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UNIDADE III - A FORMAÇÃO E A CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
1. Formação dos contratos.
1.1. As negociações preliminares.
1.2. A proposta.
1.3. A aceitação.
1.4. O momento da conclusão do contrato.
1.5. O lugar da celebração do contrato.
1.6. A formação dos contratos pela internet.
1. A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS:
 Conforme já afirmado, o contrato é um negócio jurídico formado pela manifestação de vontade de duas ou mais pessoas, com o objetivo de criar, de modificar ou de extinguir direitos.
 Para que um contrato seja formado, é necessário inicialmente que as partes tenham vontade de realizá-lo. No primeiro momento, a pessoa apenas pensa, deseja realizar aquele negócio; tem vontade. É o momento subjetivo da vontade humana, uma vez que se processa apenas na mente do indivíduo. No entanto, quando este exterioriza, declara, manifesta a sua vontade, é que se produzirão efeitos nas relações jurídicas (Gonçalves, 2012, p.72). 
 Esse momento objetivo da vontade, ou seja, a manifestação da vontade, pode ser de forma expressa ou tácita. A manifestação de vontade expressa é aquela exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mímica de forma inequívoca. Dar-se-á de forma tácita quando a lei não exigir que seja expressa (CC, art.111). A aceitação tácita infere da conduta, do comportamento do agente (Gonçalves, 2012, p.72). Ex: João resolve doar de forma pura – doação sem encargo, sem obrigação para a outra parte – um carro para Maria. Esta não lhe dá a resposta de imediato se aceita ou não a doação, mas transfere o carro para o seu nome e começa a dirigi-lo. Esse comportamento de Maria revela que ela aceitou a doação (Gonçalves, 2012, p.72).
 OBS: O silêncio como manifestação de vontade, não se confunde com o consentimento tácito, uma vez que não sendo nem afirmação, nem negação, não pode ser considerado como manifestação tácita do querer. Assim, a expressão: quem cala consente, não apresenta foros de juridicidade, pois, em rigor, quem cala não diz coisa alguma.
 Entende-se então, que o contrato, resulta de duas manifestações de vontades: a proposta (oferta, policitação, oblação) e a aceitação. Mas nem sempre o contrato nasce instantaneamente de uma proposta seguida de uma aceitação. Na maior parte dos casos, a proposta é antecedida de negociações preliminares. Dessa forma se adotará aqui as seguintes fases da formação do contrato: negociações preliminares, proposta e aceitação (Gonçalves, 2012, p.72).
1.1. AS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES (PUNTUAÇÃO):
 As negociações preliminares são conversas prévias, debates, sondagens, anteriores à formação do contrato, que não enseja vinculação das partes a uma relação jurídica, ou seja, não gera qualquer obrigatoriedade entre possíveis contraentes (Gagliano e Pamplona Filho, 2013, p.128). É neste momento prévio que as partes discutem, ponderam, refletem, fazem cálculos, estudos, redigem a minuta do contrato, enfim, negociam interesses para que se chegar a uma proposta final e definitiva. Observe o seguinte diálogo:
João: Oi, Maria! Tudo bem?
Maria: Tudo ótimo João! Que bom te encontrar; queria mesmo te perguntar uma coisa: Você conhece alguém que esteja vendendo um carro de fabricação 2012/2012, com baixa quilometragem e cujo valor fique entre R$50.000,00 a R$ 70.000,00? Estou querendo comprar um carro assim.
João: que coincidência! Estou vendendo o meu carro; é da marca “X” 2012/2012, seminovo, todo completo, está em ótimo estado! Estou pedindo R$55.000,00.
Maria: Está acima do meu orçamento! Você não o venderia por R$50.000,00? 
João: Pode até ser Maria! Já lhe conheço a tanto tempo!
Maria: então traz o teu carro no sábado na minha casa para negociarmos melhor!
João: tudo bem! Até lá!
 Percebe-se através desse diálogo que, as partes ainda não manifestaram a vontade de contratar um com outro, apenas debateram sobre o assunto. Essa conversa descompromissada entre as partes não gera nenhuma vinculação ao negócio. Qualquer delas poderá se afastar simplesmente alegando desinteresse, sem responder por perdas e danos. Mesmo quando surge um projeto ou minuta, ainda assim não haverá vinculação das pessoas.
 Assim, não há em que se falar em responsabilidade contratual nessa fase, uma vez inexistir contrato entre as partes. Porém, poderá haver nessa fase, indenização por perdas danos quando uma das partes cometer ato ilícito (art.186, CC) com a outra ou mesmo quando violar o princípio da boa-fé durante as negociações preliminares. 
 Cometerá ato ilícito, a parte que de forma dolosa, ou mesmo culposa, causar dano a outra parte, levando-a, por exemplo, a perder outro negócio ou a realizar despesas. Ratifica-se que essa indenização não tem natureza contratual, haja vista inexistir vínculo contratual entre as partes. Esta indenização é de natureza extracontratual, ou seja, decorre da existência de um dano material e/ou moral proveniente da prática de um ato ilícito. Logo, o fundamento para o pedido de perdas e danos da parte lesada, não será o inadimplemento do contrato, mas, a prática de um ilícito civil (Gonçalves, 2012, p.73). 
 Para compreende melhor, retomar-se-á ao diálogo entre João e Maria. 
João: Oi, Maria! Estou aqui com o meu carro. 
Maria: João o seu carro é realmente bonito, bem conservado, somente com 4.000km. Novo, novo! Mas, infelizmente já comprei um. Esqueci de ti ligar e dizer para você não perder outras propostas. Foi mau!
João: Puxa vida Maria! Confiei em você, tive a maior consideração! Deixei de vender o meu carro por um preço ótimo ao meu vizinho! Como isso não bastasse, estou precisando muito desse dinheiro!
Maria: sinto muito João. Preciso ir andando. Boa sorte!
 Observe que a conduta negligente de Maria causou um prejuízo a João, pois, este deixou de vender o seu carro para um comprador já certo. Dessa forma, mesmo não havendo um contrato entre João e Maria, aquele poderá requerer judicialmente uma reparação por danos materiais e morais à Maria, uma vez que a conduta desta ensejou a prática de um ato ilícito que causou danos a João, configurando, portanto, uma responsabilidade extracontratual.
 Conforme explicações anteriores, sobre os princípios contratuais, o princípio da boa-fé exige das partes uma conduta correta, leal, honesta não só durante a formação e a execução do contrato, mas também, durante as negociações preliminares (Enunciado nº25, I Jornada de Direito Civil: o CC art.422 não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual).
 Vale ressaltar que, a violação ao princípio da boa-fé, ocorre também no campo da responsabilidade alquiliana. Censura-se, assim, àquele que criou na outra parte a expectativa da celebração de um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do qual perdeu outras oportunidades. A violação a esse dever secundário pode ensejar indenização, independentemente de um contrato, uma vez se ter violado a boa-fé (Gonçalves, 2012, p.74).
1.2. A PROPOSTA (POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO):
 Antes da definição de proposta, é importante destacar os sujeitos dessa fase:
 Proponente, policitante ou solicitante: é aquele que faz a oferta. 
Solicitado, policitado ou oblato: é aquele para quem a proposta é direcionada.
 Após determinar os sujeitos da proposta, observe o seguinte diálogo:
João: olá, boa tarde! Posso ajudá-la?
Maria: estou procurando comprar um carro, da marca Chevrolet, modelo Ágile, 2012/2012, completo e com baixa quilometragem.
João: então veio ao lugar certo. Olha só aquele! Tem tudo o que você deseja! É todo completo, com 4.000Km rodados, 2012/2012. Novinho! Estou pedindo nele R$ 36.500,00.
Maria: Ele é muito bonito, confortável, mas, está caro! Só posso comprá-lo por R$34.000,00.
João: O que é isso! O carro é novo! O preço dele no mercado é R$41.500,00. O que eu posso fazer é vendê-lo por R$35.000,00 e pagar o IPVA. O que acha? Vamos fechar o negócio?
Maria: Ainda estar caro! Irei vender o meu carro porR$30.000,00 e só tenho R$4.000,00 para completar. Que tal você me vendê-lo por R$34.500,00 e pagar o IPVA?
João: Assim fica apertado, mas, quero fechar esse contrato com a Senhora! Então, qual a sua resposta?
 Através desse diálogo pode-se dizer que, a proposta é uma declaração de vontade dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar o contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada se a outra parte aceitar, ou seja, consiste na oferta de contratar que uma pessoa faz à outra, com vistas à celebração de determinado contrato (Gonçalves, 2012, p.75 e Gagliano e Pamplona Filho, 2013, p.130).
 Percebe-se, portanto, que a proposta tem duas características essenciais: (1) é uma declaração unilateral de vontade do proponente; (2) é um negócio jurídico receptício, pois, a sua eficácia dependerá da aceitação do oblato. 
 A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como o preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento etc. Deve ser séria e consciente. Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, há de ser formulada em linguagem simples e compreensível ao oblato.
 A oferta pode ser feita entre presentes (inter praesentes) e entre ausentes (inter absentes). A proposta será entre presentes, quando o proponente a fizer diretamente ao oblato, mesmo que estejam em cidades, estados ou países diferentes, pois, o que a determina é a conversa direta que o proponente tem com o oblato, a qual poderá se dá por telefone ou por qualquer outro meio de comunicação moderna, como a internet – as propostas feitas por chats, onde proponente e oblato estão conectados simultaneamente. Logo, esse tipo de proposta, não é determinado pela presença física, mas sim, pela comunicação simultânea. Será entre ausentes, quando não houver a comunicação direta entre o proponente e o oblato. É com base nesse conceito em que se pode afirmar que, a proposta feita por email, se caracteriza como sendo entre ausentes, pois, o proponente e o oblato não têm uma comunicação simultânea (Fiúza, 2008, p.441 e Gonçalves, 2012, p.78). 
 Vale ressaltar que, a proposta VINCULA O POLICITANTE (primeira parte do art.427, do CC), que responde por todas as conseqüências se injustificadamente retirar-se do negócio, haja vista acarretar no oblato uma fundada expectativa de realização do negócio, levando-o muitas vezes, a elaborar projetos, a efetuar gastos e despesas. Essa vinculação persiste até mesmo depois morte ou da interdição do policitante. Nesses dois casos, respondem, respectivamente, os herdeiros e o curador do incapaz pelas conseqüências jurídicas do ato.
 Assim, João propôs à Maria a realização de um contrato de compra e venda de um carro. Especificou claramente o objeto do possível contrato, o seu valor, as condições; houve negociações mútuas. Desde já, João, fica obrigado a cumprir com os termos da proposta. 
 Ainda como exemplos de proposta têm-se: os produtos expostos em vitrines com o preço à mostra, os produtos nas prateleiras dos supermercados, as propagandas divulgadas pela mídia, etc., (Fiuza, 2008, p.440).
 A guisa do exposto, a proposta apresenta as seguintes características:
1. É declaração unilateral de vontade, por parte do proponente;
2. Reveste-se de força vinculante em relação ao proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do caso (CC, arts. 427 e 428);
3. É um negócio jurídico receptício;
4. Deve conter todos os elementos essenciais do negócio jurídico proposto;
5. É elemento inicial do contrato, devendo ser, por isso, séria, completa, precisa e inequívoca.
1.2.1. EXCEÇÕES À VINCULAÇÃO DO PROPONENTE À PROPOSTA:
 A lei expressa na segunda parte do art.427 – “se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” – no art.428, incs. I a IV e no art.429 todos do CC, algumas exceções à vinculação do proponente à proposta. Para compreender melhor, será descrito a seguir – conforme explicações de Gonçalves (2012, p.77-79) – cada uma dessas exceções.
1) Art.427. [...], se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Nesse caso devem ser analisadas três situações:
a) “se o contrário não resultar dos termos dela”. Indica que a proposta conte cláusula expressa que não obriga o proponente. É o caso de o proponente salientar, quando da sua proposta, que reserva o direito de retratar-se. Dessa forma, não haverá nenhuma consequência para o proponente se optar por revogá-la. Ex: “proposta sujeita à confirmação” ou “não vale como proposta”.
b) “da natureza do negócio”. A proposta não obriga o proponente em razão da natureza do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público – se caracteriza por ter um número indeterminados de oblatos – que se consideram limitadas ao estoque existente e encontram-se reguladas no art.429 do CC. Ex: propostas realizadas ao público mediante anúncios de TV, de jornais ou de panfletos.
c) “das circunstâncias do caso”. Tais circunstâncias estão mencionadas no art.428 do CC, Não são, portanto, circunstâncias quaisquer, mas aquelas a que a lei confere esse efeito. 
2) Art.428, inc.I: “se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Logo, se a proposta foi feita entre presentes, infere-se daí que a resposta ou aceitação deve ser imediata, sob pena de perda de eficácia a proposta. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante”. No caso em que a proposta é feita diretamente pelo proponente ao oblato, ou seja, onde há uma comunicação simultânea entre proponente e oblato – proposta entre presentes – se esse não responder logo, dando pronta aceitação, caduca a proposta, liberando-se o proponente. Ex: João oferece por telefone à Maria o seu carro, da marca Honda, modelo Fiat Fit 2012/2012, e esta fica em dúvida e não responde, diz que vai pensar. Nesse interregno, Ricardo liga para João; nesse momento João oferece a Ricardo a compra do seu carro. Ricardo aceita imediatamente.
3) Art.428, inc.II: “se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente”. Em explicações anteriores, afirmou-se, que a proposta entre ausentes, é aquela em que a oferta se dá não de forma direta pelo proponente ao oblato, mas sim, de forma indireta; não havendo uma comunicação direta entre estes. Esse artigo refere-se, portanto, a uma proposta entre ausentes; proposta esta feita por meio de correspondência. O prazo suficiente para a resposta varia conforme as circunstâncias. Entre moradores próximos não deve ser muito longo. Diferentemente se o proponente e o obloto morarem em locais distantes e de acesso difícil e demorado. Logo esse prazo deverá ser razoável – prazo moral.
4) Art.428, inc.III: “se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado”. Se for fixado prazo para a proposta – nesse caso entre ausentes – o proponente terá que esperar pelo seu término. Esgotado, sem resposta, estará este liberado, não prevalecendo a proposta feita.
5) Art.428, inc.IV: “se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente”. O seguinte exemplo facilita compreender melhor esse dispositivo: “O proponente, fotógrafo freelancer, envia um e-mail para o seu amigo propondo-lhe a venda de sua câmera profissional. Ao enviar, ele verifica a sua caixa de entrada e nota que foi designado para uma cobertura jornalística em outro país, e que receberá uma boa quantia para isso, mas precisará da câmera. Diante desse fato inesperado, telefona imediatamente para o seu amigo, retratando a sua proposta; desfazendo-a imediatamente antes mesmo do recebimento do email. Assim, o proponente não ficará vinculado à proposta, se a sua retratação chegar antes da proposta ao oblato ou simultaneamentea ela.
1.3. A ACEITAÇÃO:
 A aceitação consiste na manifestação de vontade do oblato – a qual pode ser expressa ou tácita – em aderir de forma integral a proposta feita pelo proponente. É, somente, com a manifestação de vontade do oblato de aderir à proposta do proponente, que se reputa concluído o contrato. Logo é com a aceitação do oblato, que a oferta se transforma em contrato (Gonçalves, 2012, p.80).
 No entanto, a aceitação deve ser pura e simples para que produza efeito de aperfeiçoar o contrato. Se apresentada “fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta, comumente denominada de CONTRAPROPOSTA (art.431, CC). Como a proposta perde a força obrigatória depois de esgotado o prazo concedido pelo proponente, a posterior manifestação do solicitado ou oblato também não obriga o último, pois nesse caso não se terá uma aceitação, mas sim, uma nova proposta. O mesmo se pode dizer quando este não aceita a oferta integralmente, introduzindo-lhe restrições ou modificações. Ex: a empresa “COLHEITA”, fornecedora de arroz, faz uma proposta de venda ao ATACADÃO SUPERMERCADOS, da quantidade “X” do seu produto, por um valor “Y”, sob o prazo de resposta de cinco dias úteis. Passaram-se os cinco dias e o ATACADÃO não manifestou a sua aceitação, nem de forma expressa e nem de forma tácita. Após esse período, o gerente do ATACADÃO, resolve procurar o gerente da empresa COLHEITA para manifestar a sua aceitação. Nesse caso, a empresa COLHEITA não estaria mais vinculada à proposta feita – de vender a quantidade “X” de arroz pelo preço “Y” – ao ATACADÃO, de forma que, a resposta deste, passa a ser uma nova proposta. Igualmente se daria, se o ATACADÃO modificasse algumas cláusulas no contrato. 
 Percebe-se então que, a aceitação apresenta os seguintes requisitos:
1. Não exige obediência à determinada forma, salvo nos contratos solenes, podendo ser expressa ou tácita (CC art. 432); [1: CONTRATO ESPECIAL OU SOLENE. Direito Civil. Aquele que depende, para sua validade, de forma especial requerida pela lei. Trata-se do contrato formal ou solene. (Maria Helena Diniz. Dicionário Jurídico).]
2. Deve ser oportuna (CC, arts. 430 e 431);
3. Deve corresponder a uma adesão integral à oferta;
4. Deve ser conclusiva e coerente.
1.3.1. HIPÓTESES DE INEXISTÊNCIA DE FORÇA VINCULANTE DA ACEITAÇÃO:
 Há duas hipóteses em que a manifestação de vontade deixa de ter força vinculante:
a) Art.430 do CC: quando a aceitação do oblato for expedida dentro do prazo estipulado pelo proponente, mas que, no entanto, chega tardiamente ao conhecimento deste por motivos imprevistos. Nesse caso deverá o proponente, sob pena de responder por perdas e danos, comunicar imediatamente ao aceitante, uma vez que este tem razões para supor que o contrato esteja concluído, podendo assim, realizar despesas que repute necessárias ao seu cumprimento. Ex: a empresa “X” envia por meio do seu secretário, a aceitação expressa e dentro do prazo estipulado, a proposta feita pela empresa “Y”. No caminho o secretário sofre um acidente de moto e é conduzido a um pronto socorro, de modo que, a aceitação não chega ao proponente no prazo determinado. Vale ressaltar que nesse caso, o dono da empresa “X”, não foi informado do acidente do secretário. No dia seguinte, após o vencimento do prazo da aceitação, o secretário recebe alta hospitalar e resolve levar o documento do seu chefe para a empresa “Y”. O gerente da empresa “Y após ouvir as razões do secretário de não lhe ter entregado a aceitação da empresa “X” dentro do prazo estipulado, deverá imediatamente comunicar ao gerente da empresa “X”, sob pena de responder por perdas e danos.
b) Art.433 do CC: o artigo em comento refere-se à retratação da aceitação. Neste caso, a declaração da vontade que continha a aceitação, desfez-se antes que o proponente pudesse tomar qualquer deliberação no sentido da conclusão do contrato. Ex: a empresa “X” envia por meio do seu secretário, a aceitação expressa, dentro do prazo estipulado, à proposta feita pela empresa “Y”. Ocorre que, após o seu secretário sair, recebe uma proposta melhor de uma outra empresa. Neste momento telefona imediatamente para empresa “Y” revogado a sua aceitação. 
1.4. O MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO:
 Para que se possa estabelecer a obrigatoriedade do cumprimento do acordo entre as partes, se faz mister identificar o momento em que o contrato foi concluído, pois, só a partir de então, é que as partes se tornarão vinculadas e serão compelidas a executar o negócio, sob pena de responderem por perdas e danos (Gonçalves, 2012, p.82). 
 No entanto, para se determinar o momento da conclusão do contrato, se deve inicialmente identificar, se a celebração do contrato foi realizada entre presentes ou entre ausentes, haja vista que a determinação do momento da conclusão do contrato se faz de forma diferente nestes casos (Gonçalves, 2012, p.82). 
1.4.1. O MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO REALIZADO ENTRE PRESENTES:
 O momento da conclusão do contrato entre presentes se faz de duas formas:
a) Se o proponente não estabelecer nenhum prazo para a aceitação, esta deverá ser manifestada imediatamente, sob pena de a oferta perder a força vinculante;
b) Se o proponente estipulou prazo para a aceitação, esta deverá operar-se dentro deste, sob pena de desvincular o proponente. 
1.4.2. O MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO REALIZADO ENTRE AUSENTES:
 A dificuldade maior para se precisar em que momento se deve considerar formado o contrato, é na avença entre ausentes, uma vez que a proposta é enviada por correspondência – por serviços de correios, fax, por intermediários ou por emails – inexistindo nesse caso uma comunicação simultânea entre as partes.
 A doutrina menciona as seguintes teorias sobre o momento da conclusão do contrato entre ausentes (Gonçalves, 2012, p.83-84 e Fiuza, 2008, p.443):
1) TEORIA DA INFORMAÇÃO OU DA COGNIÇÃO: o momento da conclusão do contrato se dá quando a resposta do oblato chega ao conhecimento do proponente e este se inteira do seu teor. Não basta a correspondência ser entregue ao destinatário. O aperfeiçoamento do contrato se dará somente no instante em que o policitante abri-la e tomar conhecimento do teor da resposta. Dessa forma, essa teoria tem o inconveniente de deixar ao árbitro do proponente abrir a correspondência e tomar conhecimento da resposta positiva. Logo, se o proponente não abrir a correspondência o contrato não se efetivará, ou seja, não basta que a correspondência seja entregue, o policitante deve abri-la e tomar conhecimento do seu conteúdo. Esta é a teoria que é adotada em países como a Áustria, Argentina e Itália.
2) TEORIA DA DECLARAÇÃO OU DA AGNIÇÃO: esta teoria subdivide-se em três:
2.1. TEORIA DA DECLARAÇÃO PROPRIAMENTE DITA: o instante da conclusão do contrato coincide com o momento da redação da resposta do oblato. É inadmissível, ante a enorme dificuldade de se aferir esse momento. Sua comprovação se mostra extremamente improvável. O momento da conclusão do contrato fica restrito à esfera de atuação exclusiva do oblato/aceitante, o qual pode vir guardá-la ou destruí-la e não enviá-la para o proponente, mantendo este mesmo assim, vinculado à proposta;
2.2. TEORIA DA EXPEDIÇÃO: não basta a redação da resposta, sendo necessário que tenha sido expedida, isto é, saído do alcance e controle do oblato;
2.3. TEORIA DA RECEPÇÃO: exige que além de escrita e expedida, a resposta tenha sido entregue ao destinatário. Distingue-se da teoria da informação porque esta exige não só a entrega da correspondência ao proponente, como também que este a tenha aberto e tomado conhecimento do seu teor.
 O CC/02 adotou a teoria da expedição, haja vista expressar no seu art.434 que os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida. No entanto ressalta três exceções:
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:I - no caso do artigo antecedente (art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante);
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
 Da análise dos incs.I e II, pode-se afirmar que os mesmos adotaram a teoria da recepção. No tocante o inc.I, Gonçalves (2012, p.84) faz a seguinte crítica:
[...] é inútil e injustificável, como reconhece a doutrina, pois, se há prazo convencionado e a resposta não chega no intervalo determinado, não houve acordo e sem ele não há contrato. 
1.5. O lugar da celebração do contrato.
 O art.435 do CC dispõe que:
 Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
 Conforme a interpretação do artigo supracitado, o lugar da celebração do contrato, é o local em que a proposta foi feita.
 Tal artigo deve ser cominado com o art.9º, §2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – anteriormente denominado de Lei de Introdução ao Código Civil – o qual prescreve que:
Art. 9o  Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
[...]; 
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.
 Tal dispositivo aplica-se aos casos em que os contratantes residem em países diferentes, como por exemplo, os contratos realizados pela internet. 
1.6. A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS PELA INTERNET:
 Contrato pela internet é aquele, onde duas ou mais pessoas utilizam-se da internet para manifestar suas vontades e concluir um contrato (Leal, 2007, p. 79). Dispensa a assinatura ou exige assinatura codificada ou senha. Em regra, é realizado entre ausentes, haja vista não haver uma comunicação simultânea entre proponente e aceitante. 
 No estágio atual, a obrigação do empresário brasileiro que se vale do comércio eletrônico para vender os seus produtos ou seus serviços, para com os consumidores, é a mesma que o CDC atribui aos fornecedores. Dessa forma, o comerciante ou industrial brasileiro que anunciar os seus produtos no comércio virtual deve atentar para as normas do CDC, especialmente quanto aos requisitos da oferta – Capítulo V das Práticas Comerciais, Seção II, da Oferta. Nesse caso podem ser destacadas as que exigem informações claras e precisas do produto, em português, sobre o preço, qualidade, garantia, prazos de validade, origem e eventuais riscos à saúde ou a segurança do consumidor (art.31, do CDC), e as que se referem à necessidade de identificação dos fabricantes pelo nome e pelo endereço (art.33, do CDC). Se as informações transmitidas são incompletas ou obscuras, prevalece a condição mais benéfica para o consumidor (art.30 e 47 do CDC). Se as informações não forem verdadeiras, configura-se vício do produto ou do serviço – arts.18 e 20 do Capítulo IV, da Qualidade de Produtos e de Serviço, de Prevenção e de Reparação de Danos, Seção III, da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço (Gonçalves, 2012, p.85). Vale ressaltar que essas cautelas devem ser tomadas pelo anunciante e fornecedor dos produtos e serviços.
 No entanto, o contrato de consumo eletrônico internacional obedece ao disposto no art. 9º, §2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que determina a aplicação, à hipótese, da lei do domicílio do proponente. Por essa razão, se um brasileiro faz a aquisição de algum produto oferecido por empresa estrangeira, o contrato então celebrado rege-se pelas leis do país do contratante que faz a oferta (Gonçalves, 2012, p.85 e 86). 
 Vale ressaltar que, O CDC expressamente dispõe que, os consumidores brasileiros têm o direito de promover quaisquer ações fundadas na responsabilidade do fornecedor perante o foro de seu próprio domicílio. Desse modo, o consumidor pode promover a ação no Brasil, mas o direito a ser aplicado pela corte brasileira é o direito alienígena, do país de onde originou-se a proposta (Gonçalves, 2012, p.86-87). 
JURISPRUDÊNCIAS:
Caso 1:
Dados Gerais
Processo: APL 835581020108190002 RJ 0083558-10.2010.8.19.0002
Relator(a): DES. CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ
Julgamento: 16/02/2012 
Órgão Julgador: DECIMA SEGUNDA CAMARA CIVEL
Publicação: 27/02/2012
Parte(s): Apdo: MERCADOLIVRE COM ATIVIDADES DE INTERNET LTDA
 Apte: SERGIO OLIVEIRA SOUZA JUNIOR
Ementa
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. PROVEDOR DA INTERNET. SITE DE COMPRAS MERCADO LIVRE. CONSUMIDOR. AQUISIÇÃO DE CELULAR. INTEGRAÇÃO DA CADEIA DISTRIBUTIVA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DEVER DE INDENIZAR PELOS PREJUIZOS DECORRENTES QUANTO AO RISCO DO EMPREENDIMENTO. DANO MORAL E MATERIAL CONFIGURADOS.
O fornecedor que oferta ao consumidor uma lista de sites indicados para compra, no qual constam produtos que esse deseja adquirir, integram a cadeia distributiva de fornecedores, os quais respondem solidariamente pelo fato do produto ou do serviço. Revela-se abusiva a cláusula que exime de sua responsabilidade por defeitos, nos termos do art. 25, § 1º do CDC. Recurso ao qual conheço, dando-lhe provimento para reformar a sentença, nos termos do art. 557, § 1º do CPC.
Caso 2:
RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA POR SITE DA INTERNET. PRODUTO DEFEITUOSO. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL. QUANTUM.
I – O autor realizou compras via internet, cujo produto foi entregue em desacordo com a descrição da venda por duas vezes, tendo a ré se recusado a desfazer o negócio. Responsabilidade da transportadora não comprovada.
II – Evidente a frustração do autor e o incômodo enfrentado. 
III – Fixação do montante indenizatório considerando o grave equívoco da ré, o aborrecimento e o transtorno sofridos pelos demandantes, além do caráter punitivo-compensatório da reparação.
IV – A verba honorária deve ser fixada de modo que não avilte a profissão de advogado. Logo, considerando-se o as características da demanda é de ser mantido o percentual de 20% sobre o valor da condenação (art. 20, § 3º, do CPC).
APELAÇÃO DESPROVIDA
	Apelação Cível
	Décima Câmara Cível
	Nº 70040707473
	Comarca de Porto Alegre
	B2W COMPANHIA GLOBAL DE VAREJO - SUBMARINO.COM 
	APELANTE
	ARLEM SOUZA RODRIGUES 
	APELADO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos. 
Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO à apelação cível.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana (Presidente e Revisor) e Des. Paulo Roberto Lessa Franz.
Porto Alegre, 30 de junho de 2011.
DES. TÚLIO DE OLIVEIRA MARTINS, 
Relator.
RELATÓRIO
Des. Túlio de Oliveira Martins (RELATOR)
ARLEM SOUZA RODRIGUES ajuizou ação de resolução de contrato cumulada com indenização abalos patrimoniais e extrapatrimoniais contra B2W COMPANHIA GLOBAL DE VAREJO – SUBMARINO.COM.
O julgador de primeiro grau decidiu nos seguintes termos:
JULGO PROCEDENTE o pedido, declaro rescindido o contrato, e CONDENO a demandada: (a) a RESTITUIR ao autor o que dele recebeu, todas parcelas acrescidas de juros de 1% a.m. e de correção monetária, esta, segundo variações do IGPM: (b) a RESTITUIR o frete, de R$ 91,16, acrescido de juros e de correção monetária desde a data desse desembolso; (c) ao PAGAMENTO DE DANOS MORAIS DE R$ 4.000 (quatro mil reais), também acrescidos de juros e correção monetária, ambos a contar desta data.
Custas e honorários advocatícios, que fixo em 20% sobre o valor da condenação, igualmente, pela ré e vencida, atendidas as moduladoras dos §§ do art. 20 do CPC.
Apelou a ré. Sustentou não ter agido de forma ilícita. Mencionou que houve um problema com a entrega da mercadoria sobre o qual não teve ingerência. Asseverou que ao ser providenciada uma nova entrega o produto não constava mais em seu estoque. Referiu a incidência do art. 14, § 3º, II, do CDC. Defendeu a inexistência de dano moral, o qual deveria ter sidoprovado. Em sendo mantido o decisum, pleiteou a redução do montante indenizatório. Pugnou pelo redimensionamento da verba sucumbencial. Pediu provimento.
Admitido o recurso, subiram os autos sem contrarrazões.
O processo foi originariamente distribuído ao Desembargador Cláudio Augusto Rosa Lopes Nunes, que declinou da competência para uma das Câmaras integrantes do 3º ou 5º Grupos Cíveis.
Foi o relatório.
VOTOS
Des. Túlio de Oliveira Martins (RELATOR)
Não colhe êxito a irresignação da apelante.
Compulsando os autos, verifica-se que os autores realizaram compras via internet, em 12.01.2009.
O pedido foi entregue equivocadamente, pois possuía apenas um amortecedor, ao passo que na descrição de venda constava que este deveria ter dois amortecedores.
Constatado o erro, a ré entregou novo aparelho ao autor, cobrando-lhe frete, o qual apresentava a mesma desconformidade do anterior.
Passo seguinte, o demandante requereu o desfazimento do negócio, recusando-se a demandada a fazê-lo.
Diante disso, é evidente a frustração do autor. 
A imputação de culpa à transportadora não restou comprovada, tendo em vista a ausência de qualquer documento neste sentido.
Ademais, tal fato não afastaria a responsabilidade da ré, pois perante o consumidor foi ela quem falhou, desimportando a sua relação com a transportadora.
Dispõe o artigo 14 do CDC:
O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I – o modo de seu fornecimento;
II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III – a época em que foi fornecido.
Oportuna a lição de Paulo de Tarso Vieira Sanseverino acerca do fundamento da responsabilidade objetiva:
“Não há necessidade da presença dos elementos subjetivos, dolo ou culpa stricto sensu (negligência, imprudência ou imperícia), no suporte fático do ilícito de consumo, para responsabilização do fornecedor. Não se trata apenas de hipótese de culpa presumida. O elemento culpa foi descartado por inteiro do suporte fático do acidente de consumo. Não há espaço, assim, em regra, para discussão da culpa do fornecedor na responsabilidade pelo fato do produto ou pelo fato do serviço”.[2: SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 175.]
Logo, tem-se que a responsabilidade objetiva independe da culpa do lesante, fazendo-se necessária apenas a comprovação da conduta ilícita, do dano e do nexo causal. 
O ato ilícito, in casu, é a falha na prestação do serviço – a entrega do produto em desacordo com as características descritas na venda.
Igualmente presente o nexo causal, pois o defeito gerou frustração ao autor. 
A empresa ré, portanto, tem o dever de indenizar o demandante.
Vale citar, a propósito, os precedentes desta Corte abaixo colacionados:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. COMPRA PELA INTERNET. DEMORA NA ENTREGA DO PRODUTO. DANOS MORAIS. MAJORAÇÃO DO QUANTUM. IMPOSSIBILIDADE. A compra realizada pelo consumidor foi confirmada, mediante a entrega do bem em quatro dias. Prazo não foi cumprido, haja vista os produtos foram entregues com dois meses de atraso. Considerando o tempo de espera da requerente para o recebimento dos produtos, não se pode esquecer que, embora o transtorno devido ao atraso, as mercadorias foram devidamente entregues, ausente erro ou vício. Necessidade de se fixar quantia pecuniária equivalente ao dissabor sofrido. Manutenção da sentença. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70030371322, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho, Julgado em 25/11/2009)
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. COMPRA POR SITE DA INTERNET. FALHA NA ENTREGA DE PRODUTO, DEVIDO A ESTOQUE ESGOTADO. CULPA DE TERCEIRO NÃO COMPROVADA. DANOS MATERIAIS E MORAIS COMPROVADOS. A responsabilidade da empresa responsável pela entrega de produto, na qualidade de fornecedora de serviços, é objetiva nos termos do artigo 14 do CDC. Assim, cabe à ré ressarcir os valores pagos pela autora em razão dos prejuízos decorrentes da falha na entrega do produto. DANOS MORAIS IN RE IPSA. A prova colacionada aos autos demonstra que a atitude da ré supera os meros dissabores da vida cotidiana em sociedade. Hipótese em que o dano moral é in re ipsa, assim, prescinde de prova. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70028885770, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marilene Bonzanini Bernardi, Julgado em 19/08/2009)
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA ENTREGA DE PRODUTO. DESCASO NO ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR. DANOS MORAIS E MATERIAIS OCORRENTES NA ESPÉCIE. 1. RESPONSABILIDADE CIVIL. A responsabilidade da empresa responsável pela entrega de produto, na qualidade de fornecedora de serviços, é objetiva nos termos do artigo 14 do CDC. 2. DANOS MORAIS. A prova coligida aos autos demonstra que a atitude da ré supera o mero aborrecimento cotidiano. Ocorrência de dano moral in re ipsa. 3. DANOS MATERIAIS. Cabe à ré ressarcir os valores pagos pela autora em razão dos prejuízos decorrentes da falha na entrega do produto. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO EM DECISÃO UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70022586275, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em 16/04/2008)
No tocante ao quantum da indenização, igualmente deve ser mantida a sentença. 
É verdade que o patrimônio moral das pessoas físicas e jurídicas não pode ser transformado em fonte de lucro ou pólo de obtenção de riqueza. Não se admite a indenização como instrumento de enriquecimento ilimitado do ofendido, transformando-se o direito ao ressarcimento em loteria premiada, ou sorte grande, de forma a tornar um bom negócio o sofrimento produzido por ofensas.
É certo, outrossim, que a reparação por danos morais tem caráter pedagógico, devendo-se observar a proporcionalidade e a razoabilidade na fixação dos valores, atendidas as condições do ofensor, ofendido e do bem jurídico lesado.
Essa a orientação de Rui Stoco:
“O dano material, não sendo possível o retorno ao statu quo ante, se indeniza pelo equivalente em dinheiro, enquanto o dano moral, por não ter equivalência patrimonial ou expressão matemática, se compensa com um valor convencionado, mais ou menos aleatório.
“Mas não se pode descurar da advertência de Clóvis do Couto e Silva ao destacar a necessidade de impedir que, através da reparação, a vítima possa ter benefícios, vale dizer, possa estar numa situação econômica melhor que aquela em que se encontrava anteriormente ao ato delituoso (O Conceito de Dano no Direito Brasileiro e Comparado. São Paulo: Ed. RT, 1991, n. 1.4, p. 11).
“Cuidando-se de dano material, incide a regra da restitutio in integrum do art. 944 do CC, de modo que ‘a indenização mede-se pela extensão do dano’.
“Tratando-se de dano moral, nas hipóteses em que a lei não estabelece os critérios de reparação, impõe-se obediência ao que podemos chamar de ‘binômio do equilíbrio’, de sorte que a compensação pela ofensa irrogada não deve ser fonte de enriquecimento para quem recebe, nem causa da ruína para quem dá. Mas também não pode ser tão apequenada que não sirva de desestímulo ao ofensor, ou tão insignificante que não compense e satisfaça o ofendido, nem o console e contribua para a superação do agravo recebido.
“Na fixação do quantum a título de compensação por dano moral o julgador não pode se afastar de um princípio basilar: a vítima da ofensa deve ter por objetivo único a busca de uma compensação para um sentimento ruim e não o de obter vantagem, nem de receber um valor que jamais conseguiria com a força do seu próprio trabalho”.[3: STOCO, Rui. Tratadode responsabilidade civil. 7. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 1236-1237.]
Cabe, pois, ao Julgador dosar a indenização de maneira que, suportada pelo patrimônio do devedor, consiga no propósito educativo da pena, inibi-lo de novos atos lesivos, por sentir a gravidade e o peso da condenação; de outro lado a vítima, pelo grau de participação no círculo social e pela extensão do dano suportado, deve sentir-se razoável e proporcionalmente ressarcida.
Nestas circunstâncias, considerando a gravidade do ato ilícito praticado contra os autores, o potencial econômico da ofensora (empresa de comércio de grande porte), o caráter punitivo-compensatório da indenização e os parâmetros adotados em casos semelhantes, considera-se correto o valor arbitrado em R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
No tocante aos honorários advocatícios, analisada a questão à luz do art. 20, § 3º, do CPC, verifico ser a causa singela, sem maior complexidade. 
Contudo, a fixação dos honorários advocatícios deve ser feita de forma que não avilte a profissão do advogado e remunere condignamente o trabalho profissional do patrono do apelado.
Sendo assim, mantenho o montante de 20% sobre o valor da condenação, pois adequado.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO à apelação.
Foi o voto.
Des. Jorge Alberto Schreiner Pestana (PRESIDENTE E REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).
Des. Paulo Roberto Lessa Franz - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. JORGE ALBERTO SCHREINER PESTANA - Presidente - Apelação Cível nº 70040707473, Comarca de Porto Alegre: "NEGARAM PROVIMENTO À APELAÇÃO CÍVEL. UNÂNIME ."
Julgador(a) de 1º Grau: LUIZ AUGUSTO GUIMARAES DE SOUZA
REFERÊNCIA: 
FIUZA, Cesar. Direito civil: curso completo. 11ªed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. In: Primeira parte – dos contratos. Título I. Teoria geral dos contratos. Capítulo I. Noção geral. 9ªed. São Paulo: Saraiva, v.3, p. 21- 62, 2012.
LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos: Validade jurídica dos contratos via internet. São Paulo: Atlas, 2007.

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