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É Possível Conhecer a Deus?

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Jovens Adoradores
Estudos Bíblicos Evangélicos
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É Possível Conhecer a Deus?
Quando Deus falou: “[...] assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os
meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do
que os vossos pensamentos” (Isaías 55.8), o que, exatamente, quis dizer? Essa frase de Deus
me provocou muito e me levou a refletir profundamente sobre o modo de pensar humano, bem
como sobre os modelos científicos e filosóficos que temos muitas vezes como livros de bolso. A
gênese desse meu pensamento foi a reflexão acerca da dificuldade que nós, cristãos, muitas
vezes temos ao lidar com certos questionamentos proferidos por céticos quanto à existência de
Deus. Em momentos assim, não raramente ficamos sem poder dar uma resposta minimamente
convincente ao interlocutor. Isso evidencia uma coisa: não será pensando como costumamos
pensar e falando como falamos hoje que chegaremos a respostas referentes a Deus, à sua
natureza e ao seu pensamento. Penso que a verdade sobre Deus e a explicação do porque de
suas ações (expressas na Bíblia e no nosso cotidiano) jamais serão alcançadas por nós,
simples mortais. Pobre conclusão esta minha! Porque a Bíblia já nos fornece uma reflexão
sobre isso. Paulo, certa vez, ao defender a nossa fé em Deus, a qual já no seu tempo era
rechaçada e estigmatizada como devaneio, proferiu as seguintes palavras: “Quem conheceu a
mente de Cristo, para que possa instruí-lo?” Segundo o apóstolo, somente o Espírito de Deus
(e mais ninguém) pode conhecer, no sentido amplo da palavra, o Supremo Ser, ou seja,
somente ele próprio (pois, Pai, Filho e Espírito Santo são a mesma pessoa – 1João 5.7) pode
conhecer-se totalmente.
Não é inédita a nossa dificuldade em aceitar que não podemos conhecer e descrever, sem
erros, alguma coisa. Mas, se na nossa filosofia há quem admita que é impossível apreender a
essência de um objeto qualquer, creio que não estejamos muito longe de assumir nossa total
ignorância quanto ao conhecimento de Deus. Na verdade, acredito que o que cremos conhecer
sobre Deus é apenas fruto do estudo dos fenômenos por Ele produzidos. Um desses
fenômenos é a nossa existência. A medicina, a psicologia, a filosofia e outras disciplinas, pois,
se lançam a investigar tal fenômeno e, como é evidente, não são muitas as conclusões aceitas
por unanimidade e, se houvesse alguma com tal aceitação, estaria também condenada à
dúvida, pois a ontologia como um todo permanece insaciada por causa da incompletude das
afirmações acerca da existência humana. Essa incompletude se dá a partir do momento em
que, por um lado, se tem uma teoria que, embora muitas vezes consistente, não possui aporte
empírico para completar a lacuna de suas proposições e, por outro lado, quando se tem dados
empíricos cuja interpretação é insatisfatória do ponto de vista lógico. Ora, percebemos que a
dúvida não assola apenas a teologia, mas todo tipo de expressão do pensamento humano.
Logo, todas as disciplinas que, de forma direta ou indireta, buscam respostas acerca da
existência humana (e da existência como um todo), estão próximas umas das outras,
compelidas pela força centrípeta da incerteza.
Pode ser dolorosa a minha seguinte proposição, sobretudo àqueles cujo ego constitui-se num
baluarte intransponível que guarda a sua altivez, mas vejo como extremamente necessário a
expor. O que defendo aqui é a tese de que o elemento limitador do pensamento humano é ele
próprio. Ou seja, sempre que empreendermos alguma reflexão, estaremos coercitivamente
predestinados a percorrer apenas campos que estejam dentro dos limites do nosso
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pensamento e dentro dos modelos conceituais universais que a nossa capacidade lógica
desenvolveu. Essa tendência se manifesta, por exemplo, na antropopatia, isto é, no ato de
atribuirmos características humanas a objetos não humanos exteriores a nós. Assim, os que
acreditam que possa haver vida inteligente além da terra, por exemplo, costumeiramente se
referem aos seres extraterrestres como pequenos homens ou como humanoides e, quando se
afastam um pouco da sua identificação humana, os imaginam como seres que possuem uma
caricatura da nossa anatomia (confesso não ser este um exemplo muito rico, mas nos serve
como ilustração). Tal tendência nos desabilita ao objetivo de conhecer coisas transcendentais,
como o próprio Deus; em parte, porque será difícil não lhe atribuirmos características humanas.
Ressalto que o conhecimento ao qual me refiro é aquele completo e inteiro, considerando-se a
essência e a aparência das coisas.
Não por acaso, o próprio Rei dos reis falou a Balaque, certa vez: “Deus não é homem, para
que minta [...]” (Números 23.19), evidenciando a tendência antropopática de nós, humanos.
Talvez, o fato de o Criador proibir ao homem a árvore da ciência se devesse ao ímpeto cada
vez mais ambicioso que o pensamento provoca, deixando o ser humano cada vez mais ávido
pelo conhecimento. E, mais do que isso, talvez a proibição tenha ocorrido em virtude do fato de
a busca pelo conhecimento profundo, acerca da essência das coisas, ser um empreendimento
sem retorno satisfatório para os seres humanos. Em outras palavras, por mais que o ser
humano busque o conhecimento essencial de todas as coisas, jamais o poderá alcançar. Isso
porque, mesmo que conseguíssemos extrair dados suficientes e cabais sobre a essência de
todas as coisas, talvez fôssemos incapazes de interpretá-los; o que não é difícil de imaginar,
tendo em vista a nossa incapacidade, por exemplo, de ver seres microscópicos que supomos
existir, os quais, mesmo diante dos mais sofisticados microscópios, permanecem invisíveis ao
nosso olhar. Posto isso, pode surgir o questionamento: o homem pode, a qualquer momento,
desenvolver um microscópio capaz de ampliar a nossa visão de tal forma que passemos a
conseguir visualizar esses diminutos seres. A isto, responderia que, sim, é extremamente
possível tal ocorrência. Mas a questão na qual adentro vai além da capacidade humana de ter
experiências imediatas. Isto é, ainda que alcançássemos tal proeza, estaríamos sob o efeito
anestésico da impossibilidade de conhecer esses seres na sua essência. Na verdade, a única
façanha que nos poderia possibilitar tal conhecimento seria ver essas criaturas do seu próprio
ponto de vista, ou seja, nos tornando como elas; o que é lógica e fisicamente impossível. Além
disso, que garantia teríamos de que tais micróbios não são incapazes, como nós, de conhecer
a própria existência em sua totalidade? É evidente que esta minha proposição provavelmente
não se constitua numa novidade. Muitas pessoas já devem ter pensado de tal maneira, embora
poucas (ou nenhuma) tenham publicado escritos para sua explicação. Fato é que as únicas
leituras diretamente ligadas a questões teológicas que fiz para basear este meu pensamento
constam na Bíblia. Entretanto, de modo análogo, outros pensadores de outras áreas do
conhecimento chegaram a conclusões parecidas com as minhas, embora, evidentemente, se
trate de áreas diferentes. O psicanalista Jacques Lacan, por exemplo, concluiu que é
impossível chegar ao significado último dos conteúdos inconscientes, acessados através da
análise da linguagem. Por seu turno, o pai da psicologia analítica, Carl Gustav Jung, desistiu da
procura da origem dos arquétipos, percebendo a sua incapacidade, enquanto humano, de
obter êxito nessa aventura. Esses fatos evidenciam que, aparentemente, como disse
anteriormente, o máximo que podemos conhecer é o fenômeno manifesto por uma
determinada essência, seja ela a psique, a natureza ou o próprio Deus; isso porque nossa
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capacidade intelectual não pode transpor a barreira da superficialidade e adentrar à essência
de todas as coisas. Mesmo Moisés, que tinha grande intimidade com o Todo Poderoso, não
conseguiu conhecê-lo em sua essência (Êxodo33.20). Deus deve ser mesmo um ser dotado
de uma energia tal que nos mataria instantaneamente, caso o víssemos! Tudo isso assim é
porque os nossos pensamentos são limitados e inferiores aos do Deus criador, cujos intentos e
ações não têm limites. Considerar como legítimo tudo o que falo aqui demanda o simples e
poderoso fenômeno da fé (Hebreus 11.1), mas também é possível a partir da reflexão através
da razão, condição não ausente naquele que tem a fé em Deus. Concluo reconhecendo que
não sou o dono da verdade, tampouco possuo a perfeição.
Samuel Melo - Redação Jovens Adoradores
Imagem: efranciscogomes.com
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