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A vida é mais importante do que a arquitetura

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“A vida é mais importante do que a arquitetura”
Oscar Niemeyer
O impactante chavão do renomado arquiteto Oscar Niemeyer permeia as cabeças pensantes dos teóricos e pensadores da arquitetura, por isso, é relevante adotá-lo como pontapé inicial da discussão proposta. Desconstruir, para então construir – não um edifício físico, porém um ideário, um conceito do que possa ser a beleza arquitetônica e inclusive o que possa ser a própria arquitetura.
O esforço de Maurício Puls, na obra Arquitetura e filosofia, no sentido de trazer o pensamento filosófico humano através de uma coletânea, inclui desde os pré-socráticos até Umberto Eco, discursando sobre o conceito de belo, de estética. Puls oferece binômios interessantes, onde a conversa entre os autores é estabelecida em forma de debates, aproximando os pensadores ou contrapondo-os uns com os outros.
A retórica construída por cada filósofo e sua importância para a humanidade, e por conseguinte para a arquitetura, é o que podemos extrair. Com o entendimento das essências argumentativas e dos discursos, nos é proposto – naturalmente – elaborar nossa própria percepção sobre estas questões fundamentais.
Quando nos remetemos, novamente, à frase de Niemeyer – arquiteto reconhecido mundialmente por “fazer” arquitetura, muito mais do que teorizá-la –, nos deparamos com um significativo rebaixamento do conceito de arquitetura, em comparação com a vida. Esta análise é fundamental para o reconhecimento da arquitetura em sua dimensão utilitária. Compreendendo a arte como uma representação poética da vida, e a arquitetura como a “mãe das artes”, a arte funcional que serve à vida, parece bem lógico que – em qualquer escala hierárquica que se estabeleça – a vida é mais importante do que a arquitetura.
Por quê afinal existe a arte e não antes o nada? (1). É a primeira frase do Livro de Puls, onde já neste momento o autor faz questão de deixar bem claro a inerência da arte, da estética, do belo e da arquitetura ao mundo dos homens. “O homem não está frente ao mundo que procura compreender e sobre o qual atua, mas dentro dele” (2). Portanto, toda e qualquer teorização e reflexão sobre estes tópicos não devem deixar de considerar, como elemento primordial, a humanidade destes conceitos.
“A arquitetura espelha o mundo do homem. Contudo, como os homens diferem entre si, os edifícios não refletem sempre o mesmo mundo, nem são avaliados da mesma forma por indivíduos diversos: um objeto não é belo para todos os homens. Um prédio pode ser bonito para seu proprietário e feio para o empregado do proprietário” (3). Ou seja, conceito de homem e da vida, ao qual estamos atrelando o conceito de estética e de arquitetura, deve permear o senso de comunidade e individualidade dos seres humanos.
Os sensos de comunidade e individualidade, os quais os homens estão submetidos, formam coeficientes determinantes para a variável estética em sua tocante mimética. “Cada indivíduo é certamente medida de todas as coisas, mas é uma medida muito fraca se permanece só com sua opinião. O discurso não partilhado constitui o discurso fraco; aliás, mal chega a ser um discurso porque dizer é comunicar, e toda comunicação supõe algo de comum. Quando um discurso pessoal, pelo contrário, encontra a adesão de outros discursos pessoais, este discurso, reforçando-se com todos os outros, torna-se discurso forte e constitui a verdade” (4).
As reflexões permitem agora uma nova instância de foco: a linguagem. A arte (portanto, arquitetura) e a estética (portanto, o belo) como produtos do homem – que vivem em sociedade – pressupõem uma linguagem para assumir validade na mundanidade; os signos, o conceito e idéia de beleza elaborados precisam ser compartilhados, materializados, comunicados, como explicitaram Bakhtin e Romeyer-Dherbey: “O signo não é um ser para o indivíduo, mas um ser para a sociedade. Cada signo possui um horizonte social: ele é criado por uma pessoa, mas só será reconhecido e usado como tal se expressar um significado relevante para a comunidade” (5). Logo, o discurso forte “é uma tarefa essencialmente coletiva; cada qual privilegia dele o que há de comum com outrem, o que é universalizável” (6).
O critério de linguagem é fundamental para o entendimento da importância da estética na arte (portanto, o belo na arquitetura), pois nos esclarece a posição conceitual destes elementos na esfera filosófica. A concepção de arquitetura exige uma retórica, um discurso, conseqüentemente uma estética – que se expressará nesta construção – e que por seu caráter utilitário deverá abrigar legalidades humanas de cunho social e cultural que correspondam ao sentimento humano comum. O arquiteto e escritor Milton Hatoum complementa a fundamentação do pensamento com uma definição: “A arquitetura não deixa de ser uma linguagem, mas é uma linguagem que não se esgota em si mesma. A arquitetura é a síntese da cultura com a sociedade” (7).
A arquitetura só é arquitetura por trazer consigo sentimentos humanos fundamentais. A constituição do espaço artístico concerne na transmissão e tradução de valores humanitários no ambiente, na sub-natureza humana, a natureza [re]criada que como “toda obra de arte é um signo do homem. Mas como os homens se distinguem entre si, cada sujeito encontra seu espelho num signo diferente. Para o produtor e para o proprietário, o mundo é a expressão do homem, e por isso a beleza constitui num resultado ( uma conseqüência da existência humana. Ambos se perguntam ‘o que é belo?’, dado que para eles a beleza reside num ente (sensível) que espelha a essência humana (inteligível). E como o homem atribui a si mesmo um valor positivo, ele identifica essa essência humana como o próprio bem: a obra de arte é bela porque ela é a expressão sensível do bem” (8).

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