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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE FÍSICO-QUÍMICA Pós Lab 2 – Estabilidade de uma solução coloidal Mel Paiva Mourão (202010403811) Matheus Nascimento da Costa Rangel (202210199711) Miguel Marcelino Perez (202220391011) Orientadoras: Gisele de Freitas Westphalen Liliane Maria Magalhães de Souza Turma 1 – Grupo 3 Rio de Janeiro 04 / 10 / 2024 1. Características e Estabilidade das soluções coloidais. Em primeiro lugar, as soluções coloidais (também chamadas de dispersões coloidais) são misturas visualmente homogêneas, mas microscopicamente heterogêneas, onde uma fase dispersa é distribuída em uma fase contínua. Entre as suas principais características, salienta-se o tamanho dessas partículas, a sua estabilidade, o fenômeno conhecido como Efeito Tyndall, entre outros aspectos. Analisando sistematicamente cada uma das características desse tipo de solução, temos: • O tamanho de suas partículas: As soluções coloidais são formadas majoritariamente por partículas de tamanho intermediário entre as soluções verdadeiras e as suspensões. Dessa forma, o tamanho dessas partículas varia entre 1 nanômetro a 1 micrômetro. Assim, devido a essa característica peculiar, os coloides possuem a capacidade de desviar a luz. Entretanto, ainda assim são pequenos demais para sofrerem a ação de sedimentação causada pela gravidade. • Estabilidade: As soluções coloidais não se sedimentam com facilidade, pois são consideradas relativamente estáveis (caso não haja perturbação do meio). Assim, podem permanecer dispersas por longos períodos. • Efeito Tyndall: Esse fenômeno acontece quando a luz é dispersada por partículas coloidais presentes em líquidos, gases ou sólidos. Dessa forma, o caminho da luz se torna facilmente visível. Essa é considerada uma das principais características das soluções coloidais. • Movimento Browniano: Embora não seja exclusivo das soluções coloidais, esse movimento também é visto aqui. As partículas em questão podem se movimentar de maneira aleatória devido as colisões com as moléculas do meio dispersante. Esse fenômeno é responsável, também, por dificultar a precipitação dessas partículas. • Caráter Heterogêneo: Como explicitado no início, as soluções coloidais, embora possam parecer homogêneas a olho nu, são caracterizadas como heterogêneas. Dessa forma, há a presença de duas ou mais fases em contato. Além das características citadas acima, existem outras, tais como a carga dessas partículas, a dificuldade destas em passarem por filtros comuns, entre outras. Em segundo lugar, as soluções coloidais podem ser formadas por diversos tipos de processos, a depender das características dos materiais envolvidos. Dentre estes métodos, pode-se citar os de dispersão e de condensação, além da peptização e emulsificação. Por último, a fim de diferenciarmos as soluções coloidais das soluções reais, é muito importante entender que estas são soluções verdadeiramente homogêneas, com partículas menores que 1 nanômetro. Além do tamanho, a diferença de visibilidade é facilmente notada, com as soluções coloidais dispersando a luz (o já citado efeito Tyndall). Também podemos citar questões de sedimentação (já que as soluções reais nunca se sedimentam), de estabilidade (já que as soluções coloidais podem ser desestabilizadas por agitação mecânica, adição de eletrólitos, enquanto as soluções reais não se aglomeram ou sedimentam), de filtragem (pois as suspensões coloidais não podem ser separadas por filtros comuns devido ao tamanho de suas partículas, diferentemente das soluções reais), entre outras. Ainda, a estabilidade das soluções coloidais pode ser explicada pela clássica Teoria DLVO, que possui tal denominação em referência aos dois cientistas que, de maneira independente, a desenvolveram: Derjaguin-Landau e Verwey-Overbeek. Essa teoria representa um importante marco para modelar interações em suspensões coloidais aquosas e suas respectivas taxas de agregação. Dessa forma, ela assume que as forças de interação podem ser bem aproximadas por uma superposição de forças de van der Waals e forças de dupla camada. Assim, em um sistema simétrico ou no caso de homoagregação, as forças de van der Waals são atrativas e as forças de dupla camada são repulsivas. Quando se trata de sistemas assimétricos e heteroagregação, isso tudo pode mudar. Embora as forças de van der Waals sejam normalmente atrativas, as forças de dupla camada pode ser atrativas, repulsivas ou ambas. Além disso, os efeitos de regulação de carga podem se tornar importantes. Dessa forma, essa teoria DLVO é capaz de descrever relativamente a questão da estabilidade dos colóides no experimento. 2. Forças e Teoria DLVO A estabilidade de um colóide liófobo é uma consequência da dupla camada eletrica na superfície das partículas coloidais. Por exemplo, se duas partículas de um material insolúvel não possuem uma dupla camada, elas podem-se aproximar o suficiente para que a força atrativa de Van de Walls possa fazê-las ficar juntas. Em contraste a este comportamento suponha que as partículas tenham uma dupla camada, conforme a Figura 1 demonstra abaixo: Figura 1: Diagrama que mostra a estabilização de colóides hidrofóbico. Ocorre a absorção de íons negativos na superfície, e a repulsão entre as cargas de mesmo sinal impede o agrupamento das párticulas. Uma teoria muito importante para compreender as forças existente na solução coloidal de enxofre e no diagrama demonstrado na Figura 2, é a teoria DLVO, que consiste em descrever as interações entre partículas suspensas em um meio, levando em conta dois tipos principais de forças: Forças atrativas de van der Waals: Essas forças são sempre atrativas e resultam da interação entre dipolos instantâneos nas moléculas. Elas tendem a aproximar as partículas entre si. Forças repulsivas eletrostáticas: Ocorrem devido à presença de cargas elétricas nas superfícies das partículas. Em um meio aquoso, essas partículas geralmente adquirem cargas elétricas, formando uma camada de íons ao seu redor. A repulsão eletrostática entre essas camadas evita que as partículas se agreguem. A estabilidade do coloide depende do balanço entre essas duas forças. A teoria DLVO sugere que, quando a repulsão eletrostática é maior que a atração de van der Waals, as partículas permanecem estáveis e dispersas no meio. Por outro lado, se as forças de van der Waals predominam, as partículas podem se agregar e o coloide pode se desestabilizar. Além dessa teoria prever o comportamento de suspensões coloidais em diferentes condições, como variações no pH, força iônica ou adição de surfactantes. Pode-se observar o diagrama de força abaixo: Figura 2: Diagrama das forças existentes na solução coloidal de enxofre O sistema é dito instável: assim que as partículas se aproximam suficientemente elas se agregam. Normalmente, a agregação é irreversível. A profundidade do mínimo primário é determinada pela intensidade e alcance da repulsão de Born (ou "hard core repulsion'') que as partículas experimentam quando suas nuvens eletrônicas virtualmente se tocam. Na prática, essa distância é difícil de ser definida, sendo comum negligenciar essa repulsão nos cálculos da energia de interação entre partículas Figura 1, a repulsão de Born está representada por linha tracejada. 3. Preparo e Sistema de refluxo Em primeiro lugar, o uso da acetona no preparo da solução coloidal de enxofre é fundamental para a solubilidade. Dessa forma, ela, por ser um solvente orgânico, ajuda a dissolver compostos orgânicos. Assim, o enxofre é disposto de forma homogênea no meio em questão. Além disso, a presença da acetona diminui a tensão superficial da solução, facilitando sobremaneiraa formação de partículas coloidais e a estabilização da solução propriamente dita. Em segundo lugar, o sistema de refluxo é muito importante para a regulagem da temperatura no processo, evitando a vaporização excessiva do alcool no experimento. Esse controle garante uma melhor eficiência no controle do coloide, garantindo que ele não se desestabilize repentinamente. Outrossim, o uso desse sistema permite que o tempo de residência das reações seja completado efetivamente. Assim, impede que forças externas atrapalhem o andamento do processo. Há tambem outras funções marcantes para justificar o uso do sistema de refluxo no experimento, tal como o impedimento da entrada de contaminantes, visto que esse sistema tende a isolar de forma melhor a área de interesse. 4. Observações realizadas após 72h Primeiramente, é importante ressaltar que apesar do roteiro da prática indicar o tempo de repouso de 24 horas, não foi possível a realização desse tempo devido ao fato do experimento ter sido feito em uma sexta-feira (04/10/2024) e não haver a possibilidade de ir até o local indicado durante o final de semana. Logo, o repouso durou cerca de 72h sendo a coleta de dados realizada na segunda-feira (07/10/2024) as 14:00 horas. Devido a este acontecimento, alguns resultados podem ter sido minimamente alterados já que houve um maior tempo para os coloides se desestabilizarem ou não. Contudo, de uma forma geral o experimento não foi afetado de forma drástica e pode-se concluir que os resultados foram válidos. A ordem de estabilidade entre os tubos (do maior para o menor) foi: 3, 7, 6, 5, 4, 2. Como podemos ver na figura abaixo, o tubo 3 foi o único que não teve alteração após o repouso, mantendo seu caráter homogênea a olho nu, logo é o mais estável. Em seguida, pode-se notar que todos os outros sofreram de certa instabilidade, principalmente nos tubos 2 e 4, onde foi enxergar bem ao fundo dos tubos o precipitado, ou seja, foram os que mais apresentaram a característica de formação de aglomerados de partículas em duas fases. Os tubos 5,6 e 7 apresentaram certa instabilidade, mostrando a tendência a formar mais de uma fase de forma bem sutil e apresentando uma aparência turva e esbranquiçada. O tudo 1 foi usado como o teste em branco. Figura 1: Tubos da solução coloidal após 72 horas, sendo respectivamente da esquerda para a direita identificados por, 1,2,3,4,5,6 e 7. 5. Explique a ordem de estabilidade dos tubos Se analisarmos a tabela abaixo, envolvendo as soluções utilizadas em cada tudo, é possível fazer uma correlação com os resultados de estabilidade. Tabela :Dados da quantidade de cada solução utilizada em cada tubo. Como a quantidade adicionada da solução coloidal se mantem constante é possível concluir que ela não teve relação direta quanto aos resultados. Portanto, o que deve ser analisado são as soluções de amido e de NaCl. Essas foram adicionados para que possa ser testado a estabilidade do coloide quando em contato com um composto iônico (NaCl) e com uma molécula extensa de características tais quais a do amido. Dos tubos analisados, apenas no tubo 3 não foram adicionados NaCl (excluindo o tubo 1 pois este é o ensaio em branco), logo pode-se concluir que o NaCl tem um importante papel desestabilizar a solução. Isso acontece devido a sensibilidade dos sóis liofóbicos (fase dispersa com baixa solubilidade com a fase dispersante) a se precipitarem com uma baixa concentração de sal, já que, com a adição de sal, seus íons passam a ser solvatados pela água e a competir com o enxofre por essas moléculas, o qual é dessolvatado mais facilmente por causa da fraca interação dele com a fase dispersante. O fenômeno descrito acima é chamado de efeito salting out, visto que, ad adição de sais aumenta a força iônica da solução, o que diminui a solubilidade das partículas de enxofre que são atraídas pelas forças de van der Waals e se precipitam. Agora, partindo da análise do amido, pode-se notar que ele tem uma influência de estabilizante do coloide. As soluções com maiores concentrações de amido obtiveram uma menor instabilidade. Na contramão, o tubo 2, o único no qual não foi adicionado o amido, apresentou a maior instabilidade dentre todos. Isso se deve ao efeito protetor que as cadeias de polímeros possuem. Normalmente a adição de polímeros é importante em sóis liofóbicos para que se possa estabilizar o coloide, ao ser adsorvido pelo enxofre o amido gera uma camada que dificulta a interação entre as moléculas de enxofre diminuindo as forças de atração e assim aumentando a estabilidade. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE FÍSICO-QUÍMICA DA UERJ. Prática de Físico-Química Experimental II. Rio de Janeiro: [s.n.], 2022. [2] CASTELLAN, G. Fundamentos de Físico-Química. 2a. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1986. [3] SHAW, D. J. Introduction to Colloid & Surface Chemistry. 4a. ed. Burlington (MA): Butterworth-Heinemann, 1992. [4] JUNIOR, M. J.; VARANDA, L. C. O Mundo dos Colóides. Química Nova Escola, maio 1999. 9-13. [5] Wang, Y., & Hu, J. (2013). Synthesis of colloidal sulfur nanoparticles with a controllable size using acetone as a solvent. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects. [6] Bahl, A., et al. (2016). Reflux apparatus for synthesis of colloidal nanoparticles: Design, working and applications. Journal of Nanoscience and Nanotechnology. [7] LINS, Fernando Antonio Freitas; ADAMIAN, Rupen. Minerais coloidais, teoria DLVO estendida e forças estruturais. 2000.