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CURSO DE DIREITO DIREITO DOS CONTRATOS PROFESSOR: LAURICIO ALVES CARVALHO PEDROSA Plano de aula 22 – Fiança (CC, arts. 818 a 839) Conceito. Características. Trata-se do contrato em que se estabelece uma obrigação acessória de garantia ao cumprimento de outra obrigação. Um terceiro (fiador) oferece seu patrimônio como garantia ao cumprimento de um débito pertencente a outrem (afiançado) (CC, art. 818). A fiança é uma garantia pessoal, fundada na confiança (fidejussória). Difere-se do aval, uma vez que este é uma declaração unilateral de vontade (e não um contrato), que constitui uma obrigação autônoma e literal; ademais, a responsabilidade do fiador, em regra, é subsidiária. Admite-se a figura do abonador da fiança, responsável por garantir a solvência do fiador. É um contrato unilateral e tradicionalmente gratuito, mas nada impede a remuneração do fiador. A fiança deve ser realizada por escrito (contrato formal) e não se admite interpretação extensiva (CC, art. 819). Entretanto, não sendo limitada, a fiança compreende todos os acessórios da dívida, inclusive despesas judiciais, desde a citação do devedor (CC, art. 822). Baseia-se na confiança entre os contratantes (intuitu personae) e é consensual. Extensão da fiança Trata-se de contrato autônomo e, por conta disso, pode ser estipulado sem o consentimento do devedor ou contra sua vontade, pois não o prejudica (CC, art. 820). O limite da fiança é o da obrigação principal, mas nada impede que seja parcial. Caso seja estabelecida em valor superior ou condições mais onerosas, valerá apenas até o limite da obrigação afiançada (CC, art. 823). Tendo natureza acessória, segue o destino da obrigação principal, salvo quando a nulidade resultar da incapacidade pessoal do devedor (CC, art. 824). Pode ser utilizada para garantir qualquer dívida ainda não extinta; pode ser celebrada antes, concomitantemente ou após o surgimento da obrigação. Admite-se a fiança de dívidas futuras, mas o fiador somente poderá ser demandado após se tornar líquida e certa a obrigação (CC, art. 821). Nada impede que a fiança garanta obrigações de dar coisa diversa de dinheiro, bem como obrigações de fazer e não fazer. Em 08.02.2006, o STF entendeu que “o único imóvel (bem de família) de uma pessoa que assume a condição de fiador em contrato de aluguel pode ser penhorado, em caso de inadimplência do locatário” (RE 407.688; AI 576.544-AgR-AgR). Manifestou-se no sentido de que não haveria ofensa ao direito fundamental à moradia. Data vênia, entendo que a decisão da Suprema Corte ofende esse importante direito fundamental, essencial ao alcance do princípio da dignidade da pessoa humana. Ofende também o princípio da isonomia, tendo em vista que as situações são semelhantes e não há motivo razoável para o tratamento diferenciado. Requisitos subjetivos Em regra, toda pessoa capaz pode prestar fiança. A pessoa jurídica pode prestar fiança nos termos de seus estatutos e instrumentos reguladores. O analfabeto e o deficiente visual precisam de escritura pública (CC, art. 819 e 166, II e IV). O cônjuge não pode prestar fiança sem o consentimento do outro, sob pena de nulidade, salvo no casamento regido pelo regime da separação absoluta (CC, art. 1.647, III) O consentimento do cônjuge pode ser suprido judicialmente; a sua ausência representa uma nulidade relativa, podendo ser anulada em até dois anos após o término da sociedade conjugal (CC, art. 1.649). Caso o cônjuge seja comerciante e a fiança seja prestada pela sociedade mercantil, não há necessidade de outorga conjugal. Efeitos da fiança O credor não é obrigado a aceitar o fiador, se este não for pessoa idônea, domiciliada no município ou não possua bens suficientes para cumprir a obrigação (CC, art. 825). A recusa injustificada pode ser dirimida judicialmente, seguindo o rito do art. 829 do CPC. A insolvência ou incapacidade do fiador autoriza o credor a exigir sua substituição. O benefício de ordem encontra-se previsto no art. 827 do Código Civil; neste caso, o fiador deve nomear os bens do devedor, situados no município, livres, desembaraçados e suficientes para solver o débito (v. art. 595 do CPC). Não se aplica o benefício de ordem nas hipóteses do art. 828 do Código Civil. A fiança prestada por mais de um fiador pelo mesmo débito importa solidariedade entre eles, salvo se estabelecerem o benefício da divisão (CC, art. 829). O fiador que paga integralmente a dívida sub-roga-se nos direitos do credor, mas só pode demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota (CC, art. 831). A parte do fiador insolvente distribui-se pelos outros. O fiador tem o direito de promover a execução iniciada pelo credor e injustificadamente retardada (CC, art. 834). Exoneração da fiança Trata-se do despojamento do fiador da posição de garante. Na fiança por prazo indeterminado, o fiador pode exonerar-se quando quiser, mas fica obrigado pelos seus efeitos durante 60 dias após a notificação do credor (CC, art. 835). Não pode haver renúncia prévia ao direito de exonerar o fiador da garantia, pois ninguém pode renunciar previamente a um direito potestativo. Se a fiança foi pactuada por prazo determinado, o fiador não pode exonerar-se previamente, salvo se ocorrer outra causa de extinção. Se o fiador indica bens do devedor consoante dispõe o art. 827 e a insolvência deste decorre de retardo na execução, o fiador exonera-se da fiança (CC, art. 839) O art. 838 enumera hipóteses em que o devedor, ainda que solidário, ficará exonerado da fiança, pois esta não pode se tornar mais gravosa para o fiador�. Defesas do fiador a) O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as extintivas da obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem da incapacidade pessoal, salvo o caso de mútuo feito a menor. b) O objetivo é evitar o enriquecimento ilícito. 7. Extinção da fiança A fiança pode se extinguir por motivos relacionados à sua acessoriedade ou pelas causas que extinguem normalmente os contratos. O ordenamento emprega os termos exoneração e extinção como equivalentes, embora a primeira só se aplique a causas particulares da fiança. A fiança se extingue pela expiração do prazo contratual; pela exoneração do fiador (CC, art. 835); ou por retardo do credor na execução do devedor (CC, art. 839), bem como nas hipóteses do art. 838. A obrigação do fiador transmite-se aos herdeiros, mas se limita ao tempo decorrido até a morte do fiador e não pode ultrapassar as forças da herança (CC, art. 836). � Art. 838. O fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado: I - se, sem consentimento seu, o credor conceder moratória ao devedor; II - se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferências; III - se o credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por evicção. �PAGE �1� �PAGE �5�
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