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1 UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL - ULBRA ANA CAROLINA ZANCHET DOBNER A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBJETIVA DO ESTADO Guaíba 2015 2 SUMÁRIO 1. A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO .................................. 02 2. A QUESTÃO DA BALA PERDIDA ..............……....................................... 03 3. A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO ................................ 04 4. CONCLUSÃO …......................................................................................... 05 3 1 – A RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO A Constituição de 1946 já abordava a responsabilidade objetiva do Estado, mas foi a partir de 2002, tendo amparo da Constituição Federal vigente (de 1988), que já versava sobre o mesmo tema, que o Código Civil deste ano e o Código de Defesa do Consumidor permitiram que a Responsabilidade Civil Objetiva do Estado se estabelecesse no Direito brasileiro. Para a responsabilização do Estado por dano gerado existem duas teorias que podem ser adotadas, a Teoria do Risco Administrativo e a Teoria do Risco Integral. Para entender qual delas a CF/88 utiliza, basta analisar o seu artigo 37, §6º, que prevê: “As pessoas jurídicas de Direito Público e as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo e culpa.”. Conclui-se, então, que a Constituição vigente adota a Teoria do Risco Administrativo, onde só há razão para responsabilizar o Estado se existir relação entre a atividade do agente público, que deve estar vinculado ao cargo exercido para a administração pública, e o dano causado, ou seja, é preciso que haja nexo causal para que o Estado responda pelo dano objetivamente. A Teoria do Risco Administrativo pretende responsabilizar o Estado pelo perigo eventualmente provocado (sem dúvida de que essa é a sua principal intenção). Entretanto, também demanda que respondam pelo prejuízo todos aqueles que recebem benefícios oriundos de atividade do Estado. Ao final, a teoria adotada pela atual Constituição, significa fazer com que todos os que são beneficiados pela atividade administrativa do Estado, também arquem com o ônus advindo desta. Ou então responderia determinado grupo de administrados, o que seria injusto, vez que todos os administrados ganham quando do bom funcionamento dos serviços prestados pelo Estado ou por quem o Estado autorize. Ainda sobre o vínculo que deve existir entre a atividade administrativa e o dano, o que cabe ressaltar é que para configurar atividade administrativa basta que a causa do dano esteja condicionada a posição que o agente motivador do evento tem no Estado. Isto é, ser agente do Estado e por esta condição gerar dano a 4 outrem já caracteriza a responsabilidade do Estado. Aliás, ato que seja danoso a terceiro praticado por agente público, mas que estava na qualidade de pessoa privada não configura responsabilidade do Estado. A fim de conhecimento, recentemente no RE nº363423/SP, Relator o Ministro Carlos Brito, houve decisão do STF nesse sentido. É caso onde soldado da Brigada Militar, ao tempo de seu descanso, em casa ao entrar em discussão com sua companheira atingiu-a mortalmente utilizando arma da corporação. Pela Primeira Turma do STF, ficou decidido que não existe responsabilidade civil do Estado no caso apresentado, como parte da fundamentação, o Relator, Ministro Carlos Brito esclareceu: “ele não estava no exercício de sua atividade funcional, nem dessa condição se arvorou para agredir a mulher; não estava em missão policial, nem agia, em período de folga, em defesa da sociedade”. 2 – A QUESTÃO DA BALA PERDIDA Aqui trata-se de questão, infelizmente, recorrente principalmente na cidade do Rio de Janeiro: tiroteios entre policiais e criminosos que resultam em terceiros alvejados. Importante ressaltar que o Estado terá dever de indenizar e responsabilidade objetiva, claramente. Há, ainda, divergência entre os entendimentos, mas não há necessidade de comprovação de que a origem do projétil é da arma utilizada pelo policial, basta que a lesão causada a vítima tenha acontecido em decorrência de ação de agente público, pois atividade em que o risco era evidente. Aqui, interessante frisar: se o dano for oriundo de atividade do Estado, incontestavelmente, restará o compromisso do Estado de indenizar. Por outro lado, se a não houver confronto e alguém for acertado por projétil que não se sabe a origem, não existirá dever do Estado em indenizar, vez que não há conexão com qualquer atividade estatal. Sobre a responsabilidade civil do Estado em caso de terceiro atingido mediante confronto policial, já existe entendimento estável da jurisprudência, exemplo pode ser visto no REsp 1056605–RJ, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma do STJ. 5 3 – A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ESTADO Para tratar desse assunto, há, primeiro, a necessidade de analisar as três correntes doutrinárias que existem sobre a questão. A primeira afirma que depois de 2002, com o novo Código Civil e a adoção da Teoria do Risco Administrativo pela Constituição, não há mais espaço para se falar em responsabilidade subjetiva das pessoas jurídicas de direito público. Como já mencionado, o artigo 37, §6º da Carta Magna deixa clara a utilização da teoria que responsabiliza o Estado objetivamente pelo dano causado a terceiro, causado por agente público, em que haja nexo causal. A segunda corrente tem como líder o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello e este manifesta-se pela existência da responsabilidade subjetiva do Estado quando o prejuízo for oriundo de omissão do mesmo. Ou seja, aqui afirma-se que não tendo o Estado agido para criar o dano, este não pode ser considerado causador, sendo responsável apenas pelo que restou danificado após acontecimento que deveria ter evitado. Ademais, alega-se que o ato omissivo do Estado será sempre de responsabilidade subjetiva, pois é conduta ilícita, entretanto o Estado não comete conduta ilícita que não seja por negligência, imperícia ou imprudência, ou seja, que não seja culposa. Desta análise, consequentemente, conclui-se que não todo ato de omissão do Estado será de responsabilidade subjetiva do mesmo. Há, ainda, uma corrente intermediária, que se assemelha a segunda, porém difere ao afirmar não ser qualquer caso de omissão do Estado em que haverá responsabilidade subjetiva, mas apenas nos casos de omissão genérica. O que aqui se afirma é a seguinte relação: se nos casos em que existe o vínculo entre a atividade administrativa e o dano, a responsabilidade é objetiva, então nos casos em que a causa do prejuízo é fenômeno natural, fato da vítima ou fato de terceiros, a responsabilidade poderá ser subjetiva, se não há derivação de atividade estatal. Inclusive, por ser dever do Estado impedir esses casos e mesmo assim não fazê-lo. É válido, aqui, ressaltar que fala-se em responsabilidade objetiva se a omissão for específica e responsabilidade subjetiva se for omissão genérica, posto que naquela há o dever de agir para impedir, nesta não, pois não há como exigir que 6 o Estado que seja responsabilizado, por exemplo, por culpa anônima ou falta de serviço. Quanto a fatos da natureza, a jurisprudência já se posicionou sobre, concordando com Yussef Said Cahali, que diz o seguinte: “A Administração Pública será responsabilizada pela reparação dos danos sofridos pelos particulares, provocados por eventos inevitáveis da Natureza (chuvastorrenciais, inundações, alagamentos, desmoronamentos), desde que, por sua omissão ou atuação deficiente, deixando de realizar obras que razoavelmente lhe seriam exigíveis (ou as realizando de maneira insatisfatória), poderia ter evitado a causação do prejuízo, ou atenuado as suas consequências” (Responsabilidade Civil do Estado, Malheiros Editores, 2ª ed. P. 58). 4 – CONCLUSÃO Após o exposto, conclui-se que dano gerado por falta de serviço, mal funcionamento do serviço ou funcionamento tardio configurará omissão genérica e para tanto deverá o Estado responder subjetivamente. Já quando o Estado deve agir para prevenir risco evidente e se omite, permitindo, assim, situação perigosa, se houver dano nessas circunstâncias, o Estado deverá responder objetivamente, pois poderia ter evitado o evento, e não o fez.
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