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Direito Internacional Privado Aula 1 - Noções, Conceito, Denominação, Objeto e Fontes de Dir. Int. Privado 1.1 – Noções e conceito de Dir. Int. Privado O homem é um ser social, e de forma geral, vive em. Essas sociedades vão crescendo e se desenvolvendo, e iniciam processos de “trocas” ou intercâmbio com outros grupos sociais, negociando valores materiais (comércio de bens e mercadorias), ou imateriais (tecnologia, informações, ciência, conhecimento). As diversas sociedades também buscam uma regulamentação de suas atividades e relações, motivo pelo qual é editado todo um ordenamento jurídico, com as mais variadas leis, para as mais variadas necessidades. Nesse sentido, vamos encontrar um sistema de leis substantivas (dir. material, conteúdo) e leis processuais (dir. processual, forma, procedimento). Dessa forma, as leis são criadas para dirimir as discussões/litígios decorrentes das relações jurídicas entre as pessoas, e sua aplicação (das leis) pode variar no espaço e no tempo. A mudança ou sucessão das leis no tempo é regulada na Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro – LINDB (antiga Lei de Introdução ao Código Civil), que determina a forma de aplicação, vigência, revogação, etc., de forma que uma mesma relação ou situação jurídica possa ser elucidada corretamente, ainda que a lei aplicável varie e seja alterada naquele período ou tempo. A lei também é limitada em sua aplicação, pelo fator espacial, ou seja, será aplicada somente em determinada localização geográfica, sendo assim, delimitada no espaço, ou em território específico. Temos, portanto, uma lei a ser aplicada no território da Alemanha, outra a ser aplicada no território do Brasil, da Itália, e assim por diante, ainda que todas se refiram a um mesmo tipo de relação jurídica, por exemplo, casamento/divórcio. É regra geral de Direito que o Estado regule, através de seu Direito Interno, as relações que têm lugar dentro do seu território, e que o seu Poder Judiciário aprecie os conflitos ocorridos dentro de sua jurisdição. Contudo, existem relações de caráter privado, envolvendo pessoas naturais e jurídicas, que ultrapassam as fronteiras nacionais. O fluxo internacional de bens, de serviços e de pessoas estabelece vínculos jurídicos em Estados diferentes, possuindo, desse modo, a chamada “conexão internacional”. Como estamos diante de vários ordenamentos jurídicos na sociedade internacional, a princípio diferentes entre si, pois cada Estado soberano terá o seu próprio Direito Interno, criado conforme sua história, tradição, cultura, etc., com certeza, em dado momento, teremos um conflito dessas leis quando existir uma situação ou relação jurídica que se conectar com mais de um ordenamento jurídico, e aí será necessário decidir qual lei aplicar (de qual País-Estado) ao caso concreto. Desta forma, é comum que os entes estatais criem normas específicas para regular este tipo de situação, que determinarão qual o Direito nacional aplicável a uma relação privada com conexão internacional, que poderá ser o próprio ordenamento do Estado ou uma norma estrangeira, e qual a competência do seu Poder Judiciário para apreciar tais questões. Com isso é possível conferir a segurança jurídica necessária ao desenvolvimento estável das relações internacionais no campo privado. O Direito Internacional privado é, desse modo, o ramo do direito que visa regular os conflitos de jurisdições e de leis no espaço em relações de caráter privado que tenham conexão internacional (obs: conceito brasileiro). Cabe salientar que o DIPr é uma exceção ao princípio da jurisdição territorial do Estado, decorrente da sua soberania, pois, pelas normas de DIPr, o próprio legislador pátrio, no exercício do poder soberano do Estado, admite a aplicação de Direito estrangeiro em território nacional. Importante ressaltar que cada Estado definirá suas próprias normas de Direito Internacional Privado, e que elas são meramente indicativas, ou seja, servem apenas para apontar qual o ordenamento jurídico, nacional ou estrangeiro, será aplicável a uma relação jurídica com conexão internacional. A determinação de uma norma aplicável a uma conflito de leis no espaço dependerá essencialmente da verificação dos “elementos de conexão”, que são os critérios escolhidos pela lei, como, por exemplo, o domicílio ou a nacionalidade. 1.2 - Delimitação: O termo “Direito Internacional Privado” é objeto de críticas, pois, tal ramo não é, a rigor, internacional, mas sim interno, regulando a solução de conflito de leis dentro de um Estado a partir, sobretudo, da própria norma estatal. Além disso, suas normas são de evidente caráter público, visto que visam solucionar conflitos de leis que poderiam gerar instabilidade prejudicial às relações sociais em geral. Em todo o caso, esta denominação é histórica e a mais empregada mundialmente, em face de que o objeto desta disciplina sempre se refere a relações jurídicas com conexão que transcende as fronteiras nacionais, ou seja, questões que afetam os múltiplos relacionamentos internacionais. 1.3 - Objeto do DIPr Existem duas escolas de pensamento que divergem sobre qual seria o objeto do Direito Internacional Privado. 1.3.1 - A Escola Francesa Diz que o DIPr possui cinco objetos: a) Criar um direito uniforme uniformizar as leis; b) Nacionalidade; c) Condição jurídica do estrangeiro; d) Conflitos de leis e jurisdições; e) Reconhecimento internacional dos direitos adquiridos em outro país. a) Criar um direito uniforme - uniformizar as leis: os defensores dessa idéia criação de um direito uniforme, entendem que deva existir um DIPr comum a todos os países. Existe até mesmo um organismo internacional (UNIDROIT Institut International Pour L'Unification du Droit Prive) que trabalha nesse sentido. Poderíamos nos animar com essa tese ou idéia na medida em que uma enorme variedade de Tratados e Convenções Internacionais são firmados no sentido de Uniformização do Direito pelos Estados. Contudo, verificamos que desses Tratados e Convenções surgem também, novos problemas e/ou conflitos, pois cada país tem suas peculiaridades em termos históricos e culturais. Alguns autores entendem que Direito Uniforme e Direito Internacional Privado não se confundem, enquanto o 1º representa a coincidência de normas (leis) emanadas por dois ou mais Estados (Países), o 2º seria o conteúdo de uma única ordem jurídica mundial. Assim temos, no Direito Uniforme, várias leis iguais ou coincidentes, emanadas de diferentes sistemas jurídicos estatais, de diferentes Estados. E, no DIPr, uma única “Lei” internacional, válida para todos esses Estados. b) Nacionalidade: outro elemento do DIPr, que pode constituir o seu objeto é a questão da nacionalidade. Com efeito, para muitos autores, é importante no DIPr é regular a nacionalidade. Ao nos depararmos com um problema de DIPr, teremos sempre uma conexão com a questão da nacionalidade, e se esta não for determinada, não poderemos solucionar o problema que se apresenta. O indivíduo estará sempre vinculado a um determinado território de um Estado, o que lhe confere direitos sob dois aspectos: político - nacionalidade; e jurídico - domicílio. Assim, a nacionalidade, que é a tradução do vínculo político/jurídico daquele indivíduo com determinado Estado, lhe conferirá a condição de nacional ou estrangeiro, desdobra- se em dois outros itens, ou questões, que são as relativas ao domicílio e à residência. Desta forma, a nacionalidade é patrimônio do indivíduo e, por isso, objeto do DIPr. Ao estudarmos a questão da nacionalidade, surgirá de plano duas vertentes a ser consideradas, o direito do cidadão (do nacional daquele Estado/País), e o direito daquele não-cidadão, que é exatamente o estrangeiro (naquele Estado/País). c) Condição jurídica do estrangeiro: esteé um tema de grande divergência entre os autores, com a escola francesa entendendo que seria objeto de DIPr o estudo da condição jurídica do estrangeiro, ao passo que nossos autores nacionais entendem que a questão tem sua relevância/importância, mas não se constitui objeto do DIPr. Na verdade, a condição jurídica do estrangeiro nada mais é que o conjunto de direitos que o estrangeiro goza em determinado país (Estado) que não o seu próprio, ou seja, os direitos que o indivíduo possui em um país do qual não é cidadão, é estrangeiro. Um de nossos mais famosos juristas internacionalistas - Haroldo Valladão discorda que a condição jurídica do estrangeiro possa ser objeto do DIPr, porque pode não haver nenhum conflito de leis. Vale dizer que, se ao analisarmos a condição (jurídica) do estrangeiro, sem conexão ou conflito com outra lei de outro país (o país do estrangeiro, por exemplo) não estaremos diante de um problema de Direito Internacional, estaremos simplesmente aplicando nossa lei pátria ao estrangeiro, face à determinada situação. Nesse sentido, será objeto do DIPr, a condição jurídica do estrangeiro, se tivermos também mais um elemento de conexão (além da pessoa), como por exemplo, um conflito de aplicação de leis de outro Estado. d) Conflitos de leis e jurisdições: esse é o ponto chave do estudo do DIPr. Através de um complexo de normas, de um conjunto de leis, poderemos determinar qual o direito (sistema jurídico) a ser aplicado para a solução do problema, qual será o foro (jurisdição) e qual a lei aplicável. e) Reconhecimento internacional dos direitos adquiridos (em outro país): Um dos objetos do DIPr seria, segundo essa corrente, a de proteger os direitos adquiridos ou declarados por sentença no interior das fronteiras de um Estado (País) para que sejam reconhecidos num outro Estado (estrangeiro). A discussão acerca desse tema é no sentido de que o objeto do DIPr são as leis ou normas que serão analisadas ou estudadas a fim de se reconhecer ou proteger esses direitos (adquiridos no Estado estrangeiro), e não propriamente as leis que permitiram sua criação ou existência. 1.3.2 - Escola Anglo-americana: Para essa escola o DIPr só possui um objeto que é o conflito de leis e jurisdições (incluídos aqui também o reconhecimento de direitos adquiridos por sentença e a troca de cartas rogatórias). Essa é corrente adotada pelo Brasil. Aqui, o problema da condição jurídica do estrangeiro, da nacionalidade e do direito uniforme nos dará subsídios para formarmos a estrutura do DIPr. Nenhum desses itens, por si só é o bastante para dizermos que estamos diante de um problema de Direito Internacional, porque podemos enxergar tais problemas ou situações somente face ao nosso direito pátrio (direito civil, processo civil, penal, tributário, comercial, etc..), só será objeto do DIPr o conflito de leis e jurisdições propriamente dito. 1.4 - Fontes do DIPr: Como em qualquer outro ramo do direito, quando falamos de fontes, entendemos como sendo as origens do direito. Podemos dividi-las em fontes materiais e fontes formais. As primeiras (materiais), como sendo aquelas que irão inspirar o direito, a criação; e as segundas (formais) como a concretização dessa inspiração, o Direito Positivo, que é um sistema de normas jurídicas que informa e regula efetivamente a vida de um povo em determinado momento histórico. As fontes formais do DIPr são: (a) lei interna especial, (b) tratados normativos, (c) costumes e (d) princípios gerais de direito. O DIPr ainda conta como meios auxiliares de interpretação a jurisprudência e a doutrina. a) A lei interna de cada país, relativa a assuntos de natureza internacional é que irá compor o chamado conjunto de normas do Direito Internacional Privado, desta forma, suas normas e princípios estão formulados na legislação interna de cada Estado. Então, teremos vários sistemas nacionais de Direito Internacional Privado. A principal fonte de DIPr no Brasil é a Lei de Introdução as Normas de Direito Brasileiro (antiga LICC), Lei nº 4.657/42. São também importantes para o estudo do DIPr brasileiro a Constituição Federal, o Cód. de Proc. Civil, a Lei de Arbitragem (lei 9.307/96), e o Estatuto do Estrangeiro (lei 6.815/80). b) Os tratados: Existem alguns preceitos de Direito Int. Privado previstos em Tratados Internacionais, numa tentativa de uniformizar este ramo do Direito. Chamado de Direito Convencional Internacional. c) O costume, em DIPr, é entendido como sendo uma convicção jurídica comum de dois ou mais Estados, representativa do seu acordo em cumprir determinada regra de conduta de caráter obrigatório. Deve ser recíproco, prolongado e geral. O costume, no DIPr surgirá na falta ou omissão das leis internas ou convencionais. d) Os princípios gerais de direito como boa-fé, probidade, direito adquirido, a segurança jurídica, entre outros, são fontes do DIPr. e) A jurisprudência também é reconhecida pela maioria dos juristas como sendo um meio auxiliar de interpretação do DIPr, na medida em que reiteradas decisões judiciais em igual sentido, acerca de problemática de direito internacional, acabam por formar e/ou informar a existência e aplicabilidade de determinada norma de direito internacional, ou costume, tradição, etc. f) A doutrina também é entendida como sendo um meio auxiliar de interpretação do DIPr, estimulando ou esclarecendo e o convencimento dos juízes. Poderíamos entendê-la como uma fonte material secundária, de menor força, que ajuda a inspirar e/ou entender as demais fontes.
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