Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O DISCURSO NARRATIVO E SEUS ELEMENTOS. A narrativa, os elementos da estrutura dramática e as funções dramatúrgicas. Maíra Silva Conde Fernandes1 Quando falamos em narrar uma história, sempre nos vem a pergunta, mas o que realmente é a narrativa? Podemos dizer que a narrativa é um discurso capaz de “criar” um mundo dentro de um tempo e um espaço determinados, através de uma linha temporal e assegurando a relação de uma série de acontecimentos. Por ter um encadeamento de fatos, esta tem uma estrutura (ciclo dramático) para que possa ser entendida pelos “espectadores”. “Uma narrativa é fechada: forma um todo, no sentido aristotélico (‘o que tem um começo, um meio e um fim’)” Gaudreault e Jost 1990. Como dito anteriormente, quando contamos (narramos) uma história, falamos em um antes, em um durante e em um depois, ou seja, contextualizamos como eram as coisas antes de qualquer mudança dramática (antes - primeiro ato ou exposição), contamos o que ocorreu para que as coisas mudassem, para que o personagem tivesse a necessidade de agir, contamos como este agiu durante este momento de transição (durante – segundo ato ou conflito) e contamos como as coisas ficaram depois dessa mudança, até que se estabelecesse uma nova “normalidade” (depois – terceiro ato ou resolução). Com isso criamos uma situação antes que sofrerá um conflito e se estabelecerá de outra forma, ou seja, temos um estado tido como normal, depois temos o abalo, uma crise e com o desfecho desta criamos uma nova situação de “normalidade”. Essa crise é o que realmente nos faz contar uma história, sem esta é como se não tivesse graça contar algo, não nos interessamos tanto pela rotina, queremos ouvir alguma coisa que nos prenda a narrativa. Geralmente é essa crise que faz com que ocorra a mudança de fortuna, ou seja, é o que quebra a situação tida como normal que nos é passado no primeiro ato, é o que 1 Estudante de graduação do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) encadeia o segundo e terceiro atos. O momento em que a personagem passa por essa mudança de fortuna é o que chamamos de ponto de virada (peripécia ou plot point), é algo que faz com que a ação mude de direção. Dentro da narrativa pode haver vários plot points, mas existem dois que são de extrema importância; o primeiro é o do momento em que a crise se inicia também conhecido como ponto de ataque, é a partir deste que o segundo ato será desenvolvido; o outro plot point importante é o clímax, este marca o momento em que o conflito termina, e que vai desencadear o terceiro ato. Como dito anteriormente os pontos de virada podem estar presentes em qualquer lugar da história, podemos até dizer que cada um “cria” um novo ciclo dramático (um começo, meio e fim) e fazer com que as ações se desenvolvam entre eles. Voltando um pouco ao ponto de ataque, quando pensamos que é este que inicia a crise nos vem a pergunta sobre o que há de tão importante nesse pequeno tempo da trama; é neste momento em que a ação realmente se inicia, ou seja, se configura a força principal (representada pelo protagonista) e a força opositora (representada pelo antagonista) e que entra o bem desejado, que é o que o herói deseja para ele, ou para alguém, por exemplo, o bem desejado de Dorothy em “O mágico de Oz” é voltar para casa. Agora que já sabemos sobre o bem desejado, o conflito e as forças opositora e principal, podemos falar em cena obrigatória, esta seria quando o protagonista supera tudo que o impede de chegar ao bem desejado e chega a consumação de seu objetivo. Esta cena não aparece necessariamente na narrativa, mas está presente na mente dos espectadores que se identificam com o protagonista, podendo aparecer na trama – geralmente aparece em comédias românticas, musicais e melodramas, onde o final é feliz. Devemos perceber que é a partir desses elementos da estrutura dramática que fazemos com que o espectador se interesse pela história, que sinta empatia com os personagens, e que desta forma se envolva com a narrativa. Agora já podemos dar um passo a diante e compreender como os personagens se juntam à ação dramática; para isso vários autores criaram modelos que definissem isso. Vamos começar com o modelo actancial, neste primeiramente identificamos o sujeito e o objeto, o primeiro representa o que vai fazer ocorrer o movimento dramático e o segundo serio o que o sujeito tem como objetivo, o que liga esses dois elementos é a ação principal, ou seja, a partir da qual se desenvolve o conflito e culmina em um clímax. O segundo par de elementos é composto pelo adjuvante e o oponente, estes são forças contrárias que tentam ajudar (no caso do primeiro) ou tentam impedir (no caso do segundo) o sujeito a concluir seu objetivo. O terceiro e último par de elementos opõe destinador e destinatário, estes na maioria das vezes não são representados por personagens, o primeiro é o “porquê o sujeito age” e o segundo “para quê ou para quem age” (GUIMARÃES, 2009, página 66). O modelo completo pode ser representado pela seguinte figura: Outro modelo importante é o de Etienne Souriau, que define as funções dramáticas através dos seguintes elementos: o Leão ou a força temática, é a força principal dita anteriormente e geralmente está representado no protagonista; o Sol que representa o bem desejado pelo Leão e não precisa necessariamente estar em cena; a Terra ou astro receptor, é aquele que obtém o bem desejado; Marte ou o oponente que representa o principal obstáculo do Leão e pode ou não ser personalizado; a Balança ou árbitro é aquele que tem o poder que atribuir o bem desejado; e por fim a Lua ou espelho da força, é o elemento referente ao adjuvante. Por fim podemos citar o modelo de Christopher Vogler, ela nos apresenta os seguintes elementos: o Herói que pode ser comparado ao Leão, é o protagonista; o Mentor que tem como função treinar o Herói para este poder enfrentar as aventuras pelas quais ele vai passar; o Guardião de limear que podem ser representados pelos antagonistas, mas em algumas histórias podem se aliar ao Herói depois de alguns pontos de virada; o Arauto que tem como função desencadear o ponto de ataque e não precisa estar encarnado em um personagem; o Camaleão é um personagem que sofre mudanças, ele oferece o desafio de ser decifrado; a Sombra está associada a Marte e representa o lado obscuro de nossas mentes; por fim o Pícaro que tem a função de re- humanizar o protagonista e de aliviar uma grande tensão presente nos espectadores. Com os elementos da estrutura dramática e as funções dramatúrgicas devidamente explicadas acredito que possamos contar histórias que realmente sejam interessantes e que prendam os expectadores de forma que eles sintam empatia com os personagens e curiosidade em saber como o conflito terminará. Bibliografia - AUMONT, Jacques & MARIE, Michel. “Dicionário teórico e crítico de cinema”. São Paulo: Papirus, 2003. - GUIMARÃES, Roberto Lyrio Duarte. “Primeiro Traço: manual descomplicado de roteiro”. Salvador: EDUFBA, 2009. -PALOTTINI, Renata. “Dramaturgia. Construção do personagem”- Cap. 10 “A polêmica das situações dramáticas”. São Paulo: Ática, 1989. - Disponível em <http://historias.interativas.nom.br/klimick/?p=27>. Acesso em 10 de maio de 2011.
Compartilhar