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Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
__________________________________________________________________________________________
59
UNIDADE II - TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
1. Introdução
Os esgotos sanitários quando não acondicionados corretamente trazem inúmeros prejuízos
ao meio ambiente. É o caso dos mananciais subterrâneos (lençol freático) e superficiais (rios,
lagos e lagoas) que, ao receberem os despejos das atividades humanas, sofrem alterações
químicas e físicas, como a redução da concentração de oxigênio dissolvido, alteração da cor,
presença de odor agressivo e de matéria fecal, entre outros. A conseqüência para o homem é
perversa, percebendo-se prejuízos a flora e a fauna do corpo d’água atingido, além do
aumento dos casos de doenças intimamente relacionadas à presença dos despejos domésticos.
As enfermidades causadas pela disposição inadequada dos esgotos são inúmeras,
destacando-se: verminose, amebíase, giardiose, hepatite, cólera, febres tifóide e paratifóide,
dermatites, disenterias, etc.
O tratamento das águas de esgoto tem a finalidade de evitar ou diminuir ao máximo
possível os inconvenientes da poluição e/ou contaminação dos corpos receptores. Deste modo
é importante a retirada daqueles elementos que irão causar problemas no meio ambiente.
O tratamento de águas residuárias pode incluir vários processos em diferentes níveis e
deve ser realizado na medida das necessidades, de maneira a assegurar um grau de depuração
compatível com as condições locais. As instalações depuradoras geralmente são projetadas de
modo a possibilitar a execução por etapas (não somente em termos de capacidade ou de vazão
mas também em função do grau de tratamento).
2. Principais Componentes dos Esgotos Sanitários Causadores de
Problemas
Os sistemas de tratamento de esgotos e de água residuárias visam a retirada ou a redução
dos componentes que podem causar problema nos corpos d’água e meio ambiente em geral.
Os principais componentes que causam danos ao meio ambiente e que devem ser retirados
são:
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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60
· Sólidos Suspensos :
Poderão se transformar em depósitos de lodo no ambiente aquático, gerando condições
anaeróbias e produzindo odores ofensivos.
· Compostos Orgânicos Biodegradáveis :
São medidos pela DBO e DQO, e reduzem a concentração de oxigênio dissolvido na água,
em conseqüência da ação dos microorganismos na sua degradação.
· Organismos Patogênicos :
São aqueles que transmitem doenças ao ser humano.
· Nutrientes (Nitrogênio e Fósforo) :
Em excesso provocam o crescimento exagerado de algas.
· Orgânicos Refratários e Metais Pesados :
Além de serem de difícil remoção, são tóxicos à vida aquática.
· Sólidos dissolvidos inorgânicos :
Tais como o cálcio, sódio, sulfato, etc, elevam o teor de salinidade das águas.
Em geral, os esgotos municipais não contém altas concentrações de orgânicos refratários e
metais pesados, facilitando a tarefa do tratamento. A grande preocupação, atual, em um país
como o Brasil que ainda é deficiente em ETE’s, é com a remoção de orgânicos
biodegradáveis, sólidos suspensos e organismos patogênicos. A remoção de nutrientes
necessita de tratamento complementar, assim como a de sólidos dissolvidos inorgânicos.
3. Noções Básicas de Oxigênio Dissolvido e Demanda Bioquímica
de Oxigênio (DBO)
O principal efeito ecológico da poluição orgânica em um curso d’água é o decréscimo dos
teores de oxigênio dissolvido. As estações de tratamento de esgotos por processos biológicos
tentam imitar o que existe na natureza, ou seja, no tratamento de esgotos por processos
aeróbios, é fundamental o adequado fornecimento de oxigênio para que os microorganismos
possam realizar os processos metabólicos conduzindo à estabilização da matéria orgânica.
Havendo oxigênio livre (dissolvido) apenas as bactérias aeróbias promovem a
decomposição da matéria orgânica, caso contrário, esta se efetua pela ação das bactérias
anaeróbias. Além destes dois tipos de bactérias existem as facultativas, que se desenvolvem
na ausência ou presença de oxigênio livre.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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3.1 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)
A forma mais utilizada para se medir a quantidade de matéria orgânica presente é através
da determinação da Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO. A DBO mede a quantidade de
oxigênio necessária para estabilizar biologicamente (por intermédio das bactérias aeróbias) a
matéria orgânica presente numa amostra.
A quantidade de matéria orgânica presente é importante para se dimensionar as estações
de tratamento de esgotos e medir sua eficácia. Quanto maior o grau de poluição orgânica,
maior a DBO de um corpo d’água; paralelamente à medida que ocorre a estabilização da
matéria orgânica, decresce a DBO.
A estabilização completa demora, em termos práticos, vários dias (cerca de 20 dias ou
mais para esgotos domésticos). Tal corresponde a Demanda Última de Oxigênio (DBOu).
Entretanto, para evitar que o teste de laboratório fosse sujeito a uma grande demora, e para
permitir a comparação de diversos resultados, convencionou-se proceder a análise no 5o dia e
para a temperatura de 20o C. Tem-se desta forma a DBO padrão, expressa por205DBO .
Simplificadamente, o teste da DBO pode ser entendido da seguinte maneira : no dia da coleta,
determina-se a concentração de oxigênio dissolvido (OD) da amostra. Cinco dias após, com a
amostra mantida em um frasco fechada e incubada a 20o C, determina-se a nova concentração,
já reduzida, devido ao consumo de oxigênio durante o período. A diferença entre o teor de
OD no dia zero e no dia 5 representa o oxigênio consumido para a oxidação da matéria
orgânica, sendo, portanto, a 205DBO .
Os esgotos domésticos possuem uma DBO da ordem de 300 mg/l, ou seja, 1 litro de
esgoto consome aproximadamente 300 mg de oxigênio, em 5 dias, no processo de
estabilização da matéria orgânica.
No entanto, ao final do quinto dia a estabilização da matéria orgânica não está ainda
completa, prosseguindo, embora em taxas mais lentas, por mais um período de semana ou
dias. Após tal, o consumo de oxigênio pode ser considerado desprezível. Neste sentido, a
Demanda Última de Oxigênio (DBOu) corresponde ao consumo de oxigênio exercido até este
tempo, a partir do qual não há consumo representativo. Para esgotos domésticos, considera-se,
em termos práticos, que aos 20 dias de teste a estabilização esteja praticamente completa.
Vários autores adotam, de maneira geral, a relação DBOu/ 205DBO igual a 1,46. Isto quer dizer
que, caso se tenha uma 205DBO de 300 mg/l, a DBOu será igual a 1,46x300 = 438 mg/l.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Observando-se uma Curva de Desoxigenação, nota-se que a DBO Total (Lo), também
conhecida como de 1º estágio, é a soma da DBO exercida (Y) com a remanescente (L), onde
podem ser estabelecidas as seguintes relações :
Gráfico 2 - Curva de Desoxigenação
Lk
dt
dL
.1-=
YLL o -= \ LLY o -=
( )tko eLL 1-=
( )tko eLY 11 --=
Onde :
L – concentração de DBO remanescente (mg/l)
Lo – DBO remanescente para t=0 ou DBO exercida em t=¥ . Também denominada demanda
última, pelo fato de representar a DBO total ao final da estabilização (mg/l)
Y – DBO exercida em um tempo t (mg/l)
t – tempo (dias)
k1 – coeficiente de desoxigenação (dia-1)
A taxa de oxidação da matéria orgânica (dL/dt) é proporcional à matéria orgânica
ainda remanescente L, em um tempo t qualquer. Assim, quanto maior aconcentração de
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DBO, mais rapidamente se processará a desoxigenação. Após um certo tempo, em que a DBO
estiver reduzida pela estabilização, a taxa de reação será menor, em virtude da menor
concentração da matéria orgânica. As equações acima também podem ser escritas na forma
decimal (base 10), ao invés da base e. Ambas as formas são equivalentes, desde que o
coeficiente k1 seja expresso na forma correta.
O coeficiente k1 depende das características da matéria orgânica, além da temperatura
e da presença de substâncias inibidoras. Efluentes tratados, por exemplo, possuem uma taxa
de degradação mais lenta, pelo fato da maior parte da matéria orgânica mais facilmente
assimilável já ter sido removida, restando apenas a parcela de estabilização mais vagarosa.
Para um esgoto médio ou para água poluída típica, o coeficiente k1, na base e, pode ser
tomado igual a 0,23/dia (para 20º C). No entanto, seu valor pode variar de 0,10/dia a 0,45/dia.
A relação empírica entre a temperatura e a taxa de desoxigenação pode ser expressa da
seguinte forma :
( )20
2011 .
-= TT kk q
onde :
Tk1 = k1 a uma temperatura T qualquer (dia
-1)
201k = k1 a temperatura de 20
º C (dia-1)
T – temperatura do líquido (ºC)
q - coeficiente de temperatura, tomado usualmente como 1,047
Conhecidos os parâmetros Lo e k1 da Curva de Desoxigenação pode-se estimar o valor
da DBO para qualquer tempo em dias.
4. Autodepuração dos Cursos D’água
A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta, indiretamente, no consumo
de oxigênio dissolvido. Tal deve-se aos processos de estabilização da matéria orgânica
realizados pelas bactérias decompositoras, as quais utilizam o oxigênio disponível no meio
líquido para a sua respiração, conforme visto anteriormente. O decréscimo da concentração de
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oxigênio disponível tem diversas implicações do ponto vista ambiental, constituindo-se em
um dos principais problemas de poluição das águas em nosso meio.
A importância da compreensão deste fenômeno no contexto da área de tratamento de
esgotos relaciona-se à determinação da qualidade permitida para o efluente a ser lançado,
incluindo o nível de tratamento necessário e a eficiência a ser atingida na remoção de DBO.
Após serem poluídos, os mananciais de água podem recuperar-se em decorrência de
fatores naturais como a diluição, aeração, sedimentação, ação dos raios solares e competição
vital. Em outras palavras, um rio que após receber esgotos sanitários tenha percorrido certa
distância, pode apresentar-se livre de vestígios da poluição, desde que não tenha ultrapassado
certos limites. Como exemplo, a grosso modo, um rio pode suportar uma carga de esgoto
bruto correspondente a 1/40 de sua vazão, ou seja, um rio com vazão de 120 l/s pode receber
uma descarga de cerca de 3 l/s, sem maiores incovenientes. Isto é devido ao que se denomina
de autodepuração.
Em termos mais amplos, o fenômeno da autodepuração está vinculado ao restabelecimento do
equilíbro do meio aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as alterações
induzidas pelos despejos afluentes. Dentro de uma visão mais específica, tem-se que, como
parte integrante do fenômeno da autodepuração, os compostos orgânicos são convertidos em
compostos inertes e não prejudiciais do ponto de vista ecológico.
Em termos de concentrações, para que animais aquáticos e plantas possam sobreviver
é necessário uma concentração de Oxigênio Dissolvido (OD) na faixa de 2 a 8 mg/l. Abaixo
de 2 mg/l sobrevivem apenas bactérias anaeróbicas.
4.1 Zonas de Autodepuração
Por ser a autodepuração um processo que se desenvolve ao longo do tempo, e
considerando-se a dimensão do curso d’água receptor como predominantemente longitudinal,
tem-se que os estágios da sucessão ecológica podem ser associados a zonas fisicamente
identificáveis no rio. São 4 as principais zonas de autodepuração, conforme Figura 29, a
jusante do lançamento de um despejo predominantemente orgânico e biodegradável :
§ Zona de Degradação : tem início logo após o lançamento das águas residuárias no curso
d’água. A principal característica química é a alta concentração de matéria orgânica, ainda
em estágio complexo, mas potencialmente decomponível. Corresponde a fase inicial de
perturbação do meio.
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§ Zona de Decomposição Ativa: nesta fase os microorganismos desempenham ativamente
suas funções de decomposição da matéria orgânica. Como consequência, os reflexos no
corpo d’água atingem os seus níveis máis acentuados, e a qualidade da água apresenta-se
em seu estado mais deteriorado.
§ Zona de Recuperação: após as fases de intenso consumo de matéria orgânica e de
degradação do ambiente aquático, inicia-se a etapa de recuperação. Nesta fase, a matéria
orgânica já se encontra grandemente estabilizada, ou seja, transformada em compostos
inertes. Isto implica em que o consumo de oxigênio, através da respiração bacteriana, seja
mais reduzido.
§ Zona de Águas Limpas: nesta fase as águas apresentam-se novamente limpas, voltando a
ser atingidas as condições normais anteriores à poluição, pelo menos no que diz respeito
ao oxigênio dissolvido, à matéria orgânica e aos teores de bactérias e, provavelmente, de
organismos patogênicos.
Figura 29 – Curva de Depressão de Oxigênio e Zonas de Autodepuração
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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4.2 O Balanço de Oxigênio Dissolvido
As águas constituem ambientes bastante pobres em oxigênio, em virtude da baixa
solubilidade deste. Na água, em condições normais de temperatura e pressão, a sua
concentração se reduz a aproximadamente 9 mg/l. Desta forma, qualquer consumo em maior
quantidade traz sensíveis repercussões quanto ao teor de oxigênio dissolvido na massa
líquida. No processo de autodepuração há um balanço entre as fontes de consumo e as de
produção de oxigênio. Quando a taxa de consumo é superior à taxa de produção, a
concentração de oxigênio tende a decrescer, ocorrendo o inverso quando a taxa de consumo é
inferior à taxa de produção. Os principais fenômenos que interagem no balanço de OD são :
§ Consumo de Oxigênio :
a) Oxidação da matéria orgânica – corresponde ao principal fator de consumo de OD,
devido a respiração dos microorganismos decompositores.
b) Demanda Bentônica – apesar de grande parte da estabilização do lodo de fundo
ocorrer de maneira anaeróbia, a camada superior do mesmo, da ordem de alguns
milímetros de espessura, tem ainda acesso ao oxigênio da massa líquida sobrenadante,
ocorrendo a estabilização do lodo aerobiamente nesta fina camada, resultando no
consumo de oxigênio.
c) Nitrificação – processo de oxidação realizado pelos microorganismos na
transformação da amônia em nitritos e destes em nitratos.
§ Produção de Oxigênio :
a) Reaeração atmosférica – é o principal fator responsável pela introdução de oxigênio
no meio líquido. Corresponde a transferência de oxigênio da fase gasosa (ar) para a
fase líquida (água), permitindo uma absorção de oxigênio pela massa líquida.
b) Fotossíntese – processo utilizado pelos organismos clorofilados para a síntese da
matéria orgânica, realizado somente em presença de energia luminosa. Neste processo
ocorre o consumo de gás carbonico e a formação de oxigênio.
4.3 Curva de Depressão de Oxigênio
Como o consumo de oxigêniopara o atendimento das reações bioquímicas de oxidação da
matéria orgânica ocorre simultaneamente com a reaeração, somando-se seus efeitos obtém-se
o traçado da curva de depressão de oxigênio ou simplesmente curva de oxigênio dissolvido.
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Esta curva permite o conhecimento do real teor de oxigênio presente na água, o que é de
grande valia nos estudos de poluição dos mananciais. O teor de oxigênio dissolvido, a partir
do ponto de lançamento do esgoto, vai decrescendo até atingir um mínimo no ponto crítico,
onde o déficit é máximo, de onde começa a crescer até retornar ao seu valor inicial. O ponto
crítico ocorre após certo tempo denominado tempo crítico (tc), onde ocorre o déficit crítico
(Dc) e a concentração de OD crítica (Cc). O conhecimento da concentração crítica é
fundamental, pois é baseado nela que se estabelece a necessidade ou não do tratamento dos
esgotos.
A curva de depressão de oxigênio pode ser representada em função do tempo ou do
percurso conforme mostrado na Figura abaixo.
Gráfico 3 - Curva de depressão de oxigênio
A formulação matemática do modelo considera apenas a desoxigenação e a reação
atmosférica no balanço do OD. A taxa de variação do déficit de oxigênio com o tempo pode
ser expressa pela seguinte equação diferencial :
Taxa de variação do déficit de OD = Consumo de OD – Produção de OD
 DkLk
dt
dD
.. 21 -=
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onde k2 é o coeficiente de reaeração que variam principalmente de acordo com a profundidade
e velocidade de um corpo d’água. Corpos d’água mais rasos e mais velozes tendem a possuir
um maior coeficiente de reaeração, devido, à maior facilidade de mistura ao longo da
profundidade e a criação de maiores turbulências na superfície. A Tabela 2 a seguir fornece os
valores de k2 , a 20º C :
Tabela 2 – Valores de k2 , a 20º C
K2 (dia-1)
Corpo d’água
Profundo Raso
Pequenas lagoas 0,12 0,23
Rios vagarosos, grandes lagos 0,23 0,37
Grandes rios com baixa velocidade 0,37 0,46
Grandes rios com velocidade normal 0,46 0,69
Rios rápidos 0,69 1,15
Corredeiras e quedas d’água > 1,15 > 1,61
A relação empírica entre a temperatura e a taxa de reaeração pode ser expressa da
seguinte forma :
( )20
2022 .
-= TT kk q
onde :
Tk2 = k2 a uma temperatura T qualquer (dia
-1)
202k = k2 a temperatura de 20
º C (dia-1)
T – temperatura do líquido (ºC)
q - coeficiente de temperatura, tomado usualmente como 1,024
4.4 Equações Representativas da Curva de Depressão de Oxigênio
a) Concentração de oxigênio no rio após a mistura com o despejo (Co)
er
eerr
o QQ
ODQODQ
C
+
+
=
..
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b) Déficit de oxigênio no rio após a mistura com o despejo (Do)
oso CCD -=
c) DBO5 no rio após a mistura com o despejo (DBO5o)
er
eerr
o QQ
DBOQDBOQ
DBO
+
+
=
..
5
d) DBO última no rio após a mistura com o despejo (Lo)
er
eoeror
o QQ
LQLQ
L
+
+
=
..
 ou 
15
5
1 k
o
o
e
DBO
L --
=
e) Cálculo do tempo crítico (tc)
( )
ú
ú
û
ù
ê
ê
ë
é
÷÷
ø
ö
çç
è
æ -
-
-
=
1
12
1
2
12 .
.
1.ln.
1
kL
kkD
k
k
kk
t
o
o
c
f) Cálculo do déficit crítico (Dc)
ctk
oc eLk
k
D .1
2
1 .. -=
g) Cálculo da Concentração Crítica de Oxigênio (Cc)
csc DCC -=
onde :
Co = concentração inicial de oxigênio, logo após a mistura (mg/l)
Do = Déficit inicial de oxigênio, logo após a mistura (mg/l)
Cs = concentração de saturação de oxigênio (mg/l)
Qr = vazão do rio a montante do lançamento dos despejos (m3/s)
Qe = vazão de esgotos (m3/s)
ODr = concentração de oxigênio dissolvido no rio, a montante do lançamento dos
despejos (mg/l)
ODe = concentração de oxigênio dissolvido no esgoto (mg/l)
DBO5o = concentração de DBO5, logo após a mistura (mg/l)
Lo = demanda última de oxigênio, logo após a mistura (mg/l)
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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DBOr = concentração de DBO5 do rio (mg/l)
DBOe = concentração de DBO5 do esgoto (mg/l)
A concentração de saturação de oxigênio Cs (mg/l) depende da temperatura e da altitude
local e pode ser retirada da Tabela 3 abaixo :
Tabela 3 – Concentração de saturação de oxigênio
Segundo a Resolução CONAMA 20/86 são os seguintes os Teores Mínimos Permissíveis
de Oxigênio Dissolvido, de acordo com a classe do curso d’água :
Tabela 4 – Teores Mínimos de Oxigênio Dissolvido
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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5. Níveis de Tratamento de Águas Residuárias
Usualmente, consideram-se os seguintes níveis para o tratamento de esgotos domésticos,
que compreendem normalmente processos físicos, químicos e biológicos, atuando
isoladamente ou concomitantemente:
· Preliminar;
· Primário;
· Secundário; e
· Terciário (apenas eventualmente).
 5.1 Tratamento Preliminar
Destinam-se à remoção de sólidos grosseiros (materiais de maiores dimensões), detritos
minerais (areia), materiais flutuantes e óleos e graxas. O tratamento preliminar possui como
finalidades principais :
· proteção das unidades de tratamento subsequentes;
· proteção dos corpos receptores (aspectos estéticos);
· proteção dos dispositivos de transporte do esgoto (bombas e tubulações);
· eliminar ou reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações e demais unidades do
sistema;
· evitar abrasão nos equipamentos e tubulações.
As principais unidades ou dispositivos empregados no Tratamento Preliminar são :
· grades;
· caixas de areia;
· tanques para remoção de sólidos flutuantes;
· tanques para remoção de óleos e graxas.
O gradeamento destina-se a reter sólidos grosseiros em suspensão e corpos flutuantes, e
constituem-se a primeira unidade de uma ETE.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Tipos de grades:
· grades simples: de limpeza manual, para pequenas instalações;
· grades mecanizadas: de limpeza mecânica, para grandes instalações. Exigem
cuidadosa manutenção e por isso somente são adotadas nas instalações cujas
características justificam o seu emprego (Figura 30).
Remoção e destino do material gradeado :
· nas pequenas instalações a limpeza é feita por rastelos manuais e o material retirado é
enterrado (aterros sanitários) ou incinerados;
· em instalações grandes, os detritos são removidos mecanicamente e são incinerados,
digeridos ou triturados.
Figura 30 – Grade Mecanizada – Retenção, Limpeza e Remoção de Sólidos
As caixas de areia ou desarenadores são unidades destinadas a reter areia e outros
detritos minerais inertes e pesados que se encontram nas águas dos esgotos, semelhantes aos
empregados nas unidades para Tratamento de Água. Destino do material retido nas caixas de
areia :
· quando houver grande quantidade de matéria orgânica, capaz de causar mau cheiro, o
material retido deve ser enterrado;
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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· a areia com baixa percentagem de matéria orgânica pode ser aproveitada para aterros,
caminhos, leito de secagem de lodo e etc.A remoção de gorduras e sólidos flutuantes, como o próprio nome já diz, visa eliminar
óleos, graxas, gorduras, ceras e outros materiais de densidade inferior à da água, oriundos de
esgotos domésticos e de postos de gasolina, garagens e pequenos estabelecimentos industriais.
Estas substâncias também são denominadas de sólidos flutuantes, escuma ou gorduras.
Os principais dispositivos para remoção de gorduras e sólidos flutuantes são:
· Caixas de Gordura Domiciliares: antes do lançamento na rede coletora;
· Separador de Óleo: para o caso de indústrias e postos de gasolina;
· Caixas de Gordura Coletivas: que atendem a um conjunto de residências, indústrias ou
constituir uma unidade de tratamento do sistema de tratamento de esgoto de uma
comunidade;
· Dispositivos de Remoção de Gordura em Decantadores: adaptados nos decantadores
(para tratamento primário em geral), que permitem recolher o material flutuante em
depósitos convenientemente projetados para o encaminhamento posterior às unidades
de tratamento do lodo;
· Tanques Aerados: dispositivos que insuflam ar comprimido ao tanque, ou ar
dissolvido, com o fim de auxiliar a flotação e aumentar a eficiência do processo.
 5.2 Tratamento Primário
Destinam-se à remoção de impurezas sedimentáveis, grande parte de sólidos em suspensão
sedimentáveis e sólidos flutuantes com a utilização de mecanismos físicos. Remove cerca de
30 a 40 % da DBO.
A decantação é o processo primário básico. Os lodos retirados dos decantadores são
submetidos a tratamento próprio.
As instalações para tratamento primário normalmente são precedidas de unidades de
tratamento preliminar, e possuem dispositivos para tratamento do lodo decantado, que se
constitui na fase sólida do tratamento. Logo, as instalações compreendem normalmente:
· Tratamento preliminar (grades e caixas de areia);
· Sedimentação (Decantadores Primários);
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· Digestão do Lodo;
· Secagem do Lodo;
· Disposição do Lodo.
O dispositivo mais empregado nas estações de tratamento, para médias e grandes vazões
são os Decantadores Primários, empregados para remoção de sólidos sedimentáveis antes de
qualquer tratamento biológico, ou para evitar a formação de depósitos de lodo nos corpos
receptores quando não se realiza nenhum tipo de tratamento posterior.
Figura 31 – Decantador Primário Circular com Dispositivo para Remoção do
Lodo de Fundo
Nos decantadores primários, ocorre o que se denomina sedimentação floculenta, onde as
partículas em pequena concentração formam partículas maiores e a velocidade de
sedimentação cresce com o tempo. Ao contrário do que ocorre com a sedimentação discreta, a
trajetória das partículas é curva e não uma reta, pois as partículas passam a ganhar maior
velocidade à medida que aumentam de tamanho e peso (Figura 32). Desta forma, todo o
processo depende das características de floculação e sedimentação das partículas.
Figura 32 – Sedimentação Floculenta
vh
vs
vh
vsvs
vh
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75
Nos decantadores primários são removidos Sólidos em Suspensão (SS) da ordem de 40 a
60 % e da DBO de 25 a 35 %. É comum nos decantadores primários existir dispositivos com
a finalidade de remover a gordura e a escuma não removidas no tratamento preliminar. A
escuma normalmente vai para um poço de escuma, de onde é encaminhado para os digestores.
A remoção do lodo acumulado será feita diretamente para os digestores, ou para adensadores
de lodo, por bombeamento.
Classificação dos Decantadores:
a) de acordo com a forma : circular e retangular;
b) de acordo com o fundo : pouco inclinado, inclinado (1 a 4%) e fundo com poço;
c) de acordo com o sistema de remoção de lodos : mecanizado e de limpeza manual;
d) de acordo com o sentido de fluxo : horizontal e vertical.
A taxa de escoamento superficial (m3/m2.dia) é o elemento mais importante para o
dimensionamento dos decantadores. Taxas muito elevadas conduzem a pequenas
porcentagens de remoção da DBO e de sólidos suspensos enquanto taxas baixas levam a
decantadores anti-econômicos, conforme pode ser visto no Gráfico 4 a seguir.
Gráfico 4 – Taxa de Escoamento Superficial dos Decantadores
Uma forma de tratamento a nível primário para pequenas vazões são as Fossas Sépticas
(Figura 33) e os Tanques Imhoff (Figura 34). Os sólidos sedimentáveis são removidos para o
fundo, permanecendo por alguns meses suficientes para a sua estabilização.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Figura 33 – Fossa Séptica Figura 34 – Tanque Imhoff
5.3 Tratamento Secundário
Destinam-se principalmente a remoção da matéria orgânica fina e a matéria orgânica na
forma de sólidos dissolvidos não removidos no tratamento primário. O tratamento secundário
tenta reproduzir os fenômenos naturais de estabilização da matéria orgânica, que ocorre no
corpo receptor, por isso também é conhecido como Tratamento Biológico. Os resultados
obtidos geralmente estão compreendidos entre 70 e 98 % da DBO, dependendo das unidades
constituintes.
Normalmente, em grandes Estações de Tratamento de Esgotos, o tratamento secundário
envolve um Processo Biológico Aeróbio (Oxidação) seguido de Decantação Secundária,
conforme Figura 35 abaixo.
Figura 35 – Unidade Típica de Tratamento Secundário
Unidade de
Tratamento
Biológico
Decantador
Secundário
Tratamento Secundário
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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O Tratamento Secundário pode ou não ser antecedido por Tratamento Primário e
geralmente inclue o Tratamento Preliminar. Os resultados obtidos geralmente estão
compreendidos entre 70 e 98 % de remoção da DBO, dependendo das unidades constituintes.
As Unidades de Tratamento Biológico são constituídas de dispositivos chamados de
REATORES. Os reatores (processos) mais empregados nas Estações Convencionais de
Tratamento de Esgoto são:
· Lodo Ativado;
· Filtro Biológico.
Nos reatores irão ocorrer a transformação da matéria orgânica em novos produtos através
da ação, principalmente, de bactérias. Nestas unidades os microorganismos irão transformar,
ou estabilizar, a matéria orgânica e deste modo ocorrerá a síntese, ou produção de novas
células de microorganismos. É necessário que exista um ambiente adequado para os
microorganismos, tais como: disponibilidade de Oxigênio Livre, Concentração adequadas de
Nutrientes, Temperatura, pH, etc.
Os principais microorganismos envolvidos no processo são as bactérias, porém outras
também encontram-se presentes, como protozoários, algas e fungos. No interior da célula dos
microorganismos irá ocorrer a transformação da matéria orgânica, através de processos de
oxidação e síntese.
O processo aeróbio de transformação da matéria orgânica, de uma forma geral, pode ser
descrita pela seguinte expressão :
Para um bom funcionamento do processo biológico é necessária a seguinte relação
mínima, em geral :
Carbono : Nitrogênio : Fósforo (C:N:P) = 100 : 5 : 1
Fonte de Carbono
+
Fonte de Energia
+
Nutrientes (Nitrogênio e Fósforo)
+
Oxigênio (O2)
Microorganismos
+
Produtos Finais
(água, CO2 e produtos
mais estáveis)
ação dos
microorganismos
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Os microorganismos produzidos são as novas células sintetizadas e são aquelas quedarão
origem aos chamados “flocos biológicos”, juntamente com as impurezas em suspensão que a
eles serão agregados. Os flocos serão retirados nos Decantadores Secundários, também
chamados de Decantadores Finais, formando consequentemente o lodo secundário.
Filtro Biológico
O nome dado, Filtro Biológico, não retrata o mecanismo do processo. Na verdade a
denominação é incorretamente empregada, pois o processo não realiza qualquer operação de
peneiramento ou filtração.
No interior da unidade vai existir um meio de enchimento, que pode ser de pedra britada,
anel plástico ou colmeia plástica, no qual os microorganismos que promovem a transformação
da matéria orgânica irão se fixar.
O mecanismo do processo é caracterizado pela alimentação e percolação contínua de
esgoto através do meio suporte. A continuidade a passagem dos esgotos nos interstícios
promove o crescimento e a aderência da massa biológica na superfície do meio suporte. Esta
aderência é favorecida pela predominância de colônias gelatinosas, denominadas de
“ZOOGLEAS”, mantendo suficiente período de contato da biomassa com o esgoto (Figura
36).
Figura 36 - Filtro Biológico : Mecanismo de Funcionamento e Filtro com Pedra Britada
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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É necessário a colocação de decantador secundário após o filtro biológico, uma vez que a
biomassa agregada ao material de enchimento se desprende com o tempo, devido ao próprio
aumento na espessura da camada biológica e também à ação do líquido sobre a camada.
Classificação dos Filtros Biológicos em função da Carga Aplicada :
· Filtros Grosseiros: cargas hidráulicas elevadas > 30 m3/m2.dia;
· Filtros de Alta Capacidade: carga entre 8,5 e 28 m3/m2.dia;
· Filtros de Baixa Capacidade: carga entre 0,8 e 2,2 m3/m2.dia.
Nos filtros biológicos, bem como nas estações de lodo ativado, ocorre normalmente a
recirculação do lodo. As vantagens da recirculação do lodo são:
· maior período de contato, semeando o Filtro Biológico completamente ao longo de sua
profundidade, com uma variedade de organismos;
· redução do odor e de moscas;
· redução da formação de escumas nos decantadores primários;
· maior qualidade do efluente após o decantador secundário.
Os principais tipos de recirculação podem ser vistos na Figura 37 a seguir :
Figura 37 - Esquemas de Filtros Biológicos com Sistemas de Recirculação
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Lodos Ativados
Lodo Ativado é o floco produzido num esgoto bruto ou decantado, pelo crescimento de
bactérias ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido, e acumulado em
concentrações suficiente graças ao retorno de outros flocos previamente formados.
O processo de lodos ativados é biológico. Nele o esgoto afluente e o lodo ativado são
intimamente misturados, agitados e aerados (em unidades chamadas tanques de aeração –
Figura 39 e 40), para logo após se separar os lodos ativados de esgoto tratado no decantador
secundário. O lodo ativado separado retorna para o processo ou é retirado para tratamento
específico ou destino final, enquanto o esgoto já tratado passa para o vertedor do decantador
no qual ocorreu a separação. A aeração pode ser por agitação mecânica (aeradores de
superfície – Figura 38), dispersão de ar ou combinação dos 2 sistemas.
Figura 38 – Sistema de Tratamento por Lodo Ativado
Figura 39 – Aerador de Superfície Figura 40 – Tanques de Aeração de Fluxo Contínuo
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Processamento de Lodos e Sólidos (Fase Sólida do Tratamento)
O lodo retido nas diversas fases dos Tratamentos Primário e Secundário, sofrem os
seguintes tipos de tratamento, na seqüência :
· Adensamento do Lodo;
· Digestão Anaeróbia do Lodo;
· Secagem do Lodo;
· Disposição do Lodo.
Adensamento do Lodo :
Possui como principal finalidade reduzir o volume a processar, e consequentemente reduzir
os custos de implantação e operação das unidades de digestão e secagem. Normalmente o
líquido removido é retornado para o tratamento primário da ETE, em alguns casos pode ser
lançado a montante do tratamento biológico.
Digestão Anaeróbia do Lodo :
Corresponde a um processo de decomposição anaeróbia, conduzido sob condições controladas
com os objetivos de:
· Destruir bactérias patogênicas;
· Reduzir e estabilizar a matéria orgânica dos lodos frescos;
· Facilitar a secagem dos lodos resultantes para futuro aproveitamento ou destino final;
· Aproveitar os gases resultantes.
No processo da digestão anaeróbia a matéria orgânica é convertida principalmente em gás
metano (CH4) e gás carbônico (CO2).
Os digestores são grandes tanques cobertos (Figura 41), geralmente de formato circular,
onde ocorre a estabilização do lodo pelo processo anaeróbio. Nos digestores o lodo é
introduzido de forma contínua ou intermitente e aí permanece durante certo tempo. O lodo
estabilizado é retirado também de forma contínua ou intermitente do digestor, sendo que os
organismos patogênicos são em grande parte removidos.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Figura 41 – Conjunto de Digestores e Corte Esquemático de um Digestor
Tipos de Digestores :
· Normal: onde não ocorre a mistura interna do lodo fresco com o existente, nem
aquecimento e com tempo de detenção que varia de 30 a 60 dias;
· Alta Taxa: onde ocorre a mistura interna do lodo fresco com o existente, com aquecimento
e o tempo de detenção é menor do que 15 dias.
As condições para uma boa digestão são : adição de lodos frescos, pH favorável (7,0 a 7,4),
temperatura conveniente (ótima entre 30 e 35º C) e agitação do lodo.
Nos digestores anaeróbios pode-se notar uma estratificação segundo as densidades das
frações úteis, conforme a Figura 42 abaixo :
Figura 42 – Estratificação nos Digestores Anaeróbios
Gás Combustível
Fertilizante
Biologicamente Ativo
Fertilizante
Resíduo
Biogás
Escuma
Sobrenadante
Lodo
Sólidos Inorgânicos
 Gás
 Líquido
 Sólido
Digestores
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Secagem do Lodo :
Após a digestão do lodo, este ainda possui teores de umidade em torno de 96 %, ou seja,
somente 4% de sólidos. A secagem pode ser natural ou artificial. Natural através dos leitos de
secagem localizados ao ar (tanques retangulares) e Artificial através de Filtros Prensa ou
Centrífugas. Um tanque de secagem natural pode ser visto na Figura 43 abaixo.
Destino Final do Lodo :
O lodo tem como destino final normalmente os aterros sanitários, principalmente os
oriundos dos tratamentos primário e secundário. Alguns tipos de lodo já estabilizados que não
possuem patogênicos em abundância podem ser empregados para outros usos, como aterros
de parques e aplicação no solo, como fertilizantes.
5.4 Tratamento Terciário
São tratamentos para situações especiais, que se destinam a completar o tratamento
secundário sempre que as condições locais exigirem um grau de depuração excepcionalmente
elevado (devido aos usos e reusos das águas receptoras) e também para os casos em que seja
necessária a remoção de nutrientes dos efluentes finais, para evitar a proliferação de algas no
corpo de água receptor (fenômeno da eutroficação).
Figura 43 – Detalhes do Leito de
Secagem Natural e Foto com Lodo
Seco
UnidadeII – Tratamento de Águas Residuárias
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O tratamento terciário normalmente remove :
· Nutrientes;
· Patogênicos;
· Compostos não biodegradáveis;
· Metais pesados;
· Sólidos inorgânicos dissolvidos;
· Sólidos em suspensão remanescentes.
Os principais processos empregados para Tratamento Terciário são :
· Lagoas de Maturação : refinamento do tratamento prévio por lagoa de estabilização,
com a finalidade de reduzir bactérias, Sólidos Dissolvidos, Nutrientes e etc.
· Desinfecção : através da Cloração, Ozonização, Radiação Ultra-violeta e etc;
· Processos de Remoção de Nutrientes;
· Filtração Final.
5.5 Outros Processos Econômicos Alternativos de Tratamento
Existem alguns outros processos alternativos para tratamento de esgotos e de águas
residuárias que são mais econômicos por serem processos naturais e sem mecanização. Os
principais são :
· Valos de Oxidação;
· Lagoas de Estabilização;
· Lançamento no Terreno.
Valo de Oxidação
Mesmo princípio do processo biológico de lodos ativados, com períodos de aeração
maiores (aeração prolongada) que os comumente adotados nos processos convencionais. Os
Valos de Oxidação (Figura 44) são unidades compactadas de tratamento por meio de aeração
prolongada. Logo são estações a nível secundário. O processo procura reproduzir os
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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fenômenos dos rios com velocidade abaixo de 0,5 m/s. Podem ou não ser sucedidas de
Decantadores Secundários.
Lagoas de Estabilização
São unidades de tratamento de águas residuárias vantajosas sempre que existir
disponibilidade de terreno e área suficiente, pois apresentam reduzidos custos de implantação
e operação. O processo é simples, de fácil operação e sem necessidade de equipamentos
elétricos e mecânicos. A área deve ser predominantemente plana.
Funcionam baseadas no processo biológico (Figura 46). São os mais simples métodos que
existem para tratamento de esgotos. São constituídas de escavações rasas cercadas de taludes
de terra. Geralmente tem a forma retangular ou quadrada.
Figura 44 – Esquema de um Valo de Oxidação
Figura 45 - Rotor de Aeração do Tipo Escova para
emprego em Valos de Oxidação
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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São classificadas em 4 tipos principais :
· Anaeróbias;
· Facultativas;
· Estritamente Aeróbias;
· de Maturação.
a) Lagoas Anaeróbias
São projetadas sempre que possível em associação com lagoas facultativas ou aeradas.
Tem a finalidade de oxidar compostos orgânicos complexos antes do tratamento através de
lagoas facultativas ou aeradas. As lagoas anaeróbias não dependem da ação fotossintética das
algas, podendo assim ser construídas com profundidades maiores do que as outras lagoas,
variando de 2,0 a 5,0 metros. Removem cerca de 50 % da DBO.
b) Lagoas Facultativas
Tem profundidades entre 1,0 a 2,0 metros e áreas relativamente grandes. Funcionam
através da ação de algas e bactérias sob a influência da luz solar (fotossíntese). São chamadas
de facultativas devido às condições aeróbias mantidas na superfície liberando oxigênio e às
condições anaeróbias mentidas na parte inferior onde a matéria orgânica é sedimentada. São
as do tipo mais usadas. O tempo de detenção é superior a 20 dias, e o processo se dá
predominantemente por bactérias facultativas. Removem cerca de 70 a 90% da DBO.
c) Lagoas Estritamente Aeróbias
São lagoas onde a oxidação e a fotossíntese aparecem balanceadas ao limite de produzir
completamente uma estabilização aeróbia.
d) Lagoas de Maturação
Normalmente empregadas como Tratamento Terciário. Servem como polimento para
efluentes das estações de tratamento de lodos ativados e lagoas facultativas. A eficiência das
lagoas de maturação é expressiva principalmente em termos de redução do número de
bactérias (da ordem de 99%). Possui profundidade útil entre 0,80 e 1,20 metros.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Figura 46 - Princípios de Funcionamento de uma Lagoa de Estabilização
Figura 47 - Esquema de um Sistema
Completo de Lagoa de Estabilização
Figura 48 - Sistemas
Típicos de Lagoas de
Estabilização
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Os principais parâmetros para dimensionamento das Lagoas de Estabilização são (o
dimensionamento das Lagoas pode ser visto no Capítulo 9 desta Unidade) :
· profundidade da lagoa;
· carga orgânica (DBO);
· período de detenção;
· tipo de resíduo lançado;
· temperatura;
· insolação;
· agitação (ventos e etc.).
Lançamentos no Terreno
Constituem-se normalmente em um misto de tratamento a nível secundário e disposição
final. É classificado como nível secundário devido à atuação de mecanismos biológicos e à
sua elevada eficiência na remoção de poluentes.
Um poluente no solo te basicamente três possíveis destinos : retenção na matriz do solo,
retenção nas plantas e aparecimento na água subterrânea. Vários mecanismos, de ordem física
(sedimentação, filtração, radiação, desidratação), química (oxidação e reações químicas,
precipitação, adsorção, troca iônica) e biológica (biodegradação) atuam na remoção de
poluentes do solo.
Os tipos mais comuns de aplicação no solo são :
· irrigação (infiltração lenta);
· infiltração rápida (alta taxa);
· infiltração subsuperficial (como as valas de infiltração e os sumidouros ou poços
absorventes);
· aplicação com escoamento superficial.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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6. Unidades Típicas de uma Estação de Tratamento de Esgotos
 (ETE) Convencional
Uma Estação Convencional de Tratamento de Esgotos (médias e grandes vazões),
geralmente, é composta então pelas seguintes unidades (Figura 49) :
· Tratamento do Líquido (Fase Líquida do Tratamento) :
Grade
Caixas de Areia
Medidor de Vazão
Decantador Primário
Unidade de Tratamento Biológico (Lodo Ativado ou Filtro Biológico)
Decantador Secundário
Desinfecção (pouco empregado no Brasil, devido aos elevados custos)
· Processamento de Lodos e Sólidos (Fase Sólida do Tratamento) :
Adensador de Lodos
Digestor Anaeróbio de Lodos
Unidade de Secagem de Lodos
Destino Final de Lodos
Figura 49 - Fluxograma de uma Estação Convencional de Tratamento de Esgotos
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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7. Eficiência dos Processos de Tratamento de Esgotos
Eficiência ou Grau de Remoção de determinado poluente no tratamento ou em uma etapa
do mesmo é dado pela fórmula :
onde :
E = Eficiência de remoção (%);
Co = Concentração afluente (entrada) de poluente;
Ce = Concentração efluente (saída) de poluente.
A Tabela 4 abaixo mostra a Eficiência ou Grau de Remoção da DBO e de Coliformes
Fecais dos principais processos de tratamento.
Tabela 4 – Eficiência dos Processos de Tratamento
100
C
CC
E
o
eo ×
-
=
afluente (Co) efluente (Ce)
Unidade de
tratamento
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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8. Tabelas Resumo de Tratamento de Esgotos
Tabela 5 – Níveis de Tratamento dos Esgotos
A Tabela 6 a seguir mostra os principais processospara remoção de Patogênicos no
Tratamento de Esgotos
Tabela 6 – Processos para Remoção de Patogênicos
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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9. DIMENSIONAMENTO DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
Os sistemas de lagoas de estabilização mais empregados são a Lagoa Facultativa e a
associação entre Lagoa Anaeróbia e Lagoa Facultativa. Pelo fato de serem mais
empregados na prática, serão dados exemplos de dimensionamento destes dois sistemas.
9.1 Lagoa Facultativa
As lagoas facultativas são a variante mais simples dos sistemas de lagoas de estabilização.
Basicamente o processo consiste na retenção dos esgotos por um período de tempo longo o
suficiente para que os processos naturais de estabilização da matéria orgânica se
desenvolvam.
Nestas lagoas, o esgoto afluente entra em uma extremidade da lagoa e sai na extremidade
oposta. Ao longo deste percurso, que demora vários dias, uma série de mecanismos
contribuem para a purificação dos esgotos. Estes mecanismos ocorrem nas três zonas das
lagoas denominadas : zona anaeróbia, zona aeróbia e zona facultativa.
A matéria orgânica em suspensão (DBO particulada) tende a sedimentar, vindo a constituir
o lodo de fundo, na zona anaeróbia, que sofrerá processo de decomposição por
microorganismos anaeróbios, sendo convertido lentamente em CO2, água, metano e outros.
Após um certo período de tempo, apenas a fração inerte (não biodegradável) permanece na
camada de fundo. O gás sulfídrico gerado não causa problema de mau cheiro, pelo fato de ser
oxidado, por processos químicos e bioquímicos, na camada aeróbia superior.
Figura 50 – Funcionamento de uma Lagoa Facultativa
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel), conjuntamente com a matéria orgânica em
suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente particulada) não sedimenta,
permanecendo dispersa na massa líquida. Na camada mais superficial , tem-se a zona
aeróbia. Nesta zona, a matéria orgânica é oxidada por meio de respiração aeróbia. Há a
necessidade da presença de oxigênio, o qual é suprido ao meio pela fotossíntese realizada
pelas algas. Tem-se assim, um perfeito equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e
gás carbônico. As bactérias consomem O2 e produzem CO2 e as algas através da fotossíntese
produzem O2 e consomem CO2. A zona facultativa é aquela intermediária onde pode ocorrer a
presença ou ausência de O2.
O efluente de uma lagoa facultativa é verde devido às algas, possui elevado teor de
oxigênio dissolvido e quase nenhuma concentração de sólido em suspensão sedimentável.
Parâmetros de Projeto de uma Lagoa Facultativa
Existem vários métodos e parâmetros, na grande maioria empíricos e de diferentes autores,
para dimensionamento de lagoas facultativas. Um dos mais conhecidos e utilizados é o
baseado na Taxa de Aplicação Superficial.
O critério da Taxa de Aplicação Superficial baseia-se na necessidade de se ter uma
determinada área de exposição à luz solar na lagoa, para que o processo da fotossíntese
ocorra, produzindo o oxigênio necessário, através das algas, para estabilização da matéria
orgânica.
a) Taxa de Aplicação Superficial
A área requerida para a lagoa é calculada em função da taxa de aplicação superficial Ls. A
taxa é expressa em termos da carga de DBO (L, expressa em kgDBO5/dia) que pode ser
tratada por unidade de área da lagoa (A, expressa em hectare).
sL
L
A =
onde :
A = área requerida para a lagoa (ha);
L = carga de DBO total (solúvel + particulada) afluente (kgDBO5/dia);
Ls = taxa de aplicação superficial (kgDBO5/ha.dia).
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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A taxa a ser adotada varia com a temperatura local, latitude, exposição solar, altitude e
outros. Locais com clima e insolação extremamente favoráveis, como o nordeste do Brasil,
permitem a adoção de taxas bem elevadas, eventualmente superiores a 300 kgDBO5/ha.dia, o
que implica em menores áreas superficiais da lagoa. Em nosso país tem-se adotado taxas
variando de :
· Regiões com inverno quente e elevada insolação : L s = 240 a 350 kgDBO5/ha.dia;
· Regiões com inverno e insolação moderados : L s = 120 a 240 kgDBO5/ha.dia;
· Regiões com inverno frio e baixa insolação : L s = 100 a 180 kgDBO5/ha.dia.
Segundo a Norma para Projeto de Estações de Tratamento, a área de 1 lagoa não deve ser
superior a 15 ha. Neste caso deve-se dividir o sistema em um maior número de lagoas.
b) Tempo de Detenção (t)
O volume requerido para a lagoa (V) pode ser calculado com base no tempo de detenção
adotado e na vazão de projeto. O tempo de detenção (t) é expresso em dias.
QtV ×=
onde :
V = volume requerido para a lagoa (m3);
t = tempo de detenção (dias);
Q = vazão média afluente (m3/dia).
O tempo de detenção requerido varia também com as condições locais, principalmente
com a temperatura. Usualmente, adotam-se tempos de detenção variando de :
t = 15 a 45 dias
c) Profundidade da lagoa (H)
A tendência atual tem sido a de se adotar lagoas não muito rasas, com profundidades H
variando de :
H = 1,5 a 3,0 m
A Tabela 7 abaixo indica as profundidades recomendadas para lagoas facultativas em
função das características do esgoto afluente ou das condições climáticas locais.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Tabela 7 – Profundidades para Lagoas Facultativas
d) Influência do Regime Hidráulico na Remoção da DBO
A remoção da DBO processa-se segundo uma reação de primeira ordem na qual a taxa de
reação é diretamente proporcional à concentração do substrato. Nestas condições, o regime
hidráulico da lagoa tem grande influência na eficiência do sistema. Segundo a cinética de
primeira ordem, a taxa de remoção de DBO é tanto mais elevada quanto maior for a
concentração de DBO. A Tabela 8 a seguir resume os principais modelos hidráulicos. 
Tabela 8 – Fórmulas para a determinação da concentração efluente de DBO solúvel
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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A descrição de cada modelo hidráulico pode ser visto na Tabela 9 a seguir
Tabela 9 – Características - Modelos Hidráulicos da concentração efluente de DBO solúvel
A lagoa por fluxo em pistão é mais eficiente do que a lagoa por mistura completa, em
termos de redução da DBO. O projeto das lagoas poderá fazer um aproveitamento do terreno
disponível e da sua topografia para se obter a relação mais adequada do comprimento/largura
(L/B). Sistemas com L/B elevado tendem ao fluxo em pistão, enquanto que lagoas com L/B
próximo a 1,0 (lagoas quadradas) tendem ao regime de mistura completa. Mais
freqüentemente a relação L/B se situa em torno de 2 a 4.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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Usualmente tem sido adotado nos dimensionamentos o modelo de mistura completa devido
as seguintes razões : os cálculos com o modelo de mistura completa são os mais simples; e o
dimensionamento com os cálculos assumindo mistura completa leva a um posicionamento a
favor da segurança, já que o reator de mistura completa é o de menor eficiência.
e) DBO efluente solúvel e particulada
Deve-se observar que, no quadro 2, S é a DBO efluente solúvel. A DBO afluente So é
admitida como a DBO total do afluente, causada por duas fontes: (a) DBO remanescente no
tratamento(DBO solúvel) e (b) DBO causada pelos sólidos em suspensão no efluente (DBO
particulada). Os sólidos em suspensão no efluente são predominantemente algas, que poderão
ou não exercer alguma demanda de O2 no corpo receptor.
De acordo com Mara cada 1 mg de Sólidos em Suspensão (SS) por litro gera 0,3 a 0,4
mgDBO5/l :
1 mg SS/l = 0,3 a 0,4 mgDBO5/l
Devido à incerteza quanto a estes aspectos, uma abordagem prática é a de desconsiderar a
DBO das algas, ou dos Sólidos em Suspensão (SS), no efluente das lagoas facultativas. Assim
a DBO das lagoas facultativas pode ser considerada como sendo apenas a DBO solúvel.
O valor do coeficiente de remoção de DBO (k) é obtido em função da DBO de entrada e
de saída e do tempo de detenção, bem como do modelo hidráulico assumido. Para o caso mais
freqüente do sistema de mistura completa, tem-se a seguinte faixa de valores usualmente
utilizados para dimensionamento:
k = 0,30 a 0,35 dia-1
Para diferentes temperaturas, o valor de k pode ser corrigido através da seguinte equação
( )20T
20T kk
-q×=
onde :
kT = coeficiente de remoção da DBO na temperatura T (ºC) do líquido;
k20 = coeficiente de remoção da DBO na temperatura do líquido de 20º C;
=q coeficiente de temperatura = 1,05 (segundo Silva e Mara)
No dimensionamento, normalmente se considera a temperatura média do líquido no
mês mais frio.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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f) Acúmulo de Lodo
O lodo acumulado no fundo da lagoa é resultado dos sólidos em suspensão do esgoto
bruto, incluindo areia, mais microorganismos sedimentados. A fração orgânica do lodo é
estabilizada anaerobicamente, sendo convertida em água e gases. Em assim sendo, o volume
acumulado é inferior ao volume sedimentado.
A taxa de acúmulo de lodo média de lodo em lagoas facultativas é da ordem de apenas
0,03 a 0,08 m3/hab.ano. Como consequencia desta baixa taxa de acúmulo, a ocupação de
volume da lagoa é baixa.
g) Área Total Requerida para o Sistema de Lagoas
A área total requerida para as lagoas, incluindo os taludes e área de influência, é cerca de
25 % a 33 % maior que a área líquida calculada.
h) Eficiência na remoção da DBO (E)
É dada pela diferença percentual relativa entre a DBO total afluente (So) e a DBO total
efluente (Se) :
100
S
SS
E
o
eo ×
-
=
9. 2 Lagoa Anaeróbia
As lagoas aneróbias constituem-se em uma forma alternativa de tratamento, onde a
existência de condições estritamente anaeróbias é essencial. A estabilização em condições
anaeróbias é lenta, pelo fato das bactérias anaeróbias se reproduzirem numa vagarosa taxa.
As lagoas anaeróbias são usualmente profundas, da ordem de 4 a 5 m. A profundidade é
importante, no sentido de reduzir a possibilidade da penetração do oxigênio produzido na
superfície para as demais camadas. Pelo fato das lagoas anaeróbias serem mais profundas, a
área requerida é menor.
A eficiência de remoção da DBO nas lagoas anaeróbias é da ordem de 50 a 60 %. A DBO
efluente é ainda elevada, implicando na necessidade de uma unidade posterior de tratamento.
As unidades mais utilizadas para tal são as lagoas facultativas, compondo o sistema de lagoas
anaeróbias seguidas por lagoas facultativas, também denominado de sistema australiano.
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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99
A remoção de DBO na lagoa anaeróbia proporciona uma substancial economia de área,
fazendo com que o requisito de área total (lagoa anaeróbia+facultativa) seja em torno de 2/3
do requisito de uma lagoa facultativa única.
Parâmetros de Projeto de uma Lagoa Anaeróbia
Existem dois critérios para dimensionamento de lagoas anaeróbias: pelo tempo de
detenção e pela taxa de aplicação volumétrica. O critério do tempo de detenção baseia-se no
tempo necessário para a reprodução das bactérias anaeróbias. O critério da taxa de aplicação
volumétrica é estabelecido em função da necessidade de um determinado volume da lagoa
anaeróbia para a estabilização da carga de DBO aplicada.
a) Taxa de Aplicação Volumétrica
A taxa de aplicação volumétrica Lv a ser adotada é função da temperatura. Locais mais
quentes permitem uma maior taxa (menor volume). As taxas mais usualmente adotadas estão
na faixa de :
L v = 0,1 a 0,3 kgDBO5/m3.dia
O volume requerido (V) é obtido pela equação :
vL
L
V =
onde :
V = volume requerido para a lagoa (m3);
L = carga de DBO total (solúvel + particulada) afluente (kgDBO5/dia);
Lv = taxa de aplicação volumétrica (kgDBO5/m3.dia).
b) Tempo de Detenção (t)
O volume requerido para a lagoa (V) pode ser calculado também com base no tempo de
detenção adotado e na vazão de projeto. O tempo de detenção (t) é expresso em dias.
QtV ×=
onde :
V = volume requerido para a lagoa (m3);
t = tempo de detenção (dias);
Q = vazão média afluente (m3/dia).
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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100
Usualmente, para as lagoas anaeróbias adotam-se tempos de detenção variando de :
t = 3 a 6 dias
c) Profundidade da lagoa (H)
A profundidade das lagoas anaeróbias é elevada, para garantir a predominância das
condições anaeróbias, evitando que a lagoa trabalhe como facultativa. Os valores usualmente
adotados encontram-se na faixa de :
H = 4,0 a 5,0 m
d) Acúmulo de Lodo
As considerações aqui são similares às efetuadas no caso de lagoas facultativas. A taxa de
acúmulo de lodo média de lodo em lagoas facultativas é da ordem de 0,03 a 0,04 m3/hab.ano.
As lagoas devem ser limpas quando a camada de lodo atingir aproximadamente a metade da
altura útil.
e) Eficiência na remoção da DBO nas lagoas anaeróbias (E)
A norma para projetos de lagoas propõe as seguintes eficiências de remoção, caso as
lagoas anaeróbias tenham sido dimensionadas de acordo com os critérios acima :
Tabela 10 – Eficiência de Remoção para Lagoas Anaeróbias
Temperatura Média da Lagoa no mês
mais frio (ºC)
Eficiência na Remoção de DBO (%)
£ 20 £ 50
> 20 £ 60
Uma vez estimada a eficiência de remoção (E), calcula-se a concentração efluente (Se) da
lagoa anaeróbia utilizando-se a fórmula :
100
S
SS
E
o
eo ×
-
=
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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101
9.3 - Dimensionamento das Lagoas Facultativas no Sistema Lagoa Anaeróbia
 / Lagoa Facultativa
As lagoas facultativa no sistema lagoa anaeróbia – lagoa facultativa, podem ser
dimensionadas segundo os mesmos critérios da taxa de aplicação superficial descrito
anteriormente. O tempo de detenção pode ser agora menor, devido a prévia remoção da DBO
na lagoa aneróbia.
Para o dimensionamento segundo a taxa de aplicação superficial, tem-se que a
concentração e a carga de DBO afluentes à lagoa facultativa são as mesmas efluentes da
lagoa anaeróbia.
A estimativa do efluente da lagoa facultativa pode ser efetuada segundo a metodologia
descrita anteriormente, atentando para o fato de que o coeficiente de remoção k será neste
caso um pouco menor, devido à matéria orgânica de estabilização mais fácil ter sido removida
na lagoa anaeróbia. O remanescente da matéria orgânica é de degradação mais difícil,
implicando em taxas de estabilização mais lentas.
Exemplo de Dimensionamento de Lagoa Anaeróbia – Facultativa
Dimensionar um sistema de Lagoa Anaeróbia – Lagoa Facultativa com os seguintes dados :
· População : 20.000 hab
· Vazão afluente : 3.000 m3/dia
· DBO afluente : So = 350 mg/l = 350 g/m3
· Temperatura : T = 23 ºC (líquido da lagoa)
SOLUÇÃO :a) Carga afluente de DBO5 (L)
L = So x Qa = 350 g/m3 . 3000 m3/dia = 1.050.000 g/dia = 1050 kg/dia
DIMENSIONAMENTO DA LAGOA ANAERÓBIA
b) Adoção da taxa de aplicação volumétrica (Lv)
Lv = 0,1 kgDBO5/m3.dia (adotada)
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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102
c) Cálculo do Volume requerido para a lagoa (V)
dia.m/kgDBO1,0
dia/kgDBO1050
L
L
V
3
5
5
v
== = 10.500 m3
d) Verificação do tempo de detenção (t)
dias5,3
dia/m3000
m500.10
Q
V
t
3
3
a
=== (ok !! dentro dos valores esperados)
e) Determinação da Área requerida (A)
Profundidade adotada : H = 4,5 m (entre 4,0 e 5,0 m)
2
3
m333.2
m5,4
m500.10
H
V
A === (0,23 hectares)
Adotado 2 lagoas quadradas:
Área de cada lagoa : 2.333 / 2 = 1.167 m2
Dimensão de cada lagoa : metros34167.1 =
2 lagoas anaeróbias de 34 x 34 metros cada.
f) Concentração de DBO efluente (Se)
Eficiência de remoção da DBO (adotada) : E = 50 %
100
S
SS
E
o
eo ×
-
= Þ 100
350
S350
50 e ×
-
= Þ Se = 175 mg/l
g) Acúmulo de Lodo na Lagoa Anaeróbia
Taxa de acúmulo anual de lodo adotada = 0,01 m3/hab.ano
Acumulação anual = 0,01 m3/hab . 20.000 hab = 200 m3/ano
Espessura acumulada em um ano :
Espessura = ano/cm9ano/m09,0
m333.2
ano/m200
2
3
==
Espessura em 20 anos de operação (normalmente horizonte do projeto) = 20 x 9 cm = 1,80
metros (logo o lodo possivelmente necessitará ser removido após 20 anos de operação).
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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103
DIMENSIONAMENTO DA LAGOA FACULTATIVA
h) Carga afluente à lagoa facultativa
A carga efluente da lagoa anaeróbia (L) é a carga afluente à lagoa facultativa.
Com a eficiência de remoção (E) de 50 %, a carga afluente à lagoa facultativa é :
dia/kgDBO525dia/kgDBO1050
100
)50100(
L
100
)E100(
L o =×
-
=×
-
=
i) Adoção da taxa de aplicação superficial
Ls = 180 kgDBO/ha.dia
j) Área requerida para a lagoa (A)
)m000.29(ha9,2
dia.ha/kgDBO180
dia/kgDBO525
L
L
A 2
s
===
Adotado 2 lagoas :
Área de cada lagoa : 29.000 / 2 = 14.500 m2
Relação L/B = 2,5 cada lagoa Þ L.B = 14.500 Þ 2,5 B2 = 14.500
Þ B = 76 m Þ L = 2,5 . 76 Þ L = 190 m
k) Profundidade da lagoa facultativa (H)
H = 2,0 m (adotado)
l) Cálculo do Volume da lagoa resultante
V = A.H = 29.000 . 2,0 = 58.000 m3
m) Cálculo do tempo de detenção resultante
dias3,19
dia/m3000
m000.58
Q
V
t
3
3
a
===
n) Coeficiente de remoção de DBO (k)
Adotado k = 0,20 dia-1 (20ºC) Þ (menor do que o valor de k de uma lagoa facultativa
única, que era de 0,30 dia-1)
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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104
Correção para a temperatura de 23 ºC :
( ) ( ) 1202320T
20T dia23,005,1.20,0.kk
--- ==q=
o) Estimativa da DBO solúvel efluente (Se)
Utilizando-se o modelo da mistura completa, admitindo-se uma célula, tem-se :
l/mg32
3,19.23,01
l/mg175
t.k1
S
S oe =+
=
+
=
Lembrando, logicamente, que a DBO efluente da lagoa anaeróbia (175 mg/l) corresponde
a DBO afluente da lagoa facultativa (So).
p) Estimativa da DBO particulada efluente
Considerar não existir DBO particulada efluente, para fins práticos (DBO particulada
efluente = 0)
q) DBO total efluente
DBO total efluente = DBO solúvel efluente + DBO particulada efluente
DBO total efluente = 32 + 0 = 32 mg/l
r) Cálculo da eficiência total do Sistema Lagoa Anaeróbia - Lagoa Facultativa ne remoção
da DBO
Eficiência de remoção da DBO (adotada) : E = 50 %
%91100
350
32350
100
S
SS
E
o
eo =×
-
=×
-
=
s) Área útil total (lagoas anaeróbias + facultativas)
Área útil total = Área (lagoas anaeróbias) + Área (lagoas facultativas)
Área útil total = 0,23 ha + 2,9 ha = 3,13 hectares
(Obs : com a lagoa facultativa única, dimensionada no quadro, a área requerida foi de 5,8
ha. Houve portanto uma substancial economia de área. O tempo de detenção total neste
exemplo é de 22,8 dias (3,5 dias + 19,3 dias), bastante inferior ao de uma lagoa
facultativa única (38,7 dias).
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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105
t) Área total requerida
A área total é da ordem de 25 % a 33 % superior à área útil requerida. Assim a área total
ocupada pelo sistema de Lagoas Anaeróbia - Facultativa e Estruturas Auxiliares é de :
Área total = 1,30 x 3,13 ha = 4,1 hectares
u) Arranjo Final do Sistema de Lagoas Anaeróbia / Facultativa
Lagoa Facultativa 1
Lagoa Facultativa 2
Lagoa
Anaer. 1
Lagoa
Anaer. 2
190 m
76 m
76 m
34 m
34 m
34 m
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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106
10. SOLUÇÕES INDIVIDUAIS PARA TRATAMENTO E DESTINAÇÃO
FINAL DOS ESGOTOS DOMÉSTICOS
As soluções individuais para tratamento e destinação final dos esgotos domésticos são
particularmente adotadas para o atendimento de pequenas e médias comunidades onde não
existe rede coletora de esgoto.
Onde não existe água encanada podem ser adotadas as seguintes soluções :
· Privada com Fossa Seca : compreende uma casinha e uma fossa seca escavada no solo
(Figura 51) destinada a receber somente os excretas (fezes), ou seja, não dispõe de
veiculação hídrica. As fezes retidas no interior se decompõem ao longo do tempo
através do processo de digestão anaeróbia. Localizada em lugares livres de enchentes e
distantes de poços e fontes e em cota inferior a esses mananciais, a fim de evitar a
contaminação dos mesmos. Recomenda-se adotar uma distância mínima de segurança
estimada em 15 metros.
Figura 51 – Fossa Seca
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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107
· Privada com Fossa Estanque: consta de um tanque destinado a receber os dejetos,
diretamente, sem descarga de água, em condições idênticas a privada de Fossa Séptica.
Esta solução é adotada geralmente em zonas de lençol muito superficial, zonas
rochosas ou terrenos muito duros e terrenos facilmente desmoronáveis (Figura 52).
Figura 52 – Fossa Estanque
· Privada com Fossa de Fermentação: consta essencialmente de duas câmaras (tanques)
contíguas e independentes destinadas a receber os dejetos, tal qual nas privadas de
fossa seca. Cada câmara é utilizada de maneira não simultânea, ou seja, enquanto uma
é utilizada durante 1 ano, a outra fermenta o lodo acumulado, por um período de 1 ano,
sendo limpa após este período final de fermentação, ficando pronta para novo uso.
Figura 53 – Fossa de Fermentação
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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108
Onde existe água encanada pode ser adotada principalmente como solução o Tanque
Séptico ou Fossa Séptica cujo destino do efluente pode ser para o Sumidouro, Vala de
Infiltração ou Vala de Filtração. O Tanque Séptico também pode ter o efluente passando por
um Filtro Biológico antes de ir para o destino final.
10.1 Tanque Séptico ou Fossa Séptica
O Tanque Séptico corresponde a uma ou mais câmaras fechadas com a finalidade de deter os
despejos domésticos, por um período de tempo estabelecido, de modo a permitir a decantação dos
sólidos e retenção do material graxo contido nos esgotos transformando-os bioquimicamente, em
substâncias e compostos mais simples e estáveis. Supondo-se uma vazão doesgoto de 150 l/dia o
Tanque Séptico poderá ser empregado para tratamento a nível primário de até, um máximo de 500
habitantes. Economicamente o tanque séptico é recomendado para até 100 habitantes. Esse sistema
requer que as residências disponham de suprimento de água. A Figura 53 ilustra o funcionamento geral
de um Tanque Séptico :
Figura 53 – Funcionamento de uma Fossa Séptica
Os principais processos que ocorrem no Tanque Séptico ou Fossa Séptica são :
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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109
· Retenção: o esgoto é detido na fossa por um período racionalmente estabelecido, que pode variar
de 12 a 24 horas, dependendo das contribuições afluentes.
· Decantação: simultaneamente à fase de retenção, processa-se uma sedimentação de 60 a 70% dos
sólidos em suspensão contidos nos esgotos, formando-se o lodo. Parte dos sólidos não decantados,
formados por óleos, graxas, gorduras e outros materiais misturados com gases é retida na superfície
livre do líquido, no interior do tanque séptico, denominados de escuma.
· Digestão: tanto o lodo como a escuma são atacados por bactérias anaeróbias, provocando uma
destruição total ou parcial de organismos patogênicos.
· Redução de Volume: da digestão, resultam gases, líquidos e acentuada redução de volume dos
sólidos retidos e digeridos, que adquirem características estáveis capazes de permitir que o efluente
líquido do tanque séptico possa ser lançado em melhores condições de segurança do que as do
esgoto bruto.
O tanque séptico é projetado para receber todos os despejos domésticos (de cozinhas, lavanderias
domiciliares, lavatórios, vasos sanitários, bidês, banheiros, chuveiros, mictórios, ralos de piso de
compartimento interior, etc.). É recomendado a instalação de caixa de gordura na canalização que
conduz despejos das cozinhas para o tanque séptico. São vetados os lançamentos de qualquer
despejo que possam causar condições adversas ao bom funcionamento dos tanques sépticos ou que
apresentam um elevado índice de contaminação.
Dimensionamento de Fossa Séptica (segundo a ABNT-NBR 7229/93)
Fórmula geral para tanque séptico de uma câmara : V = 1000 + N ( C.T + K.Lf )
V = Volume útil (em litros).
N = Número de pessoas ou unidades de contribuição.
C = Contribuição de despejos, em litro/pessoa x dia ou em litro/unidade x dia (Tabela 11)
T = Período de detenção, em dias (Tabela 12).
K = Taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao tempo de acumulação de
lodo fresco (Tabela13).
Lf = Contribuição de lodo fresco, em litro/pessoa x dia ou em litro/unidade x dia ou em
litro/unidade x dia (Tabela 11).
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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110
Tabela 11 – Contribuição Diária de Esgoto (C) e de Lodo Fresco (Lf)
Tabela 12 – Período de Detenção (T) dos Despejos por faixa de contribuição diária
Tabela 13 – Taxa de Acumulação Total de Lodo (K) em Dias
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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111
Tabela 14 – Profundidade Útil (h) Mínima e Máxima por Faixa de Volume Útil
A Tabela 14 indica as profundidades úteis mínima e máxima em função do Volume Útil calculado.
Ainda são recomendadas as seguintes relações :
2 ££ L/b ££ 4 e 0,70 m ££ b ££ 2 h
onde L e b são o comprimento e a largura, respectivamente, da Fossa Séptica, no caso de ter formato em planta
retangular (Figura 54).
Figura 54 – Detalhe das Dimensões de uma Fossa Séptica Retangular
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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112
Disposição do Efluente Líquido dos Tanques Sépticos
O efluente líquido é potencialmente contaminado, com odores e aspectos desagradáveis, exigindo,
por estas razões, uma solução eficiente de sua disposição.
Entre os processos eficientes e econômicos de disposição do efluente líquido das fossas têm sido
adotados os seguintes tipos:
· diluição nos corpos d’água receptores;
· sumidouro;
· vala de infiltração e filtração;
· filtro anaeróbio.
A escolha do processo a ser adotado deve considerar os seguintes fatores:
· natureza e utilização do solo;
· profundidade do lençol freático;
· grau de permeabilidade do solo;
· utilização e localização da fonte de água de subsolo utilizada para consumo humano;
· volume e taxa de renovação das água de superfície.
Teste de Absorção do Solo
Sua finalidade é fornecer o coeficiente de percolação do solo, o qual é indispensável para o
dimensionamento de fossas absorventes, sumidouros e campos de absorção. O teste é
realizado como a seguir :
- cavar um buraco de 30cm x 30cm cuja profundidade deve ser a do fundo da vala, no caso do
campo de absorção ou a profundidade média, em caso de fossa absorvente;
- colocar cerca de 5cm de brita miúda no fundo do buraco;
- encher o buraco de água e esperar que seja absorvida;
- repetir a operação por várias vezes, até que o abaixamento do nível da água se torne o mais
lento possível;
- medir, com um relógio e uma escala graduada em cm, o tempo gasto, em minutos, para um
abaixamento de 1cm. Este tempo (t) é, por definição, o tempo de percolação (tempo medido à
profundidade média);
- de posse do tempo t em minutos, pode-se determinar o coeficiente de percolação. Por definição,
o coeficiente de infiltração representa o número de litros que 1 m2 de área de infiltração do solo
é capaz de absorver em um dia. O coeficiente (Ci) é fornecido pelo Gráfico 5 abaixo ou pela
seguinte fórmula :
Unidade II – Tratamento de Águas Residuárias
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113
5,2t
490
)dia/m/l(Ci 2
++
==
Gráfico 5 – Determinação do Coeficiente de Percolação
Exemplo para achar o Coeficiente de Infiltração :
Um teste de infiltração de um terreno indicou o tempo (t) igual a 4 minutos para o abaixamento de 1
cm na escala graduada. Qual o coeficiente de infiltração (Ci) do terreno ?
Ci = 490 / (t + 2,5) = 490 / (4 + 2,5) = 490 / 6,5 = 75,4 litros / m2 / dia
O coeficiente de infiltração varia de acordo com os tipos de solo, conforme indicado na Tabela 15 a
seguir :
Tabela 15 – Coeficiente de Infiltração e Absorção Relativa do Solo
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114
Disposição do Efluente Sólido das Fossas Sépticas
A parte sólida retida nas fossas sépticas (lodo) deverá ser renovada periodicamente, de acordo com o
período de armazenamento estabelecido no cálculo destas unidades. A falta de limpeza no período
fixado acarretará diminuição acentuada da sua eficiência. Pequeno número de tanque séptico instalados
e de pouca capacidade não apresentam problemas para a disposição do lodo. Nestes casos, o
lançamento no solo, a uma profundidade mínima de 0,60m, e mesmo em rios, poderá ser uma solução,
desde que o local escolhido não crie um problema sanitário.
Quando o número de tanques sépticos for bastante grande ou a unidade utilizada é de grande
capacidade, o lodo não poderá ser lançado no solo e nem nos rios, mas sim encaminhado para um leito
de secagem.
Eficiência dos Tanques Sépticos
A eficiência do tanque séptico é normalmente expressa em função dos parâmetros comumente
adotados nos diversos processos de tratamento. Os mais usados são: Sólidos em suspensão e Demanda
Bioquímica de Oxigênio (DBO). As quantidades de cloretos, nitrogênio amoniacal, material graxo e
outras substâncias podem interessar em casos particulares.
Unidade II

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