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Critica feminista aos cantos fálicos

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Ensaio individual. 
História do Teatro 
Julia Guadagnucci- 1BAC 
 
 “A história da mulher jamais será apreciavelmente mudada sem 
a compreensão teórica do motivo por que algum dia houve 
contra as mulheres discriminação baseada em questão de 
gênero.” 
- Ragland-Sullivan 
No decorrer da história ocidental, a arte foi utilizada como forma de 
comunicação com o povo, um modo de sinalizar e advertir o que era ou não permitido, 
de mostrar quais condutas eram adequadas e quais não eram, de representar a 
realidade e “muitas vezes, sugerir, de maneira implícita ou explícita, subversões e 
transformações da realidade.” (TOLEDO, Lívia). 
Na tragédia, o povo se reconhecia nos erros do herói trágico (empatia) e 
passava pela catarse, definida por Aristóteles como um processo de purificação. A 
catarse é um dos instrumentos artísticos utilizado para educar o povo de acordo com 
as condutas estabelecidas pela aristocracia. Dessa forma, os símbolos utilizados 
nesse campo- que muitas vezes é visto como mero entretenimento- possuem grande 
potência educativa e política. 
Sendo assim, a minha proposta neste ensaio é provocar uma reflexão a cerca 
da exaltação do falo na Antiguidade, tendo como foco os cantos fálicos, como 
instrumento de instauração de uma mentalidade patriarcal cuja dominância é 
explicitamente masculina. 
No período Paleolítico, a sexualidade feminina era representada como símbolo 
da fertilidade. Esculpiam-se estatuetas de marfim e de pedra de mulheres obesas, 
com seios fartos e quadris exagerados. Chamadas de vênus ou deusas-mãe, essas 
figuras simbolizavam a fertilidade, um exemplo é a Mulher de Willendorf. 
O homem desconhecia seu papel na gravidez, pois, para ele, era inexistente o 
vínculo entre o sexo e a fecundação, atribuindo à mulher o poder de vida e de morte. 
Teóricos como J.J. Banhofen (Mito, Religião e Direito Materno, 1861) e Lewis Morgan 
(A Sociedade Antiga, 1877) defendem que as sociedades humanas em seus 
primórdios eram seguramente sociedades matriarcais. Entretanto, com a 
domesticação dos animais, o homem passou a observar o papel do macho e a 
perceber sua importância na reprodução: 
 “É diante desta revelação que o homem toma para si a concepção da 
vida através do sêmen e assim, diminui a importância da mulher, que 
por sua vez, perde sua autonomia, a liberdade sexual e sua importância 
na sociedade. O pênis passa a ser, definitivamente, admirado, adorado 
e é objeto de fé e crenças. Em pouco tempo este conceito passa a ser 
universal.” (ROSOSTOLATO, Breno) 
A existência de sociedades matriarcais não possui muitos registros e grande 
parte dos pesquisadores afirma que nunca houve sociedades regidas por mulheres. 
Entretanto, é comprovado que, no Paleolítico, cultuava-se a mulher como símbolo de 
fertilidade e potência geradora. 
Quando a sociedade se voltou ao culto falocêntrico, organizou-se sob uma 
estrutura patriarcal cuja dominância masculina oprime a classe das mulheres até hoje. 
O culto ao membro masculino faz parte dos rituais de deuses da Antiguidade. Este é o 
caso do deus Príapo, deus grego da fertilidade, filho de Dionísio (equivalente ao deus 
romano Baco), deus dos vinhos, festas e principalmente da insânia, e Afrodite, deusa 
do amor, da beleza e da sexualidade. 
Nas festas áticas de Dionísio, As Dionísias rurais, que realizavam-se nos 
demos e tinham como cerimônia central uma alegre e barulhenta procissão com 
danças e cantos, os participantes carregavam um grande falo, vestiam-se com 
máscaras ou disfarçavam-se de animais intentando provocar fertilidade no campo 
(BRANDÃO, 1999). 
A embriaguez dos populares levava-os ao êxtase, a um estado de 
transcendência e desprendimento da realidade e das leis. Dessa forma, as mulheres 
participavam em massa desses rituais, pois neles as regras sociais, as restrições 
machistas e opressoras eram flexibilizadas, possibilitando-lhes um pouco de liberdade. 
Segundo Aristóteles foi dessa comemoração sagrada de Dionísio que a 
tragédia teve origem, enquanto a comédia inspirou-se nos cantos fálicos. 
“Em seu princípio, o gênero cômico está ligado ao culto de Dionísio 
agrário, em particular a uma de suas formas mais antigas: as 
Dionisíacas Rurais que se organizavam em torno de uma manifestação 
phallophorica em que se transportavam os phalloi, símbolo de fertilidade 
e do deus.” (FÉRAL, Cláudia) 
Segundo o historiador Pedro Paulo Funari, as representações romanas do falo 
e da união carnal teriam uma conotação positiva e quase religiosa. Funri explica que a 
palavra falo estava primordialmente associada aos objetos religiosos em forma de 
pênis, utilizados no culto a Baco. Em suas palavras: 
Recorde-se que a palavra latina felicitas significa, a um só tempo, 
‘felicidade’ e ‘sorte’, ambos os sentidos derivados do significado original 
felix, ‘fértil’. O falo, elemento básico da fertilidade, traz, portanto, sorte e 
felicidade. (FUNARI, 2003:320) 
O historiador defende que a associação do falo a fertilidade não atribuía poder 
somente ao homem, pois as mulheres dessa sociedade também compartilhavam do 
sentido dessa representação, já que esta não representava apenas o gênero 
masculino, mas a “relação sexual”, o prazer e a liberdade. Segundo a autora Luana 
Saturnino Tvardovskas, “o poder do falo, associado à cópula, parece não se resumir 
apenas à opressão e à violência masculina naquela sociedade, mas também era 
sinônimo de liberdade e de segurança.” (TAVRDOVSKA) 
Continuo me indagando até que ponto o culto ao membro masculino - e 
pertencente somente ao homem - não tem implicações na dominância desse gênero 
nas sociedades da Antiguidade e na sociedade atual, pois estamos falando do culto ao 
membro masculino. Nele pode estar implícita a “relação sexual”, a fertilidade, a 
felicidade, a sorte, mas ainda assim, estamos atribuindo todas essas qualidades ao 
membro masculino, portanto exaltando algo que não está presente em todos 
indivíduos. 
“O Falo nos rituais dionisíacos tinha uma conotação de virilidade sexual, 
mas ao mesmo tempo moral. Ele representava a força e a valentia, 
soberania e a potência, intercalado como símbolo do poder político 
representado pelos homens.” (MOREIRA, Giselle) 
Como militante feminista e mulher que sofre as opressões cotidianas 
decorrentes da construção de uma sociedade patriarcal, sinto-me muito incomodada 
com a naturalização com que estudamos as exaltações fálicas nos estudos de Artes 
Cênicas e de Artes Visuais. O material que se propõe a questionar e a problematizar o 
falocentrismo da Antiguidade e do deus Dionísio é extremamente escasso. Quase 
todos os estudos a cerca desses rituais perpetuam a ideia de que o falo simbolizava o 
poder criador, aquele que fecunda, e não discutem sobre o caráter opressor desses 
rituais. 
A obrigatoriedade do culto ao pênis é citada por Alain Danielou: “aquele que 
não venera o falo divino, fonte de toda a vida, está destinado à destruição, ao erro, à 
loucura, à morte física e espiritual”. (DANIELOU, Alain pag. 41). 
Assim como o princípio da catarse foi estudado e criticado por Augusto Boal e 
apontado como um modelo de coerção e repressão, o culto ao falo também deve ser 
estudado como uma prática que instituiu a dominância masculina pois atribuiu ao 
membro masculino o princípio de fertilidade, fecundação e sua adoração. 
É importante lembrar que, diante da veneração do falo, o corpo da mulher é 
visto como um receptáculo passivo e submisso à espera daquele que detém todo 
poder da criação. Ao corpo que nutre o feto e o gera em seu ventre nenhum canto era 
entoado e à mulher todas as restrições eram impostas. Segundo Bourdie: 
Não é o falo (ou a falta de) que é o fundamento destavisão de mundo 
[androcêntrica], e sim é essa visão de mundo que, estando organizada 
segundo a divisão em gêneros relacionais, masculino e feminino, pode 
instituir o falo, constituído em símbolo da virilidade, de ponto de honra 
caracteristicamente masculino; e instituir a diferença entre os corpos 
biológicos em fundamentos objetivos da diferença entre os sexos, no 
sentido de gênero, construídos como duas essências sociais 
hierarquizadas. BOURDIEU, 2002, p. 43 
 O privilégio do falo é visto até mesmo na psicanálise, cujos estudos e críticas 
feministas seguem com grande avanço quanto a essa visão falocêntrica. O Complexo 
de Édipo de Freud é um dos exemplos de como a exaltação do membro masculino 
reverberou na contemporaneidade. Segundo Freud, as mulheres possuem inveja do 
pênis, em suas palavras: 
Não é senão com o surgimento do desejo de ter um pênis que a 
boneca-bebê se torna um bebê obtido de seu pai e, de acordo com isso, 
o objetivo do mais intenso desejo feminino. Sua felicidade é grande se, 
depois disso, esse desejo de ter um bebê se concretiza na realidade; e 
muito especialmente assim se dá, se o bebê é um menininho que traz 
consigo o pênis tão profundamente desejado (FREUD, [1933] 1976, p. 
158). 
 Desde então, a sociedade patriarcal intitulou o falo, por conseguinte aquele que 
o possui, como organizador da ordem social. Criando um sistema de significantes 
excludente e hierárquico baseado em um só sexo e na sua supremacia. O que está 
em pauta, portanto, é a reflexão de “novos significantes, de maneira a produzir um 
sistema de significados que permitam ao imaginário feminino e ao simbólico feminino 
ser verdadeiramente parte integrante da nossa cultura que hoje exila as mulheres” 
(POLLOCK, 1996:75 Abud PLATEAU, 2003). 
 
 
BIBLIOGRAFIA: 
BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 3 v. 
BOURDIE, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999. 
DANIELOU, Alain. Shiva e Dionísio. 1 ed. Martins Fontes, 1989 
FÉRAL, Cláudia Manoel Rached. Da Festividade do KOMOS primitivo a festividade do 
AGON na comédia. In: Memoria & Festa. Ed. Mauad, 2005. 
 
FREUD, S. Conferência XXXIII: Feminilidade (1933 [1932]). In: ______. Novas conferências 
introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos. Direção-geral da tradução de Jayme 
Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 139-165. (Edição standard brasileira das obras 
psicológicas completas de Sigmund Freud, 22). 
FUNARI, Pedro Paulo. Falos e relações sexuais – Representações romanas para além da 
“natureza”. In: Amor, desejo e poder na Antiguidade, relações de gênero e representações do 
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Unicamp, 2003, p. 317-325. 
MATA, Giselle Moreira da. As Bacantes de Eurípedes: Menadismo e Falocentrismo na Pólis 
Ateniense Clássica. In: Alétheia: Revista de estudo sobre Antiguidade e Medievo, Vol. 1- Jan a 
Jul de 2010. Disponível em: < 
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PAULO, Gustavo Vargas de. Dionísio: Interpretações, psicológicas, teológicas e históricas. 
Disponível em: < http://br.monografias.com/trabalhos905/interpretacoes-psicologicas-
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ROSOSTOLATO, Breno. Cultura do falo. In: Be Style- revista online, 06/05/2014. Disponível 
em: < http://www.bestyle.com.br/ferroada/2014/5/a-cultura-do-falo> Acessado em: 03 jul 2015. 
TVARDOVKAS, Luana Saturnino. Rosários e Vibradores: Interferências feministas da Artes 
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Disponível em: < 
http://historiacultural.mpbnet.com.br/artigos.genero/luana/TVARDOVSKAS_Luana_Saturnino-
Rosarios_e_vibradores.pdf> Acessado em: 02 jul 2015 
	FÉRAL, Cláudia Manoel Rached. Da Festividade do KOMOS primitivo a festividade do AGON na comédia. In: Memoria & Festa. Ed. Mauad, 2005.
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	PAULO, Gustavo Vargas de. Dionísio: Interpretações, psicológicas, teológicas e históricas. Disponível em: < http://br.monografias.com/trabalhos905/interpretacoes-psicologicas-teologicas/interpretacoes-psicologicas-teologicas.shtml> Acessado em: 03 jul...

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