósito de um faz-de-conta. IT0310 - (Fuvest) Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E, diante da sua insistência bovina, �ve de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado. Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela di�cil interlocução com o indígena, o narrador a) abandona a ideia de inves�gar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo. b) explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insis�r em permanecer na aldeia. c) age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto. d) iden�fica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interroga�vo e se deixar ques�onar. e) sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia. IT0014 - (Enem) Senhor Juiz 24@professorferretto @prof_ferretto O instrumento do “crime” que se arrola Nesse processo de contravenção Não é faca, revólver ou pistola, Simplesmente, doutor, é um violão. Será crime, afinal, será pecado, Será delito de tão vis horrores, Perambular na rua um desgraçado Derramando nas praças suas dores? Mande, pois, libertá-lo da agonia (a consciência assim nos insinua) Não sufoque o cantar que vem da rua, Que vem da noite para saudar o dia. É o apelo que aqui lhe dirigimos, Na certeza do seu acolhimento Juntada desta aos autos nós pedimos E pedimos, enfim, deferimento Disponível em: www.migalhas.com.br. Acesso em: 23 set. 2020 (adaptado). Essa pe�ção de habeas corpus, ao transgredir o rigor da linguagem jurídica, a) permite que a narra�va seja obje�va e repleta de sen�dos denota�vos. b) mostra que o cordel explora termos próprios da esfera do direito. c) demonstra que o jogo de linguagem proposto atenua a gravidade do delito. d) exemplifica como o texto em forma de cordel compromete a solicitação pretendida. e) esclarece que os termos “crime” e “processo de contravenção” são sinônimos. IT0353 - (Enem) A senhora manifestava-se por atos, por gestos, e sobretudo por um certo silêncio, que amargava, que esfolava. Porém desmoralizar escancaradamente o marido, não era com ela. [...] As negras receberam ordem para meter no serviço a gente do tal compadre Silveira: as cunhadas, ao fuso; os cunhados, ao campo, tratar do gado com os vaqueiros; a mulher e as irmãs, que se ocupassem da ninhada. Margarida não �vera filhos, e como os desejasse com a força de suas vontades, tratava sempre bem aos pequenitos e às mães que os estavam criando. Não era isso uma sen�mentalidade cristã, uma ternura, era o egoísta e cru ins�nto da maternidade, obrando por mera simpa�a carnal. Quanto ao pai do lote (referia-se ao Antônio), esse que fosse ajudar ao vaqueiro das bestas. Ordens dadas, o Quinquim referendava. Cada um moralizava o outro, para moralizar-se. PAIVA, M. O. Dona Guidinha do Poço. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. No trecho do romance naturalista, a forma como o narrador julga comportamentos e emoções das personagens femininas revela influência do pensamento a) capitalista, marcado pela distribuição funcional do trabalho. b) liberal, buscando a igualdade entre pessoas escravizadas e livres. c) cien�fico, considerando o ser humano como um fenômeno biológico. d) religioso, fundamentado na fé e na aceitação dos dogmas do cris�anismo. e) afe�vo, manifesto na determinação de acolher familiares e no respeito mútuo. IT0002 - (Enem) Não que Pelino fosse químico, longe disso; mas era sábio, era gramá�co. Ninguém escrevia em Tubiacanga que não levasse bordoada do Capitão Pelino, e mesmo quando se falava em algum homem notável lá no Rio, ele não deixava de dizer: “Não há dúvida! O homem tem talento, mas escreve: ‘um outro’, ‘de resto’...” E contraía oslábios como se �vesse engolido alguma cousa amarga. Toda a vila de Tubiacanga acostumou-se a respeitar o solene Pelino, que corrigia e emendava as maiores glórias nacionais. Um sábio... Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero, o Candido de Figueiredo ou o Castro Lopes, e de ter passado mais uma vez a �ntura nos cabelos, o velho mestre-escola saía vagarosamente de casa, muito abotoado no seu paletó de brim mineiro, e encaminhava- se para a bo�ca do Bastos a dar dous dedos de prosa. Conversar é um modo de dizer, porque era Pelino avaro de palavras, limitando-se tão-somente a ouvir. Quando, porém, dos lábios de alguém escapava a menor incorreção de linguagem, intervinha e emendava. “Eu asseguro, dizia o agente do Correio, que…” Por aí, o mestre-escola intervinha com mansuetude evangélica: “Não diga ‘asseguro’, Senhor Bernardes; em português é garanto”. E a conversa con�nuava depois da emenda, para ser de novo interrompida por uma outra. Por essas e outras, houve muitos palestradores que se afastaram, mas Pelino, indiferente, seguro dos seus deveres, con�nuava o seu apostolado de vernaculismo. BARRETO, L. A Nova Califórnia. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 24 jul. 2019. Do ponto de vista linguís�co, a defesa da norma-padrão pelo personagem caracteriza-se por 25@professorferretto @prof_ferretto a) contestar o ensino de regras em detrimento do conteúdo das informações. b) resgatar valores patrió�cos relacionados às tradições da língua portuguesa. c) adotar uma perspec�va complacente em relação aos desvios grama�cais. d) invalidar os usos da língua pautados pelos preceitos da gramá�ca norma�va. e) desconsiderar diferentes níveis de formalidade nas situações de comunicação. IT0319 - (Fuvest) Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poé�cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, co�diano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo esté�co que nos enleia; seduz-nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri-lo, sen�ndo-o e pensando- o de maneira diferente e nova. A ilusão, a men�ra, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o; e aclara-o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “É�ca e leitura”, de Crivo de Papel. O que eu precisava era ler um romance fantás�co, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo- se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angús�a. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angús�a. Para Graciliano Ramos, Angús�a não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera a) dramá�ca, ao representar as tensões de seu tempo. b) grotesca, ao eliminar a expressão individual. c) sa�rica, ao reduzir os eventos ao plano do riso. d) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo. e) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira. IT0323 - (Fuvest) Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como a) uma defesa da natureza. b) um ataque às forças armadas. c) uma defesa dos direitos humanos. d) uma defesa da resistência civil. e) um ataque à passividade. IT0292 - (Fuvest) No modelo hegemônico, quase todo o treinamento é reservado para o desenvolvimento muscular, sobrando muito pouco tempo para a mobilidade, a flexibilidade, o treino restaura�vo, o relaxamento e o treinamento cardiovascular. Na teoria, seria algo em torno de 70% para o fortalecimento, 20% para o cárdio e 10% para a flexibilidade e outros. Na prá�ca, muitos alunos direcionam 100% do tempo para o fortalecimento. Como a prá�ca cardiovascular é infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável, essa ordem deveria ser revista. Nuno Cobra Jr. “Fitness não é saúde”. Uol. 06/05/2021. Adaptado. Dentre as expressões destacadas, a que exerce a mesma função sintá�ca do termo sublinhado em “o treino restaura�vo, o relaxamento e o treinamento cardiovascular” é: a) um atleta de seleção precisa de treinamento intenso. b) o amor ao esporte é fundamental para o atleta. c) a população incorpora radicalmente a�tudes saudáveis. d) muitas pessoas se beneficiam de alimentos verdes. e) todo �po de a�vidade �sica faz bem à saúde mental. IT0320 - (Fuvest) Leia o trecho extraído de uma no�cia veiculada na internet: “O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e 26@professorferretto @prof_ferretto tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major. Disponível em h�ps://www.gp1.com.br/. No português do Brasil, a função sintá�ca do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz a�va, tal como encontrado em: a) “O carro furou o pneu”. b) “e bateu no meio fio”. c) “O refém conseguiu acionar a população”. d) “tentaram linchar eles”. e) “afirmou o major”. IT0311 - (Fuvest) Rubião fitava a enseada, – eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares me�dos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cris�ano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade. – Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Barba, apenas me dano uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça... Machado de Assis, Quincas Borba. O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance: a) a contemplação das paisagens naturais, como se lê em “ele admirava aquele pedaço de água quieta”. b) a presença de um narrador-personagem, como se lê em “em verdade vos digo que pensava em outra coisa”. c) a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em “Cotejava o passado com o presente”. d) o sen�do mís�co e fatalista que rege os des�nos, como se lê em “Deus escreve direito por linhas tortas”. e) a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em “de modo que o que parecia uma desgraça...”. IT0004 - (Enem) Estojo escolar Rio de Janeiro – Noite dessas, ciscando num desses canais a cabo, vi uns caras oferecendo maravilhas eletrônicas, bastava telefonar e eu receberia um notebook capaz de me ajudar a fabricar um navio, uma estação espacial. [...] Como pretendo viajar esses dias, habilitei-me a comprar aquilo que os caras anunciavam como o top do top em matéria de computador portá�l. No sábado, recebi um embrulho complicado que necessitava de um manual de instruções para ser aberto. [...] De repente, como vem acontecendo nos úl�mos tempos, houveum corte na memória e vi diante de mim o meu primeiro estojo escolar. Tinha 5 anos e ia para o jardim de infância. Era uma caixinha comprida, envernizada, com uma tampa que corria nas bordas do corpo principal. Dentro, arrumados em divisões, havia lápis coloridos, um apontador, uma lapiseira cromada, uma régua de 20 cm e uma borracha para apagar meus erros. [...] Da caixinha vinha um cheiro gostoso, cheiro que nunca esqueci e que me tonteava de prazer. [...] O notebook que agora abro é negro e, em matéria de cheiro, é abominável. Cheira vilmente a telefone celular, a cabine de avião, a aparelho de ultrassonografia onde outro dia uma moça veio ver como sou por dentro. Acho que piorei de estojo e de vida. CONY, C. H. Crônicas para ler na escola. São Paulo: Obje�va, 2009 (adaptado). No texto, há marcas da função da linguagem que nele predomina. Essas marcas são responsáveis por colocar em foco o(a) a) mensagem, elevando-a à categoria de objeto esté�co do mundo das artes. b) código, transformando a linguagem u�lizada no texto na própria temá�ca abordada. c) contexto, fazendo das informações presentes no texto seu aspecto essencial. d) enunciador, buscando expressar sua a�tude em relação ao conteúdo do enunciado. e) interlocutor, considerando-o responsável pelo direcionamento dado à narra�va pelo enunciador. IT0019 - (Enem) O humor e a língua Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua cons�tuição linguís�ca. Por isso, embora a afirmação a seguir possa parecer surpreendente, creio 27@professorferretto @prof_ferretto que posso garan�r que se trata de uma verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças, ins�tuições (igreja, escola, casamento, polí�ca), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não prestaram a devida atenção a esse material, que poderia subs�tuir com vantagem muitas entrevistas e pesquisas par�cipantes. Saberemos mais a quantas andam o machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do que qualquer outro corpus. POSSENTI. S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado). A piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfa�zada por a) sua função humorís�ca. b) sua ocorrência universal. c) sua diversidade temá�ca. d) seu papel como veículo de preconceitos. e) seu potencial como objeto de inves�gação. IT0306 - (Fuvest) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão podíeis ter sido! – sois madeira que se corta, – sois vinte degraus de escada, – sois um pedaço de corda... – sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... – sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência. A “estranha potência” que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre a) fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado. b) forma abstrata no espaço e presença concreta na história. c) leveza impalpável na arte e vigor nos documentos an�gos. d) sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel. e) lirismo irrefle�do da poesia e peso justo dos acontecimentos. IT0322 - (Fuvest) amora a palavra amora seria talvez menos doce e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. Tal como se lê no poema, a) a palavra “amora” é substan�vo, e “amargo”, adje�vo. b) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”. c) o substan�vo “corpo” apresenta sen�do denota�vo. d) o substan�vo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”. e) o verbo “amar” e o substan�vo “amor” são intercambiáveis. IT0011 - (Enem) Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante con�ngência de sofrer 28@professorferretto @prof_ferretto con�nuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramá�cos, não se entendem no tocante à correção grama�cal, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Cons�tuição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2012 Nessa pe�ção da pitoresca personagem do romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão jus�fica-se pela a) situação social de enunciação representada. b) divergência teórica entre gramá�cos e literatos. c) pouca representa�vidade das línguas indígenas. d) a�tude irônica diante da língua dos colonizadores. e) tenta�va de solicitação do documento demandado. IT0357 - (Enem) Ser cronista Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Crônica é um relato? É uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só �nha escrito romances e contos. E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco de em breve publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sen�r, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que não viessem a se refle�r no escrever. Mas mudar só porque isso é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Diver�r? Fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no Jornal apenas falo com o leitor e agrada- me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente. LISPECTOR, C. In: A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. No texto, ao refle�r sobre a a�vidade de cronista, a autora ques�ona caracterís�cas do gênero crônica, como a) relação distanciada entre os interlocutores. b) ar�culação de vários núcleos narra�vos. c) brevidade no tratamento da temá�ca. d) descrição minuciosa dos personagens. e) público leitor exclusivo. IT0010 - (Enem) Vou-me embora p’ra Pasárgada foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome Pasárgada quando �nha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o de L’invita�on au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte anos depois,quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não �nha feito em minha vida por mo�vo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio: “Vou-me embora p’ra Pasárgada!” Sen� na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo, mas fracassei. Alguns anos depois, em idên�cas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço como se já es�vesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto, como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo de aparências’, uma cidade ilustre, que hoje não é mais a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada. BANDEIRA, M. I�nerário da Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984 Os processos de interação comunica�va preveem a presença a�va de múl�plos elementos da comunicação, entre os quais se destacam as funções da linguagem. Nesse fragmento, a função da linguagem predominante é 29@professorferretto @prof_ferretto a) emo�va, porque o poeta expõe os sen�mentos de angús�a que o levaram à criação poé�ca. b) referencial, porque o texto informa sobre a origem do nome empregado em um famoso poema de Bandeira. c) metalinguís�ca, porque o poeta tece comentários sobre a gênese e o processo de escrita de um de seus poemas. d) poé�ca, porque o texto aborda os elementos esté�cos de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira. e) apela�va, porque o poeta tenta convencer os leitores sobre sua dificuldade de compor um poema. IT0321 - (Fuvest) amora a palavra amora seria talvez menos doce e um pouco menos vermelha se não trouxesse em seu corpo (como um velado esplendor) a memória da palavra amor a palavra amargo seria talvez mais doce e um pouco menos acerba se não trouxesse em seu corpo (como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. É correto afirmar que o poema a) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. b) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repe�ção da palavra “talvez”. c) apresenta natureza român�ca, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sen�mento amoroso. d) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. e) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. IT0341 - (Enem) Morte lenta ao luso infame que inventou a calçada portuguesa. Maldito D. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta, a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos. A queda é a maior ameaça para o idoso. “Idoso”, palavra odienta. Pior, só “terceira idade”. A queda separa a velhice da senilidade extrema. O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. Em casa, vou de corrimão em corri - mão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado. Da poltrona para a janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para a janela. Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não. TORRES, F. Fim. São Paulo: Cia. das Letras, 2013. O recurso que caracteriza a organização estrutural desse texto é o(a) a) justaposição de sequências verbais e nominais. b) mudança de eventos resultante do jogo temporal. c) uso de adje�vos qualifica�vos na descrição do cenário. d) encadeamento semân�co pelo uso de substan�vos sinônimos. e) inter-relação entre orações por elementos linguís�cos lógicos. IT0328 - (Fuvest) E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta úl�ma reflexão é o mo�vo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados. Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. 1E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mor�ficar as novas amigas, e fazer-lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o ar�go que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, par�cularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”. Machado de Assis, Quincas Borba. No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialogando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como substan�vo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso 30@professorferretto @prof_ferretto devoto”. No contexto maior do romance, sugere-se que a tartufice a) se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios. b) é ação isolada de Sofia, arrivista social e benemérita fingida. c) diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que explica o �tulo do livro. d) se produz na imprensa, apesar de esta se esquivar da eloquência vazia. e) se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes. IT0305 - (Fuvest) Romance LIII ou Das Palavras Aéreas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que não retorna, e, em tão rápida existência, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Perdão podíeis ter sido! — sois madeira que se corta, — sois vinte degraus de escada, — sois um pedaço de corda... — sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa! Éreis um sopro na aragem... — sois um homem que se enforca! Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência Ao subs�tuir a pessoa verbal u�lizada para se referir ao substan�vo “palavras” pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos “sois de vento, ides no vento,” (v. 4) / “Perdão podíeis ter sido!” (v. 12)! / “Éreis um sopro na aragem...” (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alterna�va: a) são, vão, podiam, eram. b) seriam, iriam, podiam, serão. c) eram, foram, poderiam, seriam. d) são, vão, poderiam, eram. e) eram, iriam, podiam, seriam. IT0293 - (Fuvest) Leia os seguintes textos de Machado de Assis: I. Suave mari magno* Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de verão, Envenenado morria Um pobre cão. Arfava, espumava e ria, De um riso espúrio e bufão, Ventre e pernas sacudia Na convulsão. Nenhum, nenhum curioso Passava, sem se deter, Silencioso, Junto ao cão que ia morrer, Como se lhe desse gozo Ver padecer. Machado de Assis. Ocidentais. * Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). II. Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII. III. Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé doleito o marido: – Que foi? perguntou ele. – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei? (...) – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo, 31@professorferretto @prof_ferretto profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angus�ada, convulsa, cheia de dor e de pavor. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI. A visão do eu lírico no texto I a) volta-se nostálgica para as imagens de uma lembrança. b) centra-se com desprezo na figura do animal agonizante. c) apreende displicentemente o movimento dos transeuntes. d) ganha distância da cena para captar todos os seus aspectos. e) apresenta o espectador da crueldade como um ser incomum. IT0318 - (Fuvest) Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poé�cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, co�diano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo esté�co que nos enleia; seduz-nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri-lo, sen�ndo-o e pensando- o de maneira diferente e nova. A ilusão, a men�ra, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o; e aclara-o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “É�ca e leitura”, de Crivo de Papel. O que eu precisava era ler um romance fantás�co, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo- se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angús�a. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angús�a. Se o discurso literário “aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o”, pode-se dizer que Luís da Silva, o narrador-protagonista de Angús�a, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas” porque a) rejeita, como jornalista, a escrita de ficção. b) prefere alienar-se com narra�vas épicas. c) é indiferente às histórias de fundo sen�mental. d) está engajado na militância polí�ca. e) se afunda na nega�vidade própria do fracasso. IT0012 - (Enem) Relatos de viagem: nas curvas da Nacional 222, em Portugal Em abril deste ano, fomos a Portugal para uma viagem de um mês que esperávamos há um ano. Pois no dia 4 de maio, chegávamos ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Que linda a “an�ga, muy nobre, sempre leal e invicta” cidade do Porto! “Encantei-me”, diriam eles... pelas belas paisagens, construções históricas com lindas fachadas, parques e praças muito bem cuidados. Os tripeiros, sinônimo de portuenses, têm orgulho de sua cidade, apelidada de Invicta – nunca foi invadida. E valorizam tudo o que há de bom ali, como “a melhor estrada para se dirigir do mundo”, a Nacional 222. Pois na manhã do 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos, resolvemos conhecer a tal maravilha. A cada 10 km �nhamos que encostar: corríamos, dançávamos, tomávamos chocolate quente, sopa, tudo que fosse quen�nho. E lá íamos para mais uma etapa. Uma aventura deliciosa. Depois de três horas – mais ou menos o dobro do tempo necessário, não fossem as paradas para aquecimento –, chegamos a casa! Congelados, mas maravilhados e invictos! Disponível em: h�ps://oglobo.globo.com. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado). Nesse texto, busca-se seduzir o leitor por meio da exploração de uma voz externa sobre a iden�dade histórica do povo português. O trecho que evidencia esse procedimento argumenta�vo é a) “Que linda a ‘an�ga, muy nobre, sempre leal e invicta’ cidade do Porto!”. b) “Encantei-me’, diriam eles... pelas belas paisagens, construções históricas com lindas fachadas [...]”. c) “Os tripeiros, sinônimo de portuenses, têm orgulho de sua cidade [...]”. d) “E valorizam tudo o que há de bom ali, como ‘a melhor estrada para se dirigir do mundo’ [...]”. e) “Pois na manhã do 25 de abril, dia da Revolução dos Cravos, resolvemos conhecer a tal maravilha”. IT0324 - (Fuvest) 32@professorferretto @prof_ferretto Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Mas mais frágil fica a bota. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: a) Para bom entendedor, meia palavra basta. b) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. c) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. d) Um dia é da caça, o outro é do caçador. e) Uma andorinha só não faz verão. IT0309 - (Fuvest) Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E, diante da sua insistência bovina, �ve de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado. As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tenta�va de disfarçar o caráter a) fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô. b) inves�ga�vo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô. c) polí�co do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô. d) etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô. e) biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô. IT0034 - (Enem) Irerê, meu passarinho do sertão do Cariri, Irerê, meu companheiro, Cadê viola? Cadê meu bem? Cadê Maria? Ai triste sorte a do violeiro cantadô! Ah! Sem a viola em que cantava o seu amô, Ah! Seu assobio é tua flauta de irerê: Que tua flauta do sertão quando assobia, Ah! A gente sofre sem querê! Ah! Teu canto chega lá no fundo do sertão, Ah! Como uma brisa amolecendo o coração, Ah! Ah! Irerê, solta teu canto! Canta mais! Canta mais! Prá alembrá o Cariri! VILLA-LOBOS, H. Bachianas Brasileiras n. 5 para soprano e oito violoncelos (1938-1945). Disponível em: h�p://euterpe.blog.br. Acesso em: 23 abr. 2019. Nesses verbos, há uma exaltação ao sertão do Cariri em uma ambientação linguis�camente apoiada no(a) a) uso recorrente de pronomes. b) variedade popular da língua portuguesa. c) referência ao conjunto da fauna nordes�na. d) exploração de instrumentos musicais eruditos. e) predomínio de regionalismos lexicais nordes�nos. IT0339 - (Enem) Ela era linda. Gostava de dançar, fazia teatro em São Paulo e sonhava ser atriz em Hollywood. Tinha 13 anos quando ganhou uma câmera de vídeo – e uma irmã. As duas se tornaram suas companheiras de experimentações. Adolescente, Elena vivia a criar filminhos e se empenhava em dirigir a pequena Petra nas cenas que inventava. Era exigente com a irmã. E acreditava no potencialda menina para sa�sfazer seus arroubos de diretora precoce. Por cinco anos, integrou algumas das melhores companhias paulistanas de teatro e par�cipou de preleções para filmes e trabalhos na TV. Nunca foi chamada. No início de 1990, Elena �nha 20 anos quando se mudou para Nova York para cursar artes cênicas e batalhar uma chance no mercado americano. Deslocada, ansiosa, frustrada após alguns testes de elenco malsucedidos, decepcionada com a ausência de reconheci mento e vi�mada por uma depressão que se agravava com a falta de perspec�vas, Elena pôs fim à vida no segundo semestre. Petra �nha 7 anos. Vinte anos depois, é ela, a irmã caçula, que volta a Nova York para percorrer os úl�mos passos da irmã, vasculhar seus arquivos e transformar suas memórias em imagem e poesia. Elena é um filme sobre a irmã que parte e sobre a irmã que fica. É um filme sobre a busca, a perda, a saudade, mas também sobre o encontro, o legado, a memória. Um 33@professorferretto @prof_ferretto filme sobre a Elena de Petra e sobre a Petra de Elena, sobre o que ficou de uma na outra e, essencialmente, um filme sobre a delicadeza. VANUCHI, C. Época, 19 out. 2012 (adaptado). O texto é exemplar de um gênero discursivo que cumpre a função social de a) narrar, por meio de imagem e poesia, cenas da vida das irmãs Petra e Elena. b) descrever, por meio das memórias de Petra, a separação de duas irmãs. c) sinte�zar, por meio das principais cenas do filme, a história de Elena. d) lançar, por meio da história de vida do autor, um filme autobiográfico. e) avaliar, por meio de análise crí�ca, o filme em referência. IT0025 - (Enem) TEXTO l Ditado popular é uma frase sentenciosa, concisa, de verdade comprovada, baseada na secular experiência do povo, exposta de forma poé�ca, contendo uma norma de conduta ou qualquer outro ensinamento. WEITZEL, A. H. Folclore literário e linguís�co. Juiz de Fora: Esdeva, 1984 (fragmento). TEXTO II Rindo brincalhona, dando-lhe tapinhas nas costas, prima Constança disse isto, dorme no assunto, ouça o travesseiro, não tem melhor conselheiro. Enquanto prima Biela dormia no assunto, toda a casa se alvoroçava. [Prima Constança] ia rezar, pedir a Deus para iluminar prima Biela. Mas ia também tomar suas providências. Casamento e mortalha, no céu se talha. Deus escreve direito por linhas tortas. O que for soará. Dizia os ditados todos, procurando interpretar os desígnios de Deus, transformar os seus desejos nos desígnios de Deus. Se achava um instrumento de Deus. DOURADO, A. Uma vida em segredo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990 (fragmento). O uso que prima Constança faz dos ditados populares, no texto II, cons�tui uma maneira de u�lizar o �po de saber definido no texto l, porque a) cita-os pela força do hábito. b) os aceita como verdade absoluta. c) aciona-os para jus�ficar suas ações. d) toma-os para solucionar um problema. e) considera-os como uma orientação divina. IT0301 - (Fuvest) Uma úl�ma gargalhada estrondosa. 1E depois, o silêncio. O palhaço jazia 2imóvel no chão. 3Mas seu rosto con�nua sorrindo, para sempre. Porque a carreira original do Coringa era para durar apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar 4Robin, enfiar um par de sopapos na Homem-Morcego e disparar o primeiro “vou te matar” da sua relação. Na briga final do Batman nº. 1, o “horripilante bufão” sofria um final digno de sua desumana ironia: 5ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito. Assim decidiram e desenharam 6seus pais, os ar�stas Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para 7se rebelar contra a ordem estabelecida. 8Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho. Já dentro da ambulância, vinha à tona “um dado desconcertante”. E então um médico sentenciava: “Con�nua 9vivo. E vai sobreviver!”. Tommaso Koch. “O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates filosóficos sobre a liberdade”, EI País. Junho/2020. No fragmento “ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito.” (ref. 5), a oração em negrito abrange, simultaneamente, as noções de a) proporção e explicação. b) causa e proporção. c) tempo e consequência. d) explicação e consequência. e) tempo e causa. IT0020 - (Enem) Texto I Entrevistadora – eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma língua di�cil? Professora – olha se você parte do princípio... que a língua portuguesa não é só regras grama�cais... não se você se apaixona pela língua que você... já domina que você já fala ao chegar na escola se o teu professor ca�va você a ler obras da literatura. ... obras da/dos meios de 34@professorferretto @prof_ferretto comunicação... se você tem acesso a revistas... é... a livros didá�cos... a... livros de literatura o mais formal o e/o di�cil é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises grama�cais. Texto II Entrevistadora – Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua di�cil? Professora – Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras grama�cais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor mo�vá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros didá�cos, você se apaixona pela língua. O que torna di�cil é que a escola transforma as aulas de língua portuguesa em análises grama�cais. MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita:a�vidades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001 (adaptado). O Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de português a um programa de rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista para a modalidade escrita. Em comum, esses textos a) apresentam ocorrências de hesitações e reformulações. b) são modelos de emprego de regras grama�cais. c) são exemplos de uso não planejado da língua. d) apresentam marcas da linguagem literária. e) são amostras do português culto urbano. IT0427 - (Enem PPL) Diante de uma fórmula consagrada, mas dando indícios de desgaste, a Federação Internacional de Vôlei quis mudar. No calendário há quase três décadas, a Liga Mundial e o Grand Prix deram origem à nova Liga das Nações. Mas, além das mudanças de formato, a compe�ção promete revolucionar a forma com que o esporte chega ao público e também atende a um pedido an�go das mulheres: a igualdade na premiação. A compe�ção dará US$ 1 milhão para o campeão de cada gênero. Há algumas temporadas, as mulheres contestavam a diferença na premiação. A nova Liga das Nações, no entanto, atende ao pedido e iguala o valor recebido nos dois naipes. “Estamos compreendendo antes dos demais o espaço das mulheres no esporte. Até então �nhamos a Liga Mundial masculina, que pagava 1 milhão de dólares para o campeão, e o Grand Prix, que distribuía para a campeã feminina US$ 350 mil. Já no ano passado, o prêmio do Grand Prix subiu para US$ 600 mil. Com a criação da Liga das Nações, igualamos as premiações. Ao dar a mesma premiação para os dois gêneros, estamos dizendo ao mundo inteiro que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos” — disse o presidente da FIVB. Disponível em: h�ps://globoesporte.globo.com. Acesso em: 9 jun. 2018 (adaptado). A modalidade espor�va apresentada no texto caracteriza-se por ser a) inovadora, ao equiparar a premiação para ambos os sexos. b) obsoleta, ao premiar homens e mulheres de forma desigual. c) reconhecida, ao manter o formato de seus eventos por décadas. d) desgastada, ao não atender a uma demanda do público espectador. e) conservadora, ao resis�r à mudança do formato de seus eventos. IT0430 - (Enem PPL) Foi o caso que um homenzinho, recém-aparecido na cidade, veio à casa do Meu Amigo, por questão de vida e morte, pedir providências. Meu Amigo sendo de vasto saber e pensar, poeta, professor, ex-sargento de cavalaria e delegado de polícia. Por tudo, talvez, costumava afirmar: — “A vida de um ser humano, entre outros seres humanos,é impossível. O que vemos é apenas milagre; salvo melhor raciocínio.” Meu Amigo sendo fatalista. Na data e hora, estava-se em seu fundo de quintal, exercitando ao alvo, com carabinas e revólveres, revezadamente. Meu Amigo, a bom seguro que, no mundo, ninguém, jamais, a�rou quanto ele tão bem — no agudo da pontaria e rapidez em sacar arma; gastava nisso, por dia, caixas de balas. Estava justamente especulando: — “Só quem entendia de tudo eram os gregos. A vida tem poucas possibilidades”. Fatalista como uma louça, o Meu Amigo. Sucedeu nesse comenos que o vieram chamar, que o homenzinho o procurava. ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1967. Os procedimentos de construção conferem originalidade ao es�lo do autor e produzem, no fragmento, efeito de sen�do apoiado na a) reflexão filosófica em torno da brevidade da vida. b) tensão progressiva ante a chegada do estranho. c) nota irônica do perfil intelectual do personagem. d) curiosidade natural despertada pelo anonimato. e) erudição su�l da alusão ao pensamento grego. 35@professorferretto @prof_ferretto IT0431 - (Enem PPL) Reciclagem de hábitos ajuda a enfrentar a crise Todo início de ano as pessoas fazem uma lista de propósitos para serem perseguidos ao longo dos próximos 12 meses. Ao que tudo indica, o próximo ano será um período de extrema dificuldade. Reciclar pode ser uma alterna�va. Esse conceito — por ser muito abrangente — nos propicia uma reflexão. No dia a dia pessoal, dentro de casa, podemos reciclar roupas, sapatos, objetos de uso pessoal etc. Ou seja, ao adotarmos tal a�tude, não gastamos o escasso e suado dinheiro disponível. Vale também minimizar desperdícios. A vantagem dessa “consciência ecológica” acaba por beneficiar o meio ambiente e também o bolso. Reciclar hábitos é muito di�cil. Quantos se lembram de apagar a luz quando deixam um ambiente? E de desligar o chuveiro quando estão se ensaboando? Se estou desempregado ou com pouco dinheiro, não preciso ir à academia (e me endividar ainda mais) para cuidar da saúde. Caminhar pelos parques ou jardins pode ser uma alterna�va. Quantas vezes nos deparamos com pessoas andando — ou correndo — nas ruas? Isso pode ser imitado. Não tem custo algum! E nas finanças pessoais? Disciplina, disciplina. Reduzir o consumo desenfreado, os gastos desnecessários e pesquisar muito antes de comprar o que é realmente essencial: supermercado, farmácia etc. Na verdade, as compras passam por gestão. Se compro roupa nova (necessária), deixo para comprar sapato ou bolsa no mês que vem. Além de evitar o endividamento numa hora de emprego di�cil e renda baixa, o planejamento de gastos torna-se essencial. Quem consegue poupar R$ 10,00 por semana terá R$ 40,00 no final do mês. Ao longo do ano, terá acumulado quase R$ 500. Sem sofrimento. Não foi uma reciclagem de hábito? CALIL, M. Disponível em: h�p://no�cias.uol.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017 (adaptado). Para convencer o leitor de que a reciclagem de hábitos ajuda a enfrentar a crise, o autor desse texto a) sugere o planejamento dos gastos familiares com o acompanhamento de um gestor. b) revela o sofrimento ocasionado pela reciclagem de hábitos já arraigados na sociedade. c) u�liza perguntas retóricas direcionadas a um público leitor engajado em causas ambientais. d) apresenta sua preocupação em relação à dificuldade enfrentada pela indústria da reciclagem. e) faz um paralelo entre os ganhos da reciclagem para o meio ambiente e para as finanças pessoais. IT0434 - (Enem PPL) Domés�cas, de Fernando Meirelles e Nando Olival (2001) Drama de trabalhadoras domés�cas na cidade de São Paulo, mostradas a par�r do co�diano de Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo. Uma quer se casar; a outra é casada, mas sonha com um marido melhor; uma sonha em ser ar�sta de novela e a outra acredita que tem por missão na Terra servir a Deus e à sua patroa. Todas têm sonhos dis�ntos, mas vivem a mesma realidade: trabalhar como empregada domés�ca. Conduzido com humor (e uma trilha musical dos hits populares do Brasil brega dos anos 1970), o filme de Meirelles e Olival retrata o universo par�cular dessa categoria de trabalhadoras domés�cas. É curioso que, em nenhum momento, aparecem patrões ou patroas. A narra�va de Domés�cas se desenvolve segundo a ó�ca con�ngente das classes subalternas, dos de baixo, com seus anseios e sonhos, expecta�vas e frustrações. Não aparecem situações de luta social por direitos, o que sugere que o filme se detém na epiderme da consciência de classe con�ngente, expressando, desse modo, a fragmentação das perspec�vas de vida e trajetórias das domés�cas (quase como um des�no, como observa na palavra final a domés�ca Roxane). Do mesmo modo, ao retratar Zé Pequeno (em Cidade de Deus), Meirelles tratou sua sina de bandido quase como des�no. É baseado na peça de teatro de Renata Melo (2005). Disponível em: www.telacri�ca.org. Acesso em: 25 ago. 2017 (adaptado). A sinopse, para convencer o leitor a assis�r ao filme Domés�cas, lança mão da seguinte estratégia de linguagem: a) Reflexão sobre a língua u�lizada pelas personagens do filme. b) Avaliação posi�va do filme disfarçada de comparação. c) Referência à mídia cinematográfica. d) Descrição de cenas do filme. e) Apelação ao leitor. IT0435 - (Enem PPL) TEXTO I Há uma geração inteira sem conseguir emprego. Grande parte sonha com um concurso público. Não é novidade, mul�dões sempre correram atrás de emprego municipal, estadual ou federal. Espanta é a disposição para trabalhar em qualquer área, fora do que consideravam sua vocação. Em crise, vocação é ter salário. Há quem con�nue na casa dos pais, indefinidamente. Ou quem volte. O problema é que nem sempre dá certo. Mães e pais que têm aposentadoria 36@professorferretto @prof_ferretto ainda asseguram a sobrevivência dos filhos. É uma geração à deriva. CARRASCO, W. Disponível em: h�p://epoca.globo.com. Acesso em: 23 ago. 2017 (adaptado). TEXTO II Ah, a casa da avó! Sinônimo de comidinha gostosa, muita brincadeira, vontades feitas. O imaginário de muita gente traz da infância as melhores lembranças da casa da avó. Mas o que para muitos é apenas um local para brincadeiras e férias, para outros, nos úl�mos tempos, tem sido sinônimo da casa principal, onde os netos moram e são criados. Não só o mercado de trabalho levou as crianças para a casa das avós em tempo integral, mas também a sociedade moderna, com o divórcio e as novas cons�tuições familiares. Com o divórcio, a correria do dia a dia no mercado de trabalho e a própria emancipação da mulher, muitas mães delegaram aos avós a tarefa de criar seus filhos. MAIA, K. Disponível em: www.cnte.org.br. Acesso em: 23 ago. 2017 (adaptado). Esses dois textos têm temá�cas diferentes, na medida em que o Texto I trata da volta dos filhos à casa dos pais, e o Texto II, da permanência dos netos na casa dos avós. Entretanto, eles se aproximam no que diz respeito a) ao aconchego que os filhos e netos encontram nesses lugares. b) ao fator econômico, que é a causa do problema nos dois casos. c) aos problemas de relacionamento que surgem nessas situações. d) ao divórcio, que é apontado como comum nos dias de hoje. e) à independência da mulher, que causa a ausência das mães. IT0439 - (Enem PPL) O lobo que não é mau A primeira coisa a saber é que o guará não é, na verdade, um lobo. Embora seja o maior canídeo silvestre da América do Sul, sua espécie (Chrysocyon brachyurus) é de di�cil classificação. Alguns cien�stas dizem que é parente das raposas, outros, que é parente do cachorro- vinagre sul-americano. Mas, de lobo mesmo, ele não tem nada. Além disso, é um animal onívoro. Porém, em algumas regiões, a sua dieta chega a quase 70% de frutas, especialmente da lobeira, uma árvore �pica das savanas brasileiras, que contribui para a saúde do animal, prevenindo um �po de verminose que ataca os rins do guará. O lobo-guará não é um animal perigoso ao homem. Não existe nenhum registro, em toda a história, de um guará que tenha atacado uma pessoa, mas, ainda assim, são vistoscomo “maléficos”. Por quê? Porque, em ambientes degradados, o lobo, para sobreviver, acaba atacando galinheiros ou comendo aves que são criadas soltas. Com a desculpa de “proteger sua criação”, pessoas com baixo nível de consciência ecológica acabam matando os animais. Se não bastassem a matança e a destruição de ambientes naturais, o lobo-guará ainda apresenta grande índice de morte por atropelamento em estradas. O fato é que o lobo-guará precisa de nós mais do que nunca na história. FERRAREZI JR., C. Revista QShow, n. 20, nov. 2015 (adaptado). Esse texto de divulgação cien�fica u�liza como principal estratégia argumenta�va a: a) sedução, mostrando o lado delicado e afetuoso do animal por meio da negação de seu nome popular. b) comoção, relatando a perseguição que o animal sofre constantemente pelos fazendeiros com baixo grau de instrução. c) intertextualidade, buscando contraponto numa famosa história infan�l, confrontada com dados concretos e fatos históricos. d) chantagem, modificando a verdadeira índole do lobo- guará para proteger as criações de animais domés�cos em áreas degradadas. e) in�midação, explorando os efeitos de sen�do desencadeados pelo uso de palavras como “matança”, “perigoso”, “degradados” e “atacando”. IT0440 - (Enem PPL) Preconceito: do la�m prae, antes, e conceptus, conceito, esse termo pode ser definido como o conjunto de crenças e valores aprendidos, que levam um indivíduo ou um grupo a nutrir opiniões a favor ou contra os membros de determinados grupos, antes de uma efe�va experiência com eles. Tecnicamente, portanto, existe um preconceito posi�vo e um nega�vo, embora, nas relações raciais e étnicas, o termo costume se referir ao aspecto nega�vo de um grupo herdar ou gerar visões hos�s a respeito de um outro, dis�nguível com base em generalizações. Essas generalizações derivam invariavelmente da informação incorreta ou incompleta a respeito do outro grupo. CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000 (adaptado). Nesse verbete de dicionário, a apropriação adequada do uso padrão da língua auxilia no estabelecimento 37@professorferretto @prof_ferretto a) da precisão das informações veiculadas. b) da linguagem conota�va caracterís�ca desse gênero. c) das marcas do interlocutor como uma exigência para a validade das ideias. d) das sequências narra�vas como recurso de progressão textual. e) do processo de contraposição argumenta�va para conseguir a adesão do leitor. IT0441 - (Enem PPL) Nessa conversa por aplica�vo, em que se evidencia uma forma de preconceito, a atendente avaliou a candidata a uma vaga de emprego pelo(a) a) ausência de autocorreção durante um diálogo. b) desleixo com a pontuação adequada durante um bate- papo. c) desprezo pela linguagem u�lizada em entrevistas de emprego. d) descuido com os padrões linguís�cos no contexto de busca por emprego. e) negligência com a correção automá�ca de palavras pelo corretor de textos do celular. IT0442 - (Enem PPL) A busca do “texto oculto” na leitura de no�cias Os meus colegas jornalistas que me perdoem, mas não dá mais para ler uma no�cia de jornal apenas pelo que está publicado. O nosso universo informa�vo ficou muito mais complexo depois do surgimento da avalanche informa�va na internet. Esse fenômeno, inédito na história do jornalismo, está nos obrigando a tomar uma no�cia de jornal apenas como um ponto de par�da para uma análise que, necessariamente, envolve a preocupação em descobrir o contexto do que foi publicado. A no�cia de jornal não é mais a verdade defini�va, mas a porta de entrada numa realidade desconhecida e inevitavelmente complexa, contraditória e diversa. A principal mudança que todos nós teremos que incorporar às nossas ro�nas informa�vas é a necessidade de sermos crí�cos em relação às no�cias que leremos, ouviremos ou assis�remos. A busca de um novo modelo de formatação de no�cias baseado numa cultura da diversificação informa�va está apenas começando. O público passou a ter uma importância estratégica na a�vidade profissional porque os jornalistas necessitam, cada vez mais, dos blogs pessoais, das páginas da web e das postagens em redes sociais como fonte de no�cias. A histórica dependência de fontes governamentais e corpora�vas está rapidamente sendo subs�tuída pela no�cia oriunda de comunidades, grupos sociais organizados e influenciadores digitais. A agenda de no�cias das elites perde espaço para a agenda do público. É essa nova forma de ver a realidade que está na base da necessidade do chamado “texto oculto”, um jargão acadêmico para uma diversificação na nossa nova forma de ler, ouvir e ver no�cias. CASTILHO, C. Disponível em: www.observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 30 out. 2021 (adaptado). Ao problema�zar os modos de ler no�cias e a necessidade de se buscar o chamado “texto oculto”, o texto defende que esse processo implicará 38@professorferretto @prof_ferretto a) adaptação na forma como a imprensa e o jornalismo abordam a informação. b) alteração na prá�ca interacional entre os usuários de redes sociais. c) ampliação da quan�dade de informação disponível na internet. d) demanda por informações fidedignas em fontes oficiais. e) percepção da no�cia como um produto acabado. IT0443 - (Enem PPL) TEXTO I De casa para a escola Saber respeitar limites, esperar, suportar, ter seus desejos frustrados, fazer trocas e planejar é ter educação financeira. E o exemplo vem de casa. Mas as a�tudes dos pais somente serão referências para a educação financeira se eles mesmos usarem o dinheiro de forma consciente, fizerem pesquisa de preço, comprarem à vista, pedirem descontos, �verem controle de suas finanças, souberem o quanto têm e o quanto podem gastar, inves�r e poupar. Portanto, boa parte das razões que levam um adulto a se tornar consumista e a se endividar está na educação que recebe quando criança ou na adolescência. MACEDO, C. Revista Carta Fundamental, n. 37, abr. 2012 (adaptado). TEXTO II Educação financeira para crianças Ensinar para os filhos o valor das coisas é responsabilidade dos pais, mas, se lidar com dinheiro é complicado para adultos, passar esse conhecimento para crianças é uma tarefa bem mais delicada. De acordo com a especialista em educação financeira infan�l Cássia D’Aquino, o momento certo de começar a ensinar a criança a lidar com as finanças é anunciado pela própria, na primeira vez em que pede aos pais para lhe comprarem alguma coisa. Isso costuma acontecer por volta dos dois anos e meio, e, nessa hora, o pequeno mostra que já percebeu o que é dinheiro e que o dinheiro “compra” as coisas que ele pode vir a querer. À medida que os pequenos vão crescendo, os filhos vão convivendo com a forma com que seus pais trabalham com o dinheiro. Para Cássia, a melhor base para uma educação financeira eficiente é aquela transmi�da por meio de a�tudes simples na ro�na do relacionamento entre pais e filhos. Assim que a criança manifestar uma noção básica em relação a dinheiro, os pais já podem, de maneira gradual, adotar uma postura educa�va. Disponível em: h�p://brasil.gov.br. Acesso em: 27 fev. 2013. Sob diferentes perspec�vas, os textos I e II abordam o tema educação financeira. No entanto, em ambos os textos, os autores sustentam a opinião de que a) os modelos familiares impostos na infância e na juventude são espelhos para os filhos. b) o sucesso da educação financeira está ligado à forma como a escola trabalha o tema. c) uma das tarefas mais di�ceis do processo de educação é estabelecer limites. d) a educação imposta pela sociedade subs�tui aquela recebida em casa. e) os filhos devem poupar na infância para inves�rem quando adultos. IT0444 - (Enem PPL) A criança e a lógica Uma menina vê a foto da mãe grávida e ouve a seguinte explicação: “Você estava na minha barriga, filha”. Imediatamente, a criança chega à incrível conclusão: “Mamãe, então você é o lobo mau?”. A par�r dos 2 anos, a criança começa a dominar as palavras, mas sua lógica, que difere da do adulto, surpreendevocê deixa a companheira e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira Segunda-feira chega na repar�ção pede dispensa para ir ao oculista e vai curar sua ressaca simplesmente Você não passa de um falso moralista NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979. As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas a) “falação” e “pros bailes”. b) “você” e “teatro de revista”. c) “perfeito” e “Carnaval”. d) “bebe bem” e “oculista”. e) “curar” e “falso moralista”. IT0299 - (Fuvest) A escrita faz de tal modo parte de nossa civilização que poderia servir de definição dela própria. A história da humanidade se divide em duas imensas eras: antes e a par�r da escrita. Talvez venha o dia de uma terceira era — depois da escrita. Vivemos os séculos da civilização escrita. Todas as nossas sociedades baseiam-se no escrito. A lei escrita subs�tui a lei oral, o contrato escrito subs�tui a convenção verbal, a religião escrita se seguiu à tradição lendária. E sobretudo não existe história que não se funde sobre textos. Charles Higounet. A história da escrita. Adaptado. A escrita poderia servir de definição da nossa civilização, uma vez que a) a terceira era está prestes a acontecer. b) o escrito respalda as a�vidades humanas. c) as convenções verbais subs�tuíram o escrito. d) a oralidade deixou de ser usada em períodos remotos. e) os textos pararam de se modificar a par�r da escrita. IT0033 - (Enem) TEXTO I An�gamente An�gamente, os pirralhos dobravam a língua diante dos pais e se um se esquecia de arear os dentes antes de cair nos braços de Morfeu, era capaz de entrar no couro. Não devia também se esquecer de lavar os pés, sem tugir nem mugir. Nada de bater na cacunda do padrinho, nem de debicar os mais velhos, pois levava tunda. Ainda cedinho, aguava as plantas, ia ao corte e logo voltava aos penates. Não ficava mangando na rua nem escapulia do mestre, mesmo que não entendesse patavina da instrução moral e cívica. O verdadeiro smart calçava bo�na de botões para comparecer todo liró ao copo d’água, se bem que no convescote apenas lambiscasse, para evitar flatos. Os bilontras é que eram um precipício, jogando com pau de dois bicos, pelo que carecia muita cautela e caldo de galinha. O melhor era pôr as barbas de molho diante de um treteiro de topete, depois de fintar e engambelar os coiós, e antes que se pudesse tudo em pratos limpos, ele abria o arco. ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de janeiro: nova Aguilar, 1983 (fragmento). TEXTO II 3@professorferretto @prof_ferretto Na leitura do fragmento do texto An�gamente constata- se, pelo emprego de palavras obsoletas, que itens lexicais outrora produ�vos não mais o são no português brasileiro atual. Esse fenômeno revela que a) a língua portuguesa de an�gamente carecia de termos para se referir a fatos e coisas do co�diano. b) o português brasileiro se cons�tui evitando a ampliação do léxico proveniente do português europeu. c) a heterogeneidade do português leva a uma estabilidade do seu léxico no eixo temporal. d) o português brasileiro apoia-se no léxico inglês para ser reconhecido como língua independente. e) o léxico do português representa uma realidade linguís�ca variável e diversificada. IT0005 - (Enem) Reaprender a ler no�cias Não dá mais para ler um jornal, revista ou assis�r a um telejornal da mesma forma que fazíamos até o surgimento da rede mundial de computadores. O Observatório da Imprensa antecipou isso lá nos idos de 1996 quando cunhou o slogan “Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito”. De fato, hoje já não basta mais ler o que está escrito ou falado para estar bem informado. É preciso conhecer as entrelinhas e saber que não há obje�vidade e nem isenção absolutas, porque cada ser humano vê o mundo de uma forma diferente. Ter um pé atrás passou a ser a regra básica número um de quem passa os olhos por uma primeira página, capa de revista ou chamadas de um no�ciário na TV. Há uma diferença importante entre desconfiar de tudo e procurar ver o maior número possível de lados de um mesmo fato, dado ou evento. Apenas desconfiar não resolve porque se trata de uma a�tude passiva. É claro, tudo começa com a dúvida, mas a par�r dela é necessário ser proa�vo, ou seja, inves�gar, estudar, procurar os elementos ocultos que sempre existem numa no�cia. No começo é um esforço solitário que pode se tornar cole�vo à medida que mais pessoas descobrem sua vulnerabilidade informa�va. Disponível em: www.observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em 30 set. 2015 (adaptado). No texto, os argumentos apresentados permitem inferir que o obje�vo do autor é convencer os leitores a a) buscarem fontes de informação comprome�das com a verdade. b) privilegiarem no�cias veiculadas em jornais de grande circulação. c) adotarem uma postura crí�ca em relação às informações recebidas. d) ques�onarem a prá�ca jornalís�ca anterior ao surgimento da internet. e) valorizarem reportagens redigidas com imparcialidade diante dos fatos. IT0009 - (Enem) Comportamento geral Você deve estampar sempre um ar de alegria E dizer: tudo tem melhorado Você deve rezar pelo bem do patrão E esquecer que está desempregado Você merece Você merece Tudo vai bem, tudo legal Cerveja, samba, e amanhã, seu Zé Se acabarem com teu carnaval Você deve aprender a baixar a cabeça E dizer sempre: muito obrigado São palavras que ainda te deixam dizer Por ser homem bem disciplinado Deve pois só fazer pelo bem da nação Tudo aquilo que for ordenado Pra ganhar um fuscão no juízo final E diploma de bem-comportado 4@professorferretto @prof_ferretto GONZAGUINHA. Luiz Gonzaga Jr. Rio de Janeiro: Odeon. 1973 (fragmento). Pela análise do tema e dos procedimentos argumenta�vos u�lizados na letra da canção composta por Gonzaguinha na década de 1970, infere-se o obje�vo de a) ironizar a incorporação de ideias e a�tudes conformistas. b) convencer o público sobre a importância dos deveres cívicos. c) relacionar o discurso religioso à resolução de problemas sociais. d) ques�onar o valor atribuído pela população às festas populares. e) defender uma postura cole�va indiferente aos valores dominantes. IT0313 - (Fuvest) O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre a) da quebra de expecta�va gerada pela polissemia. b) da ambiguidade causada pela antonímia. c) do contraste provocado pela foné�ca. d) do contraste introduzido pela neologia. e) do estranhamento devido à morfologia. IT0295 - (Fuvest) Leia os seguintes textos de Machado de Assis: I. Suave mari magno* Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de verão, Envenenado morria Um pobre cão. Arfava, espumava e ria, De um riso espúrio e bufão, Ventre e pernas sacudia Na convulsão. Nenhum, nenhum curioso Passava, sem se deter, Silencioso, Junto ao cão que ia morrer, Como se lhe desse gozo Ver padecer. Machado de Assis. Ocidentais. * Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). II. Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII. III. Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido: – Que foi? perguntou ele. – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei? (...) – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angus�ada, convulsa,os pais pelas associações. Para uma psicóloga infan�l, esse raciocínio se explica pelo fato de que a lógica, nos primeiros anos de vida, é primi�va e rígida, não admite que para a mesma questão existam várias possibilidades. Quando a mãe diz que vai chegar em casa à noite, a criança não compreende por que, afinal, a promessa ainda não foi cumprida se já está escuro. Ou se ela já ouviu que as pessoas morrem quando estão velhinhas e de repente acontece de alguém próximo perder a vida ainda jovem, ela pode custar a se conformar. “O importante é falar a verdade e ter paciência. Com o tempo, as crianças percebem que um fato pode ter mais de uma explicação, e vários fatos influenciam uma mesma situação. A lógica vai, assim, aprimorando-se e ficando mais próxima da do adulto entre os 5 e 6 anos”, afirma a especialista. Disponível em: h�p://revistacrescer.globo.com. Acesso em: 15 nov. 2014 (adaptado). O texto cita a opinião de uma psicóloga como estratégia argumenta�va para a) explicar as associações inesperadas das crianças de 2 a 5 anos. b) apresentar dados cien�ficos sobre a falta de lógica na infância. c) gerar efeitos de credibilidade às informações apresentadas. d) jus�ficar a natureza rudimentar do raciocínio infan�l. e) ajudar os adultos na interlocução com as crianças. 39@professorferretto @prof_ferretto IT0447 - (Enem PPL) Tiranos de nós mesmos: a servidão voluntária na era da sociedade do desempenho Byung-Chul Han, no opúsculo Sociedade do cansaço, discute a ascensão de um novo paradigma social, em que a sociedade disciplinar de Foucault é subs�tuída pela sociedade do desempenho. Esse novo modelo social é movido por um impera�vo de maximizar a produção. Nós, sujeitos de desempenho, somos constante e sistema�camente pressionados a aperfeiçoar nossa performance e a aumentar nossa produção. A crença subjacente, segundo Han, é a de que nada é impossível. Nós podemos fazer tudo. Estamos constantemente pressionados por um poder fazer ilimitado. É um excesso de posi�vidade, que se cons�tui em verdadeira violência neuronal. E por isso produzimos. Produzimos até a exaustão. E, mesmo cansados, con�nuamos produzindo. Uma meta é sempre subs�tuída por outra. A tarefa nunca acaba. É frustrante e esgotante. O resultado é uma sociedade que gera fracassados e depressivos, a quem só resta recorrer a medicamentos para con�nuar produzindo mais eficientemente. Disponível em: h�p://jus�ficando.cartacapital.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017 (adaptado). Com base nessa reflexão acerca do livro Sociedade do cansaço, que discute o novo modelo da sociedade do desempenho, o resenhista a a) conceitua, apresenta seus fundamentos e conclui com suas consequências. b) fundamenta com argumentos, apresenta sua conclusão e oferece exemplos. c) descreve, apresenta suas consequências e conclui com sua conceituação. d) exemplifica, apresenta sua fundamentação e avalia seus resultados. e) discute, apresenta seu conceito e promove uma discussão. IT0448 - (Enem PPL) Trechos do discurso de Ulysses Guimarães na promulgação da Cons�tuição em 1988 Senhoras e senhores cons�tuintes. Dois de fevereiro de 1987. Ecoam nesta sala as reivindicações das ruas. A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. São palavras constantes do discurso de posse como presidente da Assembleia Nacional Cons�tuinte. Hoje, 5 de outubro de 1988, no que tange à Cons�tuição, a Nação mudou. A Cons�tuição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos Poderes. Mudou restaurando a federação, mudou quando quer mudar o homem cidadão. E é só cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê e escreve, mora, tem hospital e remédio, lazer quando descansa. A Nação nos mandou executar um serviço. Nós o fizemos com amor, aplicação e sem medo. A Cons�tuição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admi�r a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Quando, após tantos anos de lutas e sacri�cios, promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra. Nós, os legisladores, ampliamos os nossos deveres. Teremos de honrá-los. A Nação repudia a preguiça, a negligência e a inépcia. O povo é o superlegislador habilitado a rejeitar pelo referendo os projetos aprovados pelo Parlamento. Não é a Cons�tuição perfeita, mas será ú�l, pioneira, desbravadora. Termino com as palavras com que comecei esta fala. A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar. A Cons�tuição pretende ser a voz, a letra, a vontade polí�ca da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja o nosso grito. Mudar para vencer. Muda, Brasil. Disponível em: www.senadofederal.br. Acesso em: 30 out. 2021. O discurso de Ulysses Guimarães apresenta caracterís�cas de duas funções da linguagem: ora revela a subje�vidade de quem vive um momento histórico, ora busca informar a população sobre a Carta Magna. Essas duas funções manifestam-se, respec�vamente, nos trechos: a) “São palavras constantes do discurso de posse como presidente da Assembleia Nacional Cons�tuinte.” e “A Cons�tuição pretende ser a voz, a letra, a vontade polí�ca da sociedade rumo à mudança”. b) “Nós o fizemos com amor, aplicação e sem medo.” e “A Cons�tuição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos Poderes”. c) “Quando, após tantos anos de lutas e sacri�cios, promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra.” e “Nós, os legisladores, ampliamos os nossos deveres. Teremos de honrá-los”. d) “O povo é o superlegislador habilitado a rejeitar pelo referendo os projetos aprovados pelo Parlamento.” e “Termino com as palavras com que comecei esta fala”. e) “Não é a Cons�tuição perfeita, mas será ú�l, pioneira, desbravadora.” e “Que a promulgação seja o nosso grito”. 40@professorferretto @prof_ferretto IT0449 - (Enem PPL) A vida deveria nos oferecer um lugarzinho no rodapé da nossa história pessoal para eventuais erratas, como em tese de doutorado. Pelas vezes em que na infância e adolescência a gente foi bobo, foi ingênuo, foi indesculpavelmente român�co, cego e teimoso, devia haver uma errata possível. Como quando a gente acreditou que se fosse bonzinho ganharia aquela bicicleta; que todos os professores eram sábios e justos e todas as autoridades decentes; e quando a gente acreditou que pai e mãe eram imortais ou perfeitos. Devia haver erratas que anulassem bobagens adultas: botei fora aquela oportunidade, não cuidei da minha grana, fui onipotente, perdi quem era tão precioso para mim, escolhi a gostosona em lugar da parceira alegre e terna; fiquei com aquele cara porque com ele seria mais diver�do, mas no fundo eu não o queria como meu amigo e pai dos meus filhos. Profissionalmente não me preparei, não me preveni, não refle�, não entendi nada, tomei as piores decisões. Ah, que bom seria se essas trapalhadas pudessem ser anuladas com uma boa errata! Em geral, não podem. Por todas as vezes que desviamos o olhar lúcido ou recolhemos o dedo denunciador, pagaremos — talvez num futuro não muito distante — um alto preço, durante um tempo incalculavelmente longo. E não haverá erratas. LUFT, L. Errata de pé de página. Veja, n. 28, 18 jul. 2007 (adaptado). No texto, a autora propõe o uso metafórico da errata como recurso para a) assumir uma posição humilde diante da efemeridade da vida. b) evitar decisões equivocadas advindas da inexperiência. c) antecipar as consequências das nossas ações. d) promover um maior amadurecimento intelectual. e) rever a�tudes realizadas no passado. IT0451 - (Enem PPL) As informações con�das no texto dessa campanha têm o obje�vo de a) avaliar as polí�cas públicas para melhorar a qualidade dos serviços prestados ao povo brasileiro. b) apresentar os canais de par�cipação social, como os Conselhos previstos na Cons�tuição Federal de 1988. c) descrever o ciclo e as etapas de organização de uma polí�ca pública como incen�vo à par�cipação social. d) fazer a dis�nção entre as polí�cas de governoe as polí�cas de Estado a fim de incen�var a busca por direitos. e) es�mular a par�cipação da sociedade civil em polí�cas públicas para fortalecer a cidadania e o bem comum. IT0454 - (Enem PPL) Em nenhum outro �po de literatura a fantasia desempenha papel tão importante. Sapos se transformam em príncipes, animais conversam com humanos, mesas se põem sozinhas e contratempos insolúveis se resolvem de um parágrafo para outro. Essa falta de verossimilhança não afasta o leitor. Pelo contrário, juntamente com o anonimato dos príncipes e princesas, que não têm personalidade definida e vivem em terras distantes sem localização exata, ela facilita a iden�ficação com os personagens. O mundo da fantasia abre espaço para que coisas desagradáveis, que não seriam toleradas em outros �pos de história, passem incólumes, como bruxas comedoras de criancinha e anões cruéis que roubam bebês. Boa parte do fascínio dos contos tem origem justamente nesse mundo sombrio. Contos de fadas não cons�tuem sempre histórias agradáveis polvilhadas com açúcar, como a casa de pão de ló de João e Maria. Pelo contrário, as tramas são recheadas de malvadezas que sobrevivem às dezenas de adaptações. Podem passar despercebidas, mas estão lá. Ou é inofensiva a história de uma menina e sua avó que são devoradas vivas por um lobo? Ou é inocente o conto da menina que é sequestrada e obrigada a passar a juventude trancada no alto de uma torre? E o que dizer do bebê condenado à morte no dia do seu ba�zado? 41@professorferretto @prof_ferretto Disponível em: h�ps://super.abril.com.br. Acesso em: 20 jun. 2019 (adaptado). As perguntas ao final do texto estão relacionadas ao argumento segundo o qual contos de fadas a) manifestam aspectos obscuros da condição humana. b) es�mulam a fantasia e a imaginação dos leitores. c) favorecem a iden�ficação com os personagens. d) são inadequados para a maioria das crianças. e) são adaptados aos valores de cada época. IT0456 - (Enem PPL) O sucesso das redes sociais é fruto da combinação inteligente da capacidade de interagir dentro de uma mesma página da internet e do uso de sistemas de avaliação. Existem duas dinâmicas psicossociais legi�mando tais recursos de avaliação. Na primeira, alguém produz conteúdo e é recompensado com essas reações. Já na segunda dinâmica, a produção de conteúdo serve de balão de ensaio para a vida off-line. Prazer e aprendizado são, portanto, as duas promessas originais das redes sociais (anteriores à mone�zação), nas quais os algoritmos de recomendação prometem reduzir o tempo e a energia para encontrar aquilo que interessa a cada um, no mar de opções disponibilizadas, levando a situação a outro patamar, pela exposição reiterada dos usuários aos conteúdos que agravam sua ansiedade. Assim, por exemplo, pessoas que estão insa�sfeitas com o seu corpo fazem buscas que refletem esse desconforto, procurando postagens relacionadas a essa temá�ca. O algoritmo, então, passa a recomendar cada vez mais conteúdos nessa linha e, o que é pior, a convergir para os mais extremos, já que estes tendem a fixar mais a atenção. Em pouco tempo, o usuário “desconfortável” está sendo bombardeado por vídeos que elevam em muito o seu pessimismo e que muitas vezes servem de caminho à anorexia, à bulimia e à depressão. Di DIAS, A. M. Disponível em: www.uol.com.br. Acesso em: 5 nov. 2021 (adaptado). As sociedades têm evoluído concomitantemente ao desenvolvimento de tecnologias que buscam, cada vez mais, automa�zar a gestão das informações. No texto, uma consequência nega�va desse processo é o fato de ele a) ser dirigido por um sistema de recomendações individualizado. b) estar vinculado ao aumento da sa�sfação e da prá�ca dos usuários. c) sobrecarregar o usuário com um fluxo massivo de informações. d) guiar-se pela confluência das interações on-line em busca de avaliações posi�vas. e) focar no engajamento dos usuários em detrimento de suas necessidades concretas. IT0401 - (Enem PPL) TEXTO I Você vai ficar obsoleto Vivemos numa época em que as coisas ficam obsoletas cada vez mais rápido. Produtos e serviços desaparecem subs�tuídos por outros, como também indústrias inteiras, devoradas por formas mais eficientes de trabalho. O comportamento das pessoas também está mudando; hoje aceitamos a inovação muito mais rápido. Você sabia que a eletricidade demorou 46 anos para ser adotada por pelos menos 25% da população norte- americana? Para o telefone foram necessários 35 anos, 31 para o rádio, 26 para a televisão, 16 para o computador, 13 para o celular e apenas 7 para a internet. Dessa forma, tecnologia e empreendedorismo formam uma combinação explosiva que afeta os tradicionais setores econômicos, transformando modelos de negócios inteiros e acelerando o envelhecimento das coisas. Portanto, a chave para lidar com isso nos exige sair constantemente da zona de conforto. Deixar para trás o velho e abrir-se ao novo é despir-se do medo do desconhecido. É deixar-se dominar pelo entusiasmo, pela curiosidade e pela vontade de viver e fazer diferente. SENGER, A. Disponível em: www.cloudcoaching.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021 (adaptado). TEXTO II A ro�na obsoleta Ser do tempo da máquina de escrever não me assusta mais. Já é objeto de museu. De colecionador. Até seu sucessor, o computador de mesa, está com os dias contados. Tão mais prá�co o laptop! Mas também existe o tablet, e quem sabe o que logo mais. É surpreendente a velocidade com que meu co�diano se transforma. Objetos essenciais até um tempinho atrás desapareceram. Inventa-se um disposi�vo, todo mundo tem, e, dali a pouco, ele é trocado por outro, mais avançado. A velocidade da mudança supera as eras anteriores. O próprio papel está perdendo a razão de ser. Documentos on-line são aceitos. Posso assinar um 42@professorferretto @prof_ferretto contrato por e-mail. Houve um tempo em que ter xerox de RG com firma reconhecida era um avanço. Hoje… Quem faz xerox? Imagine, eu sou do tempo em que na escola se faziam apos�las em xerox! Hoje, a gente recebe on-line. Parece estável? Vai sumir. A vida se torna obsoleta a cada segundo. Mas o novo vai surgir. Isso torna a vida fascinante. A realidade é deliciosamente instável. CARRASCO, W. Disponível em: h�ps://veja.abril.com.br. Acesso em: 20 nov. 2021). Os textos I e II abordam a temá�ca da obsolescência e têm em comum a a) expressão de uma latente nostalgia. b) crí�ca à velocidade das inovações tecnológicas. c) percepção de uma constante sensação de inu�lidade. d) opinião desfavorável a mudanças de hábitos e comportamentos. e) perspec�va o�mista diante da impermanência do mundo contemporâneo. IT0402 - (Enem PPL) Nessa postagem dirigida aos seus seguidores de rede social, o autor u�liza uma linguagem a) própria de manifestações poé�cas. b) aplicada em contextos da área despor�va. c) caracterís�ca àquela atribuída a falantes escolarizados. d) empregada por falantes urbanos jovens de determinada região. e) marcada por uma relação de distanciamento entre os interlocutores. IT0403 - (Enem PPL) Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Às vezes, quando a gente erra, ele faz “bip”. Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: “Bip!” “Olha aqui, pessoal: ele errou.” “O burro errou!”. Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. A máquina de escrever podia ter recursos que vocênunca usaria, mas não �nha o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria “bip” em público. VERISSIMO, L. F. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1990. Ao descrever sua relação com a máquina de escrever e o computador, o cronista adota uma perspec�va que a) põe em evidência a disparidade entre tecnologias. b) cri�ca a quan�dade de recursos dos disposi�vos. c) defende a u�lização de equipamentos obsoletos. d) sobrepõe a inteligência humana à da máquina. e) refuta o progresso técnico da comunicação. IT0407 - (Enem PPL) Plantas superpoderosas A bióloga Joanne Chory já �nha 60 anos e um diagnós�co de Parkinson quando decidiu se dedicar a um projeto que capturasse gás carbônico da atmosfera — coisa que as plantas fazem regularmente há 2,8 bilhões de anos. Para isso, a pesquisadora começou a estudar algumas espécies e alterá-las por meio de técnicas de hor�cultura e manipulação gené�ca. A ideia é que capturem mais carbono e o armazenem em suas raízes. Uma dessas plantas, um �po de mostarda, já cresce no delta do rio Mississipi. Caso funcione, a pesquisa tem potencial para diminuir em 46% o excesso de CO2 jogado anualmente na atmosfera. “Provavelmente não estarei aqui para ver os resultados. Mas prefiro ser parte da solução a me sentar e reclamar”, diz Joanne. Que as superplantas criadas pela bióloga vinguem e vicejem! CARNEIRO, F. Disponível em: h�ps://veja.abril.com.br. Acesso em: 23 out. 2021 (adaptado). Esse texto descreve a pesquisa inovadora realizada por uma bióloga de 60 anos com diagnós�co de Parkinson. O trecho que permite uma referência indireta a essa condição �sica é 43@professorferretto @prof_ferretto a) “decidiu se dedicar a um projeto que capturasse gás carbônico”. b) “a pesquisadora começou a estudar algumas espécies”. c) “Caso funcione, a pesquisa tem potencial para diminuir em 46% o excesso de CO2”. d) “‘Provavelmente não estarei aqui para ver os resultados’”. e) “Que as superplantas criadas pela bióloga vinguem e vicejem!”. IT0408 - (Enem PPL) Terça-feira, 30 de maio de 1893. Eu gosto muito de todas as festas de Diaman�na; mas quando são na igreja do Rosário, que é quase pegada à chácara de vovó, eu gosto ainda mais. Até parece que a festa é nossa. E este ano foi mesmo. Foi sorteada para rainha do Rosário uma ex-escrava de vovó chamada Júlia e para rei um negro muito entusiasmado que eu não conhecia. Coitada de Júlia! Ela vinha há muito tempo ajuntando dinheiro para comprar um rancho. Gastou tudo na festa e ainda ficou devendo. Agora é que eu vi como fica caro para os pobres dos negros serem reis por um dia. Júlia com o ves�do e a coroa já gastou muito. Além disso, teve de dar um jantar para a corte toda. A rainha tem uma caudatária que vai atrás segurando na capa que tem uma grande cauda. Esta também é negra da chácara e ajudou no jantar. Eu acho graça é no entusiasmo dos pretos neste reinado tão curto. Ninguém rejeita o cargo, mesmo sabendo a despesa que dá. MORLEY, H. Minha vida de menina. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. O trecho apresenta marcas textuais que jus�ficam o emprego da linguagem coloquial. O tom informal do discurso se deve ao fato de que se trata de um (a) a) narra�va regionalista, que procura reproduzir as caracterís�cas mais �picas da região, como as falas dos personagens e o contexto social a que pertencem. b) carta pessoal, escrita pela autora e endereçada a um des�natário específico, com o qual ela tem in�midade suficiente para suprimir as formalidades da correspondência oficial. c) registro no diário da autora, conforme indicam a data, o emprego da primeira pessoa, a expressão de reflexões pessoais e a ausência de uma intenção literária explícita na escrita. d) narra�va de memórias, na qual a grande distância temporal entre o momento da escrita e o fato narrado impõe o tom informal, pois a autora tem dificuldade de se lembrar com exa�dão dos acontecimentos narrados. e) narra�va oral, em que a autora deve escrever como se es�vesse falando para um interlocutor, isto é, sem se preocupar com a norma-padrão da língua portuguesa e com referências exatas aos acontecimentos mencionados. IT0409 - (Enem PPL) Nesse cartum, a predominância da função poé�ca da linguagem manifesta-se na a) ênfase dada à dificuldade de compreensão de um atlas. b) ar�culação entre a expressão verbal e as imagens representadas. c) singularidade da percepção da autora sobre a área de geografia. d) construção de uma representação cartográfica diferente. e) forma de organização das informações do mapa- múndi. IT0410 - (Enem PPL) Uma marca de eletrodomés�cos que retornou para o mercado brasileiro posicionou painéis em pontos estratégicos da cidade de São Paulo com frases que trazem histórias reais de mulheres que desafiaram padrões e estereó�pos, com a premissa de trazer uma reflexão sobre o Dia da Igualdade Feminina. 44@professorferretto @prof_ferretto Cada uma das 9 frases traz um contraponto ins�gante e atualiza uma nova ideia em sintonia com o ambiente, dialogando com a cidade, como “O cara que inventou a cerveja foi uma mulher”, perto de bares, e “O melhor ar�lheiro da seleção é uma mulher nordes�na”, em frente a estádios de futebol. Frases como “O pai do wi-fi foi uma mulher, atriz e refugiada”; “O gênio por trás do GPS foi uma mulher negra”; “O arquiteto que projetou o MASP foi uma mulher imigrante”; “O ator que mais vezes venceu o Oscar foi uma mulher”; “O cien�sta precursor da energia limpa foi uma mulher”; “O primeiro piloto de testes da história foi uma mulher” e “O autor do primeiro romance do mundo foi uma mulher japonesa” estavam presentes em 15 pontos da cidade de São Paulo. ALVES, S. Disponível em: www.b9.com.br. Acesso em: 5 nov. 2021 (adaptado). Ao provocar a reflexão sobre o Dia da Igualdade Feminina, a campanha descrita nesse texto fundamenta- se no(a) a) oposição proposital entre as referências de gênero presentes nas frases. b) relação entre os dizeres do painel e o local estratégico de instalação. c) alusão a grandes feitos cien�ficos que são amplamente conhecidos. d) padrão das frases que favorece a assimilação da mensagem. e) apresentação de temá�cas muito presentes no dia a dia. IT0411 - (Enem PPL) A palavra saudade faz parte do vocabulário co�diano dos portugueses e, também, do povo brasileiro. Mas afinal, qual é a sua verdadeira origem? Existem algumas especulações sobre a origem de saudade. Há quem defenda que a palavra vem do árabe saudah. Outros entendem que a sua origem vem do la�m sólitas, que significa solidão. Alguns especialistas indicam que palavras como saud, saudá e suaida significam “sangue pisado” e “preto dentro do coração”. A metáfora perfeita para alguém que carrega no seu coração uma profunda tristeza, tristeza esta que pode ser causada pela saudade. Os árabes u�lizam o termo as-saudá quando querem se referir a uma doença do �gado, diagnos�cada por eles como “melancolia do paciente”. Em certos idiomas, o significado de solitate foi man�do, como é o caso do castelhano (soledad), do italiano (solitudine) ou do francês (solitude). Em português e no galego (soidade), alterou-se com o tempo. Assim sendo, quando alguém dizia “tenho saudades de casa” significava que sen�a “solidão” por não estar em casa. De qualquer forma, os portugueses foram atribuindo outros significados a saudade. Dizem até que passou a fazer parte do dicionário dos portugueses no tempo dos Descobrimentos Marí�mos. Saudade definia a solidão que os portugueses �nham da sua terra, familiares e amigos, quando estes par�am para o Brasil. Disponível em: www.natgeo.pt. Acesso em: 24 nov. 2021 (adaptado). Esse texto, que trata da acepção da palavra “saudade” em vários idiomas, tem como obje�vo a) ques�onar sua evolução histórica. b) especular sobre suas origens e�mológicas. c) explicar seu processo de dicionarização. d) problema�zar seus diferentes sen�dos na sociedade. e) defender a tese acerca de sua origemdesconhecida. IT0415 - (Enem PPL) TEXTO I A nova opinião pública e as redes digitais Todas as vezes que os injus�çados do mundo ganham espaço nas telinhas dos gadgets de úl�ma geração e nas correntes caudalosas de e-mails, e o barulho digital é tanto que chega até aos veículos de comunicação tradicionais, muita gente destaca as boas qualidades do que chamam de uma nova opinião pública. É di�cil não nos confrontarmos com as novas formas que a sociedade u�liza para se inteirar, integrar-se, persuadir, manipular, controlar, aprender, fazer-se ver e ser vista, conversar e fofocar. Isso porque, o tempo todo, as mul�dões estão opinando, capturando imagens em quan�dade descomunal e disponibilizando-as facilmente para audiências abrangentes. Essa produção midiá�ca da mul�dão, muitas vezes formatada sem preocupações técnicas, é�cas e esté�cas, com certeza não contribui para a consolidação de uma conversação democrá�ca, que respeite a alteridade, dê tempo ao contraditório e à comunicação. Essa nova opinião pública é rápida em linchamentos simbólicos e em expressar preconceitos em mensagens rapidinhas, de 140 caracteres. AMADEU, S. Disponível em: www.sescsp.org.br. Acesso em: 26 nov. 2021 (adaptado). TEXTO II Uma nova opinião pública. Será? A internet inverteu o ecossistema comunicacional. O di�cil não é falar. Agora, o grande problema é ser ouvido. Todavia, quando alguém fala algo que todos queriam ouvir, uma onda imediatamente se forma no oceano 45@professorferretto @prof_ferretto informacional e pode gerar ações concretas nas ruas, nos mercados, nas bolsas de valores. A rede é um ar�culador cole�vo de diversas causas. Não podemos ter a ilusão de que somente ideias democra�zantes e ligadas à nobre causa da defesa ambiental é que geram adeptos. Uma análise mais aprofundada das ações e do a�vismo em rede permite observar que cada vez mais se formam redes de opinião dis�ntas e muitas vezes opostas. Por fim, também é preciso notar que a internet é uma rede de arquitetura distribuída. Por isso, sua natureza é mais propícia às ações democra�zadoras, livres e favoráveis ao compar�lhamento do que às posturas que visam simplesmente à dominação, ao controle autoritário e ao impedimento da troca de arquivos digitais. NASSAR, P. Disponível em: www.sescsp.org.br. Acesso em: 26 nov. 2021 (adaptado). Com relação à produção da opinião pública na contemporaneidade, os textos I e II divergem sobre o(a) a) compreensão da internet como espaço de construção democrá�ca. b) uso mal-intencionado das tecnologias de informação e comunicação. c) entendimento da internet como meio de exposição de pensamentos. d) impacto das postagens nas redes de defensores de causas minoritárias. e) falta de curadoria dos conteúdos disponíveis nos ambientes virtuais. IT0421 - (Enem PPL) Rebeca Andrade superou a si mesma, fazendo história. Aos 22 anos, entrou para o Olimpo da ginás�ca mundial, ostentando a medalha de prata no individual geral feminino e subindo ao topo do pódio olímpico na prova de salto. Sua caminhada começou graças a uma �a que viu seu talento e a apresentou à técnica de ginás�ca da cidade. Não demorou para que ganhasse o apelido de “Daiane dos Santos 2”. A atleta dá sequência a um legado iniciado por ginastas como Daniele Hypólito e Daiane dos Santos, respec�vamente, primeira medalhista e primeira campeã em campeonatos mundiais. Rebeca tornou-se a primeira medalhista e campeã olímpica do Brasil na modalidade. Daiane afirmou que admira a jovem atleta, cuja vitória é permeada por simbolismos importantes. “Durante muito tempo disseram que as pessoas negras não podiam fazer alguns esportes, e a gente vê hoje a primeira medalha, de uma menina negra. Tem uma representa�vidade muito grande atrás de tudo isso”, falou. A ginasta Nádia Comaneci, dona da primeira nota 10 na ginás�ca, parabenizou a brasileira em suas redes. Disponível em: h�ps://brasil.elpais.com. Acesso em: 10 nov. 2021 (adaptado). A relevância social da conquista de Rebeca Andrade na ginás�ca se traduz no(a) a) con�nuidade de um legado iniciado por outras atletas. b) reconhecimento por atletas ícones da modalidade. c) ingresso no esporte por intermédio da família. d) visibilidade étnico-racial no esporte. e) medalha de ouro na modalidade. IT0463 - (Enem PPL) Estresse é um termo que se vulgarizou nos úl�mos tempos. Queixa-se de estresse o homem que chega em casa depois de um dia de muito trabalho, de trânsito pesado e das filas do banco. Queixa-se a mulher que enfrentou uma maratona de a�vidades domés�cas, profissionais e com os filhos. À noite, terminado o jantar, com as crianças recolhidas, os dois mal têm forças para trocar de roupa e cair na cama. A palavra estresse não cabe nesse contexto. O que eles sentem é cansaço, estão exaustos e uma noite de sono é um santo remédio para recompor as energias e revigorá-los para as tarefas do dia seguinte. A palavra estresse, na verdade, caracteriza um mecanismo fisiológico do organismo sem o qual nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso antepassado das cavernas não reagisse imediatamente, ao se deparar com uma fera faminta, não teria deixado descendentes. Nós exis�mos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que, diante do perigo, enfrentassem a fera ou fugissem. Disponível em: h�p://drauziovarella.com.br. Acesso em: 2 jun. 2015. Ao lançar mão do mecanismo de comparação, o autor do texto conduz os leitores a a) minimizarem os receios contra o estresse. b) evitarem situações que causem estresse. c) dis�nguirem os vários sintomas do estresse. d) saberem da existência dos �pos de estresse. e) compreenderem o significado do termo estresse. IT0464 - (Enem PPL) Sou leitor da revista e, acompanhando a entrevista da juíza Kenarik Bouijikian, observo que há uma informação passível de contestação histórica. Na página 14, a meri�ssima cita que “�vemos uma lei que proibia a entrada de africanos escravizados no Brasil (Lei Eusébio 46@professorferretto @prof_ferretto de Queirós), e sabemos que mais de 500 mil entraram no país mesmo após a promulgação da lei”. Sou professor de História e, apesar de, após a Lei Eusébio de Queirós, de 1850, africanos escravizados terem entrado clandes�namente no país, o número me parece exagerado. É possível que meio milhão de africanos tenham entrado ilegalmente após uma lei an�tráfico de 1831, a Lei Feijó, que exatamente por seu não cumprimento passou a ser no anedotário jurídico chamada de “lei para inglês ver”. Como a afirmação está entre parênteses, me parece ter sido uma nota equivocada do entrevistador, e não da juíza entrevistada. De toda sorte, há a ilegalidade do trânsito de escravizados para o Brasil apesar da existência de uma lei restri�va. J. C. C. Cult, n. 229, nov. 2017 (adaptado) A função social da carta do leitor está contemplada nesse texto porque, em relação a uma publicação em edição anterior de uma revista, ele apresenta um(a) a) posicionamento relacionado a uma informação con�da em uma entrevista. b) relato de acontecimentos históricos norteadores de uma entrevista. c) sistema�zação de dados apresentados em uma entrevista. d) descrição de uma entrevista. e) síntese de uma entrevista. IT0468 - (Enem PPL) TEXTO I Para que seja caracterizada como bullying, e não como uma agressão ocasional, a ação pra�cada e sofrida pela ví�ma deve responder a alguns critérios: a agressividade (�sica, verbal, social) e a intencionalidade do ato, ou seja, o desejo de causar dor e constrangimento; a frequência da agressão, uma vez que o bullying é um ato repe��vo; e a desigualdade na relação de poder, manifestada pela diferença de força �sica ou social entre o agressor e a ví�ma. ABDALLA, S. Bullying na escola: uma ameaça que não é brincadeira. Disponível em: www.gazetadopovo.com.br. Acesso em: 9 ago. 2017 (adaptado). De acordo com as caracterís�cas apresentadas nos textos, depreende-se que o bullying nasaulas de educação �sica escolar tem sido resultante das a) a�tudes constantes de desrespeito à diversidade nas prá�cas corporais. b) lesões provocadas durante jogos de contato por estudantes agressivos. c) disputas entre os alunos para ocuparem posições de destaque nas equipes. d) assimetria entre meninos e meninas durante a vivência das a�vidades propostas. e) prá�cas de inclusão de alunos com menos habilidade motora nos jogos cole�vos. IT0472 - (Enem PPL) Letramento entra em cena Houve uma significa�va mudança conceitual com a entrada em cena da ideia de letramento ou níveis de alfabe�smo, a par�r da década de 1980. Trocando em miúdos, deixou-se de lado a divisão entre indivíduos alfabe�zados (capacitados para codificar e decodificar os elementos linguís�cos) e analfabetos. O letramento implica associar escrita e leitura a prá�cas sociais que tenham sen�do para aqueles que as u�lizam, além de pressupor níveis de domínio das prá�cas que exigem essas habilidades. BARROS, R. Disponível em: h�p://revistaeducacao.uol.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado). A ideia de letramento compreende a alfabe�zação de forma processual. Pela leitura e análise do texto, para que o cidadão entre efe�vamente no mundo da escrita, a escola deve dar condições a ele de 47@professorferretto @prof_ferretto a) dar sen�do ao que é lido. b) decodificar as palavras. c) expressar-se oralmente. d) assinar o próprio nome. e) soletrar as palavras. IT0473 - (Enem PPL) Na tarefa diária de fazer jornalismo, bons �tulos que apresentem de maneira clara o conteúdo da matéria são uma arte. Um leitor tem apontado, insistentemente, ao longo deste ano, �tulos com sen�do ambíguo em O Povo. No dia 8 de agosto, na editoria Brasil, o �tulo destacava: “Jus�ça suspende processo por homicídio de acidente em Mariana”. Mais uma vez, ele apontou: “Do jeito como está escrito, ficou a dúvida: o acidente de Mariana cometeu ou sofreu o homicídio? Matou ou morreu?”. O leitor ainda deu a sugestão de como poderia ser: “Poderia ter sido assim: Suspenso o processo por homicídio resultante do acidente em Mariana”. Entendo que a insistência do leitor em apontar ambiguidades nos �tulos é uma maneira de cobrar mais atenção com eles. É nossa obrigação, como jornalistas, oferecer �tulos precisos e coerentes, mesmo que o espaço para escrevê- los seja delimitado por colunas e caracteres. Disponível em: www.opovo.com.br. Acesso em: 10 dez. 2017 (adaptado). Esse texto é de uma coluna de jornal escrita por um ombudsman, profissional que, de maneira independente, cri�ca o material publicado e responde às queixas dos leitores. Quais trechos do texto ra�ficam o papel desse profissional? a) “Do jeito como está escrito, ficou a dúvida” e “No dia 8 de agosto, na editoria Brasil”. b) “Entendo que a insistência” e “É nossa obrigação, como jornalistas”. c) “Na tarefa diária de fazer jornalismo” e “Suspenso o processo por homicídio”. d) “O leitor ainda deu a sugestão” e “apontar ambiguidades nos �tulos”. e) “o acidente de Mariana cometeu ou sofreu o homicídio?” e “Matou ou morreu?”. IT0474 - (Enem PPL) Não cobra assinatura. Não cobra para fazer o download. Não tem anúncios. Não tem compras dentro do aplica�vo. Mas, então, como o WhatsApp ganha dinheiro? Ou melhor, que �po de magia fez o Facebook decidir comprar o app por R$ 19 bilhões, em 2014? Quando fundado em 2009, o WhatsApp cobrava US$ 1 por instalação em alguns países. Em outros, a empresa cobrava US$ 1 por ano como forma simbólica de assinatura. E, em alguns outros, o app era completamente gratuito, caso do Brasil. Em agosto de 2014, ano da compra pelo Facebook, cerca de 600 milhões de pessoas usavam o aplica�vo de mensagens. Até setembro do mesmo ano, os relatórios financeiros do Facebook apontavam que o faturamento da empresa não ultrapassava a casa do US$ 1,3 milhão, menos de um centésimo do valor da compra. Se você pensou “então o WhatsApp não dá dinheiro”, isso faz algum sen�do. O que levou o Facebook a gastar tanto, então? Especialistas apontam o “big data” — campo da tecnologia que lida com grandes volumes de dados digitais — como impulsionador da compra. Com mais informações, a empresa pode analisar melhor o comportamento dos usuários. Em agosto de 2016, o WhatsApp começou a compar�lhar dados com o Facebook. O obje�vo? Fomentar relações entre as bases de Facebook, WhatsApp e Instagram — sugerir amizades em uma rede com base em contatos da outra, por exemplo — mas, principalmente, o�mizar a recomendação de publicidade. Afinal, é aí que está o maior volume de faturamento do Facebook atualmente. Disponível em: h�ps://no�cias.uol.com.br. Acesso em: 4 jun. 2019 (adaptado). As estratégias descritas no texto para a obtenção de lucro de forma indireta fundamentam-se no(a) a) reconhecimento da mudança de comportamento dos usuários. b) necessidade de monopolizar o mercado de redes sociais. c) importância de arriscar na compra de concorrentes. d) valor das informações no mundo contemporâneo. e) impacto social de oferecer soluções gratuitas. IT0484 - (Enem PPL) Os números preocupantes sobre a saúde do brasileiro indicam que alguns hábitos alimentares favoreceram o crescimento da incidência dos índices de sobrepeso e obesidade e, paralelamente, de doenças como diabetes e hipertensão arterial. Isso sinaliza que o Brasil precisa reforçar suas polí�cas públicas para a conscien�zação sobre alimentação adequada. Entre as diversas ações em curso, merece destaque a questão da rotulagem dos produtos industrializados. O “modelo semafórico nutricional”, que indica as quan�dades de ingredientes como açúcar, gorduras e sal na parte frontal da embalagem, de acordo com recomendações de consumo diário adotadas em alguns países da Europa e EUA, ou das “figuras geométricas” na 48@professorferretto @prof_ferretto cor preta com inscrições como “alto em açúcar” ou “alto em gordura saturada”, adotado no Chile, são algumas das alterna�vas. Esse seria, segundo alguns representantes do setor, o modelo mais eficiente na transmissão da mensagem ao consumidor. Mas cabe a pergunta: mais eficiente em informar ou em aterrorizar? Disponível em: www.gazetadopovo.com.br. Acesso em: 11 dez. 2017. Apoiando-se na premissa de que alguns dados con�dos nas embalagens dos alimentos podem influenciar hábitos alimentares, esse texto faz uma crí�ca a quê? a) À forma de organizar as informações nos rótulos dos produtos. b) Às prá�cas de consumo e sua relação com a saúde alimentar do brasileiro. c) À relação entre os índices de sobrepeso e determinadas epidemias. d) Às polí�cas públicas de saúde adotadas por países estrangeiros. e) Ao desconhecimento da população sobre a composição dos alimentos. IT0487 - (Enem PPL) Espaço e memória O termo “Na minha casa...” é uma metáfora que guarda múl�plas acepções para o conjunto de pessoas, de adeptos, dos que creem nos orixás. Múl�plos deuses que a diáspora negra trouxe para o Brasil. Refere-se ao espaço onde as comunidades edificaram seus templos, referência de orgulho, aludindo ao patrimônio cultural de matriz africana, reelaborado em novo território. O espaço é fundamental na cons�tuição da história de um povo. Halbwachs (1941, p. 85), ao afirmar que “não há memória cole�va que não se desenvolva em um quadro espacial”, aponta para a importância de aspecto tão significa�vo no desenvolvimento da vida social. Lugar para onde está voltada a memória, onde aqueles que viveram a condição-limite de escravo podiam pensar-se como seres humanos, exercer essa humanidade e encontrar os elementos que lhes conferiam e garan�am uma iden�dade religiosa diferenciada, com caracterís�cas próprias, que cons�tuiu um “patrimônio simbólico do negro brasileiro (a memória cultural da África), afirmou-se aqui como território polí�co-mí�co-religioso para sua transmissão e preservação” (SODRÉ, 1988, p. 50). BARROS, J. F. P. Na minha casa. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. Na construção desse texto acadêmico, o autor se vale de estratégia argumenta�va bastante comum a esse gênero textual,a intertextualidade, cujas marcas são a) aspas, que representam o ques�onamento parcial de um ponto de vista. b) citações de autores consagrados, que garantem a autoridade do argumento. c) construções sintá�cas, que privilegiam a coordenação temporal de argumentos. d) comparações entre dois pontos de vista, que são antagônicos. e) parênteses, que representam uma digressão para as considerações do autor. IT0488 - (Enem PPL) Par�ndo a pé do Museu Mineiro pelo trajeto mais curto até a próxima atração com tradução em Libras, serviço de alimentação e venda de livros, o leitor do mapa passará em frente ao(à) a) Escola de Design. b) Academia Mineira de Letras. c) Museu das Minas e do Metal. d) Espaço do Conhecimento UFMG. e) Casa do Patrimônio Cultural de Minas Gerais. IT0490 - (Enem PPL) 49@professorferretto @prof_ferretto Considerando-se os contextos de uso de “Todas chora”, essa expressão é um exemplo de variante linguís�ca a) �pica de pessoas despreocupadas em seguir as regras de escrita. b) usada como recurso para atrair a atenção de interlocutores e consumidores. c) transposta de situações de interação �picas de ambientes rurais do interior do Brasil. d) incompa�vel com ambientes frequentados por usuários da norma-padrão da língua. e) condenável em produtos voltados para uma clientela exigente e interessada em novidades. IT0491 - (Enem PPL) A verdade sobre o envelhecimento das populações Tem se tornado popular produzir grandes projeções de redução de prosperidade baseada no envelhecimento demográfico. Mas será que isso é realmente um problema? A média de idade nos Estados Unidos é atualmente de 36 anos. Na E�ópia, a média é de 18 anos. O país com maior número de idosos é a Alemanha, onde a média de idade é de 45 anos. Países em que a população mais jovem domina são mais pobres, e aqueles com a população dominante mais idosa são mais ricos. Então por que temer o envelhecimento da população? Existem pelo menos duas razões. A primeira é psicológica: em analogia ao envelhecimento das pessoas, sugere que, à medida que as populações envelhecem, tornam-se mais fracas e perdem acuidade mental. A segunda decorre dos economistas e de um indicador conhecido como razão de dependência, que pressupõe que todos os adultos com menos de 65 anos contribuem para a sociedade, e todos com mais de 65 anos são um peso. E a proporção de pessoas com mais de 65 anos tende a aumentar. LUTZ, W. Azul Magazine, ago. 2017 (adaptado). A ar�culação entre as informações do texto leva à compreensão de que ele propõe um(a) a) levantamento das causas do envelhecimento das populações. b) análise dos dados demográficos de diferentes países do mundo. c) comparação entre a idade da população economicamente a�va no mundo. d) ques�onamento sobre o impacto nega�vo do envelhecimento da população. e) alerta aos economistas sobre as contribuições da população abaixo dos 65 anos. IT0493 - (Enem PPL) Autobiografia de José Saramago Nasci numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação situada na província do Ribatejo, na margem direita do Rio Almonda, a uns cem quilômetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o funcionário do Registro Civil, por sua própria inicia�va, não lhe �vesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres.) Só aos sete anos, quando �ve de apresentar na escola primária um documento de iden�ficação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de Sousa Saramago... Não foi este, porém, o único problema de iden�dade com que fui fadado no berço. Embora �vesse vindo ao mundo no dia 16 de novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no prazo legal. Disponível em: www.josesaramago.org. Acesso em: 7 dez. 2017 (adaptado). No texto, o autor discute o poder que os documentos oficiais exercem sobre a vida das pessoas. Qual fato torna isso evidente? a) A sua entrada na escola aos sete anos de idade. b) A alusão a uma planta no nome da família. c) O problema de iden�dade originado desde o berço. d) A isenção da multa por falta de declaração do nascimento. e) O seu nascimento em uma aldeia de camponeses. IT0494 - (Enem PPL) Brasil tem quase 3 mil lixões ou aterros irregulares, diz levantamento Apesar da lei que acabou com lixões, vazadouros funcionam normalmente. O Brasil ainda despeja 30 milhões de toneladas de lixo por ano, de forma inadequada, expondo os cidadãos ao risco de doenças. E isso, apesar da lei que determinou o fim dos lixões. Corta, descasca, abre a embalagem, joga fora os restos, espreme, corta mais, descasca mais, abre outra embalagem. Quantas vezes essas cenas se repetem por dia em milhões de lares brasileiros? Disponível em: h�p://g1.globo.com. Acesso em: 11 dez. 2017. 50@professorferretto @prof_ferretto O recurso linguís�co que interrompe o fluxo argumenta�vo para incluir o leitor na problemá�ca do texto é a a) apresentação de dados esta�s�cos imprecisos sobre os lixões. b) descrição de ambientes destruídos pelos descartes incorretos. c) enumeração de a�vidades ilustra�vas de ações co�dianas. d) discussão das leis sobre a redução dos lixões nas cidades. e) explicitação dos riscos de doenças via contaminação. IT0499 - (Enem PPL) Os smartphones estão sugando a sua produ�vidade. Você abriria mão deles? Telefones inteligentes drenam nossa atenção mesmo quando desligados. E isso não é nada bom para a sua carreira. Pesquisadores e empresas tentam achar uma solução para o problema. Funcionários estão distraídos com seus smartphones, browsers web, aplica�vos de mensagem, sites de compras e muitas redes sociais. Os trabalhadores distraídos são improdu�vos. Uma pesquisa da CareerBuilder descobriu que os gerentes de contratação acreditam que os funcionários são extremamente improdu�vos e mais da metade desses gerentes acreditam que os smartphones são culpados. Alguns empregadores disseram que os smartphones degradam a qualidade do trabalho, diminuem a moral, interferem no relacionamento entre chefe e empregado e fazem com que os funcionários percam os prazos. (Os funcionários entrevistados discordaram e apenas 10% disseram que os telefones prejudicam a produ�vidade durante o horário de trabalho.) A única solução é uma combinação entre treinamento, educação e melhor gerenciamento. Os departamentos de RH devem procurar um problema maior: a distração extrema do smartphone pode significar que os funcionários estão completamente desa�vados do trabalho. Os mo�vos para isso devem ser iden�ficados e abordados. A pior “solução” é a negação. ELGAN, M. Disponível em: h�p://idgnow.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017 (adaptado). Ao expor um problema contemporâneo do mercado de trabalho e apontar uma solução, o texto evidencia a a) relação entre as carreiras e as tecnologias de informação e comunicação. b) discordância entre empregadores e funcionários no que diz respeito à produção. c) nega�vidade do impacto das tecnologias de informação e comunicação no mercado de trabalho. d) desvinculação entre o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação e a produ�vidade no trabalho. e) necessidade de uma compreensão ampla e cuidadosa do impacto das tecnologias de informação e comunicação no mercado de trabalho. IT0503 - (Enem PPL) Entre as tenta�vas de encontrar o melhor ângulo para re�rar o terneiro, meu irmão, o guri e seu pai tentavam convencer Jaqueline de que a morte da vaca não seria uma grande perda: “não é a mesma coisa que perder um pai, um avô, que a gente lembra para o resto da vida, fica lá no cemitério”, “bicho é bicho”. Jefferson, o guri, repe�a tudo que o pai dizia, mas já afastado,pois havia sido corrido pela mãe. Jaqueline repete: “pra mim não tem diferença! Os bichos estão tudo na volta. Eles sabem quando eu chego, me conhecem, sabem o meu cheiro. Sou eu que dou comida. Não tem diferença nenhuma!”. O pai tenta concordar sem afrontar os caras, dizendo que as pessoas desenvolvem valor de es�ma pelos animais. KOSBY, M. F. Mugido (ou diário de uma doula). Rio de Janeiro: Garupa, 2017. No fragmento, as reações à perda de um animal refletem concepções fortalecidas pela a) sensibilidade adquirida com a lida no campo. b) banalização da morte em função de sua recorrência. c) expecta�va do sofrimento na visão do des�no humano. d) certeza da efemeridade da vida como fator de pessimismo. e) empa�a gerada pela interseção entre o homem e seu ambiente. IT0506 - (Enem PPL) Álvaro, me adiciona “Nunca conheci quem �vesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.” Espanta que Álvaro de Campos tenha dito isso antes do advento das redes sociais. O heterônimo parece estar falando da minha �meline: “Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?”. 51@professorferretto @prof_ferretto Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag(gabar-se), seria algo como a gabação modesta. Em vez de simplesmente gabar-se: “Ganhei um prêmio de melhor ator no Fes�val de Gramado”, você diz: “O Fes�val de Gramado está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator.” Atenção: se todo post é vaidoso, toda coluna também. Percebam o uso de palavras em inglês, a citação a Fernando Pessoa. Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o máximo. “Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa terra?”. Não, Álvaro. Me adiciona. DUVIVIER, G. Caviar é uma ova. São Paulo: Cia. das Letras, 2016 (adaptado). O texto traz uma crí�ca ao uso que as pessoas fazem da linguagem nas redes sociais. Qual passagem exemplifica linguis�camente essa crí�ca? a) “‘Nunca conheci quem �vesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo’.” b) “O heterônimo parece estar falando da minha �meline: ‘Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?’”. c) “Humblebrag é uma palavra que faz falta em português. Composta pela junção das palavras humble (humilde) e brag(gabar-se), seria algo como a gabação modesta.” d) “‘O Fes�val de Gramado está muito decadente. Para vocês terem uma ideia, me deram um prêmio de melhor ator’.” e) “Tudo o que eu mais quero é que vocês me achem o máximo. ‘Então sou só eu que sou vil e errôneo nessa terra?’. Não, Álvaro. Me adiciona.” IT0509 - (Enem PPL) Com o fim da versão impressa do Diário Oficial da União, o presidente da República assinou um decreto que traz novas normas a serem seguidas nas publicações oficiais, que agora estarão disponíveis apenas na versão on-line. Os atos a serem divulgados devem ser encaminhados ao órgão exclusivamente por meio eletrônico. O jornal será publicado de segunda a sexta, uma vez por dia, exceto nos feriados nacionais e nos pontos faculta�vos da administração pública federal. O decreto reforça que o Diário Oficial trará os atos com conteúdo norma�vo, exceto os atos de aplicação exclusivamente interna que não afetem interesses de terceiros, e os atos oficiais da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado). O decreto incide sobre a prá�ca de leitura do Diário Oficial em todo o Brasil e pressupõe que a) o país dispõe de uma cultura digital consolidada. b) a publicação on-line dificulta o acesso ao texto oficial. c) a decisão torna obrigatória a leitura de textos oficiais. d) as repar�ções públicas dispensam a leitura de texto impresso. e) a mudança traz novos modelos para a administração pública. IT0510 - (Enem PPL) No texto, o trecho “Cê tá muito louco, véio” caracteriza um uso social da linguagem mais comum a a) jovens em situação de conversa informal. b) pessoas conversando num cinema. c) homens com problemas de visão. d) idosos numa roda de bate-papo. e) crianças brincando de viajar. IT0513 - (Enem PPL) O resgate de um barco com 25 imigrantes africanos na costa do Maranhão reacendeu a discussão sobre o quanto o Brasil estaria, cada vez mais, atraindo pessoas de outros países em busca de refúgio ou de melhores condições de vida. O país recebeu 33866 pedidos de refúgio de imigrantes no ano de 2017, segundo um relatório recente do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Jus�ça. A definição clássica de refugiado é “o imigrante que sofre de fundado temor de perseguição por mo�vos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões polí�cas”. No entanto, a Acnur, agência da ONU para refugiados, já tem um entendimento ampliado do que pode configurar um refugiado, incorporando também as 52@professorferretto @prof_ferretto caracterís�cas de uma crise humanitária: fome generalizada, ausência de acesso a medicamentos e serviços básicos e perda de renda. Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 22 maio 2018 (adaptado). Nesse texto, a função metalinguís�ca tem papel fundamental, pois revela que o direito de o imigrante ser tratado como refugiado no Brasil depende do(a) a) número de pedidos de refúgio já registrados no relatório do Conare. b) compreensão que o Ministério da Jus�ça tem da palavra “refugiado”. c) crise humanitária que se abate sobre os países mais pobres do mundo. d) profundidade da crise econômica pela qual passam determinados países. e) autorização da Acnur, que gerencia a distribuição de refugiados pelos países. IT0525 - (Enem PPL) No que diz respeito ao uso de recursos expressivos em diferentes linguagens, o cartum produz humor brincando com a a) caracterização da linguagem u�lizada em uma esfera de comunicação específica. b) deterioração do conhecimento cien�fico na sociedade contemporânea. c) impossibilidade de duas cobras conversarem sobre o universo. d) dificuldade inerente aos textos produzidos por cien�stas. e) complexidade da reflexão presente no diálogo. IT0527 - (Enem PPL) É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a iden�ficação e a diferenciação de cada comunidade e também a inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos sociais, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A fala tem, assim, um caráter emblemá�co, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou italiano, alemão ou holandês, americano ou inglês, e, mais ainda, sendo brasileiro, se é nordes�no, sulista ou carioca. A linguagem também oferece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social e seu grau de instrução, é frequentemente usado para discriminar e es�gma�zar o falante. LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. Nesse texto acadêmico, as autoras fazem uso da linguagem formal para a) estabelecer proximidade com o leitor. b) a�ngir pessoas de vários níveis sociais. c) atender às caracterís�cas do público leitor. d) caracterizar os diferentes falares brasileiros. e) atrair leitores de outras áreas do conhecimento. IT0535 - (Enem PPL) A expansão do português no Brasil, as variações regionais com suas possíveis explicações e as raízes das inovações da linguagem estão emergindo por meio do trabalho de linguistas que estão desenterrando as raízes do português brasileiro ao examinar cartas pessoais e administra�vas, testamentos, relatos de viagens, processos judiciais, cartas de leitores e anúncios de jornais desde o século XVI, coletados em ins�tuições como a Biblioteca Nacional e o Arquivo Público do Estado de São Paulo. No acervo de documentosque servem para estudos sobre o português paulista está uma carta de 1807, escrita pelo soldado Manoel Coelho, que teria seduzido a filha de um fazendeiro. Quando soube, o pai da moça, enfurecido, forçou o rapaz a se casar com ela. O soldado, porém, bateu o pé: “Nem por bem, nem por mar!”, não se casaria. Um linguista pesquisador estranhou a citação, já que o fato se passava na Vila de São Paulo, mas depois percebeu: “Ele quis dizer ‘nem por bem, nem por mal!’. O soldado escrevia como falava. Não se sabe se casou com a filha do fazendeiro, mas deixou uma prova valiosa de como se falava no início do século XIX.” FIORAVANTI, C. Ora pois, uma língua bem brasileira. Pesquisa Fapesp, n. 230, abr. 2015 (adaptado). O fato relatado evidencia que fenômenos presentes na fala podem aparecer em textos escritos. Além disso, sugere que 53@professorferretto @prof_ferretto a) os diferentes falares do português provêm de textos escritos. b) o �po de escrita usado pelo soldado era despres�giado no século XIX. c) os fenômenos de mudança da língua portuguesa são historicamente previsíveis. d) as formas variantes do português brasileiro atual já figuravam no português an�go escrito. e) as origens da norma-padrão do português brasileiro podem ser observadas em textos an�gos. IT0536 - (Enem PPL) Qual a diferença entre publicidade e propaganda? Esses dois termos não são sinônimos, embora sejam usados indis�ntamente no Brasil. Propaganda é a a�vidade associada à divulgação de ideias (polí�cas, religiosas, par�dárias etc.) para influenciar um comportamento. Alguns exemplos podem ilustrar, como o famoso Tio Sam, criado para incen�var jovens a se alistar no exército dos EUA; ou imagens criadas para “demonizar” os judeus, espalhadas na Alemanha pelo regime nazista; ou um pôster promovendo o poderio militar da China comunista. No Brasil, um exemplo regular de propaganda são as campanhas polí�cas em período pré-eleitoral. Já a publicidade, em sua essência, quer dizer tornar algo público. Com a Revolução Industrial, a publicidade ganhou um sen�do mais comercial e passou a ser uma ferramenta de comunicação para convencer o público a consumir um produto, serviço ou marca. Anúncios para venda de carros, bebidas ou roupas são exemplos de publicidade. VASCONCELOS, Y. Disponível em: h�ps://mundoestranho.abril.com.br. Acesso em: 22 ago. 2017 (adaptado). A função sociocomunica�va desse texto é a) ilustrar como uma famosa figura dos EUA foi criada para incen�var jovens a se alistar no exército. b) explicar como é feita a publicidade na forma de anúncios para venda de carros, bebidas ou roupas. c) convencer o público sobre a importância do consumo. d) esclarecer dois conceitos usados no senso comum. e) divulgar a�vidades associadas à disseminação de ideias. IT0540 - (Enem PPL) O craque crespo Desde que Neymar despontou no futebol, uma de suas marcas registradas é o cabelo. Sempre com um visual novo a cada campeonato. Mas nesses anos de carreira ainda faltava o ídolo fazer uma aparição nos gramados com seu cabelo crespo natural, que ele assumiu recentemente para a alegria e a autoes�ma dos meninos cacheados que sonham ser craques um dia. É di�cil assumir os cachos e abandonar a ditadura do alisamento em um mundo onde o cabelo liso é �do como o padrão de beleza ideal. Quando conseguimos fazer a transição capilar, esse gesto nos aproxima da nossa real iden�dade e nos empodera. Falo por experiência própria. Passei 30 anos usando cabelos lisos e já nem me lembrava de como eram meus fios naturais. Recuperar a textura crespa, para além do cuidado esté�co, foi um ato polí�co, de aceitação, de autorreconhecimento e de redescoberta da minha negritude. O discurso dos fios naturais tem ganhado uma representação cada vez mais posi�va, valorizando a volta dos cachos sem cair no estereó�po do “exó�co”, muito comum no Brasil. O cabelo crespo, defini�vamente, não é uma moda passageira. Torço que para Neymar também não seja. Alexandra Loras é ex-consulesa da França em São Paulo, empresária, consultora de empresas e autora de livros. LORAS, A. O craque crespo. Disponível em: h�p://diploma�que.org.br. Acesso em: 1 set. 2017. Considerando os procedimentos argumenta�vos presentes nesse texto, infere-se que o obje�vo da autora é a) valorizar a a�tude do jogador ao aderir à moda dos cabelos crespos. b) problema�zar percepções iden�tárias sobre padrões de beleza. c) apresentar as novas tendências da moda para os cabelos. d) relatar sua experiência de redescoberta de suas origens. e) evidenciar a influência dos ídolos sobre as crianças. IT0544 - (Enem PPL) O debate sobre o conceito de saúde refere-se à importância de minimizar a simplificação que abrange o entendimento do senso comum sobre esse fenômeno. É possível entendê-lo de modo reducionista, tão somente, à luz dos pressupostos biológicos e das associações esta�s�cas presentes nos estudos epidemiológicos. Os problemas que daí decorrem são: a) o foco centra-se na doença; b) a culpabilização do indivíduo frente à sua própria doença; c) a crença na possibilidade de resolução do problema encerrando-se uma suposta causa, a qual recai no processo de medicalização; d) a naturalização da doença; e) o ce�cismo em relação à contribuição de 54@professorferretto @prof_ferretto diferentes saberes para auxiliar na compreensão dos fenômenos relacionados à saúde. BAGRICHEVSKY, M. et al. Considerações teóricas acerca das questões relacionadas à promoção da saúde. In: BAGRICHEVSKY, M.; PALMA, A.; ESTEVÃO, A. (Org.). A saúde em debate na educação �sica. Blumenau: Edibes, 2003. O texto apresenta uma reflexão crí�ca sobre o conceito de saúde, que deve ser entendida mediante a) dados esta�s�cos presentes em estudos epidemiológicos. b) pressupostos relacionados à ausência de doenças nos indivíduos. c) responsabilização dos indivíduos pela adoção de hábitos saudáveis. d) intervenção da medicina nos diferentes processos que acometem a saúde. e) compreensão dos fenômenos sociais, polí�cos e econômicos relacionados à saúde. IT0548 - (Enem PPL) As cores Maria Alice abandonou o livro onde seus dedos longos liam uma história de amor. Em seu pequeno mundo de volumes, de cheiros, de sons, todas aquelas palavras eram a perpétua renovação dos mistérios em cujo seio sua imaginação se perdia. [...] Como seria cor e o que seria? [...]. Era, com certeza, a nota marcante de todas as coisas para aqueles cujos olhos viam, aqueles olhos que tantas vezes palpara com inveja calada e que se fechavam, quando os tocava, sensíveis como pássaros assustados, palpitantes de vida, sob seus dedos trêmulos, que diziam ser claros. Que seria o claro, afinal? Algo que aprendera, de há muito, ser igual ao branco. [...] E agora Maria Alice voltava outra vez ao Ins�tuto. E ao grande amigo que lá conhecera. [...]. Lembrava-se da ternura daquela voz, da beleza daquela voz. De como se adivinhavam entre dezenas de outros e suas mãos se encontravam. De como as palavras de amor �nham irrompido e suas bocas se encontrado...De como um dia seus pais haviam surgido inesperadamente no Ins�tuto e a haviam levado à sala do diretor e se haviam queixado da falta de vigilância e moralidade no estabelecimento. E de como, no momento em que a re�ravam e quando ela disse que pretendia se despedir de um amigo pelo qual �nha grande afeição e com quem se queria casar, o pai exclamara, horrorizado: — Você não tem juízo, criatura? Casar-se com um mulato? Nunca! Mulato era cor. Estava longe aquele dia. Estava longe o Ins�tuto, ao qual não saberia voltar, do qual nunca mais �vera no�cia, e do qual somente restara o privilégio de caminhar sozinha pelo reino dos livros, tão parecido com a vida dos outros, tão cheio de cores. LESSA, O. Seleta de Orígenes Lessa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. No texto, a condição da personagem e os desdobramentos da narra�va conduzem o leitor a compreender o(a) a) percepção das cores como metáfora da discriminação racial. b) privação da visão como elemento definidor das relações humanas. c)contraste entre as representações do amor de diferentes gerações. d) prevalência das diferenças sociais sobre a liberdade das relações afe�vas. e) embate entre a ingenuidade juvenil e a manutenção de tradições familiares. IT0551 - (Enem PPL) Como a percepção do tempo muda de acordo com a língua Línguas diferentes descrevem o tempo de maneiras dis�ntas — e as palavras usadas para falar sobre ele moldam nossa percepção de sua passagem. O estudo “Distorção temporal whorfiana: representando duração por meio da ampulheta da língua”, publicado no jornal da APA (Associação Americana de Psicologia), mostra que conceitos abstratos, como a percepção da duração do tempo, não são universais. Os autores não só verificaram uma mudança da percepção temporal conforme a língua falada como observaram que a transição de uma língua para outra por um mesmo indivíduo modificava sua es�ma�va de uma duração de tempo. Isso implica que visões diferentes de tempo convivem no cérebro de um indivíduo bilíngue. “O fato de que pessoas bilíngues transitam entre essas diferentes formas de es�mar o tempo sem esforço e inconscientemente se encaixa nas evidências crescentes que demonstram a facilidade com que a linguagem se entremeia fur�vamente em nossos sen�dos mais básicos, incluindo nossas emoções, percepção visual e, agora, ao que parece, nossa sensação de tempo”, disse o pesquisador ao site Quartz. LIMA, J. D. Disponível em: www.nexojornal.com.br. Acesso em: 24 ago. 2017. O texto relata experiências e resultados de um estudo que reconhece a importância 55@professorferretto @prof_ferretto a) da compreensão do tempo pelo cérebro. b) das pesquisas cien�ficas sobre a cognição. c) da teoria whorfiana para a área da linguagem. d) das linguagens e seus usos na vida das pessoas. e) do bilinguismo para o desenvolvimento intelectual. IT0553 - (Enem PPL) — Não digo que seja uma mulher perdida, mas recebeu uma educação muito livre, saracoteia sozinha por toda a cidade e não tem podido, por conseguinte, escapar à implacável maledicência dos fluminenses. Demais, está habituada ao luxo, ao luxo da rua, que é o mais caro; em casa arranjam-se ela e a �a sabe Deus como. Não é mulher com quem a gente se case. Depois, lembra-te que apenas começas e não tens ainda onde cair morto. Enfim, és um homem: faze o que bem te parecer. Essas palavras, proferidas com uma franqueza por tantos mo�vos autorizada, calaram no ânimo do bacharel. In�mamente ele es�mava que o velho amigo de seu pai o dissuadisse de requestar a moça, não pelas consequências morais do casamento, mas pela obrigação, que este lhe impunha, de sa�sfazer uma dívida de vinte contos de réis, quando, apesar de todos os seus esforços, não conseguira até então pôr de parte nem o terço daquela quan�a. AZEVEDO, A. A dívida. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2017. O texto, publicado no fim do século XIX, traz à tona representações sociais da sociedade brasileira da época. Em consonância com a esté�ca realista, traços da visão crí�ca do narrador manifestam-se na a) caracterização pejora�va do comportamento da mulher solteira. b) concepção irônica acerca dos valores morais inerentes à vida conjugal. c) contraposição entre a idealização do amor e as imposições do trabalho. d) expressão caricatural do casamento pelo viés do sen�mentalismo burguês. e) sobreposição da preocupação financeira em relação ao sen�mento amoroso. IT0554 - (Enem PPL) Você vende uma casa, depois de ter morado nela durante anos; você a conhece necessariamente melhor do que qualquer comprador possível. Mas a jus�ça é, então, informar o eventual comprador acerca de qualquer defeito, aparente ou não, que possa exis�r nela, e mesmo, embora a lei não obrigue a tanto, acerca de algum problema com a vizinhança. E, sem dúvida, nem todos nós fazemos isso, nem sempre, nem completamente. Mas quem não vê que seria justo fazê-lo e que somos injustos não o fazendo? A lei pode ordenar essa informação ou ignorar o problema, conforme os casos; mas a jus�ça sempre manda fazê-lo. Dir-se-á que seria di�cil, com tais exigências, ou pouco vantajoso, vender casas... Pode ser. Mas onde se viu a jus�ça ser fácil ou vantajosa? Só o é para quem a recebe ou dela se beneficia, e melhor para ele; mas só é uma virtude em quem a pra�ca ou a faz. Devemos então renunciar nosso próprio interesse? Claro que não. Mas devemos submetê-lo à jus�ça, e não o contrário. Senão? Senão, contente-se com ser rico e não tente ainda por cima ser justo. COMTE-SPONVILLE, A. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Mar�ns Fontes, 1995. No processo de convencimento do leitor, o autor desse texto defende a ideia de que a) o interesse do outro deve se sobrepor ao interesse pessoal. b) a a�vidade comercial lucra�va é incompa�vel com a jus�ça. c) a criação de leis se pauta por princípios de jus�ça. d) o impulso para a jus�ça é inerente ao homem. e) a prá�ca da jus�ça pressupõe o bem comum. IT0556 - (Enem PPL) Eu gostaria de comentar brevemente as afinidades existentes entre comunidade, comunicação e comunhão. Essas afinidades começam no próprio radical das palavras em questão. Assim, se nosso alvo são os atos de interação comunica�va, temos que incluir em nosso objeto de estudo a ecologia dos atos de interação comunica�va, que se dão no contexto da ecologia da interação comunica�va. No entanto, não basta a proximidade espacial para que a comunicação se dê, é necessário que os potenciais interlocutores entrem em comunhão. Por fim, sem trocadilhos, a comunicação ideal se dá no interior de uma comunidade, entre indivíduos que entram em comunhão. COUTO, H. H. O Tao da linguagem. Campinas: Pontes, 2012. O trecho integra um livro sobre os aspectos ecológicos envolvidos na interação comunica�va. Para convencer o leitor das afinidades entre comunidade, comunicação e comunhão, o autor 56@professorferretto @prof_ferretto a) nega a força das comunidades interioranas. b) joga com a ambiguidade das palavras. c) parte de uma informação grama�cal. d) recorre a argumentos emo�vos. e) apela para a religiosidade. IT0561 - (Enem PPL) Uma língua, múl�plos falares Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era mul�língue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco era uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece em diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, temos primeiramente o encontro linguís�co de portugueses com índios e, além dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este processo vai produzindo diversidades linguís�cas que caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar dis�ntos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque �pico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” caracterís�co do interior de São Paulo. MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado). A par�r desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de iden�dade nacional, entende-se que a diversidade linguís�ca é resultado da a) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas. b) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes. c) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas. d) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador. e) preservação dos sotaques caracterís�cos dos imigrantes. IT0565 - (Enem PPL) Glossário diferenciado Outro dia vi um anúncio de alguma coisa que não lembro o que era (como vocês podem deduzir, oanúncio era péssimo). Lembro apenas que o produto era diferenciado, funcional e sustentável. Pensando nisso, fiz um glossário de termos diferenciados e suas respec�vas funcionalidades. Diferenciado: um adje�vo que define um substan�vo mas também o sujeito que o está usando. Quem fala “diferenciado” poderia falar “diferente”. Mas escolheu uma palavra diferenciada. Porque ele quer mostrar que ele próprio é “diferenciado”. Essa é a função da palavra “diferenciado”: diferenciar-se. Por diferençado, entenda: “mais caro”. Estudos indicam que a palavra “diferenciado” representa um aumento de 50% no valor do produto. É uma palavra que faz a diferença. FERNANDES, M. In: ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009 (adaptado). Os gêneros são definidos, entre outros fatores, por sua função social. Nesse texto, um verbete foi criado pelo autor para a) atribuir novo sen�do a uma palavra. b) apresentar as caracterís�cas de um produto. c) mostrar um posicionamento crí�co. d) registrar o surgimento de um novo termo. e) contar um fato do co�diano. IT0568 - (Enem PPL) Não há dúvidas de que, nos úl�mos tempos, em função da velocidade, do volume e da variedade da geração de informações, questões referentes à disseminação, ao armazenamento e ao acesso de dados têm se tornado complexas, de modo a desafiar homens e máquinas. Por meio de sistemas financeiros, de transporte, de segurança e de comunicação interpessoal – representados pelos mais variados disposi�vos, de cartões de crédito a trens, aviões, passaportes e telefones celulares –, circulam fluxos informacionais que carregam o DNA da vida co�diana do indivíduo contemporâneo. Para além do referido cenário informacional contemporâneo, percebe-se, nos contextos governamentais, um esforço – gerado por leis e decretos, ou mesmo por pressões democrá�cas – em disseminar informações de interesse público. No Brasil, está em vigor, desde maio de 2012, a Lei de Acesso à Informação n. 12.527. Em linhas gerais, a legislação regulamenta o direito à informação, já garan�do na Cons�tuição Federal, obrigando órgãos públicos a divulgarem os seus dados. SILVA JR., M. G. Vigiar, punir e viver. Minas faz Ciência, n. 58, 2014 (adaptado). As Tecnologias de Informação e Comunicação propiciam à sociedade contemporânea o acesso à grande 57@professorferretto @prof_ferretto quan�dade de dados públicos e privados. De acordo com o texto, essa nova realidade promove a) ques�onamento sobre a privacidade. b) mecanismos de vigilância de pessoas. c) disseminação de informações individuais. d) interferência da legislação no uso dos dados. e) transparência na relação entre governo e cidadãos. IT0569 - (Enem PPL) “Escrever não é uma questão apenas de sa�sfação pessoal”, disse o filósofo e educador pernambucano Paulo Freire, na abertura de suas Cartas a Cris�na, revelando a importância do hábito ritualizado da escrita para o desenvolvimento de suas ideias, para a concre�zação de sua missão e disseminação de seus pontos de vista. Freire destaca especial importância à escrita pelo desejo de “convencer outras pessoas”, de transmi�r seus pensamentos e de engajar aqueles que o leem na realização de seus sonhos. KNAPP, L. Linha fina. Comunicação Empresarial, n. 88, out. 2013. Segundo o fragmento, para Paulo Freire, os textos devem exercer, em alguma medida, a função cona�va, porque a a�vidade de escrita, notadamente, possibilita a) levar o leitor a realizar ações. b) expressar sen�mentos do autor. c) despertar a atenção do leitor. d) falar da própria linguagem. e) repassar informações. IT0575 - (Enem PPL) Cores do Brasil Ganhou nova versão, revista e ampliada, o livro lançado em 1988 pelo galerista Jacques Ardies, cuja proposta é ser publicação informa�va sobre nomes do “movimento arte naïf do Brasil”, como define o autor. Trata-se de um caminho esté�co fundamental na arte brasileira, assegura Ardies. O termo em francês foi adotado por designar internacionalmente a produção que no Brasil é chamada de arte popular ou primi�vismo, esclarece Ardies. O organizador do livro explica que a obra não tem a pretensão de ser um dicionário. “Falta muita gente. São muitos ar�stas”, observa. A nova edição veio da vontade de atualizar informações publicadas há 26 anos. Ela incluiu ar�stas em a�vidade atualmente e veteranos que ficaram de fora do primeiro livro. A arte naïf no Brasil 2 traz 79 autores de várias regiões do Brasil. WALTER SEBASTIÃO. Estado de Minas, 17 jan. 2015 (adaptado). O fragmento do texto jornalís�co aborda o lançamento de um livro sobre arte naïf no Brasil. Na organização desse trecho predomina o uso da sequência a) injun�va, sugerida pelo destaque dado à fala do organizador do livro. b) argumenta�va, caracterizada pelo uso de adje�vos sobre o livro. c) narra�va, construída pelo uso de discurso direto e indireto. d) descri�va, formada com base em dados editoriais da obra. e) exposi�va, composta por informações sobre a arte naïf. IT0586 - (Enem PPL) Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou: — Repita o que você disse, Lóri. — Não sei mais. — Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um só. — Sim. Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sen�u vazia. Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está começando a me doer como uma angús�a, como um grande silêncio de espaços? A quem dou minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sen�r-se feliz e preferem a mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo. LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990. A obra de Clarice Lispector alcança forte expressividade em razão de determinadas soluções narra�vas. No fragmento, o processo que leva a essa expressividade fundamenta-se no 58@professorferretto @prof_ferretto a) desencontro estabelecido no diálogo do par amoroso. b) exercício de análise filosófica conduzido pelo narrador. c) registro do processo de autoconhecimento da personagem. d) discurso fragmentado como reflexo de traumas psicológicos. e) afastamento da voz narra�va em relação aos dramas existenciais. IT0627 - (Enem PPL) O passado na tela do computador Um dos desafios do novo Museu da Imigração é se contrapor à imagem deixada pela exibição do acervo permanente na época do Memorial do Imigrante, muito cri�cada por dar ênfase demasiada aos imigrantes estrangeiros e pouca atenção aos brasileiros. Era uma representação desproporcional em relação aos números: dos 3,5 milhões de pessoas que passaram pela hospedaria de imigrantes de São Paulo, aproximadamente 1,9 milhão eram estrangeiras (de 75 nacionalidades e etnias) e 1,6 milhão eram brasileiras, oriundas, principalmente, dos estados nordes�nos. HEBMÜLLER, P. Problemas brasileiros, n. 414, nov.-dez. 2012 (adaptado). O autor do texto sobre a digitalização do acervo do novo Museu da Imigração apresenta a ênfase no imigrante estrangeiro como um problema de representação equivocada da imigração em São Paulo. Para tanto, fundamenta seu ponto de vista no(a) a) panorama apresentado como a atual realidade do imigrante em São Paulo. b) uso da tecnologia para aprimorar a imagem do imigrante em São Paulo. c) diferença entre o Memorial do Imigrante e os demais museus existentes em São Paulo. d) diversidade de nacionalidades e etnias como parâmetro da imigração em São Paulo. e) desequilíbriocheia de dor e de pavor. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI. No texto III, ao analisar a interioridade de Palha, o narrador descobre, no pensamento oculto do negociante, 5@professorferretto @prof_ferretto a) a ternura que lhe inspira a mulher, capaz de toda abnegação. b) a piedade que lhe causa a mulher, a quem só guarda desprezo. c) a vaidade que beira o sadismo, ao ver a mulher sofrer por ele. d) o gozo vinga�vo, visto que a mulher o trai com Carlos Maria. e) o remorso do infiel, pois ele trai a mulher com Maria Benedita. IT0337 - (Enem) TEXTO I A língua não é uma nomenclatura, que se opõe a uma realidade pré-categorizada, ela é que classifica realidade. No léxico, percebe-se, de maneira mais imediata, o fato de que a língua condensa as experiências de um dado povo. FIORIN, J. L. Língua, modernidade e tradição. Diversitas, n. 2, mar.-set. 2014. TEXTO II As expressões coloquiais ainda estão impregnadas de discriminação contra os negros. Basta recordar algumas delas, como passar um “dia negro”, ter um “lado negro”, ser a “ovelha negra” da família ou pra�car “magia negra”. Disponível em: h�ps:/brasil.elpais.com. Acesso em: 22 maio 2018. O Texto II exemplifica o que se afirma no Texto I, na medida em que defende a ideia de que as escolhas lexicais são resultantes de um a) expediente próprio do sistema linguís�co que nos apresenta diferentes possibilidades para traduzir estados de coisas. b) ato inven�vo de nomear novas realidades que surgem diante de uma comunidade de falantes de uma língua. c) mecanismo de apropriação de formas linguís�cas que estão no acervo da formação do idioma nacional. d) processo de incorporação de preconceitos que são recorrentes na história de uma sociedade. e) recurso de expressão marcado pela obje�vidade que se requer na comunicação diária. IT0001 - (Enem) A volta do marido pródigo – Bom dia, seu Marrinha! Como passou de ontem? – Bem. Já sabe, não é? Só ganha meio dia. [...] Lá além, Generoso cotuca Tercino: – [...] Vai em festa, dorme que-horas, e, quando chega, ainda é todo enfeitado e salamistrão!... – Que é que hei de fazer, seu Marrinha... Amanheci com uma nevralgia... Fiquei com cisma de apanhar friagem... – Hum... – Mas o senhor vai ver como eu toco o meu serviço e ainda faço este povo trabalhar... [...] Pintão suou para desprender um pedrouço, e teve de pular para trás, para que a laje lhe não esmagasse um pé. Pragueja: – Quem não tem brio engorda! – É... Esse sujeito só é isso, e mais isso... – opina Sidu. – Também, tudo p’ra ele sai bom, e no fim dá certo... – diz Correia, suspirando e retomando o enxadão. – “P’ra uns, as vacas morrem ... p’ra outros até boi pega a parir...”. Seu Marra já concordou: – Está bem, seu Laio, por hoje, como foi por doença, eu aponto o dia todo. Que é a úl�ma vez!... E agora, deixa de conversa fiada e vai pegando a ferramenta! ROSA, J. G. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967. Esse texto tem importância singular como patrimônio linguís�co para a preservação da cultura nacional devido a) à menção a enfermidades que indicam falta de cuidado pessoal. b) à referência a profissões já ex�ntas que caracterizam a vida no campo. c) aos nomes de personagens que acentuam aspectos de sua personalidade. d) ao emprego de ditados populares que resgatam memórias e saberes cole�vos. e) às descrições de costumes regionais que desmis�ficam crenças e supers�ções. IT0006 - (Enem) Os linguistas têm notado a expansão do tratamento informal. “Tenho 78 anos e devia ser tratado por senhor, mas meus alunos mais jovens me tratam por você”, diz o professor Ataliba Cas�lho, aparentemente sem se incomodar com a informalidade, inconcebível em seus tempos de estudante. O você, porém, não reinará sozinho. O tu predomina em Porto Alegre e convive com o você no Rio de Janeiro e em Recife, enquanto você é o tratamento predominante em São Paulo, Curi�ba, Belo Horizonte e Salvador. O tu já era mais próximo e menos formal que você nas quase 500 cartas do acervo on-line de uma ins�tuição universitária, quase todas de poetas, polí�cos e outras personalidades do final do século XIX e início do XX. Disponível em: h�p://revistapesquisa.fapesp.br. Acesso em: 21 abr. 2015 (adaptado). 6@professorferretto @prof_ferretto No texto, constata-se que os usos de pronomes variaram ao longo do tempo e que atualmente têm empregos diversos pelas regiões do Brasil. Esse processo revela que a) a escolha de “você” ou de “tu” está condicionada à idade da pessoa que usa o pronome. b) a possibilidade de se usar tanto “tu” quanto “você” caracteriza a diversidade da língua. c) o pronome “tu” tem sido empregado em situações informais por todo o país. d) a ocorrência simultânea de “tu” e de “você” evidencia a inexistência da dis�nção entre níveis de formalidade. e) o emprego de “você” em documentos escritos demonstra que a língua tende a se manter inalterada. IT0315 - (Fuvest) Psicanálise do açúcar O açúcar cristal, ou açúcar de usina, mostra a mais instável das brancuras: quem do Recife sabe direito o quanto, e o pouco desse quanto, que ela dura. Sabe o mínimo do pouco que o cristal se estabiliza cristal sobre o açúcar, por cima do fundo an�go, de mascavo, do mascavo barrento que se incuba; e sabe que tudo pode romper o mínimo em que o cristal é capaz de censura: pois o tal fundo mascavo logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. Só os banguês que-ainda purgam ainda o açúcar bruto com barro, de mistura; a usina já não o purga: da infância, não de depois de adulto, ela o educa; em enfermarias, com vácuos e turbinas, em mãos de metal de gente indústria, a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: não o purga, cura. Mas como a cana se cria ainda hoje, em mãos de barro de gente agricultura, o barrento da pré-infância logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra. * banguê: engenho de açúcar primi�vo movido a força animal. Na oração “que ela dura” (v. 4), o pronome sublinhado a) não tem referente. b) retoma a palavra “usina” (v. 1). c) pode ser subs�tuído por “ele”, referindo-se a “açúcar” (v. 1). d) refere-se à “mais instável das brancuras” (v. 2). e) equivale à palavra “censura” (v. 10). IT0327 - (Fuvest) O feminismo negro não é uma luta meramente iden�tária, até porque branquitude e masculinidade também são iden�dades. Pensar feminismos negros é pensar projetos democrá�cos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma 1incompreensão fundamental. 2Não que eu buscasse respostas para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, 3não �nha consciência de mim. Não sabia por que 4sen�a vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. 5Por que eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos diziam na minha cara que não queriam formar par com a “neguinha” na festa junina. Eu me sen�a estranha e inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no automá�co, 6me esforçando para não ser notada. Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?. O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (ref. 1) referida pela autora é: a) “não que eu buscasse respostas para tudo” (ref. 2). b) “não �nha consciência de mim” (ref. 3). c) “Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (ref. 5). d) “me esforçando para não ser notada” (ref. 6). e) “sen�a vergonha de levantar a mão” (ref. 4). IT0296 - (Fuvest) A taxação de livros tem um efeito cascata que acaba custando caro não apenas ao leitor, como também ao mercado editorial – que há anos não anda bem das pernas – e, em úl�ma instância, ao desenvolvimento econômico do país. A gente explica. Taxar um produto significa, quase sempre, um aumento no valor do produto final. Isso porque ao menos uma parte desse imposto será repassada ao consumidor, especialmente se considerarmos que as editoras e livrarias enfrentam há anos umanas representações usuais dos imigrantes em São Paulo. IT0632 - (Enem PPL) Parestesia não, formigamento Trinta e três regras que mudam a redação de bulas no Brasil Com o Projeto Bulas, de 2004, voltado para a tradução do jargão farmacêu�co para a língua portuguesa – aquela falada em todo o Brasil – e a regulamentação do uso de medicamentos no país, cinco anos depois, o Brasil começou a sair das trevas. O grupo comandado por uma doutora em Linguís�ca da UFRJ sugeriu à Anvisa mudar tudo. Elaborou, também, “A redação de bulas para o paciente: um guia com os princípios de redação clara, concisa e acessível para o leitor de bulas”, disponível em versão adaptada no site da Anvisa. Diferentemente do que acontece com outros gêneros, na bula não há espaço para inovações de es�lo. “O uso de fórmulas repe��vas é bem-vindo, dá força ins�tucional ao texto”, explica a doutora. “A bula não pode abrir possibilidades de interpretações ao seu leitor”. Se obedecidas, as 33 regras do guia são de serven�a genérica – quem lida com qualquer �po de escrita pode se beneficiar de seus ensinamentos. A regra 12, por exemplo, manda abolir a linguagem técnica, fonte de possível constrangimento para quem não a compreende, e recomenda: “Não irrite o leitor.” A regra 14 prega um tom cordial, educado e, sobretudo, conciso: “Não faça o leitor perder tempo”. Disponível em: www2.uol.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012. As bulas de remédio têm caráter instrucional e complementam as orientações médicas. No contexto de mudanças apresentado, a principal caracterís�ca que marca sua nova linguagem é o(a) a) possibilidade de inclusão de neologismo. b) refinamento da linguagem farmacêu�ca. c) adequação ao leitor não especializado. d) detalhamento de informações. e) informalidade do registro. IT0633 - (Enem PPL) Ao acompanharmos a história do telefone, verificamos que esse meio está se mostrando capaz de reunir em seu conteúdo uma quan�dade cada vez maior de outros meios ‒ envio de e-mails, recebimento de no�cias, música através de rádio e mensagens de texto. Esta úl�ma função vem servindo como suporte para uma nova forma de sociabilidade, o fenômeno do flash mob ‒ mobilizações relâmpago, que têm como caracterís�ca principal realizar uma encenação em algum ponto da cidade. PAMPANELLI, G. A. A evolução do telefone e uma nova forma de sociabilidade: o flash mob. Disponível em: www.razonypalabra.org.mx. Acesso em: 1 jun. 2015 (adaptado). De acordo com o texto, a evolução das tecnologias de comunicação repercute na vida social, revelando que 59@professorferretto @prof_ferretto a) o acúmulo de informações promove a sociabilidade. b) as mudanças sociais demandam avanços tecnológicos. c) o crescimento tecnológico acarreta mobilizações das grandes massas. d) a ar�culação entre meios tecnológicos pressupõe desenvolvimento social. e) a apropriação das tecnologias pela sociedade possibilita ações inovadoras. IT0635 - (Enem PPL) o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação... entendeu? Eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso explicar assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu acho que a pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de na::da... entendeu. Trecho da fala de J. L., sexo masculino, 26 anos. In: VOTRE, S.; OLIVEIRA, M. R. (Coord.). A língua falada e escrita na cidade do Rio de Janeiro. Disponível em: www.discursoegrama�ca.letras.ufrj.br. Acesso em: 4 dez. 2012. A língua falada caracteriza-se por hesitações, pausas e outras peculiaridades. As ocorrências de “entendeu” e “né”, na fala de J. L., indicam que a) a modalidade oral apresenta poucos recursos comunica�vos, se comparada à modalidade escrita. b) a língua falada é marcada por palavras dispensáveis e irrelevantes para o estabelecimento da interação. c) o enunciador procura interpelar o seu interlocutor para manter o fluxo comunica�vo. d) o tema tratado no texto tem alto grau de complexidade e é desconhecido do entrevistador. e) o falante manifesta insegurança ao abordar o assunto devido ao gênero ser uma entrevista. IT0636 - (Enem PPL) A carreira nas alturas A água está no joelho dos profissionais do mercado. As fragilidades na formação em Língua Portuguesa têm alimentado um campo de reciclagem em Português nas escolas de idiomas e nos cursos de graduação para pessoas oriundas do mundo dos negócios. O que antes era restrito a profissionais de educação e comunicação, agora já faz parte da ro�na de profissionais de várias áreas. Para eles, a Língua Portuguesa começa a ser assimilada como uma ferramenta para o desempenho estável. Sem ela, o conhecimento técnico fica restrito à própria pessoa, que não sabe comunicá-lo. “Embora algumas atuações exijam uma produção oral ou escrita mais frequente, como docência e advocacia, muitos profissionais precisam escrever relatório, carta, comunicado, circular. Na linguagem oral, todos têm de expressar-se de forma convincente nas reuniões, para ganhar respeito e credibilidade. Isso vale para todos os cargos da hierarquia profissional” – explica uma professora de Língua Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. NATALI, A. Revista Língua, n. 63, jan. 2011 (adaptado). Nos usos co�dianos da língua, algumas expressões podem assumir diferentes sen�dos. No texto, a expressão “a água está no joelho” remete à a) exigência de aprofundamento em conhecimentos técnicos. b) demanda por formação profissional de professores e advogados. c) procura por escolas de idiomas para o aprendizado de línguas. d) melhoria do desempenho profissional nas várias áreas do conhecimento. e) necessidade imediata de aperfeiçoamento das habilidades comunica�vas. IT0637 - (Enem PPL) Ainda os equívocos no combate aos estrangeirismos Por que não se reconhece a existência de norma nas variedades populares? Para desqualificá-las? Por que só uma norma é reconhecida como norma e, não por acaso, a da elite? Por tantos equívocos, só nos resta lamentar que algumas pessoas, imbuídas da crença de que estão defendendo a língua, a iden�dade e a pátria, na verdade estejam reforçando velhos preconceitos e imposições. O português do Brasil há muito distanciou-se do português de Portugal e das prescrições dos gramá�cos, cujo serviço às classes dominantes é definir a língua do poder em face de ameaças – internas e externas. ZILLES, A. M. S. In: FARACO, C. A. (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado). O texto aborda a linguagem como um campo de disputas e poder. As interrogações da autora são estratégias que conduzem ao convencimento do leitor de que 60@professorferretto @prof_ferretto a) o português do Brasil é muito diferente do português de Portugal. b) as prescrições dos gramá�cos estão a serviço das classes dominantes. c) a norma linguís�ca da elite brasileira é a única reconhecida como tal. d) o português do Brasil há muito distanciou-se das prescrições dos gramá�cos. e) a desvalorização das variedades linguís�cas populares tem mo�vação social. IT0639 - (Enem PPL) Pedra sobre pedra Algumas fazendas gaúchas ainda preservam as taipas, muros de pedra para cercar o gado. Um �po de cerca primi�va. Não há nada que prenda uma pedra na outra, cuidadosamente empilhadas com altura de até um metro. Engenharia simples que já dura 300 anos. A mesma técnica usada no mangueirão, uma espécie de curral onde os animais ficavam confinados à noite. As taipas são atribuídas aos jesuítas. O obje�vo era domar o gado xucro solto nos campos pelos colonizadores espanhóis. FERRI, M. Revista Terra da Gente, n. 96, abr. 2012. Um texto pode combinar diferentes funções de linguagem. Exemplo disso é Pedra sobre pedra, que se vale da função referencial e da metalinguís�ca. A metalinguagem é estabelecida a) por tempos verbais ar�culados no presente e no pretérito. b) pelasfrases simples e referência ao ditado “não ficará pedra sobre pedra”. c) pela linguagem impessoal e obje�va, marcada pela terceira pessoa. d) pela definição de termos como “taipa” e “mangueirão”. e) por adje�vos como “primi�vas” e “simples”, indicando o ponto de vista do autor. IT0641 - (Enem PPL) Árvore é cortada para dar lugar à propaganda sobre preservação ambiental “Uma criança abraça uma árvore com o sorriso no rosto. No fundo verde, uma mensagem exalta a importância da preservação da natureza e lembra o Dia da Árvore”. O que seria um roteiro padrão para uma peça publicitária virou mo�vo de revolta e indignação em uma cidade do interior de São Paulo. Isso porque uma empresa de outdoor derrubou uma árvore centenária em um terreno para a instalação de suas placas. A empresa teria informado que �nha autorização da prefeitura e da polícia ambiental para cortar a árvore. Sobre a propaganda, a empresa disse que foi “uma infeliz coincidência”, já que não sabia o que iria ser anunciado. Em nota, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, informou que não há nenhuma autorização em nome da empresa para o corte da árvore. A multa, segundo a polícia ambiental, varia entre 100 reais e 1 000 reais por árvore ou planta cortada. Disponível em: h�p://oglobo.globo.com. Acesso em: 21 set. 2015 (adaptado). O texto apresenta uma crí�ca ao uso social de um outdoor. Essa crí�ca está associada ao fato de a) uma multa de 100 reais e 1 000 reais ser aplicada por corte de árvore ou de planta. b) a Secretaria do Meio Ambiente ter negado a autorização do corte da árvore. c) a empresa informar que foi uma “infeliz coincidência” o corte da árvore. d) uma campanha ambiental ter subs�tuído uma árvore centenária. e) a empresa u�lizar a imagem de uma criança na campanha. IT0591 - (Enem PPL) O mundo mudou O mundo mudou. “O mundo mudou” porque está sempre mudando. E sempre estará, até que um dia chegue o seu alardeado fim (se é que chegará). Hoje vivemos “protegidos” por muitos cuidados e paparicos, sempre sob a forma de “serviços”, e desde que você tenha dinheiro para usá-los, claro. Carro quebrou na marginal? Relaxe, o guincho da seguradora virá em minutos resgatá-lo. Tem dificuldade de locomoção? Espere, a empresa aérea disporá de uma cadeira de rodas para levá-lo ao terminal. Surgiu uma goteira no seu chalé em plenas férias de verão? Calma, o moço que conserta telhados está correndo para lá agora. Vai ficando para trás um outro mundo — de inicia�vas, de gestos solidários, de amizade, de improvisação (sim, “quem não improvisa se inviabiliza”, eu diria, parafraseando Chacrinha). Estamos criando uma geração que não sabe bater um prego na parede, trocar um bo�jão de gás, armar uma rede. É, o mundo mudou sim. Só nos resta o telefone do SAC, onde gastaremos nossa bílis com impropérios ao vento; ou o site da loja de eletrodomés�cos onde ninguém tem nome (que saudade dos Reginaldos, Edmilsons e Velosos!). Ligaremos para falar com a nossa própria solidão, a nossa dependência do mundo dos serviços e a nossa incapacidade de viver 61@professorferretto @prof_ferretto com real simplicidade, soterrados por senhas, protocolos e pendências vãs. Nem Ka�a poderia sonhar com tal mundo. ZECA BALEIRO. Disponível em: www.istoe.com.br. Acesso em: 18 maio 2013 (adaptado). O texto trata do avanço técnico e das facilidades encontradas pelo homem moderno em relação à prestação de serviços. No desenvolvimento da temá�ca, o autor a) mostra a necessidade de se construir uma sociedade baseada no anonimato, reafirmando a ideia de que a in�midade nas relações profissionais exerce influência nega�va na qualidade do serviço prestado. b) apresenta uma visão pessimista acerca de tais facilidades porque elas contribuem para que o homem moderno se torne acomodado e distanciado das relações afe�vas. c) recorre a clássicos da literatura mundial para comprovar o porquê da necessidade de se viver a simplicidade e a solidariedade em tempos de solidão quase inevitável. d) defende uma posição conformista perante o quadro atual, apresentando exemplos, em seu co�diano, de boa aceitação da pra�cidade oferecida pela vida moderna. e) acredita na existência de uma superproteção, que impede os indivíduos modernos de sofrerem severos danos materiais e emocionais. IT0593 - (Enem PPL) “Orgulho de ser nordes�no”: esse é o lema de uma das torcidas organizadas do Ceará — a Cangaceiros Alvinegros — que retrata bem qual o sen�mento dos torcedores desse clube, um dos mais expressivos do Nordeste. Há entre os torcedores aqueles que torcem apenas para o Ceará e aqueles que torcem por um �me do Sudeste também. Estes são denominados de “torcedores mistos”, e estamos definindo aqui como pertencentes ao campo da bifiliação clubís�ca. Em geral, a bifiliação clubís�ca permite que torcedores se engajem aos �mes do Rio de Janeiro, por exemplo, sobretudo pela histórica projeção polí�ca e posteriormente midiá�ca da então capital do Brasil. Contudo, no interior da Cangaceiros Alvinegros, sustenta- se a autoafirmação como nordes�nos, rechaçando aqueles que deixam de torcer pelo �me local para se apegarem aos clubes mais distantes. Ao serem ques�onados sobre como encaravam a bifiliação, um dos diretores da Cangaceiros foi enfá�co ao afirmar: “Você já viu algum paulista ou carioca torcer pra �me do Nordeste? Então por que eu vou torcer pra �me do Sul?”. CAMPOS, F.; TOLEDO, L. H. O Brasil na arquibancada: notas sobre a sociabilidade torcedora. Revista USP, n. 99, set.-out.-nov. 2013 (adaptado). O texto apresenta duas prá�cas dis�ntas de filiação aos clubes de futebol. Nesse contexto, o significado expressado pelo lema “Orgulho de ser nordes�no” representa o(a) a) apreço pela manutenção das tradições nordes�nas por meio da bifiliação clubís�ca. b) aliança entre torcidas dos clubes do Sudeste e Nordeste por meio da bifiliação clubís�ca. c) orgulho dos torcedores do Ceará por torcerem para um dos clubes mais expressivos do Nordeste. d) envaidecimento dos torcedores do Ceará por enfrentarem clubes do Sudeste em condições de igualdade. e) resistência de torcedores dos clubes nordes�nos à tendência de bifiliação clubís�ca com clubes do Sudeste. IT0595 - (Enem PPL) Entrei numa lida muito dificultosa. Mar�rio sem fim o de não entender nadinha do que vinha nos livros e do que o mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, �nha ladineza e entendimento. Na rua e na escola — nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo. Já sabia ajuntar as sílabas e ler por cima toda coisa, mas descrencei e perdi a influência de ir à escola, porque diante dos escritos que o mestre me passava e das lições marcadas nos livros, fiquei sendo um quarta-feira de marca maior. Alívio bom era quando chegava em casa. BERNARDES, C. Rememórias dois. Goiânia: Leal, 1969). O narrador relata suas experiências na primeira escola que frequentou e u�liza construções linguís�cas próprias de determinada região, constatadas pelo a) registro de palavras como “estranheza” e “cegava”. b) emprego de regência não padrão em “chegar em casa”. c) uso de dupla negação em “não entender nadinha”. d) emprego de palavras como “descrencei” e “ladineza”. e) uso do substan�vo “bichos” para retomar “pessoas”. IT0607 - (Enem PPL) 62@professorferretto @prof_ferretto A tecnologia está, defini�vamente, presente na vida co�diana. Seja para consultar informações, conversar com amigos e familiares ou apenas entreter, a internet e os celulares não saem das mãos e mentes das pessoas. Por esse mo�vo, especialistas alertam: o uso excessivo dessas ferramentas pode viciar. O problema, dizem os especialistas, é o usuário conseguir diferenciar a dependência do uso considerado normal. Hoje, a internet e os celulares sãoferramentas profissionais e de estudo. MATSUURA, S. O Globo, 10 jun. 2013 (adaptado). O desenvolvimento da sociedade está relacionado ao avanço das tecnologias, que estabelecem novos padrões de comportamento. De acordo com o texto, o alerta dos especialistas deve-se à a) insegurança do usuário, em razão do grande número de pessoas conectadas às redes sociais. b) a de credibilidade das informações transmi�das pelos meios de comunicação de massa. c) comprovação por pesquisas de que os danos ao cérebro são muito maiores do que se pode imaginar. d) subordinação das pessoas aos recursos oferecidos pelas novas tecnologias, a ponto de prejudicar suas vidas. e) possibilidade de as pessoas se isolarem socialmente, em razão do uso das novas tecnologias de comunicação. IT0608 - (Enem PPL) Doutor dos sen�mentos Veja quem é e o que pensa o português António Damásio, um dos maiores nomes da neurociência atual, sempre em busca de desvendar os mistérios do cérebro, das emoções e da consciência. Ele é baixo, usa óculos, tem cabelos brancos penteados para trás e costuma ves�r terno e gravata. A surpresa vem quando começa a falar. António Damásio não confirma em nada o clichê que se tem de cien�sta. Preocupado em ser o mais didá�co possível, tenta, pacientemente, com certa graça e até ironia, sempre que cabível, traduzir para os leigos estudos complexos sobre o cérebro. Português, Damásio é um dos principais expoentes da neurociência atual. Diferentemente de outros neurocien�stas, que acham que apenas a ciência tem respostas à compreensão da mente, Damásio considera que muitas ideias não provêm necessariamente daí. Para ele, um substrato imprescindível para entender a mente, a consciência, os sen�mentos e as emoções advém da vida intui�va, ar�s�ca e intelectual. Fora dos meios cien�ficos, o nome de Damásio começou a ser celebrado na década de 1990, quando lançou seu primeiro livro, uma obra que fala de emoção, razão e do cérebro humano. TREFAUT, M. P Disponível em: h�p://revistaplaneta.terra.com.br. Acesso em: 2 set. 2014 (adaptado). Na organização do texto, a sequência que atende à função sociocomunica�va de apresentar obje�vamente o cien�sta António Damásio é a a) descri�va, pois delineia um perfil do professor. b) injun�va, pois faz um convite à leitura de sua obra. c) argumenta�va, pois defende o seu comportamento incomum. d) narra�va, pois são contados fatos relevantes ocorridos em sua vida. e) exposi�va, pois traz as impressões da autora a respeito de seu trabalho. IT0616 - (Enem PPL) Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu. Mas uma mosca fez um ângulo reto no ar, depois outro, além disso, os seis anos são uma idade de muitas coisas pela primeira vez, mais do que uma por dia e, por isso, logo depois, arribou. Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte. Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra. O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra. Se estava ocupado a contar uma história a um guarda-chuva, não queria ser interrompido. Às vezes, a mãe escolhia os piores momentos para chamá-lo, ele podia estar a contemplar um segredo, por isso, assustava-se e, depois, irritava-se. Às vezes, fazia birras no meio da rua. A mãe envergonhava-se e, mais tarde, em casa, dizia que as pessoas da vila nunca �nham visto um menino tão velhaco. O Ilídio ficava enxofrado, mas lembrava-se dos homens que lhe chamavam reguila, diziam ah, reguila de má raça. Com essa memória, recuperava o orgulho. Era reguila, não era velhaco. Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse. PEIXOTO, J. L. Livro. São Paulo: Cia. das Letras, 2012. No texto, observa-se o uso caracterís�co do português de Portugal, marcadamente diferente do uso do português do Brasil. O trecho que confirma essa afirmação é: 63@professorferretto @prof_ferretto a) “Pela primeira vez na vida teve pena de haver tantos assuntos no mundo que não compreendia e esmoreceu.” b) “Os assuntos que não compreendia eram uma espécie de tontura, mas o Ilídio era forte.” c) “Essa certeza dava-lhe forças para protestar mais, para gritar até, se lhe apetecesse.”. d) “Se calhar estava a falar de tratar da cabra: nunca esqueças de tratar da cabra.”. e) “O Ilídio não gostava que a mãe o mandasse tratar da cabra.”. IT0618 - (Enem PPL) A inteligência está na rede Pergunta: Há tecnologias que melhoram a vida humana, como a invenção do calendário, e outras que revolucionam a história humana, como a invenção da roda. A internet, o iPad, o Facebook, o Google são tecnologias que pertencem a que categoria? Resposta: À das que revolucionam a história. O que está acontecendo no mundo de hoje é semelhante ao que se passou com a sociedade agrária depois da prensa móvel de Gutenberg. Antes, o conhecimento estava concentrado em oligopólios. A invenção de Gutenberg começou a democra�zar o conhecimento, e as ins�tuições do feudalismo entraram num processo de atrofia. A novidade afetou a Igreja Católica, as monarquias, os poderes coloniais e, com o passar do tempo, resultou nas revoluções na América La�na, nos Estados Unidos, na França. Resultou na democracia parlamentar, na reforma protestante, na criação das universidades, do próprio capitalismo. Mar�nho Lutero chamou a prensa móvel de “a mais alta graça de Deus”. Agora, mais uma vez, o gênio da tecnologia saiu da garrafa. Com a prensa móvel, ganhamos acesso à palavra escrita. Com a internet, cada um de nós pode ser seu próprio editor. A imprensa nos deu acesso ao conhecimento que já havia sido produzido e estava registrado. A internet nos dá acesso ao conhecimento con�do no cérebro de outras pessoas em qualquer parte do mundo. Isso é uma revolução. E, tal como aconteceu no passado, está fazendo com que nossas ins�tuições se tornem obsoletas. TAPSCOTT, D. Entrevista concedida a Augusto Nunes. Veja, 21 abr. 2011 (adaptado). Segundo o pesquisador entrevistado, a internet revolucionou a história da mesma forma que a prensa móvel de Gutenberg revolucionou o mundo no século XV. De acordo com o texto, as duas invenções, de maneira similar, provocaram o(a) a) ocorrência de revoluções em busca por governos mais democrá�cos. b) divulgação do conhecimento produzido em papel nas diversas ins�tuições. c) organização das sociedades a favor do acesso livre à educação e às universidades. d) comércio do conhecimento produzido e registrado em qualquer parte do mundo. e) democra�zação do conhecimento pela divulgação de ideias por meio de publicações. IT0623 - (Enem PPL) Ao longo dos anos 1980, um canal espor�vo de televisão fracassou em implantar o basquete como esporte mundial, e uma empresa de materiais espor�vos teve de lidar, fora do seu programa, com um esporte que lhe era estranho. Correndo atrás do prejuízo, ambas corrigiram a rota e vieram a fazer da incorporação do futebol a seu programa um obje�vo estratégico alcançado com sucesso. O ajuste do interesse econômico à realidade cultural, no entanto, não deixa de dizer algo sobre ela: é significa�vo que o mais mundial dos esportes não faça sen�do para os Estados Unidos, e que os esportes que fazem mais sen�do para os Estados Unidos estejam longe de fazer sen�do para o mundo. O futebol ofereceu uma curiosa e nada desprezível contraparte simbólica à hegemonia do imaginário norte-americano. WISNIK, J. M. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2008 (adaptado). De acordo com o texto, em décadas passadas, a dificuldade das empresas norte-americanas indica a influência de um viés cultural e econômico na a) popularização do futebol no país frente à concorrência com o basquete. b) conquista da alta lucra�vidade por meio do futebol no cenário norte-americano. c) implantação do basquete como esporte mundial frente à força cultural do futebol. d) importância dada por empresas espor�vas ao futebol, similar àquela dada ao basquete. e) tenta�va de fazer com que o futeboltransmi�do pela TV seja consumido por sua população. IT0684 - (Enem PPL) O veneno do bem Imagine que você cortou o rosto e, em vez de dar pontos, o seu médico passa uma supercola feita de sangue de boi e veneno de cascavel. Isso pode mesmo acontecer. Mas não se assuste. A história moderna das serpentes não tem nada a ver com o medo ancestral que 64@professorferretto @prof_ferretto inspiram. Para a ciência, elas guardam produtos u�líssimos nas glândulas letais. O mais recente é uma cola de pele genuinamente brasileira, que, segundo os testes já feitos, dá uma cicatrização perfeita. A descoberta pertence à equipe do professor Benedito Barraviera, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. E não é a primeira feita no Brasil. Nos anos 1960, o médico Sérgio Ferreira, atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, descobriu na jararaca uma molécula que em 1977 virou remédio contra a hipertensão. Disponível em: www.super.abril.com.br. Acesso em: 2 mar. 2012 (fragmento). Nos diferentes textos, pode-se inferir, entre outras informações, quais são os obje�vos de seu produtor e quem é seu público-alvo. No trecho, para aproximar-se do interlocutor, o autor a) emprega uma linguagem técnica de domínio do leitor. b) enfa�za informações importantes para a vida do leitor. c) introduz o tema antecipando possíveis reações do leitor. d) explora um tema sobre o qual o leitor tem reconhecido interesse. e) apresenta ao leitor, de forma minuciosa, a descoberta dos médicos. IT0690 - (Enem PPL) mas verdadeira, a constatação de Jairo Marques — colunista que tem um talento raro — em seu texto “E a mãe ficou velhinha” (“Co�diano”, ontem). Aqueles que percebem que a mãe envelheceu sempre têm a�tudes diversas. Ou não a procuram mais, porque essa é uma forma de negar que um dia perderão o amparo materno, ou resolvem estar ao lado dela o maior tempo possível, pois têm medo de perdê-la sem ter retribuído plenamente o amor que receberam. Leonor Souza (São Paulo, SP) — Painel do Leitor. Folha de S. Paulo, 29 fev. 2012. Os gêneros textuais desempenham uma função social específica, em determinadas situações de uso da língua, em que os envolvidos na interação verbal têm um obje�vo comunica�vo. Considerando as caracterís�cas do gênero, a análise do texto Mães revela que sua função é a) ensinar sobre os cuidados que se deve ter com as mães, especialmente na velhice. b) influenciar o ânimo das pessoas, levando-as a querer agir segundo um modelo sugerido. c) informar sobre os idosos e sobre seus sen�mentos e necessidades. d) avaliar matéria publicada em edição anterior de jornal ou de revista. e) apresentar nova publicação, visando divulgá-la para leitores de jornal. IT0697 - (Enem PPL) Você se preocupa com sua família, com seu trabalho e com sua casa. E com você? A mulher conquistou um espaço de destaque no ambiente profissional, além de cuidar da casa e do bem- estar da família. Acompanhada por essa mudança, também veio uma nova vida, com an�gos hábitos �picamente masculinos, como o estresse, a falta de tempo para se cuidar, o tabagismo e a maior incidência de obesidade e depressão. Isso aumentou muito os casos de infarto e doenças cardiovasculares. Elas já respondem por 30% do número total dos casos, que matam seis vezes mais do que o câncer de mama. Cuide-se. Preocupe-se com sua saúde. Visite e incen�ve quem você gosta a visitar um cardiologista. Cláudia, ano 52, n. 2, fev. 2013 (adaptado). Esse texto, publicado em uma revista, inicialmente aponta modificações ocorridas na sociedade e, em seguida, a) descreve as diferentes a�vidades das mulheres hoje em dia. b) es�mula as leitoras a buscar sua realização na vida profissional. c) alerta as mulheres para a possibilidade de problemas cardíacos. d) informa as leitoras sobre mortes por câncer de mama e por infarto. e) valoriza as mulheres preocupadas com o bem-estar da família. IT0700 - (Enem PPL) A internet amplia o que queremos e desejamos. Pessoas alienadas se alienam mais na internet. Pessoas interessantes tornam a comunicação com a internet mais interessante. Pessoas abertas u�lizam a internet para promover mais interação e compar�lhamento. Pessoas individualistas se fecham mais ainda nos ambientes digitais. Pessoas que têm dificuldades de relacionamento 65@professorferretto @prof_ferretto na vida real muitas vezes procuram mil formas de fuga para o virtual. Aproveitaremos melhor as possibilidades da internet, se equilibrarmos a qualidade das interações presenciais — na vida pessoal, profissional, emocional — com as interações digitais correspondentes. MORAN, J. M. Disponível em: www.eca.usp.br. Acesso em: 31 jul. 2012 (adaptado). O texto expressa um posicionamento a respeito do uso da internet e suas repercussões na vida co�diana. Na opinião do autor, esse sistema de informação e comunicação a) aumenta o número de pessoas alienadas. b) resolve problemas de relacionamento. c) soluciona a questão do individualismo. d) equilibra as interações presenciais. e) potencializa as caracterís�cas das pessoas. IT0702 - (Enem PPL) Há o hipotrélico. O termo é novo, de impensada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante imprizido; ou talvez, vice- dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falta de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. ROSA, G. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 (fragmento). Nesse trecho de uma obra de Guimarães Rosa, depreende-se a predominância de uma das funções da linguagem, iden�ficada como a) metalinguís�ca, pois o trecho tem como propósito essencial usar a língua portuguesa para explicar a própria língua, por isso a u�lização de vários sinônimos e definições. b) referencial, pois o trecho tem como principal obje�vo discorrer sobre um fato que não diz respeito ao escritor ou ao leitor, por isso o predomínio da terceira pessoa. c) fá�ca, pois o trecho apresenta clara tenta�va de estabelecimento de conexão com o leitor, por isso o emprego dos termos “sabe-se lá” e “tome-se hipotrélico”. d) poé�ca, pois o trecho trata da criação de palavras novas, necessária para textos em prosa, por isso o emprego de “hipotrélico”. e) expressiva, pois o trecho tem como meta mostrar a subje�vidade do autor, por isso o uso do advérbio de dúvida “talvez”. IT0703 - (Enem PPL) Eu vô transmi� po sinhô logo uma passage muito importante, qu’ eu iscutei um velho de nome Ricardo Caetano Alves, que era neto do propietário da Fazenda do Buraca. O pai dele, ele contava que o pai dele assis�u uma cena muito importante aonde ele tava, do Jacarandá, o chefe dos iscravo do Joaquim de Paula, com o chefe dos iscravo do Vidigal, que chamava, era tratado Pai Urubu. O Jacarandá era tratado Jacarandá purque ele era um negro mais vermelho, tá intendeno com’ é que é, né? Intão é uma imitância de cerno de Jacarandá, intão eles apilidaro ele de Pai Jacarandá. Agora, o Pai Urubu, diz que era o mais preto de todos os iscravo que era cunhicido nessa época. Intão ele ficô com o nome Pai Urubu. É quem dirigia, de toda confiança dos sinhores. Intão os sinhores cunhiciam eles como “pai”: Pai Urubu, Pai Jacarandá, Pai Francisco, que é o chefe da Fazenda das Abóbra, Pai Dumingo, que era da Fazenda do Buraca. SOUZA, J. Negros pelo vale. Belo Horizonte: Fale-UFMG, 2009. O texto é uma transcrição da narra�va oral contada por Pedro Braga, an�go morador do povoado Vau, de Diaman�na (MG). Com base no registro da fala do narrador, entende-se que seu relato a) perpetua a memória e os saberes dos antepassados. b) constrói uma voz dissonante da iden�dade nacional. c) demonstra uma visão distanciada da cultura negra. d) revela uma visão unilateral dos fazendeiros. e) transmite pouca experiênciae sabedoria. IT0706 - (Enem PPL) 66@professorferretto @prof_ferretto Senhora — Mãe, noooosssa! Esse seu cabelo novo ficou lindo! Parece que você é, �po, mais jovem! — Jura, minha filha? Obrigada! — Mas aí você vira de frente e aí a gente vê que, �po, não é, né? — Coisa linda da mamãe! Esse diálogo é real. Claro que achei graça, mas o fato de envelhecer já não é mais segredo para ninguém. Um belo dia, a vendedora da loja te pergunta: “A senhora quer pagar como?” Senhora? Como assim? Eu sempre fui a Marcinha! Agora eu sou a dona Márcia! Sim, o porteiro, o motorista de táxi, o jornaleiro, o garçom, o mundo inteiro resolveu ter um respeito comigo que eu não pedi! CABRITA, M. Disponível em: www.istoe.com.br. Acesso em: 11 ago. 2012 (fragmento). A exploração de registros linguís�cos é importante estratégia para o estabelecimento do efeito de sen�do pretendido em determinados textos. No texto, o recurso a diferentes registros indica a) mudança na representação social do locutor. b) reflexão sobre a iden�dade profissional da mãe. c) referência ao tradicionalismo linguís�co da autora do texto. d) elogio às situações vivenciadas pela personagem mãe. e) compreensão do processo de envelhecimento como algo prazeroso. IT0650 - (Enem PPL) O mundo das grandes inovações tecnológicas, dos avanços das pesquisas médicas e que já presenciou o envio de homens ao espaço é o mesmo lugar onde 1 bilhão de pessoas dormem e acordam com fome. A desnutrição ocupa o primeiro lugar no ranking dos 10 maiores riscos à saúde e mata mais do que a aids, a malária e a tuberculose combinadas. O equivalente às populações da Europa e da América do Norte, juntas, está de barriga vazia. E um futuro famélico aguarda a raça humana. Em 2050, apenas por razões ligadas às mudanças climá�cas, o número de pessoas sem comida no prato vai aumentar em até 20%. Disponível em: www.correiobraziliense.com.br. Acesso em: 22 jan. 2012. Considerando a natureza do tema, a forma como está apresentado e o meio pelo qual é veiculado o texto, percebe-se que seu principal obje�vo é a) divulgar dados esta�s�cos recentes sobre a fome no mundo e sobre as inovações tecnológicas. b) esclarecer questões cien�ficas acerca dos danos causados pela fome e pela aids nos indivíduos. c) demonstrar que a fome, juntamente com as doenças endêmicas, também é um problema de saúde pública. d) convidar o leitor a engajar-se em alguma ação posi�va contra a fome, a par�r da divulgação de dados alarmantes. e) alertar sobre o problema da fome, apresentando-o como um contraste no mundo de tantos recursos tecnológicos. IT0661 - (Enem PPL) Mudança linguís�ca Ataliba de Cas�lho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte da metamorfose natural da língua. — Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu com “você”, que se tornou o pronome átono “cê”. Agora, o interneteiro pode ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitos. Por que o acento gráfico é tão importante assim para a escrita? Já �vemos no Brasil momentos até mais exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda palavra é contextualizada pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro mostra um caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, es�mule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos. Para Cas�lho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver? Disponível em: h�p://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado). Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar pra ver?” tem por obje�vo 67@professorferretto @prof_ferretto a) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias. b) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencializadora de dificuldades de escrita. c) evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita. d) explicar que se trata de um erro linguís�co por destoar do padrão formal apresentado ao longo do texto. e) exemplificar dificuldades de escrita dos interneteiros que desconhecem as estruturas da norma padrão. IT0663 - (Enem PPL) Telecommu�ng redefine o tradicional entendimento sobre o espaço de trabalho. Atualmente, as organizações estão se focando em novos valores, tais como, inovações, sa�sfação, responsabilidades, resultados e ambiente de trabalho familiar. A alterna�va do telecommu�ng complementa esses princípios e oferece flexibilidade aos patrões e empregados. É um conceito novo que, a cada dia, ganha mais força ao redor do mundo. Grandes empresas escolheram o trabalho de telecommu�ng pelas facilidades que ele gera para o empregador. A implantação do telecommu�ng determina regras para se trabalhar em casa em dias específicos da semana e, nos demais dias, trabalhar no escritório. O local de trabalho pode ser a casa ou, temporariamente, por mo�vo de viagem, outros escritórios. FERREIRA JR., J.C. Disponível em: www.ccuec.unicamp.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado). Com o advento das novas tecnologias, a sociedade tem vivenciado mudanças de paradigmas em vários setores. Nesse sen�do, o telecommu�ng traz novidades para o mundo do trabalho porque proporciona prioritariamente o(a) a) aumento da produ�vidade do empregado. b) equilíbrio entre vida pessoal e profissional do trabalhador. c) fortalecimento da relação entre empregador e empregado. d) par�cipação do profissional nas decisões da organização. e) maleabilidade dos locais de atuação do profissional da empresa. IT0664 - (Enem PPL) Perder a tramontana A expressão ideal para falar de desorientados e outras palavras de perder a cabeça É perder o norte, desorientar-se. Ao pé da letra, “perder a tramontana” significa deixar de ver a estrela polar, em italiano stella tramontana, situada do outro lado dos montes, que guiava os marinheiros an�gos em suas viagens desbravadoras. Deixar de ver a tramontana era sinônimo de desorientação. Sim, porque, para eles, valia mais o céu estrelado que a terra. O Sul era região desconhecida, imprevista; já o Norte �nha como referência no firmamento um ponto luminoso conhecido como a estrela Polar, uma espécie de farol para os navegantes do Mediterrâneo, sobretudo os genoveses e os venezianos. Na linguagem deles, ela ficava transmontes, para além dos montes, os Alpes. Perdê-la de vista era perder a tramontana, perder o Norte. No mundo de hoje, sujeito a tantas pressões, muita gente não resiste a elas e entra em parafuso. Além de perder as estribeiras, perde a tramontana... COTRIM, M. Língua Portuguesa, n. 15, jan. 2007. Nesse texto, o autor remonta às origens da expressão “perder a tramontana”. Ao tratar do significado dessa expressão, u�lizando a função referencial da linguagem, o autor busca a) apresentar seus indícios subje�vos. b) convencer o leitor a u�lizá-la. c) expor dados reais de seu emprego. d) explorar sua dimensão esté�ca. e) cri�car sua origem conceitual. IT0675 - (Enem PPL) O primeiro contato dos suruís com o homem branco foi em 1969. A população indígena foi dizimada por doenças e matanças, mas, recentemente, voltou a crescer. Soa contraditório, mas a mesma modernidade que quase dizimou os suruís nos tempos do primeiro contato promete salvar a cultura e preservar o território desse povo. Em 2007, o líder Almir Suruí, de 37 anos, fechou uma parceria inédita e levou a tecnologia às tribos. Os índios passaram a valorizar a história dos anciãos. E a resguardar, em vídeos e fotos on-line, as tradições da aldeia. Ainda se valeram de smartphones e GPS para delimitar suas terras e iden�ficar os desmatamentos ilegais. RIBEIRO, A. Não temos o direito de ficar isolados. Época, n. 718, 20 fev. 2012 (adaptado). Considerando-se as caracterís�cashistóricas da relação entre índios e não índios, a suposta contradição observada na relação entre suruís e recursos da modernidade jus�fica-se porque os índios 68@professorferretto @prof_ferretto a) aderiram à tecnologia atual como forma de assimilar a cultura do homem branco. b) fizeram uso do GPS para iden�ficar áreas propícias a novas plantações. c) usaram recursos tecnológicos para registrar a cultura do seu povo. d) fecharam parceria para denunciar as vidas perdidas por doenças e matanças. e) resguardaram as tradições da aldeia à custa do isolamento provocado pela tecnologia moderna. IT0705 - (Enem PPL) Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quan�dade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu ins�tuir um prêmio em dinheiro para o comerciante que �vesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Sa�sfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse: — Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!. O caráter polí�co do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: h�p://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012. A variação linguís�ca afeta o processo de produção dos sen�dos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação obje�va a) evidenciar a importância de marcas linguís�cas valorizadoras da linguagem coloquial. b) demonstrar incômodo com a variedade caracterís�ca de pessoas pouco escolarizadas. c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor. d) cri�car a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos. e) estabelecer uma polí�ca de incen�vo à escrita correta das palavras. IT0716 - (Fuvest) “As sociólogas, filósofas e a�vistas feministas destacaram, com o conceito de ‘reprodução social’, algo que a teoria econômica ocultava: para que haja produção de bens e de serviços é necessário que as pessoas que os produzem sejam, por sua vez, produzidas. O trabalho da reprodução social, portanto, cria e repõe a condição primordial e necessária – a existência de pessoas que trabalham – para que a produção econômica possa con�nuar ocorrendo. Em grande medida, esse trabalho é relegado ao ambiente familiar e às mulheres: cuidado com os filhos, cuidado com doentes e idosos, preparação de alimentos, limpeza e arrumação da casa e outros. O trabalho de reprodução se opõe, socialmente, ao trabalho de produção; este está inserido numa economia organizada com base em empresas – nas fábricas, na agricultura, nos escritórios –, voltado para o mercado e é percebido como merecedor de contrapar�da financeira: o salário. Assim, mesmo quando um trabalho da esfera da reprodução se realiza por meio de uma relação de emprego, se for realizado por mulheres, ele costuma ser mal pago e desfrutar de menor pres�gio.” ARRUZZA, Cinzia; BATTACHARYA, Tithi; FRASER, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019. “A chamada ‘economia do cuidado’ é o conjunto de a�vidades não remuneradas, geralmente exercidas por mulheres, como a limpeza da casa, preparação de alimentos e os cuidados com crianças, idosos e doentes da família. Um pacote que vale 11% do PIB atual (...). Em valores, foram cerca de 634,3 bilhões de reais em 2015 [por exemplo]. (...) Contabilizar o valor dos afazeres domés�cos no PIB do Brasil só se tornou possível a par�r de 2001, quando o IBGE introduziu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) a pergunta referente ao número de horas despendido pela população para executar essas a�vidades.” Disponível em h�ps://www.cartacapital.com.br/. Nos textos apresentados, encontram-se dois conceitos, o de “reprodução social” e o de “economia do cuidado”. De acordo com as definições desses conceitos e com os dados indicados, qual das afirmações a seguir está correta? 69@professorferretto @prof_ferretto a) Os conceitos de reprodução social e de economia do cuidado são contraditórios porque o primeiro se refere a todo trabalho domés�co e o segundo apenas ao trabalho domés�co pago e que é possível contabilizar. b) Ambos os conceitos se referem a um �po de trabalho cuja importância é socialmente reconhecida, fato que pode ser comprovado pela porcentagem expressiva que ele representava do PIB brasileiro no ano de 2015. c) As definições de reprodução social e de economia do cuidado excluem, necessariamente, a possibilidade de que o Estado seja responsável por parte das tarefas envolvidas na reprodução das pessoas. d) A contabilização no PIB dos valores dos afazeres domés�cos no contexto da economia do cuidado abarca apenas uma parte da reprodução social, pois não inclui o trabalho domés�co remunerado e os trabalhos de reprodução executados fora do ambiente domés�co. e) Os dados es�mados sobre a par�cipação das a�vidades domés�cas não remuneradas no PIB do Brasil mostram que a reprodução social acontece apenas quando não há uma relação salarial entre quem executa e quem se beneficia desse �po de trabalho. IT0718 - (Fuvest) Texto I “W. I. Thomas, decano dos sociólogos norte- americanos, formula um teorema básico para as ciências sociais: ‘Se os indivíduos definem as situações como reais, elas são reais em suas consequências’. (...) A primeira parte do teorema cons�tui uma incessante lembrança de que os homens reagem não somente aos traços obje�vos de uma situação, como também, e às vezes principalmente, ao sen�do que a situação tem para eles. E, assim que atribuíram algum sen�do à situação, sua conduta consequente, e algumas das consequências dessa conduta, são determinadas pelo sen�do atribuído. (...) A profecia que se cumpre por si mesma é, inicialmente, uma definição falsa da situação que provoca uma nova conduta, a qual, por sua vez, converte em verdadeiro o conceito originalmente falso.”. MERTON, Robert. Sociologia: Teoria e Estrutura. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1970. p.515-517. Texto II “Depois de alguns anos inseridos nesta lógica de abuso e privações de dis�ntos �pos, o detento é novamente colocado em liberdade. (...) Conseguir um trabalho não é tão fácil como parece, já que mesmo as a�vidades menos qualificadas e manuais (como as relacionadas a limpeza, serviços gerais, construção civil, dentre outras) demandam ‘atestado de bons antecedentes e a marca da passagem pela cadeia pode significar um indesejável pertencimento ao mundo do crime’ (Ramalho, 2018, p. 91). (...) O fator [condicionante da reincidência] mais citado, presente em 44% dos textos [sobre o tema], foi a baixa qualificação e as poucas oportunidades, sendo essa a explicação padrão de boa parte da literatura para a reincidência.” RIBEIRO, Ludmila; OLIVEIRA, Valéria. Reincidência e reentrada na prisão no Brasil: o que os estudos dizem sobre os fatores que contribuem para essa trajetória. Ar�go Estratégico 56. São Paulo: Ins�tuto Igarapé, 2022. p.10-14. Aplicando a noção proposta por Robert Merton, no texto I, ao cenário descrito no texto II, qual definição da situação das pessoas egressas do sistema prisional pelos possíveis empregadores no mercado de trabalho tornaria a reincidência criminal uma “profecia que se cumpre por si mesma”? a) Pessoas egressas do sistema prisional têm dificuldade de conseguir emprego no mercado de trabalho porque são es�gma�zadas. b) Pessoas egressas do sistema prisional têm a mesma chance de conseguir empregos que o restante da população, razão pela qual não devem ser privilegiadas pelos empregadores. c) Pessoas egressas do sistema prisional já foram condenadas e cumpriram pena pelo crime come�do e merecem a oportunidade de trabalhar para recomeçarem a vida. d) Pessoas egressas do sistema prisional voltarão a cometer crimes e, por isso, não devem ser contratadas para trabalhar. e) Pessoas egressas do sistema prisional conseguem somente trabalhosinformais e de baixa remuneração por terem pouca qualificação e dificuldades para conseguir seus documentos. IT0719 - (Fuvest) Luc Boltanski e Ève Chiapello demonstram com clareza e sagacidade a capacidade antropofágica do capitalismo financeiro que “engole” a linguagem do protesto e da libertação para transformá-la e u�lizá-la para legi�mar a dominação social e polí�ca a par�r do próprio mercado. Na dimensão do mundo do trabalho, por exemplo, todo um novo vocabulário teve que ser inventado para escamotear as novas transformações e melhor oprimir o trabalhador. Com essa linguagem aparentemente libertadora, passa-se a impressão de que o ambiente de trabalho melhorou e o trabalhador se emancipou. 70@professorferretto @prof_ferretto Assim houve um esforço dirigido para transformar o trabalhador em "colaborador", para eufemizar e esconder a consciência de sua superexploração; tenta-se também exaltar os supostos valores de liderança para possibilitar que, a par�r de agora, o próprio funcionário, não mais o patrão, passe a controlar e vigiar o colega de trabalho. Ou, ainda, há a intenção de difundir a cultura do empreendedorismo, segundo a qual todo mundo pode ser empresário de si mesmo. E, o mais importante, se ele falhar nessa empreitada, a culpa é apenas dele. É necessário sempre culpar individualmente a ví�ma pelo fracasso socialmente construído. SOUZA, Jessé. Como o racismo criou o Brasil. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021. De acordo com o texto, o uso de “colaborador” no lugar de “trabalhador”, no campo das relações de trabalho, indica a) o apagamento da linguagem de reivindicação e a falsa ideia de um trabalhador fortalecido. b) a valorização do trabalhador vigiado pelo Estado nas tradicionais relações emprega�cias. c) a difusão da cultura da meritocracia, que fortalece as relações do trabalhador com o Estado. d) a consciência do patrão que rejeita a cultura do neoliberalismo. e) o impedimento de o trabalhador inves�r na prá�ca do empreendedorismo. IT0728 - (Fuvest) Mito, na acepção aqui empregada, não significa men�ra, falsidade ou mis�ficação. Tomo de emprés�mo a formulação de Hans Blumenberg do mito polí�co como um processo con�nuo de trabalho de uma narra�va que responde a uma necessidade prá�ca de uma sociedade em determinado período. Narra�va simbólica que é, o mito polí�co coloca em suspenso o problema da verdade. Seu discurso não pretende ter validade factual, mas também não pode ser percebido como men�ra (do contrário, não seria mito). O mito polí�co confere um sen�do às circunstâncias que envolvem os indivíduos: ao fazê-los ver sua condição presente como parte de uma história em curso, ajuda a compreender e suportar o mundo em que vivem. ENGELKE, Antonio. O anjo redentor. Piauí, ago. 2018, ed. 143, p. 24. De acordo com o texto, o “mito polí�co” a) prejudica o entendimento do mundo real. b) necessita da abstração do tempo. c) depende da verificação da verdade. d) é uma fantasia desvinculada da realidade. e) atende a situações concretas. IT0729 - (Fuvest) Seria di�cil encontrar hoje um crí�co literário respeitável que gostasse de ser apanhado defendendo como uma ideia a velha an�tese es�lo e conteúdo. A esse respeito prevalece um religioso consenso. Todos estão prontos a reconhecer que es�lo e conteúdo são indissolúveis, que o es�lo fortemente individual de cada escritor importante é um elemento orgânico de sua obra e jamais algo meramente “decora�vo”. Na prá�ca da crí�ca, entretanto, a velha an�tese persiste pra�camente inexpugnada. Susan Sontag. “Do es�lo”. Contra a interpretação. Consideradas no contexto, as expressões “religioso consenso”, “orgânico” e “inexpugnada”, sublinhadas no texto, podem ser subs�tuídas, sem alteração de sen�do, respec�vamente, por: a) mís�co entendimento; biológico; invencível. b) piedoso acordo; puro; inesgotável. c) secular conformidade; natural; incompreensível. d) fervorosa unanimidade; visceral; insuperada. e) espiritual ajuste; vital; indomada. IT0731 - (Fuvest) I. Surge então a pergunta: se a fantasia funciona como realidade; se não conseguimos agir senão mu�lando o nosso eu; se o que há de mais profundo em nós é no fim de contas a opinião dos outros; se estamos condenados a não a�ngir o que nos parece realmente valioso –, qual a diferença entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado? O autor passou a vida a ilustrar esta pergunta, que é modulada de maneira exemplar no primeiro e mais conhecido dos seus grandes romances de maturidade. II. É preciso, todavia, lembrar que essa ligação com o problema geográfico e social só adquire significado pleno, isto é, só atua sobre o leitor, graças à elevada qualidade ar�s�ca do livro. O seu autor soube transpor o ritmo mesológico para a própria estrutura da narra�va, mobilizando recursos que a fazem parecer movida pela mesma fatalidade sem saída. (...) Da consciência mor�ça da personagem podem emergir os transes periódicos em que se estorce o homem esmagado pela paisagem e pelos outros homens. 71@professorferretto @prof_ferretto Nos fragmentos I e II, aqui adaptados, o crí�co Antonio Candido avalia duas obras literárias, que são, respec�vamente, a) A Relíquia e Sagarana. b) O Cor�ço e Iracema. c) Sagarana e O Cor�ço. d) Mayombe e Minha Vida de Menina. e) Memórias Póstumas de Brás Cubas e Vidas Secas. IT0733 - (Fuvest) O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabu�caba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera? José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha ma�zada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as �ntas de que ma�za o algodão. José de Alencar. Iracema. Glossário: “ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: �po de palmeira espinhosa. No trecho “outras remexe o uru de palha ma�zada”, a palavra sublinhada expressa ideia de a) concessão. b) finalidade. c) adição. d) tempo. e) consequência. IT0736 - (Fuvest) Uma obra de arte é um desafio; não a explicamos, Ajustamo-nos a ela. Ao interpreta lá, fazemos uso dos nossos próprios obje�vos e esforços, dotamo-la de um significado que tem sua origem nos nossos próprios modos de viver e de pensar. Numa palavra, qualquer gênero de arte que, de fato, nos afete, torna se, deste modo, arte moderna. As obras de arte, porém, são como al�tudes inacessíveis. Não nos dirigimos a elas diretamente, mas contornamo-las. Cada geração as vê sob um ângulo diferente e sob uma nova visão; nem se deve supor que um ponto de vista mais recente é mais eficiente do que um anterior. Cada aspecto surge na sua altura própria, que não pode ser antecipada nem prolongada; e, todavia, o seu significado não está perdido porque o significado que uma obra assume para uma geração posterior é o resultado de uma série completa de interpretações anteriores. Arnold Hauser, Teorias da arte. Adaptado. De acordo com o texto, a compreensão do significado de uma obra de arte pressupõe a) o reconhecimento de seu significado intrínseco. b) a exclusividade do ponto de vista mais recente. c) a consideração de seu caráter imutável. d) o acúmulo de interpretações anteriores. e) a explicação defini�va de seu sen�do. IT0738 - (Fuvest) A adoção do cardápio indígena introduziu nas cozinhas e zonas de serviço das moradas brasileiras equipamentos desconhecidos no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a menção de tal fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado em 1623, fala se num sí�o nas bandas do Ipiranga “com seu alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no dito sí�o” que deveria comprimir nos �pi�s toda a massa proveniente do mandiocaltambém inventariado. Mas a farinha não exigia somente a prensa – pedia, também, raladores, cochos de lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha, no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha. Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc. Traduz corretamente uma relação espacial expressa no texto o que se encontra em: a) A prensa é paralela aos �pi�s. b) A casa de fazer farinha é adjacente aos telheiros. c) As duas camarinhas são transversais à cozinha. d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço. e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do sí�o. IT0740 - (Fuvest) Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique se com afinco e faça com que sua cria�vidade orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar se do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de blocos a serem 72@professorferretto @prof_ferretto transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê lo com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando. Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia. De acordo com o texto, a boa tradução precisa a) evitar a transposição fiel dos conteúdos do texto original. b) desconsiderar as caracterís�cas da linguagem primeira para poder a�ngir a língua de chegada. c) desviar se da norma padrão tanto da língua original quanto da língua de chegada. d) privilegiar a inven�vidade, ainda que em detrimento das peculiaridades do texto original. e) buscar, na língua de chegada, soluções que correspondam ao texto original. IT0741 - (Fuvest) Evidentemente, não se pode esperar que Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique se com afinco e faça com que sua cria�vidade orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar se do texto para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê-lo com boa margem de fidelidade para a língua com a qual está trabalhando. Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia. Tendo em vista que algumas das recomendações do autor, rela�vas à prá�ca da tradução, fogem do senso comum, pode se qualificá-las com o rela�vamente recente: a) dubita�vas. b) contraintui�vas. c) autocomplacentes. d) especula�vas. e) aleatórias. IT0749 - (Fuvest) A ARMA DA PROPAGANDA O governo Médici não se limitou à repressão. Dis�nguiu claramente entre um setor significa�vo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este úl�mo obje�vo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permi�ram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas �nham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta voz, a TV Globo expandiu se até se tornar rede nacional e alcançar pra�camente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca exis�ra na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a par�r da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970. Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado. A frase que expressa uma ideia con�da no texto é: a) A marchinha “Prá Frente, Brasil” também contribuiu para o processo de neutralização da grande massa da população. b) A repressão no Governo Médici foi dirigida a um setor que, além de minoritário, era também irrelevante no conjunto da sociedade brasileira. c) O tricampeonato de futebol conquistado pelo Brasil em 1970 ajudou a mascarar inúmeras dificuldades econômicas daquele período. d) Uma caracterís�ca do governo Médici foi ter conseguido levar a televisão à maioria dos lares brasileiros. e) A TV Globo foi criada para ser um veículo de divulgação das realizações dos governos militares. IT0750 - (Fuvest) A ARMA DA PROPAGANDA O governo Médici não se limitou à repressão. Dis�nguiu claramente entre um setor significa�vo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este úl�mo obje�vo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permi�ram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 73@professorferretto @prof_ferretto 9,5% das residências urbanas �nham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta voz, a TV Globo expandiu se até se tornar rede nacional e alcançar pra�camente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca exis�ra na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a par�r da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970. Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado. A estratégia de dominação empregada pelo governo Médici, tal como descrita no texto, assemelha-se, sobretudo, à seguinte recomendação feita ao príncipe ou ao governante por um célebre pensador da polí�ca: a) “Deve o príncipe fazer se temer, de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado”. b) “O mal que se �ver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (...)”. c) “Não se pode deixar ao tempo o encargo de resolver todas as coisas, pois o tempo tudo leva adiante e pode transformar o bem em mal e o mal em bem”. d) “Engana se quem acredita que novos bene�cios podem fazer as grandes personagens esquecerem as an�gas injúrias (...)”. e) “Deve o príncipe, sobretudo, não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio”. IT0754 - (Fuvest) Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos �nham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos la�fundiários do sertão. Eles �nham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros,os ogãs, as filhas e pais de santo cantam: Ele é mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cân�co de despedida: Ora, adeus, ó meus filhinhos, Qu’eu vou e torno a vortá... E numa noite que os atabaques ba�am nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. Jorge Amado, Capitães da Areia. *lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas a�ngidas por determinadas doenças. As informações con�das no texto permitem concluir corretamente que a doença de que nele se fala caracteriza se como a) molés�a contagiosa, de caráter epidêmico, causada por vírus. b) endemia de zonas tropicais, causada por vírus, prevalente no período chuvoso do ano. c) surto infeccioso de e�ologia bacteriana, decorrente de más condições sanitárias. d) infecção bacteriana que, em regra, apresenta se simultaneamente sob uma forma branda e uma grave. e) enfermidade endêmica que ocorre anualmente e reflui de modo espontâneo. IT0756 - (Fuvest) – Pois, Grilo, agora realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme. O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa: – Sua Excelência brotou! Profundo sempre o digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, a�rara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais* em redor o bendiziam. Eça de Queirós, A cidade e as serras. *casal: pequena propriedade rús�ca; pequeno povoado. O teor das imagens empregadas no texto para caracterizar a mudança pela qual passara Jacinto indica que a causa principal dessa transformação foi 74@professorferretto @prof_ferretto a) o retorno a sua terra natal. b) a conversão religiosa. c) o trabalho manual na lavoura. d) a mudança da cidade para o campo. e) o banimento das inovações tecnológicas. IT0759 - (Fuvest) Se o açúcar do Brasil o tem dado a conhecer a todos os reinos e províncias da Europa, o tabaco o tem feito muito afamado em todas as quatro partes do mundo, em as quais hoje tanto se deseja e com tantas diligências e por qualquer via se procura. Há pouco mais de cem anos que esta folha se começou a plantar e beneficiar na Bahia [...] e, desta sorte, uma folha antes desprezada e quase desconhecida tem dado e dá atualmente grandes cabedais aos moradores do Brasil e incríveis emolumentos aos Erários dos príncipes. André João Antonil. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. São Paulo: EDUSP, 2007. Adaptado. O texto acima, escrito por um padre italiano em 1711, revela que a) o ciclo econômico do tabaco, que foi anterior ao do ouro, sucedeu o da cana. b) todo o rendimento do tabaco, a exemplo do que ocorria com outros produtos, era direcionado à metrópole. c) não se pode exagerar quanto à lucra�vidade propiciada pela cana. d) os europeus, naquele ano, já conheciam plenamente o potencial econômico de suas colônias americanas. e) a economia colonial foi marcada pela simultaneidade de produtos, cuja lucra�vidade se relacionava com sua inserção em mercados internacionais. IT0762 - (Fuvest) Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos. Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000. Traduz uma ideia presente no texto a seguinte afirmação: a) O efeito de um livro sobre o leitor é condicionado pela quan�dade de informações que o texto veicula. b) A recepção de um livro pode ser influenciada pela situação vivida pelo leitor. c) A verdadeira erudição não dispensa a leitura dos bons manuais escolares. d) A leitura de um livro a qual tem finalidades meramente prá�cas prejudica a assimilação do conhecimento. e) O reconhecimento do valor de um livro depende, primordialmente, dos sen�mentos pessoais do leitor. IT0763 - (Fuvest) Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos. Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”. Teoria e debate. Ed. 45, 01/07/2000. Cons�tui recurso es�lís�co do texto I. a combinação da variedade culta da língua escrita, que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral; II. a repe�ção de estruturas sintá�cas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didá�ca; III. o emprego dominante do jargão cien�fico, associado à exploração intensiva da intertextualidade. Está correto apenas o que se indica em a) I. b) II. c) I e II. d) III. e) I e III. IT0767 - (Fuvest) E Jerônimo via e escutava, sen�ndo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das 75@professorferretto @prof_ferretto baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapo� mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Aluísio Azevedo, O cor�ço. Para entender as impressões de Jerônimo diante da natureza brasileira, é preciso ter como pressuposto que há a) um contraste entre a experiência prévia da personagem e sua vivência da diversidade biológica do país em que agora se encontra. b) uma con�nuidade na experiência de vida da personagem, posto que a diversidade biológica aqui e em seu local de origem são muito semelhantes. c) uma ampliação no universo de conhecimento da personagem, que já �nha vivência de diversidade biológica semelhante, mas a expande aqui. d) um equívoco na forma como a personagem percebe e vivencia a diversidade biológica local, que não comporta os organismos que ele julga ver. e) um estreitamento na experiência de vida do personagem, que vem de um local com maior diversidade de ambientes e de organismos. IT0682 - (Enem PPL) Saiba impedir que os cavalos de troia abram a guarda de seu computador A lenda da Guerra de Troia conta que gregos conseguiram entrar na cidade camuflados em um cavalo e, então, abriram as portas da cidade para mais guerreiros entrareme vencerem a batalha. Silencioso, o cavalo de troia é um programa malicioso que abre as portas do computador a um invasor, que pode u�lizar como quiser o privilégio de estar dentro de uma máquina. Esse malware é instalado em um computador de forma camuflada, sempre com o “consen�mento” do usuário. A explicação é que essa praga está dentro de um arquivo que parece ser ú�l, como um programa ou proteção de tela — que, ao ser executado, abre caminho para o cavalo de troia. A intenção da maioria dos cavalos de troia (trojans) não é contaminar arquivos ou hardwares. Atualmente, o obje�vo principal dos cavalos de troia é roubar informações de uma máquina. O programa destrói ou altera dados com intenção maliciosa, causando problemas ao computador ou u�lizando-o para fins criminosos, como enviar spams. A primeira regra para evitar a entrada dos cavalos de troia é: não abra arquivos de procedência duvidosa. Disponível em: h�p://idgnow.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2012 (adaptado). Cavalo de troia é considerado um malware que invade computadores, com intenção maliciosa. Pelas informações apresentadas no texto, depreende-se que a finalidade desse programa é a) roubar informações ou alterar dados de arquivos de procedência duvidosa. b) inserir senhas para enviar spams, através de um rastreamento no computador. c) rastrear e inves�gar dados do computador sem o conhecimento do usuário. d) induzir o usuário a fazer uso criminoso e malicioso de seu computador. e) usurpar dados do computador, mediante sua execução pelo usuário. IT0768 - (Unesp) Leia a crônica de Luís Fernando Veríssimo. A invasão A divisão ciência/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- se ao computador, e a toda a cultura ciberné�ca, como uma forma de ser fiel ao livro e à palavra impressa. Mas o computador não eliminará o papel. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e não apenas porque a cada novidade eletrônica lançada no mercado corresponde um manual de instrução, sem falar numa embalagem de papelão e num embrulho para presente. O computador es�mula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu próprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentação de passar sua obra para o papel é quase irresis�vel. Desconfio que o que salvará o livro será o supérfluo, o que não tem nada a ver com conteúdo ou conveniência. Até que lancem computadores com cheiro sinte�zado, nada subs�tuirá o cheiro de papel e �nta nas suas duas categorias inimitáveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleção de gravações ornamentará uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirável mundo da informá�ca, da ciberné�ca, do virtual e do instantâneo acrescente-se 76@professorferretto @prof_ferretto isso: falta lombada. No fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) De acordo com o cronista, a ideia que se �nha há alguns anos, de redução de consumo de papel em razão do emprego generalizado de computadores, revelou-se a) plausível. b) improcedente. c) comprovável. d) imponderável. e) procedente. IT0769 - (Unesp) Leia a crônica de Luís Fernando Veríssimo. A invasão A divisão ciência/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- se ao computador, e a toda a cultura ciberné�ca, como uma forma de ser fiel ao livro e à palavra impressa. Mas o computador não eliminará o papel. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e não apenas porque a cada novidade eletrônica lançada no mercado corresponde um manual de instrução, sem falar numa embalagem de papelão e num embrulho para presente. O computador es�mula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu próprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentação de passar sua obra para o papel é quase irresis�vel. Desconfio que o que salvará o livro será o supérfluo, o que não tem nada a ver com conteúdo ou conveniência. Até que lancem computadores com cheiro sinte�zado, nada subs�tuirá o cheiro de papel e �nta nas suas duas categorias inimitáveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleção de gravações ornamentará uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirável mundo da informá�ca, da ciberné�ca, do virtual e do instantâneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) Os termos “o uso do papel” e “um manual de instrução” (1º parágrafo) se iden�ficam sinta�camente por exercerem nas respec�vas orações a função de a) objeto direto. b) predica�vo do sujeito. c) objeto indireto. d) complemento nominal. e) sujeito. IT0771 - (Unesp) Leia a crônica de Luís Fernando Veríssimo. A invasão A divisão ciência/humanismo se reflete na maneira como as pessoas, hoje, encaram o computador. Resiste- se ao computador, e a toda a cultura ciberné�ca, como uma forma de ser fiel ao livro e à palavra impressa. Mas o computador não eliminará o papel. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o computador não salvará as florestas. Aumentou o uso do papel em todo o mundo, e não apenas porque a cada novidade eletrônica lançada no mercado corresponde um manual de instrução, sem falar numa embalagem de papelão e num embrulho para presente. O computador es�mula as pessoas a escreverem e imprimirem o que escrevem. Como hoje qualquer um pode ser seu próprio editor, paginador e ilustrador sem largar o mouse, a tentação de passar sua obra para o papel é quase irresis�vel. Desconfio que o que salvará o livro será o supérfluo, o que não tem nada a ver com conteúdo ou conveniência. Até que lancem computadores com cheiro sinte�zado, nada subs�tuirá o cheiro de papel e �nta nas suas duas categorias inimitáveis, livro novo e livro velho. E nenhuma coleção de gravações ornamentará uma sala com o calor e a dignidade de uma estante de livros. A tudo que falta ao admirável mundo da informá�ca, da ciberné�ca, do virtual e do instantâneo acrescente-se isso: falta lombada. No fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores. (O Estado de S.Paulo, 31.05.2015.) Com a frase “No fim, o livro deverá sua sobrevida à decoração de interiores” (2º parágrafo), o cronista sugere que a) o interesse pela leitura, a longo prazo, tenderá a desaparecer. b) o livro se transformará numa an�guidade para colecionar. c) os objetos de decoração serão, aos poucos, subs�tuídos por livros. d) a decoração de interiores garan�rá a sobrevivência do livro. e) a decoração de interiores con�nuará exis�ndo em função dos livros. 77@professorferretto @prof_ferretto IT0772 - (Unesp) Leia um trecho do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990). Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por prá�cas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quan�dade, caracterís�cas, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coerci�vos ou desleais, bem como contra prá�cas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efe�va prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,crise que agora está intensificada pela pandemia e não poderiam re�rar o valor desse imposto de seu já apertado lucro. Livros mais caros também resultam em queda de vendas, que, por sua vez, enfraquece ainda mais editoras e as impede de inves�r 7@professorferretto @prof_ferretto em novas publicações – especialmente aquelas de menor apelo comercial, mas igualmente importantes para a pluralidade de ideias. Já deu para perceber a confusão, não é? Mas, além disso, qual seria o custo de uma sociedade com menos leitores e menos livros? Taís Ilhéu. “Por que taxar os livros pode gerar retrocesso social e econômico no país”. Guia do Estudante. Setembro/2020. Adaptado De acordo com o texto, os eventos sequenciais aos quais alude a expressão “efeito cascata” são: a) livros mais caros, decréscimo de vendas, es�mulo às editoras, supressão de inves�mento em novas publicações. b) aumento do valor do produto final, queda de vendas, encolhimento das editoras, aumento do inves�mento em novas obras. c) livros mais caros, instabilidade nas vendas, enfraquecimento das editoras, expansão das publicações. d) aumento do valor do produto final, contração nas vendas, esgotamento das editoras, falta de inves�mento em novas publicações. e) livros mais caros, equilíbrio nas vendas, diminuição das editoras, carência de inves�mento em novas publicações. IT0291 - (Fuvest) No modelo hegemônico, quase todo o treinamento é reservado para o desenvolvimento muscular, sobrando muito pouco tempo para a mobilidade, a flexibilidade, o treino restaura�vo, o relaxamento e o treinamento cardiovascular. Na teoria, seria algo em torno de 70% para o fortalecimento, 20% para o cárdio e 10% para a flexibilidade e outros. Na prá�ca, muitos alunos direcionam 100% do tempo para o fortalecimento. Como a prá�ca cardiovascular é infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável, essa ordem deveria ser revista. Nuno Cobra Jr. “Fitness não é saúde”. Uol. 06/05/2021. Adaptado. Sem alteração de sen�do, o segundo parágrafo do texto poderia ser reescrito da seguinte maneira: a) Ainda que a prá�ca cardiovascular seja infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, essa ordem deveria ser revista, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável. b) Para evitar que a prá�ca cardiovascular se torne infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável, essa ordem deveria ser revista. c) Quando a prá�ca cardiovascular for infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, essa ordem deveria ser revista, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável. d) Quanto mais a prá�ca cardiovascular é infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável, essa ordem deveria ser revista. e) Essa ordem deveria ser revista: a prá�ca cardiovascular é infinitamente mais significa�va e determinante para a nossa saúde orgânica como um todo, podendo ser considerada o “coração” de um treinamento consciente e saudável. IT0026 - (Enem) Em bom português No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim: — Assis� a uma fita de cinema com um ar�sta que representa muito bem. Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, ves�do de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher. SABINO, F. Folha de S.Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado). 8@professorferretto @prof_ferretto A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa caracterís�ca da língua, evidenciando que a) o uso de palavras novas deve ser incen�vado em detrimento das an�gas. b) a u�lização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações. c) o emprego de palavras com sen�dos diferentes caracteriza diversidade geográfica. d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos iden�ficadores da classe social a que pertence o falante. e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões. IT0007 - (Enem) Sinhá Se a dona se banhou Eu não estava lá Por Deus Nosso Senhor Eu não olhei Sinhá Estava lá na roça Sou de olhar ninguém Não tenho mais cobiça Nem enxergo bem Para que me pôr no tronco Para que me aleijar Eu juro a vosmecê Que nunca vi Sinhá […] Por que talhar meu corpo Eu não olhei Sinhá Para que que vosmincê Meus olhos vai furar Eu choro em iorubá Mas oro por Jesus Para que que vassuncê Me �ra a luz. CHICO BUAROUE; JOÃO BOSCO. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2011 (fragmento). No fragmento da letra da canção, o vocabulário empregado e a situação retratada são relevantes para o patrimônio linguís�co e iden�tário do país, na medida em que a) remetem à violência �sica e simbólica contra os povos escravizados. b) valorizam as influências da cultura africana sobre a música nacional. c) rela�vizam o sincre�smo cons�tu�vo das prá�cas religiosas brasileiras. d) narram os infortúnios da relação amorosa entre membros de classes sociais diferentes. e) problema�zam as diferentes visões de mundo na sociedade durante o período colonial. IT0358 - (Enem) Projeto na Câmara de BH quer a vacinação gratuita de cães contra a leishmaniose A doença é grave e vem causando preocupação na região metropolitana da capital mineira Ela é uma doença grave, transmi�da pela picada do mosquito-palha, e afeta tanto os seres humanos quanto os cachorros: a leishmaniose. Por ser um problema de saúde pública, a doença pode ganhar uma ação preven�va importante, caso um projeto de lei seja aprovado na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). Diante do alto número de casos da doença na Grande BH, a Comissão de Saúde e Saneamento da CMBH aprovou a proposta de realização de campanhas públicas de vacinação gratuita de cães contra a leishmaniose, tema do PL 404/17, apreciado pelo colegiado em reunião ordinária, no dia 6 de dezembro. Disponível em: h�ps://revistaencontro.com.br. Acesso em: 11 dez. 2017. Essa no�cia, além de cumprir sua função informa�va, assume o papel de a) fiscalizar as ações de saúde e saneamento da cidade. b) defender os serviços gratuitos de atendimento à população. c) conscien�zar a população sobre grave problema de saúde pública. d) propor campanhas para a ampliação de acesso aos serviços públicos. e) responsabilizar os agentes públicos pela demora na tomada de decisões. IT0308 - (Fuvest) Leusipo perguntou o que eu �nha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia mo�vo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: “Então, porque você quer saber, se já sabe?” Tentei lhe explicar que pretendia 9@professorferretto @prof_ferretto escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que �nha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequênciaindividuais, cole�vos e difusos; VII – o acesso aos órgãos judiciários e administra�vos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, cole�vos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administra�va e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administra�vas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. (www.planalto.gov.br). A leitura do trecho do Código permite concluir que os direitos básicos do consumidor no Brasil se aplicam a) a produtos ou serviços de qualquer �po e origem. b) apenas a produtos perecíveis, nacionais ou importados. c) apenas a aparelhos e utensílios produzidos no país. d) somente a produtos importados de países desenvolvidos. e) exclusivamente a serviços prestados por empresas nacionais. IT0773 - (Unesp) Leia um trecho do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990). Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por prá�cas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quan�dade, caracterís�cas, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coerci�vos ou desleais, bem como contra prá�cas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efe�va prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, cole�vos e difusos; VII – o acesso aos órgãos judiciários e administra�vos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, cole�vos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administra�va e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administra�vas competentes, bem 78@professorferretto @prof_ferretto como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. (www.planalto.gov.br). De acordo com o inciso V, a) assegura-se ao consumidor a revisão de disposi�vos contratuais que venham a tornar as prestações muito elevadas. b) toda e qualquer cláusula contratual poderá ser revista a qualquer momento pelo consumidor. c) assegura-se ao fornecedor o direito de cancelar a venda de produtos e serviços, em razão do aumento de seus custos. d) garante-se ao fornecedor dos produtos e serviços, caso julgue necessário, o direito de rever os valores das prestações. e) toda e qualquer cláusula contratual apenas poderá ser revista com o consen�mento do fornecedor dos produtos e serviços. IT0774 - (Unesp) Leia um trecho do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990). Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por prá�cas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quan�dade, caracterís�cas, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coerci�vos ou desleais, bem como contra prá�cas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efe�va prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, cole�vos e difusos; VII – o acesso aos órgãos judiciários e administra�vos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, cole�vos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administra�va e técnica aos necessitados; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administra�vas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. (www.planalto.gov.br). O ar�go 7º esclarece que os direitos previstos no Código a) não permitem que fornecedores internacionais de produtos e serviços sejam penalizados. b) não implicam a perda de outros es�pulados em tratados internacionais ou na legislação interna do país. c) perdem o efeito diante de leis ou tratados internacionais sobre consumo. d) podem ser anulados a qualquer tempo por decisão unilateral do governo federal. e) são válidos mesmo que infrinjam os princípios gerais que norteiam o direito. IT0778 - (Unesp) Leia o seguinte verbete do Dicionário de comunicação de Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa: Crônica Texto jornalís�co desenvolvido de forma livre e pessoal, a par�r de fatos e acontecimentos da atualidade, com teor literário, polí�co, espor�vo, ar�s�co, de amenidades etc. Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari, a crônica é um meio-termo entre o jornalismo e a literatura: “do primeiro, aproveita o interesse pela atualidade informa�va, da segunda imita o projeto de ultrapassar os simples fatos”. O ponto comum entre a crônica e a no�cia ou a reportagem é que o cronista, assim como o repórter, não prescinde do acontecimento. Mas, ao contrário deste, ele “paira” sobre os fatos, “fazendo com que se destaque no texto o enfoque 79@professorferretto @prof_ferretto pessoal (onde entram juízos implícitos e explícitos) do autor”. Por outro lado, o editorial difere da crônica, pelo fatode que, nesta, o juízo de valor se confunde com os próprios fatos expostos, sem o dogma�smo do editorial, no qual a opinião do autor (representando a opinião da empresa jornalís�ca) cons�tui o eixo do texto. (Dicionário de comunicação, 1978.) O termo “dogma�smo”, no contexto do verbete, significa: a) desprezo aos acontecimentos da atualidade. b) obediência à cons�tuição e às leis do país. c) ausência de ideologia nas manifestações de opinião. d) opiniões assumidas como verdadeiras e imutáveis. e) conjunto de verdades religiosas. IT0783 - (Unesp) Leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: À procura de uma besta. — A par�r de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho- escura com os seguintes caracterís�cos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis cen�metros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos no�cia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio con�nua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a �veste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e ní�do retrato da besta. Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente - deixando de lado outras excelências de tua prosa ú�l - a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “no�cia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a exis�r, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa a�tude crí�ca. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) O humor presente na crônica decorre, entre outros fatores, do fato de o cronista a) debruçar-se sobre um an�go anúncio de besta desaparecida. b) esforçar-se por ocultar a condição rural do autor do anúncio. c) duvidar de que o autor do anúncio seja mesmo João Alves. d) empregar o termo “besta” em sen�do também metafórico. e) acreditar na possibilidade de se recuperar a besta de João Alves. IT0784 - (Unesp) 80@professorferretto @prof_ferretto Leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: À procura de uma besta. — A par�r de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho- escura com os seguintes caracterís�cos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis cen�metros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos no�cia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio con�nua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a �veste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e ní�do retrato da besta. Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente - deixando de lado outras excelências de tua prosa ú�l - a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “no�cia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a exis�r, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa a�tude crí�ca. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) O cronista manifesta um juízo de valor sobre a sua própria época em: a) “Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a �veste, pois o animal desapareceu a 6 deoutubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira.” (3º parágrafo) b) “Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó.” (2º parágrafo) c) “Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido:” (1º parágrafo) d) “Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa a�tude crí�ca. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida.” (7º parágrafo) e) “Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a exis�r, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência.” (7º parágrafo) IT0786 - (Unesp) Leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: 81@professorferretto @prof_ferretto À procura de uma besta. — A par�r de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho- escura com os seguintes caracterís�cos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis cen�metros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos no�cia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério de Itambé. Mas teu anúncio con�nua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a �veste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e ní�do retrato da besta. Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente - deixando de lado outras excelências de tua prosa ú�l - a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “no�cia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a exis�r, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa a�tude crí�ca. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.) Em “Contudo, não o afirmas em tom peremptório: ‘tudo me induz a esse cálculo’.” (5º parágrafo), o termo destacado pode ser subs�tuído, sem prejuízo de sen�do para o texto, por: a) incisivo. b) irônico. c) rancoroso. d) constrangido. e) hesitante. IT0787 - (Unesp) Leia a crônica “Anúncio de João Alves”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), publicada originalmente em 1954. Figura o anúncio em um jornal que o amigo me mandou, e está assim redigido: À procura de uma besta. — A par�r de 6 de outubro do ano cadente, sumiu-me uma besta vermelho- escura com os seguintes caracterís�cos: calçada e ferrada de todos os membros locomotores, um pequeno quisto na base da orelha direita e crina dividida em duas seções em consequência de um golpe, cuja extensão pode alcançar de quatro a seis cen�metros, produzido por jumento. Essa besta, muito domiciliada nas cercanias deste comércio, é muito mansa e boa de sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi roubada, assim que hão sido falhas todas as indagações. Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e a fizer entregue aqui ou pelo menos no�cia exata ministrar, será razoavelmente remunerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de novembro de 1899. (a) João Alves Júnior. Cinquenta e cinco anos depois, prezado João Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. E tu mesmo, se não estou enganado, repousas suavemente no pequeno cemitério 82@professorferretto @prof_ferretto de Itambé. Mas teu anúncio con�nua um modelo no gênero, se não para ser imitado, ao menos como objeto de admiração literária. Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem. Não escreveste apressada e toscamente, como seria de esperar de tua condição rural. Pressa, não a �veste, pois o animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 de novembro recorreste à Cidade de Itabira. Antes, procedeste a indagações. Falharam. Formulaste depois um raciocínio: houve roubo. Só então pegaste da pena, e traçaste um belo e ní�do retrato da besta. Não disseste que todos os seus cascos estavam ferrados; preferiste dizê-lo “de todos os seus membros locomotores”. Nem esqueceste esse pequeno quisto na orelha e essa divisão da crina em duas seções, que teu zelo naturalista e histórico atribuiu com segurança a um jumento. Por ser “muito domiciliada nas cercanias deste comércio”, isto é, do povoado e sua feirinha semanal, inferiste que não teria fugido, mas antes foi roubada. Contudo, não o afirmas em tom peremptório: “tudo me induz a esse cálculo”. Revelas aí a prudência mineira, que não avança (ou não avançava) aquilo que não seja a evidência mesma. É cálculo, raciocínio, operação mental e desapaixonada como qualquer outra, e não denúncia formal. Finalmente - deixando de lado outras excelências de tua prosa ú�l - a declaração final: quem a apreender ou pelo menos “no�cia exata ministrar”, será “razoavelmente remunerado”. Não prometes recompensa tentadora; não fazes praça de generosidade ou largueza; acenas com o razoável, com a justa medida das coisas, que deve prevalecer mesmo no caso de bestas perdidas e entregues. Já é muito tarde para sairmos à procura de tua besta, meu caro João Alves do Itambé; entretanto essa criação volta a exis�r, porque soubeste descrevê-la com decoro e propriedade, num dia remoto, e o jornal a guardou e alguém hoje a descobre, e muitos outros são informados da ocorrência. Se lesses os anúncios de objetos e animais perdidos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já não há essa precisão de termos e essa graça no dizer, nem essa moderação nem essa a�tude crí�ca. Não há, sobretudo, esse amor à tarefa bem-feita, que se pode manifestar até mesmo num anúncio de besta sumida. (Fala, amendoeira, 2012.)Com base no úl�mo parágrafo, a principal qualidade atribuída pelo cronista a João Alves é a) a prudência. b) o discernimento. c) a concisão. d) o humor. e) a dedicação. IT0788 - (Unesp) Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-1536?). A peça prefigura o des�no das almas que chegam a um braço de mar onde se encontram duas barcas (embarcações): uma des�nada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra des�nada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moça pela mão [...]; e ele mesmo fazendo a baixa1 começou a dançar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha! DIABO: Que é isso, padre? Quem vai lá? FRADE: Deo gra�as2! Sou cortesão. DIABO: Danças também o tordião3? FRADE: Por que não? Vê como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4 e faremos um serão. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a �ve de meu. DIABO: Fizeste bem, que é lindura! Não vos punham lá censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que não temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que não te entendo! E este hábito6 não me val7? DIABO: Gen�l padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela fé de Jesus Cristo, que eu não posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre tão namorado e tanto dado à virtude? Assim Deus me dê saúde, que eu estou maravilhado! DIABO: Não façamos mais detença9 embarcai e par�remos; tomareis um par de remos. 83@professorferretto @prof_ferretto FRADE: Não ficou isso na avença10. DIABO: Pois dada está já a sentença! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? Não vai em tal caravela minha senhora Florença? Como? Por ser namorado e folgar uma mulher? Se há um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora estás bem arranjado! FRADE: Mas estás tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser cá pingado11... (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 1 baixa: dança popular no século XVI. 2 Deo gra�as: graças a Deus. 3 tordião: outra dança popular no século XVI. 4 tanger: fazer soar um instrumento. 5 clausura: convento. 6 hábito: traje religioso. 7 val: vale. 8 mundanal: mundano. 9 detença: demora. 10 avença: acordo. 11 ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginário popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). No excerto, o traço mais caracterís�co do diabo é a) o autoritarismo, visível no seguinte trecho: “Não façamos mais detença”. b) a curiosidade, visível no seguinte trecho: “Danças também o tordião?”. c) a ironia, visível no seguinte trecho: “Que preciosa clausura!”. d) a ingenuidade, visível no seguinte trecho: “Fizeste bem, que é lindura!”. e) o sarcasmo, visível no seguinte trecho: “Pois dada está já a sentença!”. IT0789 - (Unesp) Leia o excerto de Auto da Barca do Inferno do escritor português Gil Vicente (1465?-1536?). A peça prefigura o des�no das almas que chegam a um braço de mar onde se encontram duas barcas (embarcações): uma des�nada ao Paraíso, comandada pelo anjo, e outra des�nada ao Inferno, comandada pelo diabo. Vem um Frade com uma Moça pela mão [...]; e ele mesmo fazendo a baixa1 começou a dançar, dizendo FRADE: Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; Tai-rai-rai-ra-rã ta-ri-ri-rã; Tã-tã-ta-ri-rim-rim-rã, huha! DIABO: Que é isso, padre? Quem vai lá? FRADE: Deo gra�as2! Sou cortesão. DIABO: Danças também o tordião3? FRADE: Por que não? Vê como sei. DIABO: Pois entrai, eu tangerei4 e faremos um serão. E essa dama, porventura? FRADE: Por minha a tenho eu, e sempre a �ve de meu. DIABO: Fizeste bem, que é lindura! Não vos punham lá censura no vosso convento santo? FRADE: E eles fazem outro tanto! DIABO: Que preciosa clausura5! Entrai, padre reverendo! FRADE: Para onde levais gente? DIABO: Para aquele fogo ardente que não temestes vivendo. FRADE: Juro a Deus que não te entendo! E este hábito6 não me val7? DIABO: Gen�l padre mundanal8, a Belzebu vos encomendo! FRADE: Corpo de Deus consagrado! Pela fé de Jesus Cristo, que eu não posso entender isto! Eu hei de ser condenado? Um padre tão namorado e tanto dado à virtude? Assim Deus me dê saúde, que eu estou maravilhado! DIABO: Não façamos mais detença9 embarcai e par�remos; tomareis um par de remos. FRADE: Não ficou isso na avença10. DIABO: Pois dada está já a sentença! FRADE: Por Deus! Essa seria ela? Não vai em tal caravela minha senhora Florença? Como? Por ser namorado e folgar uma mulher? Se há um frade de perder, com tanto salmo rezado?! DIABO: Ora estás bem arranjado! FRADE: Mas estás tu bem servido. DIABO: Devoto padre e marido, haveis de ser cá pingado11... (Auto da Barca do Inferno, 2007.) 84@professorferretto @prof_ferretto 1 baixa: dança popular no século XVI. 2 Deo gra�as: graças a Deus. 3 tordião: outra dança popular no século XVI. 4 tanger: fazer soar um instrumento. 5 clausura: convento. 6 hábito: traje religioso. 7 val: vale. 8 mundanal: mundano. 9 detença: demora. 10 avença: acordo. 11 ser pingado: ser pingado com gotas de gordura fervendo (segundo o imaginário popular, processo de tortura que ocorreria no inferno). Com a fala “E eles fazem outro tanto!”, o frade sugere que seus companheiros de convento a) consideravam-se santos. b) estavam preocupados com a própria salvação. c) estranhavam seu modo de agir. d) comportavam-se de modo ques�onável. e) repreendiam-no com frequência. IT0791 - (Unesp) Leia o excerto do livro Violência urbana, de Paulo Sérgio Pinheiro e Guilherme Assis de Almeida. De dia, ande na rua com cuidado, olhos bem abertos. Evite falar com estranhos. À noite, não saia para caminhar, principalmente se es�ver sozinho e seu bairro for deserto. Quando estacionar, tranque bem as portas do carro [..]. De madrugada, não pare em sinal vermelho. Se for assaltado, não reaja — entregue tudo. É provável que você já esteja exausto de ler e ouvir várias dessas recomendações. Faz tempo que a ideia de integrar uma comunidade e sen�r-se confiante e seguro por ser parte de um cole�vo deixou de ser um sen�mento comum aos habitantes das grandes cidades brasileiras. As noções de segurança e de vida comunitária foram subs�tuídas pelo sen�mento de insegurança e pelo isolamento que o medo impõe. O outro deixa de ser visto como parceiro ou parceira em potencial; o desconhecido é encarado como ameaça. O sen�mento de insegurança transforma e desfigura a vida em nossas cidades. De lugares de encontro, troca, comunidade, par�cipação cole�va, as moradias e os espaços públicos transformam-se em palco do horror, do pânico e do medo. A violência urbana subverte e desvirtua a função das cidades, drena recursos públicos já escassos, ceifa vidas — especialmente as dos jovens e dos mais pobres –, dilacera famílias, modificando nossas existências drama�camente para pior. De potenciais cidadãos, passamos a ser consumidores do medo. O que fazer diante desse quadro de insegurança e pânico, denunciado diariamente pelos jornais e alardeado pela mídia eletrônica? Qual tarefa impõe-se aos cidadãos, na democracia e no Estado de direito? (Violência urbana, 2003.) As palavras do texto cujos prefixos traduzem ideia de negação são a) “desvirtua” e “transforma”. b) “evite” e “isolamento”. c) “desfigura” e “ameaça”. d) “desconhecido” e “insegurança”. e) “subverte” e “dilacera”. IT0793 - (Unesp) Examine a �ra do cartunista Fernando Gonsales. Na �ra, Arlindo Gouveia é caracterizado como 85@professorferretto @prof_ferretto a) dissimulado. b) agressivo. c) pedante. d) volúvel. e) orgulhoso. IT0795 - (Unesp) Leia o trecho do romance S. Bernardo, de Graciliano Ramos. O caboclo mal-encarado que encontrei um dia em casa do Mendonça também se acabou em desgraça. Uma limpeza. Essa gente quase nunca morre direito. Uns são levados pela cobra, outros pela cachaça, outros matam- se. Na pedreira perdi um. A alavanca soltou-se da pedra, bateu-lhe nopeito, e foi a conta. Deixou viúva e órfãos miúdos. Sumiram-se: um dos meninos caiu no fogo, as lombrigas comeram o segundo, o úl�mo teve angina e a mulher enforcou-se. Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente. Concluiu-se a construção da casa nova. Julgo que não preciso descrevê-la. As partes principais apareceram ou aparecerão; o resto é dispensável e apenas pode interessar aos arquitetos, homens que provavelmente não lerão isto. Ficou tudo confortável e bonito. Naturalmente deixei de dormir em rede. Comprei móveis e diversos objetos que entrei a u�lizar com receio, outros que ainda hoje não u�lizo, porque não sei para que servem. Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas. Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre �ve a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legí�mas as ações que me levaram a obtê-las. Alcancei mais do que esperava, mercê de Deus. Vieram-me as rugas, já se vê, mas o crédito, que a princípio se esquivava, agarrou-se comigo, as taxas desceram. E os negócios desdobraram-se automa�camente. Automa�camente. Di�cil? Nada! Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços. Mas se virem que estão de sorte, metam o pau: as tolices que pra�carem viram sabedoria. Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca – e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações. – Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à jus�ça. Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando Direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou- me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil-réis. (S. Bernardo, 1996.) Verifica-se o emprego de verbo no modo impera�vo no seguinte trecho: a) “Se eles entram nos trilhos, rodam que é uma beleza. Se não entram, cruzem os braços.” (7º parágrafo) b) “Minhas senhoras, seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto.” (10º parágrafo) c) “Para diminuir a mortalidade e aumentar a produção, proibi a aguardente.” (3º parágrafo) d) “Aqui existe um salto de cinco anos, e em cinco anos o mundo dá um bando de voltas.” (5º parágrafo) e) “Não senhor, não procedi nem percorri. Tive aba�mentos, desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas.” (6º parágrafo). IT0798 - (Unesp) Leia o trecho do livro A dança do universo, do �sico brasileiro Marcelo Gleiser. Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua própria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas vezes não as 86@professorferretto @prof_ferretto reconhecem como tais, ou não acreditam no seu próprio potencial. Divididas entre enfrentar sua insegurança expondo suas ideias à opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opção. O mundo está cheio de poemas e teorias escondidos no porão. Copérnico é, talvez, o mais famoso desses relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com medo de crí�cas ou perseguição religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, mo�vado por razões erradas. Insa�sfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platônico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Copérnico propôs que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, ele retomou aos pitagóricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito séculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmológicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova visão cósmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno trabalho resumindo suas ideias, in�tulado Commentariolus (Pequeno comentário). Embora na época fosse rela�vamente fácil publicar um manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu texto, enviando apenas algumas cópias para uma audiência seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram iniciados nas complicações da matemá�ca aplicada à astronomia �nham permissão para compar�lhar sua sabedoria. Certamente essa posição eli�sta era muito peculiar, vinda de alguém que fora educado durante anos dentro da tradição humanista italiana. Será que Copérnico estava tentando sen�r o clima intelectual da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas próprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer �po de crí�ca? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais pitagóricos que realmente não �nha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razões que possam jus�ficar a a�tude de Copérnico são, até hoje, um ponto de discussão entre os especialistas. (A dança do universo, 2006. Adaptado.) De acordo com o texto, a) a exemplo de Aristarco, Copérnico concebeu um Universo cujo centro era ocupado pelo Sol. b) Copérnico contribuiu decisivamente para a propagação de sua nova concepção do Universo. c) a originalidade do pensamento de Copérnico foi ter colocado o Sol no centro do Universo. d) em sua concepção do Universo, Copérnico apropria-se do dogma platônico do movimento circular uniforme dos corpos celestes. e) tanto Copérnico quanto Ptolomeu podem ser considerados exemplos de heróis relutantes. IT0800 - (Unesp) Leia o trecho do livro A dança do universo, do �sico brasileiro Marcelo Gleiser. Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua própria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas vezes não as reconhecem como tais, ou não acreditam no seu próprio potencial. Divididas entre enfrentar sua insegurança expondo suas ideias à opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opção. O mundo está cheio de poemas e teorias escondidos no porão. Copérnico é, talvez, o mais famoso desses relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com medo de crí�casou perseguição religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, mo�vado por razões erradas. Insa�sfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platônico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Copérnico propôs que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, ele retomou aos pitagóricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito séculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmológicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova visão cósmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno trabalho resumindo suas ideias, in�tulado Commentariolus (Pequeno comentário). Embora na época fosse rela�vamente fácil publicar um manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu texto, enviando apenas algumas 87@professorferretto @prof_ferretto cópias para uma audiência seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram iniciados nas complicações da matemá�ca aplicada à astronomia �nham permissão para compar�lhar sua sabedoria. Certamente essa posição eli�sta era muito peculiar, vinda de alguém que fora educado durante anos dentro da tradição humanista italiana. Será que Copérnico estava tentando sen�r o clima intelectual da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas próprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer �po de crí�ca? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais pitagóricos que realmente não �nha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razões que possam jus�ficar a a�tude de Copérnico são, até hoje, um ponto de discussão entre os especialistas. (A dança do universo, 2006. Adaptado.) O medo de Copérnico de “crí�cas ou perseguição religiosa” (2º parágrafo) deve-se ao fato de suas ideias se oporem à teoria a) heliocêntrica. b) geocêntrica. c) humanista. d) iluminista. e) posi�vista. IT0801 - (Unesp) Leia o trecho do livro A dança do universo, do �sico brasileiro Marcelo Gleiser. Algumas pessoas tornam-se heróis contra sua própria vontade. Mesmo que elas tenham ideias realmente (ou potencialmente) revolucionárias, muitas vezes não as reconhecem como tais, ou não acreditam no seu próprio potencial. Divididas entre enfrentar sua insegurança expondo suas ideias à opinião dos outros, ou manter-se na defensiva, elas preferem a segunda opção. O mundo está cheio de poemas e teorias escondidos no porão. Copérnico é, talvez, o mais famoso desses relutantes heróis da história da ciência. Ele foi o homem que colocou o Sol de volta no centro do Universo, ao mesmo tempo fazendo de tudo para que suas ideias não fossem difundidas, possivelmente com medo de crí�cas ou perseguição religiosa. Foi quem colocou o Sol de volta no centro do Universo, mo�vado por razões erradas. Insa�sfeito com a falha do modelo de Ptolomeu, que aplicava o dogma platônico do movimento circular uniforme aos corpos celestes, Copérnico propôs que o equante fosse abandonado e que o Sol passasse a ocupar o centro do cosmo. Ao tentar fazer com que o Universo se adaptasse às ideias platônicas, ele retomou aos pitagóricos, ressuscitando a doutrina do fogo central, que levou ao modelo heliocêntrico de Aristarco dezoito séculos antes. Seu pensamento reflete o desejo de reformular as ideias cosmológicas de seu tempo apenas para voltar ainda mais no passado; Copérnico era, sem dúvida, um revolucionário conservador. Ele jamais poderia ter imaginado que, ao olhar para o passado, estaria criando uma nova visão cósmica, que abriria novas portas para o futuro. Tivesse vivido o suficiente para ver os frutos de suas ideias, Copérnico decerto teria odiado a revolução que involuntariamente causou. Entre 1510 e 1514, compôs um pequeno trabalho resumindo suas ideias, in�tulado Commentariolus (Pequeno comentário). Embora na época fosse rela�vamente fácil publicar um manuscrito, Copérnico decidiu não publicar seu texto, enviando apenas algumas cópias para uma audiência seleta. Ele acreditava piamente no ideal pitagórico de discrição; apenas aqueles que eram iniciados nas complicações da matemá�ca aplicada à astronomia �nham permissão para compar�lhar sua sabedoria. Certamente essa posição eli�sta era muito peculiar, vinda de alguém que fora educado durante anos dentro da tradição humanista italiana. Será que Copérnico estava tentando sen�r o clima intelectual da época, para ter uma ideia do quão “perigosas” eram suas ideias? Será que ele não acreditava muito nas suas próprias ideias e, portanto, queria evitar qualquer �po de crí�ca? Ou será que ele estava tão imerso nos ideais pitagóricos que realmente não �nha o menor interesse em tornar populares suas ideias? As razões que possam jus�ficar a a�tude de Copérnico são, até hoje, um ponto de discussão entre os especialistas. (A dança do universo, 2006. Adaptado.) Expressam ideia de repe�ção e ideia de negação, respec�vamente, os prefixos das palavras a) “rela�vamente” (4º parágrafo) e “insegurança” (1º parágrafo). b) “insa�sfeito” (2º parágrafo) e “reconhecem” (1º parágrafo). c) “retornou” (2º parágrafo) e “difundidas” (2º parágrafo). d) “reformular” (3º parágrafo) e “involuntariamente” (3º parágrafo). e) “compar�lhar” (4º parágrafo) e “in�tulado” (4º parágrafo). IT0803 - (Unesp) Examine a �ra de André Dahmer. 88@professorferretto @prof_ferretto Na �ra, a morte é caracterizada como a) frívola. b) compassiva. c) solitária. d) incorrup�vel. e) materialista. IT0806 - (Unesp) Leia o trecho do conto-prefácio “Hipotrélico”, que integra o livro Tutameia, de João Guimarães Rosa. Há o hipotrélico. O termo é novo, de impesquisada origem e ainda sem definição que lhe apanhe em todas as pétalas o significado. Sabe-se, só, que vem do bom português. Para a prá�ca, tome-se hipotrélico querendo dizer: an�podá�co, sengraçante imprizido; ou, talvez, vice-dito: indivíduo pedante, importuno agudo, falto de respeito para com a opinião alheia. Sob mais que, tratando-se de palavra inventada, e, como adiante se verá, embirrando o hipotrélico em não tolerar neologismos, começa ele por se negar nominalmente a própria existência. Somos todos, neste ponto, um tento ou cento hipotrélicos? Salvo o excepto, um neologismo contunde, confunde, quase ofende. Perspica-nos a inércia que soneja em cada canto do espírito, e que se refestela com os bons hábitos estadados. Se é que um não se assuste: saia todo-o-mundo a empinar vocábulos seus, e aonde é que se vai dar com a língua �da e herdada? Assenta-nos bem à modés�a achar que o novo não valerá o velho; ajusta-se à melhor prudência relegar o progresso no passado. [...] Já outro, contudo, respeitável, é o caso – enfim – de “hipotrélico”, mo�vo e base desta fábula diversa, e que vem do bom português. O bom português, homem-de- bem e mui�ssimo inteligente, mas que, quando ou quando, neologizava, segundo suas necessidades ín�mas. Ora, pois, numa roda, dizia ele, de algum sicrano, terceiro, ausente: – E ele é muito hiputrélico... Ao que, o indesejável maçante, não se contendo, emi�u o veto: – Olhe, meu amigo, essa palavra não existe. Parou o bom português, a olhá-lo, seu tanto perplexo: – Como?!... Ora... Pois se eu a estou a dizer? – É. Mas não existe. Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico... E ficou havendo. (Tutameia, 1979.) “Aí, o bom português, ainda meio enfigadado, mas no tom já feliz de descoberta, e apontando para o outro, peremptório: – O senhor também é hiputrélico...” (11º e 12ºparágrafos) Considerando o contexto, o termo sublinhado pode ser subs�tuído, sem prejuízo para o sen�do do texto, por: a) debochado. b) contrariado. c) distraído. d) atrapalhado. e) admirado. IT0807 - (Unesp) Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. À obra resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes 89@professorferretto @prof_ferretto viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. (Os sertões, 2016) 1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, fores de tom verde-pálido e frutos bacáceos. 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de fores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von Mannlicher. Considerando o contexto histórico de produção do texto, o soldado abandonado e seu “adversário possante” podem ser iden�ficados, em termos polí�cos, como a) militarista e civilista, respec�vamente. b) abolicionista e escravista, respec�vamente. c) escravista e abolicionista, respec�vamente. d) republicano e monarquista, respec�vamente. e) monarquista e republicano, respec�vamente. IT0808 - (Unesp) Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. À obra resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em que eram jogados, formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. (Os sertões, 2016) 1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, fores de tom verde-pálido e frutos bacáceos. 90@professorferretto @prof_ferretto 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de fores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von Mannlicher. A paisagem retratada no texto mostra-se compa�vel com o clima que registra a) temperaturas elevadas no verão e amenas no inverno e precipitações escassas na maior parte do ano. b) temperatura amena pela ação dos fortes ventos e precipitação concentrada nos meses de inverno. c) temperaturas elevadas e precipitações escassas e mal distribuídas ao longo do ano. d) temperaturas acima dos 35 ˚C e chuvas intensas, porém mal distribuídas, ao longo do ano. e) temperatura média elevada e duas estações bem definidas, seca e chuvosa, ao longo do ano. IT0810 - (Unesp) Leia o texto extraído da primeira parte, in�tulada “A terra”, da obra Os sertões, de Euclides da Cunha. À obra resultou da cobertura jornalís�ca da Guerra de Canudos, realizada por Euclides da Cunha para o jornal O Estado de S.Paulo de agosto a outubro de 1897, e foi publicada apenas em 1902. Percorrendo certa vez, nos fins de setembro [de 1897], as cercanias de Canudos, fugindo à monotonia de um canhoneio1 frouxo de �ros espaçados e soturnos, encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas se dispunham circulando um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros2 virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias3 de flores ru�lantes, davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação franzina. O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão e protegido por ela — braços largamente abertos, face volvida para os céus — um soldado descansava. Descansava... havia três meses. Morrera no assalto de 18 de julho [de 1897]. A coronha da Mannlicher4 estrondada, o cinturão e o boné jogados a uma banda, e a farda em �ras, diziam que sucumbira em luta corpo a corpo com adversário possante. Caíra, certo, derreando-se à violenta pancada que lhe sulcara a fronte, manchada de uma escara preta. E ao enterrarem-se, dias depois, os mortos, não fora percebido. Não compar�ra, por isto, a vala comum de menos de um côvado de fundo em queeram jogados, formando pela úl�ma vez juntos, os companheiros aba�dos na batalha. O des�no que o removera do lar desprotegido fizera-lhe afinal uma concessão: livrara-o da promiscuidade lúgubre de um fosso repugnante; e deixara-o ali há três meses – braços largamente abertos, rosto voltado para os céus, para os sóis ardentes, para os luares claros, para as estrelas fulgurantes... E estava intacto. Murchara apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incu�r a ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranquilo sono, à sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme – o mais vulgar dos trágicos analistas da matéria – lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão impercep�vel. Era um aparelho revelando de modo absoluto, mas suges�vo, a secura extrema dos ares. (Os sertões, 2016) 1 canhoneio: descarga de canhões. 2 icozeiro: arbusto de folhas coriáceas, fores de tom verde-pálido e frutos bacáceos. 3 palmatória: planta da família das cactáceas, de fores amarelo-esverdeadas, com a parte inferior vermelha, ou róseas, e bagas vermelhas. 4 Mannlicher: rifle projetado por Ferdinand Ri�er von Mannlicher. Considerando-se o contexto, o termo que qualifica o substan�vo na expressão “adversário possante” (4º parágrafo) tem sen�do oposto ao termo que qualifica o substan�vo em a) “violenta pancada” (4º parágrafo). b) “tranquilo sono” (5º parágrafo). c) “anfiteatro irregular” (1º parágrafo). d) “fosso repugnante” (4º parágrafo). e) “vegetação franzina” (1º parágrafo). IT0811 - (Unesp) Leia a narra�va “O leão, o burro e o rato”, de Millôr Fernandes. Um leão, um burro e um rato voltaram, afinal, da caçada que haviam empreendido juntos1 e colocaram numa clareira tudo que �nham caçado: dois veados, algumas perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inu�lmente suavizar, berrou: – Bem, agora que terminamos um magnífico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa par�lha do nosso esforço conjunto. Compadre burro, por favor, você, que é o mais sábio de nós três, com licença do compadre rato, você, compadre burro, vai fazer a par�lha desta caça em três partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, até o rio, beber um pouco de 91@professorferretto @prof_ferretto água, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água2 e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro �nha feito um trabalho extremamente me�culoso, dividindo a caça em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando o burro perguntou ao leão: – Pronto, compadre leão, aí está: que acha da par�lha? O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostrando-o no chão, morto. Sorrindo, o leão voltou-se para o rato e disse: – Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda em que não podíamos suportar a presença de tamanha inap�dão e burrice. Desculpe eu ter perdido a paciência, mas não havia outra coisa a fazer. Há muito que eu não suportava mais o compadre burro. Me faça um favor agora – divida você o bolo da caça, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou até o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberação sensata. Mal o leão se afastou, o rato não teve a menor dúvida. Dividiu o monte de caça em dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro, apenas um ra�nho cinza morto por acaso. O leão ainda não �nha chegado ao rio, quando o rato o chamou: – Compadre leão, está pronta a par�lha! O leão, vendo a caça dividida de maneira tão justa, não pôde deixar de cumprimentar o rato: – Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou tão depressa a uma par�lha tão certa? E o rato respondeu: – Muito simples. Estabeleci uma relação matemá�ca entre seu tamanho e o meu – é claro que você precisa comer muito mais. Tracei uma comparação entre a sua força e a minha – é claro que você precisa de muito maior volume de alimentação do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posição na floresta com a minha – e, evidentemente, a par�lha só podia ser esta. Além do que, sou um intelectual, sou todo espírito! – Inacreditável, inacreditável! Que compreensão! Que argúcia! – exclamou o leão, realmente admirado. – Olha, juro que nunca �nha notado, em você, essa cultura. Como você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? – Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre, se não se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. MORAL: Só um burro tenta ficar com a parte do leão. 1 A conjugação de esforços tão heterogêneos na destruição do meio ambiente é coisa muito comum. 2 Enquanto estavam bebendo água, o leão reparou que o rato estava sujando a água que ele bebia. Mas isso já é outra fábula. (100 fábulas fabulosas, 2012.) A narra�va de Millôr Fernandes afasta-se do modelo tradicional da fábula na medida em que emprega um tom a) moralizante. b) fantás�co. c) lacônico. d) ambíguo. e) paródico. IT0812 - (Unesp) Leia o ar�go “Pó de pirlimpimpim”, do neurocien�sta brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem informação é pouco mais que estofo de macela1. Emília, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: “I know kung fu”. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de came e osso, vale o dito popular: “Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é di�cil e demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquá�cos passíveis de condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações es�mulo- resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava o aprendizado, 92@professorferretto @prof_ferretto revelando um efeito hormonal genérico, independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas. A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim possível acelerar a consolidação das memórias por meio da o�mização de variáveis fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo bene�cio à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre Os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um es�mulador elétrico. Os resultados mostraram que a es�mulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro, Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020) 1macela: planta herbácea cujas fores costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros. Pode ser reescrito na voz passiva o seguinte trecho do ar�go: a) “Há consenso hoje em dia de que o conteúdodos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais” (2º parágrafo). b) “Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono” (4º parágrafo). c) “A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais” (4º parágrafo). d) “Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral” (4º parágrafo). e) “Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso” (1º parágrafo). IT0813 - (Unesp) Leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na revista Careta em 25.09.1915. Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos, com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos. A quem dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo havia resolvido o di�cil problema. A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória. Mas “duas palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas palavras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”. E a dedicatória? A dedicatória, como todas as dedicatórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao espírito amigo que lhe ensinara a pensar… Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e, num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”… Está aí como um grande gramá�co faz uma obra- prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela. (Sá�ras e outras subversões, 2016.) As modificações feitas pelo gramá�co nas expressões empregadas no prefácio e na dedicatória de sua obra manifestam seu desconforto a) com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o caráter trivial da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. b) com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. c) com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o sen�do figurado da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. d) com o caráter trivial das expressões inicialmente pensadas para o prefácio e para a dedicatória. e) com o sen�do literal da expressão inicialmente pensada para o prefácio e com o caráter trivial da expressão inicialmente pensada para a dedicatória. IT0818 - (Unesp) Leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu 93@professorferretto @prof_ferretto respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deo-gra�as; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um homem andava falando: – “A pátria não pode nada com a velhice.” Discordo. A pátria é dos velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras re�radas – ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sen�mento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real �ve, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem horas an�gas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. (Grande sertão: veredas, 2015.) No trecho “O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia”, o narrador caracteriza seu interlocutor como a) desrespeitoso. b) distraído. c) presunçoso. d) indulgente. e) perseverante. IT0824 - (Unesp) Examine o cartum de Pietro Soldi, publicado em sua conta do Instagram em 11.09.2019. Depreende-se do cartum que o motorista a) acredita que todas as pessoas estarão ex�ntas em menos de dez anos. b) duvida de que todas as pessoas estarão ex�ntas em menos de dez anos. c) acredita que todas as pessoas estarão ex�ntas em dez anos. d) duvida daqueles que dizem que todas as pessoas irão se ex�nguir. e) acredita que todas as pessoas estarão ex�ntas em mais de dez anos. IT0826 - (Unesp) Leia o ar�go “Pó de pirlimpimpim”, do neurocien�sta brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem informação é pouco mais que estofo de macela1. Emília, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: “I know kung fu”. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de came e osso, vale o dito popular: “Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é di�cil e demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas. 94@professorferretto @prof_ferretto Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquá�cos passíveis de condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações es�mulo- resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico, independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas. A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim possível acelerar a consolidação das memórias por meio da o�mização de variáveis fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo bene�cio à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre Os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebralcom ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um es�mulador elétrico. Os resultados mostraram que a es�mulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro, Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020) 1macela: planta herbácea cujas fores costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros. De acordo com o autor, a) o avanço das pesquisas cien�ficas pode tornar a ingestão de memórias uma prá�ca ultrapassada. b) a ideia de aperfeiçoamento da memória a qualquer custo pode representar um risco para a humanidade. c) a ideia do aprendizado instantâneo pode vir a se tornar realidade em um futuro muito próximo. d) a consolidação de memórias pode ser acelerada mediante o emprego de técnicas cien�ficas. e) o emprego arbitrário de técnicas cien�ficas pode vir a descaracterizar a própria natureza da memória. IT0828 - (Unesp) Leia o ar�go “Pó de pirlimpimpim”, do neurocien�sta brasileiro Sidarta Ribeiro. Alcançar o aprendizado instantâneo é um desejo poderoso, pois o cérebro sem informação é pouco mais que estofo de macela1. Emília, a sabida boneca de Monteiro Lobato, aprendeu a falar copiosamente após engolir uma pílula, adquirindo de supetão todo o vocabulário dos seres humanos ao seu redor. No filme Matrix (1999), a ingestão de uma pílula colorida faz o personagem Neo descobrir que todo o mundo em que sempre viveu não passa de uma simulação chamada Matriz, dentro da qual é possível programar qualquer coisa. Poucos instantes depois de se conectar a um computador, Neo desperta e profere estupefato: “I know kung fu”. Entretanto, na matriz cerebral das pessoas de came e osso, vale o dito popular: “Urubu, pra cantar, demora.” O aprendizado de comportamentos complexos é di�cil e demorado, pois requer a alteração massiva de conexões neuronais. Há consenso hoje em dia de que o conteúdo dos nossos pensamentos deriva dos padrões de a�vação de vastas redes neuronais, impossibilitando a aquisição instantânea de memórias intrincadas. Mas nem sempre foi assim. Há meio século, experimentos realizados na Universidade de Michigan pareciam indicar que as planárias, vermes aquá�cos passíveis de condicionamento clássico, eram capazes de adquirir, mesmo sem treinamento, associações es�mulo- resposta por ingestão de um extrato de planárias já condicionadas. O resultado, aparentemente revolucionário, sugeria que os substratos materiais da memória são moléculas. Contudo, estudos posteriores demonstraram que a ingestão de planárias não condicionadas também acelerava o aprendizado, revelando um efeito hormonal genérico, independente do conteúdo das memórias presentes nas planárias ingeridas. A ingestão de memórias é impossível porque elas são estados complexos de redes neuronais, não um quantum de significado como a pílula da Emília. Por outro lado, é sim possível acelerar a consolidação das memórias por meio da o�mização de variáveis fisiológicas envolvidas no processo. Uma linha de pesquisa importante diz respeito ao sono, cujo bene�cio à consolidação de memórias já foi comprovado. Em 2006, pesquisadores alemães publicaram um estudo sobre Os efeitos mnemônicos da es�mulação cerebral com ondas lentas (0,75 Hz) aplicadas durante o sono por meio de um es�mulador elétrico. Os resultados mostraram que a es�mulação de baixa frequência é suficiente para melhorar o aprendizado de diferentes tarefas. Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim. (Sidarta Ribeiro, Limiar: ciência e vida contemporânea, 2020) 1macela: planta herbácea cujas fores costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros. 95@professorferretto @prof_ferretto Em “Ao que parece, as oscilações lentas do sono são puro pó de pirlimpimpim” (4º parágrafo), o autor caracteriza as “oscilações lentas do sono” como um processo a) imaginário. b) estéril. c) indefinido. d) complexo. e) produ�vo. IT0829 - (Unesp) A questão focaliza uma passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901–1957). Água-Mãe Jogava com toda a alma, não podia compreender como um jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. A�rava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, a�rou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que es�vesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre: — Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube �nha amigos. Havia porém o an�go center- forward2 que se sen�u roubado com a sua chegada. Não �nha razão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos que não �nham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que �vera que ceder a posição, a um menino do Cabo Frio, for a para ele como se �vesse perdido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admiração, o seu herói. 1- Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2- Centroavante. (Água-Mãe, 1974.) No primeiro parágrafo, predominam verbos empregados no a) pretérito perfeito do modo indica�vo. b) pretérito imperfeito do modo indica�vo. c) presente do modo indica�vo. d) presente do modo subjun�vo. e) pretérito mais-que-perfeito do modo indica�vo. IT0830 - (Unesp) A questão focaliza uma passagem do romance Água-Mãe, de José Lins do Rego (1901–1957). Água-Mãe Jogava com toda a alma, não podia compreender como um jogador se encostava, não se entusiasmava com a bola nos pés. A�rava-se, não temia a violência e com a sua agilidade espantosa, fugia das entradas, dos pontapés. Quando aquele back1, num jogo de subúrbio, a�rou-se contra ele, recuou para derrubá-lo, e com tamanha sorte que o bruto se estendeu no chão, como um fardo. E foi assim crescendo a sua fama. Aos poucos se foi adaptando ao novo Joca que se formara nos campos do Rio. Dormia no clube, mas a sua vida era cada vez mais agitada. Onde quer que es�vesse, era reconhecido e aplaudido. Os garçons não queriam cobrar as despesas que ele fazia e até mesmo nos ônibus, quando ia descer, o motorista lhe dizia sempre: — Joca, você aqui não paga. Quando entrava no cinema era reconhecido. Vinham logo meninos para perto dele. Sabia que agradava muito. No clube �nha amigos. Havia porém o an�go center- forward2 que se sen�u roubado com a sua chegada. Não �nha razão. Ele fora chamado. Não se oferecera. E o homem se enfureceu com Joca. Era um jogador de fama, que fora grande nos campos da Europa e por isso pouco ligava aos que não �nham o seu cartaz. A entrada de Joca, o sucesso rápido, a maravilha de agilidade e de oportunismo, que caracterizava o jogo do novato, irritava-o até ao ódio. No dia em que �vera que ceder a posição, a um menino do Cabo Frio, for a para ele como se �vesse perdido as duas pernas. Viram-no chorando, e por isso concentrou em Joca toda a sua raiva. No entanto, Joca sempre o procurava. Tinha sido a sua admiração, o seu herói. 1- Beque, ou seja, o zagueiro de hoje. 2- Centroavante. (Água-Mãe, 1974.) Quando entrava no cinema era reconhecido. A língua portuguesa aceita muitas variações na ordem dos termos na oração e no período, desde que não causem a desestruturação sintá�ca e a perturbação ou quebra do sen�do. Assinale a alterna�va em que a 96@professorferrettona realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me in�midar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: “O que você quer com o passado?”. Repe�a. E, diante da sua insistência bovina, �ve de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta. Bernardo Carvalho, Nove Noites. Adaptado. Sem prejuízo de sen�do e fazendo as adaptações necessárias, é possível subs�tuir as expressões em destaque no texto, respec�vamente, por a) incompreensão; armação; inofensivo; irredu�vel. b) al�vez; brincadeira; ofendido; mansa. c) ignorância; men�ra; prejudicado; alienada. d) complacência; invenção; bobo; cega. e) arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca. IT0361 - (Enem) O bebê de tarlatana rosa – [...] Na terça desliguei-me do grupo e caí no mar alto da depravação, só, com uma roupa leve por cima da pele e todos os maus ins�ntos fus�gados. De resto a cidade inteira estava assim. É o momento em que por trás das máscaras as meninas confessam paixões aos rapazes, é o instante em que as ligações mais secretas transparecem, em que a virgindade é dúbia e todos nós a achamos inú�l, a honra uma caceteação, o bom senso uma fadiga. Nesse momento tudo é possível, os maiores absurdos, os maiores crimes; nesse momento há um riso que galvaniza os sen�dos e o beijo se desata naturalmente. Eu estava trepidante, com uma ânsia de acanalhar-me, quase mórbida. Nada de raparigas do galarim perfumadas e por demais conhecidas, nada do contato familiar, mas o deboche anônimo, o deboche ritual de chegar, pegar, acabar, con�nuar. Era ignóbil. Felizmente muita gente sofre do mesmo mal no carnaval. RIO, J. Dentro da noite. São Paulo: An�qua, 2002. No texto, o personagem vincula ao carnaval a�tudes e reações cole�vas diante das quais expressa a) consagração da alegria do povo. b) atração e asco perante a�tudes liber�nas. c) espanto com a quan�dade de foliões nas ruas. d) intenção de confraternizar com desconhecidos. e) reconhecimento da festa como manifestação cultural. IT0330 - (Enem) Urgência emocional Se tudo é para ontem, se a vida engata uma primeira e sai em disparada, se não há mais tempo para paradas estratégicas, caímos fatalmente no vício de querer que os amores sejam igualmente resolvidos num á�mo de segundo. Temos pressa para ouvir “eu te amo”. Não vemos a hora de que fiquem estabelecidas as regras de convívio: somos namorados, ficantes, casados, amantes? Urgência emocional. Uma cilada. Associamos diversas palavras ao AMOR: paixão, romance, sexo, adrenalina, palpitação. Esquecemos, no entanto, da palavra que viabiliza esse sen�mento: “paciência”. Amor sem paciência não vinga. Amor não pode ser mas�gado e engolido com emergência, com fome desesperada. É uma refeição que pode durar uma vida. MEDEIROS, M. Disponível em: h�p:/porumavidasimples.blogspot.com.br. Acesso em: 20 ago. 2017 (adaptado). Nesse texto de opinião, as marcas linguís�cas revelam uma situação distensa e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a) a) impessoalização ao longo do texto, como em: “se não há mais tempo”. b) construção de uma atmosfera de urgência, em palavras como: “pressa”. c) repe�ção de uma determinada estrutura sintá�ca, como em: “Se tudo é para ontem”. d) ênfase no emprego da hipérbole, como em: “uma refeição que pode durar uma vida”. e) emprego de metáforas, como em: “a vida engata uma primeira e sai em disparada”. IT0017 - (Enem) TEXTO I Terezinha de Jesus De uma queda foi ao chão Acudiu três cavalheiros Todos os três de chapéu na mão O primeiro foi seu pai O segundo, seu irmão O terceiro foi aquele A quem Tereza deu a mão 10@professorferretto @prof_ferretto BATISTA, M. F. B. M.; SANTOS, I. M. F. (Org.). Cancioneiro da Paraíba. João Pessoa: Grafset, 1993 (adaptado). TEXTO II Outra interpretação é feita e par�r das condições sociais daquele tempo. Para a ama e para a criança para quem cantava a can�ga, e música falava do casamento como um des�no natural na vida da mulher, na sociedade brasileira do século XIX, marcada pelo patriarcalismo. A música prepara a moça para o seu des�no não apenas inexorável, mas desejável; o casamento, estabelecendo uma hierarquia de obediência (pai, irmão mais velho, marido), de acordo com a época e circunstâncias de sua vida. Disponível em: h�p://provsjose.blogspot.com.br. Acesso em: 5 dez. 2012. O comentário do Texto II sobre o Texto I evoca a mobilização da língua oral que, em determinados contextos, a) assegura existência de pensamentos contrários à ordem vigente. b) mantém a heterogeneidade das formas de relações sociais. c) conserva a influência sobre certas culturas. d) preserva a diversidade cultural e comportamental. e) reforça comportamentos e padrões culturais. IT0294 - (Fuvest) Leia os seguintes textos de Machado de Assis: I. Suave mari magno* Lembra-me que, em certo dia, Na rua, ao sol de verão, Envenenado morria Um pobre cão. Arfava, espumava e ria, De um riso espúrio e bufão, Ventre e pernas sacudia Na convulsão. Nenhum, nenhum curioso Passava, sem se deter, Silencioso, Junto ao cão que ia morrer, Como se lhe desse gozo Ver padecer. Machado de Assis. Ocidentais. * Expressão la�na, re�rada de Lucrécio (Da natureza das coisas), a qual aparece no seguinte trecho: Suave, mari magno, turban�bus aequora ven�s/ E terra magnum alterius spectare laborem. (“É agradável, enquanto no mar revoltoso os ventos levantam as águas, observar da terra os grandes esforços de um outro.”). II. Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. XVIII. III. Sofia soltou um grito de horror e acordou. Tinha ao pé do leito o marido: – Que foi? perguntou ele. – Ah! respirou Sofia. Gritei, não gritei? (...) – Sonhei que estavam matando você. Palha ficou enternecido. Havê-la feito padecer por ele, ainda que em sonhos, encheu-o de piedade, mas de uma piedade gostosa, um sen�mento par�cular, ín�mo, profundo, – que o faria desejar outros pesadelos, para que o assassinassem aos olhos dela, e para que ela gritasse angus�ada, convulsa, cheia de dor e de pavor. Machado de Assis. Quincas Borba, cap. CLXI. A analogia consiste em um recurso de expressão comumente u�lizado para ilustrar um raciocínio por meio da semelhança que se observa entre dois fatos ou ideias. No texto II, a analogia construída a par�r da imagem do chicote pretende sugerir que a) o instrumento do cas�go nem sempre cai em mãos justas. b) o apreço aos objetos independe do uso que se faz deles. c) o cabo é metáfora de mérito, e a ponta, metáfora de culpa. d) o mais fraco, por ser compassivo, é incapaz de desfrutar do poder. e) o prazer verdadeiro se experimenta no lado dos dominantes. IT0029 - (Enem) Censura moralista Há tempos que a leitura está em pauta. E, diz-se, em crise. Comenta-se esta crise, por exemplo, apontando a precariedade das prá�cas de leitura, lamentando a falta de familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em tantos municípios, do preço dos 11@professorferretto @prof_ferretto livros em livrarias, num nunca acabar de problemas e de carências. Mas, de um tempo para cá, pesquisas acadêmicas vêm dizendo que talvez não seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, só que leem livros que as pesquisas tradicionais não levam em conta. E, também de um tempo para cá, polí�cas educacionais têm tomado a peito inves�r em livros e em leitura. LAJOLO, M. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 2 dez. 2013 (fragmento). Os falantes, nos textos que produzem, sejam orais ou escritos, posicionam-se frente a assuntos que geram consenso ou despertam polêmica. No texto, a autora a) ressalta@prof_ferretto reordenação dos elementos não altera a estrutura do período em destaque e mantém o mesmo sen�do, a) Quando era no reconhecido cinema entrava. b) Era reconhecido quando entrava no cinema. c) Entrava quando no cinema era reconhecido. d) Quando era reconhecido entrava no cinema. e) Entrava reconhecido quando era no cinema. IT0831 - (Unesp) A questão toma por base uma passagem do ar�go Os operários da música livre, de Ronaldo Evangelista, Desde o final do século 20, toda a engrenagem industrial do mercado musical passa por intensas transformações, como o surgimento e disseminação de novas tecnologias, em grande parte gratuitas, como os arquivos MP3, as redes de compar�lhamento destes arquivos, mecanismos torrents, sites de armazenamento de conteúdo, ferramentas de publicação on-line – tudo à disposição de quem quisesse dividir com os outros suas canções e discos favoritas. A era pós-industrial a�ngiu toda a indústria do entretenimento, mas o braço da música foi quem mais sofreu, especialmente as grandes gravadoras mul�nacionais, as chamadas majors, que sofreram um declínio em todas as etapas de seu an�go negócio, ao mesmo tempo em que rapidamente se aperfeiçoavam ferramentas baratas e caseiras de produção que diminuíam a distância entre amadores e profissionais. A era digital é também chamada de pós-industrial porque confronta o modelo de produção que dominava até o final do século 20. Esse modelo industrial é baseado na repe�ção, em formatar e embalar. Por trás disso, a ideia é obter a máxima produção – o que, para produtos em geral, funciona muito bem. Quando esses parâmetros são aplicados à arte, a venda do produto (por exemplo, o disco) depende do conteúdo (a canção). À canção que vai resultar nessa “produção máxima” é buscada por meio de um equilíbrio entre cria�vidade e uma fórmula de sucesso que desperte o interesse do público. Como estudos ainda não conseguiram decifrar como direcionar a cria�vidade de uma maneira que certamente despertará esse interesse (e maximizará a produção), a opção normalmente costuma ser pela solução mais simples. “Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibilidades, pois tudo tende a ser cada vez menos homogêneo”, opina o baiano Lucas Santana, que realizou seus discos recentes às próprias custas. “Claro que ainda existe uma distância em relação aos ar�stas chamados mainstream”, con�nua. “Mas você muda o tamanho da escala e já está tudo igual em termos de business. A pergunta é se essa geração faz uma música para esse grande mercado ou se ela está formando um novo público. Outra pergunta é se o grande mercado na verdade não passa de uma imposição de uma máfia que dita o que vai ser popular.” (Galileu, março de 2013. Adaptado.) Segundo o autor, desde o final do século 20, as novas tecnologias e so�wares voltados para a música beneficiaram a) as lojas especializadas na venda de discos de vinil e digitais. b) os distribuidores de discos de vinil no mercado internacional. c) as grandes gravadoras e produtoras nacionais de discos. d) as grandes redes de supermercados e shoppings. e) os usuários interessados em compar�lhar músicas. IT0832 - (Unesp) A questão toma por base uma passagem do ar�go Os operários da música livre, de Ronaldo Evangelista, Desde o final do século 20, toda a engrenagem industrial do mercado musical passa por intensas transformações, como o surgimento e disseminação de novas tecnologias, em grande parte gratuitas, como os arquivos MP3, as redes de compar�lhamento destes arquivos, mecanismos torrents, sites de armazenamento de conteúdo, ferramentas de publicação on-line – tudo à disposição de quem quisesse dividir com os outros suas canções e discos favoritas. A era pós-industrial a�ngiu toda a indústria do entretenimento, mas o braço da música foi quem mais sofreu, especialmente as grandes gravadoras mul�nacionais, as chamadas majors, que sofreram um declínio em todas as etapas de seu an�go negócio, ao mesmo tempo em que rapidamente se aperfeiçoavam ferramentas baratas e caseiras de produção que diminuíam a distância entre amadores e profissionais. A era digital é também chamada de pós-industrial porque confronta o modelo de produção que dominava até o final do século 20. Esse modelo industrial é baseado na repe�ção, em formatar e embalar. Por trás disso, a ideia é obter a máxima produção – o que, para produtos em geral, funciona muito bem. Quando esses parâmetros são aplicados à arte, a venda do produto (por exemplo, o disco) depende do conteúdo (a canção). À canção que vai resultar nessa “produção máxima” é buscada por meio de um equilíbrio entre cria�vidade e uma fórmula de sucesso que desperte o interesse do público. Como estudos ainda não conseguiram decifrar como direcionar a cria�vidade de uma maneira que certamente despertará esse interesse (e maximizará a produção), a 97@professorferretto @prof_ferretto opção normalmente costuma ser pela solução mais simples. “Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibilidades, pois tudo tende a ser cada vez menos homogêneo”, opina o baiano Lucas Santana, que realizou seus discos recentes às próprias custas. “Claro que ainda existe uma distância em relação aos ar�stas chamados mainstream”, con�nua. “Mas você muda o tamanho da escala e já está tudo igual em termos de business. A pergunta é se essa geração faz uma música para esse grande mercado ou se ela está formando um novo público. Outra pergunta é se o grande mercado na verdade não passa de uma imposição de uma máfia que dita o que vai ser popular.” (Galileu, março de 2013. Adaptado.) Numerosas palavras da língua inglesa são adotadas no mundo todo em jornais, revistas e livros especializados, por terem sido incorporadas aos vocabulários da indústria, do comércio, da tecnologia e de muitas outras a�vidades. Levando em consideração o contexto do ar�go, assinale a alterna�va em que a palavra da língua inglesa é empregada para designar algo ou alguém que caiu no gosto do público, com vasta disseminação pela mídia: a) majors. b) mainstream. c) torrents. d) sites. e) business. IT0833 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autran Dourado (1926–2012). A gente Honório Cota Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o sobrado, �nha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, reservado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa corrente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade — de brim, a não ser em certas ocasiões (ba�zado, morte, casamento — então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfeito. Dava gosto ver: O passo vagaroso de quem não tem pressa — o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, descia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê-lo passar. Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado, como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponderada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, es�cava-as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto. Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cavalo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande, imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros an�gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guerra armados cavaleiros. (Ópera dos mortos, 1970.) No início do segundo parágrafo, por ter na frase a mesma função sintá�ca que o vocábulo “vagaroso” com relação a “passo”, a oração “de quem não tem pressa” é considerada a) coordenada sindé�ca. b) subordinada substan�va. c) subordinada adje�va. d) coordenada assindé�ca. e) subordinada adverbial. IT0834 - (Unesp) Leia uma passagem de um romance de Autrana importância de os professores incen�varem os jovens às prá�cas de leitura. b) cri�ca pesquisas tradicionais que atribuem a falta de leitura à precariedade de bibliotecas. c) rebate a ideia de que as polí�cas educacionais são eficazes no combate à crise de leitura. d) ques�ona a existência de uma crise de leitura com base nos dados de pesquisas acadêmicas. e) atribui a crise da leitura à falta de incen�vos e ao desinteresse dos jovens por livros de qualidade. IT0355 - (Enem) Notas Soluços, lágrimas, casa armada, veludo preto nos portais, um homem que veio ves�r o cadáver, outro que tomou a medida do caixão, caixão, essa, tocheiros, convites, convidados que entravam, lentamente, a passo surdo, e apertavam a mão à família, alguns tristes, todos sérios e calados, padre e sacristão, rezas, aspersões d’água benta, o fechar do caixão, a prego e martelo, seis pessoas que o tomam da essa, e o levantam, e o descem a custo pela escada, não obstante os gritos, soluços e novas lágrimas da família, e vão até o coche fúnebre, e o colocam em cima e traspassam e apertam as correias, o rodar do coche, o rodar dos carros, um a um... Isto que parece um simples inventário eram notas que eu havia tomado para um capítulo triste e vulgar que não escrevo. ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 25 jul. 2022. O recurso linguís�co que permite a Machado de Assis considerar um capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas como inventário é a a) enumeração de objetos e fatos. b) predominância de linguagem obje�va. c) ocorrência de período longo no trecho. d) combinação de verbos no presente e no pretérito. e) presença de léxico do campo semân�co de funerais. IT0344 - (Enem) A escrava – Admira-me –, disse uma senhora de sen�mentos sinceramente abolicionistas —; faz-me até pasmar como se possa sen�r, e expressar sen�mentos escravocratas, no presente século, no século dezenove! A moral religiosa e a moral cívica aí se erguem, e falam bem alto esmagando a hidra que envenena a família no mais sagrado santuário seu, e desmoraliza, e avilta a nação inteira! Levantai os olhos ao Gólgota, ou percorrei-os em torno da sociedade, e dizei-me: – Para que se deu em sacri�cio, o Homem Deus, que ali exalou seu derradeiro alento? Ah! Então não era verdade que seu sangue era o resgate do homem! É então uma men�ra abominável ter esse sangue comprado a liberdade!? E depois, olhai a sociedade... Não vedes o abutre que a corrói constantemente!... Não sen�s a desmoralização que a enerva, o cancro que a destrói? Por qualquer modo que encaremos a escravidão, ela é, e sempre será um grande mal. Dela a decadência do comércio; porque o comércio e a lavoura caminham de mãos dadas, e o escravo não pode fazer florescer a lavoura; porque o seu trabalho é forçado. REIS, M. F. Úrsula outras obras. Brasília: Câmara dos Deputados, 2018. Inscrito na esté�ca român�ca da literatura brasileira, o conto descor�na aspectos da realidade nacional no século XIX ao a) revelar a imposição de crenças religiosas a pessoas escravizadas. b) apontar a hipocrisia do discurso conservador na defesa da escravidão. c) sugerir prá�cas de violência �sica e moral em nome do progresso material. d) relacionar o declínio da produção agrícola e comercial a questões raciais. e) ironizar o comportamento dos proprietários de terra na exploração do trabalho. IT0022 - (Enem) Palavras jogadas fora Quando criança, convivia no interior de São Paulo com o curioso verbo pinchar e ainda o ouço por lá esporadicamente. O sen�do da palavra é o de “jogar fora” (pincha fora essa porcaria) ou “mandar embora” (pincha esse fulano daqui). Teria sido uma das muitas palavras que ouvi menos na capital do estado e, por conseguinte, deixei de usar. Quando indago às pessoas se conhecem esse verbo, comumente escuto respostas como “minha avó fala isso”. Aparentemente, para muitos 12@professorferretto @prof_ferretto falantes, esse verbo é algo do passado, que deixará de exis�r tão logo essa geração an�ga morrer. As palavras são, em sua grande maioria, resultados de uma tradição: elas já estavam lá antes de nascermos. “Tradição”, e�mologicamente, é o ato de entregar, de passar adiante, de transmi�r (sobretudo valores culturais). O rompimento da tradição de uma palavra equivale à sua ex�nção. A gramá�ca norma�va muitas vezes colabora criando preconceitos, mas o fator mais forte que mo�va os falantes a ex�nguirem uma palavra é associar a palavra, influenciados direta ou indiretamente pela visão norma�va, a um grupo que julga não ser o seu. O pinchar, associado ao ambiente rural, onde há pouca escolaridade e refinamento citadino, está fadado à ex�nção? É louvável que nos preocupemos com a ex�nção de ararinhas-azuis ou dos micos-leão-dourados, mas a ex�nção de uma palavra não promove nenhuma comoção, como não nos comovemos com a ex�nção de insetos, a não ser dos extraordinariamente belos. Pelo contrário, muitas vezes a ex�nção das palavras é incen�vada. VIARO, M. E. Língua Portuguesa. n. 77, mar. 2012 (adaptado). A discussão empreendida sobre o (des)uso do verbo “pinchar” nos traz uma reflexão sobre a linguagem e seus usos, a par�r da qual compreende-se que a) as palavras esquecidas pelos falantes devem ser descartadas dos dicionários, conforme sugere o �tulo. b) o cuidado com espécies animais em ex�nção é mais urgente do que a preservação de palavras. c) o abandono de determinados vocábulos está associado a preconceitos socioculturais. d) as gerações têm a tradição de perpetuar o inventário de uma língua. e) o mundo contemporâneo exige a inovação do vocabulário das línguas. IT0035 - (Enem) Ó Pátria amada. Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro dessa flâmula — “Paz no futuro e glória no passado.” Mas, se ergues da jus�ça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gen�l, Pátria amada, Brasil! Hino Nacional do Brasil. Letra: Joaquim Osório Duque Estrada. Música: Francisco Manuel da Silva (fragmento). O uso da norma-padrão na letra do Hino Nacional do Brasil é jus�ficado por tratar-se de um(a) a) reverência de um povo a seu país. b) gênero solene de caracterís�ca protocolar. c) canção concebida sem interferência da oralidade. d) escrita de uma fase mais an�ga da língua portuguesa. e) artefato cultural respeitado por todo o povo brasileiro. IT0302 - (Fuvest) Uma úl�ma gargalhada estrondosa. 1E depois, o silêncio. O palhaço jazia 2imóvel no chão. 3Mas seu rosto con�nua sorrindo, para sempre. Porque a carreira original do Coringa era para durar apenas 30 páginas. O tempo de envenenar Gotham, sequestrar 4Robin, enfiar um par de sopapos na Homem-Morcego e disparar o primeiro “vou te matar” da sua relação. Na briga final do Batman nº. 1, o “horripilante bufão” sofria um final digno de sua desumana ironia: 5ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito. Assim decidiram e desenharam 6seus pais, os ar�stas Bill Finger, Bob Kane e Jerry Robinson. Entretanto, o criminoso mostrou, já em sua primeira aventura, um enorme talento para 7se rebelar contra a ordem estabelecida. 8Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho. Já dentro da ambulância, vinha à tona “um dado desconcertante”. E então um médico sentenciava: “Con�nua 9vivo. E vai sobreviver!”. Tommaso Koch. “O Coringa completa 80 anos e na Espanha ganha duas HQs, que inspiram debates filosóficos sobre a liberdade”, EI País. Junho/2020. As vírgulas em “E depois, o silêncio.” (ref. 1) e em “Mas seu rosto con�nua sorrindo, para sempre.” (ref. 3) são usadas, respec�vamente, com a mesma finalidade que as vírgulas em 13@professorferretto @prof_ferretto a) “Após a queda, tomaram mais cuidado.” e “Quanto mais espaço, mais liberdade.”. b) “Aos estrangeiros, ofereceram iguarias.”e “Limpavam a casa, e preparávamos as refeições.”. c) “Colheram trigo e nós, algodão.” e “Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.”. d) “Para meus amigos, o melhor.” e “Organizava tudo, cautelosamente.”. e) “Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria.” e “‘Conheço muito bem’, afirmou o rapaz.”. IT0304 - (Fuvest) Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu fes�val anual, cuja 77.ª edição começa no dia 2 de setembro, com a dramédia “Lacci”, do romano Daniele Luche�, seguindo até 12/9, com 50 produções internacionais e uma expecta�va (extraoficial) de colocar “West Side Story”, de Steven Spielberg, na ribalta. Rodrigo Fonseca. “À espera dos rugidos de Veneza”. O Estado de S. Paulo. Julho/2020. Adaptado. Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira. A força expressiva dessa nova palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de “dramédia” no texto. Ocorre esse mesmo �po de formação em a) “deleitura” e “namorido”. b) “passatempo” e “microves�do”. c) “hidrelétrica” e “sabiamente”. d) “arenista” e “girassol”. e) “planalto” e “mul�cor”. IT0023 - (Enem) Azeite de oliva e óleo de linhaça: uma dupla imba�vel Rico em gorduras do bem, ela combate a obesidade, dá um chega pra lá no diabete e ainda livra o coração de entraves Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não seja possível usar os dois óleos jun�nhos, no mesmo dia. Individualmente, o duo também bate um bolão. Segundo um estudo recente do grupo EurOlive, formado por ins�tuições de cinco países europeus, os polifenóis do azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do colesterol LDL, considerado perigoso. Quando isso ocorre, reduz-se o risco de placas de gordura na parede dos vasos, a temida aterosclerose - doença por trás de encrencas como o infarto. MANARINI, T. Saúde é vital. n. 347, fev. 2012 (adaptado). Para divulgar conhecimento de natureza cien�fica para um público não especializado, Manarini recorre à associação entre vocabulário formal e vocabulário informal. Altera-se o grau de formalidade do segmento no texto, sem alterar o sen�do da informação, com a subs�tuição de a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda embora o diabete”. b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça”. c) “bate um bolão” por “é um show”. d) “jun�nhos” por “misturadinhos”. e) “por trás de encrencas” por “causadora de problemas”. IT0015 - (Enem) O Ins�tuto de Arte de Chicago disponibilizou para visualização on-line, compar�lhamento ou download (sob licença Crea�ve Commons), 44 mil imagens de obras de arte em al�ssima resolução, além de livros, estudos e pesquisas sobre a história da arte. Para o historiador da arte, Bendor Grosvenor, o sucesso das coleções on-line de acesso aberto, além de democra�zar a arte, vem ajudando a formar um novo público museológico. Grosvenor acredita que quanto mais pessoas forem expostas à arte on-line, mais visitas pessoais acontecerão aos museus. A coleção está disponível em seis categorias: paisagens urbanas, impressionismo, essenciais, arte africana, moda e animais. Também é possível pesquisar pelo nome da obra, es�lo, autor ou período. Para navegar pela imagem em alta definição, basta clicar sobre ela e u�lizar a ferramenta de zoom. Para fazer o download, disponível para obras de domínio público, é preciso u�lizar a seta localizada do lado inferior direito da imagem. Disponível em: www.revistabula.com. Acesso em: 5 dez. 2018 (adaptado). A função da linguagem que predomina nesse texto se caracteriza por a) evidenciar a subje�vidade da reportagem com base na fala do historiador de arte. b) convencer o leitor a fazer o acesso on-line, levando-o a conhecer as obras de arte. c) informar sobre o acesso às imagens por meio da descrição do modo como acessá-las. d) estabelecer interlocução com o leitor, orientando-o a fazer o download das obras de arte. e) enaltecer a arte, buscando popularizá-la por meio da possibilidade de visualização on-line. 14@professorferretto @prof_ferretto IT0340 - (Enem) PALAVRA – As gramá�cas classificam as palavras em substan�vo, adje�vo, verbo, advérbio, conjunção, prono - me, numeral, ar�go e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas, e para brincar com elas é preciso ter in�midade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sen�mento às coisas, fazer sen�do. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra “palavra” diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e pronto. FALCÃO, A. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Salamandra, 2013 (adaptado). Esse texto, que simula um verbete para a palavra “palavra”, cons�tui-se como um poema porque a) tema�za o fazer poé�co, como em “Os poetas classificam as palavras pela alma”. b) u�liza o recurso expressivo da metáfora, como em “As palavras têm corpo e alma”. c) valoriza a gramá�ca da língua, como em “substan�vo, adje�vo, verbo, advérbio, conjunção”. d) estabelece comparações, como em “As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas”. e) apresenta informações per�nentes acerca do conceito de “palavras”, como em “As gramá�cas classificam as palavras”. IT0329 - (Fuvest) E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta úl�ma reflexão é o mo�vo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados. Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou-lhe “o anjo da consolação”. 1E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mor�ficar as novas amigas, e fazer-lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o ar�go que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, par�cularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”. Machado de Assis, Quincas Borba. Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (ref. 1) pode ser reescrito, sem prejuízo de sen�do, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou, a) apesar de lisonjeá-la. b) antes a lisonjeou. c) porque a lisonjeava. d) a fim de lisonjeá-la. e) tanto quanto a lisonjeava. IT0297 - (Fuvest) A taxação de livros tem um efeito cascata que acaba custando caro não apenas ao leitor, como também ao mercado editorial – que há anos não anda bem das pernas – e, em úl�ma instância, ao desenvolvimento econômico do país. A gente explica. Taxar um produto significa, quase sempre, um aumento no valor do produto final. Isso porque ao menos uma parte desse imposto será repassada ao consumidor, especialmente se considerarmos que as editoras e livrarias enfrentam há anos uma crise que agora está intensificada pela pandemia e não poderiam re�rar o valor desse imposto de seu já apertado lucro. Livros mais caros também resultam em queda de vendas, que, por sua vez, enfraquece ainda mais editoras e as impede de inves�r em novas publicações – especialmente aquelas de menor apelo comercial, mas igualmente importantes para a pluralidade de ideias. Já deu para perceber a confusão, não é? Mas, além disso, qual seria o custo de uma sociedade com menos leitores e menos livros? Taís Ilhéu. “Por que taxar os livros pode gerar retrocesso social e econômicono país”. Guia do Estudante. Setembro/2020. Adaptado No texto, os pronomes em negrito referem-se, respec�vamente, a: a) taxação de livros, mercado editorial, crise, queda de vendas. b) taxação de livros, leitor, crise, queda de vendas. c) efeito cascata, mercado editorial, crise, queda de vendas. d) efeito cascata, mercado editorial, livrarias, livros. e) efeito cascata, leitor, crise, livros. IT0018 - (Enem) De domingo –– Outrossim... –– O quê? 15@professorferretto @prof_ferretto –– O que o quê? –– O que você disse. –– Outrossim? –– É. –– O que é que tem? –– Nada. Só achei engraçado. –– Não vejo a graça. –– Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias. –– Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo. –– Se bem que parece mais uma palavra de segunda- feira. –– Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”. –– “Ônus”. –– “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”. –– “Resquício” é de domingo. –– Não, não. Segunda. No máximo terça. –– Mas “outrossim”, francamente... –– Qual o problema? –– Re�ra o “outrossim”. –– Não re�ro. É uma ó�ma palavra. Aliás é uma palavra di�cil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”. VERISSIMO, L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento). No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a) a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indica�vas dos dias da semana. b) tom humorís�co, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais. c) caracterização da iden�dade linguís�ca dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais. d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados pouco conhecidos. e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo. IT0013 - (Enem) Seu delegado Eu sou viúvo e tenho um filho homem Arrumei uma viúva e fui me casar A minha sogra era muito teimosa Com o meu filho foi se matrimoniar Desse matrimônio nasceu um garoto Desde esse dia que eu ando é louco Esse garoto é filho do meu filho E o filho da minha sogra é irmão da minha mulher Ele é meu neto e eu sou cunhado dele A minha nora é minha sogra Meu filho meu sogro é Nessa confusão já nem sei quem sou Acaba esse garoto sendo meu avô. TRIO FORROZÃO. Agitando a rapaziada. Rio de Janeiro: Natasha Records, 2009. Nessa letra da canção, a suposição do úl�mo verso sinaliza a intenção do autor de a) ironizar as relações familiares modernas. b) reforçar o humor da situação representada. c) expressar perplexidade em relação ao parente. d) atribuir à criança a causa da dúvida existencial. e) ques�onar os lugares predeterminados da família. IT0031 - (Enem) eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com toda família... né... meu... meu avô... materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente morreu... minha mãe �nha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu padrinho... �nha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde �nha vaga pra funcionário do Banco do Brasil e ela foi parar na rua do meu pai... né... e começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo... brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível... né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos... dezessete anos de casados... CUNHA, M. A. F. (Org.). Corpus discurso & gramá�ca: a língua falada e escrita na cidade do Natal. Natal: EdUFRN, 1998. Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no qual se observa a frequente repe�ção de “né”. Essa repe�ção é um(a) 16@professorferretto @prof_ferretto a) índice de baixa escolaridade do falante. b) estratégia �pica de manutenção da interação oral. c) marca de conexão lógica entre conteúdos na fala. d) manifestação caracterís�ca da fala regional nordes�na. e) recurso enfa�zador da informação mais relevante da narra�va. IT0003 - (Enem) A draga A gente não sabia se aquela draga �nha nascido ali, no Porto, como um pé de árvore ou uma duna. – E que fosse uma casa de peixes? Meia dúzia de loucos e bêbados moravam dentro dela, enraizados em suas ferragens. Dos viventes da draga era um o meu amigo Mário-pega- sapo. [...] Quando Mário morreu, um literato oficial, em necrológio caprichado, chamou-o de Mário-Captura-Sapo! Ai que dor! Ao literato cujo fazia-lhe nojo a forma coloquial. Queria capturaem vez de pega para não macular (sic) a língua nacional lá dele... Da velha draga Abrigo de vagabundos e de bêbados, restaram as expressões: estar na draga, viver na draga por estar sem dinheiro, viver na miséria Que ora ofereço ao filólogo Aurélio Buarque de Hollanda Para que as registre em seus léxicos Pois que o povo já as registrou. BARROS, M. Gramá�ca exposi�va do chão: poesia quase toda. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1990 (fragmento). Ao cri�car o preciosismo linguís�co do literato e ao sugerir a dicionarização de expressões locais, o poeta expressa uma concepção de língua que a) contrapõe caracterís�cas da escrita e da fala. b) ironiza a comunicação fora da norma-padrão. c) subs�tui regionalismos por registros formais. d) valoriza o uso de variedades populares. e) defende novas regras grama�cais. IT0360 - (Enem) Firmo, o vaqueiro No dia seguinte, à hora em que saía o gado, estava eu debruçado à varanda quando vi o cafuzo que preparava o animal viajeiro: – Raimundinho, como vai ele?... De longe apontou a palhoça. – Sim. O braço caiu-lhe, olhou-me algum tempo comovido; depois, saltando para o animal, levou o polegar à boca fazendo estalar a unha nos dentes: “Às quatro da manhã... A�rei um verso e disse, para bulir com ele: Pega, velho! Não respondeu. Tio Firmo, mesmo velho e doente, não era homem para deixar um verso no chão... Fui ver, coitado!... estava morto. E deu de esporas para que eu não lhe visse as lágrimas. NETTO, C. In: MARCHEZAN, L. G. (Org.). O conto regionalista. São Paulo: Mar�ns Fontes, 2009. A passagem registra um momento em que a expressividade lírica é reforçada pela a) plas�cidade da imagem do rebanho reunido. b) sugestão da firmeza do sertanejo ao arrear o cavalo. c) situação de pobreza encontrada nos sertões brasileiros. d) afe�vidade demonstrada ao no�ciar a morte do cantador. e) preocupação do vaqueiro em demostrar sua virilidade. ITT0335 - (Enem) Ora, sempre que surge uma nova técnica, ela quer demonstrar que revogará as regras e coerções que presidiram o nascimento de todas as outras invenções do passado. Ela se pretende orgulhosa e única. Como se a nova técnica carreasse com ela, automa�camente, para seus novos usuários, uma propensão natural a fazer economia de qualquer aprendizagem. Como se ela se preparasse para varrer tudo que a precedeu, ao mesmo tempo transformando em analfabetos todos os que ousassem repeli-la. Fui testemunha dessa mudança ao longo de toda a minha vida. Ao passo que, na realidade, é o contrário que acontece. Cada nova técnica exige uma longa iniciação numa nova linguagem, ainda mais longa na medida em que nosso espírito é formatado pela u�lização das linguagens que precederam o nascimento da recém- chegada. ECO, U.; CARRIÈRE, J.-C. Não contem com o fim do livro. Rio de Janeiro: Record, 2010 (adaptado). O texto revela que, quando a sociedade promove o desenvolvimento de uma nova técnica, o que mais impacta seus usuáriosé a 17@professorferretto @prof_ferretto a) dificuldade na apropriação da nova linguagem. b) valorização da u�lização da nova tecnologia. c) recorrência das mudanças tecnológicas. d) suplantação imediata dos conhecimentos prévios. e) rapidez no aprendizado do manuseio das novas invenções. IT0317 - (Fuvest) Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poé�cos, abolem, “destroem” o mundo circundante, co�diano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem-nos na teia de sua linguagem, a que devem o poder de apelo esté�co que nos enleia; seduz-nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri-lo, sen�ndo-o e pensando- o de maneira diferente e nova. A ilusão, a men�ra, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar-se dele, transfigurando-o; e aclara-o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “É�ca e leitura”, de Crivo de Papel. O que eu precisava era ler um romance fantás�co, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo- se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angús�a. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angús�a. O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza ar�s�ca da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se a) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo. b) u�liza a linguagem para informar sobre o mundo. c) ins�ga no leitor uma a�tude reflexiva diante do mundo. d) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo. e) conduz o leitor a ignorar o mundo real. IT0314 - (Fuvest) Psicanálise do açúcar O açúcar cristal, ou açúcar de usina, mostra a mais instável das brancuras: quem do Recife sabe direito o quanto, e o pouco desse quanto, que ela dura. Sabe o mínimo do pouco que o cristal se estabiliza cristal sobre o açúcar, por cima do fundo an�go, de mascavo, do mascavo barrento que se incuba; e sabe que tudo pode romper o mínimo em que o cristal é capaz de censura: pois o tal fundo mascavo logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. Só os banguês que-ainda purgam ainda o açúcar bruto com barro, de mistura; a usina já não o purga: da infância, não de depois de adulto, ela o educa; em enfermarias, com vácuos e turbinas, em mãos de metal de gente indústria, a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: não o purga, cura. Mas como a cana se cria ainda hoje, em mãos de barro de gente agricultura, o barrento da pré-infância logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. João Cabral de Melo Neto, A Educação pela Pedra. * banguê: engenho de açúcar primi�vo movido a força animal. Os úl�mos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e o banguê, pois a) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo. b) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cul�vada. c) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural. d) denunciam a exploração do trabalho infan�l nos canaviais nordes�nos. e) explicam que a estação do ano define em qualquer processo o �po de açúcar. IT0298 - (Fuvest) Chega um momento em que a tensão eu/mundo se exprime mediante uma perspec�va crí�ca, imanente à escrita, o que torna o romance não mais uma variante literária da ro�na social, mas o seu avesso; logo, o oposto do discurso ideológico do homem médio. O romancista “imitaria” a vida, sim, mas qual vida? Aquela cujo sen�do dramá�co escapa a homens e mulheres entorpecidos ou automa�zados por seus hábitos co�dianos. A vida como 18@professorferretto @prof_ferretto objeto de busca e construção, e não a vida como encadeamento de tempos vazios e inertes. Caso essa pobre vida-morte deva ser tema�zada, ela aparecerá como tal, degradada, sem a aura posi�va com que as palavras “realismo” e “realidade” são usadas nos discursos que fazem a apologia conformista da “vida como ela é”... A escrita da resistência, a narra�va atravessada pela tensão crí�ca, mostra, sem retórica nem alarde ideológico, que essa “vida como ela é” é, quase sempre, o ramerrão [repe�ção] de um mecanismo alienante, precisamente o contrário da vida plena e digna de ser vivida. É nesse sen�do que se pode dizer que a narra�va descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à men�ra. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente. Alfredo Bosi. “Narra�va e resistência”. Adaptado. O conceito de resistência, expresso pela tensão do indivíduo perante o mundo, adquire perspec�va crí�ca na escrita do romance quando o autor a) rompe a super�cie enganosa da realidade. b) forja um realismo rente à vida mesquinha. c) é neutro ao figurar a vacuidade do presente. d) conserva o discurso posi�vo da ordem. e) consegue sobrepor a fantasia à verdade. IT0362 - (Enem) Vanda vinha do interior de Minas Gerais e de dentro de um livro de Charles Dickens. Sem dinheiro para criá-la, sua mãe a dera, com seus sete anos, a uma conhecida. Ao recebê-la, a mulher perguntou o que a garo�nha gostava de comer. Anotou tudo num papel. Mal a mãe virou as costas, no entanto, a fulana amassou a lista e, como uma vilã de folhe�m, decretou: “A par�r de hoje, você não vai mais nem sen�r o cheiro dessas comidas!”. Vanda trabalhou lá até os quinze anos, quando recebeu a carta de uma prima com uma nota de cem cruzeiros, saiu de casa com a roupa do corpo e fugiu num ônibus para São Paulo. Todas as vezes que eu e minha irmã a importunávamos com nossas demandas de criança mimada, ela nos contava histórias da infância de gata-borralheira, fazia- nos apertar seu nariz quebrado por uma das filhas da “patroa” com um rolo de amassar pão e nos expulsava da cozinha: “Sai pra lá, peste, e me deixa acabar essa janta” PRATA, A. Nu de botas. São Paulo: Cia. das Letras, 2013 (adaptado). Pela ó�ca do narrador, a trajetória da empregada de sua casa assume um efeito expressivo decorrente da a) citação a referências literárias tradicionais. b) alusão à inocência das crianças da época. c) estratégia de ques�onar a bondade humana. d) descrição detalhada das pessoas do interior. e) representação anedó�ca de atos de violência. IT0351 - (Enem) As línguas silenciadas do Brasil Para aprender a língua de seu povo, o professor Txaywa Pataxó, de 29 anos, precisou estudar os fatores que, por diversas vezes, quase provocaram a ex�nção da língua patxôhã. Mergulhou na história do Brasil e descobriu fatos violentos que dispersaram os pataxós, forçados a abandonar a própria língua para escapar da perseguição. “Os pataxós se espalharam, principalmente, depois do Fogo de 1951. Queimaram tudo e expulsaram a gente das nossas terras. Isso constrange o nosso povo até hoje”, conta Txaywa, estudante da Universidade Federal de Minas Gerais e professor na aldeia Barra Velha, região de Porto Seguro (BA). Mais de quatro décadas depois, membros da etnia retornaram ao an�go local e iniciaram um movimento de recuperação da língua patxôhã. Os filhos de Sameary Pataxó já são fluentes – e ela, que se mudou quando já era adulta para a aldeia, tenta aprender um pouco com eles. “É a nossa iden�dade. Você diz quem você é por meio da sua língua”, afirma a professora de ensino fundamental sobre a importância de restaurar a língua dos pataxós. O patxôhã está entre as línguas indígenas faladas no Brasil: o IBGE es�mou 274 línguas no úl�mo censo. A publicação Povos indígenas no Brasil