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1656344 ANALISE JURIDICA DA NOVA LEI DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 1

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Este material tem a finalidade didática 
de trazer aos intérpretes e operadores 
do Direito os aspectos relevantes da 
alteração legislativa perpetrada pela 
Nova Lei de Organizações Criminosas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE JURÍDICA DA NOVA LEI DE 
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
 
Publicada no Diário Oficial da União 
em 05 de agosto de 2013, a Nova Lei 
das Organizações Criminosas, Lei 
12.850/13, entrou em vigor quarenta e 
cinco dias depois, em 19 de setembro 
do mesmo ano, trazendo consigo uma 
enorme carga de mudanças 
conceituais e, sobretudo, estruturais, 
no que se refere ao combate ao crime 
organizado no Brasil. Como expresso 
no próprio diploma legal, a Lei se 
presta a conceituar a organização 
criminosa e dispor sobre sua 
investigação criminal, os meios de 
obtenção da prova, infrações penais 
correlatas e o procedimento criminal. 
Além disso, altera alguns dispositivos 
do nosso Código Penal, revoga 
expressamente a Lei nº 9.034/95 e dá 
outras providências. 
O neófito estatuto, em consequência 
de suas inovações, abre um imenso 
leque de questionamentos acerca dos 
institutos ali tratados. É o ocorre com 
a nova conceituação de organização 
criminosa, que destoa da antiga 
definição trazida pela Lei 12.694/12, e 
que diverge também do conceito 
1. INTRODUÇÃO À ALTERAÇÃO LEGISLATIVA: 
 
 
trazido pela Convenção de Palermo, 
problemática que abordaremos 
detalhadamente mais adiante. O fim ou 
não do descontrole jurisdicional na 
Ação Controlada também é ponto que 
já alvitra certa cautela por parte dos 
aplicadores e intérpretes do Direito. 
Seguindo a mesma linha, outro tópico 
- que certamente aflorará debates 
doutrinários - diz respeito aos 
procedimentos relativos à Colaboração 
Premiada, análise esta que trataremos 
em tópico específico. Outrossim, sob o 
ponto de vista do conflito aparente de 
normas, no que diz respeito aos crimes 
de associação para o tráfico, 
associação criminosa e organização 
criminosa, nos prestaremos neste 
trabalho a esmiuçar as diferenças, por 
vezes sutis, entre os diversos institutos. 
Didaticamente e levantando as 
principais matérias trazidas pela Lei 
12.850/13, abordamos com amplitude 
a inovação legislativa em epígrafe, 
transformando este projeto num 
verdadeira manual da temática 
abordada para seu leitor. 
 
 
 
 
 
LEI 12.850, DE 05 
DE AGOSTO DE 
2013 
 
 
Filipe Martins Alves Pereira 
 
Graduado em Direito pela 
Universidade Estácio de Sá. 2011. 
Rio de Janeiro. 
Contato: lipezmartins@hotmail.com 
 
Rafael de Vasconcelos Silva 
 
Graduando em Direito pela 
Universidade Estadual da Paraíba. 
Formado em Perícias Criminais pela 
Academia de Polícia do Estado da 
Paraíba. 2010. 
Contato: rafael_vsilva@hotmail.com 
 
 
“Para chegar aonde poucos chegam, 
é preciso fazer o que poucos fazem”. 
(Autor desconhecido) 
 
 
 
2 | P á g i n a 
 
 
2. ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CRIME ORGANIZADO 
 
A ação criminal organizada remonta séculos passados, sendo reportada, entre outros, à 
Inglaterra do Século XVIII com a gangue de Jonathan Wild, líder de um grupo que tinha como 
principal objetivo saques, furtos e roubos perpetrados na capital inglesa. Nos EUA, entre as 
décadas de 20 e 30, com a Volstead Act, conhecida como Lei Seca, norma que proibia a 
fabricação e o consumo de álcool no país, surgia Al Capone e seus gangsters 
contrabandeando bebidas alcoólicas, sobretudo do Canadá. Nas décadas seguintes, o crime 
organizado teve como escopo os jogos ilegais, a prostituição e, finalmente, na década de 70, 
o tráfico ilícito de entorpecentes1. 
 
Em cada país ou região o crime organizado recebe nomenclatura diferenciada. Na Itália, 
costumam chamar de Maffia os grupos que compõem o crimine organizzato. No oriente, 
denomina-se Tríade na China; e Yakuza no Japão. Em países como Colômbia e México são 
tratados como Cartel. Na Rússia são conhecidos como Bratvas. Em nosso país, os Comandos 
(ex. PCC, Comando Vermelho e Terceiro Comando) dominam grande parte das organizações 
criminosas nacionais, tendo como pilar de sustentação o tráfico de drogas. Denominações 
estas que não excluem, por óbvio, outras organizações, em especial as formadas pelos 
“colarinhos brancos”, geralmente inominadas, mas que representam perigo igual, se não 
pior, à coletividade e à ordem jurídica posta. 
 
Nos dias atuais, as organizações criminosas têm demonstrado significativo aumento de 
estruturação, organização, capital e grau de influência em órgãos do estado. O célebre 
cineasta, escritor e roteirista norte-americano Woody Allen bem resumiu a atual situação: “O 
crime organizado na América rende 40 bilhões de dólares. É muito dinheiro, principalmente 
quando se considera que a Máfia quase não tem despesas de escritório”. São, portanto, 
verdadeiras empresas, atuando de forma globalizada, refinadamente, aliciando – por vezes - 
detentores de altas patentes do serviço público, hierarquizando formalmente as operações, 
atuando por trás de empresas de fachada ou até mesmo de companhias fantasmas. Agem em 
conjunto com o poder público, sorrateiramente, ou com grupos de criminosos privados, 
ostensivos e violentos, mas que, de uma forma ou de outra, tem como objetivo final a 
obtenção de vantagem financeira ilícita. São um verdadeiro “câncer” na sociedade. 
 
Temos, pois, uma economia globalizada, um crime organizado e, de outro lado, uma 
legislação nacional e internacional essencialmente desestruturada, desatualizada e falha, que 
não acompanhou a evolução daqueles segmentos. Hoje, pagamos o preço desse descaso e 
temos que verdadeiramente avançar para tentar combater a criminalidade organizada. Este, 
sem dúvida, é um dos propósitos da Lei 12.850/13. 
 
 
 
 
1 VICTORIA, Artur. Artigo “Criminalidade Organizada – Origem e Evolução”, disponível em https://sites.google.com/site/ 
arturvictoriaartigoseensaios/Home. Acesso em 10 de setembro de 2013. 
 
3 | P á g i n a 
 
3. A TRÍPLICE CONCEITUAÇÃO SOCIOLÓGICA DE FERRAJOLE 
 
O nobre jurista e professor italiano Luigi Ferrajole apontou, como bem apresenta Luiz Flávio 
Gomes2, três grupos de crime organizado, essencialmente distintos entre si, que constituem 
faces de uma mesma moeda, causadores – ainda que de maneiras distintas - do mesmo mal à 
coletividade, conforme veremos a seguir. 
 
3.1. Criminalidade organizada estruturada por poderes criminais privados 
 
São os bandos violentos, os chamados grupos agressivos, que contam com substantivo 
poderio econômico. É o caso dos Comandos brasileiros (PCC, CV e TC). Agem formando uma 
verdadeira empresa exploradora de mão-de-obra local e barata (células), intimidando a 
população local com crueldade e demonstrações de poder bélico. Têm pouca infiltração no 
poder público. O principal crime cometido, fonte de sustentação do sistema ilícito, é o tráfico 
de drogas. Operam paralelamente ao Estado. 
 
3.2. Criminalidade organizada estruturada por poderes econômicos privados 
 
Utiliza-se de grandes empresas para cometer seus ilícitos, prezando, geralmente, pelo uso da 
não violência. Essas corporações infiltram-se no aparelho do Estado e investem mais em 
corrupção de agentes públicos do que em atos de violência para realizar seus ilícitos 
camuflados e ampliar cada vez mais seu poder. Nasce no mundo empresarial e, aos poucos, 
vai se incutindo dentro do poder público. Cometem, especialmente, os crimes de corrupção, 
lavagem de dinheiro, fraudes a licitações e crimes contra o meio ambiente. Podemos citar 
como atuaisexemplos os casos das empresas Siemens, Alston, Bombardier e CAF. Funcionam 
transversalmente ao setor público. 
 
3.3. Criminalidade organizada estruturada por agentes públicos 
 
É o crime de colarinho branco propriamente dito, composta pelas elites, pessoas acima de 
qualquer suspeita, detentoras de poder de decisão do setor público. Desviam, com isso, 
dinheiro dos cofres públicos em benefício próprio. Praticam, sobretudo, os crimes de 
exploração de prestígio, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e corrupção. Ocorre em 
casos como o do “Mensalão”, por exemplo. Nascem e agem dentro do setor público. 
 
4. A EVOLUÇÃO NO CONCEITO LEGISLATIVO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO BRASIL 
 
No Brasil, há três grandes marcos conceituais para organizações criminosas. Antes, ainda em 
1995, foi publicada a, hoje já revogada, Lei 9.034 que dispunha sobre a utilização de meios 
operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. 
No entanto, lamentavelmente, não trazia no bojo do seu texto a definição legal de 
organização criminosa, ficando a cargo da doutrina tentar, sem sucesso, conceituar o 
instituto. Foram anos sem nenhum respaldo legal, até o surgimento de um primeiro conceito. 
 
2 GOMES, Luiz Flávio. Artigo “Criminalidade Econômica Organizada”, disponível em http://atualidadesdodireito.com.br/ 
lfg/2013/08/29/criminalidade-economica-organizada. Acesso em 10 de setembro de 2013. 
 
4 | P á g i n a 
 
4.1. O conceito da Convenção de Palermo 
 
O ordenamento jurídico brasileiro esteve órfão de uma definição desde a publicação da Lei 
9.034/95 até a entrada em vigor do Decreto nº 5.015 de 2004, que promulgou a Convenção 
das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, conhecida como Convenção de 
Palermo, adotada em Nova York em novembro de 2000. 
 
Embora tenha sido adotada em solo norte-americano, a Convenção de Palermo detém essa 
nomenclatura devido ao fato de que este instrumento internacional e multilateral teve três 
de quatro instrumentos assinados na cidade de Palermo, na ilha de Sicília, na Itália, tendo 
sido subscrito por 147 países, que se comprometeram a definir e combater o crime 
organizado. Na esfera da Organização dos Estados Americanos (OEA), a Convenção de 
Palermo foi objeto de Resolução, aprovada na XXX Assembleia Geral, contando com o apoio 
do Governo brasileiro. 
 
Preceitua a dita Convenção que Grupo Criminoso Organizado é: “grupo estruturado de três 
ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de 
cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a 
intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício 
material”. Define ainda o texto da Convenção que “infração grave” refere-se aquela que 
“constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja 
inferior a quatro anos ou com pena superior”; e que “grupo estruturado” diz respeito a 
“grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que 
os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja continuidade na 
sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada”. 
 
Para boa parte da doutrina nacional, este deveria ser então o conceito a ser adotado pela 
ordem jurídica brasileira, aplicando-se os dispositivos previstos, sobretudo, na Lei 9.034/95. 
No entanto, contrariando esse entendimento, decidiu o Supremo Tribunal Federal, 
enfrentando o HC nº 96.007/SP, que o conceito trazido pela Convenção não deveria ser 
adotado para regular os procedimentos dispostos na Lei 9.034/95. Asseverou, na ocasião, o 
Ministro Marco Aurélio que “a definição emprestada de organização criminosa seria 
acrescentar à norma penal elementos inexistentes, o que seria uma intolerável tentativa de 
substituir o legislador, que não se expressou nesse sentido”. 
 
Não escapou, também, a adesão deste conceito pelo ordenamento pátrio, das críticas 
doutrinárias. Luiz Flávio Gomes logo estampou e enumerou os vícios decorrentes deste 
acolhimento: em primeiro lugar, a definição de crime organizado trazida pela Convenção de 
Palermo é por demais ampla, genérica, e viola a garantia da taxatividade, corolário do 
princípio da legalidade. Em segundo, o conceito apresentado tem valor para nossas relações 
com o direito internacional, não com o direito interno. Por último, as definições preceituadas 
pelas convenções ou tratados internacionais jamais valem para reger nossas relações com o 
 
5 | P á g i n a 
 
Direito penal interno em razão da exigência do princípio da democracia (ou garantia da lex 
populi)3. 
 
4.2. A definição legislativa na Lei 12.694 de 2012 
 
Finalmente, em julho de 2012, surge a primeira conceituação legislativa de organizações 
criminosas. Trata-se da Lei 12.694 que dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em 
primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas. Essencialmente 
processual, a Lei não se esquivou de conceituar o tema. Reza o diploma, em seu art. 2º: “Para 
os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais 
pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) 
anos ou que sejam de caráter transnacional”. 
 
Desta forma, notável que o legislador pátrio não adotou o mesmo conceito da Convenção de 
Palermo, alvitrando suaves, porém significativas, alterações. Conforme lição de Rogério 
Sanches Cunha4: 
1) Modificou o rol de infrações sobre as quais podem incidir a caracterização de crime 
organizado, passando a ser apenas os crimes de pena máxima igual ou superior a 4 
anos ou crimes, qualquer seja a pena, desde que transnacionais. O antigo conceito 
englobava qualquer infração penal, crimes ou contravenções, com pena máxima 
também igual ou superior a 4 anos e, ainda, as infrações previstas na própria 
Convenção. 
2) O objetivo do grupo no conceito da Convenção deveria ser a obtenção de vantagem 
econômica ou benefício material; enquanto que na Lei 12.694/12 este objetivo seria a 
obtenção de vantagem de qualquer natureza, inclusive a não-econômica. 
Imperioso destacar que, embora o novo conceito trazido tenha âmbito de aplicação definido 
como “para efeitos desta Lei”, a Doutrina não hesitou ao afirmar que essa definição não se 
restringia a esse instituto, abrangendo também os procedimentos previstos na Lei 9.034/95. 
 
4.3. O novo conceito trazido pela Lei 12.850/13 
 
Preceitua o novo estatuto que: “considera-se organização criminosa a associação de 4 
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam 
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”. 
 
 
3
 GOMES, Luiz Flávio. Definição de crime organizado e a Convenção de Palermo. Disponível em: http://www.lfg.com.br. 
Acesso em 09 de setembro de 2013. 
4 CUNHA, Rogério Sanches. LEI 12.694/12: breves comentários. Disponível em http://atualidadesdodireito.com.br/ 
rogeriosanches/2012/07/28/lei-12-69412-breves-comentarios-2/. Acesso em 11 de setembro de 2013. 
 
6 | P á g i n a 
 
As mudanças conceituais e tipológicas inovadas pela Lei 12.850/13 são evidentes e 
substanciais. A saber: 
 
1) O número mínimo de integrantes exigidos na nova compreensão legal passa a ser de 4 
(quatro) pessoas, e não apenas 3 (três) como previa a lei anterior. 
2) Anova definição deixa de abranger apenas crimes, passando a tratar sobre infrações 
penais, que incluem crimes e contravenções (art. 1º da Lei de Introdução ao Código 
Penal). Além disso, abarca infrações punidas com pena máxima superior a 4 (quatro) 
anos, e não mais as com pena máxima igual ou superior a este patamar. 
3) A prática de crimes com pena máxima igual a 4 (quatro) anos, que incluem o furto 
simples (art. 155, CP), a receptação (art. 180, CP), a fraude à licitação (art. 90, Lei 
8.666/90), restaram afastados da possibilidade de incidirem como crime organizado 
pelo novo conceito legal. Embora o contrabando e o descaminho (art. 318, CP) tenham 
pena máxima igual a 4 anos, estes são essencialmente transnacionais, razão pelo qual 
não estão excluídos na nova conceituação legal. 
4) A nova compreensão legal inovou também ao estender o conceito às infrações penais 
previstas em Tratados Internacionais quando caracterizadas pela internacionalidade; e 
ainda aos grupos terroristas internacionais. 
Por fim, oportuno recordar que a Lei 12.850/13 - pela primeira vez – tipificou as condutas de 
organização criminosa, transformando-as em crime autônomo, o que abordaremos mais 
profundamente em tópico específico. 
 
4.4. Quadro-comparativo: evolução do conceito de organização criminosa 
CONVENÇÃO DE PALERMO LEI 12.694/12 LEI 12.850/13 
Grupo estruturado de três ou 
mais pessoas (3+). 
Associação de três ou mais 
pessoas (3+). 
Associação de quatro ou mais 
pessoas (4+). 
Existente há algum tempo e 
atuando concertadamente. 
Estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão 
de tarefas. 
Estruturalmente ordenada e 
caracterizada pela divisão de 
tarefas. 
Intenção de obter, direta ou 
indiretamente, um benefício 
econômico ou outro benefício 
material. 
Objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem 
de qualquer natureza. 
Objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de 
qualquer natureza. 
Propósito de cometer uma ou 
mais infrações graves (4+) ou 
enunciadas na presente 
convenção. 
Prática de crimes com pena 
máxima igual ou superior a 4 
anos ou de caráter 
transnacional (4+). 
Prática de infrações penais com 
pena máxima superior a 4 anos (5+) 
ou de caráter transnacional. 
 Infrações previstas em tratado ou 
convenção (internacionalidade) ou 
por organizações terroristas 
internacionais. 
DE 2003/2004 DE 2012 DE 2013 
 
7 | P á g i n a 
 
4.5. Aparente coexistência entre os conceitos da Lei 12.694/12 e da Lei 12.850/13 
 
A Lei 12.694/12, que disciplina o julgamento colegiado em primeiro grau, conceitua 
organização criminosa. Igualmente, a Lei 12.850/13 também traz uma definição, fato este 
que impulsionou parte da doutrina a se posicionar pela existência, hoje, de dois conceitos de 
organização criminosa coexistindo na ordem jurídica nacional. 
 
Neste sentido, Rômulo de Andrade Moreira5, defende que: “esta nova definição de 
organização criminosa difere, ainda que sutilmente, da primeira (prevista na Lei nº. 
12.694/2012) em três aspectos, todos grifados por nós, o que nos leva a afirmar que hoje 
temos duas definições para organização criminosa: a primeira que permite ao Juiz decidir 
pela formação de um órgão colegiado de primeiro grau e a segunda (Lei nº. 12.850/2013) que 
exige uma decisão monocrática. Ademais, o primeiro conceito contenta-se com a associação 
de três ou mais pessoas, aplicando-se apenas aos crimes (e não às contravenções penais), 
além de abranger os delitos com pena máxima igual ou superior a quatro anos. A segunda 
exige a associação de quatro ou mais pessoas (e não três) e a pena deve ser superior a quatro 
anos (não igual). Ademais, a nova lei é bem mais gravosa para o agente, como veremos a 
seguir; logo, a distinção existe e deve ser observada”. 
 
Em sentido contrário, ensina o ilustre professor-doutor Cezar Roberto Bitencourt6 que: 
“admitir-se a existência de “dois tipos de organização criminosa” constituiria grave ameaça à 
segurança jurídica, além de uma discriminação injustificada, propiciando tratamento 
diferenciado incompatível com um Estado Democrático de Direito, na persecução dos casos 
que envolvam organizações criminosas. Levando em consideração, por outro lado, o disposto 
no §1º do art. 2º da Lei de introdução as normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei 
4.657/1942), lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja 
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
Nesses termos, pode-se afirmar, com absoluta segurança, que o § 1º do art. 1º da Lei 
12.850/2013 revogou, a partir de sua vigência, o art. 2º da Lei 12.694/2012, na medida em 
que regula inteiramente, e sem ressalvas, o conceito de organização criminosa, ao passo que 
a lei anterior, o definia tão somente para os seus efeitos, ou seja, “para os efeitos desta lei”. 
Ademais, a lei posterior disciplina o instituto organização criminosa, de forma mais 
abrangente, completa e para todos os efeitos”. 
 
Seguindo o posicionamento de Bitencourt, sem nenhum demérito aos argumentos contrários 
expostos, entendemos que a conceituação trazida pela Lei 12.694/12, e somente ela, em seu 
art. 2º, foi tacitamente revogada pelo §1º do art. 1º da Lei 12.850/13. 
 
 
 
 
5 MOREIRA, Rômulo Andrade. A nova lei de organização criminosa – Lei Nº. 12.850/2013, 1ª ed., Porto Alegre, Ed. Lex 
Magister, 2013, p. 30-1 (no prelo). 
6
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Primeiras Reflexões sobre Organização Criminosa – Anotações à Lei 12.850/13. Disponível 
em http://atualidadesdodireito.com.br/cezarbitencourt/2013/09/05/primeiras-reflexoes-sobre-organizacao-criminosa/. 
Acessado em 09 de setembro de 2013. 
 
8 | P á g i n a 
 
5. O CRIME AUTÔNOMO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
 
De forma inédita o legislador brasileiro resolveu por tipificar autonomamente as condutas 
caracterizadoras do crime de Organização Criminosa. Prescreve o art. 2º da Lei 12.850/13: 
“Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, 
organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das 
penas correspondentes às demais infrações penais praticadas”. 
 
5.1. Classificação jurídica do delito 
 
O delito em epígrafe constitui crime permanente, isto é, sua consumação se protrai no 
tempo. Além do mais, esta permanência é necessária, visto que para sua configuração exige-
se que o organismo seja estruturalmente ordenado e caracterizado pela divisão de tarefas, 
sendo necessária, portanto, certa permanência de existência e funcionamento. Ademais, 
trata-se de crime formal, que se consuma com a simples associação de pessoas, 
independentemente da consumação dos crimes que motivaram a formação da organização. É 
crime comum (que pode ser praticado por qualquer pessoa); plurissubjetivo (de concurso 
obrigatório de no mínimo quatro pessoas) e; de condutas paralelas (mútuo auxílio dos 
agentes). O bem jurídico tutelado é a paz pública e o sujeito passivo é a coletividade. Afora 
isso, é delito comissivo, doloso, de ação penal pública incondicionada, de perigo comum 
abstrato, unissubsistente. Tem como verbos-núcleos ‘promover’, ‘constituir’, ‘financiar’ ou 
‘integrar’, constituindo tipo misto alternativo. 
 
5.2. Conflitos aparentes entre normas penais 
 
Com a irrupção de um novo crime em nossa legislação, necessária se torna a reanálise do 
ordenamento jurídico-penal pátrio, a fim de estabelecer os limites de aplicação da novatio 
legis incriminadora, conforme, por evidente, a taxatividade penal imposta, mas também 
tendo como parâmetro os outros delitos que vigoram no país, elucidando os eventuais 
aparentes conflitos de normas. 
 
Nesse diapasão, destacam-se os fatos quepossam compor, por subsunção, os crimes de 
associação criminosa (novo art. 288 do CP – vide tópico 6), associação para o tráfico (art. 35, 
Lei 11.343/06), associação para o genocídio (art. 2º, Lei 2.882/56) e constituição de milícia 
privada (art. 288-A, CP) em conflito, ilusório, com o crime de organização criminosa do art. 2º 
da Lei 12.850/13. 
 
Destarte, vejamos a análise caso a caso: 
 
5.2.1. Associação Criminosa vs. Organização Criminosa: não se confundem. O 
primeiro requer a participação de no mínimo 3 (três) pessoas, enquanto que neste o 
número mínimo de integrantes deverá ser 4 (quatro). A finalidade da associação 
criminosa é especificamente cometer crimes; enquanto que na organização criminosa 
o objetivo é obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, tendo 
como caminho a prática de infrações penais graves. Com efeito, caso uma associação, 
visando obtenção de vantagem, composta de quatro ou mais pessoas, pratique crimes 
 
9 | P á g i n a 
 
que tenham pena máxima superior a 4 anos cometerá o delito previsto na Lei 12.850; 
se, no entanto, faltar qualquer desses requisitos, ou seja: se o crimes cometidos 
tiverem pena máxima igual ou inferior a quatro anos; se o grupo for composto por 
menos de quatro sujeitos ou se o objetivo não for a obtenção de vantagem, estaremos 
diante, em tese, de um crime de Associação Criminosa. Por fim, válida a lembrança de 
que não basta para a caracterização da Organização Criminosa a junção de um grupo 
criminoso, tendo este que ser estruturado e caracterizado pela divisão interna de 
tarefas. Logo, o art. 288 do Código Penal é mais genérico e, portanto, subsidiário. 
 
5.2.2. Constituição de Milícia Privada vs. Organização Criminosa: não há maiores 
embaraços aqui. Nesse contexto, bem explica o professor Adel El Tasse7: “elemento de 
distinção importante é a necessidade de observância, em relação à “Constituição de 
Milícia Privada”, de que não é qualquer reunião de pessoas que dá margem a esta 
tipificação, mas apenas a que atende ao dado específico de constituir-se numa reunião 
de pessoas que promova a formação de organização paramilitar, milícia particular, 
grupo ou esquadrão”. Assim, como a Constituição de Milícia Privada é especializada, 
age como requisito negativo para configuração do crime de Organização Criminosa, 
isto é, para este restar configurado se faz necessário que o grupo não tenha 
característica paramilitar; nem atue como milícia ou esquadrão. 
 
5.2.3. Associação para o Tráfico vs. Organização Criminosa: reside aqui, sob nossa 
ótica, uma distinção que requer maior cautela para correta tipificação no caso prático. 
Essa análise prudente detém como base a seguinte dicotomia: caso a organização 
criminosa pratique o crime de tráfico de drogas, estaremos diante de uma associação 
para o tráfico (art. 35, Lei 11.343/06); se a organização criminosa, porém, pratica 
vários crimes, entre eles o de tráfico de drogas, então entendemos que fica 
caracterizado o crime do art. 2º da Lei 12.850/13, afastando-se a incidência da 
associação para o tráfico. Defendemos, assim, que não cabe aqui o concurso de 
crimes, sob pena de bis in idem. Com efeito, temos uma pluralidade de normas que 
engloba o mesmo conjunto de fatos, que protege o mesmo bem jurídico (paz pública) 
e tem os mesmos sujeitos passivos (a coletividade), razão pela qual só haverá uma 
norma incriminadora aplicável aos fatos. Resta saber como os Tribunais superiores se 
posicionarão a respeito desta temática, porquanto, caso seja enquadrada a conduta 
como organização criminosa, o agente terá restrições significativas, a saber: submissão 
aos meios de prova da Lei 12.850; sujeição ao RDD (LEP, art. 52, §4º); realização do 
interrogatório por videoconferência (CPP, art. 185, §2º, I); impossibilidade do tráfico 
privilegiado de drogas (Lei 11343, art. 33, §4º). Por fim, imprescindível saber que a 
associação para o tráfico requer, para sua caracterização, um número mínimo de duas 
pessoas; enquanto que a organização criminosa necessita de quatro. 
 
5.2.4. Associação para o Genocídio vs. Organização Criminosa: entendemos que se 
aplicam aqui as mesmas regras expostas no tópico anterior. 
 
 
7 TASSE, Adel El. Nova Lei do Crime Organizado. Disponível em: http://atualidadesdodireito.com.br/adeleltasse/2013/ 
08/22/nova-lei-de-crime-organizado/. Acesso em 10 de setembro de 2013. 
 
10 | P á g i n a 
 
5.3. Quadros-comparativos: principais diferenças entre os crimes 
 
1) Associação Criminosa (art. 288, CP) vs. Associação para o Tráfico (art. 35, Lei 
11.343/06) vs. Associação para o Genocídio (art. 2º, lei 2.882/56): 
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ASSOCIAÇÃO PARA O 
GENOCÍDIO 
Associarem-se três ou 
mais pessoas (3+). 
Associarem-se duas ou mais pessoas 
(2+). 
Associarem-se mais de 3 (três) 
pessoas (4+). 
Para o fim específico de 
cometer crimes. 
Para o fim de praticar, 
reiteradamente ou não, qualquer dos 
crimes previstos nos arts. 33, caput 
(tráfico de drogas) e § 1º (insumo; 
plantação; local), e 34 (tráfico de 
maquinário para drogas) desta Lei. 
Para prática dos crimes 
mencionados no artigo anterior 
(genocídio). 
Pena: Reclusão, de um a 
três anos. 
Pena: Reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) 
anos, e pagamento de 700 
(setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) 
dias-multa. 
Pena: Metade da cominada 
aos crimes ali previstos. 
DE 2013 DE 2006 DE 1956 
 
2) Número mínimo de integrantes para caracterização do delito: 
ASSOCIAÇÃO PARA 
O TRÁFICO 
ASSOCIAÇÃO 
CRIMINOSA 
ASSOCIAÇÃO P/ O 
GENOCÍDIO 
ORGANIZAÇÃO 
CRIMINOSA 
MILÍCIA 
PRIVADA 
2 (DOIS) 3 (TRÊS) 4 (QUATRO) 4 (QUATRO) - 
 
3) Abrangência de infrações e nível de especialidade das condutas de cada delito: 
ASSOCIAÇÃO 
PARA O TRÁFICO 
ASSOCIAÇÃO P/ 
O GENOCÍDIO 
MILÍCIA PRIVADA ORGANIZAÇÃO 
CRIMINOSA 
ASSOCIAÇÃO 
CRIMINOSA 
Baixa 
especialidade de 
condutas: 
associar-se. 
Baixa 
especialidade 
de condutas: 
associar-se. 
Alta 
especialidade de 
condutas: 
constituir, 
organizar, integrar, 
manter ou custear 
organização 
paramilitar, milícia 
particular, grupo 
ou esquadrão. 
Alta especialidade 
de condutas: 
promover, constituir, 
financiar ou integrar 
associação 
estruturalmente 
ordenada; divisão 
de tarefas; objetivo 
de obter 
vantagem. 
Baixa 
especialidade de 
condutas: 
associar-se. 
Baixa 
abrangência de 
infrações: Tráfico 
de drogas; 
insumos; 
plantação; local 
para o tráfico e 
maquinários (Lei 
11.343/06). 
Baixa 
abrangência de 
infrações: 
Genocídio (art. 
1º, Lei 2.889/56). 
Alta abrangência 
de infrações: 
qualquer crime do 
Código Penal. 
Média abrangência 
de infrações: 
Infrações Penais 
(crimes e 
contravenções) 
com pena superior 
a 4 anos. 
Alta abrangência 
de infrações: 
qualquer crime. 
 
11 | P á g i n a 
 
6. ALTERAÇÕES NO CÓDIGO PENAL 
 
6.1. Fim do crime de Quadrilha ou Bando (art. 288, CP) 
 
O artigo 288 do nosso Diploma Penal que possuía a seguinte redação: “(Quadrilha ou bando) 
Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: 
Pena - reclusão, de um a três anos”, passou a vigorar, a partir de 19 de setembro de 2013, 
com o seguinte texto: “(Associação Criminosa) Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o 
fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos”. Importante 
destacar que, embora não tenha havido alteração, a priori, na pena imposta (1 a 3 anos), 
ocorreu modificação no número mínimo de integrantes, que passou de 4 (quatro) para 3 
(três). Nasce então um novo tipo penal: associaçãocriminosa. 
 
Principal alteração, no entanto, ocorre no parágrafo primeiro do art. 288, que agrava a pena 
prevista no caput. Vejamos. No texto revogado constava que “A pena aplica-se em dobro, se 
a quadrilha ou bando é armado”; com a alteração, preceitua o texto novo que: “A pena 
aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou 
adolescente”. Em análise, nota-se que a agravante que poderia gerar uma pena máxima de 
até 6 (seis) anos (o dobro do máximo), agora só poderá originar pena máxima de 4 anos e 6 
meses (pena máxima mais metade), razão pela qual estamos diante de uma norma penal in 
mellius, que retroagirá, portanto, para beneficiar os agentes que cometeram tal delito com 
incidência da agravante de “uso de armas” antes da entrada em vigor da Lei 12.850/13. 
Entretanto, por outro lado, temos uma inovação normativa in pejus, no que se refere à 
agravante de “participação de criança ou adolescente”, que não alcançará, portanto, os fatos 
ocorridos antes de 19 de setembro de 2013. 
 
6.2. Quadro-comparativo: revogado crime de Quadrilha/Bando vs. Associação Criminosa 
 
6.3. Agravamento da pena no crime de Falso Testemunho ou Falsa Perícia (art. 342, CP) 
 
A pena para o crime de Falso Testemunho ou Falsa Perícia, passou de 1 (um) a 3 (três) anos 
para 2 (dois) a 4 (quatro) anos. Em consequência disso, afasta-se a possibilidade de uma 
propositura de suspensão condicional do processo por parte do Ministério Público que 
demanda pena mínima igual ou inferior a um ano (art. 89, Lei 9.099/90). 
 
 
 
QUADRILHA OU BANDO ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 
Associarem-se mais de três pessoas (4+). Associarem-se três ou mais pessoas (3+). 
Para o fim de cometer crimes. Para o fim específico de cometer crimes. 
Reclusão, de um a três anos. Reclusão, de um a três anos. 
A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha 
ou bando é armado. 
A pena aumenta-se até a metade se a associação é 
armada ou se houver a participação de criança ou 
adolescente. 
DE 1940 DE 2013 
 
12 | P á g i n a 
 
7. DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES 
 
7.1. História e Conceito 
 
Trata-se de instrumento investigativo com origem ligada ao período do Absolutismo Francês 
e conhecido mundialmente como Undercover Operations. A infiltração de agentes afigura-se 
como método de investigação em que membro da polícia judiciária se infiltra na organização 
criminosa participando da trama organizativa, utilizando-se de uma identidade falsa, 
concedida pelo Estado, e que possui como finalidade detectar a comissão de delitos e 
informar sobre suas atividades às autoridades competentes. Tudo isso com o escopo 
primordial de obter provas da prática de crimes e proceder à detenção de seus autores8. 
 
No Direito Comparado, a infiltração de agentes é meio investigativo e de prova encontrado 
em quase todos os países do mundo, à exceção de Luxemburgo9, ainda que em alguns 
ordenamentos esta figura não esteja positivada. O instituto emerge no Direito Brasileiro a 
partir da Lei 10.217/01, que alterou a atualmente revogada e tão criticada Lei 9.034/95. No 
que concerne às críticas, uníssona doutrina questionava a falta de regulamentação da 
infiltração de agentes, que, por via de consequência, tornava inexequível a aplicação do 
instituto em termos práticos. Nesse diapasão, como um avanço legislativo, eis que surge a Lei 
12.850/2013, revogando a Lei 9.034/95 e regulamentando o procedimento da infiltração de 
agentes, de modo a tornar palpável e exequível o procedimento que outrora era apenas uma 
falácia jurídica. 
 
Conforme Marcelo Batlouni sustenta: “As vantagens que podem advir da infiltração de 
agentes são de suma importância para a persecução penal, desvendando: fatos criminosos 
não esclarecidos, modus operandi da organização, nome dos “cabeças”, “testas de ferro”, 
bens, plano de execução do crime, agentes públicos envolvidos, nomes de empresas e outros 
mecanismos utilizados para lavagem do dinheiro”10. Destarte, o ordenamento jurídico 
brasileiro passa a dispor de um mecanismo de grande efetividade probatória que auxiliará a 
Polícia Judiciária e o Ministério Público a alcançar os fins coligidos pela norma constitucional e 
processual penal. 
 
7.2. A aplicação da medida de infiltração de agentes 
 
A novel lei expõe que a investigação através da infiltração de agentes deverá ser 
representada pelo Delegado de Polícia ou requerida pelo Ministério Público, após 
manifestação técnica do Delegado de Polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, 
será precedida motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites. Infere-
se do texto que há uma nova atribuição da autoridade policial, qual seja, de se manifestar 
 
8 PEREIRA, Flávio Cardoso. A Investigação Criminal Realizada por Agentes Infiltrados. R2 Direito, fev. 2008. Disponível em: 
http://www.r2learning.com.br/_site/artigos/curso_oab_concurso_artigo_979_A%5Finvestigacao%5Fcriminal%5Fr 
ealizada%5Fpor%5Fagentes%5Finfi. Acesso em: 10 set. 2013, f. 1-14. 
9
 ONETO, Isabel. O agente infiltrado – contributo para a compreensão do regime jurídico das acções encobertas. Coimbra: 
Coimbra editora, 2005. p 19; 96. 
10 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado – aspectos gerais e mecanismos legais. São Paulo. Atlas: 2007, p. 54. 
 
13 | P á g i n a 
 
quanto à infiltração de agentes. Parece-nos que o legislador reconhece a autoridade policial 
como capacitada para emitir parecer técnico e logístico a respeito da viabilidade da infiltração 
de agentes. Esta manifestação prévia, inegavelmente, tem natureza jurídica de ato 
administrativo e, por certo, não vincula a opinião do Ministério Público e nem mesmo do Juiz, 
possuindo caráter meramente informativo para fins de ulterior decisão do parquet e do 
magistrado. 
 
Convém notar que a Lei 12.850/13 compatibiliza-se com o entendimento sufragado pela 
Súmula Vinculante 14, pois, segundo expressa previsão legal, o pedido e a autorização judicial 
referente à infiltração de agentes serão sigilosos, de modo a garantir a higidez probatória e a 
segurança do agente policial. Destarte, sob a inteligência da referida jurisprudência 
constitucional, nem mesmo o advogado do suposto autor do delito poderá ter acesso ao 
pedido ou autorização da infiltração de agentes, uma vez que o conhecimento da diligência 
não só fulminaria a colheita probatória como também seria uma “sentença de morte” ao 
policial infiltrado. 
 
Ademais, a Lei 12.850/13 condiciona a infiltração de agentes à existência de indícios da 
infração de Organização Criminosa, hoje crime autônomo, além de dispor que a medida 
somente será admitida se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis. 
Nesse sentido, depreende-se que a infiltração de agentes, em razão do alto grau de 
periculosidade proporcionado ao agente policial, bem como da incerteza do sucesso 
probatório, deve ser aplicada como ultima ratio probatória, ou seja, somente aplicada se 
demonstrado que os outros meios de prova são inviáveis à persecução penal, inclusive no 
que tange à interceptação telefônica estatuída na Lei 9.296/96. A análise de necessidade da 
medida deve ser pautada no Princípio Constitucional da Proporcionalidade, hipótese em que 
será averiguado se o meio é adequado a atingir o fim pretendido (adequação); se o meio é o 
menos gravoso para atingir determinado fim (necessidade); e se os benefícios 
proporcionados por aquele meio superam os prejuízos acarretados através do meio adotado 
(Proporcionalidade em sentido estrito). 
 
Ato contínuo, é de bom alvitre ressaltar que a análise da proporcionalidade para fins de 
adoção do procedimento de infiltração de agentes é trilateral, visto que o Juiz poderá fazê-la 
quando do momento da autorização, o Ministério Público através da oitiva prévia e, a partir 
da inovação legislativa,o Delegado de Polícia, em seu parecer técnico, deverá ponderar a 
adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito da medida. 
 
No Brasil, o agente infiltrado é sempre um policial, enquanto que em outros países, a 
atribuição recai em um funcionário público ou mesmo um particular. Oportuno lembrar que a 
antiga lei permitia o procedimento de infiltração por agentes da polícia e de inteligência, fato 
que se alterou com a inovação legislativa, permitindo apenas o procedimento por intermédio 
de agentes da polícia. Parece-nos que a revogação ratifica a tese de incompatibilidade de 
atribuição dos membros da ABIN diante do procedimento investigativo em questão. Ademais, 
imperioso lembrar ao intérprete que somente policiais dos órgãos repressivos de Segurança 
 
14 | P á g i n a 
 
Pública podem atuar como agentes infiltrados, o que, por via de consequência, afasta a 
possibilidade de um policial militar ser inserido em um programa de infiltração. 
Outrossim, a Lei 12.850/13 inovou ao apresentar um limitador temporal de 6 (seis) meses 
para fins de duração da infiltração, podendo ser renovado, desde que comprovada a sua 
necessidade. Entendemos, com fulcro na inteligência interpretativa do Supremo Tribunal 
Federal sobre a renovação do prazo das interceptações telefônicas – Lei 9.296/96 -, que não 
há qualquer vedação quanto à multiplicidade de renovações do prazo da infiltração, desde 
que comprovada sua necessidade. 
 
7.3. Da segurança jurídica e pessoal do agente infiltrado 
 
Quanto à atuação do infiltrado, o novel diploma legal é explícito ao afirmar que o agente atua 
albergado por excludente de culpabilidade justificada fundamentado na inexigibilidade de 
conduta diversa. Nessa seara, vale lembrar que parcela da doutrina não admitia que o agente 
infiltrado cometesse qualquer crime, pois inexistiria excludente ao seu favor. Destarte, esse 
posicionamento normativo é deveras importante para findar com a grande divergência 
doutrinária sobre o tema e, principalmente, proporcionar maior segurança jurídica aos 
agentes que atuarão infiltrados. 
 
Entrementes, não obstante haja permissivo legal à atuação do agente infiltrado, sua atuação 
deve ser proporcional à finalidade da investigação, não sendo afastada sua responsabilidade 
diante de excessos praticados. Ademais, havendo indícios seguros de que o agente infiltrado 
sofre risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou 
pelo Delegado de Polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade 
judicial. 
 
Corroborando com a maior proteção ao agente infiltrado, a Lei 12.850/13 dispõe que a 
participação no procedimento é voluntária e também pode ser interrompida a critério do 
agente, sendo direito seu ter sua identidade alterada, ter seu nome, sua qualificação, sua 
imagem, sua voz e demais informações pessoais preservadas durante a investigação e o 
processo criminal e não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos 
meios de comunicação, sem sua prévia autorização por escrito. 
 
Consoante noção cedida, conforme bem observa MORAES, a tarefa de infiltração de agentes 
exige um bom aparato técnico e, do agente policial, uma boa preparação psicológica. Por 
óbvio, não poderá o Estado, simplesmente, prever uma espécie de medida extraordinária 
como essa, cuja realização jamais se verificará sem a atuação direta e decisiva do seu agente, 
e abandoná-lo à própria sorte, sem o acompanhamento correto e sem maiores recursos. 
Tanto para conseguir se infiltrar quanto para permanecer na organização tempo suficiente 
para a produção da prova, precisará o agente da ajuda de uma equipe especializada nesse 
tipo de trabalho, no que concerne ao material a ser empregado na operação e também à 
preparação pessoal do infiltrado11. 
 
11
 MORAES, Henrique Viana Bandeira. Da figura do agente infiltrado nas organizações criminosas. In:Âmbito Jurídico, Rio 
Grande, XV, n. 107, dez 2012. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_ 
leitura&artigo_id=12582>. Acesso em set 2013. 
 
15 | P á g i n a 
 
8. DA AÇÃO CONTROLADA 
 
8.1. O novo conceito legal de Ação Controlada 
 
A própria Lei 12.850/13 conceitua a Ação Controlada: “art. 8º - Consiste a ação controlada em 
retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização 
criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para 
que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção 
de informações”. 
 
A principal alteração da conceituação legal reside na inclusão dos órgãos administrativos 
como legitimados para realizar a Ação Controlada, conhecida pela Doutrina também como 
Flagrante Postergado ou Diferido. Desta forma, incluiu o novel estatuto os agentes 
integrantes da Agência Brasileira de Inteligência, fiscais das receitas federais e estaduais, 
entre outros. Não é mais, por conseguinte, ato exclusivo das instituições policiais. 
 
8.2. O fim da Ação Controlada Descontrolada 
 
Não obstante a recenticidade da Lei 12.850/13, o fim ou não da chamada Ação Controlada 
Descontrolada (nome dado pela Doutrina) trata-se de uma das questões mais controversas 
ocasionadas pelo novo Diploma. A Lei anterior (Lei 9.034/95) já tratava do instituto da Ação 
Controlada, porém, apenas timidamente o conceituava, razão pela qual a Doutrina afirmava 
de forma uníssona que para sua aplicação não se fazia necessária uma autorização judicial. 
Desta forma, o flagrante postergado aplicado às Organizações Criminosas, ao contrário do 
que ocorria na Lei 11.343/06 (Lei de Drogas), era descontrolado, desprovido de limitação 
jurisdicional, ficando a cargo da Autoridade Policial realizar a operação e só posteriormente 
comunicar o fato ao Magistrado. 
 
Com efeito, o §1º do art. 8º da nova Lei, alterando esse cenário, trouxe o seguinte texto: “O 
retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao Juiz 
competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério 
Público” (grifos nossos). Destarte, antes de agir o Delegado de Polícia deverá, agora, 
comunicar sua pretensão e os motivos que ensejaram essa escolha no caso concreto, 
justificando, portanto, o diferimento do flagrante ao órgão jurisdicional competente. 
 
De acordo com o texto legal, o Magistrado, conforme o caso, estabelecerá os limites da ação, 
podendo inclusive, no nosso entendimento, recusá-la, caso entenda que não exista 
necessidade da postergação ou não haja proporcionalidade da medida. Com isso, questiona-
se: não poderia o Magistrado desautorizar a Ação Controlada? Não dependeria o Delegado de 
Polícia, portanto, de uma autorização, ainda que tácita, do Juiz? São esses os 
questionamentos que já causam furor na Doutrina. 
 
Há quem defenda que, embora a Lei traga o vocábulo “comunicação”, na verdade o legislador 
referiu-se a uma espécie de “autorização”, de “controle” jurisdicional, seguindo a mesma 
linha da Lei de Drogas de 2006. Assim, o Delegado, ao comunicar e justificar seu anseio ao 
 
16 | P á g i n a 
 
Juiz, dependeria de uma concordância deste, que pode limitar a ação parcialmente ou em seu 
todo. 
 
Para Rogério Sanches, contudo, não há necessidade de uma autorização judicial: “Questão 
tormentosa se refere à necessidade de prévio mandado judicial para que seja autorizado o 
retardamento da ação. A revogada Lei nº 9.034/95 (lei das organizações criminosas), quando 
tratava singelamente da matéria em seu art. 2º, inc. II, não exigia a prévia autorização 
judicial. Era o entendimento da jurisprudência. Já a lei de drogas (Lei nº 11.343/2006), como 
se depreende do teor do caput de seu art. 53, é expressa ao exigir o mandado judicial para a 
diligência”12. Adiante,explica o ilustre professor que quando a Lei 12.850/13 exige 
autorização judicial nas diligências, como ocorre na Infiltração de Agentes, ela traz 
expressamente esta obrigatoriedade. 
 
Sem dúvida, será um dos temas que gerará debates na Doutrina e nos Tribunais Superiores 
dentro de breve. Na nossa ótica, seja qual for a corrente adotada, estamos diante do fim da 
Ação Descontrolada, como consequência da obrigatoriedade de comunicação prévia e da 
possibilidade de limitação pelo Juiz. 
 
9. DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
 
9.1. Introdução 
 
O instituto da delação premiada foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro no ano de 
1990, quando da edição da Lei Federal nº 8.072, a chamada Lei dos Crimes Hediondos. Trata-
se de instrumento de política criminal importado do Direito Italiano que tem por objetivo 
precípuo combater o pacto do silêncio absoluto que predomina diante das organizações 
criminosas. 
 
Preliminarmente, impende assinalar que, apesar de ser um eficaz instrumento à persecução 
penal, o procedimento carecia de regulamentação que garantisse o devido processo legal e, 
principalmente, a segurança jurídica e pessoal ao delator. Por oportuno, com o advento da 
Lei 12.850/13, a medida foi precisamente regulamentada, adquirindo contornos normativos 
claros, de modo a garantir maior eficácia e exequibilidade. 
 
Nas palavras do emérito Guilherme de Souza Nucci: “A delação premiada significa a 
possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s) comparsa(s). É o 
‘dedurismo’ oficializado, que, apesar de moralmente criticável, deve ser incentivado em face 
do aumento contínuo do crime organizado. É um mal necessário, pois trata-se da forma mais 
eficaz de se quebrar a espinha dorsal das quadrilhas, permitindo que um de seus membros 
 
12 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado - Comentários à nova lei sobre crime organizado 
(Lei n. 12.850/13). 1ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2013. 
 
17 | P á g i n a 
 
possa se arrepender, entregando a atividade dos demais e proporcionando ao Estado 
resultados positivos no combate à criminalidade”13. 
 
9.2. Análise comparativa da Delação Premiada no Ordenamento Jurídico Brasileiro 
 
A novel lei não apenas proporciona uma grande evolução ao combate das organizações 
criminosas, como também revoluciona ao alterar o nomen juris da medida para Colaboração 
Premiada. No ordenamento jurídico brasileiro, o instrumento é conhecido como Delação 
Premiada e não é exclusivo ao combate das organizações criminosas, permeando diversos 
dispositivos legais, dentre os quais: Código Penal (arts. e 159, §4º, e 288, p.u.), Lei do Crime 
Organizado – nº 9.034/05 (art. 6º), Lei dos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional – nº 
7.492/86 (art. 25, §2º), Lei dos Crimes de Lavagem de Capitais – nº 9.613/88 (art. 1º, §5º), Lei 
dos Crimes contra a Ordem Tributária e Econômica – nº 8.137/90 (art. 16, p.u.), Lei de 
Proteção a vítimas e testemunhas – nº 9.807/99 (art. 14), Nova Lei de Drogas – nº 11.343/06 
(art. 41), e, mais recentemente, na Lei que trata do Sistema Brasileiro de Defesa da 
Concorrência – nº 12.529/2011 (art. 86). Nesse sentido, em caráter didático, colacionaremos 
cada hipótese para melhor análise: 
 
A) Lei 7.492/86 (Crimes Financeiros): “Art. 25. São penalmente responsáveis, nos 
termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim 
considerados os diretores, gerentes (Vetado). §1º Equiparam-se aos 
administradores de instituição financeira (Vetado) o interventor, o liquidante ou o 
síndico. §2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, 
o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade 
policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois 
terços”. 
B) Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos): “Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a 
pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, 
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. 
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando 
ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a 
dois terços”. 
C) Lei 8.137/90 (Crimes Tributários): “Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a 
iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por 
escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar 
e os elementos de convicção. Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, 
cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de 
confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama 
delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços”. 
 
13 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 3ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos 
Tribunais, 2007, p. 716. 
 
18 | P á g i n a 
 
D) Lei 9.269/96 (Altera o §4º do art. 159 do CPB): “(Extorsão mediante sequestro) Art. 
159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer 
vantagem, como condição ou preço do resgate: (...) §4° Se o crime é cometido em 
concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do 
seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços". 
E) Lei 9.613/98 (Lavagem de Capitais e ativos): “Art.1. (...) §5º A pena poderá ser 
reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, 
facultando-se ao Juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena 
restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente 
com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das 
infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à 
localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”. 
F) Lei 11.343/06 (Tráfico ilícito de entorpecentes): “Art. 41. O indiciado ou acusado 
que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na 
identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total 
ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um 
terço a dois terços”. 
G) Lei 9.807/99 (Proteção a testemunhas e réus colaboradores): “(CAPÍTULO II DA 
PROTEÇÃO AOS RÉUS COLABORADORES) Art. 13. Poderá o Juiz, de ofício ou a 
requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da 
punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e 
voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa 
colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes 
da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física 
preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo 
único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do 
beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato 
criminoso”; “Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a 
investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores 
ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou 
parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a 
dois terços”. 
H) Lei 9.034/95 (Antiga Lei de Organização Criminosa): “Art. 6º Nos crimes praticados 
em organização criminosa, a pena será reduzida de um a dois terços, quando a 
colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e 
sua autoria”. 
 
 
 
19 | P á g i n a 
 
9.3.Colaboração Premiada na Nova Lei de Organizações Criminosas 
 
O mecanismo de colaboração premiada estatuído na Lei 12.850/13 apresenta grandes 
alterações ao que era previsto na revogada Lei 9.034/05, trazendo requisitos objetivos e 
subjetivos à concessão do benefício processual. Quanto aos requisitos objetivos, a lei expõe 
que a delação deve resultar em: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da 
organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura 
hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações 
penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou 
parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; 
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. Ademais, o 
Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador não for o líder da 
organização criminosa ou for o primeiro a prestar efetiva colaboração, desde que alcançados 
os resultados objetivos retro citados. Imperioso destacar que não estamos diante de 
requisitos cumulativos, ou seja, basta que a delação atinja um dos resultados previstos na 
norma para fins de aplicabilidade do instituto. 
 
Quanto aos requisitos subjetivos, a lei explicita que, em qualquer caso, a concessão do 
benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a 
gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. Nessa seara, 
em seu brilhante artigo sobre a novel lei, Eugênio Pacelli posiciona-se com louvor: “No 
particular, o legislador brasileiro parece ter um fetiche com a personalidade do agente! Ora, 
não há tecnologia ou ciência suficientemente desenvolvida, ou cujo conhecimento técnico 
seja seguro quanto aos vários e possíveis diagnósticos acerca da personalidade de quem quer 
que seja! Certamente não se trata de questão jurídica, o que, já por aí, tornaria o Juiz refém 
de laudos médicos, psicológicos ou psiquiatras”14. 
 
No que concerne à natureza jurídica da colaboração premiada, a nova lei se reveste de causas 
de diminuição e substituição de pena e perdão judicial, como se vê: “Art. 4º O Juiz poderá, a 
requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena 
privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado 
efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa 
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados”. 
 
O Princípio da Irretroatividade da norma penal é previsto no artigo 5º, inciso XL, da 
Constituição Federal, contudo, com uma importante ressalva: “a lei penal não retroagirá, 
salvo para beneficiar o réu”. Em termos comparativos, pode-se constatar que a L. 12.850/13 
apresenta-se como lex mellius, ou seja, norma que apresenta contornos mais benéficos ao 
réu ao prever a possibilidade de aplicação de perdão judicial. Assim, o novel diploma legal 
poderá retroagir a crimes ocorridos no passado - Teoria da Atividade – a fim de perquirir o 
 
14
 PACELLI, Eugenio. Curso de processo penal – 17a. edição – Comentários ao CPP – 5a. edição – Lei 12.850/13. Disponível 
em: http://euge niopacelli.com.br/atualizacoes/curso-de-processo-penal-17a-edicao-comentarios-ao-cpp-5a-edicao-lei-
12-85013-2/#%2 1. Acesso em: 14 de setembro de 2013. 
 
20 | P á g i n a 
 
Direito Subjetivo Constitucional do réu em ter aplicada a norma mais favorável, ainda que 
superveniente, seguindo o Princípio da Extratividade da norma penal. 
 
Nesse contexto, o ilustre Eugênio Pacelli aduz que estamos diante de norma mais favorável e 
que deve ser estendida às demais hipóteses de delação premiada previstas em nosso 
ordenamento jurídico. Conquanto o brilhantismo do referido autor, à luz do Princípio da 
Especialidade e Princípio da Reserva Legal, entendemos que as consequências jurídicas da 
novel colaboração premiada somente são aplicáveis às organizações criminosas, respeitando 
a especificidade das demais previsões do instituto. 
 
Outro ponto relevante da alteração é a exigência da colaboração voluntária, ao revés do que 
era requerido pela antiga norma, que exigia colaboração espontânea. Como se sabe, são 
conceitos díspares, situação em que colaboração espontânea é aquela que não pode sofrer 
qualquer influência externa, partindo de motivação interna do agente; enquanto a voluntária 
aceita influências externas. Destarte, acertadamente veio a inovação legislativa, pois, 
segundo a antiga lei, mero aconselhamento por parte de terceiros seria suficiente para 
refutar a concessão da benesse processual. 
 
Em caráter revolucionário, permite-se a suspensão do prazo para oferecimento da denúncia e 
da prescrição por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas 
as medidas de colaboração. Parece-nos que o legislador, nesse ponto, entende a 
complexidade de investigações envolvendo organizações criminosas e proporciona uma 
ampliação dos direitos do Estado a fim de garantir maior eficácia da persecução penal. 
 
Ademais, a L. 12.850/13 traz o que chamamos de “Colaboração Posterior”, hipótese em que, 
se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será 
admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos. Como se vê, o 
instituto da colaboração tem cabimento em sede de inquérito policial, fase processual e de 
execução da pena. Todavia, para concessão do benefício, o réu deverá apresentar condições 
subjetivas positivas, pois a lei somente traz exceção ao requisito objetivo. 
 
9.4. Do requerimento e representação da medida de colaboração premiada 
 
No que tange ao requerimento e representação da medida, considerando a relevância da 
colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o Delegado de Polícia, nos 
autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou 
representar ao Juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador. Havendo discordância 
entre a opinio juris do Ministério Público e a convicção do Magistrado, aplica-se o Princípio da 
Devolução, de modo que a divergência deverá ser encaminhada para o Procurador Geral de 
Justiça para fins de aplicação do que dispõe o art. 28 do Código de Processo Penal. Por óbvio, 
não se aplica o referido procedimento quando a divergência ocorre entre a autoridade 
policial e o Ministério Público, hipótese em que o juiz deverá analisar a concessão da medida 
representada pelo Delegado de Polícia, mesmo que o Ministério Público seja desfavorável. 
 
21 | P á g i n a 
 
O dispositivo retro citado ratifica a independência técnico-jurídica da autoridade policial 
preconizada na Lei 12.830/13, situação em que a decisão sobre o cabimento da medida será 
realizada posteriormente pelo juiz. Sobre essa temática, é de grande relevância para a 
sociedade que não deixemos brigas institucionais – como a que houve com a PEC 37 - 
deturparem a hermenêutica que deve ser extraída do novo diploma legal, pois uma 
persecução penal hígida e eficaz exige a cooperação do Ministério Público em ampla simbiose 
com a Polícia Judiciária. 
 
Convém notar que a norma torna o Juiz equidistante ao acordo de colaboração premiada a 
fim de preservar a imparcialidade. Assim, infere-se que o Juiz não poderá participar da 
formalização do acordo, sendo responsável apenas pela sua homologação, desde que 
preenchidos os requisitos da Lei. 
 
Não obstante a norma seja recente, já há vozes na doutrina assinalando a 
inconstitucionalidade do dispositivo sob alegação de que o diploma está concedendo 
capacidade postulatória ao Delegado de Polícia. Data maxima venia, a tese não merece 
prosperar. A nova norma tão somente concede à autoridadepolicial a possibilidade de 
realizar o acordo e representar pela concessão da colaboração premiada que, a posteriori 
será avaliada pelo Juiz. Essa exegese parte da interpretação lógico-sistemática de todo 
ordenamento jurídico, pautando-se na capacidade que o Delegado possui em representar 
pelas demais medidas cautelares do ordenamento jurídico. Ademais, no Brasil, ao contrário 
de alguns países europeus, o Delegado de Polícia não atua sob delegação do Ministério 
Público, possuindo, assim, autonomia técnico-jurídica para atuar, com discricionariedade, na 
persecução penal pré-processual. 
 
Outrossim, por amor incondicional ao debate, importante colacionar a tese de 
inconstitucionalidade da representação do Delegado de Polícia quanto ao pedido de 
concessão da delação premiada emitida pelo emérito Eugênio Pacelli: “A Constituição da 
República comete à polícia, inquinada de judiciária, funções exclusivamente investigatórias 
(art. 144, §1º, IV, e §4º). E, mais, remete e comete ao Ministério Público a defesa da ordem 
jurídica (art. 127) e a promoção privativa da ação penal (art. 129, I). Ora, a atribuição 
privativa da ação penal pública significa a titularidade acerca do juízo de valoração jurídico-
penal dos fatos que tenham ou possam ter qualificação criminal. Não se trata, 
evidentemente, e apenas, da simples capacidade para agir, no sentido de poder ajuizar a ação 
penal, mas, muito além, decidir acerca do caráter criminoso do fato e da viabilidade de sua 
persecução em juízo (exame das condições da ação penal). Em uma palavra: é o Ministério 
Público e somente ele a parte ativa no processo penal de natureza pública (ações públicas). E 
o que fez a Lei 12.850/13? Dispôs que o Delegado de Polícia, nos autos do inquérito policial, 
com a manifestação do Ministério Público, poderá representar ao Juiz pela concessão de 
perdão judicial ao colaborador (art. 4º, §2º)!!! Naturalmente, o mesmo dispositivo defere 
 
22 | P á g i n a 
 
semelhante capacidade e legitimidade também ao Ministério Público! O desatino não poderia 
ir tão longe…”15. 
 
Respeitosamente, a medida pleiteada pela autoridade policial possui inequívoca natureza 
investigativa, compatibilizando-se com a exegese do art. 144, §1º, IV, e §4º da Constituição 
Federal. Nesse diapasão, a colaboração proporcionará ao Delegado diligenciar com maior 
precisão através das informações adquiridas pelo delator e, principalmente, culminará em 
eficaz colheita probatória e grande instrumento formador da justa causa. Ademais, a tese 
retro citada não encontra amparo legal e conceitual, visto que o Ministério Público – órgão de 
controle externo das atividades investigativas – poderá se manifestar acerca da 
representação da autoridade policial. Assim, em consonância com a sistemática processual, 
pode-se constatar que a titularidade da ação penal do Ministério Público não fora, de forma 
alguma, suprimida pelo novel diploma normativo. Se assim o fosse, a autoridade policial 
careceria da legitimidade em representar por todas as demais medidas cautelares 
disciplinadas em nosso ordenamento jurídico. 
 
Dando continuidade ao tema, o pedido de homologação do acordo será sigilosamente 
distribuído, contendo apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu 
objeto. Convém notar que a Lei 12.850/13 compatibiliza-se com o entendimento sufragado 
pela Súmula Vinculante 14, pois, segundo expressa previsão legal, o pedido de concessão da 
colaboração criminosa será sigiloso, de modo a garantir a higidez probatória. Destarte, sob a 
inteligência da referida jurisprudência constitucional, nem mesmo o advogado do suposto 
autor do crime poderá ter acesso ao referido pedido, uma vez que o conhecimento do acordo 
pode não só prejudicar a colheita probatória como colocar em risco a integridade do delator. 
 
O acesso aos autos será restrito ao Juiz, ao Ministério Público e ao Delegado de Polícia, como 
forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do 
representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do 
direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes 
às diligências em andamento. 
 
O acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que recebida a denúncia, 
observados os direitos do colaborador em: I - usufruir das medidas de proteção previstas na 
legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais 
preservados; III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; 
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados; V - não ter sua 
identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua 
prévia autorização por escrito; VI - cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos 
demais corréus ou condenados. 
 
 
15
 PACELLI, Eugenio. Curso de processo penal – 17a. edição – Comentários ao CPP – 5a. edição – Lei 12.850/13. Disponível 
em: http://euge niopacelli.com.br/atualizacoes/curso-de-processo-penal-17a-edicao-comentarios-ao-cpp-5a-edicao-lei-
12-85013-2/#%2 1. Acesso em: 14 de setembro de 2013. 
 
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9.5. O acordo de colaboração 
 
Realizado o acordo, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador e de 
cópia da investigação, será remetido ao Juiz para homologação, o qual deverá verificar sua 
regularidade, legalidade e voluntariedade, podendo, para este fim, sigilosamente, ouvir o 
colaborador na presença de seu defensor. Caso a proposta não atenda aos requisitos legais, o 
Juiz poderá recusar homologação à proposta ou adequá-la ao caso concreto. Não se pode 
olvidar que o colaborador assina o termo de cooperação antes de iniciar a colaboração e, 
supervenientemente, no momento da sentença, o Juiz apreciará os termos do acordo 
homologado e sua eficácia processual. 
 
O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter: I - o relato 
da colaboração e seus possíveis resultados; II - as condições da proposta do Ministério 
Público ou do Delegado de Polícia; III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu 
defensor; IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do Delegado de 
Polícia, do colaborador e de seu defensor; V - a especificação das medidas de proteção ao 
colaborador e à sua família, quando necessário. Por conseguinte, as informações 
pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao Juiz a que recair a 
distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. 
 
Outrossim, a norma prevê a possibilidade de retratação do acordo de colaboração, hipótese 
em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas 
exclusivamente em seu desfavor. Trata-se de exegese do nemo tenetur se detegere, 
tutelando o direito do réu em quedar-se inerte, de modo a não produzir provas contra si 
mesmo. In casu, enquanto em colaboração, o delator está protegido por estar comungando 
com o interesse estatal, de modo que as provas produzidas não poderão ser utilizadas em seu 
desfavor se decidir não mais cooperar. Nada mais justo, pois, mesmo que opte por cessar a 
medida colaborativa, há grande possibilidade do agente já ter auxiliado de forma satisfatória 
em termos de diligência ou mesmo em âmbito processual, para fins de formação da 
convicção do Juiz quanto a todo o complexo estrutural da organização criminosa. 
 
Corroborando com a sistemática constitucional, em todos os atos de negociação, 
confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor. 
Assim, nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, 
ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. 
 
Quanto à validade probatória dacolaboração premiada, a lei é clara e afirma que nenhuma 
sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente 
colaborador. Como se vê, a própria norma mitiga de certa forma o valor processual da 
colaboração premiada, sendo necessário que ela esteja colimada com demais aparatos 
probatórios para fins de ulterior condenação. 
 
 
 
 
24 | P á g i n a 
 
10. DO ACESSO A REGISTROS, DADOS CADASTRAIS, DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES 
 
O legislador, em ato digno de aplausos, sob a égide da novel Lei 12.850/13, dispõe que o 
Delegado de Polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização 
judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a 
qualificação pessoal, a filiação e o endereço mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas 
telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de 
crédito. 
 
Conforme se nota, há flagrante ampliação de poderes da autoridade policial, visto que o novo 
diploma permite a representação por dados cadastrais do investigado sem a necessidade de 
autorização judicial. Indubitavelmente, trata-se de um avanço legislativo que proporcionará 
maior agilidade investigativa e, por conseguinte, maior probabilidade de sucesso na 
persecução penal. 
 
Entrementes, antes que os garantistas hiperbólicos monoculares digam que a medida afronta 
o Direito de Intimidade tutelado no art. 5º, X da Constituição Federal, faz-se imperioso 
ressaltar que a medida não se imiscui no íntimo do ser humano, sendo direcionada apenas 
para garantir maior agilidade à persecução penal. Nesse sentido, até o maior crítico da novel 
Lei de Organizações Criminosas, o ilustre Eugênio Pacelli, se posiciona: “É que não se cuida de 
acesso aos dados de movimentação financeira, nem àqueles relativos aos valores 
eventualmente depositados à titularidade do investigado, e, tampouco, ao montante de 
gastos efetuados com o sistema de telefonia ou de administração de crédito. O que a lei 
autoriza é que tais instituições informem o nome, estado civil, filiação e endereço da pessoa. 
Há, portanto, redução sensível quanto ao conteúdo de privacidade a ser acessado, ainda que 
se reconheça, como o fazemos, que a medida ostenta dimensão mais alargada da privacidade 
e da intimidade do investigado. Por isso, sustentamos a validade constitucional da medida”. 
 
Para fins do exposto, as empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, 
acesso direto e permanente do Juiz, do Ministério Público ou do Delegado de Polícia aos 
bancos de dados de reservas e registro de viagens. Ademais, as concessionárias de telefonia 
fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 (cinco) anos, à disposição das autoridades 
mencionadas, registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino 
das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais. 
 
Convém salientar que, não obstante ser recente a alteração normativa, parcela da doutrina 
já se posiciona quanto à extensão deste método investigativo às infrações de outra natureza. 
Contudo, entendemos que a autoridade policial somente poderá diligenciar diretamente 
quanto ao acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações diante de crime 
de organização criminosa, fulcro no Princípio da Reserva Legal. 
 
 
 
 
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11. REVOGAÇÃO FORMAL DA VEDAÇÃO À LIBERDADE PROVISÓRIA E AO CUMPRIMENTO 
OBRIGATÓRIO DA PENA EM REGIME INICIAL FECHADO 
 
A vedação à liberdade provisória e o cumprimento obrigatório de pena em regime inicial 
fechado fazem parte de uma grande celeuma doutrinária e jurisprudencial. Fato é que a 
antiga Lei 9.034/95, em seu berço normativo, previa tanto a referida vedação quanto a pena 
ser cumprida em regime inicial, obrigatoriamente, fechado. Sobre estas temáticas, o STF já se 
pronunciou insurgindo-se e afirmando que legislador retirara do judiciário o poder de aplicar 
a proporcionalidade ao caso concreto, criou restrição fundamentada na gravidade abstrata 
do crime e, também, afrontou asperamente o princípio da individualização da pena. Nesse 
sentido, importante destacar que o STF realizou controle difuso de constitucionalidade 
posicionando-se pela inconstitucionalidade dos referidos dispositivos sob a égide dos 
fundamentos retro citados e, principalmente, por haver grave ofensa ao Princípio da 
Presunção de Inocência previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal16. 
 
Corroborando com o entendimento sufragado pelo Supremo Tribunal Federal, a novel Lei de 
Organizações Criminosas, sabiamente, revogou os dispositivos em comento de modo a 
compatibilizar o ordenamento jurídico com toda a sistemática constitucional. Por oportuno, 
convém socorrermo-nos ao diálogo das fontes para concluir que estamos diante do famoso 
fenômeno da Constitucionalização do Direito, de modo que os princípios e valores 
constitucionais devem permear os demais ramos do direito, devendo a eles se 
compatibilizarem. A constitucionalização do direito acarreta uma releitura de todas as 
normas do ordenamento jurídico a partir desses princípios e valores constitucionais. 
 
12. OBSERVAÇÕES FINAIS 
 
Consoante noção cedida, constata-se significativa evolução normativa a partir da edição da 
Lei 12.850/13, de modo a propiciar aos organismos de persecução penal grandes mecanismos 
de investigação, quais sejam: I - colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais 
eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de 
ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos 
ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; V - interceptação de comunicações 
telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; VI - afastamento dos sigilos 
financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; VII - infiltração, por policiais, 
em atividade de investigação, na forma do art. 11; VIII - cooperação entre instituições e 
órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de 
interesse da investigação ou da instrução criminal. De toda sorte, muito mais importante do 
que disponibilizar os meios investigativos, está a regulamentação do procedimento de tais 
métodos diligenciais, proporcionando exequibilidade aos fins propostos pela norma e, 
principalmente, tornando palpável o que outrora era uma utopia jurídica. 
 
 
16 STF; HC 82.959 e HC 104.339. 
 
26 | P á g i n a 
 
Insta observar que a nova norma altera os termos de duração razoável do processo, expondo 
que a instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá exceder 
a 120 (cento e vinte) dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis em até igual período, por 
decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato 
procrastinatório atribuível ao réu. Nos termos da legislação revogada, tínhamos o prazo de 81 
dias para o réu preso e 120 dias para o réu solto, o que, de fato, configura novatio legis in 
pejus. Assim, atualmente, há uma tendência ampliativa temporal no que tange à carcerização 
do réu. 
 
Ademais, percebe-se a congruência entre a Lei de Organizações Criminosas e a Jurisprudência 
Constitucional representada pela Súmula Vinculante nº. 14, justificada pela novel diretriz 
normativa no sentido de que o sigilo da investigação poderá ser decretado pela autoridade 
judicial competente, para garantia da celeridade e da eficácia das diligências investigatórias, 
assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de 
prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de 
autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento. Nesse sentido, é 
de opinião inequívoca que o advogado

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