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Apostila de Direito de Família Parte I 57 páginas

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Prévia do material em texto

Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO DE FAMÍLIA 
 
(Esta apostila é uma compilação das doutrinas dos autores que estão na bibliografia, deve ser 
estudada como material de apoio, não deve o discente se valer unicamente deste material, a 
consulta à boa doutrina e as leis se faz necessário.). Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 2
I. Evolução histórica do Direito de Família 
 
1. A família no Direito romano 
No direito romano a família era organizada sob o princípio da autoridade. O pater 
famílias exercia sobre os filhos direito de vida e de morte (ius vitae ac necis). Podia, desse 
modo, vendê-los, impor-lhes castigos e penas corporais e até mesmo tirar-lhes a vida. A 
mulher era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada por ato unilateral 
do marido. 
 
O pater exercia a sua autoridade sobre todos os seus descendentes não emancipados, 
sobre a sua esposa e as mulheres casadas com manus com os seus descendentes, (a 
mulher, ao casar, podia continuar sob a autoridade paterna, no casamento sem manus, ou 
entrar na família marital, no casamento com manus. O que não se permitia era que uma 
mesma pessoa pertencesse simultaneamente a duas famílias). 
 
A família era, então, simultaneamente, uma unidade econômica, religiosa, política e 
jurisdicional. O ascendente comum vivo mais velho era, ao mesmo tempo, chefe político, 
sacerdote e juiz. Comandava, oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça. 
 
Com o tempo, a severidade das regras foi atenuada, conhecendo os romanos o 
casamento sine manu, sendo que as necessidades militares estimularam a criação de 
patrimônio independente para os filhos. 
 
Com o Imperador Constantino, a partir do século IV, instala-se no direito romano a 
concepção cristã da família, nas qual predominavam as preocupações de ordem moral. Aos 
poucos foi então a família romana evoluindo no sentido de se restringir progressivamente a 
autoridade do pater, dando-se maior autonomia à mulher e aos filhos, passando estes a 
administrar os pecúlios castrenses (vencimentos militares). 
 
 Em matéria de casamento, entendiam os romanos necessária a affectio não só no 
momento de sua celebração, mas enquanto perdurasse. A ausência de convivência, o 
desaparecimento da afeição era, assim, causa necessária para a dissolução do casamento 
pelo divórcio. Os canonistas, no entanto, opuseram-se à dissolução do vínculo, pois 
consideravam o casamento um sacramento, não podendo os homens dissolver a união 
realizada por Deus: quod Deus conjunxit homo non separet. 
 
2. A família na Idade Média 
Durante a Idade Média as relações de família regiam-se exclusivamente pelo direito 
canônico, sendo o casamento religioso o único conhecido. 
Embora as normas romanas continuassem a exercer bastante influência no tocante 
ao pátrio poder e às relações patrimoniais entre os cônjuges, observava-se também a 
crescente importância de diversas regras de origem germânica. 
 
3. A evolução a partir do século XIX 
Os movimentos de emancipação e de liberação social da mulher e dos jovens, a partir do 
final do século XIX, trouxeram conseqüências consideráveis sobre as relações familiares em 
geral, fazendo-se sentir, um século após: 
 
• A maior aceitação das uniões informais entre o homem e a mulher, culminando, 
no direito brasileiro, com o reconhecimento constitucional da união estável como 
entidade familiar; 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 3
• Uma maior condescendência da chamada “moral pública”; 
• A possibilidade de extinção do casamento por motivos outros, além da morte ou 
do adultério, em relação que o atual código estabelece de forma meramente 
exemplificativa; 
• Uma maior proteção para a mulher, consagrando-se o principio da igualdade 
entre o homem e a mulher nas relações familiares, e não somente 
genericamente, como se costumava dispor dentre os direitos e garantias 
fundamentais; 
• Uma maior proteção para os filhos, consagrando-se o princípio da igualdade 
entre os filhos, pouco importando a sua origem, legítima (concebido durante as 
justa núpcias) ou não, prestigiando-se tanto a filiação biológica como a filiação 
solidária; e 
• A nova personalização das relações familiares, buscando-se o asseguramento 
dos direitos da personalidade de cada integrante da família. 
 
A proclamação da República teve como corolário a desvinculação da Igreja em relação 
ao Estado. A primeira constituição republicana, no seu art. 72, § 4º, esclareceu que só 
reconhecia o casamento civil, cuja celebração será gratuita. 
 
A regulamentação do casamento civil foi feita pelo Decreto n. 181, de 24/1/1890, de 
autoria de Rui Barbosa, em virtude do qual ficou abolida a jurisdição eclesiástica, considerando 
como único casamento válido o realizado perante as autoridades civis. O decreto permitiu a 
separação de corpos com justa causa ou havendo mútuo consenso, mantendo, todavia, a 
indissolubilidade do vínculo e utilizando a técnica canônica dos impedimentos. 
 
4. A família no CC/17 e nas leis posteriores (1917-1988) - Código Civil de 1916 – 
Clóvis Beviláqua 
 
• Regulava a família constituída unicamente pelo casamento, de modelo patriarcal 
e hierarquizada; 
• Adota processos de direito canônico referentes à habilitação para o casamento – 
impedimentos dirimentes e impedientes, às nulidades e anulabilidades e 
considerou indissolúvel o vínculo matrimonial; 
• Lembrando, que nos Brasil, a mulher era considerada, pessoa relativamente 
incapaz para a prática de atos e negócios jurídicos, incumbindo a chefia da 
sociedade conjugal ao varão, que era auxiliado por sua esposa; 
• Mãe bínuba (casada em segundas núpcias), perdia o pátrio poder dos filhos; 
• Defendendo o direito sucessório e o matrimônio, dificultava a adoção e o 
reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento; 
• Os regimes de casamento previstos nos artigos 256 a 311, eram: 
1. Comunhão universal; 
2. Comunhão parcial; 
3. Separação (convencional ou obrigatória); 
4. Dotal. 
 
Constituição Federal de 1934 
• A família, porém, passou a ser considerada como um organismo 
social e jurídico de importância. 
 
Constituição Federal de 1937 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 4
• Beneficiou o filho natural; 
• Assegura o reconhecimento dos efeitos civis do casamento 
religioso; 
 
Lei n.º 883, de 21/10/1949 – permitiu o reconhecimento e a investigação de paternidade 
do filho adulterino depois e dissolvida a sociedade conjugal; 
 
DL. 1.764/39 – estabeleceu a Comissão Nacional de Proteção à Família 
 
DL 3.200/41 – proteção à família 
 
DL. 9.701/46 – dispunha sobre a guarda dos filhos menores no desquite judicial; 
 
D.L. n.º 7.485, de 23/4/1945 - sobre a prova do casamento para fins de previdência; 
 
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DA ONU – 1948 – proclamou a paridade plena de 
direitos entre o homem e a mulher, assim como a proibição de distinção entre os filhos havidos 
ou não do casamento. 
Lei n. 968, de 10/12/1949 – estabeleceu a fase de conciliação prévia nos desquites e 
nas ações de alimentos; 
 
Lei n.º 1.110, de 23/5/1950 – regulamentou o reconhecimento dos efeitos civis do 
casamento religioso, já assegurado na CF/37 e reiterado nas Magnas Cartas posteriores; 
 
Lei n.º 1.542, de 5/1/1952 – tratou do casamento de diplomatas brasileiros com 
pessoas de nacionalidade estrangeira; 
 
Lei n.º 3.133, de 8/5/1957 – atualizoua adoção, enquanto a Lei n.º 4.655, de 2/6/1965, 
introduziu no direito brasileiro a legitimação adotiva. 
 
Lei n.º 4.121/62 – Estatuto da mulher casada – Importante diploma legislativo 
referente ao direito de família, que emancipou a mulher casada, reconhecendo-lhe, na família, 
direitos iguais aos do marido e situação jurídica análoga, restaurando, outrossim, o pátrio 
poder (poder familiar) da mulher bínuba. A mencionada lei modificou os princípios básicos 
aplicáveis em matéria de regime de bens e de guarda de filhos. Embora inspirada em bons 
propósitos, apresentou com sérias falhas, transformando assim o direito de família numa 
verdadeira colcha de retalhos, a exigir uma nova revisão, para dar coerência e sistemática a 
este ramo do direito privado. 
 
A jurisprudência vem amparando o direito da companheira concubina. Com o 
desenvolvimento da previdência social, passou o civilista a também dar certos efeitos restritos 
à união estável. O direito civil, pela jurisprudência do STF, passou a atribuir à concubina certos 
direitos à herança do companheiro ou a uma indenização, no caso de morte deste decorrente 
de ato ilícito. A Lei do Inquilinato permite continuar na locação residencial a concubina do 
finado locatário (art. 12 da Lei n.º 8.245, de 18/10/1991); 
 
Uma reforma processual da ação de alimentos foi feita pela Lei n.º 5.478 de 
25/7/1968. 
 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 5
Lei 6.515/77 – A possibilidade de extinção do casamento por fatores diversos de 
adultério e da morte foi ampliada com o advento desta lei, que procedeu à introdução das 
normas referentes ao divórcio e permitiu a realização de um segundo casamento. 
Até a data da entrada em vigor da lei do divórcio, havia entre nós o desquite, instituto 
equivalente à atual separação judicial. 
Contudo, o desquite não rompia integralmente o vínculo matrimonial, pois apenas se 
prestava ao rompimento dos aqüestos comunicados, não possibilitando que o desquitado 
contraísse outro casamento civil. Não havia por meio do desquite, assim, o rompimento do 
vínculo matrimonial por completo. 
Lei n. 7.250, de 14/11/1984 – autorizou, também, o reconhecimento de filho havido fora 
do casamento pelo cônjuge separado de fato há mais de cinco anos contínuos; 
 
 
5. A CF/88 e leis posteriores (1988-2000) 
 
A CF/88 cuida, em capítulo destacado (Capítulo VII do Título VIII), da família, da 
criança, do adolescente e do idoso. Conservando, ainda, a gratuidade do casamento civil e os 
efeitos civis do casamento religioso, trouxeram, todavia, inovações marcantes. 
A união estável entre o homem e a mulher é reconhecida como entidade familiar, 
devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento. 
É estabelecida a igualdade entre o homem e da mulher no exercício dos direitos e 
deveres referentes à sociedade conjugal. 
O prazo para o divórcio é reduzido. Em caso de separação judicial, será concedido 
após um ano ou após dois anos de comprovada separação de fato. 
Aos filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, são concedidos 
os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas 
à filiação. 
Aos filhos maiores é imposto o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência 
ou enfermidade. Tais inovações serão, oportunamente, examinadas. 
 
A Lei n.º 8.009, de 29/3/1990 – veio ampliar a proteção do bem de família, nele 
abrangendo, inclusive, equipamentos e bens móveis que guarnecem a casa, e passando a 
proteger tanto a família legítima quanto a entidade familiar decorrente da união estável entre o 
homem e a mulher (prevista pelo art. 226, § 3º, da CF). 
 
O STF, em acórdão de que foi relator o Min. Carlos Velloso, decidiu que a casa própria 
única é impenhorável, aplicando-se a Lei n.º 8.009, de 29/3/1990, aos processos em 
andamento e anulando as penhoras já realizadas. 
 
A Lei n.º 8.408, de 13/2/1992 – reduziu para um ano o prazo de ruptura da vida em 
comum que justifica a separação judicial, quando impossível a sua reconstituição, com a 
conversão em divórcio um ano depois da decisão que concedeu a medida cautelar ou 
definitiva de separação. 
 
A mesma lei determina que a mulher, quando da conversão da separação em divórcio, 
volte a usar o nome que tinha antes do casamento, salvo se puder provar em juízo ou ocorrer 
manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida. 
 
A Lei 8.560, de 29/12/1992, veio a abordar aspectos da investigação de paternidade e 
do registro de nascimento dos filhos havidos fora do casamento; 
 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 6
As Leis 8.971, de 29/12/1994, e n. 9.278, de 10/5/1996, o art. 226 da CF ganharam 
dupla regulamentação. O primeiro daqueles diplomas outorgou aos companheiros direito à 
sucessão e a alimentos. Requer, entretanto, para que a mulher seja reconhecida enquanto tal, 
comprovada vivência por mais de cinco anos ou com prole, na companhia de homem solteiro, 
separado judicialmente, divorciado ou viúvo. No art. 1º, parágrafo único, o diploma atribui 
idêntica tratativa ao companheiro de mulher sem vínculo conjugal ou separada judicialmente. 
 
Lei n.º 9.278/96 foi mais abrangente, pois considera como união estável qualquer tipo 
de união entre o homem e a mulher, ainda que impedidos de casar, mesmo com duração 
inferior a cinco anos e mesmo sem prole comum. Entre outras benesses, cumpre realçar a de 
seu art. 5º, que cria uma presunção relativa de serem comuns os bens adquiridos 
onerosamente durante a convivência. 
 
 
II. Noção de Direito de Família 
 
O Direito de Família é, de todos os ramos do direito, o mais intimamente ligado à própria 
vida, uma vez que, de modo geral, as pessoas provêm de um organismo familiar e a ele 
conservam-se vinculadas durante a sua existência, mesmo que venham a constituir nova 
família pelo casamento ou união estável. 
 
Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue 
e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade 
e pela adoção. Compreendem os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. Segundo 
JOSSSERAND, este primeiro sentido é, em princípio, “o único verdadeiramente jurídico, em 
que a família deve ser entendida: tem o valor de um grupo étnico, intermédio entre o 
indivíduo e o Estado“ 1. Para determinados fins, especialmente sucessórios, o conceito de 
família milita-se aos parentes consangüíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto grau. 
 
1. Conceito e conteúdo do direito de família 
Constitui o direito de família o complexo de normas que regulam a celebração do 
casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas 
da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e filhos, o 
vínculo do parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela. 
É, portanto, o ramo do direito civil concernente às relações entre pessoas unidas pelo 
matrimônio, pela união estável ou pelo parentesco e aos institutos complementares do direito 
protetivo ou assistencial, pois, embora a tutela e a 
curatela não advenham de relações familiares, têm, devido a sua finalidade, conexão com o 
direito de família. 
 
2. Princípios do Direito de Família 
 
 
1. Princípio da “Ratio” do 
matrimônio 
Segundo esse princípio, o fundamento básico do 
casamento e da vida conjugal é a afeição entre os 
cônjuges e a necessidade de que perdure completa 
comunhão de vida. 
 
 
Com esse princípio desaparece o poder marital, e a 
autocracia do chefe de família é substituída por um sistema 
 
1
 Derecho Civil, t. I, v. II, p. 4.Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 7
 
2. Princípio da Igualdade jurídica 
dos cônjuges 
em que as decisões devem ser tomadas de comum acordo 
entre marido e mulher ou conviventes, pois os tempos 
atuais requerem que a mulher seja a colaboradora do 
homem e não sua subordinada e que haja paridade de 
direitos e deveres entre cônjuges e companheiros. 
 
 
3. Princípio da igualdade jurídica 
de todos os filhos 
Com base nesse princípio, não se faz distinção entre filho 
matrimonial, não matrimonial ou adotivo quanto ao poder 
familiar, nome e sucessão; permite-se o reconhecimento 
de filhos extramatrimoniais e proíbe-se que se revele no 
assento de nascimento a ilegitimidade simples ou 
espuriedade. 
4. Princípio do pluralismo familiar Reconhecimento da família matrimonial e de entidades 
familiares 
5. Princípio da consagração do 
poder familiar 
O poder-dever de dirigir a família é exercido conjuntamente 
por ambos os genitores, desaparecendo o poder marital e 
paterno. 
 
 
6. Princípio da Liberdade 
- Livre poder de formar uma comunhão de vida; 
- Livre decisão do casal no planejamento familiar; 
- Livre escolha do regime matrimonial de bens; 
- Livre aquisição e administração do patrimônio familiar; 
- Livre opção pelo modelo de formação educacional, 
cultural e religiosa da prole. 
7. Princípio do respeito da 
dignidade da pessoa humana 
Garantia do pleno desenvolvimento dos membros da 
comunidade familiar 
 
3. Natureza jurídica do direito de família 
É direito extrapatrimonial ou personalíssimo (irrenunciável, intransmissível, não admitindo 
condição ou termo ou exercício por meio de procurador); 
• Suas normas são cogentes2 ou de ordem pública; 
• Suas instituições jurídicas são direitos-deveres; 
É ramo do direito privado, apesar de sofrer intervenção estatal, devido à importância 
social a família. 
 
 
4. Importância do direito de família 
 
Grande é a importância do direito de família pela influência que exerce sobre todos os 
ramos do direito público e privado, como tão bem observam Washington de Barros Monteiro e 
R. Limongi França, cujas lições aqui reproduzimos. 
No âmbito do direito civil, p. ex.: 
 
2
 Cogente - [Do lat. cogente, part. pres. do lat. cogere, ‘impelir’, ‘reunir’, ‘condensar’, poss. pelo ingl. 
cogen...) 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 8
a) O direito das obrigações contém normas que se fundam em princípios do 
direito de família, como as que prescrevem a necessidade de outorga uxória ou marital 
para alienar bens imóveis ou direitos reais sobre coisas alheias (CC, art. 1.647); as 
alusivas à doação (CC, arts. 544, 546, 550 e 551, parágrafo único); as relativas à 
venda de ascendente e descendente (CC, art. 496), e à reparação de dano (CC, art. 
932, I e II); 
b) O direito das coisas apresenta disposições normativas que sofrem influência do 
direito de família, como as concernentes à hipoteca legal dos filhos sobre os bens 
imóveis do genitor que convolar núpcias sem fazer o inventário do casal anterior (CC, 
art. 1.489); 
c) O direito das sucessões, que na sua maior parte, relativa à sucessão legítima, é 
aspecto patrimonial post mortem do direito de família. (É o que nos ensinam: R. 
Limongi França p. 166; W. Barros Monteiro op. Cit. P. 6) 
4.1 Direito público: 
a) O direito constitucional banha-se no direito de família sobre normas que regem a 
família, a educação e a cultura (CF, arts. 205 a 214 e 226 a 230); 
b) o direito tributário mostra a sua influência desse ramo do direito civil nas isenções 
tributárias a cônjuges ou companheiros, filhos e dependentes, pois na arrecadação do 
imposto de renda há deduções atinentes aos encargos de família; 
c) o direito administrativo demonstra sofrer a proteção do direito familiar ao prescrever o 
direito à “união dos cônjuges”, em matéria de preferência para remoção de cargos 
públicos; 
d) o direito previdenciário, no que concerne às pensões alimentícias a que têm direito 
viúvos ou ex-conviventes, filhos e dependentes, não se mostra, igualmente, imune aos 
princípios do direito de família; 
e) o direito processual recebe subsídios do direito de família, principalmente na suspeição 
de juiz e de serventuário da Justiça em razão de parentesco com as partes litigantes 
(CPC, arts. 135 a 138; arts. 254, 255 e 258); no impedimento de testemunha (CPC, art. 
405 c/c art. 228 do CC); na remição e na execução (CPC, art. 787); 
f) o direito penal mostra-nos a preocupação do elaborador da norma penal em proteger a 
família, ao reprimir os crimes contra o casamento (CP, arts. 235 a 240); estado de 
filiação (CP, arts. 241 a 243); assistência familiar (CP, arts. 244 a 247); poder familiar, 
tutela e curatela (CP, arts. 248 e 249). 
III. RELAÇÕES DE PARENTESCO 
 
 
Das Relações de Parentesco 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 9
CAPÍTULO I 
Disposições Gerais 
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação 
de ascendentes e descendentes. 
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas 
provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. 
Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na 
colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e 
descendo até encontrar o outro parente. 
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da 
afinidade. 
§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do 
cônjuge ou companheiro. 
§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união 
estável. 
1. Conceito 
 
Segundo Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil Brasileiro, v.5, 2002, p. 367), 
“parentesco é a relação vinculatória existente não só entre pessoas que descendem 
umas das outras ou de um mesmo troco comum, mas também entre o cônjuge e os 
parentes do outro e entre adotante e adotado”. 
 
Clóvis Beviláqua define o parentesco como a relação que vincula entre si as pessoas 
que descendem do mesmo tronco ancestral. 
 
Para Pontes de Miranda, parentesco é a relação que vincula entre si pessoas que 
descendem uma das outras, ou de autor comum (consangüinidade), que aproxima cada 
um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que estabelece, por fictio iuris, 
entre adotado e o adotante. 
 
Esse conceito engloba as três possíveis espécies de parentesco: por consangüinidade, por 
afinidade e por adoção. 
 
2. Espécies de parentesco 
 
O parentesco pode ser: 
 
a) Natural ou consangüíneo – É o vínculo estabelecido entre pessoas que 
descendem de um mesmo tronco (tronco comum) e, dessa forma, estão ligadas 
pelo mesmo sangue. 
b) Por afinidade (afim) – é o que liga uma pessoas aos parentes de seu cônjuge ou 
companheiro, isto é, aquele que decorre do casamento ou da união estável, 
conforme previsto em lei (art. 1.595, CC); 
c) Civil – É o parentesco decorrente da adoção, estabelecido entre o adotante e o 
adotado, estendido a seus parentes. 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 10
Importante observação a ser feita é quanto à expressão “outra origem” do artigo 
1.593, in fine: 
 
O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra 
origem. 
 
Pode-se entender “outra origem” como, por exemplo, a inseminação artificial com 
doador – hipótese trazida pelo art. 1.597, que será abordado em tempo hábil, notópico “Presunção de paternidade” – e até mesmo a clonagem. 
 
3. Parentesco em linha reta 
São parentes em linha reta as pessoas que estão ligadas umas às outras em uma relação 
de ascendentes e descendentes (art. 1.591, CC), como mostram os esquemas abaixo: 
 
 
 
AVÔ 
PAI 
JOÃO 
Ascendente 
1º grau 
2º grau 
Esquema 1 - O 
parentesco entre 
João e seu avô: 
relação de 
parentesco em linha 
reta de 2º grau 
ascendente. 
Mário 
Filho 
Neto 
1º Grau 
2º grau 
descendente 
Esquema 2 – Se contarmos o grau de parentesco de Mário (avô), com relação ao seu 
neto – será relação de parentesco de 2º grau na linha descendente. 
Profª Maria Cremilda Silva Fernandes 
Especialista em Direito Privado 
 
 11
4. Parentesco em linha colateral ou transversal 
 
O parentesco em linha colateral é aquele em que as pessoas são provenientes de um só 
tronco, sem descender uma das outras. Cabe ressaltar que o parentesco em linha colateral só 
é contado até o quarto grau (art. 1.592 do CC). 
 
 
 
 
 
No esquema 4: O parentesco entre João e seu primo: relação de parentesco em linha 
colateral ou transversal de 4º grau. 
 
Na linha colateral ou transversal, o parentesco pode ser: 
 
• Igual – quando a distância entre as pessoas que estão sendo comparadas com 
relação ao ascendente comum for a mesma (esquema 5). 
• Desigual – quando a distância entre as pessoas que estão sendo comparadas com 
relação ao ascendente comum for diferente (esquema 6); 
 
 
AVÔ 
PAI 
JOÃO 
TIO 
1º GRAU 
2º GRAU 
3º GRAU 
Esquema 3 - Parentesco entre 
João e seu tio: relação de 
parentesco em linha colateral ou 
transversal de 3º grau. 
 
Avô 
Pai 
João 
Tio 
primo 
1ªº grau 
2º grau 
3º grau 
4º grau Esquema 4 
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 12
 
 
No esquema 5: João x Primo: relação de parentesco em linha colateral ou transversal 
de 4º grau “igual”, pois João e o primo guardam a mesma distância do avô. 
 
 
No esquema 6: João x Tio: relação de parentesco em linha colateral ou transversal de 
3º grau “desigual”, pois a distância de João é de dois graus e do tio para o avô, de um 
grau. 
 
5. Parentesco por afinidade 
 
 Sogra Sogrão Cunhado 
 
Como visto, o parentesco por afinidade é aquele que se estabelece com o casamento ou 
com a união estável. Está limitado aos ascendentes, descendentes e irmãos do cônjuge ou 
AVÔ 
PAI 
JOÃO 
TIO 
1º GRAU 
2º GRAU 
3º GRAU 
2 x 1 
João x Tio 
Esquema 6 
Avô 
Pai 
João 
Tio 
primo 
1ªº grau 
2º grau 
3º grau 
4º grau Esquema 5 
2 = 2 
João x primo 
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 13
companheiro, ressaltando-se que, na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução 
do casamento ou da união estável. Sogro e sogra, por exemplo, são para sempre. Mesmo 
que a pessoa se case novamente, terá acumulado sogros, isto é, duas sogras e dois sogros. 
 
Essa espécie de parentesco tem correlação com o parentesco natural, pois a contagem da 
distância dos graus será sempre a mesma, bastando que o cônjuge se transporte, isto é, se 
imagine no lugar daquele com se casou ou se uniu, para que se possa fazer a contagem dos 
graus (esquema 7 a 10). 
 
 
 
Esquema 7 – Parentesco da esposa do filho 1 com os sogros: relação de parentesco por 
afinidade em linha reta de 1º grau ascendente, de acordo com o art. 1.521, inciso II, os afins 
em linha reta não podem se casar. 
 
 
 
Esquema 8 – Esposa do filho 1 com cunhados: relação de parentesco por afinidade. 
*Alguns doutrinadores colocam o(a) cunhado (a) como relação de parentesco de 2º grau 
na linha colateral, mas o impedimento para o casamento vigora com relação aos parentes 
afins em linha reta de 1º grau, ou seja. 
Sogro 
Sogra 
Esposa Filho 1 Filho 2 Filha 3 
1º grau 
Sogro 
Sogra 
Esposa Filho 1 Filho 2 Filha 3 
A sogra/sogro são parentes por 
afinidade em linha reta de 1º 
grau da esposa do filho 1. 
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 14
 
Esquema 9 – Esposa com João – sobrinho de seu marido: não há parentesco por 
afinidade na linha colateral além do 2º grau. 
 
Esquema 10 – Parentesco da esposa com o marido de sua cunhada: cabe ressaltar que 
entre concunhados não há relação de parentesco. 
 
IV. DO CASAMENTO 
 
 
 
1. Definição 
 
Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do 
homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, 
cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistência. (Modestino. D., Liv.23, Tit. 2º, 
frag. 1º). Citado por Silvio Rodrigues. 
 
Da definição citada por Silvio Rodrigues é possível extrair os fins do casamento, que 
estão ligados aos deveres expressos no art. 1.566 do NVCC. São eles: 
• A disciplina das relações sexuais, que está ligada ao dever de fidelidade; 
Sogro 
Sogra 
Esposa Filho 1 Filho 2 Filha 3 
1º grau 
marido 
Sogro 
Sogra 
Esposa Filho 1 Filho 2 Filha 3 
1º grau 
2º grau 
João 3º grau 
Esquema 9 
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 15
• A proteção da prole, que está associada ao dever de sustento, guarda e educação 
dos filhos; 
• A mútua assistência, que também é um dever de ambos os cônjuges. 
 
Então, podemos, afirmar que casamento é a união legal entre um homem e uma mulher, 
com o objetivo de constituírem a família legítima. Reconhece-se-lhe o efeito de estabelecer 
“comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges” 
(CC, art. 1511). 
 
Como complemento, surge a norma protetiva do art. 1.513: “É defeso a qualquer pessoa, 
de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”. 
 
União legal é aquela celebrada com observância das formalidades exigidas pela lei. E 
entre um homem e uma mulher, porque o casamento entre pessoas do mesmo sexo ainda 
não é permitido, embora existam movimentos nesse sentido. O casamento celebrado sem as 
solenidades previstas em lei e entre pessoas do mesmo sexo é inexistente, bem como o é 
aquele em que os nubentes não manifestam o consentimento. 
 
O Casamento cria a família legítima. 
 
A união estável, reconhecia pela CF/88 e pelo CC (art. 1723) como entidade familiar, 
pode ser chamada de família natural. 
 
Quando formada por somente um dos pais e seus filhos, denomina-se família 
monoparental (CF, art. 226, § 4º). 
 
2. Natureza Jurídica – três correntes 
 
Concepção clássica – também chamada de individualista, é uma relação puramente 
contratual, resultante de um acordo de vontades, como acontece nos contratos em 
geral. 
 
Assim, o consentimento dos contraentes constituía o elemento essencial de sua 
celebração e, sendo contrato, certamente poderia dissolver-se por um distrato. A sua 
dissolução ficaria, apenas na dependência do mútuo consentimento 3. 
 
Concepção institucionalista ou supra-individualista 
Em oposição a tal teoria, surgiu a concepção institucionalista ou supra-
individualista, sustenta que o casamento é uma grande instituição social, a ela aderindo 
os que se casam. 
 
Corrente eclética – constitui uma fusão das anteriores, pois considera o casamento um 
ato complexo: um contrato especial, do direito de família, mediante o qual os nubentes 
aderem a uma instituição pré-organizada, alcançando o estado matrimonial. 
 
Pontes de Miranda, com sua indiscutível autoridade, nos ensina: 
 
 
3
 Washington de BarrosMonteiro, cit., v.2, p. 13; Silvio Rodrigues, Comentários ao Código Civil, v. 17, 
p.3. 
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 16
“Por outro lado, por meio de contrato faz-se o casamento, mas contrato de direito 
de família; no caso de celebração confessional, conforme a concepção do seu direito 
matrimonial. Mas o registro civil é que em verdade lhe dá existência jurídica e os efeitos 
civis; e tais efeitos não são, de regra, contratuais – resultam do instituto mesmo”. 4 
 
Não se pode deixar de enfatizar que a natureza de negócio jurídico de que se reveste 
o casamento reside especialmente na circunstância de se cuidar de ato de autonomia 
privada, presente na liberdade de casar-se, de escolha do cônjuge e, também, na de não se 
casar. 
 
No plano dos efeitos patrimoniais, têm os cônjuges liberdade de escolha, através do 
pacto antenupcial, do regime de bens a vigorar em seu casamento. Esse espaço reservado ao 
livre consentimento é exercido, entretanto, dentro dos limites constitucionais e legais, que 
traduzem o modelo social de conduta determinado pela ordem jurídica. 
 
3. Características do casamento – art. 1550 
 
O casamento possui as seguintes características: 
 
a) É um ato complexo – Depende de celebração e de todas as 
formalidades previstas em lei, como o processo de habilitação e a 
publicidade. É de natureza institucional. 
b) Depende de livre manifestação – Para que o casamento seja 
considerado válido, há que se ter a livre manifestação de vontade, 
pois qualquer vício de vontade pode acarretar sua anulação (art. 
1.550, III, CC). 
c) É ato privativo do representante do Estado (juiz de casamento) – 
A falta de competência da autoridade celebrante pode ser causa de 
anulação (art. 1.550, VI, CC). 
 
 
4. Criação do casamento civil 
O casamento civil foi criado pelo Decreto 181, de 24 de janeiro de 1890, com o advento 
da República. Anteriormente, existia apenas o casamento religioso, que era dividido em: 
• Ato nupcial católico, se celebrado entre pessoas de religião católica; 
• Ato núpcias misto, se celebrado entre pessoas de religiões diferentes, sendo uma 
católica e outra não; 
• Ato nupcial acatólico, se celebrado entre pessoas que não eram da religião 
católica. 
 
Com a Lei 379, de 16 de janeiro de 1937, que, segundo Silvio Rodrigues (Direito Civil – 
Direito de Família, 2002, p. 23), foi refundida pela Lei n.º 1.110, de 23/5/1950, e atualmente 
está prevista também na Lei n. 6.015, de 31/12/1973 (Lei de Registros Públicos), surgiu a 
possibilidade do casamento religioso com efeitos civis, o que raramente se encontra nos dias 
atuais, pois o costume em nosso pais é da realização de duas celebrações: civil e religiosa. 
 
A própria CF/88 reconhece que o casamento religioso tem efeito civil nos termos da lei 
(art. 226, § 2º). 
 
 
4
 Tratado de Direito de família, cit., v. I, p. 94. 
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 17
IV. DO PROCESSO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO 
 
1. Da capacidade para o casamento – art. 1517 a 1.520 
 
O legislador do novo Código Civil foi mais técnico de que o do anterior quanto à 
capacidade para o casamento. No CC/16, a falta de capacidade vinha juntamente com os 
impedimentos matrimoniais, o que não mais acontece no Código atual, que em seu artigo 
1.517 traz: 
 
O homem e a mulher com dezesseis anos podem casar, exigindo-se autorização de 
ambos os pais, ou de seus representantes legais, enquanto não atingida a maioridade 
civil. 
 
Dessa forma, observa-se que a capacidade matrimonial não implica a capacidade 
civil, devendo haver a autorização dos pais e representantes legais para o menor entre 16 e 
18 anos. 
 
Há exceção à regra da capacidade? Sim. Excepcionalmente, será permitido o casamento 
de quem não completou a idade mínima, no caso de gravidez. 
 
O art. 1.520 do CC prevê, também, que, excepcionalmente, poderá ser permitido o 
casamento de menores de 16 anos para evitar a imposição de pena criminal. Essa previsão 
estava em consonância com o artigo 107 do CPB, que previa, em seu inciso VII, que nos 
crimes contra os costumes, definidos nos artigos 213 a 220, se o ofensor se casasse com a 
ofendida, seria extinta a punibilidade. 
 
Em 28 de março de 2005, todavia, por força da Lei n.º 11.106/05, alguns dispositivos do 
CPB foram expressamente revogados, entre eles os incisos VII e VIII do art. 107. Diante de 
tal fato, a parte do artigo 1.510 do CCB que prevê a possibilidade de menores de 16 anos 
poderem se casar para evitar imposição de pena não se aplica mais, por não existir essa 
possibilidade no ordenamento penal. 
 
 
2. Denegação do consentimento – parágrafo único, art. 1.631. 
A denegação do consentimento, quanto injusta, poderá ser suprida pelo juiz. Corrige-se, 
nesse aspecto, a erronia do CC/16, art. 186, que dava preferência à vontade paterna em caso 
de discordância dos pais do menor ou à vontade do guardião, na hipótese de casal separado 
ou divorciado. Como se vê, uma vez mais a igualdade entre o homem e a mulher fica 
reafirmada. 
 
O CC, ao tratar do Poder Familiar (antigo pátrio poder), no art. 1.631, dispõe que, em 
havendo divergência entre os pais quanto ao exercício do encargo, qualquer deles pode 
recorrer ao juiz para solução do desacordo. 
 
2.1. Motivos justos e fundados para denegação do consentimento 
 
Reputam-se justos e fundados, segundo os autores 5, os seguintes motivos: 
 
 
5
 Lafayette, Direitos de família, § 27, p. 75, nota 121; Washington de Barros Monteiro, Curso do Direito 
Civil – Direito de Família, v. 2, p. 35; Arnaldo Rizzardo, Direito de família, p. 60. 
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 18
1. Existência de impedimento legal; 
2. Grave risco à saúde do menor; 
3. Costumes desregrados, como embriaguez habitual e paixão imoderada pelo 
jogo; 
4. Falta de recursos para sustentar a família; 
5. Total recusa ou incapacidade para o trabalho; 
6. Maus antecedentes criminais, tais como condenação em crime grave (P.ex., 
estupro, roubo, estelionato etc.). 
 
Se o pedido de suprimento do consentimento for deferido, será expedido alvará, a 
ser juntado no processo de habilitação, e o casamento celebrado no regime da separação de 
bens. Com efeito, segundo dispõe o art. 1.641, III, do CCB, o regime de bens que 
obrigatoriamente será adotado pelos cônjuges que obtêm suprimento judicial para o 
casamento é o da separação de bens. O art. 888, IV, do CPC permite ao juiz, como medida 
cautelar, determinar o afastamento do menor autorizado a contrair matrimônio. 
 
 
2.2 Do procedimento para o suprimento judicial 
 
O procedimento para o suprimento judicial do consentimento dos representantes legais é 
o previsto para a jurisdição voluntária (CPC, arts. 1.103 e s.). Para viabilizar o pedido, admite-
se que o menor púbere outorgue procuração a advogado, sem assistência de seu 
representante legal, em razão de evidente colidência de interesses e por se tratar de 
procedimento de jurisdição voluntária 6. 
 
Comumente, no entanto, o próprio representante do Ministério Público – a quem 
não se pode negar a legitimidade de parte, como defensor dos interesses dos incapazes – 
encarrega-se de requerer ao juiz a nomeação de advogado dativo para o menor. Da decisão 
proferida pelo juiz cabe recurso de apelação para a 
instância superior. Como o art. 475 do CPC não incluiu tal situação nas hipóteses de reexame 
necessário, esse recurso é o voluntário, com efeito suspensivo. 
 
2.3. Habilitação para o casamento – 1525 a 1532 CC 
 
Habilitação para o casamento é processo que corre perante o oficial do RegistroCivil e que tem por fim evidenciar a aptidão dos nubentes para o casamento. Na 
verdade, o processo de habilitação visa verificar se os noivos não são impedidos para o 
casamento. Se realmente podem casar-se. 
Destina-se a aludida medida preventiva a constar a capacidade para a realização do ato 
(CC, arts. 1.;517 a 1.520), a inexistência de impedimentos matrimoniais (art. 1.521) ou de 
causa suspensiva (art. 1.523) e a dar a publicidade, por meio de editais, à pretensão 
manifestada pelos noivos, convocando as pessoas que saibam de algum impedimento para 
que venham opô-lo. 
 
Esse processo compreende quatro etapas: 
• Documentação 
 
6
 “É de se admitir que o menor relativamente incapaz conceda mandato judicial, independentemente da 
presença do assistente legal, sob pena de impedi-lo definitivamente de obter a tutela jurisdicional, 
quando o representante se recusa a conceder-lhe permissão para determinados atos da vida civil, como 
ocorre nos casos de necessidade de suprimento de autorização para contrair matrimônio” (RT, 670/149). 
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 19
• Proclamas 
• Certificado e 
• Registro 
 
Desenrola-se segundo os arts. 1.525 a 1.532 do CCB e arts. 67 a 69 da Lei de 
Registros Públicos – Lei n.º 6.015). 
 
a) documentação - Nessa primeira etapa, o cartório requisitará dos noivos uma 
série de documentos, de acordo com o Código Civil. Assim é que deverão ser apresentados, 
por cada nubente: 
 
• Certidão de nascimento 
• Declaração de estado civil 
• Domicílio e residência dos contraentes e seus pais 
• Autorização dos responsáveis, se forem menores de 18 anos 
• Declaração de duas testemunhas capazes, que atestem não haver 
impedimentos matrimoniais; 
• Atestado de óbito ou certidão de divórcio, conforme seja um dos noivos 
viúvo ou divorciado; etc. 
 
Apresentados e verificados os documentos, inicia-se a segunda etapa, qual 
seja, os proclamas. 
 
b) proclamas – É o edital, que será afixado por quinze dias no mural do cartório, 
após a apresentação dos documentos. 
 
O objetivo dos proclamas é o de comunicar ao público em geral a intenção dos 
noivos de contrair núpcias. Assim, qualquer pessoa poderá opor-se ao casamento, se souber 
de algum impedimento. Para tanto, basta apresentar-se perante o oficial do Registro e provar a 
existência do impedimento. 
 
Os proclamas serão também publicados em jornal local, se houver. 
 
Entregues os documentos com o requerimento de habilitação, o processo será 
encaminhado ao ministério Público, que sobre ele opinará. A partir daí, o processo é remetido 
ao juiz, que dará a última palavra, homologando ou não a habilitação. 
 
O juiz poderá dispensar os proclamas, em caso de urgência (por exemplo, 
enfermidade de um dos nubentes). Para tanto é necessário requere-lo e apresentar provas de 
urgência. O Ministério Público será ouvido. 
 
Para a publicação dos proclamas não é necessário se esperar o parecer do 
Ministério Público nem a homologação judicial, uma vez que o art. 1.527 exige apenas que os 
documentos estejam em ordem. 
 
Após o período de publicação dos proclamas, e homologado a habilitação pelo 
juiz, será emitido o certificado de habilitação para o casamento. 
 
c) Certificado – O certificado de habilitação para o casamento será emitido com o 
encerramento dos proclamas e após a homologação judicial. Terá validade de 90 dias, após 
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 20
os quais caducará, perdendo a sua validade. Em outras palavras, os noivos terão 90 dias para 
celebrar as núpcias. Se este prazo transcorrer in albis, ou seja, sem que se celebre o 
casamento, o certificado perderá a validade e o processo de habilitação deverá ter início outra 
vez. 
 
d) Registro – O processo de habilitação se encerra realmente com o registro dos 
editais (proclamas) no cartório que os haja publicado. 
 
 
V. Dos impedimentos matrimoniais 
 
Para que o casamento tenha existência jurídica, é necessária a presença de elementos 
denominados essenciais: diferença de sexo, consentimento e celebração na forma da lei. 
Para que seja válido e regular, deve preencher outras condições. 
 
Impedimentos matrimoniais são causas que tornam o casamento impossível para ambos 
ou um só dos noivos. 
 
Há impedimentos de duas categorias. 
 
A primeira categoria congrega os chamados impedimentos dirimentes. Por que 
dirimentes? Porque impedem a realização do casamento e, se por acaso ele ocorrer, torna-se 
inválido, pondo-lhe fim. Os impedimentos dirimentes podem ser públicos ou privados. 
 
A segunda categoria é a dos impedimentos meramente impedientes. Impedientes 
porque impedem a realização do casamento; mas se ele por acaso ocorrer, será válido, 
sofrendo sanção indireta, que veremos mais adiante. 
 
O Código Civil denomina estes impedimentos impedientes de causas 
suspensivas do casamento, uma vez que apenas suspendem a capacidade nupcial. 
Cessado o impedimento, o casal poderá convolar núpcias normalmente. 
 
Estudemos cada uma dessas categorias. 
 
a) Impedimentos dirimentes - art. 1.521, I a VII, CC. 
 
Incesto – Incesto é união entre certos parentes. Para o Direito, é considerada 
incestuosa a união dos parentes em linha reta, ou seja, pais, avós, bisavós, filhos, netos, 
bisnetos etc. Estes parentes não podem se casar entre si, ainda que o parentesco seja por 
adoção, uma vez que os filhos adotivos se equiparam aos filhos consangüíneos. 
 
A infringência de algum desses dispositivos tem como conseqüência um casamento 
nulo e sem nenhum efeito (art. 1.548, caput e inc. II, CCB). 
 
Art. 1.521 – Não podem casar: 
 
I – Os ascendentes com os descendentes seja o parentesco natural ou civil; 
O parentesco civil é o decorrente da adoção 
 
II – os afins em linha reta; 
 
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 21
Parentesco por afinidade é aquele que decorre do casamento e também da 
união estável. 
 
III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi do 
adotante; 
 
IV – os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau 
inclusive; 
 
Bilaterais ou germanos são nascidos do mesmo pai e mesma mãe; unilaterais, 
aqueles que têm em comum só o mesmo pai (consangüíneos) ou só a mesma mãe (uterinos). 
 
V – o adotado com o filho do adotante; 
 
Isto porque são irmãos. 
 
VI – as pessoas casadas; 
 
Ficam sujeitas a responder por crime de bigamia (art. 235, CP). 
 
Para que possam se casar novamente, deverão apresentar: 
 
- certidão de óbito do cônjuge falecido; 
- certidão de nulidade ou anulação do casamento anterior; 
- registro da sentença de divórcio. 
 
Por força do art. 1.571, § 1º, do CCB, o casamento dissolve-se em caso de presunção 
de óbito do ausente. Há que ressaltar também que o casamento no religioso não inscrito no 
Registro Civil não constitui impedimento (art. 1.515 do CCB). 
 
VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de 
homicídio contra o seu consorte. 
 
Não há necessidade de cumplicidade entre o condenado e o cônjuge sobrevivente. 
Tem de haver condenação; se houver absolvição ou prescrição com a extinção da 
punibilidade, na há impedimento. Só é aplicado no homicídio doloso, pois no culposo não há 
intenção de matar um para casar com o outro (Cf. Venosa, Silvio de Salvo. Direito de Família, 
2003, p. 84; DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5, 2002, p. 78; 
RODRIGUES, Silvio, Direito Civil – Direito de Família, 2002, p. 48). 
 
VI. Causas suspensivas 
 
O casamento com inobservância de uma dessas causas suspensivas sujeitaos 
infratores a determinadas penas, em regras referentes ao regime de bens, mas não eiva de 
nulidade o casamento nem permite sua anulação. 
 
Art. 1.523 – Não devem casar: 
 
I – o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer 
inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. 
 
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 22
Visa evitar a confusão de patrimônio dos filhos com o da nova sociedade conjugal. 
A desobediência acarretará as seguintes sanções: 
 
• Celebração do segundo casamento sob o regime de separação obrigatória 
de bens (art. 1.641, I, CC); 
• Hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (art. 1.489, II, CC) – 
filhos passam a ser titulares do direito real sobre os imóveis do pai/mãe. 
• Exceção: se houver prova da inexistência de prejuízo para os herdeiros, o 
(a) viúvo (a) poderá casar sem sofrer essas sanções, conforme disposição 
do artigo 1.523, parágrafo único. 
 
II – a viúva, ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, 
até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal. 
 
Visa a evitar a “confusão sanguínea” (turbatio sanguinis)ou seja, em caso de 
gravidez. A inobservância acarretará a sanção do artigo 1.641, I, isto é, regime de separação 
obrigatória de bens. 
Exceção: se a nubente provar a inexistência de gravidez ou que teve o filho antes 
da fluência do prazo legal (art. 1.513, parágrafo único) 
 
III - 0 divorciado, enquanto não houver sido homologado ou decidida a partilha dos 
bens do casal. 
 
Visa evitar a confusão de patrimônios. A sanção é a aplicação do regime de 
separação obrigatória de bens, exceto se for provado que não houve prejuízo para o outro 
cônjuge. 
 
IV – o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados 
ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, 
e não estiverem saldadas as respectivas contas. 
 
Visa impedir a influência em virtude do poder que tem o tutor/curador sobre o 
tutelado/curatelado resultando em um casamento por interesse. A sanção também é o regime 
da separação obrigatória de bens, exceto se não existir prejuízo para o tutelado ou curatelado. 
 
 
VII. Oposição dos impedimentos e das causas suspensivas (23/8/2006) 
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o momento da celebração do 
casamento, por qualquer pessoa capaz. 
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver conhecimento da existência 
de algum impedimento, será obrigado a declará-lo. 
O direito de oposição sofre restrições de ordem pessoal e formal, a fim de evitar 
abusos, imputações caluniosas ou levianas, uma vez que há sanções para quem exercê-lo 
arbitrariamente. 
 
As limitações concernentes às pessoas variam de acordo com os impedimentos ou 
causas suspensivas que se opõem. Assim: 
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 23
 
1) Os impedimentos matrimoniais (CC, art. 1.521, I a VII), por interessarem à 
coletividade, devem ser argüidos, obrigatoriamente, ex officio: pelo oficial do registro civil; 
pelo juiz ou por quem presidir à celebração do casamento, pois se tiverem conhecimento de 
algum impedimento serão obrigados a declará-lo (CC, art. 1.522, parag. único). 
 
Qualquer pessoa capaz poderá, até o momento da celebração do casamento, sob a 
sua assinatura, apresentar declaração escrita, instruída com as provas do fato que alegar (CC, 
arts. 1.522 e 1.529). Se o oponente não puder instruir a oposição com as provas, deverá 
precisar o lugar onde existam ou possam ser obtidas (CC, art. 1.539). 
 
Espínola e Caio Mário da Silva Pereira incluem o representante do MP, quando este 
tiver conhecimento do impedimento, pois, se a qualquer do povo é lícito opô-lo, com mais 
razão o é ao órgão que representa a sociedade e que, funcionalmente, é o defensor do direito 
objetivo. (LRP, art. 67, § 2ºººº; CF/88, art. 127). Há, portanto, interesse do Estado na 
regularidade dos casamentos e na fé pública do registro civil. 
Art. 1.524. As causas suspensivas da celebração do casamento podem ser argüidas 
pelos parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consangüíneos ou afins, e pelos 
colaterais em segundo grau, sejam também consangüíneos ou afins. 
a) Na primeira parte do artigo estão os ascendentes, descendentes ou seus 
respectivos cônjuges; 
 
b) pelos colaterais, em segundo grau, sejam consangüíneos (irmãos) ou afins 
(cunhados) (CC, art. 1.524; RF, 117:473). 
 
Opinião de Eduardo Espínola: 
 
Se a dissolução do matrimônio se deu por sentença, o ex-marido tem interesse em 
evitar a confusão de sangue, embora a lei não o diga, podendo opor causa suspensiva do CC, 
art. 1.523, II. Se descumpridas, tais causas suspensivas podem gerar oposição ao pedido de 
casamento, que, sendo acatado, impedirá a expedição do certificado de habilitação (CC, art. 
1.529), deverá comprovar que seu casamento não trará prejuízo a herdeiro, a ex-cônjuge, a 
tutelado ou curatelado. 
 
Resumo 
 
 
 
 
 
 
1. Conceito 
Segundo Carlo Tributtati, os impedimentos matrimoniais são “condições 
positivas ou negativas, de fato ou de direito, físicas ou jurídicas, 
expressamente especializadas pela lei, que, permanentemente ou 
temporariamente, proíbem o casamento ou um novo casamento ou um 
determinado casamento”. 
 
A causa suspensiva é um fato que suspende o processo de celebração do 
casamento a ser realizado, se argüida antes das núpcias. 
 
 
2. Impedimentos CC, art. 1.521, I a VII 
3. Causas CC, art. 1.523, I a IV 
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 24
suspensivas 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Classificação 
dos 
Impedimentos 
 
Impedimentos 
Resultantes de 
Parentesco 
 
 
 
 
 
 
Impedimento de vínculo 
 
 
 
Impedimento de crime 
a) Impedimento de consangüinidade (CC, art. 
1.521, I a IV; DL n. 3.200/41, art. 1.º a 3º 
b) Impedimento de afinidade (CC, arts. 1.521. 
II, e 1.595, §§ 1.º e 2º; Lei n. 6.015/73, art. 59) 
c) Impedimento de adoção (CC, art. 1.521, I, III 
e V) 
 
CC, arts. 1.521, VI, 1.548 e 1.549; CP, art. 
235; CF, art. 226, § 6º; Lei n. 6.515/77, art. 2º, 
parágrafo único; RT, 393:167, 190:790) 
 
 
CC, art. 1.521, VII. 
 
 
 
5. Casos de 
causas 
suspensivas 
- Para impedir confusão de patrimônios (CC, arts. 1.523, I, III e parag. 
único, 1.641, I e 1.489, II; RT 167:195); 
 
- Para impedir matrimônio de pessoas que se acham em poder de 
outrem, que poderia, por isso, conseguir um consentimento não 
espontâneo (CC, arts. 1.523, IV e parág. Único., e 1.641, I). 
 
- Para evitar que certas pessoas se casem sem autorização de seus 
superiores (Dec.-Lei n. 9.698/46, arts. 101 a 106; Dec. N.º 3.864/41; Lei 
n. 5.467-A/68; Lei n. 6.880/80; Lei n. 7.501/86; Lei n. 1.542, art. 1.º, e 
Dec.-Lei n. 2/61, art. 45; Dec.-Lei n.º 9.202/46; RT, 205:585). 
 
6. Oposição dos 
impedimentos e 
das causas 
suspensivas 
 
 
 
 
Conceito 
Oposição é o ato praticado por pessoa legitimada que, 
ao conhecimento do oficial perante o qual se processa 
a habilitação, ou do juiz que celebra a solenidade, a 
existência de um dos impedimentos ou de uma das 
causas suspensivas previstas nos arts. 1.521 e 1.523 
do CC, entre pessoas que pretendem convolar núpcias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. Oposição dos 
impedimentos e 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Limitações 
a) 
Pessoais 
 
 
 
 
 
 
 
b) Formais 
 
 
 
 
 
 
- os impedimentos podem ser argüidos, 
ex offcio, pelas pessoasarroladas no CC, 
art. 1.522. 
- As causas suspensivas só podem ser 
opostas pelas pessoas do art. 1.524 do 
CC. 
 
-Quanto à oportunidade: os impedimentos 
do art. 1.521 do CC ser argüidos até a 
celebração do casamento, e as causas 
suspensivas do art. 1.523, dentro do de 
15 dias (CC, art. 1.527) da publicação dos 
proclamas. 
- Quanto ao oponente: não poderá ficar 
no anonimato; deverá ser capaz (CC, art. 
1.522); alegará impedimento por escrito, 
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 25
das causas 
suspensivas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Efeitos 
 
 
Sanções 
ao 
oponente 
de má-fé 
 
 
provando-o com a observância do CC, art. 
1.529; provará, em caso de oposição de 
causa suspensiva, o seu grau de 
parentesco com o nubente. 
- quanto ao oficial do Registro Civil: 
receberá a declaração, verificando se 
apresenta os requisitos legais: dará 
ciência aos nubentes (CC, art. 1.530); 
remeterá os autos a juízo (Lei n. 6.015/73, 
art. 67, § 5º). 
 
- Impossibilitar a obtenção do certificado 
de habilitação. 
- Adiar o casamento 
- Deverá reparar dano moral ou 
patrimonial que causou com a sua 
conduta dolosa ou culposa (CC, art. 186). 
 
 
 
VIII. Da celebração do casamento - arts. 1.533 a 1.542 
Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados 
pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se 
mostrem habilitados com a certidão do art. 1.531. 
O casamento é contrato solene e sua celebração deve obedecer às formalidades especiais 
impostas por lei. A autoridade celebrante é quem designa o dia, hora e lugar para realização 
da cerimônia, Os nubentes, entretanto, poderão fazer sugestões, mas a autoridade celebrante 
não está obrigada a aceitá-la. 
 
A celebração do casamento é ato necessário para sua validade. Preenchidos os requisitos 
legais impostos pelo processo de habilitação, com a apresentação do certificado de 
habilitação, prevista no art. 1.521, os contraentes, mediante petição, requerem à autoridade 
competente a celebração do casamento. 
 
A apresentação do certificado de habilitação para o casamento é documento 
imprescindível para a realização da solenidade. 
 
Formalidades: 
 
a) O casamento civil será realizado no dia, local e horário designados pela autoridade que 
o presidirá. 
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b) A cerimônia será efetuada com o acesso franqueado ao público, deixando-se as portas 
abertas. 
 
c) o evento ocorrerá na casa das audiências, se outro local não houver sido previamente 
acertado. 
 
d) São duas as testemunhas do ato, exceção feita ao caso em que um dos contraentes 
não saiba ou não possa naquele momento escrever, caso em que serão exigidas mais duas 
testemunhas. 
 Obs.: Os parentes podem ser testemunhas do ato. 
 
e) Ao final do evento, o juiz de paz, verificando que é de livre vontade dos interessados 
contraírem o matrimônio, pronunciará a seguinte fórmula solene: 
 
De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos 
receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados. 
 
f) Proceder-se-á, então, à lavratura do livro de registros de casamento, cujo assento será 
assinado pelo presidente do ato, os cônjuges, as testemunhas e o oficial do registro. 
 
Art. 1.536 do CC 
O assento conterá: 
- os dados qualificativos dos cônjuges (nomes, prenomes, nacionalidades, profissão e 
domicílio), assim como a data e o lugar dos seus nascimentos; 
- os dados qualificativos dos genitores dos cônjuges (nomes, prenomes, nacionalidades, 
domicílio), assim como a data e o lugar dos seus nascimentos e, eventualmente, do óbito; 
- a relação dos documentos apresentados ao cartório de registro civil; 
- os dados qualificativos precedentes do cônjuge que foi anteriormente casado; 
- os dados qualificativos das testemunhas; 
- a data de publicação dos proclamas; 
- o regime de bens adotado e a menção a eventual pacto antenupcial realizado; e 
- a data de celebração do casamento. 
Arts. Conexos: art. 1565 (inclusão de sobrenome do nubente); art. 1.641 (obrigatoriedade do 
regime da separação de bens); art. 1,653 (pacto antenupcial) 
Código Civil 1916 – art. 195 
Legislação Relacionada: art. 70 da Lei n.º 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos) 
 
 
2) DA SUSPENSÃO DA CERIMÔNIA – art. 1.538 CC 
 
- a celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: 
 
I – Recusar a solene afirmação da sua vontade; 
 
II – Declarar que esta não é livre e espontânea; 
 
III – Manifestar-se arrependido. 
 
O nubente que, por algum dos fatos mencionados acima, der causa à suspensão do ato, não 
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 27
será admitido a retratar-se no mesmo dia. 
 
A retratação do arrependimento eficaz, portanto, poderá ser efetuada, porém em data 
posterior àquela na qual houve a suspensão da cerimônia nupcial. 
 
Se, apesar da recusa, a cerimônia prosseguir e o ato for concluído e registrado, o 
casamento será inexistente por falta de elemento essencial: o consentimento (Eduardo 
Spíndola. A família, p. 138.) A retratação não será aceita ainda que o nubente provocador do 
incidente declare tratar-se de simples gracejo. 
 
A intenção da lei é resguardar a vontade do nubente contra qualquer interferência. Mesmo 
que não se encontre sob influência estranha, a lei lhe propicia um compasso de espera para 
que medite e, se retornar, traga uma deliberação segura e amadurecida. 
 
O certo é designar-se o casamento para o dia seguinte ou para nova data, dentro do prazo de 
eficácia da habilitação, para permitir uma serena reflexão do nubente indeciso. 
 
Além dos casos mencionados no art. 1.538 do CC, a celebração do casamento se 
interromperá se os pais, tutores ou curadores revogarem a autorização concedida para o 
casamento respectivamente dos filhos, tutelados e curatelados, como o permite o art. 1.518 
do aludido diploma, bem como se, no decorrer da solenidade, for devidamente oposto algum 
impedimento legal cuja existência se mostre plausível ante a idoneidade do oponente, a 
seriedade da argüição e a robustez da prova ou informação (Caio Mario da Silva Pereira, 
Instituições de Direito Civil, v.5 p.115-116) 
 
MOLÉSTIA GRAVE DE UM DOS NUBENTES – art. 1.539 
Se um dos nubentes, no dia da cerimônia, encontrar-se acometido de moléstia grave, o 
casamento poderá vir a ser realizado no seu próprio domicílio ou no lugar em que se 
encontrar, mesmo no horário noturno, com a presença de duas testemunhas que saibam ler e 
escrever (no sistema de 1916, eram quatro testemunhas). 
O termo avulso da cerimônia será reduzido no livro de assentos em 5 dias, perante duas 
testemunhas, contados a partir da data do casamento. 
 
FALTA DE AUTORIDADE PARA PRESIDIR O CASAMENTO – art. 1.539 § 1º 
Na falta ou no impedimento do comparecimento do juiz de paz para presidir a cerimônia civil, 
qualquer um dos seus substitutos legais poderá realizar o casamento. 
Na ausência do oficial de registro ao ato, o juiz de paz designará outro para o exercício ad hoc 
das suas funções. 
O oficial do registro ad hoc deverá lavrar termo avulso do casamento, com as mesmas 
informações do termo definitivo, na presença de duas testemunhas. 
O registro de casamento será efetuado em até cinco dias da data da sua celebração. 
O registro não consubstanciado o termo inicial de vigência do casamento, pois se destina tão-
somente a provar a sua realização. 
Logo, o termo inicial do casamento é a data na qual ele é solenemente celebrado. 
 
 
 
 
 
 
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IX - Espécies de casamentos 
 
1.1 Casamento válido 
 
O casamento putativo, nuncupativo, religioso com efeitos civis, consular e por 
procuração, desde que presentes os elementos essenciais e observados todos os requisitos 
legais, constituem formas válidas de uniões conjugais regulamentadas na lei. O putativo, 
embora anulável ou nulo, produz efeitos de casamento válido para o cônjuge de boa-fé e, por 
isso, não será incluído, neste tópico, e sim nos casos de casamento inválido. 
1.2 Casamento por procuração por instrumento público – art.1542, §§ 1º a 4º 
 
É aquele que sucede mediante a representação do nubente que não puder estar 
presente na data da sua realização. Para tanto, o mandatário deverá estar investido de 
poderes específicos (ad nuptias) para contrair casamento em nome do outorgante, em 
instrumento de mandato que deverá ser transcrito integralmente na escritura 
antenupcial e no assento do registro. 
 
Deve constar da procuração a indicação de quem será o outro nubente, de modo a não 
se deixar tal faculdade de escolha, por óbvio, ao arbítrio do procurador. Se assim não fosse, 
jamais seria possível reputar tal casamento como realizado com base em uma vontade livre. 
Sua invalidade seria evidente. 
 
Exemplo: 
 
• O preso ou o foragido outorga poderes a outrem para, em seu nome, contrair 
casamento; 
• Noivo dekassegui (O termo dekassegui (出稼ぎ) é formado pelas palavras japonesas 
deru (出る) (sair) e kasegu (稼ぐ) (ganhar dinheiro), designando qualquer 
pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar, temporariamente, em outra região); 
• Estudo ou missão que não pode ser interrompido; 
• Qualquer outra pessoa que se encontra no estrangeiro a trabalho. 
 
Observação: Se ambos não puderem comparecer, deverão nomear procuradores diversos. 
Como a procuração é outorgada para o mandatário receber, em nome do outorgante, o outro 
contraente, deduz-se que ambos não podem nomear o mesmo procurador, até porque há a 
obrigação legal de cada procurador atuar em prol dos interesses de seu constituinte, e pode 
surgir algum conflito de interesses. 
 
O prazo de eficácia do mandato é de até 90 dias. 
 
O mandato pode ser revogado só por instrumento público (CC, 1.542, §§ 3º e 4º). 
 
Caso o mandante (um dos nubentes) decida revogar o mandato antes da cerimônia, 
o casamento não será realizado. Todavia, não chegando tal revogação ao conhecimento do 
mandatário ou do outro pretendente, caberá em desfavor do revogador o pagamento de 
indenização por perdas e danos. 
 
 
 
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1.2.1 Regime de bens do casamento (casamento por procuração) 
 
Não constitui requisito essencial do instrumento a menção do regime de bens do 
casamento, embora possa ser feita, facultativamente. No seu silêncio, prevalecerá o da 
comunhão parcial, salvo se for obrigatório, na espécie, o da separação. (Pontes de Miranda, 
Tratado de Direito de Família, v. I, § 29, n.2, p. 195) citado por Carlos Roberto Gonçalves. 
 
1.3 Casamento putativo – art. 1.561 do CC 
 
Casamento putativo é o que, embora “nulo ou anulável”, foi contraído de “boa-fé 
subjetiva” por um ou por ambos os cônjuges. Boa-fé subjetiva, no caso, significa ignorância 
da existência de impedimentos dirimentes à união conjugal. 
 
Incide, na nulidade (quer seja absoluta, quer relativa), a regra da boa-fé como 
desconhecimento de vício ou defeito. Assim, o casamento anulável ou mesmo nulo, se 
contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, em relação a estes como aos filhos, produz todos 
os efeito até o dia da sentença anulatória. 
 
O sentido do dispositivo legal protege tão-só um dos cônjuges se somente ele estava de 
boa-fé ao celebrar o casamento; nesse caso, restringindo o espectro de incidência da boa-fé 
negativa, seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão. 
 
Presunção legal absoluta de boa-fé cobre a situação jurídica dos filhos; mesmo que 
ambos os cônjuges estivessem de má-fé ao celebrar o casamento, seus efeitos civis só aos 
filhos aproveitarão. 
 
1.4 Casamento Nuncupativo – piedoso ou in extremis 
 
É a união entre pessoas de sexos diferentes entre si, objetivando a constituição de uma 
família, quando ao menos um dos nubentes se encontra portando alguma moléstia 
grave, que o submeta a possível morte iminente. 
 
O casamento nuncupativo pode ser realizado oralmente, na presença de seis 
testemunhas desimpedidas. 
 
Uma vez realizado, as seis testemunhas deverão comparecer ao fórum, em até cinco 
dias, para reduzir a termo judicial que: 
 
a) Foram convocadas pelo cônjuge portador da enfermidade; 
 
b) Que o cônjuge portador da enfermidade se encontrava em perigo de vida iminente, 
porém em perfeito estado de sanidade mental para livremente exteriorizar a sua 
vontade; e 
 
c) Que os nubentes aceitaram contrair o casamento. 
 
A autoridade judicial determinará a realização de diligências e remeterá os autos ao MP, 
que emitirá parecer em cinco dias. Conclusos os autos e no mesmo prazo o juiz determinará a 
regularização formal de casamento civil realizado nestas condições, se for o caso. 
 
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Conforme anteriormente salientado, a sentença judicial se sujeita, nesse caso, a recurso 
no prazo de cinco dias. Acolhendo-se a habilitação do casamento, a sentença será transcrita 
no registro civil. 
 
O registro do casamento proporcionará ao matrimônio os efeitos retroativos à data da 
efetiva realização da cerimônia núpcias (eficácia ex tunc). 
Se o enfermo puder comparecer ao cartório para ratificar o ato antes do tempo de 
consumação do registro, será desnecessária a adoção das providências acima mencionadas. 
 
1.5 Casamento consular 
 
Casamento consular é aquele celebrado por brasileiro no estrangeiro, perante autoridade 
consular brasileira, conforme previsto no Código Civil, art. 1.544 e na LICC, art. 18. O art. 1.544 
do CC dispõe que esta espécie de casamento deve ser submetida a registro em cartório, no 
Brasil, no prazo de 180 dias, a contar da volta de um ou ambos os cônjuges para residência no 
país. 
 
1.6 O casamento a bordo 
 
É presidido por pessoa que não possui a autoridade legal para tanto, incumbindo ao 
capitão da embarcação a sua realização. 
 
Aplicam-se ao casamento a bordo as regras do casamento In extremis, devendo, no 
mais, ocorrer o registro da cerimônia no cartório ou no consulado, no prazo de 48 horas, a 
partir da primeira aportagem da embarcação. 
 
X - Das provas do casamento 
 
O casamento pode ser comprovado através de provas diretas ou indiretas. 
 
A certidão do registro civil do casamento é o meio direto de sua prova. 
 
Entretanto, fatores outros podem ensejar não apenas o extravio ou perda da certidão, 
como, ainda, inviabilizar a prova documental direta das núpcias. 
 
Na ausência justificável da certidão de casamento, admite-se a demonstração do 
matrimônio civil por outros meios. Fala-se na comprovação da posse do estado de casado. 
 
A impossibilidade de extração de nova via da certidão de casamento é um caso típico de 
ausência justificável. Outro seria ao falecimento dos pais, quando apenas eles tinham o 
conhecimento sobre as informações necessárias do seu casamento. 
 
Admite-se, assim, a prova indireta, pelos meios não proibidos pelo direito, realçando-se 
os documentos e as testemunhas, como é o que sucede com a posse do estado de casado. 
 
Posse do estado de casado é prova de aparência da existência do casamento, pela 
publicidade do tratamento conferido reciprocamente entre o homem e a mulher, que presume 
a existência do matrimônio civil. 
 
Os três requisitos que compreendem a posse do estado de casado: 
 
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 31
• O nome (nomen) – requisito acidental; 
• O tratamento (tractatus) – deve haver um comportamento que revele a existência 
de uma relação íntima; 
• Fama (reputatio) – devem os interessados possuir uma reputação perante a 
sociedade. 
 
Na dúvida, vigora o princípio in dúbio pro matrimonio, presumindo-se a existência do 
casamento civil, o que pode inclusive vir a ser reconhecido judicialmente. Nesse caso, a 
sentença terá eficácia ex tunc, retroagindo à data apontada como sendo a do matrimônio. 
 
O reconhecimento da posse do estado de casado gera efeitos tanto para os cônjuges 
como para os filhos, cujos direitos são, então, preservados. 
 
XI – CASAMENTO INEXISTENTE, NULO E ANULÁVEL – arts. 1.548 a 1.564 do CC. 
 
 Como é cediço por todos, no Brasil, por muitos anos, todos os casamentos eram 
realizados pela Igreja, em virtude de a quase-maioria dos brasileiros ser católica. Com a 
chegada de imigrantes, era necessário que se disciplinasse o casamento de uma forma a 
adequar-se às novas circunstâncias. 
 
 Foi assim que em 11 de setembro de 1861 foi editada lei que disciplinava o casamento 
dos acatólicos, no entanto somente com a proclamação da República veio o casamento a 
perder seu caráter confessional. 
 
 O casamento inexistente sequer foi mencionado, a exemplo do Código de 1916, no 
Novo Código Civil. A exposição de motivos do Código de 2002 também não menciona a 
hipótese de casamento inexistente no bojo de seu texto. A doutrina e a jurisprudência são as 
vozes uníssonas, que alardeiam, entre nós, o instituto do casamento inexistente. 
 
 Washington de Barros Monteiro pontua em seu Curso de direito Civil (1982, p. 73): "O 
ato inexistente é o nada. A lei não o regula, porque não há necessidade de disciplinar o nada". 
 
 De fato, não há interesse prático em distinguir hipóteses que justificariam a inexistência 
de um ato jurídico, visto que já estão claramente enumerados, no Código, os casos de 
nulidade, que se confundem com as hipóteses de inexistência, salvo em matéria de 
casamento. A seguir, elucidar-se-ão os conceitos de inexistência, nulidade e anulabilidade, 
estudados a partir do direito matrimonial. 
 
 Foi o jurista alemão Zacharie (VENOSA, 2003, p. 113) que pela primeira vez doutrinou 
a diferença entre a inexistência e a nulidade de um ato jurídico. 
 
 O casamento pode ser visualizado sob três planos distintos: o da existência, o da 
validade e o da eficácia. 
 
O conceito de invalidade abrange o de nulidade e o de anulabilidade. 
 
Casamento nulo é aquele que, embora existente é inválido e ineficaz, pois decorre 
"da falta de qualquer dos requisitos legais da formação do ato ou de expressa 
disposição da lei (AMARAL, 2003, p. 524)”. 
 
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No segundo é configurada uma sanção de menor grau do que o primeiro. Já o 
casamento inexistente é aquele em que falta um elemento essencial à sua formação, não 
chegando a formar-se, sendo, por conseguinte, inválido. 
 
 Conforme aduz Pontes de Miranda (1947, p. 295) o casamento inexistente é "pura 
materialidade de fato, sem nenhuma significação jurídica, ao contrário do ato nulo, que teve 
sua vida jurídica, embora viciado, mas que pode ser revalidado, ou conservar a sua existência, 
inicialmente precária, por se não ter requerido nunca a nulidade, ainda que insanável o vício." 
 
É considerado inexistente o casamento em três situações: 
 
• Quando este é celebrado por autoridade absolutamente incompetente; 
• Quando é contraído sem consentimento; 
• Quando é realizado entre pessoas do mesmo sexo. 
 
A união entre pessoas do mesmo sexo, ainda quando é solenemente realizada, não 
constitui matrimônio porque é da essência deste negocio jurídico a sua celebração entre 
homem e mulher, visto que este contrato jurídico apresenta três finalidades, quais sejam: 
 
a) disciplinação das relações sexuais entre os cônjuges; 
b) mútua assistência; 
c) procriação. 
 
Aduz Pontes de Miranda (1947, p. 296) que "se o sexo preponderante é diferente do 
sexo do cônjuge normal, ou há duvida sobre a preponderância, tal casamento apenas é 
anulável por defeito irremediável". 
 
A ausência de celebração como também a ausência de autoridade competente é outra 
hipótese de inexistência matrimonial. Se o casamento for celebrado perante juiz incompetente 
ratione loci, resta configurada hipótese de anulabilidade, visto que a incompetência é relativa. 
Suponha-se, por outro turno, que certo casamento seja celebrado perante delegado de polícia 
ou prefeito. Neste caso, é patente a incompetência absoluta, portanto resta configurada a 
inexistência do matrimônio em casos de incompetência materiae. 
 
Finalmente, a ausência total de consentimento também torna inexistente o casamento. 
Se o nubente nega o seu consentimento ou omite sua vontade diante da autoridade 
celebrante, resta ausente um dos elementos essenciais à constituição do casamento. 
 
Não se deve confundir ausência de consentimento com defeito da vontade. A primeira 
torna o casamento inexistente, a segunda simplesmente anula o ato. 
 
Cabe ainda ressaltar os casos de nulidade a fim de que se possa diferenciá-los das 
hipóteses de inexistência. Aqueles estão expressamente consignados nos arts. 1521 e 1548 
do Novo Código Civil. A seguir vejamos essas hipóteses conforme expressa disposição do 
Código Civil: 
 
 Art. 1521. Não podem casar: 
 
 I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; 
 
 II - os afins em linha reta; 
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 III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do 
adotante; 
 IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; 
 V - o adotado com o filho do adotante; 
 VI - as pessoas casadas; 
 VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio 
contra seu consorte. 
 
 Art. 1548. É nulo o casamento contraído: 
 
 I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil. 
 
II – por infringência de impedimento. 
 
As demais hipóteses de anulação do matrimônio estão expressamente disciplinadas, e 
são todas sanáveis. 
 
 É imperioso salientar que o casamento inexistente não produz nenhum efeito no plano 
jurídico, já o mesmo não ocorre no casamento nulo. Este poderá suscitar efeitos tais como o 
impedimento da mulher casar nos dez meses seguintes à separação de corpos. 
 
 O matrimônio inexistente não goza de efeitos quando contraído de boa-fé, no entanto o 
mesmo não se pode afirmar em relação ao casamento nulo. Este, segundo o artigo 1561 do 
Código Civil, em relação ao cônjuge ou aos cônjuges que o houverem contraído de boa-fé 
como também aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença de nulidade. 
 
 A seguir, analisar-se-á os aspectos processuais que envolvem o instituto estudado. 
 
Embora "os atos inexistentes sejam um nada jurídico" (VENOSA, 2003, p. 115), muitas 
vezes, possuem efeitos materiais que precisam ser extinguidos por meio de um decreto judicial 
declaratório e mandamental, já que será forçoso cancelar o Registro Civil, mediante um 
mandado de cancelamento. 
 
 A inexistência matrimonial é alegável, caso houver utilidade e interesse processual, tanto 
por meio de uma ação declaratória quanto por meio de exceção e também incidenter tantum, 
sendo decidida como tal, sem que sobre o assunto pese autoridade de coisa julgada. O

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