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APOSTILA PSICOLOGIA E DIREITO FADIVALE 2013

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 PSICOLOGIA APLICADA ao direito
Professor: Mário Gomes de Figueiredo 
 2013/01
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO
1.1) HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Estudiosos vêm tentando compreender o pensamento, as emoções e o comportamento humano em geral desde os primórdios da história registrada. Seus esforços têm produzido muitas descobertas e conclusões respeitáveis, bem como imprecisões e mitos. Os filósofos buscavam respostas através da especulação, do pensamento sistematicamente organizado pela razão e pelas regras do raciocínio. Já o saber teológico estabelecia a revelação divina, escritas nos livros sagrados, como fonte do conhecimento de todas as coisas, acima de qualquer questionamento da consciência humana. Um longo caminho foi percorrido, até a psicologia tornar-se uma ciência.
Já no século V a.C., por exemplo, Platão, Aristóteles e outros pensadores gregos se viam às voltas com muitos dos mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: como explicar a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica e a loucura. Era o método filosófico buscando respostas. 
Durante a Idade Média, prevaleceu o saber teológico, com a supremacia do cristianismo na Europa Ocidental. As escrituras sagradas eram a fonte de todo o conhecimento. Durante esse período histórico, conhecido como Idade das Trevas, não houve mudanças a considerar na forma de se compreender o mundo e o homem.
A partir do século XVII, começaram a surgir novas idéias. René Descartes (1596-1650), por exemplo, filósofo francês, afirmou que os seres humanos, assim como o universo, se assemelhavam ao mecanismo dos relógios, que era a grande expressão tecnológica da época. Assim, prevaleceu entre os séculos XVII e XIX, a concepção dos seres humanos como máquinas e o método científico, através da análise, seria a forma possível de se investigar os “mecanismos” da natureza humana. Descartes também introduziu uma nova abordagem da relação entre a mente e o corpo: a dualidade físico (res extensa) x psicológico (res cogitans), onde uma influenciava a outra. Depois de Descartes, foi rápido e prolífico o desenvolvimento da ciência moderna em geral e da psicologia, em particular. 
A distinção entre a psicologia moderna e seus antecedentes, portanto, está menos nos tipos de perguntas feitas sobre a natureza humana do que nos métodos empregados na busca das respostas a essas perguntas. O que distingue a filosofia antiga da psicologia moderna são os métodos e as técnicas utilizadas, que denotam a emergência da psicologia como um campo de estudo próprio, essencialmente científico. 
Para isso, uma grande transformação se sucedeu. Foi quando os filósofos começaram a aplicar instrumentos e métodos, que já tinham se mostrado bem sucedidos nas ciências físicas e biológicas, a questões relativas à natureza humana. Com os pesquisadores agora se apoiando na observação e na experimentação sistemática, cuidadosamente controlada para estudar o comportamento humano é que a psicologia começou a alcançar uma identidade como ciência, que a diferenciava da filosofia. 
Em dezembro de 1879, na Alemanha, foi implantado o primeiro laboratório de psicologia do mundo. Esta data é considerada como o dia de fundação da psicologia como ciência. Em 1881, foi fundada a primeira revista de psicologia dedicada primordialmente a relatos de experimentos. Já em 1895, havia vinte e seis laboratórios de psicologia e três revistas em circulação, só nos Estados Unidos. 
A psicologia passou a ser aplicada inicialmente à educação e, posteriormente, durante as duas Guerras Mundiais, à seleção de pessoal, aplicação de testes de personalidade. Isso demonstrou ao público o quanto a psicologia podia ser útil na resolução de problemas da vida cotidiana. Desde então, a psicologia se expandiu não apenas em termos de seus clínicos, pesquisadores, acadêmicos e de sua literatura publicada, mas também em termos de seu impacto na nossa vida cotidiana. 
Hoje em dia, a psicologia se define como a ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento; é o conjunto de estados e disposições psíquicas (mentais) e comportamentais de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos; conhecimento acerca dos sentimentos, pensamentos (processos cognitivos) e do comportamento do sujeito humano. 
Em síntese, a psicologia (psico = mente e logos = estudo) moderna pode ser definida como o estudo científico do comportamento e dos processos mentais (ou cognitivos).
1.2) FUNDAMENTOS DA TEORIA PSICOLÓGICA
A psicologia contemporânea abrange muitas áreas de estudo e aplicação, com diversas teorias de base, tendo, muitas vezes em comum, apenas o interesse expresso pela natureza e pela conduta humana. 
Em linhas gerais, as abordagens teóricas em psicologia concebem o sujeito humano como um ser biopsicossocial. Isso significa que o comportamento humano está submetido a imperativos:
- biológicos: provenientes de sua filogenia (história da origem da espécie) e de sua herança genética particular (herdados de seus progenitores);
- psicológicos: provenientes de sua ontogenia (história da origem, da constituição do ser, da história de vida do indivíduo);
- sociais: provenientes de práticas culturais, que determinam princípios morais, leis (jurídicas, religiosas) e códigos de conduta próprio da cultura da qual o indivíduo faz parte.
O padrão característico de comportamento que cada indivíduo apresenta (sua personalidade), pensamentos e afetos (que constituem o Self ou Eu) são produtos da integração desses três fatores determinantes, que se manifestam nas contingências de vida de cada indivíduo, tornando o sujeito único, com suas singularidades e características próprias.
O sujeito, assim, tem suas características próprias, sua particularidade determinada por suas idiossincrasias, que é a disposição peculiar de cada indivíduo de reagir aos estímulos do meio ambiente onde vive. 
Por ser uma ciência ainda relativamente jovem (foi fundada no final do século XIX), a psicologia não tem uma teoria hegemônica, única. Tem sim algumas teorias de base. Dentre essas, algumas delas, as mais relevantes, estão dispostas, de forma resumida, no quadro abaixo.
CINCO MODELOS TEÓRICOS
	MODELO
	OBJETO DE ESTUDO
	TIPO DE INTERVENÇÃO
	Psicanalítico
(Sigmund Freud)
	Conflitos inconscientes
	Uso da livre associação de idéias, interpretação de sonhos e atos falhos. Utilização do conceito de ID (princípio de prazer), EGO (consciência) e SUPEREGO (censura imposta pela cultura).
	Comportamental
(Behaviorismo)
B. F. Skinner
	O comportamento, entendido como ato em contexto.
	Estratégias de modificação do comportamento pela utilização dos princípios da aprendizagem operante. Concebe a tríplice contingência (estímulo discriminativo, resposta e estímulo reforçador) como elemento básico do processo de aprendizagem.
	Cognitivo
A. Beck
	Processos mentais, estruturas cognitivas
	Modificação de crenças disfuncionais (reestruturação cognitiva), que distorcem a relação do indivíduo com o seu ambiente. 
	Humanístico
Carl Rogers
	Experiências subjetivas de cada indivíduo em sua condição existencial.
	Intervenções centradas no cliente, no aqui e agora.
	Gestalt
Pearls
	Percepção
	Modificação da percepção de si e do mundo em busca da auto-realização. 
UNIDADE 2 - INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO.
2.1) CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
A lei predominante nas diversas civilizações antigas era a Justiça de talião, que prescrevia a máxima “olho por olho, dente por dente, vida por vida”. Também conhecida como Pena de Talião consistia na rigorosa reciprocidade do crime e da pena. Por isso, era apropriadamente chamada retaliação. Os primeiros indícios da lei de talião foram encontrados no Código de Hamurabi (1.780 a. C.). Escreve-se talião com minúscula porque não se trata de nome próprio, mas sim uma palavra que encerra a idéiade correspondência de correlação entre o mal causado a alguém e o castigo imposto a quem o causou: para tal crime, tal pena. Daí, o termo talião.
Ao longo de muitos séculos ocorreram variações pequenas nesse princípio de aplicação da justiça, cuja meta era a de infligir ao delinqüente o mesmo mal que ele praticara, restaurando-se deste modo a ordem e a paz social. Freqüentemente a punição ocorria na forma de penas vigorosas que beiravam a fúria, com requintes de crueldade e de degradação humana. Assistiu-se a isso até fins da Idade Média e meados do Iluminismo. 
Os séculos XVII e XVIII foram de transição nos modelos de aplicação de penas, que mesmo severas, não continham a criminalidade. Em fins do século XVIII e início do XIX, com as reformas institucionais e da sistemática penal, percorridas no período anterior e defendidas pela jurista e economista italiano Cesare Beccaria (1738-1794) é que surge a prisão como a conhecemos hoje. O princípio básico passa a ser o de aplicar uma forma mais humana e digna às penas. No bojo das reformas, constavam os princípios de legalidade dos crimes e das penas, assim como a proporcionalidade das penas aos delitos. Beccaria combateu ainda a pena de morte e as infamantes, com o argumento de que o que combatia o crime não era o rigor, mas a certeza da pena. 
Nesse sentido, nota-se que a utilização das ciências médicas e psicológicas pelo Judiciário visa não só o cumprimento da lei, mas a humanização de sua aplicação, que são os princípios que regem o Estado de Direito Democrático, onde a ética prescreve que o bem maior é a vida, o sujeito humano. 
Ao final do século XIX, são produzidas reflexões sobre o Direito e a sua função na vida social, a partir de ciências próximas da Psicologia, como a filosofia. Foi nesse século que surgiu a necessidade explícita da aplicação da Psicologia ao Direito.
Já no início do século XX havia a consciência de que os juízes não são tão livres em suas decisões, sendo influenciados por componentes inconscientes. Aqui nota-se a relação dos saberes da psicologia e a atuação dos atores jurídicos. Anteriormente ao século XX, eram os próprios juristas que reclamavam a necessidade de um conhecimento psicológico para poder realizar sua atividade judicial. A preocupação com a necessidade do conhecimento psicológico na Justiça não é muito recente. 
Diversos acontecimentos estabeleceram a definitiva relação da Psicologia com o Direito. Em fins do século XIX, surgem obras em psicopatologia, como a do médico italiano Cesare Lombroso, que criou uma escola de pensamento sobre a criminalidade, com fortes influências da frenologia (determinação da personalidade e do grau de tendências a criminalidade pelo formato da cabeça do indivíduo). Lombroso defendia a relação entre características físicas e a criminalidade, a partir de estudos realizados em prisões na Itália. Durante muito tempo a Psicologia Criminal utilizou-se da teoria de Lombroso, apesar da existência de escolas contrárias. Esse debate sobre a conduta criminosa foi importante para o ressurgimento da Psicologia Jurídica, como também para a ampliação das suas áreas de atuação. Já há muito tempo, a teoria de Lombroso não é mais utilizada, tendo sido substituída por estudos da personalidade.
No início do século XX, houve uma consolidação da análise psicológica da conduta humana relacionada com os aspectos legais (conduta criminal, testemunha) e também da Psicologia Aplicada, utilizada tanto em assuntos penais como em civis, tais como responsabilidade civil, custódia infantil, etc. 
Posteriormente, os psicólogos clínicos começam a colaborar com os psiquiatras nos exames psicológicos legais, promovendo um grande desenvolvimento nos estudos psicométricos utilizados nos laudos psicológicos, inicialmente usados na justiça da juventude.
Na década de 1950, o psicólogo forense é devidamente incorporado como perito que testifica, utilizando os conhecimentos da Psicologia nos Tribunais. Estudos psicológicos são utilizados para decisões judiciais. 
A partir da premissa de que as decisões judiciais apresentavam mais um fundamento psicológico (emocional, inconsciente, involuntário) do que um juízo puramente lógico-dedutivo, multiplicaram-se os textos realizados por juristas que enfatizavam a necessidade de fundamentação psicológica não somente no Direito, mas também na prática do jurista.
No Brasil, não diferente da história mundial, a prática forense foi iniciada pela psiquiatria (ou melhor situando, pela medicina legal). A partir do conhecimento do psicólogo enquanto profissão no país (em 27 de agosto de 1962, a profissão foi regulamentada através da Lei 4.119/62.), sua atuação na área jurídica se estendeu do final dos anos de 1960 aos anos de l980 em atividades nos processos vinculados a Vara de Menores ou Juizados de Menores, que incluíam casos de adoção, abandono e ocorrências referentes a crianças e adolescentes. Nesse contexto, o papel do psicólogo estava mais relacionado a orientações do que a um processo pericial mais específico. 
A partir dos anos de 1980, os psicólogos com práticas jurídicas ingressaram em unidades de perícias tais como Institutos de Medicina Legal por todo o Brasil e Instituto de Medicina Social e Criminologia no Estado de São Paulo. 
2.2) PSICOLOGIA JURÍDICA
A psicologia jurídica trata dos fundamentos psicológicos da justiça e do direito (caráter mais teórico), enquanto a psicologia judicial aparece como a aplicação do saber psicológico à prática do jurista, sendo inaugurada com a psicologia criminal. A psicologia Jurídica, na sua totalidade, não é apenas um instrumento a serviço do judiciário. Ela analisa as relações sociais, muita das quais não chegam a serem observadas pelo legislador. 
A Psicologia Jurídica é fundamentada como uma especialidade que desenvolve um grande e específico campo de relações entre o Direito e a Psicologia, nos aspectos teóricos e de pesquisa, assim como na aplicação, na avaliação e no tratamento. A Psicologia, de um lado, procura compreender e explicar o comportamento humano, e o Direito, de outro, possui um conjunto de preocupações sobre como regular e prever determinados tipos de comportamentos, com o objetivo de estabelecer um contrato social de convivência comunitária. 
A Psicologia Jurídica se define ainda como sendo uma assessoria na condução do processo jurídico. Essa atividade, que é diretamente vinculada aos Fóruns e ao Ministério Público, cumpre o papel de facilitador no entendimento mais humano do ato jurídico.
As funções do psicólogo jurídico incluem a avaliação e diagnóstico da conduta psicológica dos atores jurídicos, o assessoramento para orientar como perito em questões de sua área, fazendo intervenções, planejamento e realização de programas de prevenção, tratamento, reabilitação e integração de atores jurídicos na comunidade, no meio penitenciário, na formação e educação, treinamento e seleção de profissionais do sistema legal, em campanhas de prevenção social contra a criminalidade em meios de comunicação, em pesquisas, na vitimologia e na mediação, quando apresenta soluções negociadas em conflitos jurídicos. 
Em suma, o papel forense do psicólogo na realidade brasileira engloba desde o processo da avaliação psicológica à implantação de recursos terapêuticos para as vítimas e agressores em diferentes contextos. 
Modalidades de atuação do psicólogo
a) No Direito Penal: casos provenientes da Vara Criminal e Vara de Execução Penal (incidentes de sanidade mental e de farmacodependência, para verificação de imputação e grau de dependência química).
b) No Direito Civil: Vara Cível, Vara da Família e Sucessão e Vara da Infância e Juventude (casos de interdição, anulação de casamento e separação litigiosa, guarda dos filhos, regulamentação de visitas, avaliação de transtornos mentais em ações de indenização).
c) No Direito do Trabalho: casos provenientes da Vara Trabalhista (acidentes, doenças profissionais, doenças decorrentes dascondições do trabalho, verificação da capacidade laborativa, etc.).
d) No Direito Administrativo: verificação das condições mentais para fins de aposentadoria por doença mental, reintegração de posse.
e) No Direito Militar: verificação das condições mentais para fins de ingresso/reforma/integração de posse.
f) No Direito Canônico: verificação da capacidade para contrair matrimônio e para receber sacramento.
2.3) CONCEITO DE PERSONALIDADE E NOÇÕES DE PSICOPATOLOGIA
O termo psicopatologia surgiu em 1878, como sinônimo de psiquiatria clínica. Esse termo se compõe de psico, que se refere ao psiquismo e se origina do grego psiqué – que significa sopro, respiro, princípio vital – e pathos, que tem o sentido de perturbação, sofrimento e também de paixão; isto é, perda do controle racional de si e de seus atos.
A psicopatologia como disciplina científica é independente da medicina e está comprometida com a compreensão da experiência íntima do sofrimento psicológico do indivíduo dentro de uma perspectiva biopsicossocial. 
Os transtornos mentais estão descritos em duas publicações tradicionais, com utilização internacional, que é a CID-10 (Código Internacional de Doenças, da Organização Mundial de Saúde) e o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais, editado pela Associação Norte-Americana de Psiquiatria). 
O conceito de normalidade em psicopatologia é uma questão de grande controvérsia. Não obstante isso, podemos definir o psicopatológico como aquilo que causa sofrimento intenso e persistente ao próprio indivíduo e/ou à sociedade. 
2.4) PERSONALIDADE E SUAS ALTERAÇÕES
A personalidade é definida como o conjunto, o somatório de traços e aspectos emocionais, comportamentais e intelectuais, as formas de reagir aos eventos ambientais, o modo de ser e sentir próprio de cada pessoa. Na definição de personalidade, tem-se que: ela é relativamente estável, mas também apresenta certa dinâmica. Isto é, embora constante no tempo, a personalidade está sujeita a determinadas modificações, dependendo de mudanças existenciais, novos aprendizados ou alterações neurobiológicas.
A tradição psicopatológica clássica distingue os seguintes aspectos relacionados à constituição da personalidade e a sua expressão:
1. A constituição corporal: conjunto de propriedades morfológicas, metabólicas, bioquímicas, hormonais, entre outras, transmitidas ao indivíduo principalmente pelos mecanismos genéticos;
2. O temperamento: particularidades psicológicas inatas, que diferenciam um indivíduo dos outros. O temperamento (padrão afetivo) é determinado por fatores genéticos ou constitucionais precoces produzidos por fatores cerebrais, endócrinos ou metabólicos. Assim, sugere-se que alguns indivíduos nascem com uma tendência natural à passividade, à menor atividade ou a mais timidez; e outros já nascem com temperamento ativo, com forte tendência à iniciativa, a maior agressividade, mais expansivos socialmente.
3. O caráter: é a soma de traços de personalidade, expressas no modo básico do indivíduo reagir perante a vida, seu estilo pessoal, suas formas de interação social, gostos e aptidões, que marcam o seu perfil moral. 
Assim, a personalidade é o resultado do desenvolvimento psicológico do indivíduo, onde o temperamento e os comportamentos instintivos são modelados, “reconfigurados” pela educação, pela convivência no meio familiar e sociocultural. É o produto, ao longo da história pessoal do sujeito, da interação constante entre os fatores genéticos e as práticas culturais das contingências de vida do indivíduo.
HISTÓRICO DOS MODELOS TEÓRICOS DE TIPOS DE PERSONALIDADE
1) O modelo de Hipócrates, proposto no século IV a. C. utiliza a concepção quaternária da natureza, correspondente ao organismo humano. Assim, ele concebe quatro tipos de indivíduos:
Sangüíneo: reativos, otimistas, emocionais
Fleumáticos: reacionais, frios, pacíficos
Atrabiliáticos: melancólicos, solitários
Biliáticos: coléricos, ambiciosos
2) O modelo de Eysenck, desenvolvido a partir de 1950, estabelece cinco fatores na caracterização da personalidade, que são os seguintes:
Neuroticismo: traços ansiosos, tensão, preocupação, autopiedade, instabilidade
Extroversão/introversão: atividade, energia, entusiasmo ou seu oposto
Abertura: curiosidade, imaginação, originalidade, tendência a arte.
Amabilidade: gentil, confiável, generoso, empático
Conscienciosidade: organizado, eficiente, responsável, confiável.
3) O modelo de personalidade de Cloninger, descrito no final dos anos de 1970, propõe as seguintes dimensões:
Procura por novidade: Tendência à excitação, à recompensa potencial e imediata, alívio da monotonia. Busca intensa por aventuras e explorações emocionantes. Suas decisões são baseadas em intuições e impressões globais, agindo impulsivamente, com mudanças bruscas de interesses. Esse padrão está associado a um maior risco de abuso e dependência de drogas, a outros comportamentos de risco em geral.
Evitação de danos: Nesta aqui há uma tendência inata do sujeito a responder intensamente a evitação de sinais de estímulos aversivos. O sujeito é quase temeroso, antecipando danos possíveis. Trata-se de pessoa pessimista e inibida, que evita com freqüência os menores riscos e busca avidamente o previsível e familiar.
Dependente de recompensa: Tendência do sujeito a responder intensamente a sinais ou indicativos de recompensa, em especial, aprovação social. Verifica-se extrema dependência de apoio emocional e intimidade com os outros, sensibilidade às sugestões e responsividade à pressão social, além de extrema sensibilidade à rejeição, mesmo a pequenos menosprezos. 
OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE 
Segundo a classificação atual da OMS (Organização Mundial de Saúde) para os transtornos mentais, os transtornos de personalidade são definidos pelas seguintes características:
Em geral, surgem na infância ou na adolescência e tendem a permanecer relativamente estáveis ao longo da vida do indivíduo;
Manifestam-se como um conjunto de comportamentos e reações afetivas desarmoniosas, envolvendo vários aspectos da vida do indivíduo, como na afetividade, no controle de impulsos, no modo de relacionar-se com os outros;
O padrão anormal é de longa duração, não se restringindo a episódios.
O padrão anormal inclui diversos aspectos da vida social e do comportamento do indivíduo;
O padrão de comportamento social mal-adaptativo, produzindo uma série de dificuldades para o indivíduo e/ou para as pessoas com quem ele convive.
O transtorno de personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão, sensação de fracasso pessoal, dificuldades de relacionamentos, etc.)
Geralmente contribui para um mau desempenho ocupacional (no trabalho ou nos estudos) e social (com familiares, amigos, colegas). 
Características psicológicas dos Transtornos de Personalidade
	Transtorno
	Características do Eu
	Visão que tem dos outros
	Principais crenças
	Comportamento típico
	Anti-social (psicopatia)
	Autônomo, forte, esperto
	Vulneráveis, bobos, otários
	Regras e leis não são prá mim. O negócio é levar vantagem em tudo.
	Enganar, manipular, transgredir
	Dependente
	Necessitada, frágil, desamparada, incompetente
	Fortes, provedores, seguros, competentes
	Preciso de pessoas fortes para me proteger e me apoiarem
	Cultivar relações de dependência, apoiar-se no outro de forma excessiva
	Esquizóide
	Solitário, auto-suficiente
	Intrusivas
	Os outros são desinteressantes e indesejáveis
	Isolamento, evitação de contato social
	Esquizotípica
	Solitário, desligado do mundo, excêntrico
	Intrusivas
	Os outros não me interessam
	Isolamento social, desligado, comportamentos exóticos, esquisitos.
	Evitativa
	Inapto, incompetente, desinteressante
	Críticos, superiores, sempre melhores que eu 
	Se conhecerem quem eu sou, serei rejeitado ou humilhado
	Evitar avaliações ou julgamentos de si
	Histriônica
	Sedutora,cativante
	Seduzíveis, admiradores, encantados comigo
	Preciso impressionar. As pessoas devem me admirar e atender meus desejos
	Usar charme excessivo/inconveniente, dramatizar, exibir-se, gestos extravagantes 
	Narcisista
	Especial, o máximo
	Admiradores, inferiores, invejosos
	Estou acima de regras, porque sou o máximo
	Vaidade excessiva, auto-engrandecimento.
	Obsessiva
	Responsável, organizada, competente
	Irresponsáveis, bagunçados, incompetentes
	Eu sei o que é melhor. Detalhes são cruciais
	Aplicar regras rígidas, perfeccionismo, controlar tudo
	Paranóide
	Correto, inocente, invejado
	Maliciosos, abusadores, perseguidores
	Fique sempre em guarda, desconfie de tudo
	Acusar, desconfiar, suspeitar de tudo o tempo todo
	Impulsiva (agressiva)
	Auto-suficiente, exigente com os outros, sem paciência
	Intrusivos controladores, dominadores
	Tenho que fazer as coisas só do meu jeito, não suporto ser controlado ou mandado
	Resistência passiva, submissão superficial, sabotar instruções ou ordens, atitudes “explosivas”
Os transtornos de personalidade são ainda classificados por grupos,
assim:
Transtornos de personalidade do Grupo A: predominam esquisitice e/ou desconfiança
Transtornos de personalidade do Grupo B: predominam impulsividade e/ou manipulação
Transtornos de personalidade do Grupo C: predominam ansiedade e/ou controle.
OS TRÊS ESTÁGIOS CEREBRAIS
Há três estágios cerebrais, surgidos sucessivamente, ao longo da evolução das espécies, mas que são sempre imbricados uns com os outros. Eles também se fazem presentes no cérebro humano. Na compreensão do comportamento humano, é importante conhecermos esses estágios. 
O primeiro é o cérebro reptiliano, emergido há duzentos milhões de anos, quando do aparecimento dos répteis. Esse cérebro ancestral responde pela fisiologia da subsistência, pois organiza as reações mais espontâneas da nossa vida, sempre instintivas e pré-reflexas, desde a sexualidade reprodutiva até movimentos digestórios e nervosos de defesa diante de ameaças. 
O segundo é o cérebro límbico, surgido há 125 milhões de anos, com os mamíferos. É o cérebro dos sentimentos, da relação afetiva, do cuidado com a prole, da comunicação oral. Esse teve a mais longa duração temporal e estrutura fundamentalmente a profundidade humana, feita de sentimentos e afetos. 
O terceiro é o cérebro neocortical, que irrompeu há cerca de três de milhões de anos, e que possibilita ao homem o desenvolvimento da consciência reflexiva. Este é o mais recente e o que menos memória genética possui, quando comparado com os seus predecessores. Ele responde pelo pensamento, pela fala e pela capacidade de abstração e de ordenação e organização mental do ser humano, possibilitando o raciocínio lógico, o planejamento e o julgamento moral. 
TRANSTORNOS PSICOPATOLÓGICOS RELACIONADOS AO DELITO
A psicopatologia é a ciência que se ocupa do fato psíquico patológico, do indivíduo psiquicamente perturbado, que apresenta algum tipo de transtorno mental ou de comportamento. Adota uma perspectiva clínica, contemplando a conduta delitiva como expressão de um transtorno patológico (mórbido, doentio) da personalidade.
A psicologia, por sua vez, estuda o comportamento humano, a conduta de um modo geral e amplo. Interessa-lhe o comportamento delitivo como qualquer outro comportamento a ser compreendido. 
A psicologia comportamental, de metodologia experimental, preocupa-se em explicar o processo de aquisição de certos modelos de conduta através da identificação das variáveis ambientais (contingências) que instalaram e mantém o comportamento no repertório do indivíduo. Nesse processo, propõe o conceito de aprendizagem operante, que ocorre por variação e seleção de resposta pela conseqüência produzida. Esse modelo teórico, denominado de behaviorismo radical, foi concebido pelo psicólogo norte-americano B. F. Skinner. Nesse modelo teórico, a personalidade do indivíduo é entendida como um padrão de comportamento, adquirido através de determinantes filogenéticos (biológicos), ontogenéticos (história de vida) e sociais (práticas culturais). A conduta delitiva seria então um padrão de comportamento desadaptativo, adquirido pelo processo de aprendizagem operante, nos diversos contextos das contingências sociais. 
A psicanálise, por sua vez, que é um corpo teórico proposto pelo médico Sigmund Freud (1856-1939), concebe o crime como um comportamento simbólico, que é expressão de conflitos psíquicos inconscientes, os quais geram desequilíbrios na personalidade que só podem ser compreendidos pela análise de seus conteúdos, mediantes técnicas próprias. Propõe o exame da estrutura psicodinâmica da personalidade, seus conflitos inconscientes, através de análise introspectiva. Nesse propósito, concebe o psiquismo dividido em três instâncias mentais: id (instinto biológico), ego (consciência, razão) e superego (censura, interdição afetiva imposta pelas leis morais da cultura). O equilíbrio entre essas três instâncias produziria a estabilidade mental do indivíduo e o desequilíbrio, a psicopatologias. 
Modelos psicopatológicos em criminologia
Hoje em dia, não se concebe que o delinqüente seja necessariamente um louco ou que a loucura gere criminalidade. Não é verdade também que todo delinqüente é um psicopata, do mesmo modo que nem todo psicopata (transtorno de personalidade anti-social) comete crime. 
Entretanto, a sociedade, muitas vezes alarmada e perplexa com algum crime brutal, atribui ao criminoso uma anomalia mental. Isso provavelmente por influências de concepções primitivas, que fazem do criminoso um endemoniado, ou por processos que generalizam indevidamente patologias. 
Historicamente, constata-se que só a partir do século XIX (notoriamente com o médico Phillipe Pinel, na França) começa a distinção entre delinqüente e enfermo mental. Mas tal processo foi lento e repleto de contradições. O critério de loucura era a de inadequação de conduta moral, gerada por um “erro da razão”, que precisava então ser tratada. O tratamento, não por acaso, era denominado de Tratamento Moral. Já o criminoso era considerado um bandido em si mesmo, ao qual caberia a condenação, e não tratamento.
O positivismo criminológico substituiu a teoria da “loucura” pela da “personalidade criminal”; isto é, pela suposta existência de um conjunto de características (físicas) ou estrutura de personalidade delitiva. 
O êxito dessa teoria, durante muito tempo, reside em dois postulados:
O princípio da diversidade do delinqüente, que estabelece ser este, sob o ponto de vista qualitativo, diferente do homem norma, que cumpre as leis:
A necessidade de isolar, mensurar e quantificar os fatores tidos como patológicos que incidem sobre o indivíduo, e lhe determinar (classificar) o delito.
Psiquiatria e Psicopatologia.
A Psiquiatria é uma especialidade médica que tem por objeto de estudo as alterações psíquicas, no que concerne a sua natureza, prevenção e possibilidades terapêuticas.
A Psicopatologia é uma ciência autônoma, que estudas os sinais e sintomas (semiologia) dos transtornos mentais, diferenciando as distintas funções psíquicas do ser humano e estabelecendo classificações e conceitos gerais.
Delimitar os conceitos de saúde e de transtorno mental não é tarefa fácil, como tão o é definir a noção de saúde e normalidade mental. O rotulamento de certas pessoas como “doentes mentais” é inseparável de determinados processos sociais de interação, que nem sempre são de caráter técnico científico, mas sim políticos e ideológicos.
Psicopatologia Criminal 
Ocupa-se dos sinais e sintomas que constituem o transtorno mental, no objetivo de estudar o comportamento do homem delinqüente em suas diversas funções psíquicas, mediante o estabelecimento de uma série de categorias e regras gerais de diagnóstico.
Busca, portanto, avaliar manifestações patológicas em funções psíquicas, tais como:
Inteligência: casosde retardo mental, certas inibições cognitivas por alterações do humor (depressão), por isolamento social ou por deterioração mental ocasionada por demências.
Pensamento: alterações do curso (inibido, acelerado, perseverante), da estrutura ( dissociado, desagregado) e do conteúdo dos pensamentos (perda do juízo de realidade, delírios).
Senso-percepção: alterações dos sentidos, produzindo alucinações, que podem ser auditivas, visuais, etc. 
Memória: ocasionado por alterações do humor, demências e outros.
Afetividade: apatia, embotamento, indiferença
Consciência: em termos quantitativos (obnubilação, coma, hiper-vigilância, etc.) ou termos qualitativos (estados crepusculares, oniróides, etc.)
À Criminologia interessa investigar não a incidência desses transtornos e alterações na imputabilidade do sujeito, ou na sua capacidade civil (responder pelos próprios atos). Isso cabe ao Direito Penal. Interessa à Criminologia a relevância etiológica desses sinais e sintomas quanto a ter ou não influência na gênese do comportamento delituoso. 
Nosologias Psicopatológicas e sua relevância criminal
1) Oligofrenia (retardo mental): Nos graus profundos, a incapacidade psicológica e física reduz muito drasticamente a possibilidade efetiva de delinqüir. Não obstante, podem ocorrer delitos contra a propriedade (na forma de roubos e furtos grosseiramente praticados, delitos contra a liberdade sexual – estupros quase sempre não consumados – e delitos de incêndios, por motivos fúteis ou por mera “diversão”). É mais freqüente o oligofrênico profundo ser vítima de certos delitos, como abandono, maus-tratos, manipulações que lhes são nocivas, etc. Nas formas leves e moderadas, há um maior índice e variedades de criminalidade, sendo a maioria produzida por impulsividade e irreflexão por parte do indivíduo. Em casos de homicídio, que não são freqüentes, a motivação costuma ser inconsistente e mesmo estúpida, sem que o oligofrênico manifeste sinais de arrependimento, em virtude de sua falta de noção quanto ao violento caráter delitivo de seu ato. 
2) Demência: Nesses casos, o conflito com a lei se produz sobretudo no início da doença, em função de manifestações sintomatológicas como desinibição de conduta sexual e comportamentos impulsivos anti-sociais, como agressões físicas, verbais e até mesmo pequenos furtos. O homicídio por ciúmes é um dos delitos de prática mais freqüente durante a velhice, onde se observa quadros demenciais, com predominância de delírios paranóicos. 
3)Transtornos relacionados ao consumo de álcool e outras drogas: O álcool é um importante fator criminogênico, porque provoca importantes alterações psíquicas e comportamentais. Entretanto, o perfil para o delito depende da natureza aguda ou crônica da intoxicação etílica. Na intoxicação aguda, predominam os delitos de injúria e os delitos contra as pessoas. O comportamento delituoso explica-se pela exaltação da vitalidade unida ao descontrole psicomotor que o indivíduo apresenta. É comum ocorrer abusos sexuais, perturbação da ordem pública, delitos no trânsito, que inclui atropelamentos com morte; na intoxicação crônica, episódios reiterados de violência intrafamiliar (violência contra a companheira, contra dos filhos). Há importantes alterações cognitivas e emocionais, com predominância de delírios, alucinações e falta de controle de impulsos. 
A criminalidade ocasionada pelos efeitos diretos da droga (pelos transtornos psicóticos induzidos por certas substâncias, por reações de ansiedade, estados confusionais, impulsos agressivos, etc.) costumam ser delitos contra a vida e a integridade física e moral, delitos contra a liberdade sexual (estupro). Acrescenta-se ainda uma significativa taxa de suicídio, especialmente originadas por drogas alucinógenas e mesmo o álcool.
Os fatos delituosos têm lugar fundamentalmente sob a denominada fissura, que é o momento anterior e prévio à síndrome de abstinência, quando o dependente químico pressente a ocorrência próxima da crise provocada pela ausência da droga (levando-o a esse estado de fissura). O indivíduo experimenta uma ânsia antecipada e/ou sinais iniciais de perturbações mentais pela ausência da droga. Nesse estado, o único foco do indivíduo é a obtenção da droga, que pode levar o sujeito a fazer qualquer coisa para obtê-la. Por isso, os fatos criminosos cometidos sob o estado de fissura podem ser violentos e cruéis, no objetivo de atender a uma necessidade incontrolável de obter a droga. Na síndrome de abstinência propriamente dita, o indivíduo já encontra-se em considerável estado de perturbações mentais, geralmente apresentando alucinações, delírios e mesmo convulsões.
4) Esquizofrenia: Caracteriza-se pela perda do juízo de realidade, provocado por delírios (alterações do conteúdo do pensamento) e alucinações (alterações psicopatológicas da percepção sensorial), além de alterações da afetividade (apatia, embotamento), do comportamento social (isolamento), do humor (estados depressivos), ocasionando também prejuízos cognitivos. Há também alterações do EU, com perda da identidade. Em geral, o esquizofrênico não infringe significativamente a lei penal. Na esquizofrenia paranóide, onde predominam os delírios de perseguição e alucinações auditivas (vozes de comando), o indivíduo pode vir a cometer um homicídio, motivado por seus pensamentos delirantes, que interpretam de forma irreal que ele está ameaçado por um perseguidor imaginário, que seria então sua vítima. O delito na esquizofrenia é frequentemente ocasionado pelos sintomas do transtorno mental. Trata-se, portanto, de um crime sem história e sem sentido plausível. O esquizofrênico delinqüe sozinho, sem cúmplices. 
No transtorno delirante persistente, do tipo paranóico (idéias de perseguição), também podem ocorrer crimes pelos mesmos motivos que podem ocorrer na esquizofrenia paranóide, uma vez que a diferença entre um transtorno e outro é que, no delírio persistente não há os demais sintomas observados para o diagnóstico de esquizofrenia. Assim, ainda diferentemente do que ocorre na esquizofrenia, o transtorno delirante persistente do tipo paranóico é compreensível (não é absurdo ou bizarro, como costuma acontecer na esquizofrenia). A paranóia se caracteriza por delírios de desenvolvimento geralmente insidioso, que persiste. È compreensível (tem uma lógica em sua elaboração) e convincente e, por isso, pode influenciar terceiros. O indivíduo conserva o restante de sua personalidade e demais funções cognitivas (raciocínio, memória, linguagem), assim como sua vida social e seus relacionamentos. Além do delírio paranóico, outro que é relevante para a criminologia é o delírio messiânico, onde o indivíduo pensa convictamente que é um eleito de Deus e possuidor da razão universal divina, pelo que comete um crime de homicídio, por exemplo, interpretando-o como um gesto sublime e heróico, pelo bem da humanidade, o que o faz não sentir arrependimento algum. Ao contrário, sente-se bem por ter “salvo o mundo”. 
5) Transtorno bi-polar do humor: Caracteriza-se por alternâncias no humor, indo do pólo depressivo ao pólo maníaco (hiperatividade psicomotora, desinibição). O grande risco da fase depressiva é o suicídio e o suicídio ampliado. Neste, o indivíduo depois de matar seus entes queridos, põe fim a sua própria vida. Em suas ruminações de ruína, que são típicas do caso, interpreta que os matou para salvá-los de uma desgraça. Na fase maníaca, que é mais propensa a eventuais crimes, mas isso depende da intensidade do quadro. Durante a fase de mania, podem ocorrer delitos de homicídio (quando, inclusive, são comuns delírios de ciúmes ou persecutórios), de agressões, de fraudes (por exaltação e estados eufóricos, que levam o indivíduo a perder o senso crítico de suas ações), delitos sexuais (por exacerbação da libido e desinibição social) e honras (na crença delirante de sua posse). Na verdade, o comportamento delituoso é mais freqüente nas fases de hipomania (estágio de intensidade imediatamente inferiorà mania), onde o indivíduo, com o humor exaltado e eufórico, pode cometer crimes de falsidade, de exibicionismo e outros. 
6) Parafilias (transtorno de conduta sexual): Caracteriza-se por uma incapacidade do indivíduo em estabelecer relações afetivas e sexuais que destoam dramaticamente das práticas culturais e valores morais de sua sociedade. Não é raro tal conduta vir acompanhada de sentimentos de culpa e vergonha. Dentre as parafilias que são relevantes para o estudo criminológico temos a pedofilia (desejo incontrolável e recorrente de manter relações sexuais com impúberes, tanto do tipo heterossexual como homossexual. Incluem abusos e violência sexual contra crianças, pornografia infantil e corrupção de menores. O sadismo, que pode envolver delitos de agressão sexual e lesões, e mesmo delitos contra a vida. Exibicionismo, que é uma das parafilias mais comuns verificadas na justiça criminal. Em geral, ocorre em homens, com ou sem transtornos mentais, onde o prazer se constitui de exibir seus órgãos genitais, contra a vontade do expectador, geralmente em locais públicos. Necrofilia (prazer em ter relações sexuais com cadáveres) é um grave transtorno de conduta sexual e, geralmente, aparece associada a severas perturbações psiquiátricas (psicoses e retardo mental). Do ponto de criminal, o necrófilo pode cometer delitos relacionados à exumação ilegal. 
7) Transtorno no controle de impulsos: Define-se por uma impossibilidade de resistir a um impulso de cometer um ato considerado irracional. Destacam-se a cleptomania (impulso a roubar pequenos objetos de pouco valor), piromania (impulso irresistível para incendiar propriedade alheias sem motivo ou justificativa), ludopatia (jogo compulsivo). 
8) Transtornos de personalidade: É mais que o mero conjunto de traços de personalidade. Exige a constatação de um padrão permanente de comportamentos que se afasta das expectativas típicas da cultura do indivíduo, manifestando-se nas áreas cognitiva (pensamentos típicos), afetiva, das relações inter-pessoais, do controle dos impulsos, exibindo uma longa duração na vida do indivíduo, com início precoce (na adolescência), e que ocasiona perturbações marcantes em diversas áreas e situações pessoais e sociais do indivíduo.
O transtorno de personalidade emocionalmente instável do tipo impulsivo (explosiva) tem como características predominantes a instabilidade emocional e a falta de controle dos impulsos, com uma tendência marcante para agir sem considerar as conseqüências. Ocorrem comumente acessos de violência, particularmente em reação a críticas. Pessoas com essa personalidade são popularmente chamadas de “temperamentais”, que respondem de forma impulsiva e violenta a situações banais, chegando ao homicídio. A impulsividade pode ser definida como uma falha em resistir a um impulso, que é prejudicial à própria pessoa ou aos outros. Diferencia-se da compulsão, porque nesta há ainda uma tentativa do indivíduo resistir, porém geralmente sem sucesso. O indivíduo impulsivo freqüentemente age no calor da situação.
A personalidade dependente se caracteriza por uma subordinação das próprias necessidades e interesses às dos outros dos quais se faz dependente, se submetendo aos desejos desse outro, além de capacidade limitada de tomar decisões cotidianas sem um excesso de conselhos e opinião dos outros. Tem preocupação e medo de ser abandonado pela pessoa com a qual tem relacionamento íntimo e se faz dependente. Quando ocorre mudanças nas expectativas do relacionamento, a pessoa se sente ameaçada, podendo ocorrer sentimentos de frustração. A frustração pode levar a altos níveis de ansiedade, gerando insegurança e baixa auto-estima. Assim, em alguns casos, o desejo de manter o relacionamento a qualquer custo pode levar o indivíduo a uma situação de homicídio seguido de suicídio. 
Pessoas com características de personalidade narcísica (excessivamente vaidosas e orgulhosas) também podem cometer homicídio, na medida em que o orgulho ferido gera um ódio intenso, que sustenta e embala uma necessidade de vingança.
O transtorno de personalidade anti-social (também conhecido como psicopatia, sociopatia) é caracterizado por uma absoluta indiferença pelos sentimentos alheios, por atitudes flagrantes e persistentes de desrespeito a normas, regras e obrigações sociais, além de baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de agressão, incluindo violência. A ausência de sentimentos éticos e altruístas, unidos à falta de princípio morais impulsiona o psicopata a cometer crimes, muitas vezes com requintes de brutalidade e crueldade. Ressalte-se, entretanto, que nem todo psicopata comete homicídio. Muitos podem ser descritos como violentos, mas sem romperem a barreira da transgressão. Outros ainda podem se tornar contraventores, políticos corruptos, empresários inescrupulosos ou estelionatários. 
O psicopata apresenta como característica de comportamento aspectos como: encanto superficial, inteligência, ausência de delírios e outros sinais de pensamento desorganizado ou irracional, ausência de ansiedade neurótica, presença de irresponsabilidade e mentira, ausência de remorso e vergonha, apresentando comportamentos claramente anti-sociais sem nenhum constrangimento, pobreza de expressões afetivas, curso de vida errante, sem um plano ou projeto definido. 
A diferença entre psicopatia e neurose é que o neurótico sofre com pensamentos negativos (auto-imagem, auto-confiança, baixa auto-estima, etc.) e afetos que lhes torturam (ansiedade, temores, etc.), enquanto o psicopata não sofre nem com uma coisa, nem outra, pois não experimenta ansiedade, nem escrúpulos, por exemplo, que são exagerados na neurose. Também não se deve confundir a psicopatia com a psicose. O psicótico se caracteriza pela perda do juízo de realidade, provocada por delírios e alucinações, enquanto que, na psicopatia, isso não ocorre, caracterizando-se esta por falta de compaixão e desrespeito freqüente às leis, regras e princípios morais.
O psicopata ainda se diferencia do simples oportunista sem escrúpulo (sem princípios morais), e do delinqüente habitual (o popular “ladrão de galinhas”). Para alguns autores, o psicopata típico é aquele que transgride as leis pelo prazer de transgredi-la, onde muitas vezes comete delitos sem que haja uma vantagem ou benefício material compreensível. Entretanto, criminosos muito violentos e cruéis tem freqüentemente traços de psicopatia, mas nem todo psicopata se comportam como criminosos desse tipo. Vale ainda ressaltar que há criminosos violentos cuja agressividade é produto de uma longa aprendizagem em determinada sub-cultura, e não por causa de traços típicos de uma personalidade psicopática. 
COMENTÁRIO: Para alguns autores, a criança aprende a não transgredir as leis graças a um processo de condicionamento (aprendizagem reflexa e operante) que, através de práticas educativas desde muito cedo, pune comportamentos anti-sociais e reforça comportamentos socialmente ajustados, selecionando, assim, uma conduta adequada aos valores de sua cultura. Neste processo de condicionamento, a punição está associada a sentimentos de medo e vergonha. O reforço, a sentimentos de orgulho e prazer por reconhecimento, aceitação e admiração. Na psicopatia, verifica-se que o indivíduo “aprende mal, ou mesmo não aprende”, durante o processo de seu desenvolvimento comportamental. Alguns estudos apontam que isso se deve, em parte, a uma peculiaridade congênita de seu sistema neuro-vegetativo, o qual responderia pouco diante de estímulos aversivos, que lhes causariam medo ou vergonha pelo castigo, além de uma natural agressividade exacerbada. 
OS TRANSTORNOS DE COMPORTAMENTO SEXUAL (PARAFILIAS)
A “Classificação Internacional de Doenças”, 10ª edição (CID-10), publicada pela Organização Mundial da Saúde em 1992, excluiu a homossexualidade, como tal, da sua relação de transtornos de comportamento. Ali encontramos listados os transtornos de identidade sexual e os transtornos de preferênciasexual, nos moldes da classificação anterior (CID-9). Há, na verdade, um agrupamento dos denominados transtornos psicológicos e de comportamento associados ao desenvolvimento e à orientação sexuais; e ainda um código para aconselhamento relacionado à atitude, comportamento e orientação sexual. Citam-se: 
Transtorno de Identidade sexual: diz respeito ao senso íntimo que leva alguém se identificar como do sexo masculino ou do feminino, moldando emoções e comportamentos. Os transtornos de identidade sexual dizem respeito a condições em que existe “um desejo de viver e ser aceito como membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por uma sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico”. A referência principal são os casos de transexualismo, em que há um desejo profundo de mudança do sexo biológico, levando, nalgumas vezes, às cirurgias para alteração dos genitais. Aqui estariam também certos casos de transvestismo (assim a palavra está grafada no CID-10).
— Transtorno de preferência sexual: remetem a condições nas quais os desejos sexuais são dirigidos para substitutos considerados inadequados. Incluem casos de erotização de objetos (fetichismo), de exposição dos genitais (exibicionismo), de focalização erótica da intimidade de outrem (voyeurismo), além de sadomasoquismo, pedofilia e outros.
Nenhuma dessas situações referem-se, em princípio, à homossexualidade, que diz respeito à orientação sexual, isto é, ao direcionamento do desejo e do comportamento sexual para pessoas do mesmo sexo. Em relação a esse caso, encontramos listados o transtorno de maturação sexual e o transtorno de orientação sexual egodistônica, nos quais a identidade sexual não está em dúvida, isto é, a pessoa reconhece-se como sendo do próprio sexo biológico. O possível mal-estar fica no âmbito da orientação sexual que pode ser homossexual, heterossexual ou bissexual; e que, no caso, passa a ser fonte de conflito e determina a busca de sua superação ou ajustamento.
É preciso reconhecer que a mudança efetuada na listagem oferecida pela Organização Mundial da Saúde foi precedida e fortemente influenciada pelo que acontecera anos antes, no âmbito da Associação Psiquiátrica Americana. Essa entidade patrocinou o que denominou Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM), em sucessivas edições, onde foram progressivamente assimiladas as tendências da sociedade liberal e as pressões de grupos organizados. Assim, decidindo sempre por votos majoritários em assembléias, restringiu-se sistematicamente as menções à homossexualidade como transtorno de conduta.
USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
O uso de substâncias psicoativas (que têm efeito sobre o sistema nervoso, causando alterações psicológicas) como álcool, maconha, cocaína, crack, café, nicotina ou heroína pode resultar em quadros de intoxicação, abuso e dependência.
Intoxicação é definida com uma síndrome reversível específica (alterações comportamentais ou mentais, com alteração da consciência e outras reações cognitivas, agressividade e humor instável) causada por uma substância psicoativa recentemente ingerida.
Abuso de substância psicoativa ocorre quando há um uso prejudicial ou mal-adaptativo, levando o indivíduo a prejuízos ou sofrimento clinicamente significativos.
Uso nocivo é um conceito mais restrito que o abuso e refere-se a um padrão de uso que causa dano à saúde física (esofagite ou hepatite alcoólica, bronquite por tabagismo) ou mental (depressão por grande consumo de álcool, por exemplo). 
Fissura é o termo que se dá ao desejo intenso de usar uma substância psicoativa, com conseqüentes episódios de uso intenso e compulsivo dessa substância. Nessa condição, o indivíduo pode apresentar-se agressivo, violento e descontrolado emocionalmente. 
Tolerância refere-se à diminuição do efeito de uma substância após repetidas administrações ou uso. O organismo passa a necessitar de quantidades cada vez maiores da substância para que se obtenha o mesmo efeito inicial. 
Síndrome de abstinência é o conjunto de sinais e sintomas (freqüentemente ansiedade, náuseas, tremor, sudorese) que ocorrem horas ou dias após o indivíduo cessar ou reduzir a ingestão da substância que vinha sendo consumida de forma pesada e contínua. Podem ainda ocorrer delírios e alucinações.
A dependência a substâncias inclui fenômenos como tolerância, sintomas de abstinência, uso contínuo ou muito freqüente de quantidades significativas da substância, levando o indivíduo a gastar grade parte de seu tempo e interesse em atividades que envolvem a obtenção e o consumo da droga. A dependência física se caracteriza pela ocorrência de tolerância e síndrome de abstinência. 
Síndrome amotivacional é caracterizada por um estado de apatia e considerável baixa volitiva que acomete frequentemente usuários de maconha, em especial.
O SUJEITO E A LEI
CRIMINALIDADE E PUNIÇÃO: EFETIVIDADE SOBRE O COMPORTAMENTO DO SUJEITO DAS LEIS DO SISTEMA JURÍDICO.
A violência e o crime envolvem determinantes sociais, psicológicos, familiares, econômicos e culturais. Dentre esses determinantes, coloca-se aqui em destaque o psicológico.
Para isso, é fundamental observar pontos teóricos da psicologia, que tratam do desenvolvimento, desde a infância, da consciência moral, bem como da sensibilidade do comportamento à punição e ao seguimento de regras, o que se refere à submissão às leis e normas jurídicas. 
Estudos apontam que o combate à violência e à criminalidade deve enfatizar não apenas a punição e os dispositivos eminentemente repressivos. Estes são importantes, mas deve-se investir prioritariamente na educação. Mas não apenas na educação formal (aprender a ler, a escrever, a fazer conta e ganhar dinheiro). Deve também ser uma educação para a cidadania, com investimento no desenvolvimento humano, intelectual e afetivo. Deve promover a aquisição do senso moral, do comprometimento social, responsabilidade com a coletividade. E isso só é possível quando iniciado como processo educativo com a criança. Porque assim, em lugar de posteriores programas de repressão ao crime e de recuperação do sentenciado, teríamos programas de qualidade para educar a criança e valorizar as pessoas, e não simplesmente puni-las.
No intuito de explicar o comportamento e os processos de sua aprendizagem, o psicólogo norte-americano B. F. Skinner (1903-1990) propôs que a evolução natural da espécie humana dotou o homem de um repertório de comportamentos, que ele denominou de nível filogenético. Assim, a evolução natural preparou a espécie, ao longo de milhões de anos, para viver em um determinado ambiente. Temos aqui um imperativo biológico para o comportamento humano, que é puramente instintivo.
Entretanto, o ambiente se modifica com o passar do tempo, podendo inclusive sofrer transformações profundas e rápidas, devidas a diversos fatores. Para que haja uma adaptação do indivíduo a essas mudanças ambientais, a evolução natural dotou o organismo de um mecanismo de aprendizagem de novos comportamentos. A esse mecanismo de aquisição de novos comportamentos, que reconstrói o repertório filogenético do indivíduo, Skinner denominou de aprendizagem operante. Segundo ele, o indivíduo aprende novos comportamentos através da variação e seleção de resposta pela conseqüência produzida no ambiente. Tal conseqüência reforça a probabilidade dessa resposta ocorrer outras vezes em circunstância semelhante. Daí o conceito de aprendizagem pela recompensa ou pelo reforço. 
Essa aprendizagem operante, que inclui na espécie humana ainda a aquisição de novos comportamentos por instruções, ocorre em um ambiente social, que se caracteriza pelas práticas culturais de uma determinada comunidade.
Desta forma, nota-se que, para Skinner, o comportamento do indivíduo é produto de sua condição biológica, filogenética (produto natural da evolução da espécie até o homo sapiens), da herança genética particular de cada indivíduo, de sua história de vida (ontogenia,os comportamentos aprendidos durante sua existência) e das práticas culturais da comunidade da qual ele faz parte e onde vive. Falando de outra forma, o comportamento humano tem determinantes biopsicossociais. 
 Nota-se aí a ênfase na história de vida do indivíduo e na cultura onde esta história particular se desenvolveu na construção da sua personalidade. Por essa razão, na compreensão do comportamento de um indivíduo, sejam eles quaisquer, inclusive o comportamento criminoso, depende da investigação do repertório de comportamentos adquiridos ao longo da história de vida desse sujeito (que inclui suas idéias, seus pensamentos, a sua forma de interpretar o mundo e a si mesmo, assim como os comportamentos que ele apresenta na relação com as demais pessoas, enfim, sua personalidade). Além disso, é importante ainda conhecer o contexto onde cada comportamento ocorre. Assim, as práticas culturais típicas de uma sociedade, em interação com as particularidades genéticas, são fundamentais para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, 
Nesse caminho, vale ressaltar que dois comportamentos, filogeneticamente determinados (ou seja, instintivos), são críticos quanto ao desenvolvimento psicológico e à conduta social ajustada às prescrições de conduta civilizada: a agressividade e a sexualidade. No processo civilizatório pelo qual passa o indivíduo, tais comportamentos precisam ser modificados, para que ele seja inserido no código de conduta civilizada. Isso implica diretamente na educação que esse indivíduo irá receber e que é produto das relações sociais que ele terá durante todo esse processo, e como irá reagir ao mesmo. É preciso que a agressividade, assim como a sexualidade, seja deslocada, canalizada para comportamentos socialmente legitimados e aceitos. E, assim, no bojo do desenvolvimento psicológico da criança, tem-se a aquisição do senso moral, que é fundamental à convivência humana civilizada. 
Em sua teoria moral, Skinner estabelece que as práticas culturais devem visar o desenvolvimento humano o que, para ele, significa formação de pessoas com autocontrole e, ao mesmo tempo, criativas, para que, assim, possam agir para o próprio bem e para o bem da coletividade, da sua cultura. 
Nos princípios comportamentais sistematizados em sua teoria, que inclui o comportamento verbal, Skinner propõem que é com base nos efeitos das conseqüências do comportamento e nos sentimentos que o acompanham que os indivíduos formulam juízos de valor ou atribuem valor às coisas. Juízos de valor, portanto, são regras a controlar comportamentos. Entretanto, para que isso ocorra, é preciso que o indivíduo aprenda a ser sensível a orientar sua conduta pelas regras e leis, sejam elas jurídicas ou morais. 
A cultura humana está repleta daquilo que Skinner denominou de recompensas ou reforçadores e punições. Dentre os reforçadores sociais (ou recompensas sociais), temos a atenção, o reconhecimento, elogio, aprovação, apreço, aplauso, condecoração, dinheiro, prestígio, propriedades, etc. E, como punições sociais, tem-se a censura, a desaprovação, crítica, ameaça, castigo, abandono, rejeição, a condenação e prisão. Assim, somos sensíveis a determinadas conseqüências de nossos comportamentos, o que nos torna indivíduos com sensibilidade a serem reconhecidos, a pertencerem a um grupo, a sentirem-se seguros, protegidos e respeitados e a termos medo ou vergonha de sermos punidos. E buscamos isso o tempo todo, de uma forma ou de outra.
Nesse sentido, ao participar de uma relação social, o indivíduo se comporta em função de seu próprio bem ou interesse, mas também deve aprender a agir em função do bem da coletividade. Aqui, temos já a importância da regulação dessas relações sociais. Ou seja, historicamente, com a evolução da cultura, construímos um sistema de regras, normas e leis que controlam nossa relação uns com os outros, no objetivo de fazer com que essa relação ocorra de forma a garantir o bem-estar do indivíduo e da comunidade, promover a justiça e evitar o sofrimento e a destruição. Pelo menos, esse é o ideal de nossa cultura já há um bom tempo.
Nesse propósito, o controle social deve ser prioritariamente de forma que sejam positivamente reforçados comportamentos que promovam o bem da cultura, tornando esta, simultaneamente, um ambiente favorável ao bem-estar do indivíduo. Para isso, é imprescindível um sensos de justiça social. 
Enfim, o comportamento humano precisa ser construído pela educação, para que o sujeito passe pelo processo psicológico civilizatório e, desta forma, adquira a condição de cidadão. Ou seja, responsável por si e pela comunidade. E, para que isso aconteça, o ambiente social precisa garantir as condições necessárias.
É importante ressaltar o equilíbrio que deve haver entre o bem pessoal (interesses privados) e o bem dos outros (interesse público). A esse equilíbrio vamos denominar de eqüidade. Quando as agências de controle (o Estado, as instituições, as leis) desequilibram essa relação para seus interesses, ou em favor de uma minoria que detém o poder, o indivíduo excluído acaba por buscar refúgio em recompensas sociais anômalas, como prazeres ou alívios imediatos e a qualquer custo. Nesse caminho, sentindo-se pária da sociedade, ele pode tornar-se amoral, anômico, vazio, descrente, sem ideais para defender e pode descambar para um individualismo irresponsável, que pode vir a desembocar em abuso de drogas lícitas e ilícitas e em brutal violência social. 
Cabe, então, à sociedade, às comunidades, aos grupos sociais, à escola e às pessoas em geral tomarem para si a responsabilidade de formação dos cidadãos dentro de valores éticos e políticos. Isso quer dizer a formação de indivíduos com capacidade de elaborar, respeitar e conviver com diferenças de identidade, bem como com criatividade para inventar e por em funcionamento práticas culturais com condições de promover uma sociedade mais justa. A ética implica, portanto, em uma ação política: o ambiente social deve ser modificado para garantir a evolução da cultura e o bem-estar do indivíduo.
Nesse sentido, a ética está relacionada ao respeito ao bem do próprio indivíduo, ao bem dos outros (altruísmo) e ao bem da cultura. Para isso, o desenvolvimento moral do indivíduo é fundamental no processo de aquisição dessa subjetividade de cidadão, sensível às leis e ao código de conduta civilizado, quanto aos seus direitos e a seus deveres. E o desenvolvimento moral do sujeito está condicionado a sua história de vida e às práticas culturais da sociedade da qual faz parte.
O DESPERTAR DO SENSO MORAL
Nessa direção, tem-se o processo pelo qual a criança começa a adquirir o senso moral. O psicólogo Ives de La Taille, afirma que, por volta dos quatro ou cinco anos, as crianças começam a discriminar que, ao lado das coisas que se fazem (por puro prazer e impulsividade), há aquelas que se devem fazer (por obrigação, por dever). A isso ele denomina de “o despertar do senso moral”. Assim, a moral é um objeto de conhecimento e, portanto, aprendido intelectualmente. Para tanto, é preciso que esse objeto de conhecimento faça parte das práticas culturais do ambiente social da criança. 
Para esse autor, existem três conteúdos essenciais do dever moral: o senso de justiça (faz sentido, é razoável o princípio de igualdade e eqüidade), a generosidade (ou altruísmo, que é sentir-se bem em fazer o bem ao outro) e a dignidade (agir de maneira a respeitar o outro pelo simples fato de que o ser humano deve ser respeitado). Além disso, ele complementa que os princípios morais demandam, para serem aprendidos, certa habilidade intelectual, que é adquirida pela educação, pelo treino que a criança irá receber. A aquisição do senso moral também se sustenta nos sentimentos de compaixão e empatia, quando a criança é estimulada a ser sensível aos sentimentos dos outros e, a partir daí, adquire a conduta correta e experimenta sentimentos positivos em assim proceder. Quando não, experimenta sentimentos de vergonha e culpa.A moral não corresponde simplesmente à submissão a alguma forma de poder ou sansão, em função de fugir ou evitar punições. Caso seja assim, temos uma moral heterônoma (o indivíduo respeita a lei em função de controle externo coercitivo, mediante ameaça de punição). Neste formato, o controle social da criminalidade precisaria ser gigantesco e de se utilizar até mesmo de dispositivos bizarros, como o panóptico, de Jeremy Bentham, ou do Big Brother, de George Orwel, versões arcaicas das atuais câmeras de TV de segurança espalhadas pelas cidades. 
Por outro lado, quando o respeito a um código moral, ocorre por uma consciência, uma convicção subjetiva de dever e correção, temos então a moral autônoma. Nesta, o sujeito não precisa ser vigiado para não transgredir. Ele não transgride as normas por uma convicção de cidadania, onde compreende e se auto-determina, a partir dessa compreensão, em conformidade às normas morais e legais que ele entende como úteis para garantir a convivência justa e harmoniosa dos membros de sua comunidade. 
A criança pequena, quando bem educada, aprende o bom comportamento de cidadão não por medo da punição, mas porque cumprir ordens é agir de acordo com pessoas que ela considera como boas e corretas e que, então, são seus modelos, seus exemplos. Assim, se a criança obedecesse apenas para evitar a punição, não se poderia falar em moral, mas em submissão precária e contrariada a formas de poder. Contrariada porque é simplesmente em função de ameaça de punição. E precária porque, caso perceba a possibilidade de transgredir sem ser punida, ela certamente irá transgredir.
O CIDADÃO E A LEI: ANOMIA, HETERONOMIA E AUTONOMIA.
O termo anomia tem três significados diferentes e relacionados entre si. O primeiro significado é de "desorganização pessoal do tipo que resulta em um individuo desorientado ou fora da lei, com pouca vinculação a rigidez da estrutura social e suas normas", o segundo refere-se a "situações sociais em que as normas estão elas próprias, em conflito, e o individuo encontra dificuldade em seus esforços para se conformar às exigências contraditórias", é o conflito entre as próprias normas da sociedade. E em seu terceiro que é "uma situação social que, em seus casos limítrofes, não contem normas e que é, em conseqüência, o contrário de 'sociedade', como 'anarquia é o contrario de 'governo'. Podemos notar que em qualquer dos três significados se tem a idéia da falta ou do abandono das normas sociais.
Heteronomia significa as leis que recebemos. Consiste na sujeição do indivíduo à vontade de terceiros ou de uma coletividade. É conceito básico relacionado ao Estado de Direito, em que todos devem se submeter à vontade da lei. Outrossim, Do grego heteros (DIVERSOS) + Nomos (REGRAS), a heteronomia é a característica da Norma Jurídica, que esclarece ser esta imponível à vontade do destinador. A lei é imposta ao indivíduo e exterior a ele, podendo a mesma ser criada pelo estado, que é considerado um ente iterno, por um bloco econômico (ente supraestatal) ou um ente internacional como a ONU.
A consciência moral evolui da heteronimia para a autonomia, ou seja, começamos por interiorizar as normas e obedecemos-lhes por medo do castigo - Heteronomia - e esta situação evolui para um patamar, que consiste em nos autodeterminarmos em função não do medo da punição, mas de princípios e valores morais justificados de forma racional - Autonomia.
A heteronomia significa que a sujeição às normas jurídicas não está dependente do livre arbítrio de quem a elas está sujeito, mas, pelo contrário, se verifica uma imposição exterior de que decorre da sua natureza obrigatória. A heteronomia é, assim, a nosso ver, uma característica da ordem jurídica, por contraposição à autonomia, com significado oposto, qual seja, de caráter subjetivo, por princípios pessoais, a partir de reflexão crítica. 
ASPECTOS DA DINÂMICA DO COMPORTAMENTO DELITUOSO
O crime ocorre quando um indivíduo, em resposta a determinantes de ordem biológica, psicológica e social, encontra-se em situação tal que a execução do delito se lhe afigura subjetivamente como algo que lhe seja inevitável, necessário, legítimo ou mesmo desejável. O crime, na maioria dos casos, é produto de uma conduta que caracteriza um transtorno de personalidade, e não necessariamente da inteligência: tal criminoso, imputável, decide escolher pelo delito, tendo plena consciência do caráter delituoso de sua ação e com plena capacidade de autodeterminar-se (escolher, decidir pelo não cometimento do delito).
O comportamento de cada indivíduo implica na sua personalidade, como um padrão estável de atitudes, inclinações e disposições e o contexto onde o comportamento ocorre. No processo de compreender o comportamento criminoso, a primeira tarefa é saber como o crime apareceu para o sujeito; ou seja, o que o levou à prática de tal conduta delitiva e em que contexto. A segunda é saber por que aconteceu de determinada forma e não de outra. A terceira é saber se, mudando este ou aquele fator, o delito teria sido ou não produzido da mesma maneira ou de maneira diversa. 
Vale ressaltar que o desenvolvimento da personalidade da pessoa periciada inclui fatores hereditários (biológicos) e de sua história de vida. São importantes aspectos de uma visão longitudinal, como comportamento e permanência na escola, na profissão, inconstância no emprego, mentiras, arrebatamento afetivo, comportamento nas relações com os outros (familiares, colegas, superiores), ocupação do tempo livre, vida sexual, uso de bebidas e drogas, atividade econômica, estratégias utilizadas para resolução de conflitos, histórico de delitos. Numa visão transversal, tem-se a o estado psicológico e físico atual, no momento da avaliação, que inclui tipo constitucional, condições de saúde física e mental, capacidade física para o trabalho, temperamento, tendências funcionais e materiais da vida afetiva e volitiva, inteligência, discernimento moral e jurídico. 
PSICOLOGIA DOS JULGADORES, TESTEMUNHAS, SENTENCIADOS E VÍTIMAS. 
Juízes e jurados trabalham antes com a realidade dos relatos, e não com a realidade dos fatos. Julga-se por meio da comparação com referenciais inscritos no social e modulados por eventos mentais que dominam o funcionamento psicológico de cada indivíduo. A relação entre sujeito e ambiente social constrói o funcionamento mental, cognitivo, com seus afetos, crenças e auto-regras.
PSICOLOGIA DOS JULGADORES
O examinador (delegado, advogado, promotor ou juiz) empreende um confronto de linguagem e pensamentos entre o que se pergunta e o que se responde, no contexto de uma entrevista investigativa, no intuito de construir uma “imagem” do fato em exame. 
O primeiro passo na arte de entrevistar é forjar um ambiente cordial e confiável. Dentre os aspectos envolvidos em uma entrevista, um deles consiste em dominar os procedimentos da entrevista e as estratégias para se estabelecer sintonia emocional com o entrevistado, a qual consiste em se atingir uma interação entre o entrevistador e entrevistado por meio do qual o entrevistador consiga compreender a natureza das principais emoções que dominam o entrevistado. Entender que a emoção domina profundamente uma pessoa possibilita ao entrevistador identificar limites a estabelecer ou respeitar.
Observa-se que há sintonia emocional quando o entrevistador:
Percebe e interpreta sinais do estado de tensão do entrevistado, de emoções que o dominam e efeitos que possam causar em seu comportamento, no seu entendimento e na sua capacidade de elaborar as respostas;
Identifica as informações relevantes para entender o relato que possibilite interpretar as respostas;
Ajusta a linguagem, para torná-la compreensível ao entrevistado, evitando a ocorrência de falhas de comunicação, que possam comprometer o entendimento;
Identifica esquemas de pensamento do entrevistado, ajusta o questionamento, elimina ambigüidades capazes de interferir nas respostas e no sentido destas;
Observa o desenvolvimentomental do entrevistado (quando criança, ou indivíduo com retardo mental), com o objetivo de formular as questões de maneira a serem adequadas à elaboração cognitiva do indivíduo. Perguntas abstratas, por exemplo, dirigidas a pessoas com déficit intelectual produzirão respostas inconsistentes ou mesmo absurdas.
O entrevistador deve estar atento a fatores que contribuem para comprometer a atenção e, assim, a entrevista. São eles:
Cansaço físico: ocasiona relaxamento involuntário da atenção e desvia o pensamento. Quando entrevistas e audiências prolongam-se por horas seguidas, aumenta a probabilidade de ocorrer desatenção de detalhes importantes por cansaço do entrevistador;
Mecanismos psicológicos de defesa: alguns temas e situações podem ocasionar sofrimento ou desconforto emocional, quando, por exemplo, o entrevistador se vê confrontado em seus valores pessoais. Assim, processos cognitivos involuntários e automáticos podem produzir esquiva de tais questões. A perda ou desvio de atenção pode constituir um dos mecanismos de defesa, assim como a atenção seletiva, a observação de certos detalhes e esquecimento de outros.
Pensamentos automáticos: palavras, gestos, alguns comportamentos e outros estímulos podem provocar ou desencadear pensamentos automaticamente, que são capazes de desviar totalmente a atenção em relação ao tema tratado na entrevista, ou conduzir a linha de raciocínio em direção a conclusões equivocadas;
Crenças arraigadas: São “certezas subjetivas” que podem impedir a concentração em argumentos e idéias que as contrariem, produzindo conflitos entre valores pessoais “indiscutíveis”. Por exemplo, fanatismo em relação a determinado conceito ou idéia (política, religiosa, sexual, etc.). 
Esquemas de pensamentos: São estruturas cognitivas, raciocínios próprios do entrevistador que se desenvolvem a partir de idéias do próprio indivíduo fazendo-lhe não dar a devida consideração ou exercer a melhor crítica a respeito de resultados da entrevista de dos depoimentos. 
Outro fator importante é a influência das emoções. Uma grande parte dos processos possui uma a causa psicológica (emocional, afetiva), e não apenas jurídica. Quando se descobre a real motivação da requerente, fica mais fácil a apuração da verdade.
Reconhecer e controlar as próprias emoções são essenciais no processo de julgar. Entretanto, não é possível atuar sem se emocionar, até porque é imprescindível a sintonia emocional com os participantes. O desafio é emocionar-se sem se contaminar pelas emoções próprias e dos participantes.
Quando existe raiva, por exemplo, dominando os envolvidos na entrevista, o profissional deve aceitar essa realidade e não se intimidar ou se esquivar de seus efeitos sobre sua pessoa. Sentir a presença de raiva, ou qualquer outra emoção, é indispensável para se compreender o que tal emoção ocasiona entre os envolvidos e, assim, evita-se ser contagiado por ela, o que pode comprometer o exercício da neutralidade do entrevistador. 
Deixar-se dominar pela emoção significa comprometer percepção, atenção, pensamento e memória e abrir espaço para enganos de raciocínio (falsas inferências, conclusões inadequadas), falhas de percepção (fixação em aspectos inadequados, eliminação de detalhes), lapsos e outros fenômenos psíquicos. As emoções não percebidas podem levar o sujeito a crenças disfuncionais, esquemas rígidos de pensamento, pensamentos automáticos, preconceitos e ativarem mecanismos de defesa que comprometem o seu desempenho profissional.
Valores sociais exercem inegável e poderosa influência sobre as pessoas. O grande desafio daquele que julga e que aplica a pena, consiste em se abstrair dessa influência do social (o que as pessoas dizem, acredita e legitima). O comportamento de grupo encontra-se presente, por exemplo, no corpo de jurados, quando se trata da atuação deste. Um líder autoritário e preconceituoso pode polarizar interpretações dos acontecimentos para conduzi-los ao encontro de suas próprias crenças e preconceitos. Uma pessoa dependente, insegura, indecisa pode ser facilmente influenciada. 
Todo julgar é relativo e realiza-se dentro de um contexto, para o qual contribuem não apenas elementos de origem social, mas também os conteúdos intrapsíquicos (subjetivos, idiossincráticos) de cada participante. Os fenômenos intrapsíquicos (tudo aquilo que compõem o funcionamento mental, cognitivo, subjetivo de cada indivíduo) possuem conteúdos conscientes e também inconscientes (que o próprio sujeito não conhece, não discrimina), na forma de esquemas de pensamentos, crenças, pensamentos automáticos, mecanismos de defesa. Esse conjunto de conteúdos transfere para o julgador o ônus de buscar o autoconhecimento, para que ele consiga, então, conhecer a maneira como responde a estímulos que recebe do ambiente. Ele precisa ter a autocrítica, a avaliação de seu próprio comportamento de julgar.
Em sua percepção, o julgador pode entender o comportamento criminoso de três maneiras distintas:
Como algo anormal, onde o conflito e seu contexto perdem relevância (criminologia tradicional, de cunho puramente etiológico);
Como derivada de conflitos interpessoais e processos sociais, porém, responsabilizando cada sujeito por seus comportamentos (criminologia moderna);
Como derivada da sociedade, cabendo a esta a assunção da responsabilidade pelo comportamento criminoso, incluindo-se aí a identificação de formas de inserção do indivíduo na sociedade (criminologia crítica).
PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO
As testemunhas levam aos tribunais sua bagagem psicossocial e suas idiossincrasias com a qual respondem aos interrogatórios e opinam. As pessoas “vêem” o que acreditam que “devam” enxergar. Isso se acentua em fanáticos e preconceituosos. O entrevistador, então, defronta-se com o desafio de separar os efeitos dos preconceitos, das visões distorcidas para deduzir aquilo que seria realmente relevante e fidedigno ao caso. 
A testemunha sofre a influência dos meios de comunicação (da mídia em geral). Um delinqüente, por exemplo, transformado em herói pela televisão terá testemunhas de acusação pouco propensas a refinar suas percepções, podendo distorcê-las para manter a provável simpatia dos ouvintes, inclusive dos jurados. 
Distorções na recuperação de informações a respeito de fatos profundamente desagradáveis não deve ser motivo de surpresa. O psiquismo adota mecanismos de defesa para evitar a repetição dos sofrimentos vivenciados anteriormente na vida do sujeito. A memória também sofre os efeitos de substâncias psicoativas, como o álcool. O uso dessas substâncias pode ocasionar sérios prejuízos para a fixação das imagens e para a recuperação dos conteúdos armazenados.
Na percepção, há existência de limites, alguns ligados a mecanismos fisiológicos (por exemplo, a redução da visão e audição em idosos), outros relacionados com aptidões desenvolvidas (tato, sensibilidade auditiva, visual, etc.). O testemunho, portanto, depende do modo como a pessoa percebeu o acontecimento, conservou-o na memória, de sua capacidade de evocá-lo e da maneira como quer expressá-lo. Isso tudo se manifesta no relato que ela fará dos acontecimentos.
ASPECTOS PSICOLÓGICOS NOS TIPOS DE RELATOS
Relato Espontâneo
Nesta forma de relato, verificam-se irregularidade e incompletude; onde elementos inúteis são interpolados com aqueles relevantes ao caso. A espontaneidade possibilita a falta de objetividade, até mesmo porque aquele que fala pode não ter consciência do que efetivamente seja relevante à questão. Além disso, pode haver problemas relativos a crenças subjetivas, esquemas de pensamento e preconceitos que a livre expressão pode favorecer, quando não há direcionamento da fala. O relato espontâneo pode ainda ser prejudicado por características pessoais do entrevistado, tais como detalhes de personalidade (indivíduo muito vaidoso, por exemplo, pode perder-se no relato ao buscar se exibir), pessoa muito tímida, com dificuldade de articulação verbal e outros.

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