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CIVIL V - Plano de ensino 3 - discente.pdf

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO DE DIREITO 
Direito Civil V - Família 
Plano de ensino – 2015.2 
Rosani Carvalho – rosani.carvalho@terra.com.br 
 
 
Aula 3: Casamento: conceito; natureza jurídica; características; finalidade; casamento civil 
e casamento religioso; esponsais. Formalidades preliminares do casamento: Habilitação e 
pressupostos de existência do casamento. 
 
I) Casamento. 
 
1) Conceito. 
 
Segundo Clóvis Beviláqua, casamento é um contrato bilateral e solene pelo qual um homem e uma 
mulher se unem indissoluvelmente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais 
estreita comunhão de vida e de interesses, e comprometendo-se a criar e a educar a prole, que de 
ambos nascer. Críticas: casamento não é apenas contrato; não é indissolúvel e seu conceito não 
deve estar vinculado à ideia de prole. 
 
Já conforme Pontes de Miranda, o casamento é contrato solene, pelo qual duas pessoas de sexos 
diferentes e capazes, conforme a lei, se unem com o intuito de conviver toda a existência, 
legalizando por ele, a título de indissolubilidade do vínculo, as suas relações sexuais, estabelecendo 
para os seus bens, à sua escolha ou por imposição legal, um dos regimes regulados pelo Código 
Civil, e comprometendo-se a educar e a criar a prole que de ambos nascer. 
 
Poder-se-ia, então, optar por um conceito mais simplificado: “casamento é o vínculo jurídico entre o 
homem e a mulher que se unem material e espiritualmente para constituírem uma família” (Eduardo 
de Oliveira Leite, 2005, p. 47). 
 
 
 
 
Posicionamento dos Tribunais Superiores quanto à igualdade de gênero: 
 
 
A união homoafetiva foi reconhecida família – interpretação de sentido preconceituoso ou 
discriminatório do artigo 1723 do CC (ADPF 132/RJ - Relator: Min. AYRES BRITTO - Julgamento: 
05/05/2011 - Órgão Julgador: Tribunal Pleno do STF; REsp 827962 / RS - RESP 
2006/0057725-5 – Quarta Turma do STF). 
 
Posteriormente, foi reconhecida pelo STJ a inexistência de vedação expressa a que se habilitem para 
o casamento pessoas do mesmo sexo. Vedação implícita constitucionalmente inaceitável. Orientação 
principiológica conferida pelo STF no julgamento da ADPF nº 132/RJ e da adi nº 4.277/DF (REsp 
1183378 / RS - RECURSO ESPECIAL - 2010/0036663-8). 
 
O Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a Resolução nº 175, de 14 de maio de 
2013, que veda aos responsáveis pelos cartórios recusar a "habilitação, celebração de casamento 
civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo" 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2) Natureza jurídica do casamento. 
 
 
A doutrina diverge, apontando-se aqui as principais teorias: 
 
1ª) Clássica ou contratualista: acolhida pelo Código Napoleônico, sustenta que a validade e eficácia do casamento 
constitui-se única e exclusivamente pela vontade das partes e, sendo um contrato, o casamento poderia este ser 
dissolvido por um distrato. 
Em outras palavras, admitia-se o caráter contratualista do casamento em razão da relação matrimonial, isso por 
envolver interesses de ordem patrimoniais em seu bojo, gerando obrigações e deveres para ambos os cônjuges 
decorrentes da manifestação da vontade de ambos de contraírem para si tais responsabilidades mútuas. 
 
Silvio Rodrigues ensina que “Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover a união do 
homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole 
comum e se prestarem a mútua assistência” (Direito civil..., 2002, p. 19). 
 
O Código Civil português é adepto desta teoria, conforme prevê seu artigo 1577: “Casamento é o contrato 
celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família mediante plena comunhão de 
vida, nos termos das disposições deste Código”. 
 
 
 
2ª) Institucionalista: influenciada pelo Direito Canônico e defendida pelos colaboradores do Código Civil italiano de 
1865 e também por escritores como Henrique de Page, o casamento é uma grande instituição social, que tem como 
elemento central a vontade, no sentido de fazer parte de uma instituição. Assim, o casamento nada mais seria que 
uma imposição de regras pelo Estado e que as partes possuem a faculdade de fazer ou não parte desta instituição. 
Esta instituição tem caráter social e não jurídico. 
 
Em outras palavras, o casamento é organização social pré-estabelecida à qual aderem os nubentes. 
 
Washington Monteiro de Barros (Curso de direito civil, Volume 2, Página 13), afirma que o casamento constitui 
“uma grande instituição social, que, de fato, nasce da vontade dos contraentes, mas que, da imutável autoridade 
da lei, recebe sua forma, suas normas e seus efeitos... A vontade individual é livre para fazer surgir a relação, mas 
não pode alterar a disciplina estatuída pela lei”. 
 
A professora Maria Helena Diniz é uma das adeptas desta teoria. 
 
 
 
3ª) Teoria mista ou eclética: Dispõe que o casamento não é um ato simples, mas antes de tudo, trata-se de um ato 
complexo, que une os elementos contratuais da Teoria Clássica e os elementos institucionais da Teoria 
Institucionalista. Para os que a sustentam, quando as partes manifestam a vontade de contrair casamento e o 
celebram, assim o fazem por meio de um contrato, contudo, quando o Estado outorga o status de casados às 
partes, surge então a instituição. 
 
Em outras palavras, o casamento tem natureza jurídica mista, por abranger ambos os aspectos defendidos pelas 
correntes supramencionadas, tais como direitos e deveres, bem como a affectio maritalis, interesses morais e 
pessoais, mais elevados do que os contidos em qualquer simples contrato. Une, portanto, o elemento volitivo ao 
elemento institucional, tornando-o um ato complexo. Seria, por essa razão, um contrato sim, mas um contrato 
especialíssimo. 
 
É a teoria que prevalece na doutrina brasileira hoje. Nesse sentido, Silvio de Salvo Venosa ensina: “Em uma síntese 
das doutrinas, pode-se afirmar que o casamento-ato é um negócio jurídico bilateral; o casamento-estado é uma 
instituição (Direito Civil, 2005, página 45). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3) Características do casamento. 
 
 
* ato pessoal, garantida a liberdade de escolha e de manifestação da vontade (art. 1.542, CC); 
 
* ato solene (é um dos atos mais solenes do Direito Civil); 
 
* ato civil que não admite termo ou condição; 
 
* suas normas são cogentes e visam dar a proteção deferida pela Constituição Federal; estabelece 
comunhão plena de vida (art. 1.511, CC) que implica necessariamente na exclusividade da 
união (art. 1.566, I, CC); 
 
* representa união permanente, o que não significa que seja indissolúvel; 
 
* exige diversidade de sexos (elemento de existência) Obs: característica recentemente pelo 
entendimento do STJ e STF. 
 
 
 
 
 
4) Finalidades do casamento. 
 
 
* a comunhão plena de vida (‘affectio maritalis’); 
* a afeição; 
* a solidariedade; 
* a comunhão de interesses e de projetos; 
* a convivência respeitosa; 
* o desvelo mútuo. 
* estabelecer em sua convivência uma colaboração mútua e voluntária com vistas a um fim comum 
e ao desenvolvimento das respectivas personalidades. 
 
 
 
5) Esponsais ou noivado. 
 
* Conceito: também conhecidos como promessa de casamento ou simplesmente noivado, é o 
compromisso de casamento entre duas pessoas desimpedidas, de sexo diferente, com o escopo de 
possibilitar que se conheçam melhor, que aquilatem, mutuamente, suas afinidades e seus gostos. É 
um ato preparatório do matrimônio. (Maria Helena Diniz) 
 
Teve sua origem no Direito Romano que o consideravaum momento indispensável para a formação 
do casamento, importância que foi mantida pelo Direito Canônico. 
 
Nas ordenações em que tiveram acolhimento (como, por exemplo, no Direito Português), os 
esponsais são considerados negócios jurídicos por meio do qual duas pessoas desimpedidas e de 
sexos diferentes prometem reciprocamente contrair matrimônio. 
 
No entanto, o Direito Civil brasileiro não conferiu especial importância aos esponsais, sequer 
prevendo-o como requisito necessário à formação do casamento. Por isso, pode a promessa ser 
rompida a qualquer tempo. Uma vez que não lhe é conferida natureza contratual, a polêmica hoje 
instalada está em torno do rompimento causar ou não o direito à reparação por danos morais e 
materiais pelos prejuízos sofridos. 
 
 
* Noivado e responsabilidade civil - A jurisprudência tem se manifestado no sentido de fixar a 
responsabilidade extracontratual (art. 186, CC) desde que presentes os seguintes requisitos: que a 
promessa tenha sido séria e feita livremente pelos noivos (que devem ser capazes); recusa 
(expressa ou tácita, mas inequívoca) de cumprir a promessa por parte do noivo arrependido (o 
arrependimento deve ter chegado ao conhecimento do outro noivo); ausência de justo motivo; dano 
(repercussões materiais e morais do desfazimento); inexistência de impedimentos para o casamento. 
 
O livre arbítrio nas relações amorosas não implica que um noivo(a) possa abandonar o outro 
no altar, negar o consentimento quando da celebração do casamento ou mesmo ocasionar 
humilhação pública. Mister que esses comportamentos, por ferirem o padrão do comportamento 
mediano, sejam repelidos. Se a boa-fé objetiva tem incidência em toda e qualquer relação jurídica 
(e, inclusive, toda sua teoria foi elaborada em sede de direito obrigacional), é óbvio que deve ser 
obedecida no contrato de esponsais. 
 
A ausência de lealdade bem como a lesão psíquica são inegáveis. 
 
E consoante Carlos Roberto Gonçalves (2007, p. 70): 
 
"Se o arrependimento for imotivado, além de manifestado em circunstâncias 
constrangedoras e ofensivas à sua dignidade e respeito (abandono no altar ou negativa de 
consentimento no instante da celebração), o direito à reparação do dano moral parece-nos 
irrecusável. Egdar Moura Bittencourt menciona, a propósito, ilustrativo caso ocorrido em 
Leon, Espanha de um jovem que, ao ser interrogado se era de sua livre e espontânea 
vontade receber a noiva domo legítima esposa, disse: "Bem, para ser franco, não". (...) 
Esta menina, não resta dúvida, sofreu o que talvez nenhuma outra noiva terá sofrido: além 
da perda do noivo, a suprema injúria de uma humilhação pública. O noivo não seria punido 
civilmente pela ruptura da promessa, (...), mas pela humilhação, pelo escândalo infligido e 
pelo dano moral. (...) É direito seu reconsiderar a escolha da esposa, mas é obrigação fazê-
lo de forma discreta, sem ofensa, nem injúria. (...)" 
 
 
 
Jurisprudências: Dano moral – Rompimento de noivado – De regra, o rompimento de 
relacionamentos afetivos não gera o dever de indenizar pela simples e óbvia razão que não 
se controlam os sentimentos. Se um noivado se funda no sentimento do amor e 
desaparecendo esse, não se pode compelir alguém a manter o vínculo, sob pena de 
indenização em prol do parceiro. No jogo afetivo deve haver ampla liberdade para decidir, 
inclusive atendendo-se ao critério de conveniência. O que pode ensejar a indenização é o 
rompimento escandaloso e que venha a humilhar outrem". (Embargos Infringentes Nº 
598348464, Terceiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Décio 
Antônio Erpen, Julgado em 03/09/1999) 
 
"RESPONSABILIDADE CIVIL. Rompimento de noivado - Enriquecimento sem causa. (...) 
Embora lícita a conduta do réu, persiste o dever de compensar pela metade dos prejuízos 
econômicos sofridos em razão do cancelamento das festividades de casamento - Vedação ao 
enriquecimento sem causa - Festa que beneficiaria a ambos - Réu não pode deixar de sofrer 
diminuição patrimonial às custas da diminuição do patrimônio da autora - Dever de suportar 
com metade dos prejuízos decorrentes do cancelamento da festa - Recurso provido em 
parte".(Apelação Cível 5494844600. Relator(a): Francisco Loureiro. Comarca: Barueri. 
Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 16/04/2009) 
 
"Responsabilidade Civil. (...) Ruptura de Noivado. Danos materiais. Dever de ressarcir os 
gastos efetivamente comprovados com a reforma da casa da noiva. Sentença de 
procedência em parte, para reconhecer o dever de indenizar o valor despendido com o jogo 
de jantar. (...) (Apelação Cível 537.729.4/2-00. Relator (a): Oscarlino Moeller. Órgão 
julgador: 5ª Câmara de Direito Privado. Data do julgamento: 30/01/2008) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6) Casamento civil e casamento religioso. 
 
Casamento civil (artigo 1.512) 
Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração. 
Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão 
isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob 
as penas da lei. 
Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na 
comunhão de vida instituída pela família. 
Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher 
manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os 
declara casados. 
 
religioso (artigo 1515 e 1516) - reconhecimento de efeitos civis ao casamento religioso 
que preencher todas as exigências legais e for levado ao respectivo registro. 
 
A prática do casamento religioso vigorou no Brasil até a Proclamação da 
República, devido à forte influência que a Igreja Católica exercia sobre e por 
meio das Ordenações Portuguesas (ainda aplicadas em território brasileiro). 
 
Foi o advento da Lei n. 181/1890 que introduziu no Brasil o casamento civil 
como o único capaz de gerar efeitos jurídicos e promover a constituição de 
família. Como o efeito do decreto não foi sentido a curto prazo, em 1950 o 
legislador publicou a Lei n. 1.110 autorizando a concessão de efeitos civis ao 
casamento religioso que preenchesse todos os requisitos legais, norma 
mantida pelo art. 226, §2º, CF/88 e pelo Código Civil de 2002. 
 
Assim, o casamento religioso pode ser equiparado ao civil, gerando todos os 
seus efeitos. 
 
 
Sua habilitação pode ocorrer em dois momentos: 
 
1- Habilitação prévia (artigo 1516, caput e § 1
o
): os nubentes apresentam-se 
ao oficial do Registro Civil e realizam todo o procedimento de habilitação no 
cartório. O certificado de habilitação deverá ser apresentado ao ministro 
religioso que o arquivará. O registro do casamento religioso deve ocorrer até 
noventa dias após a sua celebração (prazo decadencial) e pode ser realizado 
por qualquer interessado. 
 
2- Habilitação posterior (artigo 1516, § 2
o
): a cerimônia religiosa é realizada 
antes da habilitação. O registro pode ser requerido apenas pelos cônjuges a 
qualquer tempo. Em qualquer das hipóteses o registro do casamento gerará 
efeitos ‘ex tunc’ entre o casal, retroagindo à data de sua celebração religiosa, 
e ‘ex nunc’ perante terceiros. Deve-se ressaltar, por fim, que se antes do 
registro do casamento religioso um dos contraentes realizar casamento civil 
com outra pessoa, o religioso não poderá ser registrado. 
 
 Nulidade do registro civil do casamento religioso (artigo 1516, § 3
o
): Será nulo o 
registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver 
contraído com outrem c 
 asamento civil. 
 
 
 
6.1) Formalidadespreliminares do casamento. 
 
 
a) Habilitação para o casamento (artigos 1525 a 1532) 
 
Conceito: procedimento que consiste na apreciação dos documentos (art. 1.525, CC) apresentados 
pelos nubentes por meio dos quais se verificam os pressupostos de existência, capacidade e 
inexistência de impedimentos matrimoniais. É, portanto, o ato inicial e preparatório do casamento. 
 
Ao Estado interessa que as famílias se constituam regularmente e, uma das maneiras disso ocorrer, 
se dá pelo casamento. Assim, para a realização do casamento civil será necessária a habilitação dos 
nubentes junto ao Registro Civil do domicílio dos contraentes (arts. 1.525 e 1.526, CC), cujas 
formalidades pretendem garantir a livre manifestação de vontade dos nubentes e a facilitar da prova 
do ato. 
 
 
- Casamento nuncupativo, “in extremis” ou “in articulo mortis” (artigo 1540) – Dispensa o 
procedimento da habilitação quando há iminente perigo de morte. Em outras palavras, trata-se do 
casamento realizado diante de uma situação de urgência ou "iminente perigo de vida", casos de 
extrema urgência, em que um dos nubentes, face ao seu estado demasiadamente grave, não possui 
tempo suficiente para se submeter às formalidades preliminares ordinariamente exigidas, nem 
tampouco para aguardar o comparecimento da autoridade celebrante. Esta modalidade de 
casamento constitui exceção, pois se trata de um remédio excepcional àqueles casos de extrema 
urgência, iminente risco de vida, dispensando as formalidades do casamento, como por exemplo, o 
processo de habilitação, a publicação dos proclamas e a própria presença da autoridade celebrante. 
 
 
 
 
b) Pressupostos de existência consentimento de ambos os nubentes – manifestação livre de vontade 
para o ato. 
 
celebração por autoridade competente ‘ratione materiae’ (artigo 
1514): O celebrante deve ser juiz de casamentos, salvo a 
hipótese do art. 1.554, CC. 
 
diversidade de sexos (art. 1.517, CC) - requisito tradicionalmente 
natural e elemento estrutural, mas que foi desconsiderado a 
partir do recente entendimento do STJ e do STF acerca das 
relações homoafetivas. 
 
Inicialmente, a união homoafetiva foi reconhecida família – 
interpretação de em sentido preconceituoso ou discriminatório 
do artigo 1723 do CC (ADPF 132/RJ - Relator: Min. AYRES 
BRITTO - Julgamento: 05/05/2011 - Órgão Julgador: 
Tribunal Pleno do STJ; REsp 827962 / RS - RECURSO ESPECIAL 
2006/0057725-5 – Quarta Turma do STF). 
 
Posteriormente, foi reconhecida pelo STJ a inexistência de 
vedação expressa a que se habilitem para o casamento pessoas 
do mesmo sexo. Vedação implícita constitucionalmente 
inaceitável. Orientação principiológica conferida pelo stf no 
julgamento da adpf n. 132/rj e da adi n4.277/DF (Esp 1183378 
/ RS - RECURSO ESPECIAL - 2010/0036663-8) 
 
 
* Transexualidade: Questão que se apresenta mais complexa é 
a do transexual, pessoas que possuem o sexo morfológico 
diferente do psicológico. Questionamentos: 
 
1- Há direito fundamental à alteração do nome? A tendência 
nos tribunais parece indicar que sim, com base nos direitos de 
personalidade. 
2- Reconhecida a possibilidade de alteração do nome, é 
possível determinar a alteração do gênero no registro civil? 
Alguns julgados entendem que não, pois isso poderia prejudicar 
terceiros. Outros entendem que sim, pois seria o 
reconhecimento também de um direito de personalidade. Por 
fim, há julgados que autorizam a mudança do gênero no 
registro, mas com a indicação ao lado de se tratar de 
transexual. 
3- Se a mudança de sexo for anterior ao casamento poderá o 
transexual contrair casamento se não tiver logrado êxito em 
obter alteração do gênero no seu registro? 
4- Sendo a mudança posterior ao casamento, dependendo do 
tempo decorrido após a celebração, pode levar à anulação por 
erro essencial quanto à pessoa ou à separação ou divórcio, mas 
sua existência não será afetada porque quando da celebração 
havia diversidade de sexos. 
 
Sites indicados: 
 
1- Sobre a cirurgia de transgenitalização- Resolução nº. 1.955/2010 
do Conselho Federal de Medicina 
 
2- Sobre o transexualismo: DIAS, Maria Berenice. Transexualidade e o 
direito de casar. Disponível no 
site:http://www.mariaberenicedias.com.br/uploads/1_transexualidade_e
_o_direito_de_casar.pdf 
 
 
c) Pressupostos de regularidade Habilitação é o procedimento que consiste na apreciação dos 
documentos (art. 1.525, CC) apresentados pelos nubentes por 
meio dos quais se verificam os pressupostos de existência, 
capacidade e inexistência de impedimentos matrimoniais. É, 
portanto, o ato inicial e preparatório do casamento. 
 
Considerados os nubentes aptos, será extraído o certificado de 
casamento que terá validade pelo prazo improrrogável de 
noventa dias (art. 1.532, CC) dentro dos quais o casamento 
deve ser realizado. 
 
 
Idade núbil de 16 anos (art. 1.517, CC) 
 
Exceção: constatação de gravidez ou para se evitar a 
imposição ou cumprimento de pena criminal (art. 1.520, 
CC) 
 
 
* autorização de ambos os pais ou de seus representantes 
legais que pode ser revogada até a celebração (art. 
1.518, CC). A negativa injusta destes autoriza o 
suprimento judicial do consentimento (arts. 1.517, 
parágrafo único; 1.519 e 1631, parágrafo único, CC). 
 
* Os menores de dezesseis anos, além desta autorização, 
necessitam do suprimento judicial da idade (art. 1.525, 
CC). 
 
* Transcrição integral do instrumento de autorização para casar 
na escritura do pacto antenupcial (art. 1.537, CC). 
 
Texto para reflexão: Família normal? 
 
Maria Berenice Dias (fonte: http://www.mariaberenice.com.br/uploads/10_-_fam%EDlia_normal.pdf) 
 
Será que hoje em dia alguém consegue dizer o que é uma família normal? Depois que a Constituição 
trouxe o conceito de entidade familiar, reconhecendo não só a família constituída pelo casamento, 
mas também a união estável e a chamada família monoparental – formada por um dos pais com 
seus filhos –, não dá mais para falar em família, mas em famílias. 
 
Casamento, sexo e procriação deixaram de ser os elementos identificadores da família. Na união 
estável não há casamento, mas há família. O exercício da sexualidade não está restrito ao 
casamento – nem mesmo para as mulheres –, pois caiu o tabu da virgindade. Diante da evolução da 
engenharia genética e dos modernos métodos de reprodução assistida, é dispensável a prática 
sexual para qualquer pessoa realizar o sonho de ter um filho. 
 
Assim, onde buscar o conceito de família? Esta preocupação é que ensejou o surgimento do IBDFAM 
– Instituto Brasileiro do Direito de Família, que há anos vem demonstrando a necessidade de o 
direito aproximar-se da realidade da vida. 
 
Com certeza se está diante um novo momento em que a valorização da dignidade humana impõe a 
reconstrução de um sistema jurídico muito mais atento aos aspectos pessoais do que a antigas 
estruturas sociais que buscavam engessar o agir a padrões pré-estabelecidos de comportamento. A 
lei precisa abandonar o viés punitivo e adquirir feição mais voltada a assegurar o exercício da 
cidadania preservando o direito à liberdade. 
 
Todas estas mudanças impõem uma nova visão dos vínculos familiares, emprestando mais 
significado ao comprometimento de seus partícipes do que à forma de constituição, à identidade 
sexual ou à capacidade procriativa de seus integrantes. O atual conceito de família prioriza o laço de 
afetividade que une seus membros, o que ensejou também a reformulação do conceito de filiação 
que se desprendeu da verdade biológica e passou a valorar muito mais a realidade afetiva.Apesar da omissão do legislador o Judiciário vem se mostrando sensível a essas mudanças. O 
compromisso de fazer justiça tem levado a uma percepção mais atenta das relações de família. As 
uniões de pessoas do mesmo sexo vêm sendo reconhecidas como uniões estáveis. Passou-se a 
prestigiar a paternidade afetiva como elemento identificador da filiação e a adoção por famílias 
homoafetivas se multiplicam. 
Frente a esses avanços soa mal ver o preconceito falar mais alto do que o comando constitucional 
que assegura prioridade absoluta e proteção integral a crianças e adolescentes. O Ministério Público, 
entidade que tem o dever institucional de zelar por eles, carece de legitimidade para propor 
demanda com o fim de retirar uma criança de 11 meses de idade da família que foi considerada apta 
à adoção. Não se encontrando o menor em situação de risco falece interesse de agir ao agente 
ministerial para representá-lo em juízo. Sem trazer provas de que a convivência familiar estava lhe 
acarretando prejuízo, não serve de fundamento para a busca de tutela jurídica a mera alegação de 
os adotantes serem um “casal anormal, sem condições morais, sociais e psicológicas para adotar 
uma criança”. A guarda provisória foi deferida após a devida habilitação e sem qualquer subsídio 
probatório, sem a realização de um estudo social ou avaliação psicológica, o recurso interposto 
sequer poderia ter sido admitido. 
 
Se família é um vínculo de afeto, se a paternidade se identifica com a posse de estado, encontrando-
se há 8 meses o filho no âmbito de sua família, arrancá-lo dos braços de sua mãe, com quem residia 
desde quando tinha 3 meses, pelo fato de ser ela transexual e colocá-lo em um abrigo, não é só ato 
de desumanidade. 
 
Escancara flagrante discriminação de natureza homofóbica. A Justiça não pode olvidar que seu 
compromisso maior é fazer cumprir a Constituição que impõe respeito à dignidade da pessoa 
humana, concede especial proteção à família como base da sociedade e garante a crianças e 
adolescentes o direito à convivência familiar. 
 
Textos sugeridos para leitura: CNJ manda cartório de Goiás registrar casamento homoafetivo - 06/12/2013 (fonte: 
www.cnj.jus.br); 
http://investidura.com.br/biblioteca-juridica/artigos/direito-civil/162961-natureza-juridica-do-
casamento

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