Logo Passei Direto
Buscar

Roteiro_Direito do Estado_2023 2

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA! 
 
Olá! 
Seja muito bem-vindo(a) à disciplina de Direito do Estado, vamos estudar 
juntos? Meu nome é Marialva de Souza Silva, sou professora de Direito no Instituto 
Federal de Rondônia, Campus Porto Velho Zona Norte, e atuo na docência há quatro 
anos. Sou mestranda em Educação pela Universidade Federal de RO; especialista em 
Metodologias Ativas aplicadas ao Ensino Superior e em Gestão da Educação a 
Distância; possuo Formação Pedagógica para Graduados Não Licenciados. Acredito 
que os aprendizados que obtive até aqui são de imensa importância para a construção 
do conhecimento nesta graduação de Gestão Pública. 
Será um prazer estar com você nesta disciplina de Direito do Estado, em que 
iremos estudar os seguintes conteúdos: 
• A supremacia da Constituição; 
• Princípios e regras; 
• O poder constituinte originário e derivado; 
• A aplicabilidade das normas constitucionais; 
• Direitos fundamentais (individuais e sociais) e cidadania; 
• Os direitos difusos e coletivos na Constituição Federal; 
• O controle de constitucionalidade sobre as leis e os atos normativos do poder 
público; controle de constitucionalidade difuso e concentrado; 
• Os princípios constitucionais voltados para a administração pública; 
• A organização administrativa; administração direta, indireta e terceiro setor; 
• A responsabilidade do Estado; 
• Os servidores, seu regime jurídico e previdenciário; 
 
 
 
 
 
• O controle sobre a administração pública: legalidade e transparência; 
participação popular e os Tribunais de Contas; 
• Discricionariedade e controle judicial sobre a administração pública; 
• O papel do Ministério Público no controle da administração pública; 
• Os regimes políticos e a participação popular; 
• A teoria da representação; 
• Os partidos políticos; 
• Os partidos e a escolha do governante; 
• Os partidos e a representação da opinião pública; 
• Os sistemas eleitorais; 
• O voto e as distorções; 
• A igualdade eleitoral e o acesso ao poder; 
• O direito eleitoral no Brasil; 
• A justiça eleitoral; 
• Os recursos em matéria eleitoral. 
 
Nosso estudo tem o objetivo de fazer com que você, estudante, tenha 
condições de compreender a importância do direito constitucional, do direito 
administrativo e, ainda, noções de direito eleitoral; o significado dos institutos 
fundamentais; o domínio de conceitos e da terminologia jurídica, bem como a 
argumentação, a interpretação e a valorização dos fenômenos jurídicos e sociais 
pertinentes ao direito em geral. 
Faremos nosso estudo de forma a abordar os pontos mais utilizados no seu dia 
a dia como gestor púbico. 
 
 
 
 
 
Não esqueça de observar a bibliografia recomendada no plano de ensino da 
disciplina, e procure sempre estar atualizado acerca das matérias, pois o direito é 
muito dinâmico e está em constante transformação. 
Outra dica não menos importante é a leitura da legislação indicada, isso é 
fundamental! 
Ademais, a disciplina está organizada em seis unidades temáticas e é composta 
por duas atividades de percurso, avaliação regular, avaliação em segunda chamada 
(espero que não seja necessário!), e exame final. A disciplina foi elaborada para que 
você realize os estudos de forma gradual e de acordo com a ementa proposta no 
Projeto Pedagógico do Curso. 
 
Bons estudos! 
Professora Marialva de Souza Silva 😊 
 
UNIDADE I 
1 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO SUPREMACIA DA 
CONSTITUIÇÃO; 
2 PRINCÍPIOS E REGRAS; 
3 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO E DERIVADO; 
4 APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS. 
 
Prezado(a) aluno(a), 
Nesta unidade temática, estudaremos a Supremacia da Constituição; seus 
Princípios e Regras; o Poder Constituinte Originário e Derivado; a Aplicabilidade das 
Normas Constitucionais. 
 
 
 
 
 
O objetivo é que, ao final desta unidade, você consiga: 
• Reconhecer o conceito do direito constitucional; 
• Identificar o conceito de Constituição; 
• Entender a supremacia da Constituição Federal; 
• Conhecer a diferença entre normas, princípios e regras; 
• Reconhecer os fundamentos e reflexos do poder constituinte originário e 
derivado; 
• Descrever a aplicabilidade das normas constitucionais e a ductibilidade 
principiológica dos direitos fundamentais. 
 
 
 
 
1 A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO 
Antes de falarmos mais especificamente sobre a Constituição, é importante 
destacar que o direito constitucional é o tronco do qual derivam todos os demais 
ramos da grande árvore jurídica, e seu objeto de estudo é a Constituição Federal. 
Já a Constituição é a lei fundamental e suprema de um Estado, criada pela 
vontade soberana do povo. É ela que determina a organização político-jurídica do 
Estado, dispondo sobre a sua forma, os órgãos que o integram e as competências 
destes e, finalmente, a aquisição e o exercício do poder. E, segundo o professor 
Alexandre de Moraes (2010), cabe também a ela estabelecer as limitações ao poder do 
Estado e enumerar os direitos e as garantias fundamentais. 
 
 
 
 
 
É importante ressaltar que a doutrina1 não tem um entendimento exato 
(uníssono) quanto à definição do conceito de Constituição, que pode ser analisado a 
partir de diversas concepções. Isso porque o direito não pode ser estudado 
isoladamente de outras ciências sociais, como sociologia e política, por exemplo. 
Para estudarmos a supremacia da Constituição, é imprescindível conhecer um 
pouco do trabalho do doutrinador austríaco Hans Kelsen, criador da teoria pura do 
direito. 
No sistema proposto por Kelsen, o fundamento de validade das normas está na 
hierarquia entre elas. Toda norma apoia sua validade na norma imediatamente 
superior. Para compreender bem a supremacia da Constituição, é fundamental que 
estudemos a hierarquia das normas, através do que a doutrina denomina “pirâmide de 
Kelsen”. Essa pirâmide foi concebida pelo jurista para fundamentar a sua teoria, 
baseada na ideia de que as normas jurídicas inferiores (normas fundadas) retiram seu 
fundamento de validade das normas jurídicas superiores (normas fundantes). 
Atenção! Nenhuma norma do ordenamento jurídico pode se opor à 
Constituição: ela é superior a todas as demais normas jurídicas, as quais são, por isso 
mesmo, denominadas infraconstitucionais. Veja a ilustração abaixo: 
 
1 Trata-se de um conjunto de princípios, ideias e ensinamentos de autores e juristas que, no caso, 
servem de base para o direito e que influenciam e fundamentam as decisões judiciais. É fonte do direito, 
utilizada também para a interpretação das leis, fixando as diretrizes gerais das normas jurídicas. Fonte. 
Dicionário Net. 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Próprio autor. 
 
Vale destacar que na Constituição há normas constitucionais originárias, que 
não podem ser declaradas inconstitucionais, e normas constitucionais derivadas, que 
podem sofrer controle de constitucionalidade. As normas constitucionais originárias 
são produto do poder constituinte originário (o poder que elabora uma nova 
Constituição); elas integram o texto constitucional desde que ele foi promulgado, em 
1988. Já as normas constitucionais derivadas são aquelas que resultam da 
manifestação do poder constituinte derivado (o poder que altera a Constituição); são 
as chamadas emendas constitucionais, que também se situam no topo da pirâmide de 
Kelsen. Estudaremos de forma mais aprofundada sobre poder constituinte logo 
adiante, no item 1.2. 
Anote: 
✓ Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias; 
✓ Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias e normas 
constitucionais derivadas; 
 
 
 
 
 
✓ No Brasil, embora as cláusulas pétreas* sejam, de certa forma, diferenciais, 
elas se encontram no mesmo patamar hierárquico das demais normas 
constitucionais originárias. 
Cláusulas pétreas são normas que não podem ser objeto de emendapública (ou delegatária) que causou o dano indeniza o 
particular independentemente de ela ter alguma culpa, mas o agente só será 
condenado a ressarcir a administração regressivamente se esta comprovar, em ação 
própria, que ele agiu com dolo ou culpa. 
A obrigação de ressarcir a administração pública (ou delegatária) em ação 
regressiva, sendo esta uma ação de natureza cível, transmite-se aos sucessores do 
agente que tenha atuado com dolo ou culpa. 
Mesmo após a morte do agente, seus sucessores podem ser chamados a 
responder pelo valor que a administração (ou a delegatária) foi condenada a pagar na 
ação de indenização, sempre respeitado o limite do valor do patrimônio transferido 
(art. 5º, XLV, CF/88). 
 
9.5 Responsabilidades administrativa, civil e penal do agente público 
Há possibilidade de cumulação das responsabilidades civil, administrativa e 
penal do servidor em razão do ato danoso por ele praticado. O ato danoso do agente 
pode implicar responsabilização nas esferas administrativa, cível e penal. 
Por exemplo: o agente público, dirigindo a serviço, com imprudência, colide o 
seu veículo com o de um particular e dessa colisão resulta a morte de uma pessoa. 
Nesse caso o agente responderá à administração pública pela infração administrativa 
cometida, estando sujeito às penalidades disciplinares previstas na lei pertinente 
(ALEXANDRINO, 2016, p. 335). Vejamos: 
 
 
 
 
 
• Responderá civilmente, perante a administração, em ação regressiva, desde 
que comprovada a culpa dele, devendo ressarci-la pela indenização que a 
administração tenha sido condenada a pagar às vítimas do acidente; 
• Responderá ainda, no âmbito criminal, pelo ilícito penal praticado – homicídio 
culposo nesse exemplo. 
As responsabilidades administrativa, civil e penal são cumulativas e, em 
princípio, são independentes. No plano federal, essa regra está explicitada no art. 125 
da Lei 8.112/1990. Quando a órbita penal está envolvida, é possível ocorrer exceção à 
regra de independência das esferas de responsabilidade. 
O julgamento, na esfera penal, de conduta imputada a um servidor público 
pode resultar em: 
• Condenação criminal do servidor; 
• Absolvição pela inexistência do fato ou pela negativa de autoria; 
• Absolvição por ausência de tipicidade ou de culpabilidade penal, por 
insuficiência de provas, ou por qualquer outro motivo. 
Na hipótese de um mesmo fato estar tipificado em uma lei penal como crime 
(ou contravenção), enquadrar-se em uma lei administrativa como infração disciplinar 
e, além disso, causar dano patrimonial ou moral a terceiro (responsabilidade civil), a 
condenação criminal do servidor por esse fato, uma vez transitada em julgado, 
interfere nas órbitas administrativa e cível, implicando o reconhecimento automático 
da responsabilidade do servidor, por esse fato, nessas duas esferas. 
Isso ocorre porque, sendo o ilícito penal mais do que o ilícito civil ou 
administrativo, existe a presunção de que a condenação na esfera penal sempre será 
baseada em uma quantidade de elementos maior do que aquela que seria suficiente 
 
 
 
 
 
para a responsabilização nas esferas civil e administrativa (ALEXANDRINO, 2016, p. 
335). 
A absolvição penal cujo fundamento seja a negativa de autoria ou a inexistência 
do fato também interfere nas esferas administrativa e civil. Com efeito, se a jurisdição 
criminal, em que a apreciação das provas é muito mais abrangente e minuciosa, 
categoricamente afirma que não foi o agente o autor do fato a ele imputado, ou que 
sequer ocorreu o fato aventado, não há como sustentar o contrário nas outras órbitas. 
Por exemplo: se, na esfera administrativa, o servidor foi demitido pelo mesmo 
fato discutido na esfera penal, a sentença absolutória penal que tenha como 
fundamento a negativa de autoria ou a inexistência do fato acarretará a sua 
reintegração, pois terá sido cabalmente afirmado, na esfera penal, que não foi ele o 
autor do fato que acarretou a sua demissão administrativa, ou que esse fato nem 
mesmo existiu. Logo, a condenação cível também será tornada sem efeito, caso 
sobrevenha a absolvição penal fundada na negativa de autoria ou na inexistência do 
fato. 
A absolvição penal por mera insuficiência de provas ou por ausência de 
tipicidade ou de culpabilidade penal, ou por qualquer outro motivo, não interfere nas 
demais esferas. É possível (e bastante frequente) que um determinado fato, ou uma 
dada conduta, não configure crime ou contravenção, mas caracterize infração 
administrativa ou cause dano a alguém (ilícito civil). 
 
Leia mais sobre Responsabilidade do Estado em: Campos, Ana C. Direito 
Administrativo Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 
2021. Pág. 513 e seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE V: 
10 CONTROLES SOBRE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 
11 SERVIDORES PÚBLICOS 
 
Nesta unidade, você irá estudar de forma objetiva os tipos de controle sobre a 
administração pública. O objetivo é, que ao final desta unidade, você consiga: 
✓ Conhecer os tipos de controle sobre a administração pública; 
✓ Descrever a função dos Tribunais de Contas; 
✓ Reconhecer o papel do Ministério Público; 
✓ Conhecer o regime jurídico dos servidores públicos; 
✓ Entender o regime previdenciário dos servidores públicos. 
 
I 
 
10 CONTROLES SOBRE A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
10.1 O controle sobre a administração pública: legalidade e transparência; 
participação popular e os Tribunais de Contas 
No desempenho de suas atribuições, a administração pública sujeita-se a 
controle por parte dos poderes Legislativo e Judiciário, além de exercer, ela mesma, o 
controle sobre os próprios atos, em nome do princípio da autotutela. Esse controle 
abrange não só os órgãos do poder Executivo, incluindo a administração direta e a 
indireta, mas também os dos demais Poderes, quando exerçam função tipicamente 
 
 
 
 
 
administrativa; em outras palavras, abrange a administração pública considerada em 
sentido amplo. 
Segundo DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella12, a finalidade do controle é assegurar 
que a administração pública atue em conformidade com os princípios que lhe são 
impostos pelo ordenamento jurídico, como os da legalidade, moralidade, finalidade 
pública, publicidade, transparência, motivação, impessoalidade etc. Em determinadas 
circunstâncias, abrange também o controle chamado de mérito e que diz respeito aos 
aspectos discricionários da atuação administrativa. 
Embora o controle seja uma função estatal, o administrado participa dele à 
medida que pode e deve provocar o procedimento de controle, não apenas na defesa 
de seus interesses individuais, mas também na proteção do interesse coletivo. Ou seja, 
é o chamado controle por meio da participação popular. 
 
Continue lendo em: Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível 
em: Minha Biblioteca, (35ª edição). Grupo GEN, 2022. Pág. 1018 e seguintes. 
 
10.2 Espécies de controles 
Quanto ao órgão que o exerce, o controle pode ser: 
✓ administrativo, 
✓ legislativo ou 
✓ judicial. 
 
 
12DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. Grupo GEN, 2020. 
 
 
 
 
 
 
Veja cada uma das espécies de controles e suas peculiaridades em: Pietro, Maria 
Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (35ª edição). 
Grupo GEN, 2022. Pág. 932 e seguintes. 
 
10.3 Participação popular 
A participação popular na gestão e no controle da administração pública se refere 
à ideia de Estado democrático de direito, consagrado no preâmbulo da Constituição de 
1988, proclamado em seu artigo 1º e ratificado no parágrafo único, com a regra de que 
“todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou 
diretamente, nos termos desta Constituição”. 
Além disso, decorre de forma implícita de diversas normas consagradoras daparticipação popular em vários setores da administração pública, em especial na parte 
referente à ordem social. Na ideia de participação, inserem-se, por exemplo: 
• Participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos 
públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto 
de discussão e deliberação (art. 10); 
• Participação do produtor e trabalhador rural no planejamento e execução da 
política agrícola (art. 187); 
• Participação da sociedade e dos poderes públicos nas iniciativas referentes à 
seguridade social (art. 194); 
• Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com 
participação da comunidade, em especial de trabalhadores, empresários e 
 
 
 
 
 
aposentados na seguridade social (art. 194, VII), reafirmado com relação à 
saúde (art. 198, III) e à assistência social (art. 204, II); 
• Gestão democrática do ensino público (art. 206, VI); 
• Colaboração da comunidade na proteção do patrimônio cultural (art. 216, § 
1º). 
Essas são as modalidades de participação na gestão da atividade administrativa 
do Estado. Como instrumentos de controle, podem ser mencionados, dentre outros: 
• Direito à informação (art. 5º, XXXIII), com o que se assegura ao cidadão a 
possibilidade de conhecer os assuntos que estão sendo tratados no âmbito da 
administração pública; 
• Mandado de injunção, instituído precisamente para suprir a omissão do poder 
público na regulamentação de normas constitucionais (art. 5º, LXXI); 
• Ação popular, como meio posto nas mãos do cidadão para provocar o controle 
jurisdicional na defesa do interesse coletivo (art. 5º, LXXIII); 
• Direito de denunciar irregularidades perante o Tribunal de Contas (art. 74, § 
2º); 
• Direito de fazer reclamações e denunciar irregularidades perante ouvidorias de 
justiça, não só contra membros do poder Judiciário e do Ministério Público, 
mas também contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao 
Conselho Nacional de Justiça ou ao Conselho Nacional do Ministério Público, 
conforme o caso (art. 103-B, § 7º, e art. 130-A, § 5º, da Constituição, 
acrescentados pela Emenda Constitucional 45/2004). 
Além disso, encontram-se na legislação infraconstitucional inúmeras normas 
que prestigiam diferentes formas de participação do cidadão, com a instituição de 
 
 
 
 
 
ouvidores junto a diferentes órgãos públicos, sistemas de “disque-denúncia”, 
audiências públicas, consulta pública e tantas outras. 
Na Lei 9.784/1999, embora não mencionada a participação do cidadão como 
princípio da administração pública, estão disciplinados vários instrumentos que 
facilitam a participação, como o direito à informação, a motivação, as regras sobre 
publicidade, já analisadas nos itens pertinentes. 
Estão também previstas a consulta pública (art. 31), a audiência pública (art. 
32) e a participação dos administrados, diretamente ou por meio de organizações e 
associações legalmente reconhecidas (art. 33). 
A consulta pública não é prevista, nessa lei, como obrigatória para a 
administração pública, mas como faculdade a ser exercida, mediante despacho 
motivado, quando a matéria do processo envolver assunto de interesse geral e desde 
que não cause prejuízo à parte interessada. A consulta é divulgada por meios oficiais, a 
fim de que pessoas físicas ou jurídicas possam examinar os autos, fixando-se prazo 
para oferecimento de alegações escritas (§ 1º do art. 31); pelo § 2º do mesmo 
dispositivo, o comparecimento à consulta pública não confere, por si, a condição de 
interessado do processo, mas confere o direito de obter da administração resposta 
fundamentada, que poderá ser comum a todas as alegações substancialmente iguais. 
A audiência pública também não é prevista em caráter obrigatório, ficando a 
sua realização a critério da autoridade quando se tratar de matéria relevante. O 
objetivo é o de permitir debates sobre a matéria. 
Outros meios de participação poderão ser instituídos pelos órgãos 
administrativos, quando se tratar de matéria relevante (art. 33). 
Além dessa lei, outras existem que preveem medidas semelhantes, a exemplo 
da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993 (lei de licitações e contratos), que exige, em 
 
 
 
 
 
caráter obrigatório, a realização de audiência pública na hipótese referida no artigo 39, 
que trata de contratos acima de determinado valor. 
Todos esses exemplos servem para demonstrar a presença da participação do 
administrado na administração pública, dentro de um objetivo maior de descentralizar 
as formas de sua atuação e de ampliar os instrumentos de controle. 
 
10.4 O papel do Ministério Público no controle da Administração Pública 
O Ministério Público (MP) desempenha importantes funções no controle da 
administração pública. Na ação civil pública (ACP), por exemplo, pode atuar como 
autor. Se não tiver essa posição, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei (art. 5º, 
§1º da Lei 7.347/1985). Ainda na ACP, o MP deve promover a execução, se o autor não 
o fizer no prazo de 60 dias do trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 15). 
O MP deve instaurar também o inquérito civil previsto no artigo 8º, §1º da Lei 
7.347/1985, e no artigo 129, III da Constituição Federal. Esse procedimento constitui a 
única modalidade de inquérito civil prevista no direito positivo brasileiro e é de 
competência exclusiva do Ministério Público. Seu objetivo é o de buscar elementos 
que permitam a instauração de ação civil pública. Ele não é obrigatório, uma vez que, 
se os elementos forem suficientes, torna-se desnecessário. 
Para instrução da ação civil, o Ministério Público pode requisitar de qualquer 
organismo, público ou privado, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo 
que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 dias úteis (art. 8º, §1 º). A recusa só é 
possível em caso de sigilo, hipótese em que cabe ao juiz requisitá-los. Fora dessa 
hipótese, o desatendimento constitui crime punido com pena de reclusão de um a três 
anos e multa (art. 10). 
 
 
 
 
 
O Ministério Público pode agir de ofício ou mediante provocação feita por 
qualquer pessoa ou por servidor público, nos termos do artigo 6º da Lei 7.347/1985. 
 
11. OS SERVIDORES, SEU REGIME JURÍDICO E PREVIDENCIÁRIO 
A Constituição de 1988, na seção II do capítulo referente à administração 
pública, emprega a expressão servidores públicos para designar as pessoas que 
prestam serviços, com vínculo empregatício, a administração pública direta, autarquias 
e fundações públicas. 
No entanto, a seção I, que contém disposições gerais concernentes à 
administração pública, contempla normas que abrangem todas as pessoas que 
prestam serviços à administração pública direta e indireta, o que inclui não só as 
autarquias e fundações públicas, como também as empresas públicas, sociedades de 
economia mista e fundações de direito privado. 
Isso significa que “servidor público” é expressão empregada ora em sentido 
amplo, para designar todas as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às 
entidades da administração indireta, com vínculo empregatício, ora em sentido menos 
amplo, que exclui os que prestam serviços às entidades com personalidade jurídica de 
direito privado. 
Além disso, existem preceitos aplicáveis a outras pessoas que exercem função 
pública. Esta, em sentido amplo, compreende não só a função administrativa, mas 
também as funções legislativa e jurisdicional. E ainda há as pessoas que exercem 
função pública sem vínculo empregatício com o Estado. 
Daí a necessidade de adoção de outro vocábulo, de sentido ainda mais amplo 
do que servidor público para designar as pessoas físicas que exercem função pública, 
 
 
 
 
 
com ou sem vínculo empregatício. De um tempo para cá, os doutrinadores brasileiros 
passaram a falar em agente público nesse sentido amplo. 
Assim, agente público é toda pessoa física que presta serviços ao Estadoe às 
pessoas jurídicas da administração indireta. 
 
11.1 Categorias de Agentes Públicos 
 Perante a Constituição de 1988, com as alterações introduzidas pela EC 
18/1998, pode-se dizer que são quatro as categorias de agentes públicos: 
• Agentes políticos; 
• Servidores públicos; 
• Militares; e 
• Particulares em colaboração com o poder público. 
 
11.1 Regime previdenciário 
Aposentadoria é o ato pelo qual a administração pública concede esse direito 
ao servidor público. Dependendo do regime adotado, a aposentadoria do servidor 
público pode, em tese, apresentar-se como direito de natureza previdenciária, 
dependente de contribuição, ou como direito vinculado ao exercício do cargo público, 
financiado inteiramente pelo poder público, sem contribuição do servidor. 
 
 
Leitura obrigatória em: Pietro, Maria Sylvia Zanella D. Direito Administrativo. 
Disponível em: Minha Biblioteca, (35ª edição). Grupo GEN, 2022. Pág. 712 e seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE VI 
12 OS REGIMES POLÍTICOS. 
13 OS PARTIDOS POLÍTICOS. 
14 OS SISTEMAS ELEITORAIS. 
15 O DIREITO ELEITORAL NO BRASIL. 16 A JUSTIÇA ELEITORAL 
 
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade estudaremos assuntos voltados ao direito 
eleitoral, sendo que o objetivo é que, ao final desta unidade, você consiga: 
✓ Reconhecer o direito eleitoral no Brasil; 
✓ Identificar os regimes políticos e a participação popular; 
✓ Compreender a teoria da representação política; 
✓ Conhecer os partidos políticos e o processo de escolha do governante; 
✓ Reconhecer os sistemas eleitorais adotado; 
✓ Compreender o voto e as suas distorções, bem como a igualdade eleitoral e 
acesso ao poder; 
✓ Conhecer o direito eleitoral no Brasil e a sua aplicabilidade; 
✓ Identificar como se dá o funcionamento da Justiça Eleitoral e os recursos 
pertinentes a matéria eleitoral. 
 
Certamente você já ouviu falar ou até já estudou sobre alguns desses assuntos. 
Então, que tal nos aprofundarmos mais nesses temas? Sugiro que, ao final de cada 
unidade, você revise o conteúdo estudado e complemente os seus estudos com o 
material complementar disponibilizado na área do aluno. 
 
 
 
 
 
Para os seus estudos nesta Unidade, recomendamos o seguinte livro: 
Gomes, José J. Direito Eleitoral. Disponível em: Minha Biblioteca, (17ª edição). Grupo 
GEN, 2021. 
 
 
 
Vídeo aula indicada para se apropriar do conteúdo: https://youtu.be/2UmkL4APqWU 
 
 
 
 
12 OS REGIMES POLÍTICOS 
Quando falamos em regime políticos, de certa forma estamos falando 
de poder, ou seja, o poder de tomar decisões, que poderão afetar toda a sociedade. O 
conceito de regime político se vincula às noções de instituições políticas e de governo, 
uma vez que o Estado se institucionaliza e se estrutura para exercer o poder; o 
governo constitui o conjunto ou sistema de órgãos por meio do qual realiza seus fins. 
A forma pela qual o governo se organiza e se estrutura, a maneira como exerce 
ou desempenha suas funções caracteriza, portanto, o regime político. Assim, podemos 
dizer que o conjunto de regras e critérios que define quem será o detentor desse 
poder consiste nos chamados regimes políticos. 
https://youtu.be/2UmkL4APqWU
 
 
 
 
 
Outro ponto a ser esclarecido, é que não se pode confundir regime político com 
forma de governo. Por outro lado, pode-se dizer que o regime político está ligado ao 
próprio conteúdo do poder estatal e às suas relações com o indivíduo e seus 
respectivos direitos. 
Nesse sentido, o regime político pressupõe a forma de governo sobre cuja 
existência e realidade se estruturam as suas variações. Logo, é lícito afirmar que o 
regime político pode ser ditatorial ou democrático, autoritário ou liberal, consoante o 
tratamento dispensado aos direitos. 
Cabe esclarecer, que basicamente, existem dois tipos principais de regime 
político: 
• Regimes democráticos; 
• Regimes autoritários. 
 
12.1 Regimes democráticos 
Partindo da premissa de que o Estado democrático é aquele em que o próprio 
povo governa, é evidente que se coloca o problema de estabelecer os meios para que 
o povo possa externar sua vontade. 
Não se pode perder de vista que, nos dias atuais, a regra são colégios eleitorais 
numerosíssimos e as decisões de interesse público, muito frequentes. Isso, de certa 
forma, exige uma intensa atividade legislativa; logo, é difícil pensar na hipótese de 
manifestações do povo para que se saiba rapidamente qual a sua vontade. 
Embora com amplitude reduzida, não desapareceu de todo a prática de 
pronunciamento direto do povo, existindo alguns institutos que são classificados como 
expressões de democracia direta. 
 
 
 
 
 
 
12.1.1 Democracia direta 
O modelo clássico é a democracia direta. Nesse modelo, procura-se realizar o 
ideal de autogoverno, no qual os cidadãos participam das decisões governamentais. 
Na democracia direta, pretende-se fazer coincidirem as vontades de governantes e 
governados. As decisões são tomadas em assembleia pública, da qual devem participar 
todos os cidadãos. 
Trata-se de forma de organização social em que todo e qualquer cidadão pode 
participar ativamente da tomada de decisões. Significa que, ao invés de eleger um 
representante, é possível que os cidadãos de uma determinada sociedade tomem as 
suas próprias decisões 
Esse sistema de governo é chamado de democracia direta, ou deliberativa, em 
que existe possibilidade de os próprios cidadãos participarem diretamente da política. 
Na democracia direta, ao invés de deixar as decisões para representantes eleitos, 
todos os cidadãos participam do debate. A maior vantagem desse sistema é que as 
decisões refletem, de forma autêntica, as preferências e vontades da sociedade, o que 
nem sempre acontece em democracias representativas. 
Cabe lembrar que não se pode confundir democracia direta com voto direto. O 
voto é direto quando, por intermédio dele, o eleitor pode escolher seu representante 
ou interferir diretamente na política pública a ser traçada ou executada, como nos 
casos de plebiscito e referendo. 
Quando se cuida da democracia direta, as decisões governamentais são 
tomadas diretamente pelo povo, não havendo necessidade de um representante (que 
pode ser escolhido por voto direto) para fazê-las. 
 
12.1.2 Democracia representativa 
 
 
 
 
 
Na democracia representativa, o povo concede um mandato a alguns cidadãos 
para que, na condição de representantes, estes externem a vontade popular e tomem 
decisões em seu nome, como se o próprio povo estivesse governando. A democracia 
representativa é a forma mais comum de regime democrático que encontramos hoje; 
inclusive, é a utilizada no Brasil. 
Na chamada democracia indireta representativa, os cidadãos escolhem aqueles 
que os representarão no governo. Os eleitos recebem um mandato. A participação das 
pessoas no processo político se dá, pois, na escolha dos representantes ou 
mandatários. A estes cabe a condução do governo, tomando as decisões político-
administrativas que julgarem convenientes, de acordo com as necessidades que se 
apresentarem. 
Frisa-se que a ideia básica na democracia representativa é a da existência de 
representantes eleitos, ou seja, escolhidos pela população para tomar as decisões da 
sociedade. Significa dizer que os membros da sociedade que têm a possibilidade de 
escolher os seus representantes são chamados de eleitores. 
Para eleger seus representantes, os eleitores participam das eleições, dando o 
seu voto para o candidato que melhor represente suas preferências. Nesse formato, 
os cidadãos comuns não precisam se envolver diretamente nas principais questões da 
sociedade, que podem ser bem complexas e demandam tempo. 
Na democracia representativa, a maior vantagem é a possibilidade de haver 
uma classe política especializada, para se dedicar de forma integral aos debates dasquestões sociais de interesse público. 
Não podemos deixar de mencionar a democracia semidireta ou participativa, 
que comporta as duas técnicas de participação popular, admitindo que as políticas 
 
 
 
 
 
públicas a serem planejadas e executadas contarão com a participação direta do povo, 
por meio da realização de plebiscitos e referendos, ou com a de seus representantes. 
Frisa-se que esse é o modelo democrático adotado pelo Brasil, como se 
depreende do parágrafo único do art. 1º da CF, que dispõe que “todo o poder emana 
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos 
desta Constituição”. Ainda de acordo com o art. 14 da Constituição Federal/88, “a 
soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, 
com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – 
referendo; III –iniciativa popular.” 
Os modelos de democracia representativa (indireta) e participativa (ou 
semidireta) comportam também o voto direto. Por sua vez, o voto é indireto quando o 
eleitor não escolhe diretamente seus representantes, mas elege determinada pessoa 
que então escolherá o governante. 
 
12.2 Regimes autoritários 
Nesse regime político, a soberania está fora do alcance e da vigilância da 
maioria; é autocrático, ou seja, está ligado ao exercício do poder por “direito próprio”. 
Os regimes autoritários, infelizmente, ainda são bastante comuns ao redor do mundo. 
Cumpre esclarecer que o regime político será autoritário quando as principais 
decisões são tomadas apenas por uma pessoa ou por um grupo de pessoas, sem a 
participação da sociedade. O poder é concentrado em um ou em poucos governantes. 
No regime autoritário, a população em geral desfruta de poucos direitos, que são na 
maioria atropelados pelas vontades dos governantes. 
Numa extensão do autoritarismo, temos o totalitarismo, que está em oposição 
ao Estado liberal. No Estado totalitário, há uma tendência do poder político para se 
 
 
 
 
 
dilatar e se apoderar de tantos domínios da vida quanto possível, numa perspectiva de 
amoldamento total da vida da comunidade e dos indivíduos. 
No Estado totalitário moderno, devem ser invadidas pelas finalidades do Estado 
e postas ao serviço não só a economia, o mercado do trabalho e a atividade 
profissional, mas também a vida social, os ócios, a família, as opiniões e costumes do 
povo. 
Na forma totalitária, há uma concentração de poder nas mãos do Estado, sendo 
este detentor da verdade única, do direcionamento da vida dos cidadãos. O 
totalitarismo apresenta-se como uma nova forma de governo baseada na organização 
burocrática de massas e apoiada no emprego do terror e da ideologia. 
Segundo a doutrina, o totalitarismo designa um certo modo extremo de fazer 
política antecipando-se a uma certa organização institucional ou a um certo regime. 
Este modo extremo de fazer política, que penetra e mobiliza uma sociedade inteira ao 
mesmo tempo que destrói sua autonomia, encarnou apenas em dois regimes políticos 
temporalmente circunscritos: nazismo e fascismo. 
 
12.3 Participação popular 
A participação popular no governo é condição sine qua non da democracia. Em 
vista disso, foram concebidos alguns modelos de democracia, os quais podem ser 
reunidos em três grupos: democracia direta, indireta e semidireta (GOMES, 2016, p. 
67). 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos considera a participação política 
um direito fundamental de todos os indivíduos. Diz, entre outras coisas, em seu artigo 
21, que todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de seu país e que a 
vontade do povo será a base da autoridade do governo. 
 
 
 
 
 
Sendo assim, a participação política é uma necessidade da natureza humana. 
Para todos os seres humanos, a vida em sociedade é indispensável; para que esta seja 
possível, é necessária uma organização, ou seja, é preciso que exista uma ordem, na 
qual as pessoas possam viver e conviver (DALLARI, 2011, p. 64). 
Frisa-se que a participação política não é apenas participação eleitoral, e muitas 
vezes é mais eficiente por outros meios. Desde o século XVIII se afirmou como ideal 
político a democracia, sistema em que a vontade do povo deve estar acima de 
qualquer outra. 
Historicamente, o sistema de escolher representantes para participarem de 
assembleias políticas já aparece no século XVII. Quando os burgueses conquistaram o 
direito de participar das decisões políticas, foi necessário escolher representantes, 
porque não era possível reunir numa sala ou mesmo numa praça pública todos os que 
tinham direitos políticos. 
Em razão da impossibilidade de reunir o povo em praças públicas diariamente 
para tomar decisões políticas, foi criado o sistema de “democracia representativa”, em 
que o povo escolhe representantes e, através deles, manifesta sua vontade. 
Assim, para a escolha dos representantes, foi criado o processo eleitoral; 
surgiram as figuras do eleitor e do candidato. No entanto, para que o povo possa 
escolher seus representantes é preciso, antes de tudo, que haja plena liberdade de 
informação, permitindo que as pessoas formem livremente sua opinião com base no 
maior número possível de dados. 
Paralelamente, tem-se verificado que, ao lado das restrições impostas aos 
governos para que haja liberdade de informação, existe o problema das empresas e 
dos interesses que controlam os meios de comunicação. Além disso, existem os grupos 
 
 
 
 
 
econômicos mais poderosos que usam a imprensa para apresentar os fatos do modo 
como lhes convém, e com frequência o povo é mais enganado do que informado. 
Ademais, não se pode perder de vista que o processo eleitoral é sempre 
dispendioso, impondo sacrifícios econômicos aos que se candidatam. Com isso, os 
candidatos mais ricos e menos escrupulosos para ocupar posições vantajosas se valem 
dessas lacunas para fazer grande publicidade, muitas vezes mentirosa. 
Por outro lado, deve-se reconhecer que o processo eleitoral vem sendo 
aperfeiçoado e que, apesar de todas as suas falhas, oferece ao povo algum espaço 
para que manifeste sua vontade. 
Além disso, a participação política é um dever moral de todos os indivíduos, ou 
seja, é uma necessidade fundamental da natureza humana. Assim, a participação 
intensa e constante de muitos é necessária para impedir que alguns imponham uma 
ordem injusta, que sempre acaba sendo prejudicial para todos. 
 
12.4 A teoria da Representação 
Nas palavras de Dallari (2011, p. 161), a necessidade de governar por meio de 
representantes deixa para o povo o problema da escolha desses representantes. Para 
o autor, cada indivíduo tem suas aspirações, seus interesses e, mesmo que de maneira 
indefinida e imprecisa, suas preferências a respeito das características dos 
governantes. 
No que tange ao sistema de representação política, são inumeráveis no campo 
teórico os esforços que se fazem por aclarar o conceito de representação. As 
reiteradas divergências teóricas, em geral decorrentes de posições doutrinárias ou 
ideológicas, reduzem esta expressão a um juízo de valor. 
 
 
 
 
 
O conceito de representação política tem sido usado nos mais diferentes 
sentidos, servindo para justificar o poder em regimes dos mais diferentes matizes. A 
“duplicidade” do termo foi o ponto de partida para a elaboração de todo o moderno 
sistema representativo, nas suas raízes constitucionais, que assinalam o advento do 
Estado liberal e a supremacia histórica. 
Cabe destacar que o governo representativo está inserido num contexto 
histórico bastante peculiar e se diferencia de outras formas de exercício do poder 
político. O governo representativo se diferencia do modelo de democracia direta, 
como também se diferencia dos sistemas autocráticos de governo nos quais os súditos 
não têm acesso e nem controle sobre as decisões políticas, como no caso dos regimes 
absolutistas.Com base nessas considerações, pode se dizer que o sistema representativo, na 
mais ampla acepção, refere-se a um conjunto de instituições que definem uma certa 
maneira de ser ou de organização do Estado. Em outras palavras, está associado a uma 
modalidade de controle regular do poder governamental por parte daqueles que não 
podem exercê-lo pessoalmente, transferindo para outros essa tarefa. 
Atualmente, a representação política se faz por intermédio de partidos 
políticos. Os partidos tornaram-se peças essenciais para o funcionamento do complexo 
mecanismo democrático contemporâneo. 
Nesse sentido, os partidos captam e assimilam rapidamente a opinião pública; 
catalisam, organizam e transformam em postulados, em bandeiras de luta, as díspares 
aspirações surgidas no meio social, sem que isso implique ruptura no funcionamento 
do governo constituído (GOMES, 2016, p 67). 
O sistema partidário é assegurado pelo artigo 14, § 3º, V da Constituição 
Federal, que instituiu a filiação partidária como condição de elegibilidade. Isso significa 
 
 
 
 
 
que os partidos políticos detêm o monopólio das candidaturas e, para ser votado, o 
cidadão deve filiar-se. 
 
ATENÇÃO: Inexistem no sistema brasileiro candidaturas 
avulsas. O entendimento consolidou-se no sentido de que 
mandato público eletivo pertence à agremiação política, e 
não ao eleito. 
 
No sistema brasileiro, a democracia representativa é temperada com 
mecanismos próprios de democracia direta, entre os quais citam-se o plebiscito, o 
referendo e a iniciativa popular (CF, art. 14, I, II, III, e art. 61, § 2º). 
❖ Plebiscito: consiste na consulta prévia à edição de “ato legislativo ou 
administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe 
tenha sido submetido” (Lei 9.709/1998, art. 2º, § 1º); 
❖ Referendo: é a consulta posterior à edição de “ato legislativo ou 
administrativo, cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição” (Lei 
9.709/1998, art. 2º, § 2º); 
❖ Iniciativa popular: é o poder atribuído aos cidadãos para apresentar projetos 
de lei ao Parlamento, desfechando, com essa medida, procedimento legislativo 
que poderá culminar em uma lei. 
 
Por fim, a implementação da representação passa necessariamente pelos 
partidos políticos, a cujas tendências e orientações encontra-se o mandatário 
vinculado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para saber mais sobre teoria da representação, leia o artigo “Representação Política”, 
disponível no link: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/representacao-
politica/ 
 
 
 
 
 
 
Para saber sobre a diferença entre plebiscito e referendo, assista ao vídeo disponível 
no link: https://youtu.be/S3mEdQKdkfU 
 
 
13 OS PARTIDOS POLÍTICOS 
 
Partidos políticos são associações civis formada pela livre associação de 
pessoas, com organização estável, cujas finalidades são alcançar e/ou manter de 
maneira legítima o poder político estatal e assegurar, no interesse do regime 
democrático de direito, a autenticidade do sistema representativo, o regular 
funcionamento do governo e das instituições políticas, bem como a implementação 
dos direitos humanos fundamentais. 
De acordo com a Lei 9.096/1995, em seu artigo 1º, “os partidos destinam-se a 
assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema 
representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição 
Federal”. Além disso, os partidos políticos ainda possuem direta relação com a defesa 
de ideologias por diversos segmentos da sociedade, garantindo-se, pela pluralidade de 
partidos, a manifestação da voz das minorias e o pluralismo. 
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/representacao-politica/?utm_source=copy&utm_medium=paste&utm_campaign=copypaste&utm_content=https%3A%2F%2Fwww.sabedoriapolitica.com.br%2Fproducts%2Frepresentacao-politica%2F
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/representacao-politica/?utm_source=copy&utm_medium=paste&utm_campaign=copypaste&utm_content=https%3A%2F%2Fwww.sabedoriapolitica.com.br%2Fproducts%2Frepresentacao-politica%2F
https://youtu.be/S3mEdQKdkfU
 
 
 
 
 
É sabido que o pluralismo político é um dos fundamentos da República 
Federativa do Brasil, pois viabiliza por meio do debate o alcance de seus objetivos, 
entre os quais promover o bem de todos sem preconceitos. Assim, os partidos 
políticos, como pessoas jurídicas essenciais ao regime democrático, organizam-se em 
torno de ideias representativas de valores que são defendidos por grupos sociais, que 
buscam, de alguma forma, influenciar ou participar do poder estatal. 
 
 
Leitura obrigatório em: Ramos, MACHADO, Raquel C. Manual de Direito Eleitoral, 2ª 
edição. Págs. 104 até 140. [Minha Biblioteca]. 
 
 
14 OS SISTEMAS ELEITORAIS, O VOTO E AS DISTORÇÕES 
14.1 Os sistemas eleitorais 
Trata-se de uma estrutura complexa, racional e dinamicamente ordenada. O 
sistema eleitoral nada mais é do que um complexo de técnicas e procedimentos 
empregados na realização das eleições, ensejando a conversão de votos em mandato, 
e, consequentemente, a legítima representação do povo no poder estatal. 
O sistema eleitoral permite a aferição da vontade dos cidadãos manifestada 
nas urnas, de modo a propiciar a representação popular no governo, na gestão do 
Estado. Ele tem por função a organização das eleições e a conversão de votos em 
mandatos políticos. 
Nesse contexto, o sistema eleitoral visa proporcionar a captação eficiente, 
segura e imparcial da vontade popular democraticamente manifestada, de forma que 
 
 
 
 
 
os mandatos eletivos sejam conferidos e exercidos com legitimidade. Ressalta-se que o 
sistema eleitoral também possui função de estabelecer meios para que os diversos 
grupos sociais sejam representados, bem como para que as relações entre 
representantes e representados se fortaleçam. 
O direito eleitoral conhece três sistemas tradicionais: o majoritário, o 
proporcional e o misto. A adoção de um ou outro tipo depende das circunstâncias 
históricas de cada sociedade. Nesse sentido, a Constituição do Brasil consagrou os 
sistemas majoritário e proporcional. 
 
Aprofunde seus conhecimentos sobre sistemas eleitorais em: Ramos, MACHADO, 
Raquel C. Manual de Direito Eleitoral, 2ª edição. Págs. 40 até 51[Minha Biblioteca]. 
 
 
 
 
 
 
Após a leitura do acima recomendada, assista ao vídeo disponível no link: 
https://www.youtube.com/watch?v=RkZ3OBaur3k 
 
 
14.2 O voto e as distorções 
Primeiramente, cabe mencionar que o voto e o sufrágio não se confundem. Isso 
significa que enquanto o sufrágio é um direito, o voto representa seu exercício do 
direito. Ou seja, o voto é a concretização do sufrágio. 
https://www.youtube.com/watch?v=RkZ3OBaur3k
 
 
 
 
 
É importante esclarecer que a soberania popular é exercida pelo sufrágio 
universal. Nessa seara, o vocábulo sufrágio significa aprovação, opinião favorável, 
apoio, concordância, aclamação. Em outras palavras, significa manifestação da 
vontade de um conjunto de pessoas para a escolha de representantes políticos. 
O sufrágio traduz o direito de votar e de ser votado, encontrando-se 
entrelaçado ao exercício da soberania popular. Trata-se do poder de decidir sobre o 
destino da comunidade, os rumos do governo, a condução da administração pública. 
Assim, o sufrágio é a essência dos direitos políticos, porquanto enseja a participação 
popular no governo, sendo este o responsável pela condução do Estado. 
Além disso, o poder de sufrágio poderá ser exercido através do voto pelo 
escrutínio secreto (art. 60, II da CF). Hipóteses de sufrágio existentes: 
• Sufrágio universal: é o direito conferido a todos os cidadãos de participar do 
processo eleitoral; consiste no direito de votar e ser votado; 
• Sufrágio restrito: o sufrágio é restrito quando o poder de participação no 
processo eleitoral é conferido apenas a pessoas que preenchem determinados 
requisitos. 
O que diferencia o sufrágio universaldo sufrágio restrito é a razoabilidade das 
restrições. A Constituição Federal estabelece que o menor de 16 anos não pode votar. 
Contudo, tal restrição não retira o caráter universal do sufrágio. 
O sufrágio restrito pode ser classificado da seguinte forma: 
 
CLASSIFICAÇÃO CONCEITO 
Censitário Leva em conta o poder econômico do eleitor. É preciso ter 
uma determinada renda para votar. 
• Existiu no Brasil no período do império. 
Capacitário O poder de sufrágio é conferido a quem tiver um certo grau de 
 
 
 
 
 
instrução. 
• Exemplo: só poderá votar quem tiver curso superior 
completo. 
Racial Restrição do exercício do poder do sufrágio em razão da etnia. 
Por gênero Só poderão votar as pessoas de determinado sexo. 
• Apenas a partir de 1932, com a promulgação do 
Decreto 21.076, as mulheres passaram a ter direito ao 
voto no Brasil. 
Religioso Só poderá votar quem pertencer a determinada religião. 
Sufrágio plural O mesmo indivíduo tem o poder de exercer mais de uma vez 
seu direito ao voto. 
• Isso faz com que o poder de voto de certas pessoas 
seja maior do que o de outras. 
Sufrágio singular É adotado no Brasil. 
• É o chamado “one man, one vote”, em que cada pessoa 
tem direito a um voto. 
Sufrágio direto Poder exercido diretamente pelo cidadão. 
Sufrágio indireto Poder democrático exercido por representantes do povo. 
❖ Exemplo: nos Estados Unidos, quem vota para 
presidência da República são os delegados, que foram 
escolhidos pela população. 
Fonte: Próprio autor 
 
No que tange ao voto, pode se dizer que é um dos mais importantes 
instrumentos democráticos, pois enseja o exercício da soberania popular e do sufrágio. 
É o ato pelo qual os cidadãos escolhem os ocupantes dos cargos político-eletivos. Por 
ele, concretiza-se o processo de manifestação da vontade popular. 
Além disso, o voto é também um dever cívico e, por isso, é obrigatório para os 
maiores de 18 anos e menores de 70 anos (CF, art. 14, § 1º, I). 
 
 
 
 
 
 
O não comparecimento à seção eleitoral no dia do pleito por se encontrar fora 
de seu domicílio eleitoral deve ser justificado no dia da eleição em formulário próprio, 
ou até 60 dias depois, sob pena de multa (art. 7º, caput, CE). Se o eleitor estiver no 
exterior na data do pleito, esse prazo passa a ser de 30 dias, contados, porém, do 
retorno ao país. 
Destaca-se que o artigo 7º §, 3º do Código Eleitoral disciplina que o eleitor que 
se abstiver de votar por três vezes consecutivas, não justificar sua ausência às urnas 
nem recolher a multa imposta terá sua inscrição eleitoral cancelada, perdendo, pois, 
sua condição de cidadão. 
Apesar de haver o dever de comparecimento às eleições, pois é dever votar, 
todos são livres para escolher ou não um candidato e até anular voto ou votar em 
branco. Nesse contexto, pode-se dizer que a obrigatoriedade do voto nada mais é do 
que a obrigatoriedade de comparecimento à seção eleitoral, já que não fica o eleitor 
adstrito a emanar sua vontade, isto é, a escolher determinado candidato e nele votar. 
Outro ponto a ser lembrado diz respeito ao sigilo do voto, que assegura a 
probidade e a lisura no processo eleitoral, pois evita o suborno, a corrupção do voto, a 
intimidação do eleitor. Significa que somente o eleitor, querendo, poderá revelar seu 
voto, descortinando suas preferências políticas. 
Além do mais, cada voto deverá ser contabilizado individualmente e ter 
assegurados o sigilo e a inviolabilidade (Lei 9.504/1997, arts. 59, § 4º, e 61). Na 
votação eletrônica, o sigilo é assegurado pelo uso de sistemas de informática 
desenvolvidos com exclusividade para a Justiça Eleitoral e por mecanismos específicos 
da urna, como a autonomia operacional, o não funcionamento em rede, a chave de 
segurança e a lacração a que é submetida. 
 
 
 
 
 
Apesar de atualmente votação e a totalização dos votos ser feitas pelo sistema 
eletrônico, o TSE poderá autorizar, em caráter excepcional, a votação pelo sistema 
convencional, no qual são empregadas cédulas. Isso só ocorrerá se a urna eletrônica 
apresentar defeito insanável ou de difícil reparação no momento da votação e não 
puder ser substituída por outra, a chamada urna de contingência. 
Vale destacar que somente quando não houver êxito com esta e com os 
respectivos procedimentos de contingência é que a votação passa a ser por cédula. 
Nesse caso, aplicam-se os artigos 83 a 89 da Lei 9.504/1997. Complementando tais 
dispositivos, o artigo 103 do Código Eleitoral arrola providências a serem ultimadas 
com o objetivo de se assegurar o sigilo do voto. 
 
14.2.1 Voto e escrutínio 
O voto não se confunde com escrutínio. O voto é o exercício do sufrágio, dos 
direitos políticos, traduzindo o ato de escolher. Já o termo escrutínio comporta vários 
significados. Escrutínio designa a maneira como o processo de votação se perfaz, isto 
é, o modo como o voto se concretiza. Por exemplo: 
• Diferentemente do que ocorre no escrutínio secreto, no público, o votante é 
identificado; 
• No chamado escrutínio de lista, os nomes dos candidatos são arrolados em 
uma lista. 
A palavra escrutínio também identifica o processo de apuração dos votos 
depositados na urna. Nesse sentido, o verbo escrutinar significa apurar os resultados 
de uma votação; logo, o escrutinador é a pessoa que realiza a apuração ou a contagem 
dos votos. 
 
 
 
 
 
Em outras palavras, significa o número de vezes que os mesmos eleitores são 
chamados a votar na mesma eleição, ou seja, é o sinônimo de turno. Pode-se dizer que 
a eleição se deu em primeiro ou segundo escrutínio. 
 
Leitura obrigatória em: Ramos, MACHADO, Raquel C. Manual de Direito Eleitoral, 2ª 
edição. Pág. 05 e 06 [Minha Biblioteca]. 
 
14.2.2 Voto eletrônico ou informatizado 
O marco inicial do voto eletrônico no Brasil ocorreu com Lei 7.444/1985, que 
informatizou os procedimentos de alistamento eleitoral e revisão do eleitorado. A 
Justiça Eleitoral passou a contar com setor próprio de informática, desenvolvendo e 
implantando sistemas computacionais para o atendimento de suas necessidades. 
A partir disso, Justiça Eleitoral desenvolveu uma rede de transmissão de dados 
interligando todos os órgãos da Justiça Eleitoral, ou seja, o TSE, os TREs e as Zonas 
Eleitorais. Em 1994, já foi possível proceder-se à totalização dos votos por meio 
eletrônico. Embora tivessem sido apurados manualmente, os dados foram lançados 
em computadores e aí totalizados. 
A Lei 9.504/1997 consolidou o sistema de votação eletrônica: o artigo 59 
definiu que a votação e a totalização dos votos serão feitas de forma eletrônica, mas o 
TSE poderá autorizar, em caráter excepcional, a votação pelo sistema convencional, no 
qual serão empregadas cédulas. 
Além disso, a urna eletrônica deverá dispor de recursos que, mediante 
assinatura digital, permitam o registro digital de cada voto e a identificação da urna 
em que foi registrado, resguardado o anonimato do eleitor (LE, art. 59, § 4º). Deverá 
 
 
 
 
 
ainda contabilizar cada voto, assegurando-lhe o sigilo e a inviolabilidade, garantida 
ampla fiscalização aos partidos políticos, coligações e candidatos (LE, art. 61). 
 
 
 
Para saber mais sobre sistema de votação, acesse a Lei 9.504/1997, disponível no link: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm 
 
 
14.3 A igualdade eleitoral e o acesso ao poder 
Para falarmos de igualdade eleitoral, primeiramente é preciso compreender o 
princípio da lisura das eleições que se respalda na perseguição da verdade real, 
inclusive possibilitando que o juiz produza prova de ofício. 
O teor do art. 23 da Lei Complementar 64/1990 dispõe que o Tribunal formará 
sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e 
presunções e prova produzida, atentando para circunstâncias ou fatos, ainda que não 
indicados ou alegados pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura 
eleitoral.Nesse sentido, os candidatos devem disputar o pleito eleitoral em paridade de 
condições. Significa que, pela lisura das eleições, os meios empregados nas 
propagandas, nas campanhas devem ser éticos e justos. 
O princípio da lisura eleitoral busca garantir a igualdade de todos os candidatos 
perante a Lei Eleitoral. Ele decorre diretamente do princípio da moralidade, o que 
significa que as eleições devem estar livres de corrupção, fraude e abuso do poder 
econômico. Vejamos algumas características desse princípio: 
• Corolário da moralidade; 
• Tutela a integridade e a ética nas eleições; 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm
 
 
 
 
 
• Busca assegurar a legitimidade política; 
• Coíbe o uso indevido dos meios de comunicação; 
• Garante que os candidatos terão tratamento isonômico e que concorrerão 
em igualdade de condições. 
Como já vimos, esse princípio eleitoral tem a função de garantir a igualdade de 
oportunidade de acesso aos cargos públicos eletivos; porém, pode ser violado pela 
prática das condutas ilícitas como o abuso de poder eleitoral. 
No que diz respeito ao abuso de poder eleitoral, cabe destacar que o poder é a 
capacidade de determinada pessoa ou grupo fazer valer a sua vontade numa relação. 
Ou seja, ele advém de causas distintas, como a posição jurídica ou social ocupada por 
determinada pessoa, ou eventual condição de preponderância física, econômica e 
intelectual. 
Para o direito eleitoral, importam o poder político, o econômico e aquele nos 
meios de comunicação, com a análise de sua interferência desequilibrada no processo 
eleitoral (MACHADO, 2018, p. 243). Para o autor, é relevante não apenas a 
compreensão do poder, mas do poder legítimo, cujo exercício se considera válido. 
Segundo descreve Machado (2018, p. 243), o poder político legítimo é 
prerrogativa detida por algumas pessoas para melhor exercerem determinada função. 
Exemplo disso é a hipótese do poder do chefe do Executivo para organizar a máquina 
administrativa, com a finalidade de realizar o interesse público, concretizar o bem 
comum e o princípio da eficiência. 
Entretanto, ocorrerá abuso de poder quando seu titular extrapolar suas 
atribuições ou tentar alcançar fins diversos dos que justificam suas prerrogativas. Ou 
seja, a partir do momento em que o chefe do Executivo utiliza a prerrogativa de 
 
 
 
 
 
organização da máquina administrativa para beneficiar um protegido político, ou a 
própria campanha eleitoral, claramente agirá com abuso de poder. 
No que tange ao abuso de poder econômico, esse ilícito se caracteriza quando 
os candidatos utilizarem o poder financeiro com a finalidade de obter vantagem, 
mesmo que indireta, durante as eleições. 
Assim, o poder, nada mais é do que o reconhecimento de uma situação de 
prevalência juridicamente limitada, ou seja, de um direito cujos contornos são dados 
por outras normas do ordenamento. Em outras palavras, o direito admite, e muitas 
vezes até requer, o exercício do poder, mas sempre dentro de determinados limites, 
seja o poder político, seja o econômico. 
 
14.3.1 Abuso de poder simples 
O abuso de poder simples configura-se independentemente de afetar a lisura 
da disputa, ou a normalidade e a legitimidade, não sendo necessária a comprovação 
da gravidade da conduta. 
Nas palavras de Machado (2018, p. 244), sua teorização e sua normatização 
têm por fim levar ao: 
Aperfeiçoamento das instituições democráticas, combatendo 
condutas claramente ilícitas durante a campanha, que revelam a 
aptidão de jogar qualquer jogo para se alcançar o poder, como a 
compra de voto, a fraude, o uso de valores indevidamente 
arrecadados, gastos não declarados, o abuso de prerrogativas do 
cargo etc. 
 
Essa teorização advém de gradativa alteração da legislação eleitoral, diante da 
percepção de que algumas condutas deveriam ser combatidas, com o manejo de ações 
 
 
 
 
 
próprias, por meio da tipificação específica de comportamentos prejudiciais ao 
desenvolvimento da democracia. 
Por fim, a finalidade primordial das normas que visam a atacar o abuso de 
poder simples é a cassação do registro ou do diploma, ou ainda a desconstituição do 
mandato. Apenas indiretamente elas podem levar à inelegibilidade. 
 
14.3.2 Abuso de poder qualificado 
O abuso de poder qualificado materializa-se apenas diante de condutas graves, 
nos termos do art. 22, XVI da LC 64/1990: 
 
Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério 
Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente 
ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, 
indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para 
apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do 
poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de 
comunicação social, em benefício de candidato ou de partido 
político, obedecido o seguinte rito: 
[...] 
XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada a 
potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a 
gravidade das circunstâncias que o caracterizam. (BRASIL, 1990). 
 
A finalidade imediata é, além da cassação do registro ou diploma do candidato 
diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou 
abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, a aplicação direta da 
sanção de inelegibilidade. O abuso de poder qualificado pode ser atacado por meio da 
ação de investigação judicial eleitoral nos termos do art. 22 da LC 64/1990. 
 
 
 
 
 
Por outro lado, o abuso de poder simples, com hipóteses específicas para cada 
uma de suas subespécies, pode ser causa de pedir da ação de impugnação de mandato 
eletivo (art. 14, §§ 10 e 11 da CF/88), da ação por captação ilícita de recursos (art. 30-A 
da Lei 9.504/1997), da ação por captação ilícita de votos (art. 41-A da Lei 9.504/1997) 
e da ação por prática de conduta vedada (art. 73 da Lei 9.504/1997). 
 
14.3.3 Abuso de Poder Econômico e Abuso de Poder Político 
O abuso de poder econômico ocorre quando há uso indevido do patrimônio ao 
longo do processo eleitoral, malferindo, dentre outros, princípios como o da liberdade 
de voto, da igualdade entre candidatos, da transparência. 
É importante deixar claro que este não necessariamente guarda relação direta 
com as contas prestadas pelos candidatos e gastos por ele realizados. Significa que, 
eventualmente, as contas podem preencher os requisitos formais previstos pelo 
ordenamento e ainda assim ter havido, por exemplo, abuso do poder econômico com 
a compra de votos. 
Nesse sentido, o abuso se configura sempre que os valores econômicos são 
utilizados para distorcer o pleito, como no caso de compra de votos. Apesar de ser 
possível sua ocorrência em outras situações que não apenas aquelas relacionadas às 
contas de campanha, a forma mais eficiente de evitá-lo é exatamente pelo controle 
dos valores movimentados durante o período eleitoral. 
Logo, se a entrada de valores é licita e contabilizada, se os gastos são lícitos e 
contabilizados, não há como ocorrer abuso de poder econômico. Partindo desse 
princípio, é correto afirmar que o abuso de poder econômico se configura, sobretudo, 
quando são utilizadas nas campanhas verbas vedadas, ou verbas, ainda que lícitas, 
obtidas por meios ilícitos, acima dos limites permitidos pela legislação. 
 
 
 
 
 
Exemplos disso são as quantias não contabilizadas representativas de um 
“Caixa 2”, ou mascaradas por meio de operações inexistentes, como a compra de 
material gráfico de empresa inexistente, ou sem porte para realizar a operação. Assim, 
a obtenção de valores não admitidos pelo ordenamento leva a gastos também não 
admitidos. 
Por fim, o abuso do poder político é o uso das prerrogativas de cargo, emprego 
ou função pública para obter vantagens na disputa eleitoral, prejudicando a liberdade 
de voto. 
 
Saiba mais sobreessa temática em: Ramos, MACHADO, Raquel C. Manual de Direito 
Eleitoral, 2ª edição. Págs. 249 até 282. [Minha Biblioteca]. 
 
15 O DIREITO ELEITORAL NO BRASIL 
O direito eleitoral é o ramo do direito público cujo objeto são os institutos, as 
normas e os procedimentos que regulam o exercício do direito fundamental de 
sufrágio com vistas à concretização da soberania popular, à validação da ocupação de 
cargos políticos e à legitimação do exercício do poder estatal (GOMES, 2016, p. 48). 
Em outras palavras, incumbe ao direito eleitoral disciplinar a manifestação de 
soberania popular de escolha dos governantes, com a definição de quem pode ser 
eleitor e o que é preciso para ser eleito, passando pela eleição até chegar à investidura 
dos governantes nos cargos para os quais foram eleitos. 
Como ocorre em relação a outros ramos do direito, “direito eleitoral” é 
expressão plurissignificativa, pois pode designar tanto a ciência que estuda o conjunto 
 
 
 
 
 
de normas jurídicas disciplinadoras de determinada relação como o conjunto de textos 
dos quais se extraem essas normas jurídicas. 
Assim, a observância dos preceitos eleitorais confere legitimidade a eleições, 
plebiscitos e referendos, o que enseja o acesso pacífico, sem contestações, aos cargos 
eletivos, tornando autênticos o mandato, a representação popular e o exercício do 
poder político. 
Entre os bens jurídico-políticos tutelados pelo direito eleitoral, destacam-se a 
democracia, a legitimidade do acesso e do exercício do poder estatal, a 
representatividade do eleito, a sinceridade das eleições, a normalidade do pleito e a 
igualdade de oportunidades entre os concorrentes. 
Considerando que o direito eleitoral em sua primeira acepção, de ciência, 
pode-se afirmar que é o ramo do direito que estuda o “processo eleitoral” à luz das 
normas jurídicas que o disciplinam. 
Para Machado (2018, p. 23), o “processo eleitoral” transborda a ideia de 
contencioso eleitoral, abarcando meros procedimentos. Assim, o conjunto de atos, 
procedimentos e relações jurídicas vai desde o alistamento eleitoral, com o ingresso 
dos cidadãos no corpo de eleitores, até a fase da diplomação, momento em que os 
candidatos eleitos recebem da Justiça Eleitoral o diploma para a posse e o exercício no 
cargo. Vejamos: 
 
 
 
Alistamento
Convenção 
partidária 
Registro de 
candidatura
Propaganda 
eleitoral
Eleição Diplomação
 
 
 
 
 
É importante lembrar que, em cada fase, estuda-se não apenas seu desenrolar, 
mas as instituições, os sujeitos e os institutos envolvidos, assim como os direitos que 
são pré-requisitos para a participação na vida política. 
Outro ponto a ser destacado é que a Justiça Eleitoral, além de realizar atos, 
examinar procedimentos administrativos e julgar ações judiciais propostas ao longo de 
todo o processo eleitoral, julga ações cujo prazo inicial de propositura é a diplomação 
dos eleitos, após, portanto, o período que classicamente se chama processo eleitoral. 
Integram o objeto de estudo do direito eleitoral as condições para o exercício 
dos direitos políticos e para a aquisição da capacidade eleitoral ativa e passiva, além de 
todas as etapas do processo eleitoral em sua fase administrativa, bem como a 
organização da Justiça Eleitoral, do Ministério Público Eleitoral, o processo eleitoral 
contencioso e os crimes eleitorais. 
Em linhas gerais, pode se dizer que objetivo do direito eleitoral é garantir a 
normalidade e a legitimidade do processo eleitoral. Outro ponto diz respeito à 
competência para legislar sobre direito eleitoral, que é privativa da União (art. 22, I da 
CF). Não obstante, lei complementar poderá autorizar os estados a legislar sobre 
questões específicas (art. 22, parágrafo único da CF). 
 
15.1 Fontes do direito eleitoral 
O direito eleitoral pode ser considerado um microssistema jurídico, pois é 
composto de normas de caráter material e processual de natureza civil, administrativa 
e penal. 
O microssistema jurídico integra o sistema. O prefixo micro, do grego mikrós, 
significa pequeno, curto, de diminuta proporção. Nesse sentido, microssistema remete 
 
 
 
 
 
a um sistema de proporções menores que outro, no qual se encontra inserido. São 
fontes diretas do direito eleitoral: 
• A Constituição Federal; 
• O Código Eleitoral (Lei 4.737/1965) - 
• A Lei das Eleições (Lei 9.504/1997); 
• A Lei Orgânica dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995); 
• A Lei das Inelegibilidades (LC 64/1990); 
• E as Resoluções do TSE. 
Vale lembrar que existe um poder regulamentar instituído pelo Código 
Eleitoral, reafirmado pela Lei das Eleições, a partir do qual o legislador conferiu ao 
poder Judiciário (TSE) a prerrogativa de esmiuçar o conteúdo previsto em lei e nas 
normas gerais produzidas pelo poder Legislativo. 
Código Eleitoral: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm 
Lei das Eleições: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm 
Lei dos Partidos Políticos: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm 
Lei da inelegibilidade: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp64.htm 
 
 
Leia mais em: Ramos, MACHADO, Raquel C. Manual de Direito Eleitoral, 2ª edição. 
Pág. 18. [Minha Biblioteca]. 
 
15.2 Princípios do direito eleitoral 
Entre os princípios fundamentais, podem-se apontar os que mais se destacam: 
princípio da lisura das eleições, princípio do aproveitamento do voto, princípio da 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9096.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp64.htm
 
 
 
 
 
celeridade, princípio da anualidade eleitoral, princípio da moralidade eleitoral, 
princípio da periodicidade da investidura das funções eleitorais. 
Os princípios ajudam a compreender mais sistematicamente matérias próprias 
do direito eleitoral, como a votação, a aplicação da lei eleitoral, a atuação de partidos 
políticos e o desenrolar do processo contencioso, pois propiciam reflexão sobre a 
forma mais justa de realizar e implementar cada um de seus passos. 
É importante mencionar que não há consenso doutrinário ou jurisprudencial 
sobre os princípios do direito eleitoral, assim como não há texto normativo que os 
enumere exaustivamente. 
Além disso, como a legislação eleitoral é mutante, o conhecimento dos 
princípios, mais sólidos e perenes, é necessário – pois permite uma compreensão mais 
consistente da disciplina. 
 
Leia mais em: Ramos, MACHADO, Raquel C. Manual de Direito Eleitoral, 2ª edição. 
Pág. 20 [Minha Biblioteca]. 
 
15.3 Funções da Justiça Eleitoral 
A Justiça Eleitoral é um ramo especializado do poder Judiciário. É responsável 
por organizar todas as etapas do processo eleitoral brasileiro, desde o alistamento dos 
eleitores até a diplomação dos candidatos eleitos. Segunda a doutrina, a Justiça 
Eleitoral desempenha quatro funções: 
• Jurisdicional; 
• Administrativa; 
• Legislativa (normativa); 
 
 
 
 
 
• Consultiva. 
Na função jurisdicional, impera o princípio da demanda, em que o juiz decide 
dentro dos limites em que a tutela jurisdicional foi requerida. Assim, a função 
jurisdicional da Justiça Eleitoral está ligada ao processo eleitoral, sendo o marco inicial, 
em regra, o alistamento e o marco final, a diplomação. 
Quanto às matérias interna corporis dos partidos políticos, a jurisprudência dos 
Tribunais Superiores é pacífica no sentido de que carece de competência à Justiça 
Eleitoral para apreciá-las, sendo competente à Justiça Comum. Conforme já se decidiu 
o Superior Tribunal de Justiça (STJ), as causas envolvendo a validade de uma 
convenção partidária não são de competência da Justiça Eleitoral, quando não tiver se 
iniciado o processo eleitoral. 
No que tange a função administrativa da Justiça Eleitoral, dá-se através da 
organização e administração do processoeleitoral, tendo ainda, como atribuições, o 
alistamento de eleitor, a nomeação de mesários, a revisão de eleitorado, a designação 
dos locais de votação, a criação e extinção de seções e zonas eleitorais, dentre outras 
atividades de cunho administrativo. 
Dentre as atividades administrativas da Justiça Eleitoral, destaca-se o poder de 
polícia. O art. 41 da Lei 9.504/1997 dispõe que aos juízes eleitorais cabe o combate à 
propaganda irregular. Frisa-se que poder de polícia sobre a propaganda eleitoral será 
exercido pelos juízes eleitorais e pelos juízes designados pelos Tribunais Regionais 
Eleitorais. 
Não se pode perder de vista que poder de polícia se restringe às providências 
necessárias para inibir práticas ilegais, vedada a censura prévia sobre o teor dos 
programas a serem exibidos na televisão, no rádio ou na internet. Trata-se de função 
administrativa da Justiça Eleitoral. 
 
 
 
 
 
Logo, o juiz eleitoral não pode de ofício aplicar imediatamente multa ao 
infrator; a sanção somente pode ser aplicada após o devido processo legal, cujo 
legitimado para a demanda é o Ministério Público, partido político, coligação e 
candidato (Súmula 18 do TSE). 
Passando para a função normativa ou legislativa, cabe destacar a disposição 
contida nos art. 1°, parágrafo único, e art. 23, inciso IX. do Código Eleitoral: 
 
 Art. 1º Este Código contém normas destinadas a assegurar a 
organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de 
votar e ser votado. 
Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral expedirá Instruções 
para sua fiel execução. 
Art. 23 - Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior, [...] 
IX - Expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste 
Código; [...] (BRASIL, 1965). 
 
Nesse sentindo, as instruções e demais deliberações de caráter normativo do 
TSE são veiculadas em resoluções, que podem ter caráter temporário ou não. E as 
resoluções expedidas pelo TSE ostentam força de lei, pois detém a mesma eficácia 
geral e abstrata atribuída as leis. 
Quanto à função consultiva, esta é uma peculiaridade que decorre do art. 23, 
XII, e do art. 30, VIII do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965). Vejamos primeiramente o 
disposto no art. 23, XII: 
 
Art. 23 - Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior, [...] 
XII - responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem 
feitas em tese por autoridade com jurisdição, federal ou órgão 
nacional de partido político; [...] (BRASIL, 1965). 
 
 
 
 
 
 
As consultas dirigidas ao TSE devem ser formuladas por autoridades públicas 
federais ou órgão nacional do partido político. 
 
Art. 30. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais Regionais: [...] 
VIII - responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhe forem 
feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político; [...] 
(BRASIL ,1965). 
 
A consulta deverá ser sempre formulada em tese, sobre um tema eleitoral, não 
sendo admitida consulta sobre caso concreto. E a resposta à consulta deve ser 
fundamentada. Ainda que não tenha caráter vinculante, orienta a ação dos órgãos da 
Justiça Eleitoral, podendo servir de fundamento para decisões na esfera administrativa 
e/ou judicial. 
Por fim, não podemos deixar de mencionar que são órgãos da Justiça Eleitoral: 
o Tribunal Superior Eleitoral, os Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as 
Juntas Eleitorais (art. 118 da CF): 
 
Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: 
I - o Tribunal Superior Eleitoral; 
II - os Tribunais Regionais Eleitorais; 
III - os Juízes Eleitorais; 
IV - as Juntas Eleitorais. 
 
A Justiça Eleitoral não tem uma composição própria, pois seus membros não 
integram carreira própria. Por esse motivo, não detêm vitaliciedade, apesar de terem 
irredutibilidade de subsídios e inamovibilidade. 
Nos termos do art. 121, § 2º da CF, os juízes dos tribunais eleitorais, salvo 
motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios 
 
 
 
 
 
consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo 
processo, em número igual para cada categoria. 
 
 
 
 
Para saber mais sobre recursos justiça eleitoral: https://www.justicaeleitoral.jus.br/ 
 
 
 
Referências 
ALEXANDRINO, Marcelo. Resumo de direito administrativo descomplicado. 9. ed. rev. 
e atual. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. 
 
ALMEIDA, Roberto Moreira de. Curso de direito eleitoral. 11. ed. Salvador: JusPodivm, 
2017. 
 
BARRETTO, Rafael. Direito eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 10. edição. São Paulo: Malheiros, 2000. 
 
BRASIL. Lei 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de 
responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e 
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá 
outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, p. 10649, 24 jul. 1985, 
 
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 
nov. 2020. 
 
https://www.justicaeleitoral.jus.br/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
 
 
 
 
 
BRASIL. Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Dispõe sobre o regime jurídico dos 
servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. 
Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 128, n. 237, p. 23935, 12 dez. 1990. 
 
BRASIL. Lei 8.745, de 9 de dezembro 1993. Dispõe sobre a contratação por tempo 
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, 
nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição Federal, e dá outras providências. 
Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 131, n. 235, p. 18937, 10 dez. 1993. 
 
BRASIL. Lei 9.962, de 22 de fevereiro de 2000. Disciplina o regime de emprego público 
do pessoal da administração federal direta, autárquica e fundacional, e dá outras 
providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, ano 138, n. 38, p. 1, 23 fev. 
2000 . 
 
BRASIL. Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações 
previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 
da Constituição Federal; altera a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei 
nº 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 
1991; e dá outras providências. Diário Oficial da União: Edição Extra, Brasília, ano 148, 
n. 221-A, p. 1, 18 nov. 2011. 
 
BRASIL ESCOLA. O que é cidadania? https://brasilescola.uol.com.br/o-que-
e/geografia/o-que-e-cidadania.htm. Acesso em: 28 de nov. 2020. 
 
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. 
ed. Coimbra: Almedina, 2003. 
 
CARVALHO, Matheus. Manual de direito administrativo. 4. ed. rev. ampl. e atual. 
Salvador: JusPodivm, 2017. 
 
DALLARI, Dalmo Abreu de. O que é participação política. Edição do Kindle. São Paulo: 
Brasiliense, [s. d.]. (Coleção Primeiros Passos). 
 
DALLARI, Dalmo de Abreu de. Elementos de teoria geral do Estado. São Paulo: Saraiva, 
2011. 
 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 28. ed. São Paulo: Atlas, 2014. 
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-cidadania.htm
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-cidadania.htm
 
 
 
 
 
 
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 33. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2020. 
 
FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional - 9. ed. rev. ampl. e 
atual. Salvador. JusPOOIVM, 2017. 
 
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Direito e cidadania na Constituição Federal. Disponível 
em: http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista3/rev1.htm. 
Acesso em: 28 de nov. 2020. 
 
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2016. 
 
GOMES, José J. Direito Eleitoral. São Paulo: Grupo GEN,2021. 
 
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2019. (Coleção Esquematizado). 
 
MACHADO, Raquel Cavalcanti Ramos. Direito eleitoral. 2. ed. rev., atual. e ampl. São 
Paulo: Atlas, 2018. 
 
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação 
constitucional. 9. ed. São Paulo: Atlas: 2010. 
 
NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3. ed. São Paulo: 
Saraiva Educação, 2019. 
 
POLITIZE. Por que é importante falarmos em cidadania? Disponível em: 
https://www.politize.com.br/por-que-e-importante-cidadania/ Acesso em: 28 de nov. 
2020. 
 
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 29. ed. São Paulo: 
Malheiros: 2015. 
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista3/rev1.htm
https://www.politize.com.br/por-que-e-importante-cidadania/constitucional 
(EC) tendente a aboli-las. As cláusulas pétreas estão previstas no art. 60, § 4º, da 
CF/1988. Vejamos: 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - a forma federativa de Estado; 
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; 
III - a separação dos Poderes; 
IV - os direitos e garantias individuais. 
 
Outro fator importante que garante a supremacia da Constituição está na 
classificação, pois a doutrina apresenta diversos critérios para classificá-la. Na 
classificação das constituições “quanto à estabilidade”, considera-se o grau de 
dificuldade para a modificação do texto constitucional. A CF/88 é rígida, pois exige 
procedimento especial para sua modificação por meio de emendas constitucionais, 
qual seja: votação em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional, e aprovação 
de pelo menos três quintos dos integrantes das casas legislativas (art. 60, §2º, CF/88). 
Assim, da rigidez constitucional decorre o princípio da supremacia da 
Constituição. É que, em virtude da necessidade de processo legislativo especial e mais 
complexo para que uma norma seja inserida no texto constitucional, fica claro, por 
consequência lógica, que as normas constitucionais estão em patamar hierárquico 
superior ao das demais normas do ordenamento jurídico. 
 
 
 
 
 
 
2 PRINCÍPIOS E REGRAS 
Você sabe a diferença entre regras e princípios? Pois bem; primeiro, é 
importante saber que as NORMAS se dividem em dois tipos: 
1. Regras e; 
2. Princípios. 
NORMAS são o GÊNERO, e regras e princípios são espécies. 
Quando estivermos tratando de regras e princípios (implícitos e explícitos) 
previstos na Constituição, estaremos nos referindo às espécies de NORMAS 
CONSTITUCIONAIS. 
Segundo o professor Ricardo Vale2, as regras são mais concretas e servem para 
definir condutas. Já os princípios são mais abstratos: não definem condutas, mas sim 
diretrizes para que se alcance a máxima concretização da norma. 
As REGRAS não admitem o cumprimento ou descumprimento parcial e seguem 
a lógica do “tudo ou nada”; ou seja, se uma regra vale, então, deve-se fazer 
exatamente aquilo que ela exige; nem mais, nem menos. Portanto, quando duas 
regras entram em conflito, cabe ao aplicador do direito determinar qual delas foi 
suprimida pela outra. Vale destacar que as regras servem para impor, permitir ou 
proibir uma situação. Exemplos de regras: 
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. 
[...] 
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos 
menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais 
na velhice, carência ou enfermidade. (BRASIL, 1988). 
 
 
2 Professor de direito constitucional do Estratégia Concursos (2019). 
 
 
 
 
 
Por outro lado, os princípios podem ser cumpridos apenas parcialmente. No 
caso de colisão entre princípios, o conflito é apenas aparente, ou seja, um NÃO será 
excluído pelo outro. Assim, apesar de a Constituição, por exemplo, garantir a livre 
manifestação do pensamento (art. 5º, IV, CF/88), esse direito não é absoluto. Ele 
encontra limites na proteção à vida privada (art. 5º, X, CF/88), outro direito protegido 
constitucionalmente; outro conflito muito comum é o que ocorre entre o princípio do 
desenvolvimento nacional e o princípio do meio ambiente sadio. 
É por isso que, segundo o dicionário da língua portuguesa, dúctil significa algo 
que se consegue distender ou comprimir sem que haja rompimento; flexível e 
maleável – assim são os princípios, que podem ser aplicados de forma apenas parcial, 
quando houver conflito entre eles. 
Assim, quando houver conflito entre os princípios, este será resolvido pela 
autoridade julgadora, sendo observado o caso concreto para definir qual princípio 
sofrerá limitação em detrimento do outro. De certo que o magistrado fará juízo de 
ponderação/balanceamento (atribuindo pesos), a concordância prática e a proibição 
de excesso, destacando o postulado da igualdade, o da razoabilidade e o da 
proporcionalidade. Veja um exemplo de princípio: art. 1º, III da CF de 1988: a 
dignidade da pessoa humana. Veja o esquema abaixo: 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Próprio autor. 
 
Importante que você saiba que a doutrina afirma que os princípios têm função 
normogenética, pois eles dão origem às regras, ou seja, eles estão na gênese de várias 
regras. 
Assim, nas palavras do professor Pedro Leanza (2019)3, “não se pode dizer nem 
que os princípios são mais importantes do que as regras, nem que as regras são mais 
necessárias que os princípios. Cada espécie normativa desempenha funções diferentes 
e complementares, não se podendo sequer conceber uma sem a outra, e a outra sem 
a uma”. 
Em resumo, nas palavras do professor Nunes Júnior4, enquanto as regras são 
normas de conteúdo mais determinado, delimitado, claro, preciso, os princípios são 
normas de conteúdo mais amplo, vago, indeterminado, impreciso. O que diferencia a 
regra do princípio não é o assunto da norma jurídica, mas a forma através da qual ela é 
tratada. 
 
3 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. 
(Coleção Esquematizado). 
4 NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva 
Educação, 2019. 
 
 
 
 
 
 
Para saber mais sobre essa temática, assista aos vídeos: 
https://youtu.be/oCpVnGdWMsU e https://youtu.be/BANmMU36SuU 
 
 
 
Leia Lenza, Pedro. Esquematizado: Direito Constitucional. Editora Saraiva, 2020. 
[Minha Biblioteca]. 
 
 
3 PODER CONSTITUINTE 
A primeira informação é a seguinte: poder constituinte, basicamente, é aquele 
que cria a Constituição, ou seja, é aquele que inaugura um novo ordenamento jurídico. 
Indo mais além, podemos dizer que o poder constituinte pode criar, garantir ou 
eliminar uma Constituição entendida como lei fundamental da comunidade política. 
Mas quem é o titular do poder constituinte? 
A titularidade do poder constituinte é do povo, pois só este pode determinar a 
criação ou modificação de uma Constituição. Lembrando que nosso estudo será 
voltado a nossa Constituição Federal de 1988. 
Segundo o Professor Ricardo Vale5, “a forma democrática de exercício pode se 
dar tanto diretamente quanto indiretamente. Na primeira, o povo participa 
diretamente do processo de elaboração da Constituição, por meio de plebiscito, 
referendo ou proposta de criação de determinados dispositivos constitucionais. Na 
 
5 Professor de direito constitucional do Estratégia Concursos (2019). 
https://youtu.be/oCpVnGdWMsU
https://youtu.be/BANmMU36SuU
 
 
 
 
 
segunda, mais frequente, a participação popular se dá indiretamente, por meio de 
assembleia constituinte, composta por representantes eleitos pelo povo” (grifos 
nossos). 
3.1 Espécies de Poder constituinte 
O poder constituinte classifica-se em poder constituinte originário ou de 
primeiro grau e poder constituinte derivado, constituído ou de segundo grau. 
 
 
Fonte: Próprio autor. 
 
Importante dizer que há possibilidade de apontar duas formas básicas de 
expressão do poder constituinte originário: assembleia nacional constituinte 
(promulgação) e movimento revolucionário/revolução (outorga). A outorga é o 
estabelecimento da Constituição por declaração unilateral do agente revolucionário, 
que autolimita seu poder. É imposta. Por exemplo, as Constituições de 1824. 
A assembleia nacional constituinte, também denominada convenção, nasce da 
deliberação da representação popular, devidamente convocada pelo agente 
revolucionário, para estabelecer o texto organizatório e limitativo de poder. Por 
exemplo, a CF de 1988. 
 
 
 
 
 
 
3.2 Poder ConstituinteOriginário ou de primeiro grau 
Segundo o professor Alexandre de Moraes, “O poder constituinte originário 
estabelece a Constituição de um novo Estado, organizando-o e criando os poderes 
destinados a reger os interesses de uma comunidade. Tanto haverá poder constituinte 
no surgimento de uma primeira Constituição, quanto na elaboração de qualquer 
Constituição posterior”. 
Ademais, o poder constituinte originário apresenta algumas características que 
o distinguem do derivado: é político, inicial, ilimitado juridicamente, incondicionado, 
e autônomo. 
✓ Político: anterior ao direito; é ele que cria o ordenamento jurídico de um 
Estado; 
✓ Inicial: a Constituição é a base da ordem jurídica, bem como dá início a uma 
nova ordem jurídica, rompendo com a anterior (se houver); ou seja, o poder 
constituinte originário inaugura a ordem jurídica, não encontra limites em 
norma de direito positivo anterior; 
✓ Ilimitado juridicamente: não está limitado pelo direito anterior; 
✓ Incondicionado: não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar 
sua vontade; não tem que seguir qualquer procedimento determinado para 
realizar sua obra de constitucionalização; 
✓ Autônomo: tem liberdade para definir o conteúdo da nova Constituição; 
✓ Permanente: o poder constituinte não esgota sua titularidade, que permanece 
latente, manifestando-se novamente mediante uma nova assembleia nacional 
constituinte ou um ato revolucionário. 
 
 
 
 
 
Atenção! Em que pese o poder constituinte originário ser ilimitado, é 
importante destacar os ensinamentos do professor Canotilho6: o poder constituinte 
originário deverá obedecer a “padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, 
éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade”. Isso porque 
não devemos abrir mão de certos direitos que foram conquistados com muitos 
esforços, sob pena de configurar um verdadeiro retrocesso jurídico da humanidade. 
 
Curiosidade: você sabia que o abade francês Emmanuel Sieyès foi um dos precursores 
dessa doutrina (poder constituinte)? Emmanuel Joseph Sieyès (1748-1836) é o autor 
do livro Qu’est-ce que le tiers État? (O que é o terceiro Estado?), verdadeiro manifesto 
da Revolução Francesa, onde expõe as reivindicações da burguesia, definindo-a como 
a nação e, consequentemente, titular do poder constituinte. 
 
3.3 Poder constituinte derivado ou de segundo grau 
O poder constituinte derivado deve obedecer às regras colocadas e impostas 
pelo originário, sendo, nesse sentido, jurídico (pois é regulado pela Constituição e está, 
portanto, previsto no ordenamento jurídico vigente); limitado (deve obedecer às 
regras impostas pela Constituição e não pode desrespeitá-la, sob pena de 
inconstitucionalidade); e condicionado (a forma de seu exercício é determinada pela 
Constituição). Conforme a doutrina majoritária, subdivide-se em poder constituinte 
reformador, decorrente e revisor. Vamos ver cada um deles? 
✓ Poder constituinte reformador: consiste na possibilidade de se alterar o texto 
constitucional, respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria 
Constituição Federal, e tem natureza jurídica. Importante: a manifestação do 
 
6 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra: 
Almedina, 2003. 
 
 
 
 
 
poder constituinte reformador verifica-se por meio das emendas 
constitucionais (arts. 59, I, e 60 da CF/88). Vale destacar que o poder 
constituinte originário permitiu a alteração de sua obra, mas obedecidos alguns 
limites como: quorum qualificado de 3/5, em cada casa, em dois turnos de 
votação para aprovação das emendas (art. 60, § 2.º); proibição de alteração da 
Constituição na vigência de estado de sítio, defesa ou intervenção federal (art. 
60, § 1.º); um núcleo de matérias intangíveis: as cláusulas pétreas do art. 60, § 
4.º, da CF/88 etc. Veja o vídeo https://youtu.be/GpfzRaiGjw4 para reforçar a 
leitura. 
✓ Poder constituinte decorrente: consiste na possibilidade que os Estados-
membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se 
auto-organizarem por meio de suas respectivas CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS, 
sempre respeitando as regras limitativas estabelecidas pela Constituição 
Federal. Sua missão é estruturar a Constituição dos Estados-membros; 
✓ Poder constituinte revisor: o processo de revisão está limitado por uma força 
maior que é o poder constituinte originário, ou seja, a este está vinculado. Nas 
palavras do professor Pedro Lenza (2019), “O art. 3.º do ADCT determinou que 
a revisão constitucional seria realizada após 5 anos, contados da promulgação 
da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso 
Nacional, em sessão unicameral”. Assim, o art. 3.º do ADCT introduziu 
verdadeira competência de revisão para “atualizar” e adequar a Constituição às 
realidades que a sociedade apontasse como necessárias. Ainda nas palavras de 
Lenza (2019), “Como o próprio texto constitucional prescreve, após 5 anos, 
contados de 05.10.1988, seria realizada uma revisão na Constituição. Desde já 
observamos que referida revisão constitucional deveria dar-se após, pelo 
https://youtu.be/GpfzRaiGjw4
 
 
 
 
 
menos, 5 anos, podendo ser 6, 7, 8... e apenas uma única vez, sendo impossível 
uma segunda produção de efeitos”. 
 
Você sabe o que são os ADCT? Para melhor ilustrar essa temática, primeiro você 
precisa saber que a Constituição se divide em três partes: preâmbulo, parte 
dogmática e os atos das disposições constitucionais transitórias (ADCT). 
O preâmbulo é a parte que antecede o texto constitucional propriamente dito. 
A parte dogmática da Constituição é o texto constitucional propriamente dito, que 
prevê os direitos e deveres criados pelo poder constituinte. Trata-se do corpo 
permanente da Carta Magna, que, na CF/88, vai do art. 1º ao 250. 
O ADCT visa integrar a ordem jurídica antiga à nova quando do advento de uma nova 
Constituição, garantindo a segurança jurídica e evitando o colapso entre um 
ordenamento jurídico e outro. 
 
Assista ao vídeo a partir dos 23 min: https://youtu.be/RBnwmRdo_Eo 
 
3.4 Efeitos da entrada em vigor de uma nova Constituição 
A entrada em vigor de uma nova Constituição gera três efeitos básicos: 
✓ No Brasil, a Constituição anterior é integralmente revogada; ela é inteiramente 
retirada do mundo jurídico, deixando de ter vigência e, consequentemente, 
validade; 
✓ As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição anterior 
que forem materialmente compatíveis (compatibilidade de conteúdo) com a 
nova Constituição são por ela recepcionadas; 
✓ As normas infraconstitucionais editadas na vigência da Constituição anterior 
que forem materialmente incompatíveis com a nova Constituição são por ela 
revogadas tácita e automaticamente. 
https://youtu.be/RBnwmRdo_Eo
 
 
 
 
 
Assim, a entrada em vigor de uma nova Constituição não torna 
inconstitucionais as normas infraconstitucionais com ela materialmente incompatíveis. 
Perceba: não há inconstitucionalidade porque elas são de plano revogadas 
(inexistência de recepção). 
Como exemplo, lembramos o Código Tributário Nacional (CTN – Lei 
5.172/1966, criado sob a égide da Constituição de 1946), que, embora tenha sido 
elaborado com natureza jurídica de lei ordinária (incompatibilidade formal), foi 
recepcionado pela nova ordem como lei complementar, sendo que os ditames que 
tratam das matérias previstas no art. 146, I, II e III da CF só poderão ser alterados por 
lei complementar, aprovada com o quórum da maioria absoluta (art. 69). Perceba, 
trata-se de incompatibilidade formal, ou seja, compatibilidade formal não é necessária. 
Vamos fazer um resumo, conforme as palavras do professor Pedro Lenza 
(2019). Para uma lei ser recepcionada pelo novo ordenamento jurídico, deverá 
preencher os seguintes requisitos:• Estar em vigor no momento do advento da nova Constituição; 
• Não ter sido declarada inconstitucional durante a sua vigência no ordenamento 
anterior; 
• Ter compatibilidade formal e material perante a Constituição sob cuja regência 
ela foi editada (no ordenamento anterior); 
• Ter compatibilidade somente material perante a nova Constituição, pouco 
importando a compatibilidade formal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para fixar esse conteúdo, veja o vídeo da AGU Explica: 
https://youtu.be/l9GA1bXQPBQ 
 
Leitura obrigatória em: Lenza, Pedro. Esquematizado: Direito Constitucional. 
Editora Saraiva, 2020. Págs. 210 a 224 [Minha Biblioteca]. 
 
 
4 A APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
Sobre essa temática, podemos dizer que se uma lei pode produzir efeitos, tem 
eficácia, mas essa eficácia pode variar quanto a sua intensidade. De fato, as normas 
constitucionais têm eficácia variada. Algumas normas constitucionais produzem 
muitos efeitos e outras normas constitucionais produzem poucos efeitos. Em razão da 
eficácia das normas, surgem importantes classificações, das quais destacaremos duas 
delas (NUNES JÚNIOR, 2019, p. 402). 
Segundo o doutrinador José Afonso da Silva, classificam-se as normas 
constitucionais em três modalidades: 
• Norma constitucional de eficácia plena; 
• Norma constitucional de eficácia contida; 
• Norma constitucional de eficácia limitada. 
 
https://youtu.be/l9GA1bXQPBQ
 
 
 
 
 
 
Leia mais em: Lenza, Pedro. ESQUEMATIZADO - DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível 
em: Minha Biblioteca, (25ª edição). Editora Saraiva, 2021. Págs. 117 e seguintes 
[Minha Biblioteca]. 
 
UNIDADE II 
4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E CIDADANIA; 5 DIREITOS DIFUSOS 
E COLETIVOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
 
Nesta unidade, estudaremos de forma objetiva os Direitos Fundamentais 
(individuais e sociais) e Cidadania e os Direitos Difusos e Coletivos na Constituição 
Federal; porém, para ter sucesso, a leitura do texto constitucional é imprescindível. 
O objetivo é que, ao final desta unidade, você consiga: 
• Reconhecer os direitos fundamentais (individuais e sociais); 
• Descrever os vários aspectos da cidadania, especialmente o conceito jurídico; 
• Explicar e os direitos difusos e coletivos na Constituição Federal. 
 
 
 
4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E CIDADANIA 
4.1 Características dos Direitos Fundamentais 
Não há direitos fundamentais absolutos. Trata-se de direitos relativos, 
limitáveis, no caso concreto, por outros direitos fundamentais. No caso de conflito 
entre eles, há uma concordância prática ou harmonização: nenhum deles é sacrificado 
 
 
 
 
 
definitivamente, ou seja, em caso de conflito entre dois direitos, não haverá o 
sacrifício total de um em relação ao outro, mas redução proporcional de ambos, 
buscando-se, com isso, alcançar a finalidade da norma. 
Até mesmo a vida, que é o maior bem jurídico, não é um direito absoluto. A CF 
abre a possibilidade de pena de morte em caso de guerra declarada, bem como a 
legislação brasileira infraconstitucional estabelece uma série de hipóteses em que a 
vida deixa de ser juridicamente tutelada e pode ser violada, em alguns casos. Exemplo: 
o bem-estar sentimental e a dignidade da pessoa da gestante que foi estuprada. 
Inúmeros outros direitos podem ser limitados pela lei ou por outros direitos. A 
liberdade de manifestação encontra limites na intimidade, na honra alheia, por 
exemplo. A liberdade de religião igualmente não é absoluta, pois jamais admitiríamos 
uma seita que adote como prática religiosa o sacrifício humano etc. Vejamos as 
características principais, apontadas pela doutrina pátria: Historicidade; 
Universalidade; Concorrência; Inalienabilidade; Irrenunciabilidade; Imprescritibilidade; 
Efetividade, e Proibição do retrocesso (Leia Pedro Lenza, pág. 564. 25ª Edição. Minha 
Biblioteca). 
Por fim, vale dizer que os direitos fundamentais vinculam não somente o 
Estado, como também os particulares (em maior ou menor grau, de acordo com a 
teoria adotada). 
 
4.2 Classificação das gerações/dimensões dos direitos fundamentais 
Mas antes de nos aprofundarmos no que é pertinente à CF de 1988, é oportuno 
dizer que a doutrina nos apresenta a classificação das gerações/dimensões dos direitos 
fundamentais, baseando-se na ordem histórica, cronológica, em que passaram a ser 
 
 
 
 
 
constitucionalmente reconhecidos. Eles são frutos de uma evolução histórico-social, de 
conquistas progressivas da humanidade. Vejamos: 
• Primeira geração/dimensão: também chamados liberdades negativas: 
traduzem a liberdade de não sofrer ingerência abusiva por parte do Estado. 
• Segunda geração/dimensão: são os direitos que envolvem prestações positivas 
do Estado aos indivíduos (políticas e serviços públicos). 
• Terceira geração/dimensão: são os direitos que não protegem interesses 
individuais, mas que transcendem a órbita dos indivíduos para alcançar a 
coletividade (direitos transindividuais ou supraindividuais). 
Curiosidade: percebeu como as três primeiras gerações seguem a sequência do lema 
da Revolução Francesa, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”? 
 
• Quarta geração/dimensão: para Paulo Bonavides7, estes incluiriam os direitos 
relacionados à globalização: o direito à democracia, o direito à informação e o 
direito ao pluralismo. 
• Quinta dimensão: representados pelo direito à paz. 
Curiosidade: os direitos de uma geração seguinte se acumulam aos das gerações 
anteriores. Em virtude disso, parte da doutrina tem preferido usar a expressão 
“dimensões de direitos”. Teríamos, então, os direitos de primeira dimensão, segunda 
dimensão e assim por diante. 
 
 
Leia: Lenza, P. (2020), Esquematizado: Direito Constitucional, 25ª edição, Editora 
Saraiva, Págs. 553. Disponível em: Minha Biblioteca. 
 
7 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros, 2008. 
 
 
 
 
 
 
Para saber mais veja o vídeo: https://youtu.be/p-nP87rE2n4 
 
 
4.3 Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos na Constituição Federal 
Conforme os ensinamentos do professor Alexandre de Moraes (2017), a 
Constituição Federal de 1988 trouxe, em seu Título II, os direitos e garantias 
fundamentais, subdivididos em cinco capítulos: 
✓ Direitos individuais e coletivos (art. 5º da CF); 
✓ Direitos sociais (art. 6º ao 11º da CF); 
✓ Nacionalidade (arts. 12 e 13 da CF); 
✓ Direitos políticos (arts. 14 a 16 da CF); e 
✓ Partidos políticos (art. 17 da CF). 
Assim, a classificação adotada pelo legislador constituinte estabeleceu cinco 
espécies ao gênero direitos e garantias fundamentais: direitos e garantias individuais e 
coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos políticos; e direitos 
relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. 
 
Direitos individuais e coletivos (art. 5º da CF) - Lenza, Pdcfo. 2021, Esquematizado: 
Direito Constitucional, 25ª edição, Editora Saraiva. Pág. 568 e seguintes. Disponível 
em Minha Biblioteca. 
 
4.3.1 Remédios Constitucionais 
https://youtu.be/p-nP87rE2n4
 
 
 
 
 
É importante que você saiba que os Remédios Constitucionais estão elencados 
dentro do rol do artigo 5º da CF, e é imprescindível que o estudante conheça cada uma 
de suas peculiaridades. São eles: Habeas Corpus; Habeas Data; Manado de Segurança; 
Mandado de injunção; Ação Popular. 
 
 
Leia tudo sobre os remédios constitucionais em: Moraes, Alexandre D. Direito 
Constitucional. Disponível em: Minha Biblioteca, (38ª edição). Grupo GEN, 2022. 
Página 173 e seguintes. 
 
4.4 Direitos Sociais 
Nos termos do art. 6.º, são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, 
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a 
proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados na forma da 
Constituição de 1988. Importante destacarque direitos sociais têm aplicação imediata. 
Segundo Pedro Lenza 20198, os direitos sociais são direitos de segunda 
dimensão e apresentam-se como prestações positivas a serem implementadas pelo 
Estado (social de direito) e tendem a concretizar a perspectiva de uma isonomia 
substancial e social na busca de melhores e adequadas condições de vida, estando, 
ainda, consagrados como fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1.º, IV, 
da CF/88). 
 
8 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 23. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. p. 
2014. (Coleção Esquematizado). 
 
 
 
 
 
Dentro do contexto dos direitos sociais, é importante destacar a natureza da 
“reserva do possível”, que é considerada uma condição da realidade que impacta na 
eficácia dos direitos fundamentais, sendo considerada também um princípio, bem 
como uma cláusula ou postulado – ou seja, a reserva do possível corresponde a um 
dado de realidade, um elemento do mundo dos fatos que influencia na aplicação do 
direito. Assim, entendemos que a “reserva do possível” é uma situação fática que 
limita a aplicação e a eficácia dos direitos sociais. Isso porque da efetivação de direitos 
sociais e fundamentais, afastando a teoria da reserva do possível surge no direito 
como uma forma de limitar a atuação do Estado no âmbito o direito constitucional de 
interesse privado e “prezando” pelo direito da maioria. 
Muitas vezes a reserva do possível tem sido utilizada entre nós como 
argumento impeditivo da intervenção judicial e desculpa genérica para a omissão 
estatal no campo da efetivação dos direitos fundamentais, especialmente os de cunho 
social. A aplicação dos direitos fundamentais sociais está condicionada pela realidade; 
é certo que o intérprete não poderá demandar dos poderes públicos o que for 
logicamente impossível, ou seja, não se pode exigir o absurdo. 
Mas é importante que saber que, segundo o Supremo Tribunal Federal, o 
Estado, a administração pública, não pode alegar a “reserva do possível” (limitações 
financeiras e orçamentárias) para descumprir o “mínimo existencial” dos direitos 
fundamentais: a cláusula da reserva do possível não pode ser invocada, pelo poder 
público, com o propósito de fraudar, frustrar e inviabilizar a implementação de 
políticas públicas definidas na própria Constituição. 
Não deixe de fazer a leitura da CF (art. 6º ao 11º), que foi disponibilizada no 
início da disciplina. 
 
 
 
 
 
 
 
Leia tudo sobre os Direitos sociais (art. 6º da CF) em: Lenza, Pedro. ESQUEMATIZADO 
- DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª edição). Editora 
Saraiva, 2021. Pág. 647 e seguintes. 
 
4.5 Direitos relativos aos trabalhadores 
 
Fonte: Pedro Lenza, 24ª Edição. 
 
Leia mais sobre os Direitos dos Trabalhadores (art. 7º até 11º da CF) em: Lenza, P. 
(2020), Esquematizado: Direito Constitucional, 24ª edição, Editora Saraiva. Págs. 
1.355 até 1.362. Disponível em: Minha Biblioteca. 
 
4.6 Nacionalidade (arts. 12 e 13 da CF) 
Segundo o professor Pedro Lenza, “nacionalidade pode ser definida como o 
vínculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que 
 
 
 
 
 
esse indivíduo passe a in-tegrar o povo desse Estado e, por consequência, desfrute de 
direitos e se submeta a obrigações.” 
 
Leia mais sobre Nacionalidade (arts. 12 e 13 da CF) em: Lenza, Pedro. 
ESQUEMATIZADO - DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª 
edição). Editora Saraiva, 2021. Pág, 651 e seguintes 
 
4.7 Direitos políticos (arts. 14 a 16 da CF) 
Nas sábias palavras do professor Pedro Lenza, os direitos políticos nada mais 
são que instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania 
popular, atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa 
pública, seja direta, seja indiretamente. 
 
Leia mais sobre Direitos Políticos (arts. 14 e 16 da CF) em: Lenza, Pedro. 
ESQUEMATIZADO - DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª 
edição). Editora Saraiva, 2021. Pág. 675 e seguintes. 
 
4.8 Partidos Políticos (art. 17) 
Partido político pode ser conceituado como uma “... organização de pessoas 
reunidas em torno de um mesmo programa político com a finalidade de assumir o 
poder e de mantê-lo ou, ao menos, de influenciar na gestão da coisa pública através de 
críticas e oposição”. 
 
 
 
 
 
 
Leia mais sobre Partidos Políticos (arts. 17 da CF) em: Lenza, Pedro. 
ESQUEMATIZADO - DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível em: Minha Biblioteca, (25ª 
edição). Editora Saraiva, 2021. Pag. 688 e seguintes. 
 
Atenção! Além das leituras recomendadas acima, você deve acessar o site do 
planalto e fazer a leitura de todo o art. 5º da Constituição Federal de 1988 - 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 
 
4.9. Cidadania 
 
Segundo definição do site Politize (2016), ser cidadão é “ter consciência de que 
é um sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade, enfim, 
direitos civis, políticos e sociais. Entretanto, cidadania pressupõe também deveres. O 
cidadão tem que ser consciente das suas responsabilidades enquanto parte integrante 
de um grande e complexo organismo que é a coletividade e, para que alcancemos o 
bom funcionamento, todos têm que dar sua parcela de contribuição. Somente assim 
se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o 
bem comum. A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá a pessoa a 
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo do seu povo”. 
Ainda conforme essa definição de cidadania, “A Constituição da República de 
1988 foi, sem dúvida, um dos marcos deste avanço. Apelidada de Constituição Cidadã, 
foi a partir de 1988 que novos instrumentos foram colocados à disposição daqueles 
que lutam por um país cidadão, como por exemplo, o sufrágio universal, o voto direto 
 
 
 
 
 
e secreto, além do surgimento de estatutos como o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Estatuto do Idoso, etc.” (POLITIZE, 2016). 
Para o nosso estudo, interessa dizer que a cidadania está relacionada ao 
“direito de participação no exercício do poder político, como eleito ou eleitor, no 
conjunto das instituições de autoridade pública.” (BRASIL ESCOLA, S/D). 
Deste modo, nas palavras do professor Tercio Sampaio Ferraz Junior, “a 
cidadania, na Constituição brasileira, tem um sentido amplo, equivalente a todos os 
direitos e obrigações decorrentes da nacionalidade, bem como um sentido estrito 
referente à participação no governo. No sentido amplo é preciso, pois, examinar sua 
expansão no campo econômico e social”. 
 
Fonte: Câmara dos Deputados 
A cidadania é uma conquista diária. Não há como compreender o conceito de 
cidadania sem considerar seus vários aspectos e sem relacioná-los aos direitos 
humanos, direitos de nacionalidade, direitos políticos, à democracia à ética. 
 
 
 
 
Para saber mais acesse os links: 
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-cidadania.htm 
 
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-cidadania.htm
 
 
 
 
 
https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/cidadania.htm 
 
 
Assista ao vídeo: https://youtu.be/xF0JJ-fosys 
 
5 DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL 
Os direitos difusos e coletivos encontram equivalência apenas com relação à 
natureza indivisível do bem jurídico, ou seja, seu objeto. 
Isso significa que não é possível satisfazer apenas um dos titulares dos 
interesses difusos ou coletivos. A satisfação de um, implica necessariamente na 
satisfação de todos. 
 
5.1 Direitos difusos x Direitos coletivos 
A distinção entre interesse difuso e interesse coletivo se faz por intermédio da 
determinabilidade dos titulares do interesse: enquanto neste são determináveis, 
naquele são indetermináveis. 
O interessecoletivo (organizado entre si ou não) será coletivo por causa do seu 
objeto indivisível que pertença a um número determinável de titulares. 
O interesse difuso: por seu grau de dispersão e pela indeterminabilidade de 
seus titulares, não se pode atribuir qualquer tipo de exclusividade na fruição do objeto 
do interesse. Tanto isso é verdade que o vínculo que une os titulares desse direito é 
apenas uma circunstância de fato (e não jurídica). 
Interesses/direitos difusos: são aqueles que possuem a mais ampla 
transindividualidade real. 
Características: a indeterminação do sujeitos titulares – unidos por um vínculo 
meramente de fato; a indivisibilidade ampla; a indisponibilidade; a ressarcibilidade 
indireta. 
https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/cidadania.htm
https://youtu.be/xF0JJ-fosys
 
 
 
 
 
Os interesses difusos possuem uma “veia pública”, é porque a 
indeterminabilidade de seus sujeitos pressupõe o raciocínio de que o interesse em 
jogo é disperso, de tal maneira que atinge um número ilimitado de pessoas, dando-lhe 
uma conotação publicista. 
Assim, não há como dividir a tutela almejada. O que ameaça a um sujeito, 
ameaça a todos. O que repara a um repara a todos. 
Ex.: dano ao meio ambiente (no caso de dano ao meio ambiente o ente que 
ingressar com a ação civil pública obterá decisão judicial que poderá determinar a 
reparação dos danos causados – assim, a reparação ao meio ambiente alcançará a 
todos; noutro lado, caso o juiz indefira a reparação, todos serão prejudicados na 
mesma medida. 
Não há como contabilizar o prejuízo que cada pessoa sofreu ou poderá sofrer. 
Por esta indivisibilidade os efeitos da coisa julgada são ERGA OMNES, alcança a 
todos. 
 
Para entender mais, veja o vídeo: https://youtu.be/scxxaqnd-rs 
 
 
UNIDADE III 
6 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NO PODER PÚBLICO 
 
Prezado(a) aluno(a), 
Nesta unidade temática, estudaremos o controle de Constitucionalidade. O 
objetivo é que, ao final desta unidade, você consiga: 
https://youtu.be/scxxaqnd-rs
 
 
 
 
 
• Reconhecer os aspectos gerais do controle de constitucionalidade sobre os atos 
normativos do poder público; 
• Identificar o controle de constitucionalidade difuso e concentrado; 
• Entender a supremacia da Constituição Federal; 
• Conhecer a diferença entre o controle de constitucionalidade difuso e 
concentrado. 
 
 
 
6 O Controle de Constitucionalidade sobre as Leis e os Atos Normativos do Poder 
Público 
O legislador constituinte originário criou mecanismos por meio dos quais se 
controlam os atos normativos, verificando sua adequação aos preceitos previstos na 
“Lei Maior”. 
Segundo Nunes Júnior (2019), o controle de constitucionalidade consiste na 
verificação da compatibilidade das leis e dos atos normativos com a Constituição. 
Decorre da supremacia formal da Constituição sobre as demais leis do ordenamento 
jurídico de um país. Ora, se a Constituição é a lei mais importante do ordenamento 
jurídico, sendo o pressuposto de validade de todas as leis, para que uma lei seja válida 
ela precisa ser compatível com a Constituição. Caso a lei ou o ato normativo não sejam 
compatíveis com a Constituição, serão inválidos, inconstitucionais. 
Importante destacar que a supremacia da Constituição, a hierarquia normativa 
da Constituição sobre as demais leis, só se verifica em países de constituição rígida 
(que possuem um procedimento de alteração mais rigoroso que o destinado às outras 
leis), como é o caso do Brasil. 
 
 
 
 
 
 
6.1 Controle de constitucionalidade difuso 
Segundo Nunes Júnior (2019), algo difuso é algo espalhado, disperso, 
disseminado. Controle difuso de constitucionalidade é aquele que pode ser feito por 
qualquer juiz ou Tribunal, observadas as regras de competência. Todavia, há 
importantes condições: no controle difuso, qualquer juiz ou Tribunal poderá declarar 
uma lei inconstitucional, desde que haja um caso concreto e que a 
inconstitucionalidade seja matéria incidental. 
Sobre o caso concreto: primeiramente, só se pode exercer o controle difuso de 
constitucionalidade desde que haja um caso concreto. Dessa maneira, não é possível 
iniciar um processo perante o juiz de primeira instância com o único objetivo de 
declarar uma lei (municipal, estadual ou federal) inconstitucional. Por exemplo, se 
alguém está sendo processado criminalmente pelo crime de porte de drogas (art. 28 
da Lei 11.343/2006), em sua sentença, o magistrado poderá absolver o réu pela 
atipicidade da conduta (art. 386, III, CPP), sob o argumento de que a lei é 
inconstitucional. 
Sobre matéria incidental: no controle difuso, é imperioso afirmar que a 
inconstitucionalidade é matéria incidental (incidenter tantum). Ou seja, qualquer juiz 
ou Tribunal pode apreciar, no caso concreto, a inconstitucionalidade de uma lei ou ato 
normativo, desde que a inconstitucionalidade NÃO seja a matéria principal do 
processo. 
No sistema de controle pela via incidental (também chamada de via de exceção 
ou defesa), o controle será exercido como questão prejudicial e premissa lógica do 
pedido principal. Exemplo: na época do Presidente Collor, os interessados pediam o 
desbloqueio dos cruzados fundando-se no argumento de que o ato que motivou tal 
 
 
 
 
 
bloqueio era inconstitucional. O pedido principal não era a declaração de 
inconstitucionalidade, mas sim o desbloqueio (LENZA, 2019). 
O controle incidental de constitucionalidade se dá no curso de qualquer ação 
submetida à análise do poder Judiciário em que haja um interesse concreto em 
discussão. Assim, são legitimados ativos (competentes para provocar o Judiciário) 
todas as partes do processo e eventuais terceiros intervenientes no processo, bem 
como o Ministério Público, que atua como fiscal da lei (custos legis). 
 
6.1.1 Controle difuso nos tribunais e a cláusula de reserva de plenário (full bench), 
art. 97 da CF/88 
Quando o controle difuso é feito pelos tribunais, é necessário que seja 
obedecida a cláusula de reserva de plenário (ou regra do full bench), nos termos do 
art. 97 da CF/88. Desde a Constituição de 1934, a apreciação da constitucionalidade 
feita pelos tribunais (estaduais ou federais) deve obedecer a esse procedimento. 
Vejamos: 
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou 
dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais 
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo do 
Poder Público. (BRASIL, 1988). 
 
Assim, os tribunais somente poderão declarar uma lei inconstitucional pela 
maioria absoluta de todos os seus membros ou dos membros do respectivo órgão 
especial. 
Note: a regra do art. 97 é estabelecida para tribunal; não está, portanto, 
direcionada para o juízo monocrático, mesmo que, incidentalmente, no controle 
difuso, declare a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo. Assim, a norma 
inscrita no art. 97 da Carta Federal, porque exclusivamente dirigida aos órgãos 
 
 
 
 
 
colegiados do poder Judiciário, não se aplica aos magistrados singulares quando no 
exercício da jurisdição constitucional. 
Efeitos da decisão: o objetivo do controle difuso não é, portanto, proteger a 
ordem constitucional, mas sim proteger direitos subjetivos das partes. Com base nessa 
lógica, a decisão no controle de constitucionalidade incidental só alcança as partes do 
processo, ou seja, tem eficácia inter partes. Além disso, não vincula os demais órgãos 
do Judiciário e a administração; por isso, diz-se que as decisões no controle de 
constitucionalidade difuso são não vinculantes. 
 
6.2 Controle de Constitucionalidade Concentrado 
No Brasil, o controle abstrato é realizado pelo Supremo Tribunal Federal (tendo 
como parâmetro a Constituição Federal) ou pelos Tribunais de Justiça (tendo como 
parâmetro as respectivas Constituições Estaduais). Em razão disso, diz-se que o 
controle abstrato é efetuado de modo concentrado. 
O controleabstrato de constitucionalidade é aquele que busca examinar a 
constitucionalidade de uma lei em tese. Não há um caso concreto em análise; é a lei, 
em abstrato, que tem sua constitucionalidade aferida pelo poder Judiciário. No 
controle abstrato, a constitucionalidade da lei ou ato normativo é arguida na via 
principal, por meio de ação direta. 
O controle concentrado/abstrato de constitucionalidade face à Constituição 
Federal deve ser feito ao STF por meio de algumas ações, das quais destacamos a Ação 
Direta de Inconstitucionalidade genérica (ADI). 
A pergunta que fazemos, agora, é a seguinte: quem pode propor Ação Direta de 
Inconstitucionalidade perante o STF? A resposta está no art. 103, CF/88, que relaciona 
os legitimados a propor ADIn perante o STF. 
 
 
 
 
 
 
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a 
ação declaratória de constitucionalidade: 
I - o Presidente da República; 
II - a Mesa do Senado Federal; 
III - a Mesa da Câmara dos Deputados; 
IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do 
Distrito Federal; 
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; 
VI - o Procurador-Geral da República; 
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; 
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; 
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. 
(BRASIL, 1988). 
 
As decisões de mérito em ADI (decisões definitivas) têm os seguintes efeitos: 
• Eficácia erga omnes: a decisão em sede de ADI terá eficácia contra todos, ou 
seja, alcança indistintamente a todos. Isso se deve ao fato de que a ADI é um 
processo de caráter objetivo, no qual inexistem partes; a ADI tem como 
finalidade tutelar a ordem constitucional (e não interesses subjetivos); 
• Efeitos retroativos (ex tunc): a declaração de inconstitucionalidade de lei ou 
ato normativo terá, em regra, efeitos retroativos (ex tunc). Aplica-se, aqui, a 
teoria da nulidade, segundo a qual se considera que a lei já “nasceu morta”. Em 
razão disso, os efeitos por ela produzidos são todos considerados inválidos; 
assim, é meramente declaratória de uma situação que já existia: a nulidade da 
norma; 
• Efeito vinculante: a decisão definitiva de mérito proferida pelo STF em ADI terá 
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal. Observe que o STF não estará vinculado às decisões que ele próprio 
 
 
 
 
 
tomar em ADI. É perfeitamente possível, dessa maneira, que o STF mude a 
orientação firmada em julgados anteriores. O efeito vinculante também não 
alcança o poder Legislativo, que poderá editar nova lei de conteúdo idêntico ao 
da norma declarada inconstitucional pelo STF. 
 
Leia mais sobre Controle de Constitucionalidade em: Lenza, Pedro. 
ESQUEMATIZADO - DIREITO CONSTITUCIONAL. Disponível em: Minha 
Biblioteca, (25ª edição). Editora Saraiva, 2021. Pág. 126 e seguintes. 
 
UNIDADE IV 
7 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. 
8 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E O TERCEIRO SETOR. 9 A 
RESPONSABILIDADE DO ESTADO 
 
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade temática estudaremos matérias sobre o 
direito administrativo dentro da Constituição Federal. O objetivo é que, ao final desta 
unidade, você consiga: 
• Apontar os princípios constitucionais voltados à administração pública; 
• Descrever a organização administrativa: administração direta, indireta e 
terceiro setor; 
• Identificar como se dá a responsabilidade do Estado. 
 Não esqueça de acompanhar nossa disciplina por meio da bibliográfica recomendada! 
Vamos lá? 
 
 
 
 
 
 
7 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VOLTADOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
Para iniciar o estudo acerca dos princípios, é importante destacarmos que eles 
determinam o alcance e o sentido das regras, servindo de parâmetro para a exata 
compreensão delas e para a própria produção normativa. Eles não se restringem a 
fixar limites ou a fornecer soluções exatas, e sim consagram os valores a serem 
atingidos. Dessa forma, os princípios não fornecem solução única, mas propiciam um 
elenco de alternativas, exigindo, por ocasião de sua aplicação, que se escolha por uma 
dentre diversas soluções. 
Feitas essas considerações acerca dos princípios e regras, devemos destacar 
dois princípios basilares na definição deste conceito, quais sejam: A SUPREMACIA DO 
INTERESSE PÚBLICO SOBRE O INTERESSE PRIVADO e a INDISPONIBILIDADE DO 
INTERESSE PÚBLICO pelos administradores do Estado. 
 
7.1 Princípio da Supremacia do Interesse Público 
Para Matheus Carvalho (2017)9, considera-se a supremacia do interesse público 
uma pedra fundamental na noção de Estado organizado, sendo relevante para a 
formação de qualquer estrutura organizacional de poder público, como condição de 
convívio social no bojo da sociedade organizada. Não se trata de princípio expresso, ou 
seja, não está escrito no texto constitucional, embora existam inúmeras regras que 
impliquem suas manifestações de forma concreta; para isso, podemos nos referir a 
 
9 Manual de direito administrativo/ Matheus Carvalho - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: JusPODIVM, 
2017. 
 
 
 
 
 
institutos correlatos dispostos na Constituição da República, como a possibilidade de 
desapropriação (5°, XXIV), a requisição administrativa (5°, XXV) entre outras 
prerrogativas que submetem os direitos do cidadão às restrições impostas pelo Estado. 
 
7.2 Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público 
Ao administrador, não pertencem os bens da administração; ou seja, ele não é 
o titular do interesse público – portanto, não tem livre atuação, fazendo-o, em 
verdade, em nome de terceiros. Assim, podemos dizer que a indisponibilidade do 
interesse público se configura como um contrapeso do princípio da supremacia estatal. 
O princípio da Indisponibilidade serve para limitar a atuação desses agentes públicos, 
evitando o exercício de atividades com a intenção de buscar vantagens individuais. 
Assim, podemos afirmar que a supremacia do interesse público e a 
indisponibilidade do interesse público alicerçam o sistema administrativo que se 
resume nas prerrogativas de que o Estado goza para satisfazer as necessidades 
coletivas. A administração só pode atuar dentro do limite do interesse público, não 
obstante goze de vantagens amparadas no próprio interesse coletivo. Desses dois 
princípios acima referidos decorrem todos os demais. 
 
Saiba mais em: Campos, Ana C. Direito Administrativo Facilitado. Disponível em: 
Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2021. Pág. 23 
 
7.3 Princípios expressos (LIMPE) 
 
 
 
 
 
A Administração Pública, em todos os seus níveis, deverá observar certos 
princípios constitucionais em sua atuação. Esses princípios estão expressos no art. 37, 
CF/88: 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) 
 
• Legalidade: representa a submissão do Estado à lei; 
• Impessoalidade: finalidade ou isonomia; 
• Moralidade: atuação ética e honesta dos agentes públicos na gestão da coisa 
pública; 
• Publicidade: eficácia e transparência da administração em sua atuação; 
• Eficiência: deve-se buscar a melhoria da qualidade dos serviços públicos e a 
racionalidade dos gastos públicos. 
Atenção! Exceções à legalidade 
Apesar de a legalidade ser uma regra, em algumas situações, mediante autorização da 
própria Carta Maior, poderá o administrador agir diretamente sem a necessidade de 
uma prévia lei. São três as exceções à legalidade, a saber: Medidas provisórias; Estado 
de defesa e Estado de sítio. Campos, Ana C. Direito Administrativo Facilitado. 
Disponível em: MinhaBiblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2021. Pág. 31 
 
 
Leitura obrigatória em: Moraes, Alexandre D. Direito Constitucional. Disponível em: 
Minha Biblioteca, (38ª edição). Grupo GEN, 2022. Pág. 396 e seguintes. 
 
 
 
 
 
 
8. A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA: ADMINISTRAÇÃO DIRETA, INDIRETA E O 
TERCEIRO SETOR 
A organização administrativa é a estruturação do Estado. Seu estudo é o 
conhecimento acerca de pessoas, entidades e órgãos que irão desempenhar a função 
administrativa para formação do modelo do aparelho administrativo do Estado. Assim, 
a função administrativa abarca a prestação dos serviços públicos essenciais à vida em 
coletividade, bem como o controle das atividades privadas. 
A organização é feita, primordialmente, mediante leis ou por meio de decretos 
e outros atos normativos. Isso porque, para o melhor funcionamento estatal, alguns 
serviços são prestados diretamente pelos entes federativos, sem que seja transferida a 
execução a outrem; porém, em determinadas situações, as pessoas políticas 
transferem a prestação dos serviços a outros entes. 
 
Fonte: Campos, Ana C. Direito Administrativo Facilitado. 2021. 
 
 
 
 
 
 
8.1 Administração Direta 
Administração direta é o conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas 
do Estado (União, estados, Distrito Federal e municípios), aos quais foi atribuída a 
competência para o exercício de atividades administrativas, de forma centralizada. 
Em outras palavras, na administração direta, “a administração pública é, ao mesmo 
tempo, a titular e a executora do serviço público10”. São, portanto, entidades da 
administração direta: 
• A União; 
• Os estados; 
• Os municípios; 
• O Distrito Federal. 
 
Fonte: Cláudia, CAMPOS, A. Direito Administrativo Facilitado. Grupo GEN, 2018. 
 
Por ostentarem personalidade jurídica de direito público, essas entidades 
gozam de todas as prerrogativas inerentes à administração e se submetem a todas as 
limitações estatais que decorrem da indisponibilidade do interesse público. As pessoas 
 
10 Carvalho Filho (2014, p. 459). 
 
 
 
 
 
que aí exercem atividades internas e externas, valendo-se para isso de seus órgãos, 
que possuem competência própria e específica, são os servidores públicos. Ressalte-se 
que o órgão público não tem personalidade jurídica; logo, não tem vontade própria. 
Todos eles são meros instrumentos de ação do Estado, e não podem ser 
sujeitos de direitos e obrigações. Pode-se dizer que são centros de competência 
especializada, dispostos, na intimidade de uma pessoa jurídica, com a intenção de 
garantir especialização nas atividades prestadas e, consequentemente, maior 
eficiência. 
Nas situações em que as atividades são exercidas diretamente pelos entes 
políticos, a prestação não é transferida a nenhuma outra entidade. Nesse caso, a 
prestação é feita diretamente pelos entes federativos; denomina-se essa execução de 
prestação centralizada do serviço. 
Assim, a União, os estados, municípios e o Distrito Federal executam as 
atividades diretamente, por meio de seus agentes e órgãos e, nesse sentido, essas 
entidades são chamadas pela doutrina de entes da administração direta ou entes da 
administração centralizada. 
 
8.2 Administração Pública Indireta 
Já a transferência dos serviços a pessoas jurídicas diversas recebe o nome de 
descentralização, haja vista o fato de que a prestação, até então centralizada, é 
entregue a outra entidade. A descentralização pode ser executada com a transferência 
na prestação do serviço a pessoas jurídicas criadas pela própria administração 
pública, especializadas na execução daquela atividade. São os chamados entes da 
administração indireta ou entes da administração descentralizada, os quais se dividem 
em: 
 
 
 
 
 
• Autarquias (incluindo as associações públicas); 
• Fundações públicas; 
• Empresas públicas; 
• Sociedades de economia mista. 
Isso porque o Estado pode transferir a responsabilidade dos exercícios que lhes 
são pertinentes, criando pessoas jurídicas especializadas, autorizando que elas 
executem a prestação dos serviços. Isso é feito porque a transferência a pessoa 
especializada na prestação de determinado serviço garante uma maior eficiência no 
desempenho da atividade administrativa, sempre na busca do melhor ao interesse da 
coletividade. 
Por outro lado, quando a União se responsabiliza pela prestação, por exemplo, 
do serviço de saúde, o faz mediante a distribuição interna de competência entre 
órgãos responsáveis por essa atividade, como o Ministério da Saúde, o Sistema Único 
de Saúde, os hospitais públicos, entre outros. Essa distribuição interna de 
competências, entre órgãos e agentes de uma mesma pessoa jurídica, é denominada 
de desconcentração administrativa. 
ATENÇÃO! Não confunda descentralização X desconcentração! 
A descentralização é realizada entre pessoas jurídicas diversas, enquanto a 
desconcentração se configura pela distribuição interna de competências no âmbito 
de uma mesma pessoa jurídica, mediante especialização interna (há hierarquia). 
Na descentralização não há hierarquia, mas se sujeitam a controle finalístico a ser 
exercido pelas entidades da administração centralizada. 
 
Saiba mais em: Campos, Ana C. Direito Administrativo Facilitado. Disponível em: 
Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2021. Pág. 108 e seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
Saiba mais sobre Administração Direta e indireta em: Almeida, Fabrício Bolzan D. 
Manual de direito administrativo. Disponível em: Minha Biblioteca, (5ª edição). 
Editora Saraiva, 2022. Pág. 53 e seguintes. 
 
 
Saiba mais sobre Autarquias; Fundações públicas; Empresas Estatais (Empresas 
públicas; Sociedades de economia mista), em Campos, Ana C. Direito Administrativo 
Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2021. Pág, 122 e 
seguintes. 
 
8.3. Terceiro Setor 
A primeira informação acerca dessa temática é que o terceiro setor não integra 
o sistema da administração pública formal, direta ou indireta: ele coopera com o 
governo, prestando serviços de utilidade pública; são entidades paraestatais. 
 
As entidades paraestatais são aquelas pessoas jurídicas que atuam ao 
lado e em colaboração com o Estado, sem com ele se confundirem. 
Trata-se de pessoas privadas, vale dizer, instituídas por particulares, 
sem fins lucrativos, que exercem função típica, embora não exclusiva, 
do Estado, se sujeitando ao controle direto ou indireto do Poder 
Público. (ALVES, 2018).11 
 
 
11 ALVES, Erick. Direito Administrativo. Estratégia Concursos, 2018. 
 
 
 
 
 
Por atuarem na prestação de serviços, estas entidades recebem incentivos do 
poder público, mediante dotação orçamentária, cessão de bens públicos, entre outros 
benefícios e, consequentemente, se submetem às restrições de controle impostas ao 
ente estatal. Sendo assim, se sujeitam à regulação financeira efetivada pelo Tribunal 
de Contas, além de se submeterem aos princípios básicos que norteiam a atuação 
administrativa. 
São cinco as espécies de entes do terceiro setor tratados no direito brasileiro, a 
saber: 
• Entidades do serviço social autônomo; 
• Organizações sociais (OS); 
• Organizações da sociedade civil de interesse público (Oscip); 
• Organizações da sociedade civil; 
• Entidades de apoio. 
 
Para saber tudo sobre o TERCEIRO SETOR, leia: Campos, Ana C. Direito Administrativo 
Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2ª edição). Grupo GEN, 2021. Pág. 171 e 
seguintes. 
 
 
9 A RESPONSABILIDADE DO ESTADO 
Passaremos agora a estudar a reponsabilidade civil do Estado enquanto sujeito 
de direito. A Constituição Federal, assevera que as pessoas jurídicas de direito público 
e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que 
 
 
 
 
 
seus agentescausarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o 
responsável nos casos de dolo ou culpa. 
A responsabilidade civil do Estado no Brasil, hoje, está prevista no art. 37, § 6º, 
que dispõe: 
 
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado 
prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus 
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito 
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. 
(BRASIL, 1988). 
 
Ressalta-se que a responsabilidade objetiva é a regra no país, acatada como 
padrão a teoria do risco administrativo. A doutrina e a jurisprudência admitem ser 
possível compatibilizá-la com a responsabilidade subjetiva, nos casos de danos 
decorrentes de atos omissivos (teoria da culpa do serviço). 
A responsabilidade civil, também denominada responsabilidade 
extracontratual, tem sua origem no direito civil. Consubstancia-se na obrigação de 
indenizar um dano patrimonial ou moral decorrente de um fato humano. 
 
9.1 Responsabilidade objetiva do Estado 
Segundo Alexandrino (2016, p. 851), a fundamentação da responsabilidade 
estatal reside na busca de uma repartição isonômica, equânime, do ônus proveniente 
de atos ou dos efeitos oriundos das atividades da administração. Para o autor, evita-se, 
com a repartição entre todos os cidadãos, o ônus financeiro da indenização, visto que 
somente alguns suportam os prejuízos ocorridos por causa de uma atividade 
desempenhada pelo Estado no interesse de todos. 
 
 
 
 
 
Em resumo, significa dizer que, se todos são beneficiados pelos fins visados 
pela administração, todos devem igualmente suportar os riscos decorrentes dessa 
atividade, ainda que essa atividade tenha sido praticada de forma irregular, porém em 
nome da administração. 
Observa-se que a responsabilidade objetiva reconhece a desigualdade jurídica 
existente entre o particular e o Estado, decorrente das prerrogativas de direito público 
a este inerentes, prerrogativas estas que, por visarem à tutela do interesse da 
coletividade, sempre assegurarão a prevalência jurídica destes interesses diante dos 
interesses particulares. 
Partindo dessa premissa, seria injusto que aqueles que sofrem danos 
patrimoniais ou morais decorrentes da atividade da administração precisassem 
comprovar a existência de culpa da administração ou de seus agentes para que vissem 
assegurado seu direito à reparação. 
9.2 Responsabilidade subjetiva da administração 
É equivocado afirmar que, diante de qualquer situação, a responsabilidade da 
administração pública seja sempre objetiva (ALEXANDRINO, 2016, p. 858). Nesse 
contexto, o art. 37, § 6º da CF/88 atribui responsabilidade extracontratual objetiva ao 
Estado apenas na hipótese de danos que decorram direta e imediatamente de alguma 
atuação, de alguma conduta comissiva de seus agentes. 
A Constituição de 1988 não traz qualquer regra expressa relativa a 
responsabilidade civil por eventuais danos ocasionados por omissões do poder 
público. Nesse sentido, construiu o entendimento jurisprudencial respaldado na 
doutrina de que é possível configurar a responsabilidade extracontratual do Estado 
nos casos de danos ensejados por omissão do poder público. 
 
 
 
 
 
Embora haja controvérsias, a jurisprudência entende que o Estado responde 
com base na teoria da culpa administrativa (responsabilidade civil subjetiva). Contudo, 
a pessoa que sofreu o dano tem que provar (o ônus da prova é dela) que houve falta 
na prestação de um serviço que deveria ter sido prestado pelo Estado, provando, 
também, que existe nexo causal entre o dano e essa omissão estatal. 
Nesse caso, aplica-se a teoria da culpa administrativa (ou culpa anônima), em 
que o particular, para ser indenizado, tem que comprovar omissão de agente público, 
dano, nexo causal e a culpa do Estado. Imagine, por exemplo, uma situação em que a 
polícia seja avisada de que um grupo armado está realizando um assalto em 
determinada localidade da cidade e, mesmo estando próxima ao local e com bastante 
tempo disponível para agir, não tome nenhuma providência para evitar o dano ao 
patrimônio privado. 
Para ensejar a responsabilização, a pessoa que sofreu o dano deve provar que 
houve falta no serviço que o Estado deveria ter prestado (nas modalidades omissivas 
inexistência do serviço, deficiência do serviço ou atraso na prestação do serviço). 
Nas hipóteses de danos decorrentes de atos de terceiros ou de fenômenos da 
natureza, para se configurar a obrigação estatal de indenizar, há necessidade de 
comprovação de que determinada omissão culposa da administração pública 
concorreu para o resultado danoso. O ônus da prova de todos esses elementos é da 
pessoa que sofreu o dano. 
 
9.3 Ação de reparação do dano (art.37, §6º, CF/88) 
O particular que sofreu dano decorrente de atuação do agente público, que 
estivesse agindo nessa qualidade, deverá ajuizar ação de indenização contra a 
administração pública, e não contra o agente causador do dano. Por exemplo: se um 
 
 
 
 
 
servidor público federal causar algum dano a um particular, digamos, numa colisão de 
veículos, a ação de indenização movida pelo particular será contra a União, e não 
contra o servidor. 
Na ação de indenização, bastará ao particular demonstrar a relação direta de 
causa e consequência entre a atuação lesiva e o dano, bem como o valor patrimonial 
desse dano. Nesse caso, a responsabilidade da administração pública (ou da 
delegatária de serviço público) é do tipo objetiva, bastando, para a configuração da sua 
obrigação de indenizar, que a vítima comprove estarem presentes os pressupostos: 
 
 
DANO + NEXO CAUSAL DIRETO E IMEDIATO 
 
 
Cabe à administração pública (ou à delegatária), para afastar ou atenuar a 
obrigação de indenizar, comprovar, se for o caso, que o particular concorreu com dolo 
ou culpa para o evento danoso, ou provar a ocorrência de força maior ou caso fortuito, 
o que pode resultar em três situações. Vejamos: 
• Se não conseguir provar, responderá integralmente pelo dano, devendo 
indenizar o particular; 
• Se comprovar culpa exclusiva do particular, ou ocorrência de força maior ou 
caso fortuito, ficará eximida da obrigação de reparar; 
• Se comprovar que houve culpa recíproca (parcial de ambas as partes), a 
obrigação será atenuada proporcionalmente. 
Frisa-se que é de cinco anos o prazo de prescrição da ação de reparação que o 
particular tem para ajuizar a ação contra a pessoa jurídica de direito público, ou a 
 
 
 
 
 
pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, visando a obter a 
indenização dos danos causados pela atuação dos agentes dessas pessoas jurídicas 
(art. 1º-C, da Lei 9.494/1997). 
9.4 Ação regressiva contra o agente causador do dano 
A Constituição Federal, no seu art. 37, § 6º, autoriza a ação regressiva da 
administração pública (ou da de legatária de serviço público) contra o agente cuja 
atuação acarretou o dano, desde que seja comprovado dolo ou culpa na atuação do 
agente. 
 
Fonte:

Mais conteúdos dessa disciplina