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Biofísica e Fisiologia Etapas Funcionais do Sistema Nervoso O funcionamento do Sistema nervoso pode ser dividido em três etapas: sensorial, integrativa e motora. Na etapa sensorial, células especializadas ou terminações nervosas de neurônios bipolares (receptores sensoriais) irão captar estímulos providos do ambiente ou do interior do corpo. Posteriormente, o estímulo captado será convertido em energia eletroquímica, ou seja, as células que captaram o estímulo alteram sua polaridade (de eletronegativa tornam-se eletropositivas = potencial do receptor) e com isto geram impulsos ou sinais. Os nervos ou fibras aferentes irão conduzir este impulso até áreas específicas do Sistema Nervoso Central. Na etapa integrativa (também chamada de associação), neurônios do sistema nervoso central (neurônios de associação) serão acionados pelos impulsos oriundos da periferia e com isto despolarizam e secretam neurotransmissores, afim de “interpretar a informação trazida da periferia” e em seguida “gerar novos impulsos” para correção ou sinalização do problema detectado pela etapa sensorial. Os impulsos gerados podem desencadear reações imediatas (por exemplo, a contração da musculatura esquelética para afastar o corpo da área de perigo) ou reações tardias (informações serão memorizadas e num momento oportuno serão resgatas, dando-nos a condição de reação). Na etapa motora, nervos ou fibras eferentes ou motoras irão transportar os impulsos do Sistema Nervoso Central, até a periferia corporal, que efetuará uma resposta (órgão ou tecido efetor).Os nervos eferentes encontram-se subdivididos em somáticos (levam sinais para o músculo esquelético) e autônomos (levam sinais para as vísceras, coração ou glândulas) subdivididos em autônomos simpáticos ou parassimpáticos. Referências DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 10ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2000. HENEINE, I. F. Biofísica básica. 2ª ed. São Paulo, Atheneu, 2002. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce CÉLULAS DO SISTEMA NERVOSO No sistema nervoso diferenciam-se duas linhagens celulares: os neurônios e as células da glia (ou da neuróglia). Os neurônios são as células responsáveis pela recepção e transmissão dos estímulos do meio (interno e externo), possibilitando ao organismo a execução de respostas adequadas para a manutenção da homeostase. Para exercerem tais funções, contam com duas propriedades fundamentais: a irritabilidade (também denominada excitabilidade) e a condutibilidade. Irritabilidade é a capacidade que permite a uma célula responder a estímulos, sejam eles internos ou externos. Essa propriedade é inerente aos vários tipos celulares do organismo. No entanto, as respostas emitidas pelos tipos celulares distintos também diferem umas das outras. A resposta emitida pelos neurônios assemelha-se a uma corrente elétrica transmitida ao longo de um fio condutor: uma vez excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem essa onda de excitação - chamada de impulso nervoso - por toda a sua extensão em grande velocidade e em um curto espaço de tempo. Esse fenômeno deve-se à propriedade de condutibilidade. Para compreendermos melhor as funções de coordenação e regulação exercidas pelo sistema nervoso, precisamos primeiro conhecer a estrutura básica de um neurônio e como a mensagem nervosa é transmitida. Um neurônio é uma célula composta de um corpo celular (onde está o núcleo, o citoplasma e o citoesqueleto), e de finos prolongamentos celular que podem ser subdivididos em dendritos e axônios. Os dendritos são prolongamentos geralmente muito ramificados e que atuam como receptores de estímulos, funcionando portanto, como "antenas" para o neurônio. Os axônios são prolongamentos longos que atuam como condutores dos impulsos nervosos. Os axônios podem se ramificar e essas ramificações são chamadas de colaterais. Todos os axônios têm um início (cone de implantação), um meio (o axônio propriamente dito) e um fim (terminal axonal ou botão terminal). O terminal axonal é o local onde o axônio entra em contato com outros neurônios e/ou outras células e passa a informação (impulso nervoso) para eles. A região de passagem do impulso nervoso de um neurônio para a célula adjacente chama-se sinapse. Às vezes os axônios têm muitas ramificações em suas regiões terminais e cada ramificação forma uma sinapse com outros dendritos ou corpos celulares. Estas ramificações são chamadas coletivamente de arborização terminal. Os corpos celulares dos neurônios são geralmente encontrados em áreas restritas do sistema nervoso, que formam o Sistema Nervoso Central (SNC), ou nos gânglios nervosos, localizados próximo da coluna vertebral. Do sistema nervoso central partem os prolongamentos dos neurônios, formando feixes chamados nervos, que constituem o Sistema Nervoso Periférico (SNP). O axônio está envolvido por um dos tipos celulares seguintes: célula de Schwann (encontrada apenas no SNP) ou oligodendrócito (encontrado apenas no SNC) Em muitos axônios, esses tipos celulares determinam a formação da bainha de mielina - invólucro principalmente lipídico (também possui como constituinte a chamada Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce proteína básica da mielina) que atua como isolante térmico e facilita a transmissão do impulso nervoso. Em axônios mielinizados existem regiões de descontinuidade da bainha de mielina, que acarretam a existência de uma constrição denominada nódulo de Ranvier. No caso dos axônios mielinizados envolvidos pelas células de Schwann, a parte celular da bainha de mielina, onde estão o citoplasma e o núcleo desta célula, constitui o chamado neurilema. Referências consultadas: DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2ª edição. Atheneu, São Paulo, 2000. Principais Funções das Estruturas do Sistema Nervoso Central Os órgãos do Sistema Nervoso Central encontram-se divididos em encéfalo (formado pelo cérebro, cerebelo e tronco encefálico) e medula espinhal.Cada estrutura será especializada em executar funções de extrema importância ao organismo, entretanto, estas funções são efetuadas frente a estímulos sensoriais (captados da periferia corporal e transformados em impulsos) e também podem promover inúmeras reações periferia do corpo (etapa motora), ou seja, as etapas sensoriais e motoras interagem diretamente com as funções executadas pelo Sistema Nervoso Central. a-)Funções do córtex cerebral A área cortical do cérebro encontra-se dividida em: Lobo frontal – apresenta grupos de neurônios responsáveis pela coordenação dos movimentos (giro pré-central), pelos pensamentos e emoções e pela fala (área de Broca). Lobo parietal – também denominado “área somestésica”, visto que seus neurônios estão envolvidos no processamento de todas as informações derivadas da pele. A comunicação destes neurônios nos proporciona as sensibilidades do tato, da pressão, das variações de temperatura e da dor. Lobo occipital – seus neurônios serão acionados e sua comunicação resulta na visão. Lobo temporal – Apresentainúmeros núcleos de neurônios, dentre as quais a memorização temporária, audição, emoções e integração de inúmeras funções executadas por regiões distintas do sistema nervoso (Área de Wernick) Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 1 Lobos do cérebro Fonte: susanacosta.wordpress.com/2007/05/31/cerebro/ b-)Áreas Subcorticais Representada por todas as regiões do cérebro que encontra-se localizada no centro deste órgãos. Diencéfalo – corresponde ao tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo. O tálamo encontra-se no centro do cérebro, portanto, torna-se uma região que recebe impulsos de diferentes procedências, e após processá-los, direciona para áreas centrais especializadas no processamento destes impulsos. O hipotálamo, também é classificado com uma das estruturas do diencéfalo, e apesar de representar uma região muito pequena do cérebro, apresenta grupos de neurônios responsáveis pelas seguintes funções: manutenção da temperatura corporal (termostato); determinação da fome, da sede e da saciedade; determina o sono; emite impulsos para nervos autônomos transportarem sinais para as vísceras e regula o funcionamento da glândula hipófise ou pituitária (conhecida como glândula mestre do corpo humano, pelo controle funcional que exerce em inúmeras glândulas endócrinas) ; Hipocampo – seus neurônios participam da memorização à longo prazo; Amígdala – está relacionada com as emoções e o comportamento do indivíduo Corpo ou glândula pineal – encontra-se abaixo do esplênio do corpo caloso, cuja função é produzir o hormônio melatonina.A pineal, perante a redução da luminosidade, libera para o sangue o hormônio melatonina, que estimula a redução do metabolismo celular.Com isto haverá menor produção de Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce radicais livres pela célula (este fator revigora a célula) e prepara o organismo para o sono. Figura 2 Estruturas subcorticais do cérebro Fonte: scotty.ffclrp.usp.br c-)Tronco encefálico O tronco encefálico encontra-se subdividido em três regiões: Mesencéfalo – participa do controle dos movimentos oculares. Contém núcleos relé (neurônios que podem emergir seu axônio para diversas áreas do sistema nervoso central, efetivando desta forma, inúmeras conexões) participam do sistema auditivo e visual. Bulbo – também conhecido como medula oblonga, representa a extensão rostral (anterior) da medula espinhal. Participa da regulação do ritmo respiratório, transmite informações dos hemisférios do cérebro para o cerebelo além de participar do controle da musculatura facial. Ponte Apresenta inúmeros núcleos de neurônios: centro da deglutição, centro do vômito, centro vasomotor, centro respiratório bulbar e centro da tosse. Estes neurônios acionam nervos autônomos que transportam sinais para os órgãos, portanto, é comum denominar estes grupos (ou núcleos) de neurônios de “núcleos autônomos do bulbo”. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 3 Componentes do tronco encefálico Fonte: http://www.afh.bio.br/nervoso/img/tronco%20cerebral.gif d-)Cerebelo É uma estrutura foliada que está presa ao tronco encefálico (região posterior). Suas funções são: Coordenação dos movimentos; Planejamento e execução dos movimentos Manutenção da postura; Coordenação dos movimentos da cabeça e dos olhos Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 4 Posição anatômica do cerebelo Fonte: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/corpo-humano-sistema- nervoso/imagens/divisao-do-sistema-nervoso-1.jpg e-)Medula espinhal A medula espinhal representa a área caudal do Sistema Nervoso Central.Receberá impulsos aferentes e eferentes, onde torna-se fundamental na conexão do corpo com as estruturas do Sistema Nervoso Central e vice-versa. Referências DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 10ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2000. HENEINE, I. F. Biofísica básica. 2ª ed. São Paulo, Atheneu, 2002. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 Jaciane Realce Jaciane Realce Potenciais de Membrana e Potencial de Ação Todas as células do corpo possuem potenciais elétricos. Além disso, células neurais e musculares são excitáveis, ou seja, capazes de autogeração de impulsos eletroquímicos em suas membranas. O potencial de membrana no interior da fibra nervosa é 90 mv mais negativo que o potencial no líquido extracelular -LEC. Todas as membranas do corpo apresentam uma Bomba de Na + e K + que bombeia Na + para fora da fibra ao mesmo tempo em que bombeia K + para dentro dela. A carga negativa no interior da membrana é produzida por essa bomba eletrogênica, porque um maior número de cargas positivas é bombeado para fora do que para dentro da fibra, deixando um déficit de íons positivos no interior. Além dessa função também ocorre o controle hídrico no interior da célula em função da forma hidratada dos íons nos meios intra e extracelulares. Os sinais nervosos são transmitidos por Potenciais de Ação, que são variações rápidas do potencial de membrana que passa de negativo para positivo. Para “conduzir” um sinal neural, um Potencial de Ação se desloca ao longo da fibra nervosa, até atingir sua extremidade. Etapas: Repouso – no Potencial de Repouso, diz-se que a membrana está “polarizada”, pelo grande potencial negativo da membrana. Despolarização – a membrana fica subitamente permeável aos íons Na+ que difundem para o interior da célula. OPotencial de Repouso de – 90 mv varia rapidamente na direção da positividade. Repolarização - dentro de poucos décimos milésimos de segundo, os canais de Na + começam a se fechar, enquanto os de K + se abrem mais do que normalmente, permitindo a saída (rápida difusão) de íons K+ para fora da célula. Concomitantemente, ocorre a ativação da bomba de Na + e K +. Estes dois eventos restabelecem o potencial negativo de repouso da membrana. Canais de Na + - quando o potencial de membrana varia de -90 mv em direção ao zero (em função de estímulo limiar) provoca a abertura da comporta de ativação (posição aberta), fazendo com que íons Na+ passem pelos canais, aumentando sua permeabilidade em até 5.000 vezes. Essa comporta se fecha décimos milésimos de segundo após as comportas de ativação se abrirem (posição fechada). Nesse ponto, o potencial de membrana começa a retornar ao potencial de repouso (“repolarização”). Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Nota saber o que significa em detalhes. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Canais de K + - Durante o estado de repouso, a comporta do canal de K + está fechada. Quando o potencial de membrana varia de – 90 mv em direção ao zero ocorre uma lenta alteração conformacional, abrindo a comporta e permitindo a difusão de grande quantidade de K + para o exterior. Devido à lentidão da abertura desses canais eles, em sua maioria, só abrem a partir do momento em que os canais de Na+ começam a se fechar. Assim, a diminuição do fluxo de Na + e o aumento simultâneo do fluxo de K + aceleram a repolarização. Restabelecido o potencial de repouso, os canais de K+ se fecham novamente.Referências consultadas: DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 10ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2000. HENEINE, I. F. Biofísica básica. 2ª ed. São Paulo, Atheneu, 2002. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 Jaciane Realce SINAPSES As sinapses podem ser: Interneuronais- transmissão de estímulos de um neurônio ao outro; Neuroefetuadoras – transmissão de estímulo de um neurônio efetor para células de órgãos efetores (Músculo Estriado Esquelético, Músculo Estriado Cardíaco, Músculo liso e Glândulas); Com relação a maneira em que uma célula transmite o estímulo a outra células, temos: Sinapses elétricas – as junções intercelulares são do tipo “comunicantes”, sendo chamadas CONEXONS.Nesta condição, uma célula permite através destas junções comunicantes, a passagem de íons, transmitindo seus sinais; Sinapses químicas – nestas os sinais são transmitidos de uma célula a outra, utilizando substâncias químicas chamadas de Neurotransmissores e/ou Neuromoduladores. Os neurotransmissores são macromoléculas, capazes de estimular ou inibir a célula pós-sináptica.Os neuromoduladores são peptídeos, cuja cadeia química é menor que a dos neurotransmissores, capazes de modular ( regular) a ação da célula pré e pós-sináptica. Na sinapse, morfologicamente encontra-se uma membrana pré-sináptica e uma membrana pós-sináptica, separadas pela fenda sináptica. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 1 Aspecto morfológico da sinapse Fonte: www.clubedoaudio.com.br O neurônio pré-sináptico é quem secreta o neurotransmissor, que fica armazenado em vesículas localizadas no interior do botão pré-sináptico, presente na extremidade da terminação nervosa (ramificações terminais do neurônio). As sinapses químicas proporcionam a propagação dos estímulos em um único sentido. Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 2 Sentido da propagação do impulso nas sinapses químicas Fonte: www.afh.bio.br/nervoso/nervoso5.asp No botão pré-sináptico, existe vesículas que armazenam os neurotransmissores e também mitocôndrias, que participam da produção de energia (ATP), utilizada na síntese destes mediadores químicos. O neurotransmissor pode ser excitatório (estimulam a propagação do impulsos na célula pós-sináptica) ou inibitório (inibem temporariamente a propagação de impulsos). Liberação de Neurotransmissores A membrana pré-sináptica está constituída por um grande número de proteínas de canais “voltagem dependente”.Com isto,em função do potencial de ação, acredita- se que ocorra uma intensa difusão de cálcio (Ca++) para o meio intracelular da membrana pré-sináptica, e estes íons energizam ainda mais a superfície interna da membrana.As vesículas que armazenam os neurotransmissores são sensibilizadas Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce pela entrada ou influxo de cálcio (Ca++) e aproximam-se da membrana pré-sináptica e por um processo de exocitose, expulsam os neurotransmissores na fenda sináptica. Figura 3 Sensibilização das vesículas do botão pré-sináptico seguida de exocitose e liberação dos neurotransmissores Fonte: www.icb.ufmg.br *Curiosidade: Cada vesícula armazena entre 2.000 a 10.000 moléculas do neurotransmissor acetilcolina (Ach) Atuação do neurotransmissor na membrana pós-sináptica Na membrana pós-sináptica existe um grande número de proteínas receptoras. Estas proteínas apresentam um receptor voltado para o meio extracelular, ou seja, na fenda sináptica. Após a ligação do neurotransmissor específico, esta proteína receptora irá reagir, permitindo a propagação ou inibição da condução do impulso pelo neurônio pós-sináptico.De acordo com a reação ocorrida na proteína receptora, estas serão classificadas em: Proteínas de Canal Permitirá a passagem de íons específicos pela membrana deste neurônio. Mecanismo de ação Quando ocorre o acoplamento do neurotransmissor na proteína receptora de canal, íons específicos atravessam a membrana por meio deste canal. As proteínas de canal são extremamente seletivas, portanto, podem permitir a passagem de: Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Íons positivos ou cátions – As proteínas de canal catiônicas permitem a passagem de sódio (Na+) e raramente de potássio (K+) e cálcio (Ca++).Esta seletividade ocorre pela presença de comportas, cargas elétricas na superfície interna da membrana e formato do canal protéico. Íons negativos ou ânions – As proteínas de canal aniônicas permitem a passagem de cloro (Cl-) devido a mesmas características referenciadas nas proteínas de canais catiônicas. Ocorre que as proteínas de canal catiônicas apresentam cargas negativas, ao contrário das proteínas de canal aniônicas. Proteína Ativadora do 2º mensageiro Esta proteína está conectada a uma proteína globular, voltada para o meio intracelular, denominada proteína G, constituída por 3 subunidades (alfa,beta e gama).As subunidades beta e gama prendem a proteína G a superfície interna da membrana, enquanto que a subunidade alfa representa a porção ativadora da proteína G. Mecanismo de Ação Quando o neurotransmissor liga-se a Proteína Ativadora de 2º mensageiro, ocorre a liberação da subunidade alfa, que passa da face interna da membrana para o citoplasma do neurônio pós-sináptico.No citoplasma, a parte alfa terá as seguintes funções: 1. Liga-se a proteína de canal, provocando a abertura da comporta Com isto, ocorrerá a saída ou efluxo de potássio (K+), que passa do meio intra para o extracelular; 2. Ativa mecanismos metabólicos a partir da adenosina monofosfato cíclico (AMPc) ou guanosina monofosfato cíclico( GMPc), podendo prolongar o metabolismo celular; 3. Ativa enzimas intracelulares que provocam reações químicas na célula; 4. Ativa a transcrição genética, podendo causar formação de novas proteínas dentro do neurônio e estas participam de alterações estruturais dos neurônios, especialmente nos processos de memória à longo prazo; Excitação do Neurônio pós-sináptico Resultado de um intenso fluxo iônico de sódio (Na+) para o meio intracelular.Deprime a condução de cloro (Cl-) ou potássio (K+) por difusão. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Inibição do Neurônio pós-sináptico Ocorre abertura de canais de cloro (Cl-) que entra (influxo) no neurônio e de potássio (K+) que sai (efluxo) da célula.Este processo é feito após a ligação do neurotransmissor ao respectivo receptor, presente na proteína de canal. Mecanismo de remoção do Neurotransmissor Após realizar a condução de impulsos do neurônio pré-sináptico para o neurônio pós- sináptico, o neurotransmissor será removido da fenda pelos seguintes mecanismos: 1. Sofrerá difusão da fenda sináptica para células ou líquido circundantes; 2. Sofrerá destruição enzimática na fenda sináptica. Exemplo: a enzima Acetilcolinesterase degrada o neurotransmissor acetilcolina (Ach) em dois fragmentos: acetato + colina.A colina é transportada ativamente para o interior do botão pré-sináptico, sendo reutilizada na formaçãode nova molécula de acetilcolina (Ach), processo que conta com a catálise da enzima Acetiltransferase. 3. Recaptação do neurotransmissor consiste no retorno do neurotransmissor para o botão pré-sináptico do qual foi liberado. Bombas de recaptação presentes neste botão participam deste mecanismo de remoção.Após retornar ao botão, o neurotransmissor poderá ser destruído por enzimas específicas (exemplo: enzima Monoaminoxidase ou MAO que destruirá os neurotransmissores aminas biogênicas) ou também poderão ser novamente armazenados nas vesículas, dependendo da disponibilidade de espaço para a sua acomodação. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Figura 4 Recaptação do neurotransmissor Fonte: http://static.hsw.com.br/gif/nerve-6.gif Referências DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 10ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 2000. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 Sistema Nervoso Ouvir sons, sentir cheiro, gosto, frio, calor, ver objetos e cores entre outras sensações, separadamente ou todas ao mesmo tempo, são algumas das habilidades que o nosso sistema nervoso possui. Esse eficiente centro de automatismo e decisões é responsável pela integração de idéias e sensações, pela conjugação dos fenômenos de consciência e de adaptação do organismo às condições do meio em que está inserido. Está constituído por células altamente diferenciadas em excitabilidade e condutibilidade – os neurônios, que sustentados por células especializadas – gliais, formam as vias de condução dos impulsos nervosos e de conexão entre as regiões do sistema nervoso. Os centros de processamento do sistema nervoso estão localizados no interior do paquímero neural, denominado sistema nervoso central: são o encéfalo e a medula espinal, contidos na cavidade craniana e canal vertebral respectivamente. As vias nervosas compreendem dois grupos: as vias sensitivas e as vias motoras. As primeiras conduzem impulsos originados em receptores cutâneos, viscerais e órgãos dos sentidos especiais para o sistema nervoso central. As vias motoras conduzem os impulsos no sentido inverso, do sistema nervoso central para os órgãos efetores – músculos e glândulas. O encéfalo é o nome dado ao conjunto de cérebro, cerebelo e tronco encefálico. O cérebro compreende o telencéfalo e o diencéfalo juntos e o tronco encefálico está constituído de mesencéfalo, ponte e bulbo. Estas partes do encéfalo estão dispostas no sentido crânio-caudal e possuem relação com os nervos cranianos ou encefálicos. No cérebro é possível notar a presença de relevos de tecido nervoso separados por sulcos. Estes relevos são nomeados de giros. Os giros cerebrais estão organizados de modo a formar lóbulos e estes se juntam para formar lobos. Assim é possível identificar na superfície do cérebro a presença dos lobos frontal, parietal, occipital e temporal, além do lobo da ínsula que se coloca mais profundamente na região temporal. Cada lado direito e esquerdo do cérebro é nomeado hemisfério cerebral que apresentam entre si a fissura sagital superior, separando-os parcialmente. Internamente em cada hemisfério envolvido por estes lobos estão os ventrículos laterais que apresentam separados pelo septo pelúcido. O diencéfalo apresenta quatro formações em sua constituição, o tálamo, o hipotálamo, o epitálamo e o subtálamo. No plano mediano se encontra o III ventrículo. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Nota sulcos é o composto que separa os tecidos dos cérebro Jaciane Realce Jaciane Realce O mesencéfalo está posicionado entre o cérebro (acima) e a ponte (abaixo). A ponte está posicionada entre o mesencéfalo (acima) e o bulbo ou medula oblonga (abaixo). O bulbo ou medula oblonga está posicionado entre a ponte (acima) e a medula espinhal ou espinal (abaixo). O cerebelo está localizado posteriormente à ponte e bulbo com quem forma o IV ventrículo. Apresenta dois hemisférios cerebelares unidos pelo vermís. A medula espinal ocupa o interior do canal vertebral desde o nível do forame magno até o nível da segunda vértebra lombar (L2). Possui relação com os nervos espinais. Sua porção caudal se encontra mais afilada sendo nomeada cone medular. A partir do cone medular se encontra um conjunto de nervos no interior do canal medular que recebem o nome de cauda eqüina. Todo o sistema nervoso central está envolvido por um conjunto de três membranas de tecido conjuntivo nomeadas: dura-máter – camada externa, aracnóide – camada média e pia-máter – camada interna. O Líquor também conhecido como líquido cérebro espinhal é elaborado constantemente no interior dos ventrículos encefálicos através do plexo corióide e reabsorvido através das granulações aracnóideas para a circulação sanguínea existente no interior de alguns seios meníngicos. Sua produção chega a ser totalmente renovada três vezes ao dia. Tanto o líquor bem como as meninges possuem a função de proteger o sistema nervoso central. Fazem parte do sistema nervoso periférico os nervos, os gânglios e as terminações nervosas. O nervo é formado geralmente de fibras nervosas mielinizadas que possuem a função de conduzir estímulos entre o sistema nervoso central e os órgãos dos sistemas do organismo, em ambos os sentidos. Os nervos estão divididos em cranianos e espinais. Os cranianos totalizam 12 pares e os espinais 31 pares. Os nervos cranianos são: olfatório, óptico, oculomotor, troclear, trigêmeo, abducente, facial, vestíbulo coclear, glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso. Os nervos espinais são: 8 cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacrais, 1 coccígeo. Os gânglios são formados pelo conjunto de corpos neuronais, também nomeados pericários, localizados próximos da medula espinal, próximo ou na intimidade da parede das vísceras. As terminações nervosas estão presentes na porção terminal do axônio sensitivo ou motor. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce DANGELO, J. C. & FATTINI, C. A. Anatomia humana sistêmica e segmentar. 3ª edição. São Paulo: Atheneu, 2005. GRAY, H. et al. Anatomia. 29ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1977. MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2ª edição. São Paulo: Atheneu, 1993. ZORZETTO, N. L. Curso de anatomia humana. 7ª edição. São Paulo: IBEP, 1999. SONO Uma boa noite de sono garante que acordemos bem-dispostos e que as energias gastas durante o dia sejam devidamente repostas. O sono é um período de intensa atividade orgânica, durante o qual as experiências vividas ao longo do dia são memorizadas e consolidadas. ETAPAS DO SONO O sono pode ser dividido em cinco etapas. Nas duas primeiras, ocorrem apenas cochilos, a terceira e a quarta se caracterizam por sono profundo, e durante a quinta ocorrem a maioria dos sonhos. A NEUROFISIOLOGIA DO SONO O sono é comum a todos os vertebrados e a quase todos os animais, O grande passo na pesquisa do sono foi dado em 1953, quando Aserinski e Kleitman observaram que o sono não é um estado homogêneo, mas que podia ser dividido em dois estados fisiológicos bem distintos, sendo um como movimentação ocular rápida (EEG semelhante à vigília), a que denominou-se sono paradoxal ou sono REM (rapid eyes movements), e o outrosem movimentos oculares rápidos, o sono não-REM. Os estudos posteriores verificaram várias diferenças fisiológicas, mostrando que o sono não-REM apresenta redução da atividade neuronal, da taxa metabólica, da temperatura cerebral, da atividade simpática, com atividade lenta no EEG e com atividade motora ocasional. O sono REM apresenta aumento da atividade metabólica, da temperatura cerebral, da atividade parassimpática e simpática (fazendo oscilar as freqüências cardíaca e respiratória), com o EEG dessincronizado, redução de atividade da musculatura esquelética (excetuando-se o diafragma, a musculatura ocular e a do ouvido médio).Kleitman e Dement, numa série de trabalhos, determinaram as várias fases do sono NREM (I a IV), suas particularidades e elementos constituintes, a duração destas fases no sono, e que os sonhos ocorrem durante o sono REM. Estudos subsequentes, puderam definir o substrato neural do sono, quando foram identificados os núcleos geradores do sono REM, localizados na ponte do tronco cerebral e núcleos executivos distribuídos no bulbo, medula, tálamo e córtex cerebral. Funções do sono: não se sabe adequadamente a função do sono. Por isso, surgiram na literatura teorias que tentam traçar elementos que expliquem, ao menos parcialmente, algumas evidências observadas: 1. A teoria da conservação de energia: baseia-se no fato de que o animal de maior taxa metabólica dorme maior número de horas que o animal de menor taxa metabólica. 2. Teoria da termorregulação: consiste na observância de que ratos, quando privados de sono por duas semanas, demonstram uma queda da temperatura corpórea, sugerindo que o sono tem um papel de retenção de calor. 3. Teoria do metabolismo anabólico: refere que durante o sono ocorre liberação do hormônios catabólicos (cortisol) e há redução da liberação dos hormônios anabólicos (GH) 4. Teoria da restauração tecidual: descreve que durante o sono REM ocorre um aumento da síntese protéica no tecido cerebral e durante o sono não-REM ocorre aumento da síntese protéica no tecido corporal. 5. Teoria da consolidação da memória e do aprendizado: os proponentes desta teoria acreditam que as informações e processamentos atribuídos ao sono REM apaguem, de forma seletiva, traços de memória, como se fosse descarga de informação supérflua durante a vigília. Mas o achado de que o sono REM serviria apenas para este processo de informação acumulada ficou desestruturado com as pesquisas endereçadas ao desenvolvimento ontogenético do ciclo sono-vigília, pois observou-se que todos os mamíferos recém-nascidos apresentavam altas taxas de sono REM e era o primeiro estágio a aparecer ontogeneticamente. Portanto, os autores sugeriram que os eventos neurais forneciam substrato sensorial e motor para o sistema nervoso central, para promover o enriquecimento das densidades sinápticas, assim como desenvolver circuitos neuronais bem operantes Os transtornos de sono das crianças Sono fracionado As crianças não dormem a noite toda, despertam várias vezes. Isto deve-se a que qualquer pessoa ao despertar espera encontrar-se na mesma situação em que estava quando adormeceu. Para entender melhor, imaginemos como se sentiria um adulto que tivesse adormecido na sua cama com um pijama e a meio da noite acordasse na sala de tv e sem roupa. O mesmo acontece com um bebe; se adormeceu nos braços da sua mãe e acorda sozinho na cama, começa a chorar. Por isso, é importante que os bebes aprendam a dormir sozinhos, para evitar que as mudanças durante a noite possam induzir ao sono fraccionado. Ruídos respiratórios Às vezes, o sono pode alterar-se devido ao intenso ruidos respiratórios. Com efeito, embora muitos se surpreendam, trata-se de um problema bastante comum durante a infância, especialmente nas crianças em idade escolar, e as causas mais comuns são a hipertrofia das adenóides, as amigdalites. Muitas vezes os ruidos podem produzir apneias (pausas respiratórias), por isso a pessoa desperta com a sensação de sufoco. Pesadelos Entre as crianças os pesadelos são outro dos transtornos habituais. Trata-se de sonhos terríveis que, apesar de se poderem produzir em qualquer idade, afectam de forma especial as crianças, particularmente entre os seis e os doze anos. Como qualquer sonho, os pesadelos acontecem na etapa REM, ou seja, hora e meia depois de ter adormecido, aproximadamente. Enquanto a criança está com o sonho “feio”, pode fazer pequenos movimentos como caretas, ou emitir algum som como gemido ou choro, mas geralmente não se recorda de nada no dia seguinte. Os pesadelos são mais frequentes quando a pessoa tem febre, as vezes tão intenso que a pessoa chega a cordar. Terrores noturnos Quando a criança é vítima de terrores noturnos desperta abruptamente, senta-se na cama, chora horrorizada e olha assustada para o teto ou para um ponto fixo, mas sem ter a consciência do que está acontecendo, sem reconhecer ou identificar os seus próprios pais. Os terrores noturnos não acontecem na fase REM, mas sim na primeira etapa do sono, e embora não se conheçam as causas, acredita-se que estejam relacionados com certos estados de pânico. Devido ao fato da criança sentir muito medo, abraçá-lo e segurá-lo é suficiente para que ele acalme. A idade de maior incidência é entre os três e os cinco anos, e geralmente supera-se sem necessidade de tratamento, salvo em casos muito graves. Tal como os pesadelos, no dia seguinte a criança não recorda absolutamente nada. Sonâmbulismo Os indivíduos que sofrem de sonambulismo são capazes de realizar certos movimentos relativamente complexos, como sentar, levantar ou caminhar, sem ter consciência do que estão fazendo. Geralmente, fazem estas ações com os olhos abertos. Quando caminham não costumam tropeçar ou bater contra obstáculos. Embora seja verdade que alguma parte do seu sistema nervoso se encontra desperto, o indivíduo não tem consciência e habitualmente tão pouco recorda alguma coisa no dia seguinte. Inclusive, se o despertarem durante o episódio ele não compreenderá o que se está acontecendo. O sonambulismo tem um certo carater hereditário, já que é mais frequente em crianças cujos pais são sonâmbulos, e embora possa apresentar em qualquer idade é mais frequente durante a infância, entre os quatro e os dez anos. Diurese noturna Costuma surgir na primeira infância, durante o sono a criança faz chichi. Geralmente, a causa está associada a anatomia da bexiga que é pequena, embora também pode ser por motivos psicológicos. Ocorre nas crianças até aos doze anos e a na maioria das vezes existem antecedentes familiares. Habitualmente, logo depois do episódio a criança acorda, porque a cama fica molhada. É motivo de muita vergonha entre as crianças. Síndroma das pernas inquietas As crianças movem as pernas bruscamente durante o sono. Em alguns casos, com tanta intensidade que se levantam sentem dores nos membros inferiores devido à intensa atividade que realizaram durante a noite. Trata-se de um transtorno muito comum que se produz durante as fases 3 e 4, mas nunca na etapa REM, ou seja, enquanto a pessoa está adormecida. Costuma ser mais frequente nas crianças em idade escolar, embora também possa acontecer com adolescentes e adultos. A causa é desconhecida, mas em muitos casos existem antecedentes familiares. Produz-se todas as noites, para a infelicidade de quem compartilha a cama com estas pessoas. Referências consultadas: DOUGLAS, C. R. Tratado de Fisiologia. 6ª ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2006. LENT, R. Cem bilhões de neurônios – conceitos fundamentais de neurociências. Ateneu,São Paulo, 2001 MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2ª edição. Atheneu,São Paulo, 2000. Psiconeuroimunologia 2 - Imunologia e Emoções Incluído em 14/01/2005 É no Sistema Límbico que tem início a função psíquica de avaliar a situação, os fatos e eventos de vida. Esse modo de avaliação sempre leva em consideração vários elementos, tais como, a personalidade, a experiência vivida, as circunstâncias atuais, as normas culturais. Acontecem também a partir do Sistema Límbico, as diversas interações entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico, fazendo interagir as percepções córticocerebrais com o hipotálamo. O Estresse, por sua vez, seja ele de natureza física, psicológica ou social, é um termo que compreende um conjunto de reações fisiológicas, as quais, sendo exageradas em intensidade e duração, acabam por causar desequilíbrio no organismo, freqüentemente com efeitos danosos. As primeiras constatações do Estresse emocional foram relatadas a partir de 1943, quando então se comprovou um aumento da excreção urinária dos hormônios da suprarenal (cortisol e adrenalina) em pilotos e instrutores aeronáuticos em vôos simulados. Alguns anos antes essas alterações já haviam sido suspeitadas pesquisando competidores de natação momentos antes das provas. O conceito original de Estresse, entretanto, foi apresentado antes (1936) pelo pesquisador canadense de origem francesa Hans Selye, a partir de experimentos em que animais eram submetidos a situações agressivas diversas (estímulos estressores), e cujos organismos respondiam sempre de forma regular e específica. Selye descreveu toda ocorrência do Estresse sob o nome de Síndrome Geral de Adaptação, com três fases sucessivas: alarme, resistência e esgotamento. Após a fase de esgotamento, observava o surgimento de algumas doenças, tais como a úlcera péptica, a hipertensão arterial, artrites e lesões miocárdicas . Como já ressaltamos em outros textos, mais importantes que os estímulos objetivamente tidos como estressores, são os estímulos estressores avaliados e julgados como tais pelas diferentes pessoas. Existe uma sensibilidade (afetiva) pessoal e particular em cada um de nós, constituindo um conjunto de mecanismos dos quais o organismo lança mão em reação aos agentes particularmente tidos como estressores, caracterizando a forma como cada pessoa avalia e lida com estas situações. Essa sensibilidade pessoal à realidade explica por que avaliamos desta ou daquela forma as situações tidas como desafiadoras, enfrentando-as ou não, e reagindo à elas de maneiras particularidades e muito pessoais, "permitindo" assim que elas exerçam maior ou menor repercussão sobre o organismo. Fisiologia da Resposta ao Estresse O Sistema Neuro-Endócrino-Imunológico Entre 1970 e 1990 foram muito expressivos os experimentos de laboratório que tentavam comprovar a relação entre Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Imunológico. Nessas duas décadas chegou-se a constatar o despovoamento celular do timo em ratos, através da indução de lesões no hipotálamo. Também se demonstrou que lesões destrutivas no hipotálamo dorsal levavam à supressão da resposta de anticorpos. Isso tudo sugeria que o hipotálamo seria uma espécie de base de integração entre os sistemas nervoso e imunológico na resposta ao estresse (Mauro Diniz Moreira, Julio de Melo Filho, Psicossomática Hoje, Artes Médicas). A partir de 1990 constata-se também que alterações ocorridas na hipófise também poderiam determinar modificações imunológicas, visto que a extirpação dessa glândula ou mesmo seu bloqueio farmacológico impedia a resposta imunológico no animal de laboratório (Khansari DN, Effects of stress on the immune system - Immunol. Today, v.11, no. 5, p.170, 1990). A resposta imune ao estresse se dá através de uma ação conjunta entre o sistema nervoso, sistema endócrino e sistema imunológico. Por excesso de intensidade ou duração do estresse pode surgir alguma doença atrelada a qualquer desses sistemas. Experiências, Estresse e Imunologia Uma alteração precoce que se observa durante o estresse é o aumento nos níveis dos hormônios corticoesteróides secretados pelas glândulas suprarrenais (cortisona). Parece que estes níveis acham-se em proporção inversa à eficácia dos mecanismos de adaptação, ou seja, nos casos com mecanismos adaptativos adequados os níveis não são muito elevados mas, no caso de pessoas deprimidas, portanto, com severas dificuldades adaptativas, esses níveis são maiores. A glândula suprarrenal parece ter um desempenho mais ou menos seletivo no estresse. Em estados de agressão, enquanto sua parte central (córtex) produz cortisol, a medula da glândula também participa, liberando norepinefrina (noradrenalina). Nas situações estressoras de tensão e ansiedade a liberação medular privilegia a epinefrina (adrenalina). Mello Filho reviu experimento de 1976, onde pôde constatar em macacos submetidos a estresse um aumento dos níveis de 17 hidroxicorticóides, catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), hormônio estimulador da tireóide (TSH) e hormônio do crescimento (GH), enquanto se observava um decréscimo dos hormônios sexuais, invertendo-se essa situação à medida que o animal se recuperava (Mauro Diniz Moreira, Julio de Melo Filho, idem). As catecolaminas (adrenalina e noradrenalina) afetam as reações imunológicas, seja por reação fisiológica, como por exemplo a contração do baço, seja por estímulo celular através de receptores específicos (adrenérgicos) na membrana celular. O certo é que o aumento das catecolaminas inibe as respostas de anticorpos. E as catecolaminas podem ter sua liberação condicionada à fatores neuropsicológicos. Num estudo clássico, desenvolvia-se experimentalmente a supressão da função imunológica pelo uso de imunossupressor (ciclofosfamida), associado a uma bebida contendo substância de gosto muito particular e forte (sacarina). Essa supressão podia repetir-se quando era administrada apenas a bebida com sacarina, caracterizando portanto uma supressão imunológica através de condicionamento biológico, já que a sacarina não é imunossupressora. Portanto, como vimos até agora, as células do sistema imunológico encontram-se sob uma complexa rede de influência dos sistemas nervoso e endócrino. Seus mediadores (neurotransmissores e hormônios diversos) atuam sinergicamente com outros produtos linfocitários, de macrófagos e moléculas de produtos inflamatórios na regulação de suas ações. Experiências dessa natureza sugerem grande variedade de hipóteses sobre a influência das emoções na imunidade. Será a crença no remédio tão importante quanto o próprio remédio? Será que isso ajuda a explicar o efeito dos placebos e da medicina alternativa? Seriam, essas hipóteses, capazes de estabelecer relações entre os estados de ânimo positivos e o aumento da sobrevida de pacientes portadores de AIDS, ou de câncer? O sistema imunológico, portanto, parece explicar as interações entre os fenômenos psicossociais aos quais as pessoas estão submetidas e importantíssimas áreas de patologia humana como, por exemplo, as doenças de auto-imunes (auto-agressão), infecciosas, neoplásicas e são centenas de experimentos que atestam a expressiva influência das emoções no Sistema Imunológico. Vamos relacionar, na Tabela abaixo, apenas poucos trabalhos experimentais sobre imunidade e transtorno emocional, alguns referidos por Melo Filho e outros mais recentes. AUTOR ANO EXPERIMENTO Meyer e Haggerty 1956 16 famílias acompanhadas por um período de 12 meses, cerca de um quarto de todas infecções de orofaringe por estreptocócos seguiram-se a crises familiares. Kasl 1979 Observou que cadetes militares em épocas de grande pressão eram mais propensos a contrair mononucleose infecciosa do queoutros cadetes pertencentes a grupo controle. Baker e Brewerton 1981 Estudaram 22 pacientes portadores de artrite reumatóide e os compararam com grupos controle. Puderam observar que o início da doença seguiu-se a eventos traumáticos na vida destes pacientes em nível estatístico significativo, quando comparados ao grupo controle. Schleifer 1983 15 homens que recentemente perderam suas mulheres por câncer de mama tinham respostas diminuídas de Linfócitos T no início do trabalho, com aparente recuperação na medida que o acompanhamento prosseguia e o luto passava. Kronfol 1983 Utilizou a fitogemaglutinina, a concavalina A e o mitógeno vegetal PW que induzem ativação de linfócitos para estudar competência imunológico em indivíduos deprimidos, encontrando alterações. Linn 1984 Encontra função imunológica reduzida em pessoas enlutadas e com graus importantes de depressão avaliados por uma escala. Marasanov 1999 Um relacionamento entre falha imunológica e distúrbios emocionais (ansiedade, fobia e depressão), foram identificados em pacientes com câncer de pulmão. Mori, Kaname e Sumida 1999 O cortisol do plasma aumentou durante estimulação de estresse em gatos, sugerindo que o estresse hipotalâmico induzido é um modelo útil para estudos imunológicos. Lupus Eritematoso Sistêmico Apesar de muitos homens serem afetados pelo Lúpus, ele costuma ocorrer de 10 a 15 vezes mais nas mulheres adultas do que nos homens adultos. Mesmo entre as mulheres, acredita-se que aquelas de origem africana, indígena ou asiática desenvolvam a doença com mais freqüência do que mulheres brancas. Possivelmente os fatores hormonais seriam responsáveis pela maior incidência do Lúpus entre as mulheres. Isso pode ser suspeitado tendo em vista o aumento dos sintomas que ocorre antes do período menstrual e durante a gravidez. Particularmente o estrogênio estaria relacionado à doença. Quanto à idade, o Lúpus pode aparecer em qualquer faixa etária e os sintomas serão os mesmos nos homens e mulheres. O Lúpus Eritematoso Sistêmico ou, mais simplesmente Lúpus, é uma doença crônica, auto-imune, que causa inflamações em várias partes do corpo, especialmente na pele, juntas, sangue e rins. Vejamos como podem ser entendidas as chamadas Doenças Auto- imunes. No estado normal nosso sistema imunológico produz proteínas chamadas anticorpos cuja função é proteger o organismo das eventuais agressões, sejam dos vírus, das bactérias, de células cancerígenas e quaisquer outros corpos estranhos. Estes agentes agressores, capazes de determinar a produção automática de anticorpos, são então chamados antígenos. Devido a uma desordem imunológica, como ocorre no Lúpus (existem muitas outras), o sistema imunológico defensivo perde sua habilidade de diferenciar os corpos estranhos (antígenos) e suas próprias células e passa a direcionar anticorpos contra o próprio organismo. Estes anticorpos dirigidos anormalmente contra o próprio organismo são chamados de auto-anticorpos. Os auto-anticorpos acabam reagindo com elementos do próprio organismo formando complexos imunológicos. São esses tais complexos imunológicos que acabam crescendo nos diversos tecidos, dependendo do tipo da doença auto-imune, causando todo tipo de lesões. Quando esses tecidos são, por exemplo os rins, teremos as glomerulonefrites agudas auto-imunes, assim como podemos ter as artrites da febre reumática, ou a inflamação da tireoidite e assim por diante. Assim sendo, o Lúpus é um dos tipos das chamadas doenças auto-imunes. Tipos de Lúpus Existem 3 tipos de Lúpus: o Lúpus Discóide, o Lúpus Sistêmico, e o Lúpus Induzido por Drogas. a) - O Lúpus Discóide é sempre limitado à pele. É identificado por inflamações cutâneas que aparecem na face, nuca e couro cabeludo. Aproximadamente 10% das pessoas Lúpus Discóide pode evoluir para o Lúpus Sistêmico, o qual pode afetar quase todos os órgãos ou sistemas do corpo. b) - O Lúpus Sistêmico costuma ser mais grave que o Lúpus Discóide e, como o nome diz (sistêmico=geral), pode afetar quase todos os órgãos e sistemas. Em algumas pessoas predominam lesões apenas na pele e nas juntas, em outras podem predominar as juntas, rins, pulmões, sangue, em outras ainda, outros órgãos e tecidos podem ser afetados. Enfim, cada caso de Lúpus é diferente do outro. c) - O Lúpus Induzido por Drogas, também como o nome diz, ocorre como conseqüência do uso de certas drogas ou medicamentos. Os sintomas são muito parecidos com o Lúpus Sistêmico. Algumas drogas já foram detectadas como facilitadoras do desenvolvimento de Lúpus. É o caso, por exemplo, da hidralazina, medicamento para tratamento da hipertensão, ou da procainamida, usada para tratamento de algumas arritmias cardíacas. Entretanto, quando ocorre a doença auto-imune devido ao uso dessas substâncias, isso depende mais da pessoa que da própria substância, ou seja, não são todas as pessoas que tomam esses produtos que desenvolverão o Lúpus, mas apenas uma pequena porcentagem delas. Isso significa que a imunidade dessas pessoas vulneráveis à doença auto-imune é que é o problema, propriamente dito. Causas do Lúpus As causas do Lúpus não são totalmente conhecidas, mas sabe-se que fatores ambientais e genéticos estão envolvidos. Enquanto os cientistas acreditam haver uma predisposição genética para a doença, é sabido que fatores ambientais também têm importante papel para eclodir o Lúpus. Alguns dos fatores ambientais que podem despertar a doença são: infecções, medicamentos, exposição a raios ultravioletas e o estresse. É por causa desse último fator associado à causa, o estresse, que o Lúpus pertence também ao capítulo das doenças psicossomáticas. Em relação ao componente genético do Lúpus, podemos dizer que embora a doença seja conhecida por ocorrer dentro de famílias, não houve ainda a identificação de um gene ou genes responsáveis por ela. É em torno de 10 a 12% o número de pacientes que têm parentes próximos com a doença, e apenas 5% de filhos de pacientes desenvolverão o Lúpus. Sintomas e Diagnóstico do Lúpus Apesar do Lúpus poder afetar qualquer área do organismo, a maioria dos pacientes apresenta os sintomas em apenas alguns órgãos. Devido esse aspecto geral (sistêmico) do Lúpus, ele pode se assemelhar a muitas outras doenças, tornando seu diagnóstico difícil. O diagnóstico é feito, muitas vezes, por um cuidadoso exame clínico, uma detalhada entrevista e através de exames de laboratórios. Atualmente não há um exame específico para determinar se a pessoa tem Lúpus ou não. Para o Lúpus Discóide o diagnosticado pode ser facilitado por biópsia do tecido atingido pela inflamação. Nesse caso, a biópsia vai mostrar anormalidades que não são encontradas na pele normal. Geralmente esse tipo de Lúpus não atinge órgãos internos do corpo. Nesse caso, o teste ANA, um teste sangüíneo usado para detectar Lúpus Sistêmico, pode dar negativo. O suspeito de Lúpus deve apresentar pelo menos quatro dos sintomas abaixo, mesmo que esses sintomas possam não ocorrem todos necessariamente ao mesmo tempo. Critérios Usados Para Diagnosticar Lúpus Erupções cutâneas Erupções no malar (maçãs do rosto) Erupção discóide (em forma de disco) Manchas vermelhas protuberantes Fotossensibilidade Reação à luz do sol com erupções cutâneas Ulcerações Orais Feridas no nariz e na boca, normalmente sem nenhuma dor Artrite Artrite não erosiva, envolvendo duas ou mais juntas periféricas (artrite que não destrói os ossos próximos às juntas) Seroenterite Pleurite ou pericardite Muitas vezes os rins são comprometidos no Lúpus, havendo excesso de proteína na urina e/ou aumento de células, elementos anormais derivados de hemáciase/ou leucócitos e/ou de células de tubos renais. Com certa freqüência podem surgir sintomas neuro-psiquiátricos, tais como convulsões e psicose. No sangue o Lúpus pode provocar anemia hemolítica, diminuição de leucócitos abaixo de 4000 células por milímetro cúbico (leucopenia). O primeiro teste de laboratório idealizado para detectar o Lúpus foi o teste celular LE (lupus erythematosus). Quando o teste é repetido várias vezes, costuma ser positivo em 90% das pessoas portadora de Lúpus Sistêmico. Entretanto, nem todas as pessoas com o teste celular LE positivo estão com Lúpus. Esse teste pode dar positivo em até 20% das pessoas com artrite reumática, em outras condições reumáticas, em pacientes com problemas no fígado e em pessoas usam drogas como procainamide, hydralazine e outras. Outro teste, o chamado Teste de Fator Anti Nuclear (ANA ou FANA) é mais específico para o Lúpus do que o teste celular LE. Este teste dá positivo em virtualmente todas as pessoas com Lúpus Sistêmico e é o melhor exame disponível atualmente. É tão eficaz para Lúpus que se o resultado for negativo, provavelmente o paciente não tem a doença. Devido à essas dificuldades clínicas e laboratoriais, pode levar um bom tempo até que uma pessoa seja definitivamente diagnosticada com Lúpus. Durante esse período, o paciente pode se sentir frustrado pela aparente incapacidade dos médicos em confirmar um diagnóstico. Antes que o diagnóstico seja confirmado, algumas queixas principais do paciente serão de ordem emocional. O Lúpus e a Depressão Há uma percepção clínica geral de que a Depressão ocorra com freqüência no curso do Lúpus. Se essa Depressão pode ser normalmente esperada devido ao estresse e aos sacrifícios impostos pela doença ou se, ao contrário, é ela que agrava e desencadeia os sintomas e crises agudas é uma questão de difícil resposta. As pessoas com Lúpus e deprimidas normalmente são alertadas que esse estado emocional pode ser induzido pelo próprio Lúpus, pelos medicamentos usados no tratamento e por um incontável número de fatores vivenciais com alguma relação com essa doença crônica. Mas, a condição clínica de Depressão não deve ser confundida com as pequenas alterações diárias de humor, a que todos estamos sujeitos no enfrentamento das dificuldade cotidianas. Ao nos sentirmos felizes ou angustiados ou invejosos ou irritados, todos estamos "deprimidos" de vez em quando. Por outro lado, Transtorno Depressivo clinicamente identificado é um prolongado e desagradável estado de incapacidade com intranqüilidade, ansiedade, irritabilidade, sentimentos de culpa ou remorso, baixa auto- estima, incapacidade de concentração, memória fraca, indecisão, falta de interesse nas coisas que normalmente gostava, fadiga e uma variedade de sintomas físicos tais como dores de cabeça, palpitações, diminuição do apetite e/ou performance sexual, outras dores no corpo, indigestão, constipação ou diarréia etc.. Alguns estudos mostram que 15% das pessoas com doenças crônicas em geral sofrem de Transtorno Depressivo ; outros autores aumentam esse número para quase 60%. De qualquer forma, é bom ter em mente que, embora o Transtorno Depressivo seja muito mais comum em portadores de doenças crônicas, como por exemplo o Lúpus, do que no resto da população, nem todos esses doentes vão sofrer de Depressão obrigatoriamente (Howard S. Shapiro). No Lúpus Eritematoso Sistêmico os sintomas da depressão, tais como a apatia, letargia, perda de energia ou interesse, insônia, aumento nas dores, redução do apetite e da performance sexual, etc., podem estar sendo atribuídos à própria doença e, com isso, minimizando a importância clínica desse estado afetivo passível de tratamento. Por causa disso ou, devido à insensibilidade do clínico, a maioria dos casos de Depressão no paciente lúpico passa despercebido e sem tratamento, muitas vezes até que a doença atinja estágios bastante avançados, quando a gravidade do problema se torna insuportável para o paciente, correndo risco de levar ao suicídio. Na realidade, muitos estudos indicam que entre 30 e 50% dos casos de Depressão não são diagnosticados pelos procedimentos médicos corriqueiros. Muitos pacientes com Lúpus se recusam a admitir que estejam em um estado depressivo e negam com veemência que estão se sentindo infelizes, intimidados ou deprimidos. Eles pretendem transmitir uma imagem de coragem, determinação ou coisa assim. Nesses casos os pacientes apresentam a Depressão atípica (disfarçada). Eles resistem ao reconhecimento pessoal do estresse emocional e da depressão clássica substituindo os sentimentos típicos por vários outros sintomas físicos. Sim, porque sintomas físicos sempre têm um elogioso aval da sociedade. Contribuindo ainda para não se proceder um tratamento adequado da Depressão no paciente com Lúpus, está a noção distorcida de que as pessoas com um a doença crônica "têm razões para se sentirem deprimidos porque estão doentes", como se isso justificasse o não tratamento e o descaso diante do fato. Essa crença interfere no diagnóstico precoce, no tratamento precoce, e no alívio igualmente precoce da depressão. Entre os vários fatores que contribuem para a Depressão numa doença como o Lúpus estão os abalos emocionais causados pelo estresse e tensão associados à lida com a doença, os sacrifícios e esforços necessários aos ajustes que o paciente deve fazer na sua vida e os vários medicamentos usados no tratamento do Lúpus, como por exemplo os corticosteróides. Também é importante o envolvimento de certos órgãos no Lúpus, como é o caso do cérebro, coração ou rins, que também pode levar a um estado depressivo. Existem ainda muitos outros fatores ainda pouco explicados que podem estar relacionados à depressão do paciente com Lúpus. Urticária Entende-se por Urticária, o surgimento relativamente agudo de lesões avermelhadas (eritematosas), papulosas (em relevo elevado), numa área de pele circunscrita, que desaparece à pressão digital e que, caracteristicamente, se acompanha de prurido (coceira). A Urticária aparece de repente e pode desaparecer rapidamente em uma ou duas horas, podendo também durar até 24 horas. Freqüentemente se apresenta em grupos de manchas e aparecem novas manchas enquanto outras desaparecem. Calcula-se que 20% da população tenha sofrido uma erupção de Urticária em alguma etapa de sua vida. Até aproximadamente a década de 50, a Urticária, doença caracterizada pelo aparecimento de placas (pápulas) avermelhadas, difusas ou localizadas, era considerada uma doença essencialmente alérgica. Acreditava-se, exclusivamente, que a Urticária seria um efeito secundário à ingestão de certos alimentos ou medicamentos mas, o enfoque moderno deste problema aponta para causas alérgicas e não alérgicas. Quando a Urticária permanece ativa por 6 semanas ou mais é denominada Urticária Crônica e se constitui em sério problema médico, visto a dificuldade de se fazer um diagnóstico preciso de sua causa. Além deste aspecto duradouro da crise de urticária da Urticária Crônica, o quadro tende a permanecer por longo tempo num eterno vai-e-vem das crises (em termos médios cerca de 5 anos). A Urticária Crônica é uma doença de origem multifatorial, envolvendo células e estruturas protêicas que constituem a pele, cujo mecanismo inflamatório não depende exclusivamente do envolvimento da pele, mas sim do organismo geral. O início dos sintomas da Urticária é mediado pela histamina, mas o processo todo da doença é mais complexo. O verdadeiro responsável pela manifestação local ou corporal da Urticária é a célula sanguínea chamada mastócito. Os mastócitos costumam estar muito aumentados no sangue periférico dos pacientes com Urticária, mas esseaumento observado não resultaria de um verdadeiro defeito primário do organismo mas, possivelmente, da indução (física ou emocional) desse defeito que quebraria o equilíbrio biológico da fisiologia da pele normal. Além da presença aumentada de mastócitos no paciente com Urticária, costuma estar presente sempre um infiltrado linfocitário em maior ou menor densidade, acompanhado, ocasionalmente, também de eosinófilos. Existem relatos de sobra na literatura média da associação entre Urticária Crônica e fatores psicossomáticos, mas tal associação tem sido desprezada nos modelos de investigação causal clássicos. Apesar desse descaso da dermatologia, Diniz Moreira (1983), citado por Melo Filho (idem) reviu 12 pacientes com Urticária Crônica, adotando, além de um modelo investigativo etiológico clássico, também uma abordagem integral do doente. Observou que em cerca de 80% dos casos existiam conflitos emocionais na origem e na manutenção dos sintomas da Urticária Crônica. Hoje se sabe, seguramente, que este distúrbio se classifica naqueles de natureza psicossomática. Tipos de Urticária Uma forma comum da Urticária é o chamado Dermografismo. Trata-se de uma alteração cutânea que acomete até 5% da população gerla e consta de uma Urticária produzida por fricção ou coceira sobre a pele, ocorrendo freqüentemente depois de banho quente ou quando se usa roupa apertada. O nome Urticária Colinérgica é destinado para a Urticária que se desenvolve depois de atividades que aumentam a temperatura corporal. As atividades que podem causar este tipo da doença incluem: banhos de imersão, ducha muito quente, hidromassagem, exercício, febre ou ansiedade e tensão emocional. Calcula-se que 5% a 7% dos pacientes que sofrem de Urticária podem apresentar a Urticária Colinérgica. A Urticária induzida pelo frio se apresenta depois da exposição ao vento ou à água a temperatura muito baixa. Esta Urticária pode aparecer nas extremidades e, geralmente, em qualquer área exposta do corpo. A Urticária Solar é aquela causada por exposição à luz solar ou à lâmpadas solares, podendo ocorrer uma reação dentro de um a três minutos. O exercício pode ser outra causa de Urticária. Alguns indivíduos afetados por esse tipo de Urticária podem também desenvolver obstrução pulmonar e/ou perda de consciência. Esta grave reação se denomina Anafilaxia Induzida pelo exercício. Cerca de 80% dos casos de Urticária Crônica são apontados como sendo de causa desconhecida. Em conseqüência da abordagem terapêutica utilizada, pôde apreciar evolução muito mais favorável em confronto com os dados disponíveis na literatura médica, pois em cerca de 55% dos casos os sintomas desapareceram em média com 4 meses de tratamento. Em todos os casos criaram-se condições para um verdadeiro processo psicoterápico entre o paciente e o médico alergista, levando a uma eficácia clínica nitidamente superior à obtida com a clássica abordagem organicista. Apresentação do artigo O Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença auto-imune, ou seja, o sistema imunológico apresenta incapacidade de reconhecer estruturas do próprio corpo, passando à destruí-las.Sua etiologia é diversificada, entretanto, alterações emocionais tornam-se importantes fatores para sua manifestação.O aspecto biológico que conecta stress, ansiedade e outras desordens psíquicas ao Lúpus, consiste nos hormônios liberados durante esta condição.O cortisol é um hormônio que apresenta papel fisiológico significativo nas modificações do corpo perante situações vivenciadas e sua relação com o Lúpús relaciona-se ao “efeito modulador” exercido sobre o sistema imunológico.Quando uma alteração psíquica torna-se permanente, os efeitos do cortisol, tornam-se nocivos, podendo alterar a atuação imunológica originando a manifestação clínica desta doença auto-imune. www.unb.br/.../psiconeuroimunoendocrinologia.htm Fonte: Esquema simplificado da tese do Dr. Ambrosio Vega Dias, levada ao 2o. Congresso Pan-americano de Hipnose e Medicina Psicossomática, em novembro de 1971, México, U.S.A.) - Fonte: ARESI, Albino. Homem Total e Parapsicologia. São Paulo: Mens Sana, 1982, págs. 25-26. SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso, juntamente com o sistema endócrino, capacitam o organismo a perceber as variações do meio (interno e externo), a difundir as modificações que essas variações produzem e a executar as respostas adequadas para que seja mantido o equilíbrio interno do corpo (homeostase). São os sistemas envolvidos na coordenação e regulação das funções corporais. No sistema nervoso diferenciam-se duas linhagens celulares: os neurônios e as células da glia (ou da neuróglia). Os neurônios são as células responsáveis pela recepção e transmissão dos estímulos do meio (interno e externo), possibilitando ao organismo a execução de respostas adequadas para a manutenção da homeostase. Para exercerem tais funções, contam com duas propriedades fundamentais: a irritabilidade (também denominada excitabilidade ou responsividade) e a condutibilidade. Irritabilidade é a capacidade que permite a uma célula responder a estímulos, sejam eles internos ou externos. Portanto, irritabilidade não é uma resposta, mas a propriedade que torna a célula apta a responder. Essa propriedade é inerente aos vários tipos celulares do organismo. No entanto, as respostas emitidas pelos tipos celulares distintos também diferem umas das outras. A resposta emitida pelos neurônios assemelha-se a uma corrente elétrica transmitida ao longo de um fio condutor: uma vez excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem essa onda de excitação - chamada de impulso nervoso - por toda a sua extensão em grande velocidade e em um curto espaço de tempo. Esse fenômeno deve-se à propriedade de condutibilidade. Para compreendermos melhor as funções de coordenação e regulação exercidas pelo sistema nervoso, precisamos primeiro conhecer a estrutura básica de um neurônio e como a mensagem nervosa é transmitida. Um neurônio é uma célula composta de um corpo celular (onde está o núcleo, o citoplasma e o citoesqueleto), e de finos prolongamentos celulares denominados neuritos, que podem ser subdivididos em dendritos e axônios. Os dendritos são prolongamentos geralmente muito ramificados e que atuam como receptores de estímulos, funcionando portanto, como "antenas" para o neurônio. Os axônios são prolongamentos longos que atuam como condutores dos impulsos nervosos. Os axônios podem se ramificar e essas ramificações são chamadas de colaterais. Todos os axônios têm um início (cone de implantação), um meio (o axônio propriamente dito) e um fim (terminal axonal ou botão terminal). O terminal axonal é o local onde o axônio entra em contato com outros neurônios e/ou outras células e passa a informação (impulso nervoso) para eles. A região de passagem do impulso nervoso de um neurônio para a célula adjacente chama-se sinapse. Às vezes os axônios têm muitas ramificações em suas regiões terminais e cada ramificação forma uma sinapse com outros dendritos ou corpos celulares. Estas ramificações são chamadas coletivamente de arborização terminal. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Os corpos celulares dos neurônios são geralmente encontrados em áreas restritas do sistema nervoso, que formam o Sistema Nervoso Central (SNC), ou nos gânglios nervosos, localizados próximo da coluna vertebral. Do sistema nervoso central partem os prolongamentos dos neurônios,formando feixes chamados nervos, que constituem o Sistema Nervoso Periférico (SNP). O axônio está envolvido por um dos tipos celulares seguintes: célula de Schwann (encontrada apenas no SNP) ou oligodendrócito (encontrado apenas no SNC) Em muitos axônios, esses tipos celulares determinam a formação da bainha de mielina - invólucro principalmente lipídico (também possui como constituinte a chamada proteína básica da mielina) que atua como isolante térmico e facilita a transmissão do impulso nervoso. Em axônios mielinizados existem regiões de descontinuidade da bainha de mielina, que acarretam a existência de uma constrição (estrangulamento) denominada nódulo de Ranvier. No caso dos axônios mielinizados envolvidos pelas células de Schwann, a parte celular da bainha de mielina, onde estão o citoplasma e o núcleo desta célula, constitui o chamado neurilema. O impulso nervoso A membrana plasmática do neurônio transporta alguns íons ativamente, do líquido extracelular para o interior da fibra, e outros, do interior, de volta ao líquido extracelular. Assim funciona a bomba de sódio e potássio, que bombeia ativamente o sódio para fora, enquanto o potássio é bombeado ativamente para dentro.Porém esse bombeamento não é eqüitativo: para cada três íons sódio bombeados para o líquido extracelular, apenas dois íons potássio são bombeados para o líquido intracelular. Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Realce Jaciane Nota pesquisar a origem e função. Jaciane Realce Imagem: www.octopus.furg.br/ensino/anima/atpase/NaKATPase.html Somando-se a esse fato, em repouso a membrana da célula nervosa é praticamente impermeável ao sódio, impedindo que esse íon se mova a favor de seu gradiente de concentração (de fora para dentro); porém, é muito permeável ao potássio, que, favorecido pelo gradiente de concentração e pela permeabilidade da membrana, se difunde livremente para o meio extracelular. Imagem: www.epub.org.br/cm/n10/fundamentos/animation.html Em repouso: canais de sódio fechados. Membrana é praticamente impermeável ao sódio, impedindo sua difusão a favor do gradiente de concentração. Sódio é bombeado ativamente para fora pela bomba de sódio e potássio. Como a saída de sódio não é acompanhada pela entrada de potássio na mesma proporção, estabelece-se uma diferença de cargas elétricas entre os meios intra e extracelular: há déficit de cargas positivas dentro da célula e as faces da membrana mantêm-se eletricamente carregadas. O potencial eletronegativo criado no interior da fibra nervosa devido à bomba de sódio e potássio é chamado potencial de repouso da membrana, ficando o exterior da membrana positivo e o interior negativo. Dizemos, então, que a membrana está polarizada. Meio interno Ao ser estimulada, uma pequena região da membrana torna-se permeável ao sódio (abertura dos canais de sódio). Como a concentração desse íon é maior fora do que dentro da célula, o sódio atravessa a membrana no sentido do interior da célula. A entrada de sódio é acompanhada pela pequena saída de potássio. Esta inversão vai sendo transmitida ao longo do axônio, e todo esse processo é denominado onda de despolarização. Os impulsos nervosos ou potenciais de ação são causados pela despolarização da membrana além de um limiar (nível crítico de despolarização que deve ser alcançado para disparar o potencial de ação). Os potenciais de ação assemelham-se em tamanho e duração e não diminuem à medida em que são conduzidos ao longo do axônio, ou seja, são de tamanho e duração fixos. A aplicação de uma despolarização crescente a um neurônio não tem qualquer efeito até que se cruze o limiar e, então, surja o potencial de ação. Por esta razão, diz-se que os potenciais de ação obedecem à "lei do tudo ou nada". Meio externo Imagem: www.biomania.com.br/citologia/membrana.php Imagem: geocities.yahoo.com.br/jcc5001pt/museuelectrofisiologia.htm#impulsos Imediatamente após a onda de despolarização ter-se propagado ao longo da fibra nervosa, o interior da fibra torna-se carregado positivamente, porque um grande número de íons sódio se difundiu para o interior. Essa positividade determina a parada do fluxo de íons sódio para o interior da fibra, fazendo com que a membrana se torne novamente impermeável a esses íons. Por outro lado, a membrana torna-se ainda mais permeável ao potássio, que migra para o meio interno. Devido à alta concentração desse íon no interior, muitos íons se difundem, então, para o lado de fora. Isso cria novamente eletronegatividade no interior da membrana e positividade no exterior – processo chamado repolarização, pelo qual se reestabelece a polaridade normal da membrana. A repolarização normalmente se inicia no mesmo ponto onde se originou a despolarização, propagando-se ao longo da fibra. Após a repolarização, a bomba de sódio bombeia novamente os íons sódio para o exterior da membrana, criando um déficit extra de cargas positivas no interior da membrana, que se torna temporariamente mais negativo do que o normal. A eletronegatividade excessiva no interior atrai íons potássio de volta para o interior (por difusão e por transporte ativo). Assim, o processo traz as diferenças iônicas de volta aos seus níveis originais. Para transferir informação de um ponto para outro no sistema nervoso, é necessário que o potencial de ação, uma vez gerado, seja conduzido ao longo do axônio. Um potencial de ação iniciado em uma extremidade de um axônio apenas se propaga em uma direção, não retornando pelo caminho já percorrido. Conseqüentemente, os potenciais de ação são unidirecionais - ao que chamamos condução ortodrômica. Uma vez que a membrana axonal é excitável ao longo de toda sua extensão, o potencial de ação se propagará sem decaimento. A velocidade com a qual o potencial de ação se propaga ao longo do axônio depende de quão longe a despolarização é projetada à frente do potencial de ação, o que, por sua vez, depende de certas características físicas do axônio: a velocidade de condução do potencial de ação aumenta com o diâmetro axonal. Axônios com menor diâmetro necessitam de uma maior despolarização para alcançar o limiar do potencial de ação. Nesses de axônios, presença de bainha de mielina acelera a velocidade da condução do impulso nervoso. Nas regiões dos nódulos de Ranvier, a onda de despolarização "salta" diretamente de um nódulo para outro, não acontecendo em toda a extensão da região mielinizada (a mielina é isolante). Fala-se em condução saltatória e com isso há um considerável aumento da velocidade do impulso nervoso. Imagem: AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Conceitos de Biologia. São Paulo, Ed. Moderna, 2001. vol. 2. O percurso do impulso nervoso no neurônio é sempre no sentido dendrito corpo celular axônio. http://www.afh.bio.br/nervoso/nervoso1.asp Sinapses Sinapse é um tipo de junção especializada em que um terminal axonal faz contato com outro neurônio ou tipo celular. As sinapses podem ser elétricas ou químicas (maioria). Sinapses elétricas As sinapses elétricas, mais simples e evolutivamente antigas, permitem a transferência direta da corrente iônica de uma célula para outra. Ocorrem em sítios especializados denominados junções gap ou junções comunicantes. Nesses tipos de junções as membranas pré-sinápticas (do axônio - transmissoras do impulso nervoso) e pós-sinápticas (do dendrito ou corpo celular - receptoras do impulso nervoso) estão separadas por apenas 3 nm. Essa estreita fenda é ainda atravessada
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