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DIREITO DE FAMÍLIA Prof.º Cláudio Roberto Vasconcelos Affonso ESMAC – 2013 Evolução histórica da família Família e Entidades Familiares Princípios constitucionais da Família Parentesco Relações familiares e outros ramos do direito Considerações Iniciais Origem : Grécia e Roma – dupla concepção: dever cívico e formação da prole. 1ª fase - a união do casal era vista como um dever cívico – procriação – desenvolvimento de pessoas para servirem à pátria (exército) – prole masculina mais desejada que a feminina – fortalecimento dos exércitos – aumento territorial e segurança da nação. 2ª fase – ideais de continuidade da entidade familiar – família e casamento objetivavam a perpetuação da espécie – relações sexuais com fim imediato de procriação. Surgimento do Cristianismo – renúncia às relações sexuais completas e mistas em favor do casamento – desprestígio às relações informais – contrário à institucionalização do divórcio e à realização de novas núpcias – exceção: morte e adultério – sanção aos concubinos. Revolução Industrial – a família exercia atividades laborais em conjunto – substituição do trabalho artesanal pelo fabril – desagregação do trabalho familiar – fim das diferenças de funções. Repersonlização das relações familiares - saída da mulher de casa para o trabalho - quebra do ciclo de continuidade da atividade paterna pelos filhos homens. Códigos Novecentistas – relações familiares reguladas pelo individualismo jurídico: Estatização da regulação das relações familiares – introdução de norma jurídicas de ordem pública – normatização do casamento; Qualificação da família legítima – assim considerada a partir da celebração do casamento; Proscrição do concubinato – privilegiava as uniões formais – reconhecidas pelo Estado; Fixação de diferentes estatutos normativos dos direito e deveres do homem e da mulher – mantinha a chefia do lar com o varão; Categorização dos filhos – preferência dos legítimos aos demais – prestígio da família legítima; Indissociabilidade do vínculo – perpetuidade e estabilidade das relações entre os cônjuges e deles com seus filhos legítimos. OBS: 1. O patriarcado prevaleceu historicamente nas relações familiares em geral – autoridade era exercida pelo ascendente homem mais idoso; 2. Nos primórdios da civilização o pai podia cometer infanticídio de qualquer de seus filhos (embaraço ao genitor – África; rituais religiosos – Incas e Astecas). 3. Poderia efetuar a venda de filhos (Grécia e Espanha) 4. Foi exercido em diversos momento e lugares mediante a poligamia, sendo, gradualmente, substituído pela monogamia. Em Roma existia o pater familiae (pai da família) – espécie de poder absoluto – beneficiava-se de toda vantagem patrimonial dos filhos – não respondia por obrigações de seus filhos com terceiros – era o único plena capaz para a prática de atos jurídicos, era livre e possuía o atributo da cidadania – não era dependente de qualquer autoridade familiar – todos os integrantes da entidade familiar (alieni iuris) se submetiam à autoridade do pater, inclusive a mulher (esposa). O matriarcado existiu em alguns clãs africanos, americanos e na oceania – ocorrência do enfraquecimento das tribos pela redução da fecundidade da mulher – poliandria . Efeitos da desagregação do trabalho nas relações da família Saída do cônjuge virago e dos filhos para trabalhar nas fábicas ocasionou uma série de mudanças comportamentais –participação ativa nos processos políticos – sindicalismo; associativismo; partidos políticos. Final do Séc. XIX – surgimento dos movimentos de emancipação e de liberação social da mulher e dos jovens – consequências nas relações familiares: 1. Maior aceitação das uniões informais entre homem e mulher; 2. maior condescendência da chamada “moral pública”; 3. possibilidade de extinção do casamento por motivos diversos da morte e do adultério; 4. maior proteção da mulher - confirmação do princípio da igualdade entre o homem e a mulher nas relações familiares; 5. maior proteção dos filhos – valoração do princípio da igualdade entre os filhos – prestígio à prole independente de sua origem (biológica e/ou solidária) 6. nova personalização da família – garantia dos direito de cada integrante da família. 1948 – Declaração Universal da ONU – proclamou a igualdade plena de direitos entre o homem e a mulher – vedação de distinção entre os filhos. NO BRASIL – Código Bevilácqua – pessoa relativamente incapaz para prática de atos e negócios jurídicos – chefia da sociedade conjugal ao varão. 1934 – Organismo social e jurídico relevante 1939 – Comissão Nacional de Proteção à Família (Dec.Lei 1.764). 1940 – Dec.Lei 3.200 – regulou aspectos eugênicos, morais e patrimoniais da família; 1962 – Estatuto da Mulher Casada – deixou de ser relativamente incapaz. 1977 – Lei do Divórcio – ampliou a possibilidade de extinção do casamento (nulidade, anulação, desquite ou morte) – permissão para um segundo casamento – maior tolerância social às uniões livres, com reconhecimento de certos direito patrimoniais à concubina. 1988 – reconhecimento constitucional das uniões livres, em certas circunstâncias (art. 226). Após a CF de 1988, o casamento civil não é a única forma de constituição da família. Temos a família também com a união estável, ou as famílias chamadas monoparentais. A valorização da família, devido sua importância no convívio social. A idéia da CF/88, não é um centro na autoridade, de um poder arbitrário do homem ou da mulher, mas na cumplicidade, no companheirismo, no respeito e, também no afeto. A família é um organismo próprio; Detém personalidade própria (não é personalidade jurídica). Ex. espólio, representado pelo inventariante; Forma um ente com finalidade, com objetivo comum, que é a comunhão de vidas, que tem por finalidade o bem estar e o progresso de todos os seus integrantes. É representada, em juízo pelo homem ou pela mulher. Existem vários institutos cuidando da família, no sentido de proteção. Ex da Lei 6.515/77. Separação e divórcio surgiram como idéia de proteção, àquelas pessoas que tinham direito à felicidade (por dignidade própria), mas não eram felizes num casamento falido, onde não havia afeto. Casos em que a convivência se tronou insuportável por não haver carinho, respeito, assistência, desejo, etc. Com o advento da Lei divorcista, houve o que chamamos de banalização dos referidos institutos: “separação e divórcio”, visto que, sua orientação diz respeito à felicidade dos cônjuges pelo disposto acima. O resultado não foi o esperado. Percebem-se pessoas casando muitas vezes, pois encontram facilidade em sua dissolução. Essas pessoas esquecem as conseqüências advindas com o casamento e descaracterizam o sentido da “família” - o que pode ser um flerte, um namoro, transformam em casamento. Com o reconhecimento da união estável, houve uma modernização no casamento e, com ela, a falsa certeza da não necessidade do casamento, porém a união estável gera compromissos e conseqüências jurídicas assemelhadas as do casamento. O homem não vive sozinho - tem necessidade de estar com alguém e, nesse sentido, passou-se a valorizar mais a relação de afeto. Lembrando o Pequeno Príncipe:”és eternamente responsável pelo que cultivas”. Direito de Família é Direito Personalíssimo, sendo, a sua natureza jurídica, com exceção do regime de bens, é um direito, essencialmente, extra patrimonial. O capítulo VII da CF (da ordem social) trata da família, da criança, do adolescente e do idoso, sendo o art. 226, a espinha dorsal do Direito de Família, por ser ela, a menor célula de uma sociedade, onde o indivíduo tem a sua formação. Trata-se da força- família. A CF é a nossa norma fundamental e todas as outras devem estar em consonância com ela, ou serão inconstitucionais. Considerações • Família é uma instituição a qual o Estado tem que zelar, com políticas sociais, política publica de atendimento à família – art. 226. •O casamento é um ato complexo e começa com a habilitação, depois tem o certificado da habilitação, a celebração, registro do casamento, a emissão da certidão..., de todos esses atos somente a celebração é gratuita. Essa gratuidade vai até a primeira certidão - §1º; • Tem que seguir as leis - § 2º; • A união estável pode ser convertida em casamento – casamento e união estável são diferentes – têm regras diferentes na legislação, regras que devem estar em conformidade com a CF. Para efeito de proteção, o casamento (ato formal e solene em que o Estado jurídico confere direitos) traz maior segurança devido a sua formalidade - § 3º; Até Recentemente havia discussão sobre as uniões homoafetivas – união entre pessoas do mesmo sexo. Pela exegese do art. 226 da CF, elas não estão protegidas pelas normas de direito de família – hermenêutica jurídica – a interpretação das normas não deve ser apenas gramatical, literal, deve ser também: finalística, sistemática, lógica. Os que defendiam as sociedades homo afetivas, o faziam nos arts. 3º, I e II; 5º, caput da CF ( igualdade e liberdade aos cidadãos dando como garantia o direito à dignidade, liberdade de pensamento (IV), de consciência e de crença (VI), livre expressão da atividade intelectual (IX), livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão (XIII), livre locomoção do território nacional (XV), liberdade de associação para fins lícitos (XVII); art. 16 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (todo ser humano possui o sagrado direito de constituir família). REFELXÃO – Se a principiologia da família é o afeto, havendo afeto entre pessoas do mesmo sexo que se unem com base na liberdade, na igualdade, na dignidade, com o animus familiae por que não proteger essa união pelas normas do Direito de Família ? A Jurisprudência tem entendimento na interpretação sistemática da equidade (noção de justiça social). Não é uma sociedade legislada e, para alguns juízes, trata-se de sociedade de fato, de natureza patrimonial. Marco inicial – STF – julgamento de ADI n.º 4277-PGR (antes ADPF 178) e a ADPF n.º 132-GOV.RJ – reconhecimento da união estável de pessoas do mesmo sexo. Marco Aurélio : “...o caráter laico do Estado impede que a moral religiosa sirva de parâmetro para limitar a liberdade das pessoas.” “...as normas constitucionais de nada valer se forem lidas em conformidade com a opinião pública dominante.” Celso de Mello: "Toda pessoa tem o direito de constituir família, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero", Luiz Fux: "Homossexualidade não é crime. Então porque o homossexual não pode constituir uma família?” "Por força de duas questões abominadas pela Constituição Federal, que são a intolerância e o preconceito". Ayres Britto: "Tudo que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido. A ausência de lei não é ausência de direito, até porque o direito é maior do que a lei“ FAMÍLIA E ENTIDADES FAMILIARES Família – palavra de sentido dúbio – empregada de diversas formas no tempo. Grécia – grupo de pessoas que se reunia pela manhã e no entardecer em um lar (epistion) para cultuar seus deuses – os cônjuges e seus descendentes; Roma – os descendentes de um tronco ancestral comum (gens); todos os sujeitos unidos por laços de parentesco, inclusive afins; os cônjuges e seus descendentes, mesmo os de gerações posteriores à dos filhos; o cônjuge e seus filhos menores; grupo de pessoas que se reunia diariamente em torno do altar doméstico para cultuar os deuses; grupo de pessoas ligadas entre si pela consanguinidade; núcleo constituído pelo casamento, sem prole. Direito positivo atual (Brasil) – é a entidade constituída: a) Pelo casamento civil entre o homem e a mulher; b) pela união estável entre o homem e a mulher; c) pela relação monoparental entre o ascendente e qualquer de seus descendentes; A jurisprudência já vinha reconhecendo como entidade familiar a união estável homoafetiva, assegurando diversos direitos aos conviventes e a Resolução 175/CNJ consolidou ainda mais esses direitos, sendo a união homoafetiva a 4ª forma de entidade familiar no Brasil. ENTIDADES FAMILIARES Grupo de pessoas que constitui uma família. Família é gênero, do qual entidade familiar é espécie. Entidades familiares reconhecidas pelo ordenamento jurídico: a) Casamento – dualidade de sexos, solene, em princípio, indissolúvel – não é mais a única forma de constituição da família legítima – possui extensa normatização – instituto que ainda merece maior atenção e proteção do legislador. b) União estável – a princípio, dualidade de sexos; período prolongado e contínuo; publicidade; informalidade – meio de constituição da família natural, com regulação legal – exige os mesmos requisitos do casamento. c) Relação monoparental – qualquer dos genitores e seus descendentes – inexistência de vínculo matrimonial não a descaracteriza - Outras família monoparentais – irmãos; tio e sobrinho; padrasto e enteado sem parentes maternos vivos. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA FAMÍLIA 1) Princípio da dignidade humana – objetivo fundamental da República – as relações familiares devem observar a proteção á vida, à integridade biopsíquica dos membros da família – respeito e garantia dos direitos da personalidade; 2) Princípio da solidariedade – decorre da solidariedade social – aspectos externos e internos: a) Externos – incumbência da sociedade e do Poder Público de realizar políticas de atendimento às necessidades familiares dos pobres e marginalizados; b) Internos: cada integrante deve cooperar para que o outro consiga o mínimo necessário para seu desenvolvimento biopsíquico. A solidariedade familiar impõe-se para os fins de alimentos, educação, profissão, lazer, afeto, etc. 3) Princípio da busca da erradicação da pobreza – decorre da solidariedade social – nenhum membro da família pode ser desamparado da assistência material – observância do binômio necessidade/possibilidade – ascendente em melhor condições – exceção: idoso (efetivada pelos parentes de graus mais próximos). 4) Princípio da Igualdade – inexistência de sujeição da cônjuge virago – decisões tomadas em conjunto – decorrência do fim do patriarcalismo e emancipação da mulher – cogestão família. 5) Princípio do reconhecimento de outras entidades familiares – casamento deixa de ser o único instituto protegido pelo direito familiarista – surgimento das uniões estáveis. 6) Princípio da isonomia filial – tutela jurídica pós-moderna mais protetiva à criança do que à sua origem ; ao adolescente e ao idoso em relação aos demais membros da família. PLANEJAMENTO FAMILIAR – direito dos cônjuges/companheirosde deliberar livremente sobre o planejamento da família: 1) constituição, limitação e aumento da prole; 2) desenvolvimento físico-psíquico e intelectual de seus integrantes com a adoção de meios lícitos necessários. Fundamento do Planejamento Familiar 1) Princípio da dignidade da pessoa humana – deve ser garantido a cada um de seu integrantes os direitos da personalidade e suas necessidades materiais; 2) Princípio da paternidade responsável – a família deve proporcionar aos filhos, todos os meios para o pleno desenvolvimento de suas faculdades físicas, psíquicas e intelectuais. Dever estatal – proporcionar o mínimo indispensável para a realização do planejamento familiar – políticas públicas, recursos educacionais e científicos - orientação preventiva e educativa quanto à constituição, limitação e aumento da prole – facilitar o acesso à informação e às técnicas e meios possíveis de regulação da fecundidade . Permissão á esterlização voluntária: a) Se o homem ou a mulher estiver em sua plena capacidade civil – idade mínima 25 anos ou com dois filhos vivos; b) se houver risco à vida ou á saúde da mulher ou da futura prole. PARENTESCO – relação existente entre sujeitos decorrente de um tronco ancestral comum Tipos a) Natural – ou consanguíneo, reúne os parentes de linha reta e colateral am relação aos seus respectivos pais; b) Legal – ou civil, decorre de norma jurídica expressa; Adoção ESPÉCIES 1) Em linha reta – possuem entre si uma ascendência e uma descendência, respectivamente – variação apenas do grau de proximidade. Ex.: a partir do filho: pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó, etc. 2) Em linha colateral, oblíqua ou transversal – possuem um tronco ancestral comum, que não são diretamente descendentes uns dos outros – não há parentesco colateral de 1º grau – conta-se à partir do 2º grau (irmãos); 3º grau (tio e sobrinho); 4º grau (primos) Admite 3 tipos: a) Igual – os parentes distam de forma igual do tronco ancestral. Ex.: irmãos em relação ao pai. b) Desigual – distam de forma diferente do tronco ancestral comum. Ex.: o sobrinho e o primo em relação ao parente que se pretende tratar. c) Duplicada – há dois vínculos de parentesco entre os ascendentes de terminados familiares. Ex.: os filhos dos casamentos de dois irmãos com duas irmãs. 3) Em linha colateral por afinidade ou aliança – constituído com os parentes do outro cônjuge. Ex.: cunhados Somente era reconhecido pelo casamento regular – atualmente nada impede seu reconhecimento na união estável. Tipos a) Afinidade em linha reta – sogra e genro – subsiste mesmo com a dissolução do casamento e da união estável; b) Afinidade em linha colateral - somente até o 2º grau RELAÇÕES FAMILIARES E OUTROS RAMOS DO DIREITO Direito das Obrigações – fixação dos deveres dos membros da família, observada a natureza diversa da chamada obrigação familiar; Direito das Coisas – confere direitos reais sobre determinados bens em favor de um ou alguns membros da família; Direito Previdenciário – possibilidade de um membro da família receber pensão pelo falecimento do de cujus, nas condições estabelecidas por esse ramo jurídico; Direito Sucessório – influência direta do direito familiarista – diante da morte do autor da herança, objetiva a perpetuação do patrimônio familiar.
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