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CURSO DE DIREITO DIREITO DE FAMÍLIA Prof.º Cláudio Roberto Vasconcelos Affonso ESMAC – 2013 DIREITO DE FAMÍLIA O Direito Civil é essencialmente patrimonial - chamado por alguns como o direito dos ricos – toda a nossa vida, a vida de todas as pessoas, é pautada por um interesse econômico, por uma conduta materialista, para a aquisição de bens e formação de um patrimônio. Ninguém faz nada de graça – vocês hoje estão aqui é porque desejam concluir o curso para arranjar um bom emprego, com um bom salário - até nas doações existe um interesse material por trás, tanto que quando a gente dá um dinheirinho pro porteiro do edifício, a gente espera que ele nos ajude a subir a feira, que ele lave nosso carro, etc. Este é o sentido da vida: estudar, trabalhar, se relacionar com as pessoas e com as coisas, para ganhar dinheiro e formar um patrimônio, que será transferido a nossos filhos após a nossa morte. É disto que cuida o Direito Civil – regulamentar a nossa vida, dos Joãos, Josés e Marias. No Direito das Obrigações estudam-se as normas que regulam as relações das pessoas com outras pessoas, e a maior fonte de obrigação é o contrato. No Direito Real estudam-se as normas que regulam as relações das pessoas com as coisas, para adquirir a propriedade. Das relações das pessoas com outras pessoas, através dos contratos, e das relações das pessoas com as coisas, adquirindo-se propriedade, vai se formando um patrimônio ao longo da vida, patrimônio que será transferido a nossos herdeiros conforme as regras do Direito das Sucessões. A autonomia é tanta que a maioria das normas do Direito Civil são supletivas, ou seja, não obrigam as partes, servem apenas para completar os contratos em caso de lacunas (ex: 490, 1375). Além disso, o direito patrimonial é disponível, e de regra a gente pode fazer o que quiser com nossos bens. A interferência do poder público é pequena no Direito Civil, e é por isso que o Direito Civil realiza profissionalmente muitas pessoas que se sentem sufocadas pelo Governo, por um Estado paquiderme que fiscaliza muito, tributa muito, multa muito, mas oferece pouco em troca, pois em nosso país saúde, educação e até segurança são serviços que nós precisamos pagar a particulares, apesar de recolhermos tantos impostos. Neste raciocínio o Direito de Família fica deslocado, pois a maioria das suas normas são imperativas (obrigam as partes) e os direitos são indisponíveis/irrenunciáveis (ex: nome, filiação, alimentos, ver arts. 11 e 1.707). O profissional precisa de muita sensibilidade para atuar nesta área, mas no fundo o Direito de Família integra o Direito Civil e, para não fugir à regra, também existe muita questão patrimonial nas relações familiares, como veremos ao longo do semestre. Obs 1: marido e mulher não são parentes – são cônjuges/sócios – ligados pelo casamento, ou companheiros/conviventes caso vivam em união estável. Obs 2: atualmente a lei veda o casamento entre homossexuais em nosso país – art. 1.514, CC e a CF no § 3º do 226, - casamento e união estável é entre homem e mulher. Uma relação homossexual deve ser regulada pelo direito obrigacional como uma sociedade, e não pelo direito de família. Já há tendência nesse sentido. A família se origina assim do casamento, da união estável ou do parentesco, sendo a base da sociedade, a célula-mãe (art. 226, caput, CF). Reflexão Ninguém consegue ser feliz no trabalho ou no lazer se não é feliz na família. Diz a psicologia que as pessoas sofrem mais com uma crise familiar do que com a perda da liberdade. A prisão seria menos grave para o equilíbrio emocional das pessoas do que viver numa família instável e desestruturada. Em todos os países modernos onde eclode uma grave crise, uma guerra civil (ex: Oriente Médio), é na família que as pessoas vão se organizar para se proteger e sobreviver. Já era assim desde a pré-história quando as pessoas se juntavam com seus familiares. A união de várias famílias formam as cidades, que eram as antigas tribos. E várias cidades formam estados e países. Por isso a família é a célula-mãe, é a base da sociedade. As primeiras famílias eram matriarcais porque o pai era desconhecido. Ao longo da história as famílias se tornaram patriarcais, predominando a autoridade e a força do varão. Atualmente ambos os cônjuges comandam a família (§ 5º do 226, CF, e 1631). Natureza jurídica da família: a) não é pessoa física pois é formada por vários indivíduos; b) não é pessoa jurídica porque exigiria previsão em lei (art. 44). c) não tem personalidade jurídica – não pode ser parte numa relação jurídica. Família é uma instituição, como diz a CF é a base da sociedade (226). Características do status de família: a) intransmissível: o status não se transfere, não se vende, não se negocia, depende do nascimento, adoção ou do casamento, é personalíssimo, e é por isso que não se escolhe os pais, irmãos, cunhados, etc. Escolhemos nossos amigos e nosso cônjuge, mas estes não são nossos parentes; b) irrenunciável: o status depende da posição familiar, não se podendo, por exemplo, renunciar ao pátrio poder para deixar de sustentar o filho; c) imprescritível: não se perde e nem se adquire pelo tempo/usucapião; o fato do aluno chamar por anos a professora de “tia” não cria nenhum vínculo jurídico com a mesma; d) universal: compreende todas as relações jurídicas decorrentes da família, afinal somos parente de alguém para as coisas boas e para as coisas ruins; o status é exercido perante toda a sociedade; e) indivisível: o status é sempre o mesmo, não se pode ser casado de dia e solteiro de noite !!!!!; f) recíproco: o status se integra por vínculos entre pessoas que se relacionam, então o marido tem uma esposa, o pai tem um filho e vice-versa. Rumos do DF neste séc. XXI: a) estatização: o Estado tem procurado assumir papéis que antigamente eram exclusivos da família (como a alimentação, a educação e o planejamento familiar), especialmente nas famílias mais carentes (ver CF art. 226, § 7º e art. 227). Obs. Indo mais além, sem ensino público de qualidade (a faculdade pode ser privada, mas o ensino fundamental deve ser gratuito e bom) e sem controle da natalidade nosso Brasil não vai decolar, nesse sentido o referido § 7º precisa ser revisto, bem como o § 2º do 1.565, CC; b) retração: admite-se que uma mãe solteira e seu único filho sejam considerados uma família; é a família segmentada ( § 4º do 226, CF); c) dessacralização: para a Igreja a família só se forma com o sacramento indissolúvel do casamento, mas com o afastamento do Estado e da sociedade da Igreja, tolera-se uma família fora do casamento, decorrente da união estável ou de pessoas divorciadas; d) democratização: até o século passado só o pai mandava na família, hoje o poder é comum dos pais ( § 5º do 226, CF), e até os filhos são ouvidos e têm absoluta prioridade à educação e à convivência familiar (227, CF). Nossa CF usa algumas vezes a palavra “prioridade”, mas acompanhada do adjetivo “absoluta” apenas neste art. 227, o que revela a preocupação do Estado com os menores. Lembro a vocês que, ao longo da história, os filhos nunca foram considerados pois a mortalidade e a natalidade eram muito altas, mas hoje é diferente (1.567). O que mantém uma família saudável é a união do casal e não a autoridade paterna. E sem uma família equilibrada a criação e educação dos filhos fica comprometida. Só hereditariedadenão basta, é necessário um ambiente psicológico favorável para a formação de um cidadão. Bibliografia: ◦ CÓDIGO CIVIL/2002 ◦ CONSTITUIÇÃO FEDERAL ◦ DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6ª ed. São Paulo, RT, 2010. ◦ LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil. 6ª ed. São Paulo. Saraiva. 2010.
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