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1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
MÓDULO	l:	INSPIRAÇÃO	BÍBLICA
1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
MÓDULO	II:	O	CÂNON	BÍBLICO
1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
MÓDULO	III:	HISTÓRIA	DO	TEXTO	SAGRADO
1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
MÓDULO	IV:	INTERPRETAÇÃO1	DO	TEXTO
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
MÓDULO	l:	INTRODUÇÃO	GERAL	AOS	EVANGELHOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
MÓDULO	II:	EVANGELHO	SEGUNDO	MATEUS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
MÓDULO	III:	EVANGELHO	SEGUNDO	MARCOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
MÓDULO	IV:	EVANGELHO	SEGUNDO	LUCAS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
MÓDULO	V:	EVANGELHO	SEGUNDO	SÃO	JOÃO
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
2a	SUBETAPA:	OS	ATOS	DOS	APÓSTOLOS
MÓDULO	ÚNICO:	OS	ATOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	I:	A	PESSOA	E	A	OBRA	DE	PAULO
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	II:	AS	DUAS	CARTAS	AOS	TESSALONICENSES
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	III:	A	EPÍSTOLA	AOS	GÁLATAS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	IV:	A	PRIMEIRA	EPÍSTOLA	AOS	CORÍNTIOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	V:	A	SEGUNDA	EPÍSTOLA	AOS	CORÍNTIOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	VI:	A	EPÍSTOLA	AOS	ROMANOS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	VII:	AS	EPÍSTOLAS	DO	CATIVEIRO	(I)
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	VIII:	AS	EPÍSTOLAS	DO	CATIVEIRO	(II)
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	IX:	AS	EPÍSTOLAS	PASTORAIS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
MÓDULO	X:	A	EPÍSTOLA	AOS	HEBREUS
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
4a	SUBETAPA:	AS	EPÍSTOLAS	CATÓLICAS	(I)
MÓDULO	l:Tg	e	1/2/3	Jo
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
4a	SUBETAPA:	AS	EPÍSTOLAS	CATÓLICAS	(II)
MÓDULO	II:	1/2Pd,	Jd
2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
5a	SUBETAPA:	O	APOCALIPSE
MÓDULO	ÚNICO:	O	Apocalipse
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	l:	O	Pentateuco
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	II:	O	livro	de	Josué
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	III:	Os	livros	dos	Juízes	e	de	Rute
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	IV:	Os	livros	de	Samuel
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	V:	Os	livros	dos	Reis
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	VI:	A	obra	do	Cronista	(1/2	Cr,	Esdr,	Ne)
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	VII:	Tobias,	Judite,	Ester
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
MÓDULO	VIII:	Os	livros	dos	Macabeus
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
2a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	SAPIENCIAIS
MÓDULO	l:	O	livro	de	Jó
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
2a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	SAPIENCIAIS
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
2a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	SAPIENCIAIS
MÓDULO	III:	Eclesiastes	e	Cântico
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
2a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	SAPIENCIAIS
MÓDULO	IV:	Sabedoria	e	Eclesiástico
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	PROFÉTICOS
MÓDULO	I:	Os	Profetas.	Isaías
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	PROFÉTICOS
MÓDULO	II:	Os	escritos	de	Jeremias	e	Baruc
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	PROFÉTICOS
MÓDULO	III:	Ezequiel	e	Daniel
3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
3a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	PROFÉTICOS
MÓDULO	IV:	Os	profetas	menores
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
MÓDULO	I:	O	Hexaémeron
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
A	pré-história	bíblica	(II)
MÓDULO	II:	As	origens
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
A	pré-história	bíblica	(III)
MÓDULO	III:	A	queda	original
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
A	pré-história	bíblica	(IV)
MÓDULO	IV:	Caim	e	Abel,	Cainitas,	Setitas	e	Semitas
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
A	pré-história	bíblica	(V)
MÓDULO	V:	O	Dilúvio	Bíblico
4a	ETAPA:	EXEGESE	DE	TEXTOS	SELETOS
A	pré-história	bíblica	(VI)
MÓDULO	VI:	Os	setenta	povos.	Babel
										
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
	
Rua	Benjamin	Constant,	23-	3°	andar
	
20241-150	-	Rio	de	Janeiro	(RJ)
	
Caixa	Postal	1362	-	20001-970	-	Rio	(RJ)
	
Tel/Fax:	(021)	242-4552
	
												Prezado	cursista,
	
	
												Hoje	é	colocado	em	suas	mãos	o	início	de	um	Curso	Bíblico	por	Correspondência.	É	uma
graça	de	Deus,	pois	lhe	possibilitará	mais	penetrante	compreensão	da	Palavra	Sagrada.	A	fim	de
que	o	seu	estudo	seja	eficaz,	sugerimos-lhe:
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	Utilize	uma	 tradução	moderna	da	Bíblia	 feita	a	partir	 dos	originais.	Utilize	mapas
bíblicos.
											
												2)	Consulte	todos	os	textos	bíblicos	citados	em	cada	lição.	Assim	você	terá	a	ocasião	de
conhecer	melhor	as	Escrituras.
											
												3)	Siga	as	pistas	de	aprofundamento	que	são	insinuadas	ou	indicadas	em	cada	lição.	Um
curso	por	correspondência	é	sempre	sucinto;	indica	pontos	de	partida	para	ulteriores	estudos.
											
												4)	Esteja	atento	ao	modo	de	citar	a	Bíblia	indicado	no	verso	desta	folha.	Caso	contrário,
poderá	haver	citações	ambíguas	ou	incompreensíveis.
											
												5)	Escreva-nos,	se	tiver	dúvidas	ou	observações	a	nos	propor.
	
												E	que	Deus	ilumine	sua	caminhada!
	
												Atenciosamente
	
	
Pe.	Estêvão	Tavares	Bettencourt	O.	S.	B.
	
	
	
	
	
								
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
	
	
	
Prezado	cursista,
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 É-lhe	 entregue	 uma	 tabela	 cronológica.	Contém	 a	 espinha	 dorsal	 da	 história	 da	 	
salvação.	Procure
	
guardar	na	memória	as	suas	principais	datas,	como	você	guarda	as	da	história	do	Brasil	(1500,
1792,
	
1822,	 1889...).	 Sem	o	 referencial	 à	história	 de	 Israel,	 você	mal	poderá	 conhecer	 o	 Antigo	 e	 o
Novo
	
Testamento.
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Procure	 folhear	ao	máximo	o	 texto	 sagrado.	Consulte	 todas	as	passagens	 	bíblicas
citadas;	assim
	
você	irá	conhecendo	o	Livro	Sagrado.	Sem	revolver	muito	a		Bíblia,	você	não	a	penetrará.
	
	
												Com	o	tempo,	você	poderá	fazer	sua	tabela	cronológica	própria,	ampliando	a		que	você
agora	tem
	
nas	mãos,	acrescentando	novos	nomes,	novas	fontes,	dados	paralelos	da	história	universal,	etc.
Procure
	
crescer,	melhorar	e	se	aperfeiçoar	sempre	mais.
	
A	Redação
	
	
	
	
	
	
	
	
	
														
	
	
	
	
	
	
	
																			
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
	
LÉXICO	BÍBLICO
	
												Na	elaboração	de	nossas	aulas,	resolvemos	adotar	uma	linguagem	acessível	ao	grande	público,	mas
enriquecida	 por	 vocábulos	 técnicos,	 específicos	 do	 linguajar	 exegético	 bíblico.	 Tais	 vocábulos	 são,	 por
vezes,	insubstituíveis;	daí	a	necessidade	de	utilizá-los.	Conhecê-los	exigirá	do	estudioso	um	certo	esforço,
esforço,	 porém,	 bem	 compensado.	 Eis	 porque	 publicamos	 a	 seguir,	 um	 pequeno	Vocabulário	 ou	 Léxico
bíblico,	que	poderá	valorizar	a	cultura	bíblica	de	nossos	leitores	e	servirá	de	instrumental	paramas	dois
terços	do	mesmo	foram	reencontrados	numa	sinagoga	do	Cairo	em	1896	e	1931;
outros	 fragmentos	 ainda	 foram	 descobertos	 nas	 grutas	 de	 Qumran	 e	Massadá
(N.O.	do	Mar	Morto).	Todavia	o	texto	grego	continua	sendo	o	oficial	canônico.
	
												O	conhecimento	das	línguas	bíblicas	por	parte	dos	estudiosos	é	de	grande
importância,	pois	cada	qual	tem	seu	gênio	e	suas	particularidades.	O	comum	dos
leitores	da	Bíblia	não	precisa	de	conhecer	essas	 línguas	estrangeiras,	mas	deve
utilizar	boas	traduções	da	S.	Escritura	e	estar	alerta	para	os	possíveis	semitismos
e	particularismos	da	linguagem	sagrada.	Vejamos	algumas	peculiaridades	desses
idiomas:
	
	 			 	 			 	 	 	 	a)	O	hebraico	era	escrito	somente	com	consoantes,	sem	vogais,	até	o
século	VII	d.	C.	Isto	quer	dizer	que	o	leitor	devia	mentalmente	colocar	as	vogais
entre	 as	 consoantes	 das	 palavras	 hebraicas:	 visto	 que	 podia	 enganar-se,
compreende-se	que	no	texto	hebraico	antigo	haja	oscilações,	como	as	haveria	em
português	 se	 quiséssemos	 completar	 com	 vogais	 o	 grupo	 l	m;	 poderíamos	 ler
lama,	leme,	lume,	lima,	alma...	Em	hebraico,	por	exemplo,	q	r	n	pode	ser	lido
como	qaran	(	=	brilhar)	e	qeren	(	=	chifre);	por	isto	Moisés,	que	tinha	o	rosto	a
brilhar	(qaran),	é	representado	na	arte	ocidental	com	dois	chifres	(qeren),	visto
que	S.	Jerônimo	leu	qeren	em	lugar	de	qaran	em	Ex	34,29s.	Mais:	o	hebraico
era	pobre	em	vocabulário,	de	modo	que,	por	exemplo,	a	mesma	palavra	ah	podia
significar	irmão	e	primo	ou	parente	(ver	Mc	6,3;	Gn	13,8;	29,12-15;	31,23;	1
Cr	23,21-23);	bekor	podia	significar	primogênito	e	bem-amado	 (ver	Lc	2,7	e
Zc	 12,10s).	 Além	 disto,	 notemos	 que	 o	 hebraico	 não	 tinha	 termos	 de
comparativo	 e	 superlativo;	 por	 isto	 o	 versículo:	 "Muitos	 são	 chamados,	 mas
poucos	os	escolhidos"	(Mt	22,14)	deve	ser	traduzido	por	"maior	é	o	numero	dos
que	são	chamados	(à	fé);	menor	é	o	numero	dos	que	chegam	à	vida	definitiva",
podendo	 a	 diferença	 entre	 maior	 e	 menor,	 no	 caso,	 ser	 muito	 pequena.	 O
superlativo	era	expresso	mediante	um	genitivo:	assim	o	Cântico	dos	Cânticos	(	=
o	mais	belo	dos	Cânticos),	o	Santo	dos	Santos	 (=	o	 lugar	mais	 santo);	os	céus
dos	céus	(=	o	mais	alto	dos	céus)...	O	hebraico	escrevia	os	números	utilizando
consoantes;	visto	que	estas	podiam	ser	muito	semelhantes	e	confundidas	entre	si,
podia	haver	dificuldades	para	lê-las	-	o	que	originava	confusão	na	indicação	dos
números	nos	livros	sagrados.	Mais:	o	hebraico	não	separava	as	palavras	entre	si	-
costume	este	que	viria	a	ser	fonte	de	erros	na	transmissão	do	texto	sagrado.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	escola	de	rabinos	(=	mestres)	judeus	que	instituiu	a	vocalização	do
texto	 hebraico	 da	 Bíblia	 é	 dita	 "dos	 massoretas"	 (massorá	 =	 tradição,
provavelmente).	Fizeram	bom	trabalho	aos	poucos,	entre	o	século	VII	e	o	século
X	d.	C.	O	texto	hoje	utilizado	com	vogais	é	chamado	"Massorético"	(M).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 b)	O	aramaico,	muito	 semelhante	 ao	 hebraico,	 tornou-se	 a	 língua
adotada	pelo	povo	judeu	a	partir	do	século	V	a.	C.	Foi	a	língua	falada	por	Jesus
Cristo,	 O	 hebraico,	 aos	 poucos,	 ficou	 sendo	 apenas	 o	 idioma	 usado	 no	 culto
divino.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 c)	O	grego	 era	 língua	 de	 um	 povo	 inteligente.	 Na	 Bíblia	 aparece
impregnado	de	semitismos,	pois	foi	utilizado	por	escritores	hebreus.	Tenhamos
em	vista	o	vocábulo	cálice,	que	designa	"sorte"	(Mt	20,22;	26,39);	caminho,	que
significa	 "doutrina,	 escola"	 (At	 9,2;	 18,25s;	 19,9.23)	 ;	 língua,	 que	 significa
"nação"	(Ap	5,9).
	
												Os	manuscritos	gregos	da	Bíblia	mais	antigos	apresentam	letras	trocadas
(eram	semelhantes	umas	às	outras,	como	 também	o	são	em	português),	muitas
palavras	 escritas	 abreviadamente,	 falta	 de	 pontuação	 -	 o	 que	 dificultou	 a
transmissão	do	texto	sagrado	por	meio	dos	copistas	da	antiguidade.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Os	 escritores	 antigos	 não	 dividiam	 o	 texto	 sagrado	 em	 capítulos	 e
versículos.	Os	 cristãos,	 porém,	 sentiram	 a	 necessidade	 de	 dividi-lo	 para	 poder
citá-lo	e	utilizá-lo	na	Liturgia;	nos	primeiros	séculos	assinalavam,	por	exemplo,
o	 trecho	 "a	 respeito	 dos	 magos"	 (=	 Mt	 2,1-12),..."a	 respeito	 das	 crianças
assassinadas"	 (=	 Mt	 2,13-18),...	 "a	 respeito	 da	 siro-fenícia"	 (-	 Mc	 7,24-30)...
Eusébio	 de	 Cesaréia	 (†340)	 dividiu	 o	 texto	 dos	 quatro	 Evangelhos	 em	 1162
capítulos	 (Mt	 355,	 Mc	 233,	 Lc	 342,	 Jo	 232).	 Na	 Idade	 Média,	 o	 arcebispo
Estêvão	Langton,	de	Cantuaria	(†	1228),	distribuiu	o	texto	latino	do	Antigo	e	do
Novo	Testamento	em	capítulos;	esta	divisão	foi	introduzida	no	texto	hebraico	do
Antigo	Testamento	e	no	 texto	grego	dos	LXX	e	do	Novo	Testamento.	Está	até
hoje	em	uso.
	
												A	divisão	dos	capítulos	em	versículos	como	atualmente	a	temos	data	do
século	 XVI.	 Santes	 Pagnino	 de	 Lucca	 (†	 1541)	 dividiu	 o	 Antigo	 e	 o	 Novo
Testamento	em	versículos	numerados;	este	trabalho	ficou	sendo	definitivo	para	o
Antigo	Testamento.	Roberto	Estêvão,	 tipógrafo	 francês,	 refez	a	distribuição	do
Novo	Testamento	em	versículos	no	ano	de	1551;	é	a	que	hoje	em	dia	se	utiliza,
embora	 tenha	 suas	 imperfeições;	 assim,	 por	 exemplo,	Mt	 19,30	 deveria	 ser	 o
inicio	 do	 capitulo	 20	 de	 Mateus,	 pois	 o	 mesmo	 refrão	 ("os	 últimos	 serão	 os
primeiros	 e	 os	 primeiros	 serão	 os	 últimos")	 volta	 em	Mt20,16,	 enquadrando	 a
parábola	dos	trabalhadores	da	vinha	(Mt	20,1-15);	notemos	também	que	Gl	5,1a
deveria	ser,	conforme	a	lógica	do	pensamento,	a	conclusão	de	Gl	4,31..	-
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Também	a	pontuação,	que	faltava	nos	autógrafos,	foi	sendo	colocada
pelos	 copistas	 e	 intérpretes	 do	 texto	 sagrado	 nem	 sempre	 com	 muito	 acerto;
consideremos	os	casos	de	Jo	1,3s;	7,37s;	Gl	4,31-5,1...
	
												O	material	utilizado	para	escrever	era	papiro	(junco	cortado	em	tiras)	ou
pergaminho	 (couro	 de	 animais).	 Este	 material	 era	 caro	 e	 raro,	 de	 modo	 que
pouco	se	escrevia	na	antiguidade;	o	ensinamento	era	feito	por	via	oral	mediante
recursos	 mnemotécnicos,	 que	 procuravam	 dar	 cadência	 à	 frase,	 para	 que	 se
gravasse	 melhor	 na	 memória;	 nos	 livros	 bíblicos	 encontram-se	 ecos	 escritos
desse	 cadenciamento;	 cf.	 Mt	 5,21.27.31.33.38.43;	 6,2-6	 16-18...	 Dada	 a
fragilidade	do	papiro	e	do	pergaminho,	entende-se	que	não	se	tenha	conservado
nenhum	dos	autógrafos	(textos	saídos	das	mãos	dos	autores	sagrados)	da	Bíblia.
Todavia,	se	os	autógrafos	se	perderam	e	só	temos	cópias	dos	mesmos,	podemos
crer	 que	 se	 tenha	 conservado	 o	 teor	 original	 da	 Bíblia?	 -	 É	 o	 que	 veremos	 a
seguir
	
Lição	2:	História	do	texto	hebraico	do	Antigo	Testamento
	
Sabe-se	 que	 nos	 séculos	 anteriores	 a	 Cristo	 o	 texto	 hebraico	 do	 Antigo
Testamento	oscilava	muito.	Isto	se	compreende	bem	desde	que	se	tenha	em	vista
a	maneira	como	se	escrevia	antigamente:	falta	de	vogais,	ocasiões	múltiplas	de
confundir	letras	e	números.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Todavia	a	partir	dos	séculos	 I/II	d.	C.	a	difusão	dos	escritos	cristãos
(Evangelhos,	epístolas...)	obrigou	os	judeus	a	cuidar	da	forma	do	texto	bíblico;
os	 cristãos	 argumentavam	 a	 favor	 de	 Cristo	 utilizando	 passagens	 do	 Antigo
Testamento.	Julga-se	que	no	século	 II	d.	C.	 já	havia	quase	um	 texto	oficial	do
Antigo	 Testamento	 entre	 Judeus;	 é	 o	 que	 insinuam	 as	 traduções	 gregas	 de
Áquila,	 Símaco	 e	 Teodocião	 então	 realizadas;	 supõem	 um	 arquétipo	 hebraico
mais	ou	menos	fixo	ou	constante.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Nos	séculos	VII	 -X,	entre	650	e	1000	d.	c.,	os	massoretas	 fixaram	o
texto,	 colocando-lhe	 as	vogais.	Verifica-se	hoje,	mediante	 apurados	 estudos	de
lingüística,	 rítmica	 e	 literatura	 orientais,	 que	 as	 opções	 feitas	 pelos	massoretas
eram	autênticas.
	
												Quanto	aos	manuscritos,	notemos	que	até	1947	não	possuíamos	cópias
do	 texto	 hebraico	 anteriores	 aos	 séculos	 IX/X	 depois	 de	Cristo.	Naquela	 data,
porém,	 foram	descobertos	 os	manuscritos	 de	Qumran,	 a	N.	O.	 do	Mar	Morto,
que	datam	dos	 séculosI	 a.	C.	 e	 I	 d.	C.	Foi	 possível	 assim	 recuar	mil	 anos	 na
história	 da	 tradição	 manuscrita;	 verificou-se	 então	 que	 há	 identidade	 entre	 os
manuscritos	medievais	e	aqueles	de	Qumran	-	o	que	quer	dizer	que	o	texto	se	foi
transmitindo	 fielmente	 através	 dos	 séculos.	 Os	 judeus	muito	 estimavam	 a	 sua
literatura	sagrada	a	ponto	de	não	permitirem	que	se	deteriorasse	gravemente.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Hoje	 em	 dia	 existem	 edições	 criticas	 do	 texto	 hebraico	 do	Antigo
Testamento,	 como	 a	 de	 Rudolf	 Kittei,	 que	 permitem	 ao	 estudioso	 confrontar
entre	si	as	fontes	do	texto	e	certificar-se	de	que	está	lidando	com	a	face	autêntica
do	texto	do	Antigo	Testamento.
	
	
Lição	3:	A	história	do	texto	grego	do	Novo	Testamento
	
												Existem	hoje	mais	de	cinco	mil	cópias	manuscritas	do	Novo	Testamento
datadas	 dos	 dez	 primeiros	 séculos.	 Algumas	 são	 papiros,	 que	 remontam	 aos
séculos	 II/III.	 O	mais	 antigo	 de	 todos	 é	 o	 papiro	 de	 Rylands,	 conservado	 em
Manchester	 (Inglaterra);	 data	 de	 120	 aproximadamente	 e	 contém	os	 versículos
de	 Jo	 18,31	 -33.37.38;	 se	 consideramos	 que	 o	 Evangelho	 segundo	 João	 foi
escrito	por	volta	de	100,	verificamos	que	dele	temos	um	manuscrito	que	é,	por
assim	dizer,	cópia	do	autógrafo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	multidão	 de	 cópias	 do	Novo	Testamento,	 apresenta,	 sem	 dúvida,
numerosas	variantes	na	transmissão	do	texto:	cerca	de	200.000.	Todavia	trata-se,
em	 geral,	 de	 oscilações	 meramente	 gramaticais	 ou	 sintáticas:	 diferenças	 na
grafia,	colocação	ou	omissão	de	artigo,	de	preposição,	de	advérbio...	diferenças
estas	 que	 não	 alteram	 a	 substância	 do	 texto.	Os	 estudiosos	 concluem	 que,	 em
vista	do	grande	número	e	da	antiguidade	dos	manuscritos	do	Novo	Testamento,	é
possível	reconstituir	a	face	autêntica	do	mesmo,	de	modo	a	não	deixar	dúvidas
sobre	 a	 fidelidade	 do	 texto	 que	 hoje	 utilizamos.	 Damos,	 a	 seguir,	 alguns
exemplos	de	oscilações	dos	manuscritos.	A	mais	importante	é	a	de	1Cor	15,51,
onde	se	poderia	ler:	"Nem	todos	morreremos,	mas	todos	seremos	transfigurados"
ou	 "morreremos	 todos,	 mas	 não	 seremos	 todos	 transfigurados".	 Pois	 bem;	 a
consulta	 dos	 manuscritos	 mais	 antigos	 e	 abalizados	 leva	 a	 ler	 com	 toda	 a
segurança:	 "Nem	 todos	 morreremos,	 mas..."	 (São	 Paulo	 julgava	 que	 quem
estivesse	 vivo	 no	 dia	 da	 segunda	 vinda	 de	 Jesus,	 não	morreria;	 ver	 1Ts	 4,16s
e2Cor5,1-4).	 Outras	 variantes	 são	 as	 de	 Lc	 22,43s	 (alguns	 copistas	 quiseram
eliminar	 a	notícia	do	 suor	de	 sangue	de	 Jesus,	mas	os	melhores	manuscritos	 a
afirmam);	Jo	5,3s	(parece	que,	segundo	a	boa	tradição,	se	deve	omitir	o	vers.	4
com	a	noticia	de	que	um	anjo	agitava	a	água	da	piscina	de	Betesda);	1Jo	5,7s	(a
referência	ao	Pai,	ao	Filho	e	ao	Espírito	Santo	foi	acrescentada	tardiamente,	ou
seja,	por	ocasião	das	controvérsias	sobre	a	SS.	Trindade	no	século	IV);	Mc	1,1
(os	 bons	manuscritos	 atestam	 "Jesus	Cristo,	 Filho	 de	Deus");	Mt	 1,16	 (leia-se
"José,	o	 esposo	de	Maria,	da	qual	nasceu	 Jesus	chamado	Cristo",	 e	não,	 como
atesta	somente	uma	tradução	síria:	"José,	com	o	qual	estava	desposada	a	virgem
Maria,	gerou	a	Jesus").	-	Estes	exemplos,	que	são	dos	mais	significativos,	bem
mostram	 que	 não	 foi	 alterada	 a	 autenticidade	 substancial	 do	 texto	 do	 Novo
Testamento.
												Os	manuscritos	do	Novo	(e	também	do	Antigo)	Testamento	encontram-se
atualmente	 em	 diversas	 bibliotecas	 de	 Paris,	 Londres,	 Berlim,	 Leningrado,
Madrid,	 Vaticano...;	 podem	 ser	 consultados	 por	 qualquer	 pesquisador.	 Os
manuscritos	bíblicos	 são	patrimônio	da	humanidade	 e	não	pertencem	apenas	 à
Igreja	Católica.
												Existem	também	edições	criticas	do	Novo	Testamento,	preparadas	tanto
por	católicos	como	por	protestantes;	põem	ante	os	olhos	do	 leitor	as	principais
variantes	 dos	 manuscritos	 e	 o	 grau	 de	 autoridade	 que	 possuem.	 Tenha-se	 em
vista	 a	 edição	 de	 Kurt	 Alland,	 devida	 a	 uma	 comissão	 mista	 de	 católicos	 e
protestantes	e	que	é	a	melhor	no	gênero
	
Apêndice:	As	traduções	dos	LXX	e	da	Vulgata
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Quem	 utiliza	 uma	 boa	 edição	 brasileira	 da	 Bíblia,	 encontra	 nela
referências	 às	 traduções	 dos	 LXX	 e	 da	 Vulgata.	 Daí	 a	 necessidade	 de
abordarmos	também	estes	termos.
	
												Os	LXX
												Os	judeus	se	estabeleceram	na	cidade	de	Alexandria	(Egito)	nos	séculos
IV/III	a.	C.,	lá	constituindo	próspera	colônia.	Adotaram	a	língua	grega,	de	modo
que	tiveram	a	necessidade	de	traduzir	a	Bíblia	do	hebraico	para	o	grego	-	o	que
foi	feito	devagar	entre	250	e	100	a.	C.	Chama-se	esta	"a	tradução	alexandrina	da
Bíblia".	A	lenda,	porém,	diz	que	esta	tradução	teve	origem	milagrosa,	a	saber:	o
rei	Ptolomeu	II	Filadelfo	(285-247	A.	C.),	querendo	possuir	na	sua	biblioteca	um
exemplar	grego	dos	 livros	 sagrados	dos	 judeus,	 terá	pedido	ao	sumo	sacerdote
Eleázaro	 de	 Jerusalém	 os	 tradutores	 respectivos.	 Eleázaro	 terá	 enviado	 seis
sábios	 de	 cada	 uma	 das	 doze	 tribos	 de	 Israel	 (portanto,	 72	 sábios)	 para
Alexandria;	estes	terão	sido	encerrados	em	72	cubículos	isolados	e,	não	obstante,
haverão	produzido	o	mesmo	texto	grego	do	Antigo	Testamento	-	o	que	só	podia
ser	 milagre.	 Esta	 lenda,	 hoje	 bem	 reconhecida	 como	 tal,	 fez	 que	 a	 tradução
alexandrina	 fosse	 também	 chamada	 "dos	 Setenta	 Intérpretes".	 É	 importante,
porque	nos	refere	o	modo	como	os	judeus	liam	a	Bíblia	nos	séculos	III/II	a.	C.
	
												A	Vulgata
												Entre	os	cristãos	do	Ocidente,	havia	no	século	IV	tantas	traduções	latinas
da	Bíblia	que	os	leitores	se	viam	confusos	a	respeito.	Foi	por	isto	que	o	Papa	São
Dâmaso	(366-384)	pediu	a	S.	Jerônimo	fizesse	uma	revisão	dessas	traduções.	S.
Jerônimo	 revisou	o	 texto	 grego	do	Novo	Testamento	 e	 traduziu	 o	 hebraico	 do
Antigo	Testamento,	dando	à	 Igreja	um	 texto	 latino	que	 logo	se	propagou	e	 foi
chamado	"Vulgata	latina"	(forma	di-vulgada	latina).	-A	Vulgata	de	S.	Jerônimo
gozou	de	grande	autoridade	até	o	Concilio	do	Vaticano	II;	hoje	em	dia	existe	a
Neo-Vulgata,	 tradução	 latina	 dos	 originais	 realizada	 com	 mais	 recursos
lingüísticos	e	arqueológicos	do	que	a	Vulgata	de	S.	Jerônimo.
	
												Para	aprofundamento;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	VAN	 DEN	 BORN,	 Dicionário	 Enciclopédico	 da	 Bíblia,	 verbetes
"Qumran",	 "Bíblia",	 "Manuscritos",	 "Bíblia,	 Texto	 da	 B.",	 "Setenta",
"Vulgata".
												SCHARBERT,	JOSEF,	O	mundo	da	Bíblia.	Ed.	Vozes,	Petrópolis	1965.
												ARENHOEVEL,	DIEGO,	Assim	se	formou	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1978.
												LOHF	INK,	GERHARD,	Agora	entendo	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1978.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MANNUCCI,	 VALERIO,	 Bíblia,	 Palavra	 de	 Deus.	 Curso	 de
Introdução	à	Sagrada	Escritura.	Ed.	Paulinas,	São	Paulo	1966.
												JÚLIO	TREBOLLE	BARRERA,	A	Bíblia	Judaica	e	a	Bíblia	Cristã.	Ed.
Vozes	1996
*		*		*
	
PERGUNTAS
	
1)	Quais	são	as	línguas	bíblicas	e	suas	características?
2)	De	quando	data	a	divisão	do	texto	bíblico	em	capítulos	e	versículos?
3)	 	 Existem	 os	 autógrafos	 (textos	 escritos	 pelas	mãos	 dos	 autores	 sagrados)?
Por	quê?
4)	Quem	são	os	Massoretas?
5)	 Pode-se	 admitir	 a	 autenticidade	 do	 texto	 do	 Antigo	 Testamento	 hoje
divulgado	em	hebraico	e	nas					diversas	traduções?
6)	Que	houve	de	importante	em	Qumran?	Quando?
7)	Pode-se	admitir	a	autenticidade	do	Novo	Testamento	hoje	divulgado	em	grego
e	nas	diversas	traduções?
8)	Há	variantes	importantes	na	transmissão	do	texto?	Exponha.
9)	Diga	o	que	é	a	tradução	dos	LXX.
10)	Exponha	o	que	são	a	Vulgata	e	a	neo-Vulgata.
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 IV:	 INTERPRETAÇÃO1	 DO
TEXTO
	
Lição	1:	Livro	humano	e	divinoNas	lições	sobre	a	inspiração	bíblica	dizia-se	que	a	S.	Escritura	é,	toda	ela,	Palavra	de
Deus	 feita	palavra	do	homem.	Disto	se	segue	uma	verdade	muito	 importante:	para	entender	a
Escritura,	 duas	 etapas	 são	 necessárias:	 o	 reconhecimento	 da	 sua	 face	 humana,	 para	 que,
depois,	 possa	 haver	 a	 percepção	 da	 sua	 mensagem	 divina.	 É	 impossível	 penetrarmos	 no
conteúdo	salvífico	da	Palavra	bíblica	se	não	nos	aplicamos	primeiramente	à	análise	da	roupagem
humana	de	que	ela	se	reveste.	Isto	quer	dizer:	não	se	pode	abordar	a	S.	Escritura	somente	em
nome	da	"mística",	procurando	ai	proposições	religiosas	pré-concebidas;	é	preciso	um	pouco	de
preparo	ou	de	iniciação	humana	para	perceber	o	sentido	religioso	da	Bíblia.	Doutro	lado,	não	se
podem	 utilizar	 apenas	 os	 critérios	 científicos	 (lingüísticos,	 arqueológicos...)	 para	 entender	 a
Bíblia;	 é	 necessário,	 depois	 do	 exame	 científico	 do	 texto,	 que	 o	 leitor	 procure	 o	 significado
teológico	do	mesmo.
												1	-	Interpretação	quer	dizer	"explicação,	comentário"	(Aurélio).	Em	grego	a	arte	de	interpretar	é
dita	"HERMENÊUTICA".
											
																Examinemos	mais	detidamente	cada	qual	das	duas	etapas	acima	assinaladas.
	
	
Lição	2:	Livro	humano
	
												1.	A	Bíblia	não	é	um	livro	caído	do	céu,	mas	um	livro	que	passou	por
mentes	humanas	de	judeus	e	gregos	existentes	numa	faixa	de	tempo	que	vai	do
séc.	XIV	a.	C.	ao	século	I	d.C.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Por	conseguinte,	o	primeiro	cuidado	do	bom	intérprete	é	o	de	 tomar
conhecimento	da	face	humana	da	Bíblia	mediante	recursos	científicos,	a	fim	de
poder	 averiguar	 o	 que	 os	 autores	 bíblicos	 queriam	 dizer	 mediante	 as	 suas
expressões.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Isto	não	quer	dizer	que	 todo	 leitor	da	Bíblia	deva	ser	um	intelectual,
perito	em	línguas,	história	e	geografia	do	Oriente,	mas	significa	que
	
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	-	é	necessário	usar	uma	tradução	vernácula	feita	a	partir	dos	originais
segundo	bons	critérios	científicos;
											
												-	é	preciso	que	o	leitor	procure	uma	iniciação	no	livro	que	está	para	ler,	a
fim	de	conhecer	o	gênero	literário,	as	expressões	características,	a	finalidade,	o
fundo	 de	 cena	 de	 tal	 livro.	 Podem	bastar	 as	 páginas	 introdutórias	 que	 as	 boas
edições	da	Bíblia	 trazem;	às	vezes,	porém,	 requer-se	um	 livro	ou	um	curso	de
introdução	 na	 Bíblia	 (há	 livros	 e	 cursos	 de	 diversos	 graus,	 para	 as	 diversas
exigências	do	público);
	
												-	é	preciso	ter	certo	senso	critico	diante	das	múltiplas	interpretações	da
Bíblia	 que	 circulam.	 Com	 efeito;	 faz-se	 mister	 perguntar	 sempre:	 têm
fundamento	 no	 texto	 original	 da	S.	Escritura?	Ou	 são	 a	 expressão	 de	 teses	 do
intérprete	que	não	são	as	teses	do	autor	sagrado?
	
												Demos	alguns	exemplos:
	
												1)	Em	Ap	13,18	lê-se	que	o	número	da	besta	é	666.	Isto	quer	dizer	que	o
leitor	 tem	 que	 procurar	 um	 nome	 de	 homem	 cujas	 letras	 (dotadas	 de	 valor
numérico)	 perfaçam	 o	 total	 de	 666.	 Tal	 procura	 tem	 que	 ser	 efetuada	 no
ambiente	 histórico	 e	 geográfico	 de	 S.	 João	 e	 dos	 primeiros	 leitores	 do
Apocalipse;	teremos	que	indagar	na	Ásia	Menor	e	no	século	I	da	era	cristã	que
personagem	 poderia	 ser	 esse.	 A	 conclusão	 mais	 provável	 é	 que	 se	 trata	 do
Imperador	Nero	 (54-68),	primeiro	perseguidor	da	 Igreja,	cujos	 feitos	malvados
os	cristãos	ainda	estavam	experimentando	no	fim	do	século	I;	São	João	deve	ter
intencionado	 revelar	 discretamente	 esse	 nome	 aos	 seus	 leitores,	 a	 fim	 de	 lhes
dizer	que	o	perseguidor	pereceria.	Por	conseguinte,	é	despropositado	dizer	que	o
Papa	é	a	besta	do	Apocalipse,	porque	(assim	afirmam	sem	fundamento)	traz	na
cabeça	a	inscrição	"VICARIUS	FILII	DEI";	São	João	e	os	primeiros	leitores	do
Apocalipse	 não	 sabiam	 latim,	 que	 ainda	 era	 urna	 língua	 ocidental	 quando	 tal
livro	 foi	 escrito;	não	adiantaria	aos	 leitores	propor-lhes	um	nome	que	eles	não
pudessem	perceber	através	da	linguagem	cifrada	de	Ap	13,18.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Outro	exemplo:	quando	as	 traduções	vernáculas	 falam	de	 irmãos	 de
Jesus,	não	usam	esta	expressão	no	sentido	moderno,	mas	no	sentido	semita	de
parente,	familiar.	A	Bíblia	está	cheia	de	exemplos	do	uso	de	 irmão	(ah)	para
designar	tio	e	sobrinho	(cf.	Gn	13,8;	29,15),	primos	(1Cr	23,21s),	familiares	(Lv
10,4;	2Sm	19,12s).
	
												Ainda	mais:	quando	as	traduções	vernáculas	da	Bíblia	falam	de	"sábado",
têm	em	vista	não	o	que	nós	entendemos	em	português	por	sábado,	mas	o	que	os
hebreus	 entendiam	 por	 shabat	 e	 sheba	 =	 sétimo	 (dia)	 e	 repouso.	 Em
conseqüência,	os	cristãos,	no	seu	serviço	a	Deus,	não	 têm	a	obrigação	de	 ficar
presos	ao	dia	que	o	português	chama	sábado,	e	o	inglês	chama	saturday	(dia	de
Saturno),	 mas	 compreenda	 que	 observar	 o	 sábado	 é	 observar	 todo	 sétimo	 dia
mediante	repouso	sagrado.
	
												2)	A	partir	de	quanto	foi	dito,	também	se	compreende	que	a	interpretação
de	 certos	 textos	 da	Bíblia	 tenha	mudado	 nos	 últimos	 decênios.	Neste	 período,
sim,	 foram	descobertos	alfabetos,	peças	 literárias	e	monumentos	arqueológicos
de	povos	orientais	vizinhos	do	povo	judeu.	Foi	possível,	então,	recolocar	melhor
a	 Bíblia	 no	 seu	 ambiente	 originário,	 de	 modo	 a	 compreender	 mais
autenticamente	as	 suas	expressões;	 a	 interpretação	dai	decorrente	é,	por	vezes,
diferente	da	clássica,	mas	é	a	interpretação	certa.	Tenha-se	em	vista	o	caso	de	Gn
1,1-2,4a:	hoje	é	entendido	como	hino	da	liturgia	 judaica	que	tencionava	incutir
muito	 calorosamente	 o	 preceito	 do	 repouso	 no	 sétimo	 dia,	 dando-lhe	 por
fundamento	imaginário	o	comportamento	do	próprio	Deus,	que	teria	criado	tudo
em	seis	dias	e	descansado	no	sétimo;	 intencionava	 também	relacionar	 todas	as
criaturas	 com	 Deus,	 sem	 entrar	 em	 questões	 modernas	 de	 evolucionismo	 e
fixismo.	-	As	novas	interpretações	não	alteram	o	Credo,	mas	referem-se	a	pontos
que	 nunca	 foram	 tidos	 como	 objeto	 de	 fé	 na	 Igreja	 e	 por	 isto	 são	 sujeitos	 a
revisão	desde	que	haja	motivos	plausíveis	para	isto.
	
	
Lição	3:	Livro	divino
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Uma	vez	 entendido	o	 texto	bíblico	 com	o	 instrumental	 das	 ciências
humanas	que	permitem	compreender	o	que	o	autor	sagrado	queria	significar,	faz-
se	 mister	 procurar	 a	 mensagem	 teológica	 do	 respectivo	 texto.	 Como	 dito,	 a
mensagem	bíblica	é,	antes	do	mais,	religiosa.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Para	perceber	essa	mensagem	teológica,	deverá	o	 intérprete	 levar	em
consideração	a	"analogia	da	fé"	(Rm	12,6),	ou	o	conjunto	das	verdades	da	fé,	de
modo	a	nunca	atribuir	ao	texto	sagrado	uma	interpretação	destoante	das	verdades
da	 fé,	mas,	 ao	 contrário,	 entendê-lo	 segundo	 as	 demais	 proposições	da	 fé.	Por
exemplo,	as	palavras	de	Jesus	"o	Pai	é	maior	do	que	eu"	(Jo	14,28)	não	poderão
ser	entendidas	como	se	Jesus	fosse	simplesmente	inferior	ao	Pai,	em	desacordo
com	a	fé,	que	diz	ser	Jesus	consubstancial	ao	Pai	ou	uma	só	substância	com	o
Pai	(cf.	Jo	14,10s;	10,30);	será	preciso	reconhecer	que	Jesus,	como	Deus,	é	igual
ao	Pai,	mas,	como	homem,	é-lhe	inferior.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	"analogia	da	fé"	leva-nos	a	pensar	na	igreja	e	no	seu	magistério.	A
Palavra	 de	 Deus	 escrita	 não	 pode	 ser	 entendida	 plenamente	 senão	 em
consonância	com	a	Palavra	de	Deus	oral,	que	é	anterior	à	escrita	e	que	continua	a
ressoar	viva	dentro	da	Igreja	através	do	magistério	desta.	É	a	Igreja,	em	última
análise,	quem	nos	entrega	as	Escrituras	e	nos	orienta	na	interpretação	autêntica
das	mesmas.	Quem	assim	pensa,	evita	o	subjetivismo	arbitrário	("eu	acho	que...",
"parece-me	que..."),	subjetivismo	ilusório,	no	qual	incorre	quem	queira	praticar	a
interpretação	da	Bíblia	segundo	critérios	pessoais	(por	mais	bem	intencionados
que	sejam).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	magistério	da	 Igreja	não	está	acima	da	Escritura,	nem	é	um	canal
próprio	 pelo	 qual	 Deus	 revelaria	 novas	 verdades	 aos	 homens,	 mas	 é
simplesmente	 a	 expressão	 genuína	 da	 Tradição	 oral,	 que	 berçou	 a	 Tradiçãoescrita	(Bíblia)	e	que	jamais	poderá	ser	separada	desta.
	
	
Apêndice:	Tipo	e	acomodação
	
												Na	Escritura,	Deus	nos	fala	não	somente	por	palavras,	mas	também	por
pessoas,	coisas	e	fatos,	que	são	imagens	ou	tipos	de	realidades	futuras.	Assim	ele
quis	fazer	do	primeiro	Adão	um	esboço	ou	uma	figura	(tipo)	do	segundo	Adão,
Jesus	Cristo,	 conforme	Rm	5,14;	o	primeiro	Adão,	qual	homem	compendioso,
recapitula	toda	a	humanidade,	como	Jesus	Cristo	a	recapitula.	Melquisedec	(Gn
14,17-20)	também	é	figura	de	Cristo,	conforme	Hb	7,1-25;	o	cordeiro	de	Páscoa
(cf.	 Ex	 12,1-14)	 é	 figura	 de	 Cristo,	 conforme	 1Cor	 5,7;	 a	 serpente	 de	 bronze
igualmente,	 segundo	 Jo	3,14s;	 cf.	Nm	21,4-9...	Quando	as	Escrituras	do	Novo
Testamento	apontam	trechos	do	Antigo	Testamento,	como	portadores	de	figuras,
diz-se	que	tais	textos	têm	sentido	típico.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Outra	 coisa	 é	 a	 acomodação	 de	 textos	 bíblicos,	 que	 ocorre
freqüentemente	 na	 prática	 dos	 cristãos.	 Imaginemos	 que	 a	 S.	 Escritura	 nos
apresente	determinado	sujeito	(S)	com	algum	predicado	(P):	"A	sabedoria	(S)	é	a
mãe	do	belo	amor,	do	temor,	do	conhecimento	e	da	esperança"	(Eclo	24,18).	Ora
o	leitor	vê,	no	seu	mundo	cristão,	um	sujeito	(Sl)	semelhante	ao	sujeito	bíblico
(S),	ao	qual	podem	convir	os	predicados	atribuídos	pela	Bíblia	a	S;	então	faz	a
acomodação	 ou	 a	 adaptação	 de	 tais	 predicados	 a	 S1	 ...	 Se,	 por	 exemplo,	 me
parece	 que	Maria,	 por	 ser	 a	 sede	 da	 Sabedoria	 Divina,	 pode	 ser	 dita	 também
"Mãe	do	belo	amor...	e	da	esperança",	faço	a	acomodação	do	Eclo	24,18	a	Maria.
Os	próprios	 autores	 bíblicos	 fizeram	 tais	 acomodações;	 por	 exemplo,	S.	Paulo
em	Rm	10,15.18	faz	a	acomodação,	aos	Apóstolos,	de	 textos	que	não	visavam
diretamente	aos	Apóstolos	(cf.	Is	52,7	e	SI	18,5).
	
												Os	cristãos	costumam	fazer	acomodação	ou	adaptação	de	textos	bíblicos
aos	fatos	da	sua	vida	cotidiana.	Tal	procedimento	pode	ser	válido,	se	de	fato	há
semelhança	 entre	 o	 sujeito	 bíblico	 e	 o	 sujeito	 não	 bíblico	 (entre	 Jeremias
desolado,	 por	 exemplo,	 em	 Jr	 15,18,	 e	 o	 cristão	 perseguido);	 mas	 será
condenável,	 se	 servir	 para	 brincadeiras	 ou	 aplicações	 irreverentes	 da	 Bíblia
(como	às	vezes	ocorrem	nos	cartazes	de	publicidade,	no	rádio	e	na	televisão).
	
												Para	aprofundamento	deste	estudo,	sugere-se:
	
												VAN	DEN	BORN,	Dicionário	Enciclopédico	da	Bíblia,	verbete	"Bíblia,
Interpretação".	Ed.	Vozes,	Petrópolis	1971.
												LOHFINK,	A.,	Agora	entendo	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1978.
												SCHARBERT,	JOSEF,	O	mundo	da	Bíblia.	Ed.	Vozes,	Petrópolis	1969.
												Introdução	à	Sagrada	Escritura.	Ed	Vozes,	Petrópolis	1980.
												ARENHQEVEL,	DIEGO,	Assim	se	formou	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1978.
	
PERGUNTAS
	
												1)	Que	entende	por	"a	Bíblia	é	livro	humano	e	divino"?
												2)	Todas	as	traduções	da	Bíblia	são	igualmente	valiosas?
												3)	Posso	entender	a	Bíblia	sem	alguma	introdução	na	mesma?
												4)	Dê	alguns	exemplos	de	como	não	se	deve	entendera	Bíblia.
												5)	Qual	a	função	da	Igreja	na	interpretação	da	S.	Escritura?
												6)	Que	é	"analogia	da	fé"	(Rm	12,6)?
												7)	Que	é	um	tipo	bíblico?
												8)	Que	é	uma	acomodação	bíblica?
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MÓDULO	l:	INTRODUÇÃO	GERAL	AOS
EVANGELHOS
	
	
Lição	1:	Generalidades
	
												1.	A	palavra	"Evangelho"	vem	do	grego	"evangélion",	o	que	significa
"Boa	Notícia".
	
												Entre	os	cristãos,	este	vocábulo	passou	a	designar	a	mensagem	de	Jesus
Cristo,	 "aquilo	 que	 Jesus	 fez	 e	 disse"	 (At	 1,1).	 Dai	 fez-se	 a	 expressão
"Evangelho	de	Cristo",	que	significa	o	Evangelho	pregado	por	Jesus	Cristo	e	a
mensagem	que	Ele	nos	trouxe	da	parte	do	Pai.
	
												O	Evangelho,	segundo	a	linguagem	do	Novo	Testamento,	é	mais	do	que
uma	 doutrina;	 é	 força	 renovadora	 do	 mundo	 e	 do	 homem;	 produz	 uma	 nova
criação,	 como	 se	 deduz	 das	 palavras	 de	 Jesus:	 "Ide	 e	 anunciai	 a	 João	 o	 que
ouvistes	e	vistes:	os	cegos	vêem,	os	coxos	andam,	os	 leprosos	 são	curados,	os
surdos	ouvem,	os	mortos	ressuscitam	e	os	pobres	são	evangelizados"	(Mt	11,4-
6).	 O	 membro	 final	 da	 frase	 "os	 pobres	 são	 evangelizados"	 resume	 os
antecedentes:	o	Evangelho,	levado	a	todos	os	carentes,	implica	a	instauração	de
nova	 ordem	 de	 coisas;	 o	 homem	 ferido	 pelo	 pecado	 é	 redimido	 deste	 e	 das
conseqüências	deste,	das	quais	a	mais	grave	é	a	morte	(ver	penúltimo	membro	da
frase	citada).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2.	 A	 Igreja	 reconhece	 quatro	 narrações	 do	 Evangelho	 ou	 quatro
Evangelhos	 canônicos:	 os	 de	 Mateus,	 Marcos,	 Lucas	 e	 João.	 Destes,	 os	 três
primeiros	são	chamados	"sinóticos"	porque	podem	ser	 lidos	em	sinopse	ou	em
três	colunas	paralelas;	o	quarto	Evangelho	segue	roteiro	assaz	diferente	do	dos
anteriores.
	
												Existem	também	Evangelhos	apócrifos	(de	Tomé,	Tiago,	Nicodemos...),
que	a	consciência	cristã	não	reconheceu	como	Palavra	de	Deus;	contêm	traços	de
história	e	verdade,	-	ao	lado	de	seções	fantasiosas	e	heréticas.	Quem	compara	o
texto	dos	apócrifos	com	o	dos	Evangelhos	canônicos,	verifica	que	aqueles	 são
exuberantes,	 tendentes	 a	 mostrar	 um	 "Jesus	 maravilhoso",	 ao	 passo	 que	 os
Evangelhos	canônicos	são	muito	sóbrios;	não	precisam	de	"ornamentar"	a	figura
de	Jesus,	porque	o	sabem	aceito	por	seus	leitores.
	
												3.	Os	Evangelhos	são	simbolizados	pelos	animais	descritos	em	Ez	1,10	e
Ap	 4,6-8:	 o	 leão	 (Mc),	 o	 touro	 (Lc),	 o	 homem	 (Mt),	 a	 águia	 (Jo).	A	 tradição
cristã	adaptou	esses	símbolos	aos	autores	sagrados	levando	em	conta	o	inicio	de
cada	Evangelho:	visto	que	Mateus	começa	apresentando	a	genealogia	de	Jesus,	é
simbolizado	 pelo	 homem;	 Marcos	 tem	 início	 com	 João	 Batista	 no	 deserto,...
deserto	que	é	tido	como	morada	do	leão;	Lucas	se	abre	com	Zacarias	a	sacrificar
no	templo;	por	isto	é	simbolizado	pelo	vitelo,	vitima	do	sacrifício;	João	começa
apresentando	o	Verbo	preexistente	que	se	fez	carne,	à	semelhança	de	uma	águia
que	voa	muito	alto	para,	depois,	dar	o	bote	na	terra.	Esta	atribuição	de	símbolos
aos	evangelistas	não	se	deve	aos	autores	de	Ez	e	do	Ap,	mas	é	obra	de	escritores
cristãos	dos	séculos	II/IV.
	
	
Lição	2:	De	Jesus	ao	texto	dos	Evangelhos
	
Sabemos	que	Jesus	pregou	entre	27	e	30	sem	nada	deixar	por	escrito.	Também	não	mandou	os
Apóstolos	 escreverem;	 conseqüentemente,	 o	 Evangelho	 foi	 primeiramente	 anunciado	 de	 viva
voz,	e	só	aos	poucos	consignado	por	escrito.	Há,	pois,	um	intervalo	de	20,	30	ou	mais	anos	entre
Jesus	e	o	texto	definitivo	dos	Evangelhos.	Depois	de	muito	estudar	o	texto	sagrado	e	a	história
da	 Igreja	 nascente,	 os	 bons	 autores	 (e,	 com	 eles,	 a	 Igreja	 na	 sua	 Instrução	 "Sancta	 Mater
Ecclesia",	de	21/04/1964)	admitem	três	etapas	nesse	período	de	tempo:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	De	 Jesus	 aos	Apóstolos.	 Jesus	 pregava	 a	 Boa-Nova	 utilizando
recursos	de	 linguagem	dos	rabinos,	como	são	as	parábolas.	Antes	de	Páscoa,	a
compreensão	 dos	 ouvintes	 era	 lenta;	 mas	 depois	 de	 Pascoa-Pentecostes,	 os
Apóstolos,	 guiados	 pelo	 Espírito	 Santo,	 penetraram	 profundamente	 na
mensagem	do	Senhor.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2)	Dos	Apóstolos	às	comunidades	cristãs	antigas.	A	mensagem	de
Jesus	 foi	 levada	 de	 Jerusalém	 (após	Pentecostes)	 para	 a	Samaria,	 a	Galiléia,	 a
Síria,	a	Ásia	Menor,	a	Grécia,	Roma...	O	núcleo	da	pregação	era	sempre	a	vitória
de	 Jesus	 sobre	 o	 pecado	 e	 a	 morte	 obtida	 na	 Páscoa:	 a	 este	 núcleo	 se
acrescentavam	as	narrações	de	milagres	(para	comprovar	o	poder	de	Jesus),	de
parábolas	 (para	 manifestar	 a	 doutrinade	 Jesus	 sob	 forma	 de	 catequese),	 de
disputas	 com	 os	 fariseus,	 de	 profecias,	 etc.	 A	 pregação	 devia	 adaptar-se	 aos
diversos	 ambientes	 nos	 quais	 ela	 se	 realizava,	 a	 fim	 de	 tornar-se	 viva	 e
significativa	ou	ter	seu	Sitz	im	Leben	(lugar	na	vida	dos	ouvintes).	Isto	não	quer
dizer	que	a	doutrina	ia	sendo	deturpada.	Não;	os	Apóstolos	eram	muito	ciosos	da
fidelidade	 a	 Jesus	 e	 ao	 passado;	 não	 queriam	 ser	 senão	 testemunhas	 (cf,	 At
1,8.22;	2,32;	3,15;	5,32;	1029.41;	13,31;	20,24...);	sempre	que	alguma	inovação
estranha	se	quisesse	 introduzir	na	mensagem,	condenavam-na	 (cf.	Gl	1,8s;	2Ts
2,1s;	1Tm	4,1-3;	Tt2,1.8).	Ademais	sabemos	que	o	Senhor	não	abandonou	sua
mensagem	 ao	 bel-prazer	 dos	 homens,	mas	 acompanhou-a	 enviando	 o	 Espírito
Santo	à	Igreja	para	que	orientasse	os	Apóstolos	na	fiel	pregação	do	Evangelho.
Este	se	 foi	desabrochando	homogeneamente,	mostrando	suas	conseqüências	na
vida	dos	fiéis,	como	a	semente	se	abre	homogeneamente,	passando	a	ser	grande
árvore,	cujas	virtualidades	são	as	da	própria	semente.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ao	propagar-se,	a	mensagem	foi	 tomando	 formas	 literárias	 diversas,
como	 a	 da	 catequese	 sistemática,	 a	 da	 oração	 litúrgica,	 a	 da	 apologética
(destinada	a	provar	a	Divindade	e	a	Messianidade	de	 Jesus),	 a	da	controvérsia
(destinada	a	desfazer	dúvidas	dos	ouvintes)...
	
												À	medida	que	iam	pregando	o	Evangelho,	os	Apóstolos	experimentaram
a	 necessidade	 de	 consignar	 por	 escrito	 ao	menos	 algumas	 partes	 do	mesmo,	 a
fim	de	 facilitar	 a	 aprendizagem	dos	 discípulos.	Como	 a	 arte	 de	 escrever	 fosse
rara,	 difícil	 na	 antiguidade,	 a	 escrita	 era	 esporádica:	 escreviam-se	 séries	 de
parábolas,	de	milagres,	de	profecias,	de	ensinamentos,	as	narrativas	da	Paixão	e
Ressurreição...	 com	 fins	 estritamente	 didáticos,	 ou	 seja,	 para	 promover	 a
transmissão	das	verdades	da	fé.
	
												3)	Das	comunidades	cristãs	aos	Evangelistas.	Aos	poucos,	os	cristãos
perceberam	a	vantagem	de	compilar	num	só	 todo	sistemático	esses	 fragmentos
da	 pregação	 evangélica.	 Esta	 tarefa	 foi	 empreendida	 por	 diversos	 discípulos,
como	 atestava	 S.	 Lucas	 entre	 70	 e	 80:	 "Muitos	 se	 propuseram	 escrever	 uma
narração	 dos	 fatos	 que	 ocorreram	 entre	 nós	 como	 no-los	 transmitiram	 os	 que
deles	 foram	 testemunhas	 oculares	 desde	 o	 começo	 e,	 depois,	 se	 tornaram
ministros	da	Palavra"	(Lc	1,1s).
	
												Das	diversas	compilações	assim	feitas,	quatro	foram	reconhecidas	pela
Igreja	como	canônicas,	ou	seja,	como	autêntica	Palavra	de	Deus:	as	de	Mateus,
Marcos,	 Lucas	 e	 João.	 Os	 três	 primeiros	 estão	 em	 dependência	 entre	 si,	 de
acordo	com	o	seguinte	esquema:
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Notemos:	 as	 datas	 acima	 são	aproximadas,	mas	muito	prováveis.	A
primeira	redação	do	Evangelho	deu-se	por	obra	de	Mateus	na	terra	de	Israel	e,
por	isto,	em	aramaico.	Esta	redação	serviu	de	modelo	para	Marcos	e	Lucas,	que
utilizaram	 o	 esquema	 mateano,	 acrescentando-lhe	 características	 pessoais.	 O
texto	 de	Mateus	 foi	 traduzido	 para	 o	 grego,	 visto	 que	 o	 aramaico	 entrou	 em
desuso	quando	Jerusalém	caiu	em	70;	o	tradutor,	desconhecido	a	nós,	retocou	e
ampliou	o	texto	aramaico	servindo-se	de	Mc.	Isto	quer	dizer	que	o	texto	grego
de	Mateus	 (único	 existente,	 porque	 o	 aramaico	 se	 perdeu)	 é,	 segundo	 alguns
aspectos,	 o	mais	 arcaico,	 e,	 segundo	outros	 aspectos,	 o	mais	 recente	 dentre	 os
sinóticos.1
																1	-	Não	podemos	deixar	de	mencionar	as	importantes	descobertas	do	Pe.	José	O'Callaghan	S.
J.	Famoso	papirólogo,	encontrou	em	Qumran	(Palestina)	um	fragmento	manuscrito	(7Q5),	que	deve	datar
de	50	a.	C.	aproximadamente.	Após	longos	estudos	desse	minúsculo	documento,	o	Pe.	O'Callaghan	afirma
que	apresenta	o	 texto	de	Mc	6,52s	 -	conclusão	esta	que	vários	estudiosos	aceitam	igualmente.	Ora,	se	a
descoberta	é	autêntica,	deve-se	recuar	a	data	de	redação	de	Marcos	ou	de	parte	de	Marcos	para	o	quarto
decênio	do	século	I	(45-50).	Isto,	sem	dúvida,	provocará	revisão	das	demais	datas	de	composição	do	Novo
Testamento.	O	caso,	porém,	ainda	é	discutido.
	
	
Lição	3:	A	fidelidade	histórica	dos	Evangelhos
	
												Muito	se	tem	perguntado	se	os	Evangelhos,	resultantes	de	tal	processo,
são	o	eco	fiel	da	verdade	histórica.	Há	quem	diga	que,	ao	passar	de	instância	a
instância	antes	de	ser	redigida	de	modo	definitivo,	a	mensagem	foi	deturpada.
	
												-	Em	resposta,	ponderemos:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	A	mensagem	de	 Jesus	Cristo	não	 se	 propagou	 a	 esmo,	 ou	 sem	o
acompanhamento	dos	Apóstolos.	Lembremo-nos,	por	exemplo,	de	que,	"quando
os	apóstolos	souberam	em	Jerusalém	que	a	Samaria	tinha	recebido	a	palavra	de
Deus,	enviaram	Pedro	e	João	para	lá"	(At	8,14),	a	fim	de	formar	a	comunidade
respectiva.	"Pedro	viajava	por	toda	a	parte"	na	terra	de	Israel,	a	fim	de	atender	às
necessidades	dos	cristãos	(cf.	At	9,32).	São	Paulo	mantinha	intercâmbio	com	as
comunidades	 da	Ásia	Menor,	 da	Grécia	 e	 de	Roma,	 recebendo	mensageiros	 e
enviando	cartas	às	mesmas,	como	se	depreende	do	seu	epistolário.	O	mesmo	se
diga	 a	 respeito	 de	 outros	 apóstolos	 cujos	 escritos	 atestam	 o	 zelo	 pela
conservação	íntegra	da	doutrina	de	Jesus	Cristo:	S.	Mateus,	S.	João,	S.	Judas,	S.
Tiago...	 Vejam-se	 também	 At	 11,27-29;	 15,2;	 18,22;	 1Cor	 16,3;	 2Cor	 8,14,
textos	 que	mostram	o	 contato	 constante	 das	 novas	 comunidades	 com	a	 Igreja-
mãe	de	Jerusalém.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2)	 Os	 Apóstolos	 tinham	 consciência	 de	 lidar	 com	 uma	 tradição
(parádosis)	santa	e	 intocável.	Por	 isto,	dizia	S.	Paulo	aos	coríntios	a	propósito
da	ressurreição	e	da	Eucaristia:	"Eu	vos	transmiti	aquilo	que	eu	mesmo	recebi"
(1	Cor	15,3;	11,23).	O	Evangelho	que	ele	pregava	aos	gentios,	fora	autenticado
pelos	 grandes	 Apóstolos	 de	 Jerusalém	 (cf.	 Gl	 2,7-9).	 Em	 conseqüência,	 os
tessalonicenses	 eram	 exortados	 a	 manter	 a	 tradição	 recebida	 e	 a	 afastar-se	 de
quem	 não	 a	 seguisse	 (cf.	 2Ts	 2,15;	 3,6).	 Insiste	 em	 que	 Timóteo	 transmita	 o
depósito	santo	a	homens	de	confiança	que	sejam	capazes	de	o	passar	a	outros:	cf.
2Tm	 2,2.	 É	 dever	 fundamental	 dos	 ministros	 de	 Cristo	 que	 sejam	 fiéis;	 cf.
1Cor4,1s;	7,25;	1Ts	2,4.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	3)	Não	há	dúvida,	na	Igreja	nascente	houve	tentativas	de	deteriorar	a
mensagem	evangélica.	São	Paulo	se	refere	a	fábulas,	erros	gnósticos,	dualistas,
docetistas2...,	que	ele	compreendia	sob	a	palavra	grega	mythoi,	mitos;	e	cuidou
fortemente	 de	 que	 tais	 mitos	 não	 se	 mesclassem	 com	 a	 autêntica	 doutrina	 de
Cristo	chamada	lógos,	Rm	10,8;	Tg	1,22s;	a	palavra	da	salvação,	At	13,26;...	da
verdade,	2Tm	2.15;...	de	Deus,	1Ts	2,13;	2Tm	2,9;	Ti	2,5...	da	vida,	1	Jo	1,1...
	
												Observemos	como	São	Paulo	tem	consciência	de	que	mitos	não	fazem
parte	da	mensagem	evangélica	e,	por	isto,	devem	ser	banidos	da	pregação:	1Tm
1,4;	4,7;	2Tm	4,4;	Tt	1,14;	cf.	2Pd1,16.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Donde	se	vê	que	não	 se	 deve	 admitir	 tenha	 sido	 a	mensagem	cristã
penetrada	por	mitos	e	confundida	com	eles.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2	 -	Erros	gnósticos	 são	 os	 que	 apregoam	um	 conhecimento	 superior,	 reservado	 a	 homens
espirituais,	cuja	salvação	estaria	garantida.	Erros	dualistas	são	os	que	admitem	antagonismo	entre	matéria
e	espírito.	Erros	docetistas	são	os	que	negam	tenha	Jesus	assumido	realmente	a	natureza	humana.
											
	
												4)	Os	muitos	erros	e	desvios	ocorridos	na	pregação	da	mensagem	crista
dos	 primeiros	 séculos	 foram	 recolhidos	 na	 chamada	 "literatura	 apócrifa",	 cujo
estilo	 é	 evidentemente	 imaginoso	 e	 fictício.	 A	 Igreja	 teve	 a	 assistência	 do
Espírito	Santo	para	discernir	claramente	o	autêntico	e	o	não	autêntico	na	caudal
de	doutrinas	propostas	aos	cristãos	dos	primeiros	decênios.
	
												5)	Os	mitos	todos	têm	estilo	vago,	do	ponto	de	vista	da	cronologia	e	da
topografia;	não	podem	propor	quadro	geográfico	e	histórico	preciso;	é	o	que	os
isenta	 de	 controle.	 Ora,dá-se	 o	 contrário	 nos	 Evangelhos;	 como	 se	 verá,	 a
topografia	 da	 Palestina	 é	 por	 estes	 minuciosamente	 mencionada;	 também	 a
cronologia	é	assaz	exata,	como	se	depreende	das	menções	de	César	Augusto	(Lc
2,1),	Tibério	César,	Pôncio	Pilatos,	Herodes,	Filipe,	Lisânias...	(Lc	3,1s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	6)	Nenhum	criador	de	mitos	 teria	"inventado"	o	mito	do	Evangelho,
cujos	traços	são	desafiadores	e	exigentes	para	a	mente	humana:	a	mensagem	de
Deus	feito	homem	e,	mais,...		crucificado	era	escândalo	para	os	judeus	e	loucura
para	os	gregos	(1	Cor	1,23);	a	promessa	de	ressurreição	ou	de	reunião	da	alma
com	o	corpo	era	contrária	ao	pensamento	grego;	a	moral	cristã,	que	valorizava	a
mulher,	a	criança	mesmo	indesejada,	a	família,	o	trabalho	manual,	o	escravo,	a
estrita	 monogamia...	 só	 podia	 encontrar	 oposição	 da	 parte	 da	 filosofia	 greco-
romana.
	
												Donde	se	vê	que	a	mensagem	do	Evangelho	é	de	origem	divina	e	não
pode	ter	sido	produto	do	ficcionismo	de	judeus	ou	de	pagãos	da	antiguidade.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Estes	 dados	 sumários	 nos	 preparam	 para	 entrar	 no	 estudo	 de	 cada
Evangelho	em	particular.
	
												Para	ulteriores	estudos,	ver
												BALLARINI,	T.,	Introdução	à	Bíblia,	vol.	IV	Ed.	Vozes	1972,	pp.	67-
105.
												BARBÀGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	Os	Evangelhos	I	e	II.	Ed.	Loyola
1990.
												BEA,	A.,	A	historicidade	dos	Evangelhos.	Ed.	Paulinas	1966.
												LAMBIASI	Autenticidade	histórica	dos	Evangelhos,	Ed.	Loyola	1978.
												LATOURELLE,	R.,	Jesus	existiu?	Ed.	Santuário	1989.
												PIAZZA,	W.,	Os	Evangelhos,	Documentos	da	Fé	Cristã.	Ed.	Loyola.
												TERRA,	J.	E.	M.,	Jesus.	Ed.	Loyoïa1977.
	
*		*		*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Que	significa	a	palavra	Evangelho?	Explique
												2)	Que	são	Evangelhos	canônicos?...	sinóticos?...	apócrifos'?
												3)	Como	se	explicam	os	símbolos	dos	quatro	evangelistas?
																4)	Quais	as	etapas	entre	Jesus	e	os	escritos	evangélicos?
												5)	O	Evangelho	segundo	Mateus	é	o	mais	antigo	ou	o	mais	recente?
												6)	João	depende	da	tradição	sinótica?	Explique.
												7)	Qual	o	significado	de	Tradição	(parádosis)	para	os	Apóstolos?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 8)	 Como	 se	 comportavam	 os	 Apóstolos	 diante	 de	 mitos	 na	 Igreja
nascente?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	9)	Poderia	a	mensagem	dos	Evangelhos	 ser	mero	produto	da	mente
humana?
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MÓDULO	 II:	 EVANGELHO	 SEGUNDO
MATEUS
	
Lição	1:	Mateus,	autor	do	1°	Evangelho
	
	
	 											1.	Mateus,	também	dito	Levi,	era	publicano	ou	cobrador	de	impostos.
Chamado	por	Jesus,	 logo	deixou	 tudo;	cf.	Mt	9,9-13;	Mc	2,14-17;	Lc	5,27-32.
Nada	mais	nos	dizem	os	Evangelhos	sobre	Mateus.	Afirmam	outras	fontes	que,
após	a	Ascensão	de	Jesus,	se	dedicou	ao	apostolado	entre	os	judeus;	depois,	terá
pregado	aos	pagãos	da	Etiópia,	onde	deve	ter	morrido	mártir.
	
												2.	A	tradição	atribui	a	Mateus	a	redação	do	primeiro	Evangelho.	Tenha-se
em	vista	o	mais	antigo	testemunho,	que	é	o	de	Pápias,	bispo	na	Frigia,	datado	de
130	aproximadamente:	"Mateus,	por	sua	parte,	pôs	em	ordem	os	logia	(dizeres)
na	 língua	hebraica,	 e	 cada	um	depois	os	 traduziu	 (ou	 interpretou)	 como	pôde"
(ver	Eusébio,	Historiada	Igreja	III	39,16).
	
												Neste	texto	Pápias	designa	o	primeiro	Evangelho	como	dizeres,	"logia",
visto	 que	 realmente	 nesse	 livro	 chamam	 a	 atenção	 os	 discursos	 de	 Jesus,
dispostos	de	maneira	ordenada	ou	sistemática.	Este	Evangelho,	escrito	em	língua
hebraica	ou,	melhor,	aramaica	(já	que	o	hebraico	cairá	em	desuso	no	séc.	VI	a.
C.),	foi	logo	por	diversos	pregadores	traduzido	para	o	grego,	já	que	o	hebraico	só
era	usual	na	terra	de	Israel.	Vê-se,	pois,	que	Mateus	escreveu	no	próprio	país	de
Jesus,	tendo	em	vista	leitores	cristãos	convertidos	do	judaísmo.
	
												S.	Irineu	(†200	aproximadamente)	também	testemunha:	"Mateus	compôs
o	Evangelho	para	os	hebreus	na	sua	 língua,	enquanto	Pedro	e	Paulo	em	Roma
pregavam	o	Evangelho	e	fundavam	a	Igreja"	(Adv.	haereses	III	1,1).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Outros	 testemunhos	 poderiam	 ser	 citados.	 Procuremos,	 porém,	 no
primeiro	Evangelho	indícios	da	personalidade	do	seu	autor.
											
												3.	Que	diz	o	texto?
											
												a)	Observemos	o	catálogo	dos	apóstolos	como	se	acha	em	Mc	3,16-19;
Lc	6,14-16	e	Mt	10,2-4.	Verificaremos	que	os	nomes	se	dispõem	em	pares;	ora,
no	quarto	par,	Mateus	vem	antes	de	Tomé,	conforme	Mc	e	Lc;	mas	vem	depois
de	 Tomé,	 segundo	 Mt.	 Note-se	 ainda	 que	 somente	 em	 Mt	 o	 apóstolo	 é
mencionado	 com	 o	 aposto	 "cobrador	 de	 impostos"	 ou	 "publicano",	 o	 que	 era
pouco	honroso	para	um	judeu.	Quem	terá	tratado	Mateus	dessa	maneira	se	não	o
próprio	Mateus?
	
												Em	Mt	22,19,	ao	narrar	a	disputa	de	Jesus	com	os	fariseus	a	propósito	do
tributo	a	ser	pago	a	César,	Mt	usa	termos	técnicos	em	grego,	que	Mc	e	Lc	não
utilizam.
											
												Mt	é	o	único	a	narrar	o	episódio	do	imposto	do	templo,	em	Mt	17,24-27,
o	que	demonstra	o	interesse	do	autor	pelos	tributos.	Em	conclusão,	compreende-
se	que,	se	havia	no	grupo	dos	Apóstolos	um	homem,	e	um	só,	habituado	à	arte
de	escrever,	calcular	e	dispor	dados,	este	tenha	sido	o	primeiro	indicado	(talvez
mesmo	 pelos	 outros	Apóstolos)	 para	 redigir	 um	 resumo	 da	 catequese	 pregada
pelos	Apóstolos	Os	outros	estavam	acostumados	à	pesca:	tinham	as	mãos	mais
adaptadas	às	redes,	aos	remos	e	ao	barco	do	que	ao	estilete	e	ao	pergaminho.
											
	
Lição	2:	Mt,	Evangelho	para	os	Judeus
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	 S.	Mateus	 escreveu	 para	 os	 judeus	 convertidos	 ao	Cristianismo,
querendo	 mostrar-lhes	 que	 Jesus	 é	 realmente	 o	 Messias	 que	 cumpriu	 as
profecias.
											
												Esta	destinação	de	Mt	se	percebe	claramente	através	de	um	exame	do
texto	respectivo:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 a)	O	 autor	 supõe	 que	 seus	 leitores	 conheçam	 exatamente	 a	 língua
aramaica,	os	costumes	dos	judeus	e	a	geografia	da	Palestina,	de	modo	que	alude
a	 esses	 elementos	 sem	 acrescentar	 alguma	 explicação.	Ao	 contrário,	Marcos	 e
Lucas,	que	escreveram	para	não	judeus,	tiveram	o	cuidado	de	acrescentar	a	esses
dados	o	necessário	esclarecimento.	Vejamos,	por	exemplo,
	
												Mt	15,1	s	e	Mc	7,1-5.	Ao	falar	das	purificações	dos	judeus,	Marcos	abre
longo	parêntese	para	indicar	o	que	isso	significa;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Mt	27,62	 e	Mc	15,42.	Marcos	 explica	 o	 que	quer	 dizer	parasceve,
vocábulo	técnico	do	ritual	judaico;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Lc	 8,26	 localiza	 a	 região	 dos	 gerasenos,	 à	 qual	Mt	 8,28	 alude
brevemente.
	
												b)	Além	disto,	Mt	emprega	grande	número	de	semítismos	ou	expressões
próprias	 do	 judaísmo,	 que	 um	 não-judeu	 não	 entenderia:	Reino	 dos	 Céus	 (=
Reino	de	Deus),	Cidade	Santa	 (=	Jerusalém),	Casa	de	 Israel	 (=	povo	 judeu),
consumação	do	século	(=	fim	do	mundo),	Filho	de	Davi	(=Jesus).
	
												Em	conseqüência,	Mt	é,	dentre	os	evangelistas,	o	que	mais	nos	aproxima
do	sabor	primitivo	dos	sermões	de	Jesus.	O	sermão	da	montanha	(M15-7),	por
exemplo,	 é	 uma	 peça	 na	 qual	 ressoa	 vivamente	 o	 linguajar	 semita1	 de	 Jesus;
tenhamos	em	vista	o	esquema	dentro	do	qual	é	encaixado	o	ensinamento	sobre	a
esmola,	 a	 oração	 e	 o	 jejum:	 Mt	 6,1-18;	 temos	 aí	 fórmulas	 que	 voltam
constantemente	para	 ajudar	 a	 recitação	de	 cor,	muito	 característica	 das	 escolas
judaicas	e	cristãs	antigas:
												"Não	façais	como	os	hipócritas...":	6,2.5,16.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 "Quanto	a	 ti,	quando	deres	esmola	 (orares	ou	 jejuares),	 faze	assim":
6,3.6.17;
												"E	teu	Pai,	quevê	às	ocultas,	te	recompensará":	6,4.6.18.
												1	-	A	palavra	semita	compreende	todos	os	descendentes	de	Sem	(sírios,	árabes	e	também	judeus).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2.	Escrevendo	na	Palestina	para	 judeus	convertidos,	Mateus	deve	 ter
redigido	 seu	Evangelho	por	 volta	 do	 ano	50.	Este	 livro	 terá	gozado	de	grande
autoridade,	pois	continha	a	catequese	oficial	dos	Apóstolos.	Mas	o	fato	de	estar
redigido	 em	 aramaico	 criava	 obstáculo	 à	 sua	 difusão;	 sim,	 o	 aramaico	 só	 era
falado	pelos	 judeus	da	Palestina;	 fora	deste	país,	 a	 língua	comum	era	o	grego.
Por	isto	os	pregadores	iam	traduzindo	para	o	grego	trechos	ou	a	obra	inteira	de
Mt,	todavia	nem	todos	com	a	devida	competência.	Para	evitar	a	desfiguração	do
texto	de	Mt,	a	Igreja	deu	preferência	a	uma	das	traduções,	que	se	tornou	oficial	e
é	a	forma	canônica	do	texto.
	
												Quanto	às	demais	traduções,	perderam-se.	O	mesmo	aconteceu	com	o
texto	 original	 aramaico	 -	 o	 que	 bem	 se	 compreende:	 em	 70,	 Jerusalém	 foi
destruída	e	os	judeus	se	viram	dispersos	para	fora	da	Palestina,	onde	aos	poucos
passaram	 a	 falar	 o	 grego;	 em	 conseqüência,	 deixou	 de	 ser	 utilizado	 o	 texto
aramaico	de	Mt,	que	assim	veio	a	desaparecer.
	
												Não	se	pode	indicar	o	nome	do	tradutor	grego	de	Mt	aramaico.	Trabalhou
por	volta	de	80	e	certamente	 fez	mais	do	que	 traduzir;	procurou	 tornar	o	 texto
sagrado	ainda	mais	útil	à	catequese.	O	fato	de	que	a	autoridade	da	Igreja	adotou
esse	texto	retocado	fornece-nos	a	garantia	de	que	a	tradução	é	substancialmente
idêntica	 ao	 original.	 Aliás,	 os	 judeus	 reconheciam	 aos	 tradutores	 o	 direito	 de
retocar	os	originais	de	acordo	com	a	mente	do	autor;	foi	o	que	se	deu	também
com	o	 texto	do	Eclesiástico	 (escrito	 em	hebraico	e	 traduzido	para	o	grego	por
volta	de	130	a.C.).
	
Lição	3:	A	mensagem	de	Mt
	
												Os	quatro	evangelistas	apresentam	a	mesma	figura	e	a	mesma	Boa-Nova
de	 Jesus	 Cristo.	 Cada	 qual,	 porém,	 realça	 traços	 que	 mais	 importantes	 lhe
parecem	 para	 o	 seu	 público.	 Tal	 é,	 certamente,	 o	 caso	 de	 S.	 Mateus,	 cujas
particularidades	de	mensagem	passamos	a	considerar.
	
												1.	Mt	=	o	Evangelho	sistemático	por	excelência
	
												A	ordem	concatenada	dos	temas	era	mais	importante	para	Mateus	do	que
a	seqüência	cronológica	dos	acontecimentos.	Por	isto	o	Evangelista	agrupou,	em
blocos,	 acontecimentos	 ou	 sermões	 de	 Jesus	 que,	 segundo	 a	 ordem	 histórica,
deveriam	estar	muito	distantes	uns	dos	outros,	mas	que,	reunidos,	melhor	ajudam
o	leitor	a	compreender	a	mensagem	do	Mestre.	Vejamos
	
												a)	Mt	apresenta	cinco	longos	sermões	de	Jesus,	que	constituem	como	que
as	pilastras	do	seu	Evangelho;	têm	por	tema	central	o	Reino	dos	céus:
												-	a	Magna	Carta,	fundamental,	do	Reino:	Mt	5-7	(sermão	da	montanha);
												-	o	sermão	dos	missionários	do	Reino:	Mt	10;
												-	o	sermão	das	sete	parábolas	do	Reino:	Mt	13;
												-	o	sermão	comunitário	do	Reino:	Mt	18;
												-	o	sermão	da	consumação	do	Reino:	Mt	24s.
	
												É	possível	que	o	evangelista,	ao	propor	esses	cinco	sermões,	tenha	tido
em	vista	aludir	aos	cinco	livros	da	Lei	de	Moisés.	Principalmente	no	sermão	da
montanha	(Mt	5-7),	Jesus	se	mostra	como	o	novo	Moisés	ou	o	novo	Legislador
do	povo	de	Deus.	Logo	após	o	sermão	sobre	a	montanha,	Mateus	quis	reunir	dez
milagres	de	Jesus	(Mt	8-9),	que,	segundo	a	lente	do	evangelista,	devem	servir	de
comprovante	 à	 autoridade	 do	Mestre:	 8,1-4	 (cura	 do	 leproso);	 8,5-13	 (cura	 do
servo	do	centurião);	Mt	8,14-17	(cura	da	sogra	de	Pedro);	8,23-27	(a	tempestade
acalmada);	 8,28-34	 (libertação	 de	 dois	 possessos);	 9,1-8	 (cura	 do	 paralítico);
9,18-26	(a	filha	do	chefe	da	sinagoga	ressuscitada	e	a	hemorroissa	curada);	9,27-
31	(dois	cegos	recuperam	a	vista);	9,32-34	(o	possesso	mudo	é	libertado).
	
											 	b)	A	árvore	genealógica	de	Jesus	dispõe-se	em	três	séries	de	quatorze
gerações	cada	uma	-	o	que	dá	um	total	de	42	nomes;	cf.	Mt	1,1-17.	Para	assim
chegar	 de	 Abraão	 até	 Jesus,	 Mateus	 teve	 que	 omitir	 alguns	 nomes	 dos
antepassados	 de	 Cristo.	 E	 por	 que	 o	 fez?	 Porque	 14	 é	 o	 valor	 numérico
correspondente	à	soma	das	letras	do	nome	hebraico	de	Davi,	DVD	(daleth	=	4;
vau	=	 6;	 daleth	=:	 4);	 donde	 3x14	 significava	 para	 o	 judeu	 a	 plenitude	 dos
títulos	que	ornavam	Davi;	Jesus,	portanto,	caracterizado	pelo	número	42	(3	x	14)
seria	designado	como	o	Filho	de	Davi,	o	Rei	messiânico,	por	 excelência.	Para
Mateus,	 que	 tinha	 esta	 finalidade	 catequética,	 está	 claro	 que	 a	 enumeração
completa	dos	nomes	da	lista	genealógica	perdia	importância.
	
												c)	O	emprego	artificioso	dos	números	é	também	característico	de	Mt:	são
sete	as	petições	do	Pai-Nosso	(cf.	Mt	6,9-13),	oito	as	bem-aventuranças	(cf.	Mt
5,3-12);	sete	as	advertências	aos	fariseus	(cf.	Mt	23,13-32);	sete	as	parábolas	do
Reino	 (cf.	 Mt	 13,4-50);	 setenta	 vezes	 sete	 seja	 o	 perdão	 concedido	 ao	 irmão
pecador	(cf.	Mt	18,22	e	Lc	17,4).
	
												O	numero	três	marca	a	estrutura	de	muitas	passagens,	como	Mt	5,22.34s;
6,2-4.5s.	16-18;	7,7.22.	25.27;	8,9;	10,	40s;	17,1-4;	23,8-10.34.
	
												2.	Mt	=	o	Evangelho	dos	judeus
	
												Dirigindo-se	a	judeus	convertidos	ao	Cristianismo,	S.	Mateus	procurou
apresentar	 a	 doutrina	 de	 Jesus	 de	 modo	 especialmente	 significativo	 para	 os
hebreus.
	
											 	a)	Mateus	recorre	freqüentemente	às	Escrituras	do	Antigo	Testamento
para	mostrar	que	Jesus	é	o	Filho	de	Davi,	Filho	de	Abraão	(Mt	1,1),	o	Rei	dos
judeus	 (2,2),	 que	 veio	 salvar	 seu	 povo	 (1,21).	Mateus	 cita	 dezenove	 vezes	 as
profecias,	ao	passo	que	Marcos	apenas	cinco,	e	Lucas	oito.	É	característica	do
estilo	 de	Mt	 a	 fórmula:	 "Isto	 aconteceu	 para	 que	 se	 cumprisse	 o	 que	 foi	 dito
por..."	(cf.	1,22;	2,15.	17.23).
	
												Algumas	vezes	o	texto	da	profecia	influi	sobre	a	redação	do	Evangelho.
Por	exemplo,	Mateus	diz	que	Jesus	se	serviu	de	um	jumento	e	de	seu	filhote	para
entrar	 em	 Jerusalém	 (21,2-7),	 ao	 passo	 que	 os	 outros	 evangelistas	mencionam
apenas	o	jumentinho	(Mc	11,2-7;	Lc	19,29=	35;	Jo	12,14s);	assim	procedendo,
Mateus	quis	simplesmente	adaptar-se	às	palavras	da	profecia	de	Zc	9,9s,	que	ele
cita	e	cujo	cumprimento	ele	queria	incutir	ao	leitor.	-	Mateus	é	também	o	único
dos	evangelistas	que	menciona	o	preço	pelo	qual	Judas	vendeu	o	Senhor	(trinta
moedas	de	prata),	e	isto	porque	o	profeta	Zacarias	(11,12;	cf.	Mt	27,9)	menciona
a	quantia;	comparar	Mt	26,15	com	Mc	14,11	e	Lc	22,5.
	
												b)	De	modo	especial	Mateus	se	refere	à	Lei	de	Moisés.	Assim	em	Mt,
5,21-48	Jesus	alude	a	seis	preceitos	de	Moisés	para	os	aperfeiçoar,	aparecendo
assim	como	o	novo	Moisés	ou	Moisés	levado	à	plenitude.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Observemos	 também	 que	 o	 primeiro	 versículo	 do	 texto	 grego	 do
Evangelho	 se	 abre	 com	as	 palavras	Biblos	Genéseos...	Estas	 lembram	 o	 titulo
grego	do	primeiro	livro	do	Antigo	Testamento	(Gênesis),	talvez	para	indicar	que
nova	criação	e	nova	vida	entraram	no	mundo	por	obra	de	Jesus	Cristo.
	
												Em	suma,	Jesus	não	veio	abolir	a	Lei	de	Moisés,	mas	levá-la	à	plenitude,
isto	é,	cumprir	todas	as	promessas	e	profecias	nela	contidas	(cf.	Mt	5,17).
	
												c)	É	de	notar	que	a	catequese	habitual	dos	Apóstolos	devia	começar	pelo
Batismo	de	Jesus	e	terminar	pela	Ascensão	do	Senhor;	foi	assim	que	São	Pedro
concebeu	os	seus	primeiros	sermões	(cf.	At	1,21	s;	10,37-41).	O	Evangelho	de
Marcos	se	enquadra	perfeitamente	nesses	termos.	S.	Mateus	e	S.	Lucas,	porém,
julgaram	oportuno	propor	no	início	das	suas	narrações	algumas	notícias	sobre	a
infância	de	Jesus.	Ora	observa-se	que	em	Mt	a	figura	predominante	dos	cc.	1-2	é
São	José	(cf.	Mt	1,18-21.24s;	2,13-15.19-23),	ao	passo	que	em	Lc	a	figura	mais
saliente	é	Maria.	Isto	permite	concluir	que	os	principais	informantes	de	Mateus,
no	 caso,	 foram	 os	 familiares	 de	 São	 José	 e	 parentes	 de	 Jesus,	 que	 eram
particularmente	zelosos	das	tradições	de	Israel.3.	Mt	=	o	Evangelho	da	Igreja
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Mateus	 quis	mostrar	 que	 o	 Reino	 do	Messias,	muito	 radicado	 nas
profecias	e	nos	costumes	do	povo	de	Israel,	é,	não	obstante,	um	reino	universal
católico.	 Por	 isto	 pôs	 em	 relevo	 os	 traços	 de	 universalismo	 da	 mensagem	 de
Jesus.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 a)	 A	 genealogia	 de	 Jesus	 em	Mt	 1,1-17,	 além	 da	 simetria	 de	 seus
números,	 apresenta	 quatro	 nomes	 de	 mulheres,	 contrariando	 o	 estilo	 das
genealogias:	 Raab,	 meretriz	 de	 Jericó	 (1,5);	 Tamar,	 pouco	 honesta	 e
provavelmente	 cananéia	 (1,3);	Rute,	moabita	 (1,5)	 e	Betsabé,	 esposa	de	Urias,
hitita	como	seu	marido	(1,6).	Note-se	que	são	nomes	de	mulheres	estrangeiras	ou
de	má	vida.	 -	 Por	 que	o	Evangelista,	 quebrando	o	 estilo	 das	 genealogias,	 quis
incluir	 essas	 mulheres	 entre	 os	 antepassados	 de	 Jesus?	 -	 Precisamente	 para
mostrar	que	Ele	é	o	Salvador	não	apenas	de	Israel,	mas	também	dos	estrangeiros
e	 pecadores;	 Ele	 veio	 para	 salvar	 a	 todos	 indistintamente,	 pois	 em	 suas	 veias
corria	o	sangue	de	judeus	e	de	pagãos.
	
												b)	O	termo	"Igreja"	(ekklesia,	em	grego)	só	ocorre	em	Mt	16,18;	18,17
dentro	 dos	 escritos	 dos	 evangelistas.	Mateus	 também	 é	 o	 único	 a	 descrever	 a
cena	da	promessa	do	primado	a	Pedro	(Mi	16,13-20).	A	Igreja	consta	não	apenas
de	judeus,	mas	também	de	pagãos	convertidos	(cf.	Mt	28,16-20;	8,11),
	
												Aliás,	todo	o	mistério	da	Igreja	está	contido	no	episódio	dos	magos	(Mt
2,1-12),	 que	 só	Mt	 refere;	 conduzidos	 de	 longe	 por	 uma	 estrela	 e	 orientados
pelos	próprios	judeus,	os	pagãos	reconheceram	e	adoraram	o	Messias,	ao	passo
que	o	rei	Herodes	e	sua	corte	o	quiseram	matar.
	
												A	São	Pedro	Mateus	dedica	especial	reverência,	como	se	depreende	dos
episódios	próprios:	Mt	14,28-32;	16,17-19;	17,24-27.	Compare-se	Mt	26,40	com
Mc	14,37.
	
												Assim	concebido,	o	Evangelho	segundo	Mateus	tornou-se	"o	livro	mais
importante	 da	 história	 universal"	 (Renan),	 o	 livro	 insuperável	 das	 primeiras
gerações	cristas.
	
												Para	aprofundamento:
											
												BALLARINI,	T.,	Introdução	à	Bíblia	IV.	Ed.	Vozes,	Petrópolis	1972.
											
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONÍ,	Os	Evangelhos	(I)
											
												PIKAZA,	S.,	A	Teologia	de	Mateus.	Ed.	Paulinas,	São	Paulo	1978.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	VÁRIOS	AUTORES,	Leitura	do	Evangelho	segundo	Mateus.	Ed.
Paulinas,	São	Paulo	1982.
	
	
*	*	*
	
	
	
	
	
PERGUNTAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	 Cite	 um	 testemunho	 de	 escritor	 antigo	 sobre	 a	 autoria	 do	 1g
Evangelho.
												2)	O	texto	do	1g	Evangelho	diz-nos	algo	sobre	a	personalidade	do	seu
autor?
												3)	São	Mateus	explica	aos	seus	leitores	os	vocábulos	e	os	costumes	dos
Judeus?	Por	quê...'?
												4)	Cite	ao	menos	cinco	passagens	nas	quais	ocorrem	semitismos	em	Mt.
												5)	Temos	ainda	hoje	o	texto	origina!	aramaico	de	Mt?	Porquê?
												6)	Que	significa	"Evangelho	sistemático"?	Dê	alguns	exemplos.
												7)	Como	é	que	Mt	relaciona	Moisés	e	Jesus?	Explique.
												8)	Em	que	sentido	se	pode	dizer	que	Mt	é	o	Evangelho	da	Igreja	?
												9)	Comente	a	genealogia	de	Jesus	em	Mi	1.1-17	(42	nomes	de	homens	e
4	de	mulheres),
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MÓDULO	 III:	EVANGELHO	SEGUNDO
MARCOS
	
	
Lição	1:	Marcos,	autor	do	2°	Evangelho
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	Marcos	 não	 foi	 um	 dos	 doze	 apóstolos,	 mas	 discípulo	 destes,
especialmente	 de	 Pedro,	 que	 o	 chama	 seu	 filho	 (1	 Pd	 5,13),	 talvez	 porque	 o
tenha	batizado.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 S.	Marcos	 foi	 companheiro	de	S.	Paulo	no	começo	 de	 sua	 primeira
viagem	missionária	 (cf.	At	13,5),	mas	não	prosseguiu	até	o	 fim	(cf.	At	13,13).
Por	isto	o	Apóstolo	não	o	quis	levar	em	sua	segunda	expedição	missionária	(cf.
15,37-40).	 Todavia	 Marcos	 reaparece	 como	 colaborador	 de	 São	 Paulo	 no
primeiro	 cativeiro	 romano	do	Apóstolo	 (cf.	Cl	 4,10;	Fm	23s);	 no	 fim	da	vida,
São	 Paulo	 lhe	 faz	 um	 elogio:	 "é-me	 útil	 no	ministério"	 (2Tm	 4,11).	Há	 quem
veja	em	Mc	14,51	uma	alusão	ao	próprio	Marcos.
	
												A	tradição	lhe	atribui	a	redação	do	segundo	Evangelho.	A	propósito	o
testemunho	mais	 importante	 é	 o	 de	 Pápias	 (†	 135),	 bispo	 de	Hierápolis	 (Ásia
Menor),	de	grande	autoridade:
	
												"Marcos,	intérprete	de	Pedro,	escreveu	com	exatidão,	mas	sem	ordem,
tudo	 aquilo	 que	 recordava	 das	 palavras	 e	 das	 ações	 do	 Senhor;	 não	 tinha
ouvido	 nem	 seguido	 o	 Senhor,	 mas,	 mais	 tarde...,	 Pedro.	 Ora,	 como	 Pedro
ensinava	adaptando-se	 às	 várias	 necessidades	 dos	 ouvintes,	 sem	 se	 preocupar
com	oferecer	 composição	 ordenada	das	 sentenças	 do	 Senhor,	Marcos	 não	nos
enganou	 escrevendo	 conforme	 se	 recordava;	 tinha	 somente	 esta	 preocupação:
nada	 negligenciar	 do	 que	 tinha	 ouvido,	 e	 nada	 dizer	 de	 falso"	 (cf.	 Eusébio,
História	Eclesiástica	III,	39,15).
	
												2.	Este	depoimento	a	respeito	da	autoria	de	Marcos	é	corroborado	pelo
exame	do	texto	do	próprio	Evangelho.	Assim,	por	exemplo:
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	 limites	 do	Evangelho	 são	 exatamente	 os	 limites	 propostos	 pelos
discursos	de	Pedro	em	At	1,2	e	10,37:	desde	o	batismo	ministrado	por	João	até	a
glorificação	de	Jesus,	sem	tocar	em	cenas	da	infância	do	Senhor;	cf.	Mc	1,1-4	e
16,19s.
											
												Pedro	ocupa	lugar	saliente	em	Mc;	cf.	Mc	1,29-31.36;	5-37;	9,2-6;	11,21;
14,33.	 Pedro	 é	 explicitamente	 nomeado	 em	 Mc,	 enquanto	 nas	 passagens
paralelas	Mt	e	Lc	o	silenciam;	comparemos	entre	si	Mt	21,20	e	Mc	11,21	;	além
disto,	 Mt	 24,3;	 Lc	 21,7	 e	 Mc	 13,3;	 também	 Mt	 28,7	 e	 Mc	 16,7.	 De	 modo
especial,	em	Mc	as	falhas	de	Pedro	são	salientadas	(Mc	8,32s;	14,37.66-72)	e	é
silenciado	o	que	redundaria	em	honra	de	Pedro	(o	caminhar	sobre	as	águas,	Mt
14,28-31,	e	a	promessa	do	primado,	Mt	16,17-19)	-	o	que	só	se	explica	bem	se	a
pessoa	 de	 Pedro	 é	 indiretamente	 a	 responsável	 pela	 redação	 do	 Evangelho	 de
Marcos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 O	 2o	 Evangelho	 se	 compraz	 em	 citar	 alguns	 termos	 aramaicos,
guardando	o	sabor	original	da	catequese	dos	Apóstolos:	assim	Boanerges	(Filhos
do	 Trovão),	 em	 3,17;	Talitha	 Koum	 (Filha,	 levanta-te),	 em	 5,41;	Ephphata
(Abre-te),	em	7,34;	Abba	 (Pai),	em	14,36;	Eloí,	Eloí,	 lama	sabachthani	 (Meu
Deus,	meu	Deus,	porque	me	abandonaste?),	em	15,34.	-	isto	revela	que	o	autor
do	2o	Evangelho	era	um	judeu	que	transmitia	uma	catequese	outrora	concebida
em	aramaico.
	
												O	estilo	de	Mc	é	muito	simples,	quase	não	recorrendo	à	subordinação	de
frases	-	o	que	bem	corresponde	ao	gênio	literário	dos	semitas.
	
	
Lição	2:	Os	destinatários	de	Mc
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	Mc	 escreveu	 não	 para	 judeus,	 mas	 para	 pagãos	 convertidos	 ao
Cristianismo.	É	o	que	se	conclui	dos	seguintes	dados:
	
												Mc	não	cita	vocábulos	aramaicos	sem	os	traduzir;	cf.	3,17;	5,41;	7,11-34;
10,	 46;	 14,36;	 15,22-34.	 Também	 explica	 os	 costumes	 dos	 judeus	 como	 se
fossem	estranhos	aos	leitores:	7,3s;	14,12;	15,42.
	
												Omite	o	que	não	seria	claro	a	gente	pouco	familiarizada	com	o	judaísmo:
as	questões	referentes	à	Lei	de	Moisés	(cf.	Mt	5-7)	;	quase	todas	as	censuras	de
Jesus	aos	fariseus	e	escribas	(cf.	Mt	23	e	Mc	12,3840);	o	voto	de	que	a	fuga	de
Jerusalém	não	ocorra	em	sábado	(no	sábado	o	 judeu	não	caminhava	muito;	cf.
Mt	24,20	e	Mc	13,18);	a	menção	do	sinal	de	Jonas	(cf.	Mt	16,4	e	Mc	8,12).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Poucas	são	as	citações	do	Antigo	Testamento	em	Mc,	que	não	 tem	a
preocupação,	típica	de	Mt,	de	mostrar	que	as	profecias	se	cumpriamem	Cristo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Mc	 cuidou	 de	mitigar	 ou	 suprimir	 tudo	 o	 que	 pudesse	 causar	mal-
entendidos	aos	pagãos.	Assim	comparem-se	entre	si
												Mt	15,26	e	Mc	7,27:	em	Mc	se	lê	primeiramente;
												Mt	10,5s	e	Mc	3,14-19;	6,7-9:	em	Mc	não	se	lê	que	os	Apóstolos	em	sua
primeira	missão	tenham													sido	enviados	apenas	aos	judeus.
												Mt	10,17-19	e	Mc	13,9-11	:	em	Mc	"...	a	todas	as	nações";
												Mt	21,13	e	Mc	11,17:	em	Mc"...	para	todos	os	povos".
	
												Assim	a	universalidade	da	salvação	e	da	Igreja	é	incutida	em	Mc	como
em	Mt,	todavia	sem	que	Mc	acentue	a	prioridade	de	Israel	(devida	ao	fato	de	que
os	judeus	são	diretamente	os	filhos	de	Abraão	e	da	promessa).
	
												2.	Mais	precisamente,	podemos	dizer	que	os	pagãos	convertidos	para	os
quais	Marcos	escreveu,	eram	latinos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Na	 verdade,	 além	 de	 apresentar	 muitos	 aramaismos,	 Mc	 contém
numerosos	latinismos	(só	perceptíveis	para	quem	usa	o	texto	grego	original);	cf.
5,9-15;	6,27.37;	12,14s;	14,5;	15,15.39.44.	Às	vezes,	certas	palavras	gregas	são
explicadas	por	equivalentes	do	latim,	embora	o	grego	fosse	a	língua	comum	do
Império	Romano	e	o	latim	fosse	o	idioma	próprio	de	Roma	e	do	Lácio.	Isto	só	se
explica	 se	o	 autor	 tinha	em	vista	 leitores	 romanos,	domiciliado	ele	mesmo	em
Roma	(um	judeu	residente	na	Palestina	não	conheceria	tão	exatamente	o	dialeto
do	Lácio).
	
												Estas	observações	são	confirmadas	por	Mc	15,21:	Simão	o	Cireneu	era	o
pai	 de	 Alexandre	 e	 Rufo,...	 desse	 Rufo,	 que	 São	 Paulo	 saúda	 em	 Rm	 16,13.
Porque	 Marcos	 teria	 mencionado	 Rufo,	 ao	 escrever	 seu	 Evangelho,	 se	 não
porque	Rufo	pertencia	à	comunidade	evangelizada	por	Marcos?
	
	
Lição	3:	A	mensagem	de	Mc
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	Marcos	 é	 sóbrio	 em	 discursos,	mas	 rico	 em	 narrativas,	 que
apresentam	pormenores	vivazes,	tornando	o	Evangelho	muito	movimentado
e	colorido.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 São	Marcos	 é	 o	mais	 breve	 dos	 evangelistas:	 conta	 673	 versículos,
enquanto	Mt	1.068	e
Lc	1.149.
	
												Chama-nos	a	atenção,	porém,	a	maneira	como	S.	Marcos	é	breve.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	 Dos	 cinco	 grandes	 discursos	 de	Mt,	Mc	 só	 registra	 dois:	 o	 das
parábolas	(Mc	4,1-34,	com	três	parábolas	em	vez	de	sete)	e	o	escatológico	(Mc
13,1-37).	O	cap.	23	de	Mt	é	reduzido	a	Mc	12,38-40;	Mt	18,1-10	é	 reduzido	a
Mc	9,42-50;	Mt	24,36-25,46,	a	Mc	13,33-37.
	
												Ao	contrário,	as	narrativas	em	Mc	são	mais	minuciosas	e	vivazes	do	que
em	Mt	(que	não
se	detém	em	pormenores).	Vejam-se
	
												Mc	1,35-39		e		Lc	4,42-44																																									Mc	9,14-27				e		Mt
17,14-18
												Mc	2,	1-12			e		Mi	9,1-8																																													Mc	10,23-27		e		Mt
19,23-26
												Mc	5,	1-17			e		Mt	8,28-34																																									Mc	10,46-52		e		Mt
20,29-34
												Mc	5,21-43		e		Mt	9,18-26																																									Mc	1	i,12-24		e		Mt
21,18-22
												Mc	8,14-21		e		Mt	16,5-12																																									Mc	11,27-33		e		Mt
21,23-27
	
												Muito	típica	também	é	a	comparação	de	Mt	21,1	-22	com	Mc	11,1-25.
Tenha-se	em	vista
a	seguinte	ordem	de	acontecimentos:
Mt
	
Mc
	
												Destas	duas	séries,	a	de	Mc	parece	corresponder	simplesmente	ao	curso
real	dos	acontecimentos;	por	isto	é	tão	cheia	de	movimento.	A	de	Mateus	é	mais
sistemática	 em	 vista	 da	 catequese:	 reúne	 em	 um	 só	 dia	 o	 que	 se	 deu	 em
Jerusalém	e	em	outro	dia	o	que	se	deu	fora	de	Jerusalém.
	
												2.	As	narrações	de	Mc,	espontâneas	como	são,	revestem-se	de	grande
vivacidade.	 Isto	 se	 deve	 não	 só	 ao	 temperamento	 de	Marcos	 (pouco	 dado	 aos
artifícios),	mas	também	a	figura	de	Pedro,	que	está	por	trás	da	redação	de	Mc.
	
												Notemos,	por	exemplo,	os	seguintes	traços:
												-	as	multidões	cercam	e	comprimem	Jesus,	não	lhe	deixando	o	tempo	de
comer:	Mc	1,37	45;	2,1-4.13;	3,7-10.20s.31	s;	4,1;	5,21.27.38-40;	6,31-34.55s;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	os	atos	de	Jesus	suscitam	admiração	e	 reverência:	1,22.27.45;	2,12;
4,41;	5,	20.42	6,2s;	10,32	(cf.	Mi	20,17	e	Lc	18,31);
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	-	os	afetos	de	Jesus	são	anotados	com	muita	perspicácia	3,5.34;	5,32;
8,12.32;	10,16.21	23;	11,11.	Durante	a	tempestade,	Jesus	está	deitado	sobre	um
travesseiro,	enquanto	os	após	tolos	se	inquietam:	Mc	4,38	(cf.	Mt	8,24).
												-	Mc	refere	números	(que	certamente	estimulam	a	reconstituição	mental
das	cenas),	quando	os	outros	evangelistas	os	silenciam.	Comparemos	entre	si
	
												Mc	2,3					e		Mt	9,2;		Lc	5,18										Mc	14,30.72			e	Mt	26,34.74;	Lc
22,34.60
												Mc	5,13			e		Mt8,33																								Mc	14,41								e	Mt	26,45
												Mc	14,5			e	Mt	26,9																									Mc	15,25									e	Mt	27,33-35;	Lc
23,33
	
Mas	 só	 Mateus,	 o	 cobrador	 de	 impostos,	 refere	 o	 preço	 por	 que	 Jesus	 foi
entregue	aos	carrascos:	Mt	26,15;	cf.	Mc	14,11;	Lc	22,5.
	
												2.	Em	Mc	a	Divindade	de	Jesus	é	especialmente	realçada	pela	sua
humanidade.
	
												Mc	é	tão	destituído	de	artifícios	ao	apresentar	Jesus	que	por	vezes	pode
causar	problemas	aos	intérpretes.	Assim,	por	exemplo,
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	em	Mc	3,21:	os	parentes	de	Jesus	dizem	que	"está	 fora	de	si".	Esta
afirmação	foi	entendida,	por	vezes,	no	sentido	de	que	Jesus	era	doente	mental.	A
interpretação	é	 falsa,	pois	o	verbo	grego	exeste	 significa	 "estar	 fora	de	 si,	 sair
das	habituais	normas	de	vida";	ora,	segundo	o	contexto	de	Mc,	Jesus	chamava	a
atenção	 por	 seu	 grande	 zelo	 apostólico,	 que	 não	 lhe	 permitia	 encontrar	 tempo
nem	mesmo	para	comer;
	
												-	em	Mc	10,18	Jesus	parece	rejeitar	o	qualificativo	"bom",	devido	a	Deus
só,	 como	 si	 Jesus	 não	 fosse	 Deus.	 O	 texto	 paralelo	 de	 Mt	 19,16s	 mudou	 a
construção	da	frase.	-	Na	verdade	Jesus	em	Mc	10,18	não	queria	dizer	que	Ele
não	 é	 Deus,	 mas	 quis	 levar	 o	 jovem	 a	 tirar	 as	 ultimas	 conseqüências	 da	 sua
intuição:	 se	 havia	 reconhecido	 em	 Jesus	 algo	 que	 ultrapassava	 a	 bondade	 dos
homens,	compreendesse	que	Jesus	é	Deus;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	 em	Mc	6,5s	 lê-se	que	 Jesus	não	pôde	 fazer	milagre	 em	Nazaré,	 e
admirava-se	da	pouca	fé	dos	seus	concidadãos.	Observe-se	que	Mt	13,58	tirou	as
palavras	ambíguas.	Na	verdade,	Jesus	tudo	podia	e	sabia,	como	verdadeiro	Deus
que	é;	o	evangelista	Marcos,	porém,	se	exprimiu	de	acordo	com	o	modo	de	ver
humano	de	um	historiador.
	
												-	em	Mc	13,32,	o	Filho	(como	os	anjos)	ignora	a	data	do	juízo	final;	Mt
24,36	 atribui	 esse	 não	 saber	 aos	 anjos	 apenas.	 -	Na	 verdade,	 Jesus	 tudo	 sabia
como	 Deus,	 mas	 não	 estava	 dentre	 da	 sua	 missão	 de	 doutor	 dos	 homens
comunicar	 a	 data	 do	 juízo	 final;	Marcos	 referiu-se	 a	 Jesus	 precisamente	 como
Mestre	dos	Apóstolos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Ora	 estes	 traços	 difíceis	 e	 toscos	 (não	 burilados)	 de	Mc,	 longe	 de
diminuir	o	valor	deste	Evangelho,	muito	o	aumentam.	Mostram	que	S.	Marcos
não	usou	de	artifícios	para	recomendar	a	figura	de	Jesus;	disse	com	simplicidade
o	que	sabia,	certo	de	que	não	era	preciso	"dourar	a	pílula"	para	apresentar	Jesus.
Este	 era	 aceito	 pelos	 cristãos	 como	 Deus	 e	 homem.	 -	 Verifica-se	 que
precisamente	 os	 apócrifos	 tentam	 embelezar	 ao	 máximo	 a	 figura	 de	 Jesus
atribuindo-lhe	 atitudes	 maravilhosas	 e	 fantasistas,	 como	 se	 a	 fé	 em	 Jesus
necessitasse	de	tais	artifícios;	estes	são	evidentes	sinais	da	não-historicidade	das
narrações	apócrifas,	ao	passo	que	a	simplicidade	de	Mc	abona	a	historicidade	e
fidelidade	do	evangelista.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	É	 este	mesmo	Marcos	que	 apresenta	 Jesus	 como	Deus	 com	clareza
surpreendente.	Assim,	por	exemplo,
												em	1,1:	"início	do	Evangelho	de	Jesus	Cristo,	Filho	de	Deus";
												em	1,11;	9,7	é	o	Pai	celeste	quem	proclama	Jesus	seu	Filho	bem-amado;
												em	13,32;	14,62:	Jesus	mesmo	se	diz	o	Filho	de	Deus	bendito;
												em	2,5.10-12:	Jesusperdoa	os	pecados,	e	faz	um	milagre	para	provar	que
Ele	pode	usar	desta	prerrogativa	de	Deus.
	
												Para	comprovar	a	Divindade	de	Jesus	assim	professada,	Marcos	deixou
falar	a	linguagem	dos	fatos:	Jesus	em	Mc	aparece	a	imperar	à	doença,	à	morte,
aos	 demônios,	 aos	 homens,	 às	 forças	 da	 natureza,	 suscitando	 repetidamente
admiração	nos	espectadores.
	
												3.	Em	Mc	Jesus	é	apresentado	como	o	Leão	da	Tribo	de	Judá.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	tradição	atribuiu	a	Marcos	o	símbolo	do	 leão.	Realmente,	o	Cristo
descrito	por	S.	Marcos	é	o	"Leão	da	tribo	de	Judá"	(Ap	5,5);	é	o	Lutador	forte
por	 excelência.	 Isto	 se	 percebe	 desde	 o	 inicio	 do	 segundo	 Evangelho:	 após	 o
Batismo	de	Jesus,	Mc	reúne	cinco	casos	de	conflito	do	Senhor	com	os	fariseus
(2,1-3,6),	após	os	quais	resolvem	condenar	à	morte	o	Mestre	(3,6).	Assim	desde
3,6	 Jesus	 é	 atingido	 pela	 sentença	 de	morte;	 daí	 por	 diante	 ele	 trava	 a	 luta	 da
vida	contra	a	morte.
	
												Observem-se	os	cincos	casos:
												1)	2,1-12:	os	adversário	agridem	Jesus	por	pensamentos;	cf.	Mt	9,1-8;
												2)	2,13-17:	agridem	os	discípulos	de	Jesus;	cf.	Mt	9,9-13;
												3)	2,18-22:	agridem	Jesus	a	respeito	dos	discípulos;	cf.	Mt	9,14-17;
												4)	2,23-28:	agridem	Jesus	a	respeito	dos	discípulos;	cf.	Mt	12,1-8;
												5)	3,1-6:	tramam	a	morte	de	Jesus;	cf.	Mt	12,9-14.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Para	 enfatizar	 a	 tragicidade	 da	 vida	 de	 Jesus,	Marcos	 reuniu	 numa
seqüência	única	(2,1-3,6)	dois	blocos	de	conflitos	que	em	Mt	ficaram	separados
(cf.	Mt	9,1-17	e	Mt	12,1-14).
	
												A	figura	de	Jesus,	tratada	tão	vivazmente	pelo	2o	Evangelho,	toma	um
caráter	de	grandeza	e	heroísmo	notáveis.
	
												Para	aprofundamento:
												BALLARÍNI,	T.,	Introdução	à	Bíblia	IV.	Ed.	Vozes,	Petrópolis,	1972.
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	Os	Evangelhos	(I).	Ed.	Loyola
1990.
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	DE	LA	CALLE,	FR.,	A	Teologia	de	Marcos.	Ed.	Paulinas,	São	Paulo
1978.
												DELORME,	J.,	Leitura	do	Evangelho	segundo	Marcos.	Ed.	Paulinas,	São
Paulo	1982.
	
*	*	*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Que	relacionamento	tinha	Marcos	com	S.	Pedro	e	com	S.	Paulo?
												2)	Cite	e	explique	um	testemunho	antigo	em	favor	de	Marcos	autor	do	2o
Evangelho.
												3)	Como	Pedro	é	tratado	no	2o	Evangelho?
												4)	Como	é	que	Mc	apresenta	aos	seus	leitores	as	tradições	judaicas?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 5)	 Que	 tipo	 de	 pagãos	 convertidos	 eram	 os	 destinatários	 de	Mc?
Explique.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 6)	 Compare	 entre	 si	Mc	 e	Mt	 em	 três	 episódios	 comuns	 aos	 dois
Evangelistas.
												7)	Indique	algumas	características	de	Jesus	segundo	Mc.
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	8)	Como	é	que	Mc	apresenta	a	humanidade	e	a	Divindade	de	Jesus?
Explique.
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Corista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MÓDULO	 IV:	EVANGELHO	SEGUNDO
LUCAS
	
	
Lição	l:	Lucas,	autor	do	3o	Evangelho
	
	
												1.	S.	Lucas	não	era	judeu,	mas	gentio	de	Antioquia	da	Síria;	cf.-Cl	4,10-
14.	Era	homem	culto	e	formado	em	medicina.	Não	se	pode	dizer	com	segurança
quando	 se	 converteu	 ao	Cristianismo.	Associou-se	 a	 São	 Paulo	 em	 trechos	 da
segunda	e	da	terceira	viagens	missionárias;	cf.	At	16,10-37;	20,5-21,18.	Em	60
embarcou	com	Paulo	para	Roma	(At	27,1-28,16),	permanecendo-lhe	fiel	durante
o	primeiro	cativeiro	(cf.	Cl	4,14;	Fm	24):	Acompanhou	o	Apóstolo	também	no
segundo	cativeiro	romano;	cf.	2Tm	4,11.
	
												2.	A	este	discípulo	a	Tradição	atribui	o	3o	Evangelho.	Eis	o	testemunho
de	um	dos	prólogos	latinos	anteposto	ao	3o	Evangelho	em	fins	do	séc.	II:
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 "Lucas	 foi	 sírio	 de	 Antioquia,	 de	 profissão	 médica,	 discípulo	 dos
Apóstolos;	mais	 tarde	 seguiu	 Paulo	 até	 a	 confissão	 (martírio)	 deste,	 servindo
irrepreensivelmente	 ao	 Senhor.	 Nunca	 teve	 esposa	 nem	 filhos;	 com	 oitenta	 e
quatro	anos	morreu	na	Bitínia,	cheio	do	Espírito	Santo.	Já	tendo	sido	escritos	os
Evangelhos	de	Mateus,	na	Bitínia,	e	de	Marcos,	na	Itália,	impelido	pelo	Espírito
Santo,	 redigiu	 este	 Evangelho	 nas	 regiões	 da	 Acaia,	 dando	 a	 saber	 logo	 no
inicio	que	os	outros	(Evangelhos)	já	haviam	sido	escritos".
	
												Estes	dizeres,	simples	e	claros,	resumem	os	principais	dados	da	Tradição
sobre	o	assunto.
	
												3.	Vejamos	o	que	o	próprio	texto	permite	depreender	a	respeito	do	seu
autor:
	
												a)	certamente	a	linguagem	grega	de	S.	Lucas	é	a	de	um	homem	culto
dotado	de	vocabulário	variado	(261	palavras	próprias	dentro	do	N.T.).	Corrige	as
construções	difíceis	de	São	Marcos;	cf.	Mc	4,25	e	Lc	8,18.
	
												b)	O	autor	parece	perito	em	medicina,	a	ponto	de	manifestar	seu	"olho
clínico"	nas	seguintes	passagens:
												-	é	o	único	a	referir	o	suor	sanguíneo	de	Jesus	(22,44);
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	muito	abranda	o	 juízo	pessimista	que	Mc	5,25.29	profere	 sobre	os
médicos;	cf.	Lc	8,43s;
												-	os	sintomas	dos	enfermos	são	descritos	com	particular	atenção	em	Lc
8,27-29;	9,38s;	13,11-13;	4,38	(cf.	Mc	1,30);
												-	o	3o	Evangelho	apresenta	Jesus	como	o	Médico	Divino;	cf.	Lc	4,23;
5,17	 (comparar	com	Mt	9,1	e	Mc	2,1	 s);	6,18s;	9,1s.11.	Somente	em	Lc	Jesus
restitui	a	orelha	de	Maíco	amputada	no	Getsêmani	(cf.	Lc	22,50s;	Mi	26,51;	Mc
14,47s;	Jo	18,1	Os).
	
												c)	O	3o	Evangelho	apresenta	notável	afinidade	de	linguagem	e	doutrina
com	o	epistolário	paulino.	Cerca	de	103	vocábulos	são	comuns	a	Paulo	e	Lc,	e
alheios	aos	outros	escritos	do	N.T.
	
												O	3o	Evangelho	terá	sido	escrito	por	volta	de	70,	com	vistas	aos	pagãos
convertidos	ao	Cristianismo.	Estes	parecem	representados	pelo	"Excelentíssimo
Senhor	Teófilo",	ao	qual	S.	Lucas	dedica	seu	Evangelho	(1,3).
	
	
Lição	2:	Destinatários	e	plano	de	Lc
	
												1.	Escrevendo	para	pagãos	convertidos,	Lucas
												-	omitiu	particularidades	da	história	que	só	interessavam	aos	judeus:	as
alusões	à	Lei	de	Moisés	(cf.	Mt	5,21-48),	o	uso	das	purificações	rituais	(cf.	Lc
11,38	e	Mc	7,1-23;	Mt	15,1-20);
												-	referiu	com	carinho	o	que	era	favorável	aos	gentios:	3,14;	7,2-10;10,30-
37	(o	bom	samaritano);	17,11-19	(o	leproso	samaritano...);
												-	menciona	com	solenidade	as	autoridades	romanas:	2,1	s;	3,1;
												-	silenciou	tudo	o	que	em	Mt	e	Mc	podia	ser	penoso	para	os	não-judeus:
assim,	por	 exemplo,	Lc	usa	a	palavra	 "pecadores"	 (6,33),	 em	vez	de	 "gentios"
(Mt	5,47)
	
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2.	A	catequese	tradicional	seguia	o	plano	traçado	por	S.	Pedro	na	sua
primeira	 pregação	 (At	 1,22):	 ministério	 do	 Batista,	 pregação	 de	 Jesus	 na
Galiléia,	subida	a	Jerusalém	(relato	breve),	morte	e	exaltação	do	Senhor.	Marcos
seguiu	fielmente	este	esquema;	Lucas,	sem	o	abandonar,	quis	enriquecê-lo.	É	o
que	passamos	a	ver:
	
												Iniciou	as	suas	narrativas	no	templo	de	Jerusalém	(1,8s),	e	terminou-as	lá
também	 (24,52).	 Jesus	 começa	 a	 pregar	 na	Galiléia,	mas	 toda	 a	 sua	 atividade
tende	para	Jerusalém,	teatro	da	exaltação	final	do	Senhor.	Em	conseqüência
												-	na	história	das	tentações	de	Jesus	inverte	a	ordem	de	Mt,	colocando	a
tentação	referente	ao	templo	em	terceiro,	e	não	em	segundo	lugar	(cf.	Lc4,1-13	e
Mt4,l-11):	 assim	 Jesus	 no	 início	 do	 seu	 ministério	 publico	 triunfa	 sobre	 o
demônio	 em	 Jerusalém	 como	 ai	 há	 de	 triunfar	 definitivamente	 no	 fim	 da	 sua
vida;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	 em	Lc	9,51	 Jesus	 inicia	 solene	viagem	para	 Jerusalém:	 "Como	 se
aproximasse	o	tempo	em	que	havia	de	ser	arrebatado1	deste	mundo,	Jesus	tomou
resolutamente	o	caminho	de	Jerusalém".
												1	-Arrebatado	=	elevado	gloriosamente.	Páscoa!
	
												Essa	viagem	só	termina	em	Lc	19,28.acompanhar
nossas	aulas
	
A	Redação
	
*	*	*
	
	
												Amanuense:	a	pessoa	que	escreve	quanto	lhe	é	ditado	por	outrem,	sem	colocar	algo	de	próprio.	Ver
autor.
	
												Apócrifo:	em	grego,	apókryphos	quer	dizer	oculto.	Tal	era	o	livro	não	lido	em	assembléia	pública
de	culto,	mas	reservado	à	leitura	particular.	Apócrifo	opõe-se	a	canônico,	pois	canônico	era	o	livro	lido	no
culto	público,	porque	considerado	Palavra	de	Deus	inspirada	aos	homens.	Ver	inspiração.
	
												Apócrifo	não	tem	necessariamente	sentido	pejorativo.	É	simplesmente	o	texto	que,	por	um	motivo
qualquer,	não	era	de	uso	público;	pode	conter	verdades	históricas,	como	a	da	Assunção	corporal	de	Maria
SS.	aos	céus.
	
												Apocalipse:	do	grego	apokálypsis,	revelação.	É	um	gênero	literário	ou	um	modo	de	redigir	escritos
que	 tem	as	seguintes	características:	 imagina	o	 fim	da	história,	por	ocasião	do	qual	o	Senhor	virá	à	 terra
sensivelmente	para	julgar	os	homens	e	restaurar	a	ordem	violada.	Esse	aparecimento	de	Deus	é	assinalado
por	sinais	no	mundo,	abalo	da	natureza,	catástrofes...	Tal	gênero	literário	recorre	freqüentemente	a	símbolos
e	 imagens,	que	devem	ser	 interpretados	 segundo	critérios	objetivos	ou	de	acordo	com	a	mentalidade	dos
escritores	antigos.	Determinado	símbolo	podia	significar	uma	coisa	para	os	antigos	e	pode	significar	outra
para	os	modernos.
	
												Apocalipse	de	São	João	é	o	nome	de	um	apocalipse,	que	vem	a	ser	o	último	livro	da	Bíblia.	Há,
entre	os	apócrifos,	o	Apocalipse	de	Henoque,	o	de	Elias...
	
												Aramaico:	língua	dos	filhos	de	Aram	(cf.	Gn	10,22),	muito	próxima	do	hebraico.	Tornou-se	língua
diplomática	ou	internacional	no	Oriente	antigo	a	partir	do	V	a.	C.	Os	judeus	após	o	exílio	(587-538	a.C.)	a
adotaram	como	língua	corrente,	 reservando	o	hebraico	para	o	culto	sagrado,	Havia	o	dialeto	aramaico	de
Jerusalém	e	o	da	Galiléia	(cf.	Mt	26,73).	Jesus	e	seus	discípulos	falavam	aramaico.
	
												Autor:	a	pessoa	que	concebe	idéias	ou	o	conteúdo	de	determinado	escrito;	é	o	responsável	supremo
pelo	teor	do	seu	livro.	Tal	é	o	caso	de	São	Paulo	em	relação	a	1/2	Ts,	Gl,	1	Cor...
	
												Em	alguns,	casos	na	antiguidade,	o	autor	não	escrevia	diretamente,	mas	ditava	a	um	companheiro,
que	escrevia.	Este	era	chamado	escriba	ou	amanuense.	Ver	escriba.
	
												Em	outros	casos,	o	autor	não	ditava,	mas	deixava	ao	companheiro	a	tarefa	de	compor	e	exprimir	as
idéias	do	autor.	Tal	companheiro	então	se	chamava	redator,	pois	era	ele	quem	redigia	a	mensagem	do	autor.
Há,	por	exemplo,	quem	admita	que	Hb	teve	como	autor	São	Paulo	e,	como	redator,	um	discípulo	de	Paulo,
como	seria	Apolo	ou	Barnabé.
												Bíblia:	a	palavra	vem	do	grego	bíblos,	livro.	O	diminutivo	é	bíblion,	livrinho,	que	no	plural	faz
bíblia	livrinhos.	O	diminutivo	perdeu	sua	força	própria	com	o	passar	do	tempo,	de	modo	que	bíblia	ficou
sendo	simplesmente	o	mesmo	que	livros.	A	Bíblia	é,	pois,	etimologicamente	falando,	uma	coleção	de	livros.
	
												Bispo:	é	o	sacerdote	que	mais	participa	do	sacerdócio	de	Cristo,	estando	colocado	no	grau	supremo
do	sacramento	da	Ordem.	Abaixo	dele	vêm	os	presbíteros	e,	a	seguir,	os	diáconos.
	
												Enquanto	os	Apóstolos	viviam,	eram	eles	os	pastores	ambulantes	de	toda	e	qualquer	comunidade
cristã.	 Em	 cada	 uma	 destas	 instituíam	 um	 colegiado	 de	 presbíteros	 (=	 anciãos:	 em	 grego),	 também
chamados	"superintendentes"	ou	"vigilantes"	(epískopoi,	em	grego);	cf.	At	14,23:	11,30;	Ti	1,5;	Fi	1,1;	At
20,17.28.	 Governavam	 a	 comunidade	 sob	 a	 jurisdição	 dos	 Apóstolos.	 Com	 a	 morte	 dos	 Apóstolos,	 as
comunidades	 passaram	 a	 ser	 governadas	 por	 um	 pastor	 residente,	 escolhido	 dentre	 os	 presbíteros	 ou
epíscopos	(superintendentes).	Esse	pastor	supremo	local	ficou	exclusivamente	com	o	nome	de	epíscopo	(=
bispo),	 ao	 passo	 que	 os	 membros	 do	 colegiado	 subalterno	 ficaram	 sendo	 chamados	 exclusivamente
presbíteros	 (=	 padres,	 no	 sentido	 de	 hoje).	 No	 inicio	 do	 século	 II,	 isto	 é,	 nas	 cartas	 de	 S.	 Inácio	 de
Antioquia(†	107)	se	registra	a	existência	do	episcopado	monárquico	como	ele	é	hoje.
	
												Cânon:	do	grego	kanná,	caniço.	Significa	medida,	régua;	em	sentido	metafórico,	designa	regra	ou
norma	de	vida	(cf.	Gl	6,16).	Os	antigos	falavam	do	cânon	da	fé	ou	da	verdade,	para	designar	a	doutrina
revelada	por	Deus,	que	era	critério	para	julgar	qualquer	doutrina	humana	e	para	nortear	a	vida	dos	cristãos.
Derivadamente	 cânon	 significava	 também	 catálogo,	 tabela,	 registro;	 neste	 ultimo	 sentido	 os	 cristãos
passaram	a	falar	do	cânon	bíblico	ou	da	Bíblia	(=	catálogo	dos	livros	bíblicos).
	
												Protocanônico	é	o	livro	que	sempre	pertenceu	ao	cânon	ou	catálogo.	Deuterocanônico	é	o	escrito
que	 primeiramente	 foi	 controvertido	 e	 só	 depois	 entrou	 definitivamente	 no	 cânon	 sagrado.	 Próton	 =
primeiro	(da	primeira	hora).		Déuteron	=	segundo	(em	segunda	instância).
	
												Carisma:	do	grego	chárisma,	quer	dizer	dom	em	geral.	Já	nas	epístolas	de	São	Paulo	carisma	é	dom
para	tal	ou	tal	tipo	de	serviço;	cf.	1Cor	12,7;	14,26-31;	Ef	4,12-16.	O	dom	das	línguas,	por	exemplo,	nada
vale	se	não	há	quem	as	interprete	para	o	serviço	e	a	edificação	dos	ouvintes;	cf.	1Cor	14,5-13.	Existem	os
carismas	da	profecia,	das	curas,	do	governo,	do	apostolado...	Mas	o	melhor	carisma	é	o	da	caridade	(ágape),
que	não	produz	espalhafato,	mas	tudo	perdoa,	tudo	crê,	tudo	suporta	(1Cor	13,7).	Muitos	carismas	nada	têm
de	portentoso:	o	de	assistir	aos	enfermos,	o	de	educar	crianças,	o	de	instruir	os	ignorantes,	o	de	liderar	um
grupo...
	
												Catecúmeno:	pessoa	submetida	à	catequese	ou	ao	ensinamento	sistemático	da	fé	cristã.	Geralmente
o	catecumenato	precedia	o	batismo	de	adultos	e	foi	rigorosamente	aplicado	até	o	século	V.
	
												O	catecumenato	e	a	catequese	supunham	o	kérygma	ou	querigma,	anuncio	sumário	e	muito	vivaz
da	 Boa-Nova	 de	 Jesus	 Cristo;	 quem	 aderisse	 a	 essa	 mensagem	 breve,	 era	 levado	 à	 catequese.	 Como
exemplos	de	querigma,	 temos	os	discursos	de	S.	Pedro	em	At	2,14-36;	3,11-26;	4,8-12;	5,29-32...	Como
exemplo	de	catequese,	citem-se	Mt	5-7	(o	sermão	da	montanha),	Mt	13	(as	sete	parábolas	do	Reino),	Lc	15
(as	três	parábolas	da	misericórdia)...
	
												Chalom:	palavra	hebraica	que	significa	Paz.	Em	hebraico,	tem	sentido	muito	mais	rico	do	que	em
português:	não	significa	apenas	"ausência	de	guerra",	mas	"bem-estar,	harmonia	do	homem	com	Deus,	com
a	 natureza	 e	 consigo	 mesmo".	 Os	 profetas	 bíblicos	 tinham	 consciência	 de	 que	 o	 pecado	 introduzira	 a
desordem	no	mundo;	em	conseqüência	anunciavam	a	Paz;	esta	seria	o	grande	dom	do	Messias;	cf.	Mq	5,4;
Is	 9,5s.	No	Novo	Testamento,	 diz	 São	Paulo	 que	Cristo	 é	 a	 nossa	 Paz;	Ele	 fez	 de	 dois	 povos	 (judeus	 e
pagãos)	 um	 só	 povo	 ou	 um	 só	 corpo	 (Ef	 2,14-22).	 Por	 isto	 Cristo,	 vitorioso	 sobre	 a	 morte	 após	 a
ressurreição,	deixou	aos	Apóstolos	a	sua	paz,	junto	com	o	dom	do	Espírito	Santo	e	o	poder	de	perdoar	os
pecados	(cf,	Jo	20,19-23);	são	estes	que	se	opõem	à	paz	dos	homens	com	Deus	e	entre	si.	Temos	que	tornar
realidade	crescente	essa	paz	de	Cristo	na	 terra:	 "Bem-aventurados	os	que	promovem	a	paz,	porque	serão
chamados	filhos	de	Deus"	(Mt	5,9).	O	nome	da	cidade	"Jerusalém",	símbolo	da	bem-aventurança	final	(Ap
21,9-27),	é	interpretado	como	"Visão	da	Paz".
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Cheol:	os	 judeus	 chamavam	 cheol	um	 lugar	 subterrâneo,	 por	 eles	 imaginado,	 onde	 estariam,
inconscientes	 ou	 adormecidos,	 todos	 os	 indivíduos	 humanos	 após	 a	 morte.	 A	 terra	 era	 tida	 como	mesa
plana,	debaixo	da	qual	se
encontraria	a	"mansão	 dos	mortos';	 esta	 em	grego	 era	 chamada	Hades:	 em	 latim,	 inferni	 (da	 preposição
infra,	que	significa	abaixo;	donde	inferni	=	inferiores	lugares.
	
												Em	conseqüência,	os	antigos	judeus	não	podiam	admitir	retribuição	póstuma	nem	para	os	homens
bons	nem	para	os	infiéis,	pois	todos	se	achavam	inconscientes;	ver,	por	exemplo,	Jó	"-21s;	21,21;	Is	14,10;
38,18;	 63,18;Na	seção	de	9,51	-19,28	Lc	inseriu
muitos	 de	 seus	 episódios	 próprios	 (cf.	Lc	 1,3).	O	 autor	 repetidamente	 observa
que	Jesus	está	a	caminho	de	Jerusalém	(o	que	lhe	parece	muito	importante);	cf.
13,22;	17,11	;	18,31	;	19,11.28.
	
												Após	a	morte	e	ressurreição	de	Jesus	em	Jerusalém,	o	evangelista	omite
as	aparições	de	Jesus	na	Galiléia:	Jesus	mesmo	dá	ordem	para	que	os	discípulos
"fiquem	na	cidade	santa	até	serem	revestidos	da	força	do	Alto"	(cf.	Lc	24,49).	Os
Apóstolos	cumprem	esta	ordem,	de	modo	que	o	fim	do	Evangelho	corresponde
ao	começo.
	
												Pergunta-se:	por	que	Lc	quis	assim	orientar	todo	o	seu	Evangelho?	Qual
a	razão	deste	direcionamento?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	Eis	a	 resposta:	assim	como	Mateus	apresentou	Jesus	como	o	novo
Moisés,	Lc	quis	descrever	Jesus	como	o	novo	Elias	ou	o	novo	Profeta.	Ora	uma
das	características	do	Profeta	é	morrer	em	Jerusalém,	como	diz	o	próprio	Jesus
(cf.	Lc	13,33).	Tal	é	a	chave	da	estrutura	do	Evangelho	de	Lucas.	Observemos
que	 Jesus	 em	Lc	aparece	 freqüentemente	 como	"um	grande	Profeta"	 (cf.	 4,24;
7,16.39;	 9,8;	 13,33;	 24,19);	 Jesus	 mesmo	 comparou	 a	 sua	 sorte	 com	 a	 dos
profetas	Elias	e	Eliseu	(cf	4,24-27).
	
												Como	se	compreende,	"profeta",	no	caso,	não	quer	dizer	"mero	homem
dotado	de	graças	especiais",	mas,	sim,	o	Messias	Aguardado,	que,	na	mente	de
São	Lucas,	era	o	Filho	de	Deus	feito	homem	(cf.	Lc	1,32-35).
	
	
Lição	3:	O	estilo	de	Lc
	
												Culto	como	era,	S.	Lucas	apresenta	certo	esmero	literário:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1.	Observem-se,	por	exemplo,	as	antíteses,	das	quais	sobressai	muito
melhor	o	ensinamento	de	Jesus:
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Lc	1,11	-22	e	1,26-38:	duas	aparições	do	anjo	e	dois	anúncios:	um	a
Zacarias,	 que,	 incrédulo,	 perde	 a	 fala;	 o	 outro	 a	 Maria,	 que,	 cheia	 de	 fé,
prorrompe	em	cântico	profético;
												Lc	7,	36-50:	a	pecadora	penitente,	agradecida;	o	fariseu,	confiante	em	si,
repreendido;
												Lc	10,	38-42:	Marta	ativa	e	Maria	contemplativa;
												Lc	17,	11-18:	dez	leprosos	curados,	dos	quais	o	único	samaritano	é	grato
ao	Senhor;
												Lc	18,	9-14:	a	oração	do	fariseu	e	a	do	publicano;
												Lc	23,	39-43:	os	dois	ladrões	em	torno	de	Jesus.
	
												Estes	episódios	são	todos	próprios	do	3o	Evangelho	e	bem	mostram	o
gosto	literário	do	autor.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2.	S.	Lucas	 também	quis	consignar,	como	passagens	próprias	do	seu
Evangelho,	 episódios	 e	 traços	 que	 evocam	 nobres	 afetos:	 a	 parábola	 do	 filho
pródigo	 (Lc	 15,11-32),	 a	 história	 da	 pecadora	 anônima	 compreendida	 pelo
Senhor	(7,36-50),	a	ressurreição	do	filho	da	viúva	de	Naim	(7,11-17),	o	colóquio
de	Jesus	com	os	discípulos	de	Emaús	(24,13-35).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	De	modo	especial,	Lc	deu	relevo	às	 figuras	 femininas,	delas	 fazendo
autêntico	 sinal	 de	 realidades	 religiosas.	 Assim,	 a	 mãe	 abençoada,	 Elisabete
(1,23-25.39-45.57s),	a	virgem	e	mãe	Maria	(cc.	1-2),	a	viúva	em	quatro	figuras
(2,56-38;	 7,11-17;	 21,1-4;	 18,1-8),	 a	 pecadora	 infame	 recuperada	 (7,36-50),	 a
mulher	apóstola	(8,1-3).	Esta	valorização	da	mulher	chama-nos	a	atenção,	pois,
ao	 mesmo	 tempo	 que	 Lucas,	 vivia	 Sêneca,	 filósofo	 estóico,	 que	 escrevia	 a
respeito	da	mulher:	"é	animal	sem	pudor	e...	feroz,	que	não	domina	suas	cobiças"
(De	constantia	sapientis	XIV	1).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 3.	 Conseqüentemente,	 Lucas	 quis	 omitir	 ou	mitigar	 traços	 que	 na
catequese	anterior	lhe	pareciam	demasiado	duros:
												-a	repreensão	de	Pedro	por	parte	de	Jesus;	cf.	Mc	8,31-33;	Mt	16,21-23	e
Lc9,22;
												-	o	morticínio	de	João	Batista;	cf.	Mc	6,17-29:	Mt	14.3-12	e	Lc	3,19s;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	-	os	escarros	infligidos	a	Jesus;	cf.	Mc	14,65;	Mt	26,G7s;	27,30	e	Lc
22,63s;
												-	a	flagelação	e	a	coroação	de	espinhos;	cf.	Mc	15,15-20	e	Lc	23,23s;
												-	a	expulsão	dos	vendilhões	do	Templo	é	sumariamente	mencionada;	cf.
Mc	11,15-17;	Mt	21,12s;Jo	2,13-22	e	Lc	19,45s;
												-	na	história	da	Paixão	Pilatos	é	poupado	o	mais	possível;	cf.	Lc	23,25	e
Mc	15,15;	Mt	27,26.
	
	
Lição	4:	A	mensagem	de	Lc
	
												S.	Mateus	apresentava	Jesus	como	o	Mestre	notável	por	seus	sermões;	S.
Marcos	 o	 descreveu	 como	 o	 herói	 admirável	 por	 seus	 feitos.	 Lucas	 se	 detém
mais	 nos	 traços	 pessoais	 e	 delicados	 da	 alma	 de	 Jesus,	 o	 que	 torna	 o	 3o
Evangelho	alimento	substancioso	da	vida	espiritual.
	
												1.	Lc	=	Evangelho	da	salvação	e	da	misericórdia
	
												1.	Tenhamos	em	vista	a	genealogia	de	Jesus	conforme	Lc	3,23-38:	Jesus
é	apresentado	não	apenas	como	Filho	de	Abraão	e	Filho	de	Davi	 (cf.	Mt	1,1),
mas	como	filho	de	Adão	(Lc	3,38).	Isto	quer	dizer	que	Ele	é	irmão	de	todos	os
homens	(judeus	e	gentios);	Ele	é	o	Salvador	de	todos.
	
												Observemos	também	o	episódio	de	Lc	2,1-11.	Abre-se	com	a	menção	de
César	Augusto	e	do	seu	decreto	de	recenseamento	universal;	é	sobre	este	pano
de	fundo	que	o	Evangelista	introduz	a	figura	de	Jesus	recém-nascido	e	anunciado
pelos	anjos	como	o	Cristo	Senhor	e	Salvador	(2,10s),	Tal	apresentação	constituía
o	 autêntico	 "Evangélion"	 (Boa-Nova)	 num	 mundo	 em	 que	 todos	 os	 cidadãos
aguardavam	os	precários	"Evangelia"	(mensagens	de	paz	e	bonança)	dos	Césares
Romanos.
	
												Comparemos	entre	si	Mt	3,3;	Mc	1,2s	e	Lc	3,4-6:	a	mesma	profecia	de	Is
40,5	é	citada,	com	um	acréscimo	peculiar	a	Lc.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	As	 palavras	 finais	 de	 Jesus	 fazem	 ressoar	 a	mensagem	da	 salvação
universal:	Lc	24,46s.
												2.	O	Salvador	de	todos	é	também	o	portador	do	grande	perdão.	É	o	que
se	depreende	especialmente	de	Lc	15,	onde	três	parábolas	concatenadas	afirmam
a	condescendência	de	Deus,	recorrendo	mesmo	a	refrões;	Lc	15,7,10.24.32.
	
												Jesus	dá	o	exemplo	do	perdão	em	7,36-50	(a	pecadora	agraciada),	em
13,10-17	 (a	 mulher	 encurvada),	 em	 19,1-10	 (Zaqueu,	 o	 publicano),	 em	 23,34
("não	sabem	o	que	fazem"),	em	23,39-43	(o	bom	ladrão).
	
												S.	Lucas	não	refere	o	episódio	da	figueira	amaldiçoada	(cf.	Mc	11,12-
14.20-25	e	Mt.	21,18-22),	mas	narra	outro	episódio,	em	que	a	figueira	é	objeto
de	misericórdia:	13,6-9	(parábola	própria	de	Lc).
	
												Por	conseguinte,	não	sem	motivo	S.	Lucas	foi	chamado	"o	escritor	da
mansidão	de	Cristo"	(Dante	Alighieri).
	
2.	Lc	=	Evangelho	do	Espírito	Santo	e	da	oração
	
												O	Espírito	Santo	era	o	dom	prometido	pelos	profetas	como	fruto	da	vinda
do	Messias.
	
												Ora	em	todo	o	3o		Evangelho	é	enfatizada	a	constante	ação	do	Espírito
Santo:	 Lc	 1,15.35.41.67;	 2,25-27;	 3,16.22;	 4,1.14.18;	 10,21;	 11,13;	 12,10.12;
24,49	(o	mesmo,	aliás,	se	dá	no	livro	dos	Atos	dos	Apóstolos).
O	Espírito	é	o	inspirador	da	oração	(cf.	Rm	8,26).	Por	isto	Lc	é	também,	muito
mais	do	que	Mt	e	Mc,	o	mensageiro	da	oração.
	
												Encontram-se	um	bloco	de	ensinamentos	sobre	a	oração	em	Lc	11,1-13,	e
duas	parábolas	em	Lc	18,1-8	(a	viúva)	e	18,9-14	(o	fariseu	e	o	publicano).
	
												Além	disto,	Jesus	dá	o	exemplo	da	oração.	Os	três	sinóticos	referem	que
Ele	 orou	 no	 Horto	 das	 Oliveiras	 (Mt	 26,39;	 Mc	 14,35;	 Lc	 22,42);	 Marcos
acrescenta	que	Ele	se	 retirou	ao	deserto	para	 rezar	 (1,35).	Somente	Lc	nos	diz
que	 Jesus	 rezou	 em	nove	outras	 ocasiões:	 3,21;	 5,16;	 6,12;	 9,18;	 9,28s;	 11,1s;
22,32;	23,34.46.
	
												Também	Lc	é	o	único	a	consignar	os	quatro	cânticos	solenes	da	Liturgia:
o	 de	Maria	 SS.	 (1,46-55),	 o	 de	 Zacarias	 (1,68-79),	 o	 dos	 anjos	 (2T14)	 e	 o	 de
Simeão	(2,29-32).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Sendo	assim,	 entende-se	que	uma	das	 expressões	mais	 usuais	 do	3o
Evangelho	(não	ocorrente	em	Mt	e	Mc)	é	"louvar	a	Deus";	cf.	1,64;	2,13.20.28;
18,43	(cf.	Mc	10,52);	19,37(cf.	Mc	11,7-10);	24,53.
	
3.	Lc	=	o	Evangelho	da	pobreza	e	da	alegria
	
												A	pobreza	ou	simplicidade	de	vida	como	quadro	dentro	do	qual	o	espírito
é	livre	de	apegos	e	paixões	era	estimada	desde	o	exílio	dos	judeus	na	Babilônia
(Jeremias	dá	início	à	escola	dos	pobres,	anawim,	no	séc.VI	a.	C.).
	
												Ora	Jesus	dá	o	exemplo	e	transmite	os	ensinamentos	de	tal	pobreza:	Lc
9,58	(não	tem	onde	reclinar	a	cabeça);	2,7	(uma	mangedoura);	2,24	(a	oferta	dos
pobres);	2,8.12	(anunciado	aos	pastores).
	
												Ao	proclamar	as	bem-aventuranças,	Jesus	em	Lc	se	refere	a	situações	de
desconforto:	pobreza	material,	fome	material,	pranto,	perseguição	(cf.	6,20-24);
em	 Mt	 5,1-13	 as	 bem-aventuranças	 se	 referem	 primeiramente	 a	 atitudes
interiores	ou	a	qualidades	éticas.	Ora	 Jesus	certamente	acentuou	a	 importância
do	quadro	exterior	pobre,	indispensável	para	que	a	virtude	possa	florescer,	e	S.
Lucas	fez-se	arauto	deste	aspecto	das	bem-aventuranças,	ao	passo	que	S.	Mateus
quis	 mostrar	 que	 o	 quadro	 exterior	 (a	 pobreza,	 a	 fome)	 nada	 vale	 se	 não	 é
vivificado	por	virtudes	(pobreza	de	coração,	fome	e	sede	de	justiça).
	
												Em	Lc	12,16-21;	16,1-9	e	16,19-31	são	apresentadas	três	parábolas	de
"perspectiva	 sapiencial":	 incutem	 a	 compreensão	 exata	 dos	 bens	 que	 esta	 vida
oferece;	só	merecem	a	estima	do	cristão	se	são	capazes	de	o	levar	à	vida	eterna.
A	posse	de	riquezas	pode	acarretar	surpresa	ou	inversão	de	sortes	para	quem	não
as	usa	sabiamente,	isto	é,	à	luz	da	eternidade.
	
												Em	Lc	8,1-3e	19,8s	aparecem	respectivamente	as	mulheres	generosas	e
Zaqueu	como	tipos	daqueles	que	sabem	fazer	bom	uso	de	seus	haveres.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Ao	 mesmo	 tempo	 que	 recomendava	 o	 desapego,	 Lucas	 apregoou
também,	mais	que	nenhum	evangelista,	a	alegria.	Tenhamos	em	vista	os	cantos
de	Maria	(1,46-55),	Zacarias	(1,68-79),	Simeão	(2,28-32),	a	mensagem	dos	anjos
aos	 pastores	 (2,10s).	 Vejam-se	 ainda	 10,20s;	 13,17;	 19,37.	 O	 livro	 se	 encerra
referindo	 a	 alegria	 dos	 Apóstolos,	 que	 aguardavam	 o	 Espírito	 prometido
(24,52s).
	
												Para	aprofundamento:
	
												BALLARINI,T.,	Introdução	à	Bíblia	IV.	Ed.	Vozes,	Petrópolis	1972.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	Os	Evangelhos.	Ed.	 Loyola
1990.
												GEORGE	A.,	Leitura	do	Evangelho	segundo	Lucas.	Ed.	Paulinas,	São
Paulo	1982.
												PIKAZA,	J.,	A	Teologia	de	Lucas.	Ed.	Paulinas,	São	Paulo	1978.
	
	
*				*				*
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	S.	Lucas	foi	um	dos	doze	apóstolos?	Explique
												2)	Quais	são	os	indícios	de	interesse	médico	próprio	de	Lc?
												3)	Como	S.	Lucas	tratou	os	pagãos	no	seu	Evangelho?
												4)	Qual	o	papel	atribuído	por	Lc	à	cidade	de	Jerusalém?	Por	que	assim
procedeu?
												5)	Cite	e	explique	três	das	antíteses	de	Lc.
												6)	Que	papel	desempenha	a	mulher	em	Lc?
												7)	Qual	a	atitude	de	Lucas	diante	de	episódios	violentos?
												8)	Desenvolva	duas	das	características	da	mensagem	de	Lc.
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												1ª	SUBETAPA:	INTRODUÇÃO	AOS	EVANGELHOS
	
												MÓDULO	V:	EVANGELHO	SEGUNDO	SÃO
JOÃO
	
Lição	1:	O	autor	do	IV	Evangelho
	
												Nos	últimos	dois	séculos	discutiu-se	muito	a	autoria	do	IV	Evangelho:
tocaria	a	João,	filho	de	Zebedeu	e	Salomé	(cf.	Mc	15,40;	Mt	27,50;	Mt	20,20),
irmão	de	Tiago	o	maior	(cf.	Mc	1,16-20)?
	
												Depois	de	calorosamente	debater	o	assunto,	a	crítica	hoje	aceita	a	autoria
de	João	Apóstolo,	baseada	nas	seguintes	verificações,	tiradas	do	texto	do	próprio
Evangelho:
	
												1)	O	autor	do	IV	Evangelho	é	judeu	da	Palestina1.
												1	-	Distinto	do	Judeu	da	Palestina,	havia	o	Judeu	da	diáspora,	que	vivia	na	dispersão	ou	no
estrangeiro.
	
												Conhecia	bem	a	geografia	da	Palestina:	Caná	(2,1);	Enom,	junto	a	Salim
(3,23);	 Sicar	 (4,5);	 sinagoga	 de	 Cafarnaum	 (6,59);	 Efraim	 (11,54);	 Cedron	 e
Horto	 das	 Oliveiras	 (18,1);	 Gábata	 ou	 Litóstrotos	 (19,13),	 Betânia	 da
Transjordânia	e	Betânia	de	Lázaro	(1,28	e	11,18).
	
												Conhecia	bem	a	mentalidade	dos	judeus,	inconstantes	e	divididos	entre	si
como	 haviam	 sido	 outrora	 no	 deserto:	 10,19-21;	 7,12s;	 9,16.	 Alguns	 crêem
(2,23-25;	12,19.42),	enquanto	outros	se	endurecem	na	incredulidade	(7,5;	9,18).
Ora	 querem	 apedrejar	 Jesus	 (8,59;	 10,39)	 ou	 prendê-lo	 (10,39)	 ou	 matá-lo
(5,18;7,1),	ora	querem	aclamá-lo	Rei	(6,15).
	
												Conhecia	bem	as	festas	dos	judeus	e	seus	usos:	2,6.13;	4,9;	5,1;	6,4;	7,2;
11,55;	18-28.	Há	20	citações	do	Antigo	Testamento	no	IV	Evangelho.
	
												O	autor	usa	de	linguagem	grega	impregnada	de	vocábulos	e	expressões
semitas2:	Rabbi	(1,38;	20,16),	Messias	(1,41),	Kepha	(1,42),	Siloé	(9,7),	Gábata
(19,13),	Gólgota	(19,17).
												2	-	Semita,	no	caso,	quer	dizer	"hebraico"	ou	"aramaico"	(língua	muito	vizinha	ao	hebraico).
											
												Acrescentamos:
	
												2)	O	autor	foi	judeu	que	testemunhou	o	que	narra.
	
												Tenham-se	em	vista	as	alusões	ao	testemunho	ocular:	1,14;	19,35;	21,24;
também	1Jo	1,1	-4	(a	1Jo	parece	ter	sido	a	carta	que	acompanhava	e	apresentava
o	Evangelho).	Observem-se	as	minúcias	em	1,29-35.39;	2,1;	4,6.52;	6,19	(cf.	Mt
14,24s	e	Mc	6,47,	onde	a	distância	é	expressa	em	termos	mais	vagos).
	
												3)	O	autor	é	membro	da	comunidade	dos	Apóstolos,	chegado	a	Jesus.
	
												Conhecia	bem	as	atitudes	dos	Apóstolos:
												Pedro:	1,42;	6,68s;	13,6-9.24.36;	18,17;	20,2-10;	21,3.7-11.15-22.
												Filipe:	1,45s;	6,7;	12,21s;	14,8-10.
												Tomé:	11,16;	14,5;	20,24.26.28.
												Natanael:	1,46.48s.
												Judas	Tadeu:	14,22.
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esteve	presente	à	última	ceia,	da	qual	só	os	Apóstolos	tomaram	parte
com	Jesus:	13,4s.12	(observar	as	minúcias),	13,21-30	(anuncio	da	traição).
	
												O	autor	era	mesmo	o	"discípulo	que	Jesus	amava":	comparar	Jo	21,24
com	21,20	e	13,23.
	
												4)	Tal	amigo	de	Jesus	só	podia	ser	o	Apóstolo	São	João.
	
												Três	eram	os	discípulos	mais	chegados	a	Jesus:	Pedro,	Tiago	e	João	(cf.
Mc	5,37;	9,2;	14,33).
	
												Fica	excluído	Pedro,	pois	o	autor	se	distingue	de	Pedro:	ver	13,24;	18,15;
20,2;	 21,7.20.	 Ademais	 a	 redação	 do	 Evangelho	 supõe	 a	 morte	 de	 Pedro	 já
ocorrida;	cf.	21,18s.
	
												Também	Tiago	não	vem	ao	caso,	pois	sofreu	o	martírio	por	volta	de	44
(cf.	At	12,1	s),	ao	passo	que	o	4o	Evangelho	foi	redigido	depois	desta	data,	tendo
o	evangelista	chegado	a	avançada	idade	(Jo	21,22s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Donde	se	conclui	que	o	autor	do	4o	Evangelho	é	o	Apóstolo	S.	João,
como,	aliás,	atesta	a	tradição	cristã.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esta	conclusão	explica	que	o	4o	Evangelho	nunca	cite	pelos	nomes	o
Apóstolo	 João,	 seu	 irmão	 Tiago,	 e	 sua	 mãe	 Salomé,	 embora	 mencione	 com
freqüência	 os	 nomes	 de	 sete	 outros	 Apóstolos,	 como	 se	 depreende	 do	 quadro
abaixo:
	
																																																		Jo								Mt											Mc											Lc
												Pedro																													40x						26x										25x										29x
												Filipe																													12x							—												—												—
												Judas	Iscariotes															8x								4x												2x												3x
												Tomé																															7x								—												—												—
												Natanael	(Bartolomeu)				6x								—												—												—
												André																														5x									1x											3x												—
												Judas	Tadeu																				1x									—												—												—
	
												Em	conseqüência,	todas	as	vezes	que	o	Precursor	João	é	mencionado	no
4o	Evangelho,	o	seu	nome	ocorre	sem	aposto,	como	se	não	houvesse	outro	João
com	 quem	 pudesse	 ser	 confundido;	 cf.	 Jo	 1,6.19.26.28.35;	 3.,23-27.	 Este
procedimento	 é	 estranho,	 pois	 o	 autor	 faz	 questão	 de	 diferenciar	 bem	 os	 seus
personagens	sempre	que	haja	dois	ou	mais	 indivíduoscom	o	mesmo	nome;	cf.
6,71;	14,22;	19,38s.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Visto	 que	 João	 gozava	 de	 grande	 autoridade	 na	 Igreja	 (cf.	Gl	 2,9),
pergunta-se:	quem	terá	ousado	assim	proceder	se	não	o	próprio	João?
	
												Uma	vez	provada	a	autoria	joanéia	do	4o	Evangelho,	perguntamos:	em
que	circunstâncias	foi	escrito?
	
Lição	2:	Circunstâncias	de	origem
	
1.	 	 	 	 	 	 O	 Evangelho	 segundo	 S.	 João	 foi	 escrito	 entre	 95	 e	 100	 d.C.,
provavelmente	em	Éfeso,	onde	S.	João	residia.
	
												Escrevendo	tão	tardiamente,
	
												a)	S.	João	não	quis	repetir	quanto	haviam	dito	os	sinóticos,	mas	supôs	os
escritos	de	Mt,	Mc	e	Lc.	Por	exemplo,	João	Batista	não	é	apresentado	(com	seu
gênero	 de	 vida,	 sua	 família...),	mas	 logo	 posto	 em	 atividade	 em	1,15.19-34;	 a
Mãe	de	Jesus	não	é	chamada	por	seu	nome	"Maria"	 (cf.	2,1;	19,25),	embora	o
evangelista	se	refira	a	outras	"Marias"	em	11,1;	19,25	e	20,1.	Nada	se	encontra
em	Jo	sobre	a	origem	humana	de	Jesus;	em	Jo	3,24	está	dito	que	"João	ainda	não
fora	encarcerado",	mas	não	é	narrado	o	encarceramento	de	João.	As	notícias	de
11,1	fazem	o	eco	a	Lc	10,38-42.	Em	Jo	11,2	há	alusão	a	Mc	14,2-9;
	
												b)	S.	João	escreveu	um	Evangelho	profundamente	meditado	e	teológico.
Escolheu	 alguns	 dados	 da	 tradição	 anterior,	 entre	 os	 quais	 sete	 milagres,
chamados	 "sinais"	 (2,1-11;	 4,46-54;	5,1-9;	 6,5-14;	 6,16-21;	 9,1-11;	 11,1-37);	 a
esses	 sinais	 acrescentou	 discursos	 de	 Jesus,	 que	 expõem	 a	 transcendência	 de
Deus	(Pai,	Filho	e	Espírito	Santo),	o	valor	do	Batismo	(c.	3),	da	Eucaristia	(c.	6),
da	graça	(c.	4),	da	fé	(c.	9)...
	
												Apresentando	essa	doutrina,	o	evangelista	tinha	em	mira	fortalecer	na	fé
os	 leitores,	 agitados	 pelas	 falsas	 idéias	 de	 Cerinto	 e	 Ebion;	 estes	 negavam	 a
Divindade	 de	 Jesus,	 afirmando	 que	 o	 Espírito	 Santo	 descera	 sobre	 o	 homem
Jesus	no	Batismo	e	dele	se	afastara	na	Paixão.
	
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Por	isto	afirma	o	evangelista:	"Jesus	fez	muitos	outros	sinais	que	não
estão	escritos	neste	livro.	Estes,	porém,	foram	escritos	para	que	creiais	que	Jesus
é	o	Messias,	e,	acreditando,	tenhais	a	vida	em	seu	nome"	(Jo	20,30s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2.	Poderia	alguém	 julgar	que,	por	 ser	um	Evangelho	profundamente
teológico,	 Jo	 se	distanciou	da	história	 real	 cedendo	a	 ficções.	Na	verdade,	 isto
não	se	deu.	É	somente	através	de	 Jo	que	sabemos	que	a	vida	pública	de	 Jesus
incluiu	 três	 Páscoas	 (Jo	 2,13;	 6,4;	 12,1)	 e,	 portanto,	 durou	 cerca	 de	 três	 anos;
somente	Jo	nos	dá	a	saber	que	Jesus	pregava	na	Galiléia	e	na	Judéia	em	viagens
sucessivas	(cf.	2,1.13;	4,4s.45;	5,1;	6,1...).	Em	Jo	há	dez	alusões	à	topografia	da
Palestina	 não	 encontradas	 nos	 sinóticos.	 No	 último	 século,	 a	 arqueologia
confirmou	a	existência	da	piscina	de	Betesda,	com	cinco	pórticos	(cf.	Jo	5,2)	e	a
do	Litóstrotos	ou	Esplanada	(cf.	19,13).	Em	conseqüência,	verifica-se	que	o	mais
teológico	dos	evangelistas	é	também	o	mais	minucioso	em	matéria	de	história.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Deve-se	reconhecer	que	a	conclusão	do	Evangelho	(21,24s)	não	é	de
João,	 mas	 dos	 discípulos	 de	 João,	 sem	 deixar	 de	 ser	 parte	 integrante	 do
Evangelho	canônico.
	
Lição	3:	A	mensagem	de	Jo
	
												Quais	os	principais	traços	da	mensagem	teológica	de	Jo?
	
												1)	A	figura	de	Cristo	é	muito	elaborada.	São	postos	em	relevo	os	traços
divinos	e	os	traços	humanos	de	Jesus:
	
												-	desde	o	início	da	sua	vida	pública	Jesus	é	reconhecido	como	Messias	e
Deus	(Jo	1,15.29.35s.41.49).	Ele	mesmo	afirma	ser	o	Messias	e	o	Filho	de	Deus
(Jo	1,51;	3,11-13;	4,26;	5,16-18;	8,58;	9,36-39).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Jesus	 aparece	 cheio	 de	majestade,	 de	modo	 que,	 quando	 o	 querem
prender	antes	da	sua	hora,	não	o	conseguem	(cf.	7,30;	8,20);	ninguém	lhe	tira	a
vida,	mas	Ele	a	dá	por	sua	própria	vontade	(cf.	Jo	10,17s);	antes	de	ser	preso,	Ele
põe	por	 terra	os	 seus	adversários	 (cf.	 Jo	18,4-6).	Por	 trinta	e	oito	vezes	em	Jo
ocorre	nos	lábios	de	Jesus	a	expressão	"Eu	sou...",	que	lembra	o	Santo	nome	de
Deus	(Javé,	Eu	sou	aquele	que	é;	Ex	3,14).
	
												-	A	natureza	humana	de	Jesus	aparece	por	ocasião	do	episódio	de	Lázaro,
quando	Ele	revela	seu	coração	(cf.	Jo	11,5.11.33-38);	por	ocasião	das	bodas	de
Caná	(cf.	Jo	2,1-11);	quando,	cansado	e	sedento,	se	senta	junto	ao	poço	de	Jacó
(cf.	 Jo	 4,6-8.31);	 quando	manifesta	 angústia	 diante	 da	 sua	 Paixão	 (cf.	 12,27);
quando	 prediz	 a	 traição	 (cf.	 13,21).	 Ele	 é	 profundo	 conhecedor	 da	 psicologia
humana,	como	se	depreende	de	Jo	4,7-9.16-18.29;	9,7.35-38.
	
												2)	Jo	apresenta	seus	episódios	de	modo	que	se	percebam	através	deles
alusões	aos	sacramentos	da	Igreja:	assim	em	Jo	3,1-12;	4,1-26;	5,1-9;	9,1.11	as
referências	 à	 água	 que	 salva,	 são	 acenos	 ao	Batismo;	 em	 Jo	 2,1	 -11;	 6,25-58;
19,31	 -37,	 as	 referências	 ao	 vinho,	 ao	 pão,	 ao	 sangue	 são	 menções	 da	 S.
Eucaristia.	O	Evangelho	termina	precisamente	afirmando	que,	do	lado	de	Jesus
pendente	da	cruz,	jorraram	água	e	sangue,	símbolos	do	Batismo,	da	Eucaristia	e
dos	demais	sacramentos,	que	prolongam	a	ação	salvífica	da	humanidade	de	Jesus
através	dos	séculos	(cf.	19,31	-37).
	
												3)	Jo	utiliza	também	figuras	(tipos)	do	Antigo	Testamento	para	ilustrar
elementos	do	Novo	Testamento;	mostra	assim	como	a	própria	Escritura	explica
aos	nossos	olhos	o	seu	sentido;	assim	em
	
												Jo	1,14	há	alusão	à	tenda	de	Ex	33,7-11.18-23;	40,34s.
												Jo	3,14s	O	Nm	21,4-9	(a	serpente	de	bronze);
												Jo	6,32.488.58	O	Ex	16,2-36;	Nm	11,4-9	(o	maná)	;
												Jo	7,37-390	Ex	17,1-7	(água	que	jorra	da	pedra);
												Jo	8,12	(cf.	12,46)	O	Ex	40,36-38	(a	luz	que	guiava	Israel)	;
												Jo	19,36;	cf.	1,29)	O	Ex	12,46;	Nm	9,12	(cordeiro	de	Páscoa);
												Jo	19,26;	2,40	Gn	3,15	(Maria,	a	nova	Eva).
	
												Conforme	Jo	1,19.29.35.48;	2,1,	Jesus	realiza	o	primeiro	sinal	no	sétimo
dia	 da	 sua	 vida	 publica.	 Ora,	 segundo	 Gn	 2,2s,	 o	 Criador	 terminou	 sua	 obra
precisamente	no	sétimo	dia;	Jesus	aparece	então	como	o	novo	Criador	ou	o	Re-
criador	do	mundo	e	do	homem.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	Jo	1,1	 "no	princípio	 lembra	 "no	princípio"	 de	Gn	1,1	 (primeiro
versículo	da	Bíblia).
	
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	4)	O	vocabulário	de	S.	 João	bem	mostra	os	 interesses	 teológicos	do
evangelista.	 Levemos	 em	 conta	 a	 ocorrência	 de	 palavras-chaves	 em	 Jo	 e	 nos
sinóticos:
	
	
	
Jo
	
Mt
	
Mc
	
Lc
	
Pai
	
137x
	
64x
	
18x
	
53x
	
Mundo
	
76
	
9
	
3
	
3
	
Vida
	
36
	
7
	
4
	
5
	
Testemunhar
	
33
	
1
	
—
	
—
	
Enviar
	
32
	
4
	
1
	
10
	
Água	Luz
	
24	23
	
8
7
	
5
1
	
6
7
	
Glória
	
18
	
8
	
3
	
13
	
Pecado
	
17
	
7
	
6
	
11
	
Eterno 17 6 3 4
	 	 	 	 	
Trevas
	
9
	
1
	
—
	
1
	
Nos	sinóticos,	os
	
vocábulos
	
predominantes		são:
	
	
	
Mt
	
Mc
	
Lc
	
Jo
	
Reino
	
56
	
18
	
45
	
5
	
Escriba
	
23
	
22
	
14
	
1
	
Parábola
	
17
	
13
	
18
	
—
	
Geração
	
Poder
(milagre)
	
Fé
	
13
	
13
	
9
	
5
	
10
	
5
	
15
	
15												
	
	
11
	
—
	
												São	estes	os	principais	traços	da	teologia	de	Jo.
	
												Para	ulteriores	estudos,	recomendamos:
		 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	BALLARINI,	T.,	Introdução	à	Bíblia,	vol.	IV.	Ed.	Vozes,	Petrópolis
1972,	pp.	295-400.
												417-428.520-555.
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	Os	Evangelhos	(II).	Ed.	Loyola
1990.
												DE	LA	CALLE,	A	Teologia	do	Quarto	Evangelho.	Ed.	Paulinas,	São
Paulo	1978.
												AUBERT,	A.,	Leitura	do	Evangelho	de	João	Ed.	Paulinas,	São	Paulo
1982.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 SILVA	SANTOS,	B.,	A	Teologia	 do	Evangelho	 de	 São	 João.	Ed.
Santuário	1994.
												TUNI	VANCELLS,	O	Testemunho	do	Evangelhos	de	João.	Ed.	Vozes,
1989.
	
	
	*		*		*
	
	
PERGUNTAS
	
	
												1)	O	autor	do	4o	Evangelho	era	judeu?
												2)	O	autor	do	4o	Evangelho	era	Apóstolo?
												3)	Quem	era	"o	discípulo	que	Jesus	amava"?	Explique	claramente.
												4)	Quando	e	ondeescreveu	S.	João	seu	Evangelho?
												5)	Quais	as	finalidades	de	João	ao	escrever	o	4o	Evangelho?
												6)	Qual	é	a	imagem	de	Cristo	apresentada	por	Jo?
												7)	Como	o	4o	Evangelho	vê	os	sacramentos	da	Igreja?
												8)	Como	o	Antigo	Testamento	é	tratado	em	Jo?
											
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												2a	SUBETAPA:	OS	ATOS	DOS	APÓSTOLOS
	
												MÓDULO	ÚNICO:	OS	ATOS
	
	
Lição	1:	Conteúdo	de	At
	
												O	livro	dos	Atos	refere	a	história	da	Igreja,	que	nasceu	em	Jerusalém	e	se
propagou	até	Roma,	ilustrando	de	certo	modo	as	palavras	do	Senhor	em	At	1,8:
"O	Espírito	Santo	descerá	sobre	vós	e	dele	recebereis	força.	Sereis	então	minhas
testemunhas	 em	 Jerusalém	 e	 Samaria,	 e	 até	 os	 confins	 da	 terra".	 Com	 outras
palavras:	tem-se	a	história	da	igreja	que	passa	dos	judeus	para	os	gentios,	sob	o
impulso	 do	 Espírito	 Santo.	 Por	 isto	 Teofilacto	 (†	 após	 1078)	 dizia:	 "Os
Evangelhos	apresentam	os	 feitos	do	Filho,	ao	passo	que	os	Atos	descrevem	os
feitos	do	Espírito	Santo".	Na	verdade	os	Atos	registram	com	freqüência	a	ação
propulsora	do	Espírito:	2,4;	4,8.31;	6,3;	7,55;	8,29;	13,2.4.52;	15,28;	16,6...
	
												O	livro	se	divide	em	duas	partes:	uma	marcada	por	Pedro	(At	1-12),	e	a
outra	marcada	por	Paulo	(At	13-28).	Entre	estas	duas	partes	existe	concatenação
lógica,	 pois	 a	 atividade	 de	 Pedro,	 Apóstolo	 dos	 judeus,	 prepara	 a	 de	 Paulo,
Apóstolo	 dos	 gentios:	 Pedro	 leva	 o	 Evangelho	 de	 Jerusalém	 à	 Judéia	 e	 à
Samaria,	 chegando	 ao	 seu	 ponto	 extremo	 na	 conversão	 do	 primeiro	 pagão,
Cornélio	 (10,1-11,18).	Paulo	desenvolve	 a	 evangelização	dos	gentios	mediante
três	 viagens	missionárias	 em	 terras	 pagãs.	 O	 capítulo	 15	 é	 como	 que	 a	 solda
entre	 as	 duas	 partes	 do	 livro:	 relata	 os	 debates	 do	Concílio	 de	 Jerusalém,	 que
terminaram	pelo	reconhecimento	de	que	o	Reino	de	Deus	superara	os	limites	do
judaísmo	e	se	estendia	aos	gentios.
	
	
Lição	2:	Autor	e	circunstâncias	de	origem
	
												A	tradição	atribui	a	S.	Lucas,	autor	do	3o	Evangelho,	a	autoria	de	Atos.
	
												1.	O	testemunho	mais	antigo	que	se	tenha,	é	o	do	cânon	de	Muratori,	de
meados	do	séc.	II:	"As	proezas	de	todos	os	apóstolos	foram	escritas	num	livro.
Lucas,	 com	 dedicatória	 ao	 excelentíssimo	 Teófilo,	 aí	 recolheu	 todos	 os	 fatos
particulares	que	se	desenrolaram	sob	seus	olhos	e	os	pôs	em	evidência,	deixando
de	 lado	 o	 martírio	 de	 Pedro	 e	 a	 viagem	 de	 Paulo	 da	 Cidade	 (Roma)	 rumo	 à
Espanha".
	
												Os	escritores	posteriores	fazem	eco	a	este	testemunho.
	
												2.	Examinemos	agora	o	texto	de	At	para	perceber	o	que	nos	diz	sobre	seu
autor:
	
												A	identidade	de	autor,	para	Lc	e	At,	depreende-se	de	que	ambos	estes
escritos	têm	um	prólogo	(Lc	1,1-4	e	At	1,1-3);	o	segundo	alude	à	"obra	anterior".
Os	 dois	 livros	 são	 dedicados	 ao	 "Excelentíssimo	 Teófilo"	 (At	 1,1	 e	 Lc	 1,3),
Além	disto,	nota-se	que	o	início	de	At	dá	continuidade	exata	ao	fim	de	Lc	(cf.	Lc
24,47-53	e	At	1,8-12).
	
												O	autor	nunca	cita	o	próprio	nome	nas	listas	dos	numerosos	personagens
que	 acompanhavam	 S.	 Paulo.	 Todavia	 ele	 descreve	 segmentos	 das	 viagens	 de
São	 Paulo	 recorrendo	 à	 primeira	 pessoa	 do	 plural	 (seções	 em	 nós:	 16,10-17;
20,5-15;	21,1-18;	27,1-28,16),	isto	é,	incluindo-se	entre	os	companheiros	de	São
Paulo.	 A	 modéstia	 impedia-o	 de	 inscrever-se	 ao	 lado	 dos	 seus	 companheiros.
Donde	 se	 conclui:	 se	 a	 tradição	 apontou	 Lucas	 como	 autor	 dos	 Atos,	 de
preferência	a	outros	mais	conhecidos	(Silvano,	Timóteo,	Tito...),	esta	indicação
só	se	explica	porque	Lucas	de	fato	escreveu	At.
											
												O	estilo	e	o	vocabulário	de	Lc	e	At	são	afins	entre	si:	33	termos	do	N.	T.
só	se	encontram	em	Lc	e	At.
	
												Quanto	aos	indícios	de	autor	médico	em	At,	são	tênues:	citam-se	a	cura
do	paralítico	com	seus	pormenores	em	At	3,7,	e	a	descrição	da	moléstia	do	pai
de	Públio	em	At	28,8.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	autor	dá	provas	de	 espírito	 culto,	 de	visão	 ampla	 e	de	 fino	 senso
teológico	ao	descrever	a	difusão	do	Evangelho.
	
												3.	O	livro	dos	Atos,	dedicado	a	Teófilo	e	a	todos	os	gentios	convertidos,
foi	 escrito	 em	 Roma,	 conforme	 S.	 Jerônimo	 ou,	 como	 prefere	 a	 exegese
moderna,	na	Grécia.
	
												A	época	de	origem	é	discutida.	Muitos	argumentam	a	partir	do	fecho	de
At:	o	autor	diz	que	Paulo	ficou	por	dois	anos	(61-63)	em	Roma	sob	regime	de
prisão	 domiciliar	 (28,30s).	 Perguntam,	 pois:	 por	 que	 Lucas	 não	 relatou	 o
desfecho	 desse	 período	 de	 prisão?	 Por	 que	 não	 referiu	 a	 libertação	 de	 Paulo
(muito	provável)	ou	a	condenação	 (improvável)	do	mesmo?	A	 resposta	estaria
no	 fato	de	que	Lucas	escreveu	antes	do	 fim	do	período	de	prisão,	ou	seja,	por
volta	de	63.	O	argumento	é	significativo;	obrigaria	a	recuar	a	data	de	origem	do
3o	Evangelho	para	antes	de	63,	visto	que	os	Atos	são	posteriores	a	Lc.
	
												Outros	estudiosos	não	se	prendem	ao	silêncio	de	Lucas	acerca	do	fim	do
período	de	prisão.	Julgam	que,	para	Lucas,	o	importante	era	apenas	mostrar	que
o	Evangelho,	na	pessoa	de	Paulo,	havia	chegado	à	capital	do	mundo	antigo;	o
autor	sagrado	teria	atingido	seu	objetivo	narrando	a	vinda	de	Paulo	a	Roma.	Em
conseqüência,	tais	autores	atribuem	a	At	origem	mais	tardia,	a	saber:	entre	70	e
80.
	
												Não	merecem	atenção	outras	sentenças.	Os	racionalistas	de	Tubinga,	por
exemplo,	pretendiam,	no	século	passado,	atribuir	aos	Atos	origem	por	volta	de
150,	pois	tal	livro	teria	sido	escrito	para	harmonizar	entre	si	as	supostas	facções,
petrina	 e	 paulina,	 da	 Igreja	 antiga.	É	 artificial	 ou	destituída	de	 fundamento	 tal
hipótese.
	
												O	livro	dos	Atos	aparece,	antes,	como	a	continuação	do	3o	Evangelho:	é
obra	 de	 catequese	 que	 tenciona	 complementar	 a	 formação	 cristã	 dos	 leitores	 e
mostrar-lhes	a	Igreja	como	obra	viva	do	Espírito	Santo.
	
	
Lição	3:	Fontes	e	historicidade	dos	Atos
	
												Uma	obra	tão	rica	em	notícias	e	documentos	supõe	ampla	informação	da
parte	do	autor,	que,	aliás,	era	um	pesquisador	dedicado	(cf.	Lc	1,1-4,	prólogo	que
precede	toda	a	obra	de	Lucas	a	Teófilo).	Os	estudiosos	têm	procurado	determinar
as	fontes	utilizadas	por	Lucas,	pois	desta	questão	depende	a	fidelidade	histórica
de	At.
	
												1.	Antes	do	mais,	deve-se	registrar	o	próprio	testemunho	ocular	de	Lucas.
Este	 foi	 companheiro	 de	 Paulo	 em	 viagens	 missionárias,	 como	 também	 no
itinerário	de	Cesaréia	a	Roma;	em	conseqüência,	deve	ter	escrito	suas	Memórias
ou	 seu	Diário,	 que	 aparecem	 com	minúcias	 e	 intenso	 colorido	 nas	 seções	 em
nós:	16,10-17;	20,5-15;	21,1-18;	27,1-28,16.	Especialmente	esta	última,	marcada
por	 linguagem	 técnica	 e	 vivaz,	 relatando	 peripécias	 de	 viagem	 e	 naufrágio,	 é
testemunho	eloqüente	da	perspicácia	e	da	cultura	do	autor.
	
												A	seguir,	registramos	tradições	-	escritas	ou	orais	-	recolhidas	por	São
Lucas:	as	que	dizem	respeito	à	comunidade	primitiva	de	Jerusalém	(At	1-5),	as
que	 se	 referem	 à	 obra	 apostólica	 de	 determinados	 personagens,	 como	 Pedro
(9,32-11,18;	 12,1-19)	 e	 Filipe	 (8,4-40;	 cf.	 21,8).	 A	 comunidade	 de	Antioquia,
primeiro	centro	missionário	em	terra	pagã,	deve	ter	oferecido	a	Lucas	tradições
referentes	à	sua	fundação	e	aos	judeus	helenistas1	(6,1-8,3;	11,19-30;	13,1-3).	A
tradição	 refere	 que	Lucas	mesmo	 era	 antioqueno;	 cf.	At	 11,27,	 onde,	 segundo
alguns	 manuscritos,	 Lucas	 se	 teria	 incluído	 entre	 os	 cristãos	 de	 Antioquia.	 O
próprio	S.	Paulo	deve	ter	oferecido	a	Lucas	informações	sobre	a	sua	conversão	e
suas	 viagens	 (9,1-30;	 13,4-14,28;	 15,36s).	 Lucas	 soube	 harmonizartodo	 esse
material,	 dispondo-o	 em	 seqüência	 concatenada;	 algumas	 vezes	 terá	 praticado
cortes	ou	deslocamentos	de	dados,	como	parece	ocorrer	no	capítulo	12:12,25	se
liga	 diretamente	 a	 11,30,	 de	 modo	 que	 12,1-24	 quebra	 o	 relato	 da	 viagem	 a
Jerusalém.
												1	-	Judeu	helenista	é	aquele	que	tem	o	sangue	israelita,	mas	vive	no	estrangeiro,	imbuído	da
cultura	do	Império	greco-																romano.
	
												2.	A	fidelidade	histórica	de	At	se	depreende	da	precisão	e	da	sobriedade
das	narrações:	estas	parecem	fazer	eco	à	vida	real	e	concreta;	tenham-se	em	vista
especialmente	a	descrição	da	viagem	para	Roma	(27,1-28,16),	a	estada	de	Paulo
em	Atenas	 (17,16-34),	o	 tumulto	dos	ourives	em	Éfeso	 (19,21	 -40),	a	celeuma
levantada	contra	Paulo	no	Templo	(21,27-22,22)...
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Especialmente	 os	 discursos	 transmitidos	 por	 Lucas	 em	 At	 foram
impugnados:	 seriam	 obra	 artificial,	 pela	 qual	 Lucas	 teria	 posto	 nos	 lábios	 dos
oradores	 suas	 próprias	 palavras,	 à	 semelhança	 do	 que	 faziam	 antigos
historiadores.	 Todavia	 é	 difícil	 admitir	 que	 Lucas,	 por	 mais	 culto	 que	 fosse,
pudesse	 após	 decênios	 compor	 discursos	 de	 caráter	 tão	 arcaico	 e	 semitizante
como	são	os	de	Pedro	(1,16-22;	2,14-36;	3,12-26;	4,8-12;	10,34-43;	11,5-17)	e
Estêvão	 (7,1-53);	 sem	 dúvida,	 Lucas	 dispunha	 de	 documentos,	 que	 referiam
esses	discursos.	 Isto	não	nos	surpreende,	se	 levamos	em	conta	que	a	catequese
primitiva	 voltava	 sempre	 a	 alguns	 temas	 essenciais	 (promessas	 feitas	 aos
Patriarcas,	 cumprimento	 em	 Cristo,	 infidelidade	 dos	 judeus,	 ressurreição	 do
Senhor,	 apelo	 à	 penitência...),	 apoiados	 em	 argumentos	 ou	 raciocínios
tradicionais	e	expressos	de	maneira	cadenciada	(mnemônica)2;	havia	 florilégios
de	 textos	 do	 A.	 T.	 para	 apresentar	 Jesus	 aos	 judeus	 e	 reflexões	 de	 filosofia
comum	 para	 interpelar	 os	 pagãos.	 A	 temática	 da	 pregação	 dos	 Apóstolos	 era
quase	sempre	a	mesma.
												2	•	Mnemônico	=	apto	a	ajudar	a	memorização.
	
												Ademais	é	de	notar	que	grande	parte	desses	discursos	foram	proferidos
em	aramaico;	S.	Lucas	 teve	que	 lhes	dar	a	sua	forma	grega,	 recorrendo	ao	seu
estilo	pessoal.	Chama-nos	a	atenção	também	o	fato	de	que	o	desenrolar	de	tais
discursos	 se	 adapta	 bem	 aos	 respectivos	 destinatários:	 um	 é	 o	modo	 de	 Paulo
falar	 aos	 judeus	 (13,16-41),	 outro	 aos	 cristãos	 (20,18-35),	 outro	 aos	 pagãos
(17,22-31),	 outro	 ao	Procurador	 romano	 (21,10,21),	 outro	 ao	 rei	Agripa	 (26,2-
23).
	
	
Lição	4:	A	mensagem	de	At
	
												O	livro	dos	Atos	é	precioso	documento	da	história	da	Igreja	nascente:
informa-nos	sobre	a	vida	das	comunidades	primitivas	(cf.	2,44-47;	4,32-34;	6,1-
7;	 8,4-8;	 12,12-17...),	 sobre	 a	 sua	 oração	 e	 a	 partilha	 de	 bens;	 sobre	 a
administração	do	Batismo	até	mesmo	a	uma	família	inteira,	inclusive	às	crianças
(10,1	-2.24.44.47s;	16,13-15;	16,31	-33;	18,8;	1	Cor	1,16);	sobre	a	celebração	da
Eucaristia	(2,42.46;	20,7.11;	27,35);	sobre	a	organização	da	igreja	nascente	com
seus	 presbíteros	 =	 epíscopos	 (cf.	 11,30;	 14,23;	 20,17.28)...	 Isto	 tudo	 sempre
aparece	como	obra	do	Espírito	Santo,	Espírito	sobre	o	qual	Lucas	havia	insistido
no	 seu	 Evangelho	 (Lc	 4,1.14.18;	 10,21;	 11,13...)	 e	 que	 preside	 à	 expansão	 da
Igreja.	É	essa	 ação	do	Espírito	que	comunica	a	Atos	o	 seu	perfume	de	 alegria
espiritual	e	de	maravilhoso	sobrenatural,	que	só	pode	ser	estranho	para	quem	não
compreenda	 aquele	 fenômeno	 único	 no	 mundo	 que	 foi	 o	 nascimento	 do
Cristianismo.
	
												Além	disto,	os	Atos	nos	informam	sobre	as	concepções	teológicas	dos
primeiros	 cristãos,	 que	 têm	 sua	 expressão	 fiel	 também	 nas	 epístolas	 de	 São
Paulo:	Jesus	é	o	Kyrios,	o	Senhor,	estando	a	sua	humanidade,	outrora	padecente,
totalmente	 penetrada	 pela	 glória	 da	 Divindade	 {2,22-36;	 3,17-21;	 4,10-12...).
Percebe-se	que	os	antigos	cristãos	se	compraziam	em	ver	na	figura	do	Cristo	o
cumprimento	da	profecia	do	Servidor	de	Javé	descrito	em	Is	52,13-53,12	(cf.	At
3,13.26;	4,27.30;	8,32s);	descreviam-no	também,	especialmente	quando	falavam
a	judeus,	como	o	novo	Moisés	(3,22s;	7,20s).	O	salmo	15	(16),	8-11	servia	para
comprovar	 a	 ressurreição	 de	 Jesus	 (cf.	 Aí	 2,24-32;	 13,34-37),	 assim	 como	 o
S1109	(110),	segundo	At	2,34s.
	
	
Lição	5:	O	texto	dos	Atos
	
												Os	manuscritos	gregos	dos	Atos	apresentam	duas	recensões:	a	chamada
oriental	e	a	ocidental	(código	D	e	escritores	latinos	até	S.	Agostinho,	†	430).	A
forma	ocidental	é	mais	do	que	8%	mais	longa	do	que	a	oriental,	acrescentando	a
esta	 pormenores	 de	 grande	 vivacidade;	 tenham-se	 em	 vista	 11,27;	 15,20.29;
19,1;	20,2;	24,6;	26,7s...	Todavia	não	é	mais	credenciada;	por	isto	é	reproduzido
nas	edições	modernas	dos	Atos	o	texto	oriental,	mais	enxuto.	-	Como	quer	que
seja,	ao	estudioso	importará,	sempre	que	possível,	consultar	as	variantes	do	texto
que	as	notas	de	rodapé	lhe	ofereçam,	pois	assim	enriquecerá	sua	leitura.
	
												Para	ulterior	aprofundamento,	veja
											
												BALLARINI,	T.,	Introdução	à	Bíblia,	vol.	V/1.	Ed.	Vozes	1974
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	Atos	dos	Apóstolos.	Ed.	Loyola
1990.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	DUPONT,	J.,	Estudos	sobre	os	Atos	dos	 	 	 	Apóstolos.	Ed.	Paulinas
1974.
												GRELOT,	P.,	Introdução	à	Bíblia,	Ed.	Paulinas	1971.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	LAPPLE,	A.,	Bíblia:	Interpretação	atualizada	e	catequese;	vol.	3:
Novo	Testamento.	Ed.	Paulinas	1980.
	
*	*	*
	
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Diga	em	síntese	qual	a	história	relatada	por	At.
												2)	Como	se	prova	que	Lucas	foi	o	autor	de	At?
												3)	Há	continuidade	entre	At	e	Lc?
												4)	A	que	destinatários	se	dirige	At?																										
												5)	Pode-se	crer	na	fidelidade	histórica	de	At?	Demonstre-o.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 6)	Qual	 a	 importância	 do	 livro	 dos	 Atos	 para	 a	 história	 da	 Igreja
nascente
																(organização,	culto...)	e	para	a	teologia	do	Cristianismo?
	
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	MÓDULO	 I:	 A	 PESSOA	E	A	OBRA	DE
PAULO
	
Lição	1:	Traços	biográficos	de	S.	Paulo
	
	
												Paulo	(ou	Saulo)	nasceu	em	Tarso	na	Cilícia	(Ásia	Menor)	no	limiar	da
era	cristã,	pois,	quando	escrevia	a	Filemon	em	62,	dizia	ser	ancião	(cf.	Fm	9;	At
21,39;	 22,3;	 F!	 3,5).	 Nasceu	 de	 família	 israelita,	 muito	 fiel	 às	 tradições
religiosas;	 seu	 pai	 comprara	 a	 cidadania	 romana,	 de	 modo	 que	 Saulo	 nasceu
como	 cidadão	 romano.	 Em	 conseqüência	 Paulo	 era,	 desde	 as	 suas	 origens,
herdeiro	 de	 três	 culturas:	 a	 hebraica,	 essencialmente	 religiosa;	 a	 helenista,
filosófica	e	artística,	e	a	romana,	de	índole	jurídica.
	
												Aos	quinze	anos	de	idade,	foi	enviado	para	Jerusalém,	onde	se	sentou	aos
pés	 do	 rabino	 Gamaliel	 (cf.	 At	 22,3;	 26,4;	 5,34):	 foi	 então	 iniciado	 na	 arte
rabínica	 de	 interpretar	 a	 S.	 Escritura,	 como	 também	 deve	 ter	 aprendido	 uma
profissão	manual:	 a	 de	 curtidor	 de	 couro	 ou	 seleiro,	 profissão	 que	 o	Apóstolo
havia	de	exercer	a	vida	inteira.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Cerca	 de	 vinte	 anos	 depois	 ou	 em	 36	 aproximadamente,	 Paulo	 era
ardoroso	perseguidor	dos	cristãos,	 julgando	assim	servir	a	Deus.	Na	estrada	de
Jerusalém	 para	 Damasco,	 onde	 pretendia	 prender	 cristãos,	 foi	 prostrado	 pelo
Senhor,	 que	 lhe	 perguntou:	 "Por	 que	me	 persegues?"	 Era	 Jesus	 que	 assim	 lhe
falava	e	o	enviava	à	casa	de	Ananias	em	Damasco,	onde	seria	batizado;	cf.	At
9,1-18;	22,4-21;	26,11-18;	Gl	1,13-16
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Feito	cristão,Paulo	 quis	 iniciar	 em	Damasco	mesmo	 a	 pregação	do
Evangelho,	mas	 não	 foi	 aceito	 pelos	 ouvintes.	Retirou-se	 então	 para	 um	 lugar
chamado	 Arábia,	 talvez	 não	 muito	 longe	 de	 Damasco,	 onde	 permaneceu	 três
anos;	a	nova	personalidade	de	Paulo	foi	amadurecendo	sob	o	influxo	da	graça	de
Cristo,	que	lhe	revelou	a	doutrina	cristã.	Após	três	anos,	regressou	a	Damasco,
onde	 mais	 uma	 vez	 quis	 tentar	 a	 pregação	 do	 Evangelho;	 mas	 os	 judeus
tramaram	a	sua	morte,	obrigando-o	a	fugir	dentro	de	uma	cesta	por	uma	janela
que	se	abria	na	muralha	da	cidade	para	fora.	Cf.	At	9,19-25;	Gl	1,17.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Era	o	ano	de	39,	quando	Paulo	em	Jerusalém	se	avistou	com	Pedro	e
Tiago	durante	quinze	dias;	cf.	Gl	1,18s.	Também	tentou	pregar	o	Evangelho	aos
judeus,	 mas	 não	 encontrou	 acolhida.	 Para	 escapar	 novamente	 da	 morte,	 o
Apóstolo	teve	que	deixar	a	Cidade	Santa	e	retornou	à	sua	cidade	natal,	bastante
acabrunhado	pelos	fracassos	de	sua	missão	apostólica;	cf.	At	9,26-30.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	Tarso	deve	 ter	permanecido	quatro	ou	cinco	anos,	até	43.	A	esta
altura,	algo	de	importante	se	deu	na	vida	de	Paulo:	Antioquia	da	Síria	tornara-se
importante	 centro	missionário,	 onde	 trabalhava	 Barnabé,	 primo	 de	 Paulo.	 Ora
Barnabé,	consciente	da	capacidade	apostólica	de	seu	parente,	resolveu	ir	buscá-
lo	em	Tarso	para	que	colaborasse	na	missão	em	Antioquia;	cf.	At	11,25s.	Esta
nova	 tentativa	 foi	bem	sucedida,	 tanto	que	no	ano	 seguinte,	 em	44,	Barnabé	e
Paulo	 foram	enviados	pelos	cristãos	de	Antioquia,	para	 levar	os	 frutos	de	uma
coleta	feita	em	favor	dos	pobres	de	Jerusalém;	cf.	At	11,27-30;12,25.
	
De	regresso	a	Antioquia,	Barnabé	e	Paulo	continuaram	o	seu	ministério,	até	que
em	45,	por	designação	do	Espírito	Santo,	foram	indicados,	juntamente	com	João
Marcos,	para	o	apostolado	em	terras	distantes;	cf.	At	13,1-3.
	
												Paulo	fez	assim	a	sua	primeira	viagem	missionária,	que	durou	cerca	de
três	 anos	 (45-48),	 percorrendo	 a	 ilha	de	Chipre	 e	 parte	 da	Ásia	Menor	 (cf.	At
13,1-14,28):	muitos	gentios	abraçaram	o	Evangelho,	constituindo	comunidades
cristãs	esparsas	pelo	Sul	da	Ásia	Menor.	Eis,	porém,	que,	em	conseqüência,	se
levantava	 sério	 problema	 para	 Paulo:	 os	 judaizantes	 (judeus	 convertidos	 ao
Cristianismo,	mas	adeptos	das	observâncias	judaicas)	queriam	que	os	pagãos	não
fossem	 batizados	 sem	 abraçar	 antes	 a	 Lei	 de	 Moisés	 (como	 eles	 mesmos	 a
tinham	 abraçado).	 Ora	 Paulo	 havia	 pregado	 o	 Evangelho	 e	 batizado	 sem
mencionar	a	Lei	de	Moisés	e	a	circuncisão.	O	Apóstolo	compreendia	bem	que	a
Lei	 era	 como	 uma	 preparação	 provisória	 para	 o	 Evangelho;	 ela	 significava	 a
vinda	do	Messias;	por	conseguinte,	perdera	seu	papel	logo	que	chegara	o	Cristo.
Não	 haveria	 sentido,	 pois,	 em	 dar	 o	 batismo	 e	 impor	 a	 circuncisão
simultaneamente.	Paulo	assim	aparecia	como	o	arauto	da	liberdade	cristã	frente
às	observâncias	 judaicas;	 todavia	muitos	 judaizantes	o	viam	como	 libertino	ou
traidor.
	
												O	problema	assim	colocado	tornou-se	agudo	logo	após	a	primeira	viagem
missionária	de	Paulo.	Em	vista	disto,	a	igreja-mãe	de	Jerusalém	resolveu	chamar
Paulo	e	Barnabé	àquela	cidade;	reuniram-se	com	Pedro,	Tiago	e	seus	imediatos
colaboradores	 constituindo	 o	 chamado	 "Concilio	 de	 Jerusalém"	 (49).	 Após	 os
debates	 oportunos,	 os	 Apóstolos	 reconheceram	 a	 liberdade	 dos	 cristãos	 em
relação	às	observâncias	 judaicas.	Apenas	pediram	às	comunidades	da	Cilícia	 e
da	 Síria	 que	 respeitassem	 quatro	 cláusulas	 destinadas	 a	 preservar	 a	 paz	 nas
regiões	em	que	havia	grande	número	de	judeo-cristãos.	Tais	são	as	"cláusulas	de
Tiago":
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1)	abster-se	de	 idolotitos	ou	carnes	 imoladas	aos	 ídolos	nos	 templos
pagãos,	pois	aos	fiéis	de	consciência	fraca	pareciam	contaminadas	pelo	demônio
(o	que	não	acontecia)	;	2)	abster-se	de	carne	portadora	de	sangue;	3)	abster-se	de
tomar	sangue,	pois	os	judeus	julgavam	que	o	sangue	é	a	própria	vida,	que	só	a
Deus	pertence	(cf.	Gn	9,4);	4)	não	ceder	às	paixões	impuras.	Cf.	At	15,1-35.
	
												O	Concilio	de	Jerusalém	esclareceu	as	mentes,	mas	não	conseguiu	deter
os	judaizantes,	que	continuaram	a	hostilizar	São	Paulo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Pouco	depois	do	Concilio,	Pedro	e	Paulo	se	achavam	em	Antioquia.
Pedro	 comia	 de	 todos	 os	 alimentos,	 sem	 observar	 a	 distinção	 judaica	 de
alimentos	puros	e	impuros.	Quando,	porém,	chegaram	alguns	judaizantes,	Pedro
começou	 a	 proceder	 como	 se	 fosse	 ele	 mesmo	 judaizante.	 Paulo,	 vendo	 isto,
opôs-se	a	Pedro,	pois	o	exemplo	deste	podia	arrastar	multidões	para	o	erro.	Este
é	o	"incidente	de	Antioquia";	cf.	Gl	2,11-14.	O	episódio	mostra	a	autoridade	de
Pedro;	o	seu	exemplo	era	tomado	como	norma.
	
												Seguiu-se	a	segunda	viagem	missionária	(50-53),	durante	a	qual	Paulo
em	Corinto	escreveu	1/2	Ts.	Cf.	At	15,36-18,22.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	terceira	viagem	missionária	 (53-58)	sucedeu-se	 logo;	cf.	At	18,23-
21,17.	 Deu	 ocasião	 a	mais	 quatro	 cartas	 de	 São	 Paulo,	 chamadas	 "as	 grandes
epístolas":	Gl	e	1Cor	em	Éfeso;	2Cor	em	Filipos;	Rm	em	Corinto.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 O	 êxito	 dessas	 viagens	 provocou	 os	 judaizantes	 de	 Jerusalém.
Conseguiram	 mandar	 prender	 Paulo,	 que	 regressara	 recentemente	 da	 terceira
expedição	 apostólica.	O	 tribuno	 romano	Cláudio	Lísias,	 perplexo	 como	 estava
(pois	não	entendia	o	problema	religioso	em	foco),	 resolveu	mandar	Paulo	para
Cesaréia,	onde	residia	o	procurador	romano	Félix.	O	apóstolo	passou	dois	anos
(58-60)	nesta	cidade,	aguardando	julgamento;	vendo	que	o	caso	não	se	resolveria
em	breve,	Paulo	apelou	para	o	tribunal	de	César	em	Roma.	Tinha	direito	a	isto,
pois	era	cidadão	romano.
	
												O	embarque	para	Roma	deu-se	no	começo	de	outubro	de	60,	quando	se
aproximava	 o	 inverno.	 Lucas,	 companheiro	 de	 Paulo	 a	 bordo,	 deixou-nos
impressionante	relato	dessa	viagem	infeliz;	cf.	At	27,1-28,15.	O	navio	naufragou
junto	 à	 ilha	 de	 Malta,	 onde	 Paulo,	 Lucas	 e	 Aristarco	 passaram	 o	 inverno.
Finalmente	 prosseguiram	 para	 Puteoli	 perto	 de	 Nápoles,	 donde	 chegaram	 a
Roma	(61).	Paulo	ficou	nesta	cidade	em	prisão	domiciliar	até	63.	S.	Lucas	não
nos	diz	qual	o	desfecho	do	processo,	mas	é	de	crer	que	tenha	terminado	com	a
libertação	 de	 Paulo;	 cf.	At	 28,	 16-31.	Durante	 esses	 dois	 anos	 Paulo	manteve
intercâmbio	com	os	fiéis	do	Oriente,	resultando	daí	as	quatro	cartas	do	cativeiro:
Fm,	Cl,	Ef,	Fl.
	
												O	resto	da	vida	de	S.	Paulo	é-nos	incerto.	É	de	crer	que	tenha	passado	de
Roma	para	a	Espanha,	aonde	desejava	ir	para	atingir	"os	confins	do	mundo"	(Rm
15,24).	Da	Espanha	terá	voltado	para	o	Oriente,	onde	se	julga	que	escreveu	mais
duas	cartas	(ditas	"pastorais"):	1Tm	e	Tt,	entre	64	e	66.	Finalmente	foi	preso	em
66	e	levado	para	Roma;	este	segundo	cativeiro	romano	foi	mais	penoso	do	que	o
primeiro,	 pois	 Paulo	 estava	 em	 prisão	 comum,	 como	 malfeitor	 (desde	 64,	 o
nome	de	cristão	era	ilícito);	somente	Lucas	o	acompanhava,	como	se	depreende
da	 2Tm	 4,11,	 testamento	 do	 Apóstolo,	 escrito	 naquele	 cárcere	 como	 terceira
carta	 pastoral.	 É	 de	 crer	 que	 a	 condenação	 à	 morte	 tenha	 sido	 proferida	 e
executada	em	67.
	
												Assim	terminou	a	sua	missão	um	dos	maiores	vultos	do	Cristianismo.	Ao
Apóstolo	tocou	o	papel	de	proclamar	e	defender	a	liberdade	dos	cristãos	frente	à
Lei	de	Moisés.	Se	Paulo	não	o	tivesse	feito,	o	Cristianismo	se	teria	tornado	uma
seita	judaica	e	teria	perecido	como	outras	seitas	judaicas	do	início	da	era	cristã.
Em	 prol	 dessa	 causa	 Paulo	 padeceu	 horrivelmente	 durante	 toda	 a	 sua	 carreira
apostólica;	 uma	 imagem	desses	 sofrimentos	 encontra-se	 no	 catálogo	 das	 dores
do	Apóstolo	em	2Cor	11,23-29.
	
												Este	trecho	mostra	a	têmpera	enérgica	e	a	fibra	entusiástica	do	Apóstolo,
que,	 além	 do	mais,	 devia	 sofrer	 de	moléstia	 crônica,	 com	 acessos	 dolorosos	 e
imprevisíveis,	como	se	depreende	de	2Cor	12,7-10...	Não	se	pode	explicar	o	que
tenhasido	o	aguilhão	da	carne	de	Paulo	(doença	dos	olhos,	conforme	Gl	4,12-15,
a	 resistência	 dos	 israelitas,	 irmãos	 de	 Paulo	 segundo	 a	 carne?,	 a	 fé	 cristã,
conforme	Rm	9,1-3?).
	
												O	Apóstolo	deixou-nos	treze	cartas,	como	se	pode	perceber.	A	epístola
aos	Hebreus	é	agregada	ao	epistolário	paulino,	mas	certamente	não	é	da	autoria
de	 Paulo,	 sem	 deixar	 de	 ser	 canônica.	 Alguns	 críticos	 modernos	 discutem
também	a	autoria	paulina	de	1Ts,	Ef,	1/2	Tm	e	Tt;	o	assunto	 será	estudado	na
introdução	a	cada	uma	destas	cartas.
	
	
Lição	2:	A	Redação	das	Cartas
	
												Sabemos	que	a	tarefa	de	escrever,	na	antiguidade,	era	difícil	e	lenta,	pois
se	usava	papiro	ou	pergaminho,	a	que	se	aplicavam	estiletes	de	plantas	ou	penas
de	ganso.
	
												Paulo	não	escrevia	diretamente,	mas	recorria	a	escribas	peritos	(Tércio,
em	Rm	16,22,	Silvano,	Timóteo...;	cf.	1Ts	1,1;	Gl	6,11;	1	Cor	16,21;	Cl	4,18),	a
quem	 o	 Apóstolo	 ditava.	 Fazia-o	 não	 durante	 o	 dia,	 pois	 então	 pregava	 e
trabalhava	com	as	mãos,	mas	em	serões	noturnos,	que	não	podiam	durar	mais	de
2/3	horas:	 a	 luz	era	 fraca	e	amarelada,	de	azeite;	 as	posições,	 sobre	o	chão	ou
almofadas,	muito	 incomodas.	Em	 tais	 circunstâncias	 o	 rendimento	 do	 trabalho
era	exíguo:	3	sílabas	por	minuto,	72	palavras	por	hora.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Na	base	destes	dados,	 julga-se	que	a	carta	aos	Romanos,	que	tem	16
capítulos	 e	 1.701	 palavras,	 deve	 ter	 exigido	mais	 de	 98	 horas	 de	 escrita	 e	 50
folhas	de	papiro	hierático;	isto	equivale	a	32	dias	com	3	horas	de	trabalho	ou	a
49	dias	com	2	horas	de	 trabalho;	 facilmente,	porém,	poderíamos	admitir	que	a
redação	 de	Rm	 se	 tenha	 protraído	 por	 dois	meses	 ou	mais,	 se	 levássemos	 em
conta	 as	 depressões	 de	 saúde	 e	 os	 imprevistos	 que	 perturbavam	 a	 vida	 do
Apóstolo.	 A	 1Ts,	 com	 1.472	 palavras,	 pode	 ter	 exigido	 20	 horas	 de	 escrita;	 a
1Cor,	 com	6.820	palavras,	 94	horas;	 a	 2Cor,	 com	 seus	13	 capítulos,	 62	horas;
Galatas,	com	2.200	vocábulos,	22	horas;	Colossenses,	com	4	capítulos,	21	horas;
2Ts,	 com	3	 capítulos,	 11	 horas;	 1Tm,	 com	6	 capítulos,	 22	 horas;	 a	 2Tm,	 com
1.329	vocábulos,	17	horas;	Tt	com	seus	3	capítulos,	9	horas;	Filemon	com	335
palavras,	5	horas	ou	2/3	serões.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Estes	números	não	são	aceitos	por	 todos	os	estudiosos.	Julgam	que	o
temperamento	 enérgico	 do	 Apóstolo	 não	 se	 concilia	 com	 tal	 morosidade	 na
redação	de	mensagens	que,	muitas	vezes,	eram	urgentes.
	
																Em	qualquer	hipótese	é	claro	que	as	cartas	de	S.	Paulo	foram	redigidas	por	etapas,
com	repetidas	interrupções	do	fio	das	idéias.	Estas	concorrem	para	explicar	a	falta	de	conexão
entre	 certas	 passagens,	 a	 transição	 brusca	 de	 um	 tema	 para	 outro,	 as	 repetições,	 os
truncamentos	de	textos,	as	mudanças	repentinas	de	estilo	e	sintaxe	do	epistolário	paulino.
	
	
Lição	3:	O	estilo	de	Paulo
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	Apóstolo	mesmo	 reconhecia	 que	 não	 fazia	 caso	 da	 sabedoria	 da
linguagem	 (lCor	 1,17).	 Interessavam-lhe	 acima	 de	 tudo	 o	 conteúdo	 dos
vocábulos	 e	 a	 doutrina	 a	 ser	 transmitida.	 Ora,	 esta,	 São	 Paulo	 a	 possuía	 em
profusão:	"Ainda	que	seja	imperito	no	falar,	não	o	sou	na	ciência	de	Cristo.	Nós
sempre	o	manifestamos	diante	de	vós	em	todos	os	pontos"	(2Cor	11,6).
	
												Paulo	vibrava	com	todas	as	fibras	do	seu	ser	ao	tratar	do	Evangelho.	Em
conseqüência,	a	sua	palavra	não	podia	deixar	de	ser	rica	de	vigor	e	vida.	A	todos
impressionava	 não	 tanto	 pela	 forma	 literária,	 mas	 pela	 profundidade	 do
conteúdo.	 Aliás,	 Quintiliano	 (†	 95),	 famoso	 mestre	 romano	 de	 eloqüência,
observava:	 "O	 coração	 e	 a	 sólida	 convicção	 é	 que	 tornam	 os	 homens	
eloqüentes".	Ora	é	justamente	isto	que	se	dava	com	S.	Paulo.	Por	isto	também	os
crítico,	reconhecem,	nas	cartas	do	Apóstolo	passagens	de	admirável	eloqüência,
que	merecem	para		S.	Paulo	um	lugar	de	destaque	entre	os	grandes	escritores	da
literatura	mundial.	 Tenham-se	 em	 vista	 especialmente	 Rm	 8,31-39	 (o	 hino	 da
vitória	de	Cristo),	1Cor	13,1-13	(a	Dama	Caridade),	1Cor	1,18-30	(a	loucura	da
cruz).
	
												Para	terminar,	seguem-se	três	sugestões	práticas:
	
												1)	Não	ler	as	epístolas	paulinas	como	estão	dispostas	no	cânon	(a	ordem
é	 de	 tamanho	 decrescente),	mas	 segundo	 a	 seqüência	 cronológica	 (a	 partir	 de
1Ts...);
	
												2)	colocar	cada	epístola	no	seu	contexto	histórico	e	geográfico	próprio,
ou	 seja,	 no	 contexto	 da	 biografia	 de	 São	 Paulo;	 usar	 cronologia	 e	 mapa	 das
viagens	paulinas;
	
												3)	ler	anotando	as	dúvidas	para	levá-las	a	quem	as	possa	elucidar.
	
	
												Para	ulterior	aprofundamento:
												BALLARINI,	T.,	Introdução	à	Bíblia,	vol.	V/1.	Ed.	Vozes	1974.
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	As	Cartas	de	Paulo.	Ed.	Loyola
1990.
												BELLINATO,	G.,	Paulo:	cartas	e	mensagens.	Ed.	Loyola	1979.
												CERFAUX,	L,	O	Cristo	na	Teologia	de	São	Paulo.	Ed.	Paulinas	1975.
7"
												DATTLER,	FR.,	Eu,	Paulo.	Ed.	Vozes	1976.
												MOHANA,	J.,	A	Cristo	por	Paulo.	Ed.	Agir	1985.		
																				
																																
*		*		*
	
	
PERGUNTAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	Cite	 três	 episódios	 da	 vida	 de	 São	Paulo	 que	mais	 o(a)	 tenham
impressionado.	Justifique	sua						escolha.
												2)	Diga	como	São	Paulo	escrevia	suas	cartas.
												3)	Aponte	três	textos	paulinos	cujo	conteúdo	lhe	pareça	especialmente
significativo.	Justifique	a																			escolha.
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 II:	 AS	 DUAS	 CARTAS	 AOS
TESSALONICENSES
	
Lição	1:	A	1Ts
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	As	1/2	Ts	 têm	como	 tema	central	a	 segunda	vinda	de	Cristo,	que	as
primeiras	 gerações	 esperavam	 para	 breve.	 As	 cartas	 seguintes	 a	 1/2	 Ts	 se
voltarão	 não	 tanto	 para	 a	 imagem	 do	 Cristo	 vindouro,	 mas	 para	 a	 do	 Cristo
presente	na	sua	Igreja.
	
												1.1.	O	pano	de	fundo	de	1Ts
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Em	 At	 17,1-10	 é	 narrada	 a	 fundação	 da	 comunidade	 cristã	 de
Tessalônica.	 Esta	 cidade	 era	 porto	 marítimo	 muito	 florescente	 na	 Grécia.	 A
prosperidade	 material	 contribuía	 para	 baixar	 o	 nível	 moral	 da	 população
respectiva:	para	Tessalônica	confluíam	homens,	 idéias	e	costumes	do	Oriente	e
do	 Ocidente,	 dando	 lugar	 ao	 cosmopolitismo,	 ao	 sincretismo	 religioso	 e	 à
devassidão	dos	costumes.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Ao	 lado	 dos	 cultos	 pagãos,	 havia	 uma	 colônia	 judaica	 na	 cidade.
Conforme	 o	 seu	 costume,	 Paulo,	 ao	 chegar	 a	 Tessalônica,	 foi	 primeiramente
procurar	 os	 judeus	 na	 sinagoga,	 anunciando-lhes	 o	 Evangelho	 por	 três	 sábado
consecutivos.	Diante	do	pouco	êxito	obtido,	Paulo	voltou-se	para	os	gentios	da
cidade,	 que	 aderiram	 fervorosamente	 ao	 Evangelho.	 Constituíram	 assim	 a
comunidade	 cristã	 de	 Tessalônica,	 recrutada	majoritariamente	 entre	 os	 pagãos.
Irritados	com	os	fatos,	os	judeus	levantaram	uma	celeuma	contra	Paulo	e	Silas,
obrigando-os	a	deixar	a	comunidade,	ainda	de	catequese	incompleta.
	
												O	apóstolo	foi	descendo	pelo	litoral	da	Grécia,	chegando	finalmente	a
Atenas.	 Nesta	 cidade,	 aflito	 para	 ter	 notícias	 de	 Tessalônica,	 Paulo	 resolveu
mandar	para	lá	seu	discípulo	Timóteo.	Este,	após	visitar	os	fiéis	tessalonicenses,
voltaria	para	 junto	do	mestre	em	Corinto,	um	pouco	ao	Sul	de	Atenas	 (cf.	1Ts
3,1s).
	
												Em	fins	de	51,	Timóteo	tornou	a	se	encontrar	com	Paulo,	dando-lhe	as
informações	desejadas,	em	parte	boas,	em	parte	sombrias.
	
												De	um	lado,	Timóteo	relatava	que	os	fiéis	perseveravam	na	fé,	apesardas
perseguições	sofridas	da	parte	dos	judeus	(cf.	1,3.6-10;	3,4);	a	caridade	dos	fiéis
impressionava	 os	 gentios	 da	 Macedônia	 (4,10).	 Em	 relação	 ao	 Apóstolo,
conservavam	vivo	afeto,	não	obstante	as	calúnias	difundidas	pelos	judeus	(3,6);
os	 tessalonicenses,	 contrariamente	 ao	 que	 diziam	os	 judeus,	 sabiam	que	Paulo
não	 era	 interesseiro	 explorador,	 mas	 trabalhara	 com	 as	mãos	 dia	 e	 noite	 para
poder	sobreviver	às	próprias	custas	sem	onerar	os	fiéis	(2,3-19).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Doutro	 lado,	havia	que	 registrar	nuvens:	 sob	o	peso	da	perseguição,
alguns	cristãos	se	entregavam	ao	roubo,	à	avareza	e	à	luxúria	(4,6s.11s).	Mais:	a
população	 do	 Império	 Romano	 em	 geral	 aguardava	 uma	 catástrofe	 iminente,
visto	 que	 o	 poder	 imperial,	 sob	 Calígula	 e	 Cláudio,	 homens	 fracos,	 ia
declinando;	 tal	 expectativa	 era	 alimentada	 por	 notícias	 de	 terremotos,
aparecimento	 de	 cometas,	 nascimentos	 de	 monstros	 entre	 os	 homens	 e	 os
animais,	 aves	 de	 rapina	 pousadas	 sobre	 o	 Capitólio	 de	 Roma...	 isto	 tudo
corroborava	nos	cristãos	a	expectativa,	 típica	da	 Igreja	nascente,	de	que	Cristo
voltaria	 em	 breve	 para	 pôr	 fim	 à	 história.	Daí	 duas	 atitudes	 errôneas	 entre	 os
fiéis:	 alguns	 deixavam	 de	 trabalhar,	 esperando	 ver	 o	 Senhor	 descer	 sobre	 as
nuvens;	pelo	fato	de	não	trabalharem,	entregavam-se	à	imaginação	e,	na	hora	de
comer,	nada	tinham;	por	isto,	roubavam...	Outros	cristãos	punham-se	a	pensar	na
sorte	dos	seus	familiares	e	amigos	já	falecidos	sem	ter	visto	o	Senhor	Jesus	em
sua	 glória:	 ficariam	 excluídos	 do	 Reino	 de	 Deus?	 É	 bem	 possível	 que	 os
tessalonicenses	tenham	apresentado	tal	pergunta	ao	Apóstolo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Diante	de	 tais	 informações,	Paulo	resolveu	sem	demora	escrever	aos
fiéis,	 já	 que	 não	 os	 podia	 visitar	 pessoalmente	 (2,17s).	 Assim	 se	 redigiria	 a
primeira	página	do	Novo	Testamento	em	fins	de	51	ou	começo	de	52.
												1.2.	O	conteúdo	de	1Ts
											
												A	1Ts	é	epístola	marcadamente	pastoral,	em	que	o	coração	do	pastor	e
pai	 se	 dirige	 aos	 filhos	 bem-amados	 para	 reconfortá-los	 (2,7-11).	Daí	 a	 índole
simples	e	familiar	da	carta;	diríamos	que	o	Apóstolo	queria	continuar	por	escrito
os	 colóquios	 orais,	 que	 outrora	 iniciara	 nas	 casas	 dos	 tessalonicenses.	 Por	 isto
muitas	 vezes	 lhes	 lembra	 a	 catequese	 oral:	 "sabeis,	 bem	 sabeis,	 estais
recordados,	ainda	vos	lembrais..."	(cf.	1,5;	2,1-2.5.9.11;	3,3s;	4,2;	5,2).
	
												Toda	a	epístola	foi	escrita	na	perspectiva	da	segunda	vinda	de	Cristo	(em
linguagem	técnica:	parusia)1:	1,10;	2,12.19s;	3,13;	4,15;	5,23.	Aliás,	toda	a	vida
cristã	é	concebida	como	expectativa	do	retorno	de	Cristo:	1,9s.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1-	Parusia	 designava,	 na	 linguagem	 do	 Império	 greco-romano,	 a	 visita	 do	 Imperador	 a
determinada	cidade,	acontecimento	faustoso	e	benéfico	para	a	população	visitada.	Os	cristãos	assumiram
este	termo	da	linguagem	civil,	para	designar	assim	o	retorno	de	Cristo	ao	mundo	como	Senhor	da	história.
	
												A	epístola	contém	uma	parte	teológica	importante:	4,13-5,11,	seção	em
que	o	Apóstolo	tenta	dissipar	as	dúvidas	dos	fiéis	relativas	à	parusia.	Em	4,13-18
trata	 da	 sorte	 dos	 defuntos	 por	 ocasião	 da	 parusia,	 ao	 passo	 que	 em	 5,1-11
disserta	sobre	a	hora	do	retorno	de	Cristo.
	
												Ler	4,13-18...	S.	Paulo	quer	dizer	que	os	fiéis	defuntos	nenhum	prejuízo
sofrerão	pelo	fato	de	já	terem	morrido,	pois	ressuscitarão	e	serão	associados	com
os	demais	fiéis	na	glória	do	Senhor.	Quatro	pontos	merecem	nossa	atenção	nesta
seção:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	4,13	a	morte	é	comparada	a	um	sono,	como	já	ocorria	no	Antigo
Testamento	e	entre	escritores	gregos	clássicos.	Este	uso	 transparece	ainda	hoje
no	 vocábulo	 "cemitério",	 que	 vem	 do	 grego	 koimetérion,	 dormitório.	 Na
verdade,	para	o	cristão,	a	morte	é	apenas	a	passagem	da	vida	peregrina	para	a
vida	em	plenitude;	não	morremos,	mas	apenas	trocamos	de	morada.
	
												Em	4,16s	ocorrem	as	imagens	da	"voz	do	arcanjo,	da	trombeta	divina,	do
arrebatamento	 nos	 ares",	 que	 não	 hão	 de	 ser	 tomadas	 ao	 pé	 da	 letra,	 porque
pertencem	 à	 linguagem	 apocalíptica.	 Ver	 "Léxico	 Bíblico",	 verbete
"Apocalipse".
	
												Em	4,15.17	São	Paulo	propõe	a	doutrina	de	que	não	morrerão	aqueles
que	estiverem	vivos	no	dia	do	juízo	final;	serão	glorificados	corporalmente,	sem
passar	 pelo	 túnel	 da	morte.	A	mesma	 doutrina	 ocorre	 também	 em	1Cor	 15,51
e2Cor5,2.4.	Há,	pois,	uma	exceção	para	a	lei	da	morte,	exceção	que	beneficiará
quem	estiver	presente	à	parusia.
	
												Em	4,15.17	as	expressões	"nós	que	estivermos	vivos"	fizeram	correr	rios
de	 tinta.	Em	síntese,	exprimem	a	esperança	que	São	Paulo	 tinha,	de	assistir	ao
fim	dos	tempos.	Essa	esperança	não	significava	certeza,	pois	o	Apóstolo	mais	de
uma	 vez	 afirma	 que	 ninguém	 pode	 definir	 o	 dia	 da	 vinda	 do	 Senhor;	 cf.	 1Ts
5,2.3;	2Cor5,9.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ler	5,1-11...	É	precisamente	o	não-saber	 que	 inspira	 ao	 cristão	uma
atitude	 de	 vigilância	 permanente.	 Qualquer	 momento	 pode	 ser	 o	 definitivo;	 o
Senhor	 virá	 como	 um	 ladrão	 durante	 a	 noite.	 Se	 não	 o	 virmos	 como	 juiz	 e
consumador	da	história,	nós	o	veremos	como	o	esposo	que	virá	chamar-nos	para
a	 ceia	 da	 vida	 eterna	 no	 dia	 "da	 nossa	 morte".	 Por	 isto	 o	 cristão	 deve	 viver
sempre	 na	 presença	 do	 Senhor,	 que	 lhe	 está	 presente,	 embora	 velado	 (mas
prestes	a	se	revelar	a	qualquer	momento).	Quem	procede	reta	e	santamente,	nada
tem	a	recear;	é	filho	da	luz,	puro	como	a	luz,	e	será	chamado	para	a	luz	eterna.
	
												"Consolai-vos,	pois,	e	edificai-vos	mutuamente"	(5,11).	A	palavra	final
do	cristão	diante	do	mistério	da	morte	é	de	plena	confiança	e	esperança;	já	agora
vivemos	 dos	 valores	 definitivos,	 que	 nos	 estão	 presentes,	 mas	 encobertos,	 à
espera	de	ser	descobertos.
	
Lição	2:	A	2Ts
	
												2.1.	Pano	de	fundo
	
A	1Ts	só	em	parte	atingiu	seus	objetivos.	Com	efeito,	dissiparam-se	as	dúvidas
dos	 fiéis	 a	 respeito	 dos	 irmãos	 falecidos.	Mas	 a	 questão	 do	 dia	 e	 da	 hora	 da
segunda	 vinda	 de	 Cristo	 continuou	 a	 perturbar.	 O	 Apóstolo,	 em	 sua	 carta,
deixava	 o	 assunto	 em	 suspenso,	 apenas	 admoestando	 todos	 à	 vigilância.	 Em
conseqüência,	 alguns	 membros	 da	 comunidade,	 agitados,	 perturbavam	 os
irmãos,	 afirmando	 que	 o	 dia	 do	 juízo	 estava	 às	 portas.	 Isto	 deixava	 muitos
membros	 da	 comunidade	 apavorados,	 como	 pessoas	 cujos	 dias	 tivessem	 sido
cortados	drasticamente.
	
												Para	fundamentar	sua	afirmação,	alguns	se	baseavam	na	palavra	profética
de	um	irmão	carismático.	Outros	talvez	apelassem	para	a	própria	carta	de	Paulo,
onde	 liam:	 "Nós,	 os	 vivos,	 que	 estivermos	 presentes...";	 ao	 escrever	 assim,
pensavam,	São	Paulo	não	terá	intencionado	afirmar	a	iminência	da	parusia?	Mas
outros	 devem	 ter	 falsificado	 uma	 carta	 de	 São	 Paulo,	 apresentando-a	 como	 se
fosse	autêntica	mensagem	do	Apóstolo...	É	o	que	se	depreende	de	2Ts	2,1s	(neste
contexto,	"dia	do	Senhor"	é	uma	expressão	dos	Profetas	que	significa	o	dia	da
consumação	da	história).	Também	é	de	notar	2Ts	3,17,	onde	o	Apóstolo	chama	a
atenção	para	a	sua	genuína	assinatura.
	
												As	notícias	de	agitação	da	comunidade	devem	ter	sido	levadas	a	Paulo
por	cristãos	que	viajavam	de	Tessalônica	a	Corinto;	como	se	compreende,	estes
também	relataram	o	que	havia	de	bom	entre	os	irmãos	(cf.	2Ts	1,3s;	2,16).	Em
conseqüência,	 Paulo	 quis	 logo	 escrever	 nova	 carta	 aos	 tessalonicenses:
procuraria	tranqüilizar	os	fiéis	e	exortá-los	a	trabalhar,	pois	a	parusia	do	Senhor
ainda	 estava	 distante.	 E,	 precisamente	 para	 provar	 essa	 distância,	 o	 Apóstolo
apontaria	 algo	 de	 novo,	 ou	 seja,	 os	 sinais	 precursores	 da	 segunda	 vinda	 de
Cristo;	é	a	indicação	destes	sinais	que	caracteriza	a	2Ts.
	
												Deve	ter	sido	curto	o	intervalo	entre	1Ts	e	2Ts,	pois	ambas	reproduzem
as	mesmas	preocupações.Daí	colocarmos	a	2Ts	no	ano	de	52.
	
												2.2.	O	conteúdo	de	2Ts
	
												O	conteúdo	da	carta	é	breve	e	sistemático:
												a)	1,1-12:	elogio	dos	fiéis	que	perseveraram	na	prática	do	bem;	conclui-
se	com	oração
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 b)	 2,1-17:	 os	 sinais	 precursores	 da	 parusia;	 conclui-se	 com	 oração
(2,16s);
												c)	3,1-16:	exortações	morais;	termina	com	oração	(3,16).	A	passagem
principal	é	a	de	2,1-12	(sinais...).	Examinemo-la.
	
												Tal	seção	é	difícil,	em	parte	porque	supõe	a	pregação	oral	do	Apóstolo,
que	 não	 conhecemos:	 "Não	 vos	 lembrais	 de	 que	 vos	 dizia	 isto	 quando	 estava
convosco?"	(2,5).	Como	quer	que	seja,	tentemos	compreender.
	
												Em	síntese,	o	Apóstolo	diz	que
	
												-os	fiéis	não	se	devem	deixar	perturbar	(2,	1s);
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	 antes	 que	 o	 Senhor	 venha,	 deverão	 ocorrer	 grande	 apostasia	 e	 o
aparecimento	do	Homem	do	Pecado	(2,3s);
												-	há,	porém,	um	obstáculo	(neutro	e	masculino,	conforme	o	texto	grego)
que	impede	o	aparecimento	do	Iníquo	(2,6s);
												-	todavia	o	obstáculo	(que	age	como	dique)	será	retirado	e	o	Pecador	fará
sua	"parusia",	com	toda	espécie	de	prodígios	(2,6s.9-1	2);
												-	o	Senhor	Jesus	vencerá	o	Iníquo	(2,8).
	
												Mais	precisamente:	o	Apóstolo	aponta	dois	sinais	que	devem	anteceder	o
fim	dos	tempos	-	a	grande	apostasia	e	o	surto	de	famoso	Pecador.
	
												A	apostasia	é	predita	também	em	2Tm	3,1	-1	0;	será	uma	das	expressões
mais	 evidentes	 do	 mistério	 da	 iniqüidade,	 que	 se	 exerce	 em	 todos	 os	 tempos
(2,7).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Essa	 apostasia	 será	 provocada	 por	 um	 ser	 chamado	 "o	 ímpio,	 o
Adversário,	 o	 Filho	 da	 Perdição"1.	 É	 muito	 difícil	 dizer	 se	 se	 trata	 de	 um
indivíduo	 ou	 de	 uma	 coletividade;	 será,	 sem	 duvida,	 uma	 violentíssima
manifestação	 do	mal	 no	mundo,	marcada	 por	muitos	 portentos	 sedutores,	 que
deixarão	 os	 homens	 boquiabertos	 e	 dispostos	 a	 aderir	 ao	mal	 envernizado	 por
aparentes	milagres.
												1	-	Notemos	que	São	João	fala	de	Anticristo(s)	(cf.	1Jo	2,18.22),	mas	em	sentido	mais	amplo,
compreendendo	todo																	aquele	que,	em	qualquer	época,	negue	a	Messianidade	de	Jesus.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Eis,	porém,	 que	 o	mistério	 da	 iniqüidade	 não	 se	 expande	 agora	 de
maneira	plena,	porque	há	um	obstáculo	que	o	detém.	Este	é	de	gênero	neutro	(to
katéchon,	2,6)	e	masculino	 (ho	katéchon,	v.	7)	e	 já	dura	quase	dois	mil	anos,
pois	desde	os	tempos	de	São	Paulo	detém	a	explosão	do	mal.	Que	obstáculo	será
esse,	 tão	duradouro	e	 tão	poderoso?	Muitas	 sentenças	 têm	sido	proferidas,	 das
quais	destacaremos	duas:
	
												a)	conforme	Dn	10,21;	12,1,	Miguel	e	seus	anjos	são	os	tutores	do	povo
de	 Deus.	 Ora	 é	 possível	 que	 Paulo	 tenha	 pensado	 em	 Miguel	 (obstáculo
masculino)	e	seu	exército	(obstáculo	neutro)...
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 b)	 tratar-se-ia	 do	 próprio	Deus	 e	 do	 plano	 salvífico	 da	 Providência
Divina.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	 escolha	 é	 livre.	O	 que	 imporia	 frisar	 é	 que	 a	 oração	 assídua	 e	 a
fidelidade	 ao	 Senhor	 Deus	 são	 os	 meios	 mais	 eficazes	 para	 nos	 precavermos
contra	 as	 seduções	 do	 mal	 neste	 mundo.	 S.	 Agostinho	 diz	 sabiamente	 que	 o
demônio	é	como	um	cão	acorrentado	que	pode	 ladrar	muito	alto,	mas	que	não
morde	 senão	 a	 quem	 se	 lhe	 chega	 perto.	A	 palavra	 final	 da	 história	 será	 a	 de
Cristo.
	
												A	propósito,	ainda	uma	reflexão.	Não	só	nos	tempos	de	S.	Paulo,	mas
também	 hoje	 os	 homens	 esperam	 o	 fim	 dos	 tempos	 para	 breve,	 disseminando
"profecias"...	 Diante	 deste	 fenômeno,	 lembremo-nos	 de	 que	 o	 Apóstolo	 quis
dissuadir	os	 fiéis	de	procurar	 saber	a	data	do	 fim	do	mundo;	 Jesus	 também	se
recusou	a	 tais	profecias	 (cf.	At	1,7).	Mais	 importante	do	que	a	data	do	 fim	do
mundo	é	o	encontro	pessoal	de	cada	um	com	o	Senhor	no	dia	da	"morte";	este
não	está	longe;	cada	um	o	experimentará,	e	será	decisivo.
	
												O	Apóstolo,	em	síntese,	quer	induzir	seus	leitores	a	evitar	os	devaneios
da	mente,	pois	estes	 levam	à	ociosidade,	que,	por	sua	vez,	 leva	ao	roubo	e	aos
crimes:	"Quem	não	quer	trabalhar,	também	não	há	de	comer"	(2Ts	3,10).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Encerra-se	assim	o	estudo	de	1/2Ts:	 tratam	do	tema	mais	presente	às
primeiras	 gerações	 -	 o	 da	 volta	 do	 Senhor	 Jesus.	 Para	 nós,	 este	 tema	 implica,
antes	 do	 mais,	 o	 encontro	 pessoal	 com	 o	 Cristo	 que,	 no	 fim	 desta	 carreira
terrestre,	virá	chamar	cada	um	para	a	ceia	da	vida	eterna;	Ele	será	(como,	aliás,
já	 é	 através	 dos	 véus	 da	 fé	 e	 dos	 sacramentos)	 a	 grande	 resposta	 a	 todos	 os
nossos	anseios.
	
												Para	ulterior	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
*	*	*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Qual	o	tema	dominante	de	1/2Ts?	Porquê?
												2)	Em	que	circunstâncias	foi	fundada	a	comunidade	de	Tessalônica?
												3)	Qual	a	sorte	dos	falecidos	por	ocasião	da	parusia	?	Explique	1	Ts
4,13-17.
												4)	Quais	os	frutos	de	1Ts	na	comunidade	de	Tessalônica?
												5)	Como	o	Apóstolo	define	os	sinais	precursores	da	segunda	vinda	de
Cristo?
												6)	Para	cada	um,	qual	o	fruto	da	discussão	sobre	a	parusia	do	Senhor?
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
												MÓDULO	III:	A	EPÍSTOLA	AOS	GÁLATAS
	
Lição	1:	O	fundo	de	cena
	
												1.1.	Quem	eram	os	galatas?
	
												No	século	III	a.C.	algumas	tribos	celtas	(gálataí	é	a	forma	mais	recente
de	kéltai,	em	grego)	 se	moveram	da	Gália	 e	 penetraram	na	Ásia	Menor;	 após
guerras	 violentas	 estabeleceram-se	 na	 região	 central	 desta,	 tendo	 por	 capital
Ancira	 (Ankara	 de	 hoje,	 na	 Turquia).	 Em	 25	 a.C.	 os	 romanos	 invadiram	 a
Galácia	 e	 a	 integraram	 numa	 confederação	 mais	 ampla,	 chamada	 "Província
Romana	da	Galácia",	que	chegava	até	o	 sul	da	Ásia	Menor	 (compreendendo	a
Pisídia,	a	Licaônia	e	a	Panfilia).	Havia,	pois,	a	Galácia	étnica,	situada	no	centro
da	 Ásia	 Menor,	 com	 população	 rude	 e	 belicosa,	 e	 a	 Galácia	 política,	 que
chegava	até	o	sul	da	Ásia	Menor	e	compreendia	outros	povos	além	dos	celtas.
	
												Os	exegetas	perguntam	se	a	epístola	aos	galatas	se	dirige	à	Galácia	étnica
ou	à	Galácia	política.
	
												Para	não	nos	alongar	inutilmente,	optamos,	com	a	maioria	dos	autores,
pela	Galácia	étnica	ou	Galácia	no	sentido	estrito	da	palavra.	São	Paulo	visitou	tal
região	 tanto	 na	 segunda	 como	 na	 terceira	 viagens	 missionárias	 (cf.	 At	 16,6;
18,23).	Certamente	Paulo	não	teria	chamado	"galatas"	(Gl	3,1)	os	habitantes	da
Galácia	política,	que	não	eram	de	sangue	celta	ou	galata.
	
												Pouco	se	sabe	a	respeito	da	fundação	das	comunidades	da	Galácia.	Em
Gl	 4,13s	 o	 Apóstolo	 diz	 que	 na	 Galácia	 foi	 afetado	 por	 grave	 enfermidade
(talvez	dos	olhos),	quando	lá	esteve	"pela	primeira	vez",	ou	seja,	por	volta	de	50;
pode	ser	que	tal	moléstia	tenha	prolongado,	para	além	do	que	esperava,	a	estada
do	Apóstolo	 na	 região.	Na	 terceira	 viagem	missionária	 (53/58),	 diz-nos	Lucas
apenas	 que	 Paulo	 "percorreu	 sucessivamente	 o	 território	 galata	 e	 a	 Frigia,
confirmando	todos	os	discípulos"	(At	18,23).	Já	então	se	realizara	o	Concilio	de
Jerusalém	(At	15).
	
												1.2.	A	problemática	de	Gl
	
												Da	Galácia,	durante	a	terceira	viagem	missionária,	por	volta	de	54,	Paulo
dirigiu-se	a	Éfeso,	onde	permaneceu	durante	 três	anos	(cf.	At	19,1	-10;	20,31),
mantendo	intercâmbio	muito	intenso	com	as	comunidades	da	Ásia	e	da	Grécia.
Foi	nesse	contexto	que	se	apresentaram	a	Paulo	irmãos	portadores	de	notícias	da
Galácia:	 tinham	 sobrevindo	 a	 esta	 região	 judaizantes	 estremadosque
perturbavam	 as	 comunidades,	 declarando	 que,	 sem	 a	 circuncisão	 e	 a	 Lei	 de
Moisés,	 não	 haveria	 salvação.	Os	 argumentos	 desses	 pregadores	 estavam	 para
induzir	 os	 galatas	 a	 abraçar	 as	 observâncias	 mosaicas;	 cf.	 Gl	 1,6-9;
3,1;4,9s.21;5,1.12.	Os	 judaizantes	 tentavam	enfraquecer	ou	anular	a	autoridade
de	Paulo,	dizendo	que	este	não	era	apóstolo	propriamente	dito,	pois	não	seguira
Cristo	 na	 terra	 como	 Pedro	 e	 Tiago	 (cf.	 Gl	 1,1);	 era,	 sim,	 discípulo	 dos
apóstolos;	 para	 compensar	 a	 autoridade	 que	 não	 tinha,	 Paulo	 seria	 um
oportunista,	 pregando	 um	Cristianismo	mutilado	 (sem	 as	 observâncias	 da	Lei)
somente	 para	 agradar	 aos	 ouvintes;	 Paulo	 procuraria	 tão	 somente	 o	 favor	 dos
homens,	pois	 tinha	mandado	circuncidar	Timóteo	para	não	melindrar	os	judeus
(cf.	At	16,3),	mas	se	tinha	oposto	à	circuncisão	de	Tito	para	não	desagradar	aos
pagãos	 (cf.	 Gl2.3)	 ;	 cf.	 Gl	 1,10.	 As	 calúnias	 e	 difamações	 dividiam	 e
amarguravam	os	galatas,	que	"se	mordiam	e	devoravam	reciprocamente"	(5,15).
	
												O	Apóstolo	não	pode	ter	deixado	de	experimentar	viva	indignação	em
vista	 dos	 acontecimentos.	 Suportaria	 em	 silêncio	 a	 deturpação	 de	 sua	 imagem
pessoal.	Mas	não	podia	permitir	que	a	 autenticidade	do	Evangelho	 fosse	posta
em	 causa	 pelos	 judaizantes;	 impor	 a	 Lei	 de	 Moisés	 aos	 cristãos	 significava
esvaziar	 a	 obra	 salvífica	 de	 Cristo;	 equivalia	 a	 dizer	 que	 Cristo	 não	 foi	 o
suficiente	Salvador,	seria	pôr	os	preliminares	da	obra	e	a	própria	obra	de	Cristo
no	mesmo	pé.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Por	 isto	 Paulo	 houve	 por	 bem	 escrever	 sem	 demora	 a	 epístola	 aos
Galatas,	 já	 que	 não	 podia	 abandonar	 o	 intenso	 ministério	 que	 praticava	 em
Éfeso.	Esta	carta	deve	datar	de	54,	escrita	na	cidade	de	Éfeso.	É	um	dos	mais
veementes	 escritos	 do	 Apóstolo,	 em	 que	 faltam	 os	 habituais	 elogios	 à
comunidade,	próprios	do	 início	de	cada	carta	 (cf.	1Ts	1,2-10;	2Ts	1,3-5;	1	Cor
1,4-9;	Fl	1,3-11...).
	
												Lição	2:	O	conteúdo	de	Gl
	
												A	epístola	compreende	três	partes:	1)	apologética,	pessoal,	autobiográfica
(1,1	-2,14);	2)	teológica	(2,15-5,12)	;	3)	parenética	ou	exortatória	(5,13-6,18).
	
												Na	1a	parte	(1,1-2,14),	distingue-se	a	seção	1,1-5,	que	propõe	logo	os
dois	temas	capitais	da	carta:	Paulo	não	é	Apóstolo	escolhido	pelos	homens,	mas
chamado	por	Deus	(1,1);	a	salvação	nos	vem	mediante	a	morte	de	Jesus	Cristo,	e
não	pela	Lei	de	Moisés	(1,4s).
	
												Em	1,6-24	o	Apóstolo	afirma	que	o	Evangelho	por	ele	apregoado	não	foi
aprendido	em	escola	humana;	é,	sim,	o	fruto	de	revelação	divina.	Para	prová-lo,
Paulo	recorda	o	chamado	à	conversão	(1,13-16)	que	Cristo	lhe	dirigiu.	Paulo	não
teve	 a	 pressa	 de	 procurar	 a	 aprovação	 dos	 demais	 Apóstolos,	 mas	 foi	 para	 a
Arábia,	e	só	três	anos	depois	subiu	a	Jerusalém	para	encontrar-se	com	Pedro;	não
viu	 então	 nenhum	 dos	 outros	Apóstolos;	 como	 teria	 recebido	 o	 apostolado	 de
mãos	humanas?
	
												Em	2,1-10,	o	Apóstolo	confirma	sua	fidelidade	à	Igreja-mãe	referindo-se,
em	narração	um	pouco	obscura,	à	sua	participação	no	Concílio	de	Jerusalém.	As
"colunas	da	Igreja",	Pedro,	Tiago	e	João,	deram-lhe	as	mãos,	ficando	entendido
que	os	gentios	estariam	isentos	da	Lei	de	Moisés.	Paulo	se	dedicaria	doravante
ao	 mundo	 pagão,	 ao	 passo	 que	 Pedro	 ficaria	 com	 o	 mundo	 judaico
(prevalentemente).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	2,1-14	é	mencionado	o	 incidente	de	Antioquia.	Nesta	cidade	em
território	 pagão,	 Pedro	 não	 observava	 as	 prescrições	 de	 Moisés	 quanto	 aos
alimentos;	 mas,	 tendo	 sobrevindo	 irmãos	 judaizantes,	 passou	 a	 dobrar-se	 às
injunções	da	Lei.	Paulo	lhe	resistiu	abertamente,	pois	o	exemplo	de	Pedro	era	tão
significativo	 que	 induziria	 muitos	 cristãos	 ao	 erro.	 O	 incidente	 não	 teve
conseqüências,	nem	versou	sobre	pontos	de	fé,	mas	apenas	sobre	disciplina.
	
												A	segunda	parte	(2,15-5,12)	desenvolve	o	tema	da	justificação	pela	fé,	e
não	pelas	obras.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Após	enunciar	a	tese	em	2,15-21	o	Apóstolo	propõe	argumentos,	que
mostram	a	caducidade	da	Lei	de	Moisés	após	a	vinda	de	Cristo:
	
												-	a	experiência	dos	galatas,	que	receberam	os	dons	do	Espírito	não	como
fruto	da	observância	da	Lei,	mas	como	efeito	de	sua	adesão	ao	Evangelho	(3,1-
7);
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	 a	promessa,	 feita	 a	Abraão,	de	que	por	 ele	 todos	os	povos	 seriam
abençoados,	é	independente	da	Lei	de	Moisés,	pois	esta	sobreveio	somente	430
anos	 após	 a	 promessa;	 por	 conseguinte,	 todos	 os	 povos	 são	 abençoados	 como
Abraão,	isto	é,	pela	fé	na	promessa	de	Deus,	e	não	pelo	cumprimento	das	obras
da	Lei	(cf.	3,8-18);
	
												-	a	finalidade	da	Lei...	Esta	foi	dada	ao	povo	de	Israel	como	pedagogo1,
isto	é,	como	escravo	que	devia	levar	o	filho	da	casa	à	escola	e	ao	Mestre	(Jesus
Cristo).	 A	 Lei	 escravizou	 o	 povo;	 tendo-o	 levado	 ao	 Cristo,	 só	 lhe	 resta
desaparecer,	 pois	 terminou	 sua	 função	 (3,19-4,11).	 -	 Em	 4,12-20	 o	 Apóstolo
mostra	seu	ânimo	afetivo,	queixando-se	de	que	tenha	arrefecido	o	amor	dos	fiéis
para	com	seu	pai	espiritual.	O	coração	de	Paulo	 sabia	 ser	muito	 terno,	mesmo
quando	censurava	com	veemência	os	seus	discípulos;
																1	-	Em	Gl	3,24	a	palavra	"pedagogo"tem	o	sentido	etimológico	de	"condutor	da	criança".	Quem
exercia	função	na																	antiguidade,	era	geralmente	um	escravo,	que,	por	sua	índole	mesma,	só	podia
dominar	e	"escravizar"	o	herdeiro.	A	Lei																	de	Moisés	é	pelo	Apóstolo	comparada	a	esse	tipo	de
pedagogo	ou	de	escravo,	que	devia	levar	o	povo	de	Israel	ao	Mestre																	Jesus	Cristo.
	
												-	a	história	da	família	de	Abraão...	São	Paulo	interpreta	em	sentido	típico
as	 figuras	 de	 Abraão,	 Sara	 e	 Agar,	 Isaque	 e	 Ismael,	 recorrendo	 a	 método
exegético	rabínico;	quer	provar	que	somente	Sara	e	Isaque	representam	a	nova	e
definitiva	aliança,	portadora	da	bênção	prometida	a	Abraão	(4,21-31).
	
												Deste	longo	arrazoado	o	Apóstolo	deduz	conseqüências	práticas,	visando
a	incutir	aos	fiéis	permaneçam	na	liberdade	adquirida	por	Cristo;	sobre	os	falsos
pregadores	pesa	o	severo	juízo	de	Deus	(5,1-12).
	
												A	terceira	parte	(5,13-6,18)	exorta	a	viver	no	Espírito,	com	renúncia	às
paixões	da	carne	(5,13-25),	e	incita	a	aproveitar	o	tempo	dado	por	Deus	para	a
prática	de	boas	obras	(5,26-6,10).	No	epílogo	o	Apóstolo	professa	não	procurar
senão	Jesus	Cristo	(6,11-18).
	
												Lição	3:	A	mensagem	de	Gl
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	 A	 epístola	 aos	 Galatas	 é	 certamente	 uma	 das	 mais	 difíceis	 do
epistolado	paulino,	não	só	por	seu	estilo	fogoso,	às	vezes	truncado	e	incompleto
(cf.	Gl	4,25-27),	mas	também	pela	sua	temática:	aborda	uma	questão	que	para	os
cristãos	 de	 hoje	 está	 resolvida	 e	 ultrapassada	 -	 a	 vigência	 ou	 não	 da	 Lei	 de
Moisés	depois	da	vinda	de	Cristo.	O	leitor	cristão	hoje	deverá	compenetrar-se	da
importância	 que	 tal	 problema	 tinha	 para	 as	 primeiras	 gerações:	muitos	 judeus
que	 haviam	 abraçado	 o	 Evangelho	 depois	 de	 haver	 passado	 pela	 escola	 de
Moisés,	não	podiam	deixar	de	crer	que	esta	era	obrigatória	também	para	os	não-
judeus;	 ficaria	 simplesmente	 ao	 lado	 de	 Cristo,	 na	 sua	 perspectiva	 de
judaizantes.	O	papel	reservado	pela	Providência	Divina	ao	Apóstolo	São	Paulo
foi	de	importância	capital	para	"desatrelar"	o	Cristianismo	do	judaísmo;	embora
judeu,	o	Apóstolo	identificou-se	tanto	com	o	espírito	de	Cristo	que	compreendeu
a	provisoriedade	da	Lei	de	Moisés.
	
												2)	Por	seu	conteúdo	tão	veemente,	Gl	foi	chamada	por	Lutero	e	outros
reformadores	 "a	Magna	 Carta	 da	 Liberdade	 Cristã",	 isto	 deve	 ser	 sabiamente
entendido:	Gl	só	apregoa	a	 liberdade	em	relação	à	Lei	de	Moisés,	não	frente	a
toda	lei:	o	cristão	está	obrigado	a	praticar	as	obras	da	lei	superior	da	caridade	e
da	graça;	cf.	5,6.13s.16.
	
												Mais	precisamente:	quando	São	Paulo	afirma	que	somos	salvos	pela	fé,	e
não	pelas	obras	daS!	 6,6;	 29(30),	 10,..	A	 justiça	 divina,	 segundo	 tal	 concepção,	 devia	 exercer-se	 no	 decorrer
mesmo	 da	 vida	 presente;	 os	 homens	 fiéis	 seriam	 recompensados	 com	 saúde,	 vida	 longa,	 dinheiro...,	 ao
passo	que	os	pecadores	sofreriam	doenças,	morte	prematura,	miséria...
	
												Com	o	tempo,	as	concepções	antropológicas	dos	judeus	foram-se	esclarecendo,	de	modo	que	já	no
século	II	a.C.	admitiam	a	ressurreição	dos	mortos	e	a	retribuição	final	para	bons	e	maus	depois	da	morte.
Ver	Dn	12,2s:	"Muitos	dos	que	dormem	no	solo	poeirento	acordarão,	uns	para	a	vida	eterna,	e	outros	para	o
opróbrio,	 para	 o	 horror	 eterno.	 Os	 sábios	 resplandecerão	 como	 o	 esplendor	 do	 firmamento;	 e	 os	 que
tornaram	justos	a	muitos,	como	as	estrelas	por	toda	a	eternidade	refulgirão"	(cf.	2Mc7,9.11.14).
	
												No	tempo	de	Jesus,	os	judeus	já	admitiam	sorte	póstuma	diferente	para	os	bons	e	os	maus;	veja-se,
por	exemplo,	a	parábola	do	ricaço	e	do	pobre	Lázaro,	em	Lc	16,19-31,	onde	aparece	a	separação	de	uns	e
outros.	Na	 terminologia	cristã	 latina,	a	palavra	 inferno	ficou	reservada	para	designar	a	sorte	póstuma	dos
réprobos.	Todavia	 a	 topografia	 do	 além,	 supondo	 terra	plana	 e	 compartimentos	 subterrâneos	para	bons	 e
maus,	 está	 superada.	A	 fé	cristã	professa	a	 realidade	da	vida	póstuma	ou	a	 subsistência	da	alma	humana
após	 a	 morte,	 mas	 não	 pode	 indicar	 lugar	 determinado	 para	 o	 céu	 e	 o	 inferno	 (o	 que	 não	 esvazia	 em
absoluto	os	conceitos	respectivos).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Circuncisão:	 ablação	 ou	 retirada	 do	 prepúcio	 feita	 com	 um	 cutelo	 de	 pedra	 (cf.	 Js	 5,3).
Originariamente,	fora	de	Israel,	era	um	rito	de	integração	do	menino	no	clã	e	de	iniciação	ao	matrimônio.
No	século	XIX	a.C.,	com	Abraão,	a	circuncisão	veio	a	ser	o	sinal	da	aliança	do	israelita	com	Javé.	Através
dos	tempos,	os	Profetas	insistiam	na	espiritualização	da	circuncisão,	que	deveria	coincidir	com	a	conversão
do	coração;	cf.	Jr	4,4;	6,16;	Dt	10,16;	30,6.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Concílio:	é	uma	reunião	de	pastores	da	Igreja	ou	de	rabinos	da	Sinagoga,	destinada	a	 tratar	de
assuntos	doutrinários	ou	disciplinares.	Pode	ser	 regional	ou	 local,	 se	congrega	apenas	os	 responsáveis	de
uma	determinada	região.	É	ecumênico	(ou	universal)	quando	reúne	os	bispos	do	mundo	inteiro.	Diz-se	que
o	primeiro	Concílio	da	história	da	Igreja	foi	o	de	Jerusalém	(At	15),	embora	só	uma	minoria	dos	Apóstolos
tenha	lá	comparecido;	no	ano	de	49,	vários	dos	Apóstolos	já	se	tinham	dispersado	para	pregar	o	Evangelho.
	
												Epíscopo:	ver	bispo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Escatologia:	 é	 a	 doutrina	 referente	 ao	 eschatón	 ou	 aos	 últimos	 acontecimentos	 ou	 ainda	 à
consumação	 da	 história.	 Esta	 pode	 ser	 coletiva	 (a	 consumação	 da	 história	 da	 humanidade	 ou	 o	 fim	 do
mundo),	como	pode	ser	individual	(a	consumação	da	história	terrestre	ou	da	peregrinação	de	determinada
pessoa).
	
												Escatológico	é	o	que	se	refere	aos	últimos	acontecimentos.	Perspectiva	escatológica,	por	exemplo,	é
a	 consideração	 dos	 fatos	 presentes	 à	 luz	 da	 eternidade	 ou	 da	 consumação	 para	 a	 qual	 tendem.	 Bens
escatológicos	são	os	bens	definitivos	já	presentes	em	meio	ao	tempo.
	
												Escriba:	entre	os	cristãos,	é	o	amanuense,	que	escreve	quanto	lhe	é	ditado;	tal	foi	o	caso	de	Tércio
(cf.	Rm	16,22).	Entre	os	 judeus,	os	escribas	eram	aqueles	que,	desde	o	 tempo	de	Esdras	 (século	V	a.C.),
eram	entendidos	nas	coisas	da	Lei;	por	isto	eram	também	chamados	legisperitos"	ou	"doutores	da	Lei"	(cf.
Lc5,17;	Mt	22,35).	Os	escribas	tiveram	grande	influência	sobre	a	vida	do	povo	judeu.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Exegese:	do	grego	exégesis,	explicação,	explanação.	É	a	arte	de	expor	ou	explicar	o	sentido	de
determinado	texto,	especialmente	da	Bíblia;	para	ser	rigorosamente	conduzida,	requer	o	estudo	de	línguas,
história,	arqueologia...
orientais.	Segundo	S.	João(Jo	1,	18)	Jesus	é	o	Grande	Exegeta	do	Pai,	pois	Ele	nos	revelou	(exegésato)	o
Pai.
	
												Exegeta	é	a	pessoa	que	cultiva	a	exegese.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Geena:	vem	de	ge-hinnom,	 em	aramaico.	Nos	arredores	de	 Jerusalém	havia	um	vale	 (ge’,	em
hebraico)	 pertencente	 aos	 filhos	 de	 Hinnom	 (ben-hinnom)	 Donde	 ge'-ben-hinnom	ou	 ge'-hinnom,	 em
hebraico.	Nesse	vale	se	sacrificavam	crianças	ao	deus	Moloc,	da	Babilônia;	cf_	2Rs	16,3;	21,6;	 Jr	32,35.
Depois	do	exílio	(587-538	a.C.),	os	judeus	lá	queimavam	seu	lixo.	Por	isto,	o	ge'-hinnom	ou	a	ge'-hinnam
era	um	lugar	de	fogo.	Jesus	se	serviu	do	vocábulo	para	designar	a	sorte	póstuma	dos	que	renegam	a	Deus;
cf.	Mc	9,43.45.47.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Gênero	literário:	 conjunto	 de	 normas	 de	 estilo	 e	 de	 vocabulário	 que	 regem	a	 explanação:	 de
determinado	assunto.	Assim	os	textos	de	leis	tem	seu	expressionismo	e	seu	estilo	próprio	(claro	e	conciso);
ao	contrário,	a	poesia	tem	outro	expressionismo	(metafórico	e	reticente):	uma	carta	familiar	difere,	por	seu
linguajar,	de	uma	carta	comercial...	-	Como	há	gêneros	literários	na	linguagem	moderna,	há-os	também	na
linguagem	bíblica;	a	consciência	disto	 tornou-se	clara	aos	cristãos	a	partir	de	 fins	do	século	passado;	em
consequência,	 hoje,	 quando	 o	 leitor	 está	 para	 abordar	 o	 texto	 bíblico,	 deve	 informar-se	 a	 respeito	 do
respectivo	género	literário	(será	poesia?...	história	edificante?...	história	estrita?...	parábola?...).	Cada	gênero
literário,	tendo	suas	regras	de	expressão	próprias,	tem	também	suas	regras	de	interpretação	particulares,	de
modo	que	não	se	pode	entender	um	texto	de	leis	como	se	entende	uma	poesia	ou	uma	parábola.
	
												A	definição	do	gênero	literário	de	determinado	texto	não	se	pode	fazer	arbitrariamente,	mas	deve
obedecer	a	critérios	científicos	(exame	das	características	do	texto).
	
												Hagiógrafo:	autor	sagrado	ou	autor	de	algum	escrito	bíblico.	Um	só	livro	pode	ter	mais	de	um	autor
ou	hagiógrafo.
	
												Hermenêutica:	arte	de	interpretar	(hermeneuein,	em	grego).	Interpretar	é	procurar	compreender	e
explicar	 -	 o	 que	 tem	 de	 ser	 feito	 segundo	 critérios	 objetivos	 e	 não	 conforme	 opiniões	 ou	 pareceres
subjetivos.	Embora	a	Bíblia	seja	Palavra	de	Deus,	que	tem	eficácia	santificadora	própria,	ela	é	a	Palavra	de
Deus	encarnada	na	palavra	do	homem;	por	isto	precisa	de	ser	entendida	primeiramente	com	o	instrumental
das	ciências	históricas	e	 lingüísticas	para	se	perceber	o	sentido	da	 roupagem	que	a	Palavra	de	Deus	quis
assumir.	 Só	 depois	 de	 depreender	 o	 que	 o	 autor	 sagrado	 tinha	 em	 vista	 exprimir	 com	 sua	 linguagem,	 é
possível	passar	para	o	plano	da	fé	e	da	teologia.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Inferno:	do	 latim	 infernus,	 adjetivo	que	vem	de	 infra,	 abaixo.	 Inferno	seria	a	 região	 inferior,
colocada	debaixo	da	superfície	da	terra.	Significaria	o	cheol	dos	judeus	antigos.	Na	linguagem	cristã,	feita
abstração	de	 topografia	 ou	 de	 geografia	 do	 além,	 inferno	 significa	 o	 estado	póstumo	dos	 que	 renegaram
consciente	e	voluntariamente	a	Deus.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Inspiração	bíblica:	 distingue-se	 da	 inspiração	 no	 sentido	 usual	 da	 palavra,	 pois	 não	 é	 ditado
mecânico	nem	é	comunicação	de	idéias	que	o	homem	ignorava,	inspiração	bíblica	é	a	iluminação	da	mente
de	um	escritor	para	que,	sob	a	luz	de	Deus,	possa	escrever,	com	as	noções	religiosas	e	profanas	que	possui,
um	livro	portador	de	autêntica	mensagem	divina	ou	um	livro	que	transmite	fielmente	o	pensamento	de	Deus
revestido	de	linguajar	humano.
	
												A	finalidade	da	inspiração	bíblica	é	religiosa,	e	não	da	ordem	das	ciências	naturais.
	
												Toda	a	Bíblia	é	inspirada	de	ponta	a	ponta,	em	qualquer	de	suas	partes.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Certas	 passagens	 bíblicas,	 além	 de	 inspiradas,	 são	 também	 portadoras	 de	 revelação	 ou	 da
comunicação	 de	 doutrinas	 que	 o	 autor	 sagrado	não	 conhecia	 através	 da	 sua	 cultura	 (Deus	 é	Pai,	 Filho	 e
Espírito	Santo,	chamou-nos	para	o	consórcio	da	sua	vida,	mandou-nos	o	Filho	como	Redentor,	etc.).Lei,	quer	dizer	que	entramos	na	 justificação	ou	na	amizade
com	 Deus	 não	 porque	 tenhamos	 praticado	 obras	 boas	 e	 meritórias,	 mas
unicamente	porque	Deus	nos	chamou	e	demos	fé	a	esse	chamado	(como	Abraão
foi	 chamado	 e	 deu	 fé	 a	 esse	 chamado).	 Por	 conseguinte,	 ninguém	 "compra"	 a
amizade	 com	Deus	 ou	 ninguém	 sai	 do	 estado	 de	 pecador	 porque	 o	mereça;	 é
Deus	quem	gratuita	e	soberanamente	dá	a	graça	que	perdoa	o	pecado	e	nos	faz
filhos	de	Deus.	Mas	São	Paulo	não	é	menos	enérgico	ao	afirmar	que	ninguém
permanece	 na	 amizade	 com	 Deus,	 gratuitamente	 recebida,	 se	 não	 pratica	 as
obras	 boas	 que	 a	 filiação	 divina	 impõe	 ao	 homem:	 "Em	 Cristo	 Jesus	 nem	 a
circuncisão	nem	a	 incircuncisão	 tem	valor,	mas	a	 fé	agindo	pela	caridade"	 (Gl
5,6);	o	mesmo	é	dito	em	1Cor	7,19;	13,1-13;	Rm	13,16.	São	Tiago,	sem	negar	a
gratuidade	 da	 justificação	 (cf.	 Tg	 1,8),	 incute,	 como	São	Paulo,	 a	 necessidade
das	boas	obras	como	fruto	da	graça	dentro	do	cristão	(cf.	Tg	2,14-26).
	
												3)	A	epístola	aos	Romanos,	a	poucos	anos	de	intervalo,	retoma	o	tema	de
Gl,	todavia	em	tom	muito	mais	sereno,	pois	o	Apóstolo	não	tinha	em	vista	uma
comunidade	prestes	a	fraquejar	como	a	galata.	Mais	exatamente	podemos	dizer:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	Gl	Paulo	quer	 inculcar	que	a	Lei	de	Moisés	 está	 ab-rogada;	por
conseguinte,	 são	 falsas	as	pretensões	dos	 judaizantes.	Os	aspectos	positivos	da
vida	cristã	são	menos	focalizados.	Neste	contexto,	a	Lei	de	Moisés	é	vista	como
"regime	 de	 maldição"	 (3,10-12),	 pedagogo	 ou	 escravo	 que	 domina	 (3,23),
prefigurada	por	Agar	escrava	e	geradora	de	escravidão	(4,24s).
	
	
												Em	Rm	Paulo	tenciona	descrever	diretamente	o	que	é	a	vida	cristã:	é
dom	de	Deus	gratuito,	derivado	dos	méritos	de	Cristo.	A	Lei	de	Moisés,	neste
quadro,	é	mencionada	em	função	da	vida	cristã	-	o	que	quer	dizer:...	com	mais
objetividade;	São	Paulo	diz	que	a	Lei	é	 santa	 (7,12),	 é	espiritual	ou	vivificada
pelo	 Espírito	 de	Deus	 (7,14).	Onde	 o	 pecado	 abundou,	 São	 Paulo,	 em	 vez	 de
falar	da	morte,	diz	que	a	graça	super-abundou	(Rm	5,20).
	
												4)	Gl	é	importante	também	como	documento	autobiográfico	do	Apóstolo,
especialmente	 nos	 cc.	 1	 e	 2.	 Apresenta-nos	 viva	 imagem	 do	 ânimo	 de	 Paulo,
solícito	 pela	 salvação	 dos	 filhos	 espirituais;	 cf.	 4,12.19s;	 6,11.	 -	 Também	 a
história	 da	 Igreja	 nascente	 é	 ilustrada	 por	 esse	 documento,	 revelador	 de
problemas	que	para	nós	hoje	parecem	insignificantes	ou	nulos;	nem	a	recepção
do	pagão	Cornélio	na	Igreja	(At	10),	nem	o	Concilio	de	Jerusalém	(At	15)	foram
suficientes	 para	 eliminar	 todas	 as	 dificuldades	 do	 relacionamento	 de	 judeus	 e
gentios	na	 Igreja	 (cf.	Gl	2,11	 -14);	a	coragem	e	a	 tenacidade	de	Paulo	 tiveram
que	enfrentar	a	dureza	de	tais	dificuldades.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 5)	Gl	 é	 também	um	documento	 de	 alta	mística,	 apesar	 do	 seu	 tom
polêmico.	O	Apóstolo	 elabora	 ai	 uma	 preciosa	 "teologia	 da	 cruz"	 (1,4;	 2,19s;
3,13s,	 6,14),	 acompanhada	 da	 profissão	 de	 filiação	 divina:	 3,26-28;	 4,4-7.	Em
conseqüência,	não	poucos	escritores	cristãos	hauriram	em	Gl	a	 inspiração	para
suas	reflexões,	deixando-nos	um	exemplo	valioso	a	seguir.
	
												Em	vista	de	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
*	*	*
	
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Quem	eram	propriamente	os	destinatários	de	Gl?
												2)	Quem	eram	os	judaizantes?
												3)	Como	era	Paulo	considerado	pelos	seus	adversários?
												4)	Exponha	sumariamente	o	conteúdo	de	Gl	e	indique	três	passagens	que
mais	o(a)		tenham																							impressionado.
												5)	Que	entende	São	Paulo	por	"justificação	pela	fé	sem	as	obras"?
												6)	Como	se	distinguem	entre	si	Gl	e	Rm	no	tocante	à	Lei	de	Moisés?
	
	
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
												MÓDULO	IV:	A	PRIMEIRA	EPÍSTOLA	AOS
CORÍNTIOS
	
Lição	1:	Fundo	de	cena
	
												Corinto	ficava	na	Acaia,	num	istmo	entre	dois	golfos	-	o	Sarônico,	com
seu	porto	de	Cêncreas	no	mar	Egeu,	 e	o	Coríntio,	 com	o	porto	de	Lequem	no
mar	 Adriático.	 Esta	 posição	 geográfica	 assegurava	 a	 Corinto	 prosperidade
material	crescente,	pois	para	 lá	afluíam	viajantes,	com	suas	mercadorias	e	seus
sistemas	de	vida,	provenientes	de	diversas	partes	do	mundo.	Em	27	a.	C.,	César
Augusto	 fez	 de	 Corinto	 a	 capital	 da	 província	 romana	 da	 Acaia	 (Grécia
Meridional).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	cultos	pagãos	praticados	na	cidade	concorriam,	 juntamente	com	a
riqueza	 e	 o	 bem-estar,	 para	 promover	 a	 devassidão	 moral.	 Das	 numerosas
divindades	cultuadas	em	Corinto,	a	que	mais	em	voga	se	achava,	era	Venus	ou
Afrodite,	 em	 cujo	 templo	 se	 abrigavam	mais	 de	mil	mulheres	 prostituídas;	 as
festas	 desta	 deusa,	 cognominadas	Pandemos	 (de	 todo	 o	 povo),	 provocavam	 a
massa	da	população	à	luxúria	mais	grosseira.
	
												A	mentalidade	de	tal	população	só	podia	ser	fútil.	Mesmo	os	coríntios
que	 se	 gabavam	de	 sabedoria,	 só	 possuíam	a	 sabedoria	 eclética,	 decadente,	 da
sua	época	-	estoicismo	panteísta,	cinismo,	epicurismo	materialista	-,	que,	para	os
atenienses,	 havia	 tornado	 "absurda"	 a	 pregação	 de	 São	 Paulo	 (cf.	 At	 17,18-
21.32s).
	
												Ora	a	fundação	de	uma	comunidade	cristã	em	tal	ambiente	deu-se	por
ocasião	da	 segunda	viagem	missionária	de	Paulo	 (cf.	At	18,1-18).	O	Apóstolo
chegou	 a	 Corinto	 depois	 de	 haver	 sido	 expulso	 sucessivamente	 de	 Filipos,
Tessalônica,	 Beréia	 e	 Atenas.	 Paulo	 se	 encontrava	 só,	 em	 um	 contexto	 pouco
favorável	-	o	que	o	deixou	assaz	temeroso	(cf.	1	Cor	2,3s).	Corria	o	ano	de	52.
	
												Antes	do	mais,	Paulo	procurou	apoio	na	colônia	judaica,	que	era	assaz
numerosa	 em	 Corinto;	 entre	 esses	 judeus,	 encontrava-se	 o	 casal	 Áquila	 e
Priscila,	 provavelmente	 já	 cristão,	 que	 exercia	 a	 profissão	 de	 curtidor	 como
Paulo;	 ofereceu	 ao	 Apóstolo	 não	 somente	 hospedagem,	 mas	 também	 a
possibilidade	 de	 trabalhar	 e	 ganhar	 o	 pão	 (coisa	 que	 S.	 Paulo	 aceitou	 de	 bom
ânimo,	a	fim	de	não	se	tornar	pesado	a	nenhum	de	seus	fiéis).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Consoante	 a	 sua	 tática,	 Paulo	 começou	 a	 pregar	 aos	 judeus.
Converteram-se	o	chefe	da	sinagoga	Crispo	e	companheiros,	mas	os	judeus	que
não	 aceitavam	 o	 Evangelho,	 levaram	 Paulo	 ao	 tribunal	 do	 pro	 cônsul	 romano
Galião,	que	não	quis	intervir,	pois	se	tratava	de	questão	religiosa	judaica.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Passando	 aos	 gentios,	 Paulo	 conseguiu	 muitas	 conversões,
principalmente	entre	as	camadas	humildes	(At	18,8;	1	Cor	1,26-29).	Foi	mesmo
reconfortado	pelo	Senhor	em	visão	noturna(cf.	At	18,9s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Paulo	deteve-se	um	ano	e	 seis	meses	 em	Corinto,	ou	 seja,	 até	52/3,
seguindo	depois	para	Éfeso.	Depois	de	Paulo,	esteve	em	Corinto	um	judeu,	de
nome	Apolo,	 imbuído	de	cultura	helenista	e	dotado	de	 talentos	de	oratória	que
Paulo	não	possuía	(cf.	At	18,24-28;	1	Cor	1,17-25;	2,1-5;	3,1-4).
	
												Nos	anos	seguintes	as	relações	de	Paulo	com	a	comunidade	de	Corinto
não	cessaram.	Principalmente	na	 terceira	viagem	missionária,	Paulo,	deixando-
se	ficar	três	anos	em	Éfeso,	deve	ter	tido	freqüente	intercâmbio	com	os	coríntios.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ora	as	notícias	que	chegavam	de	Corinto,	não	eram	boas:	davam-se
freqüentes	 escândalos	 por	 causa	 da	 luxúria.	 Em	 conseqüência,	 Paulo	 resolveu
intervir,	 escrevendo	de	Éfeso	 aos	 coríntios	uma	carta,	 datada	de	 cerca	de	55	e
mencionada	 em	 1Cor	 5,9-11;	 tal	missiva	 perdeu-se,	 de	modo	 que	 só	 sabemos
que	o	Apóstolo	proibia	aos	fiéis	tivessem	comunhão	com	os	cristãos	impudicos.Apesar	 da	 admoestação,	 a	 situação	 não	melhorou.	 Alguns	 cristãos
queriam	 desacreditar	 o	 Apóstolo	 aos	 olhos	 da	 comunidade,	 assegurando	 que
Paulo	intencionara	proibir	as	relações	com	quaisquer	fornicadores,	avarentos	ou
idolatras,	fossem	pagãos,	fossem	batizados;	isto	tornaria	impossível	a	vida	social
aos	cristãos	numa	cidade	corrupta	como	Corinto.
	
												As	preocupações	do	Apóstolo	se	agravaram	quando	familiares	de	uma
rica	senhora,	chamada	Cloé,	de	Corinto,	chegaram	a	Éfeso,	referindo	a	formação
de	partidos	naquela	cidade:	o	de	Paulo	(o	pai	espiritual),	o	de	Apolo	(o	orador
eloqüente),	 o	 de	 Pedro	 (judaizantes)	 e	 o	 de	 Cristo	 (libertinos).	 Estes	 partidos
favoreciam	disputas,	em	que	a	sutileza	da	dialética	e	a	ostentação	da	sabedoria
vaidosa	tinham	largas	partes	(cf.	1	Cor	1,11.17-25;	2,1-5;	3,3-9).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Outros	mensageiros	 ainda	 falavam	 a	 Paulo	 de	 luxúria	 como	 não	 a
praticavam	 os	 próprios	 pagãos	 (cf.	 1Cor	 5,1);	 referiam	 que	 os	 cristãos	 se
acusavam	mutuamente	diante	de	tribunais	pagãos	(cf.	1Cor	6,1-6);	as	mulheres
se	comportavam	imodestamente	nas	assembléias	de	culto	(1Cor	11,5-10;	14,30);
verificavam-se	abusos	na	celebração	da	Eucaristia	(cf.	1Cor	11,17-22).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim	 informado,	Paulo	primeiramente	pediu	a	Apolo	que	 fosse	 ele
mesmo	 a	 Corinto,	 testemunhando	 a	 sua	 plena	 concórdia	 com	 Paulo	 -	 o	 que
dissiparia	o	espírito	partidário.	Apolo,	porém,	declinou	(cf.	1Cor	16,12).	Por	isto
Paulo	resolveu	mandar	o	jovem	Timóteo,	que	não	estava	envolvido	nos	litígios
da	 comunidade	 (cf.	 1Cor	 4,17;	 16,10).	 Todavia,	 após	 a	 partida	 de	 Timóteo,
Paulo,	 tencionando	 fortalecer	a	autoridade	do	mesmo,	houve	por	bem	escrever
pessoalmente	aos	coríntios.	Assim	se	originou	a	1Cor.
	
												A	redação	deste	escrito	havia	de	consumir,	durante	várias	semanas,	os
serões	de	Paulo	 e	 seu	 escriba	Sóstenes	 (1,1).	Ora	parece	que,	 quando	estavam
terminando	 o	 c.	 4	 (cf.	 5,1:	 "ouve-se	 claramente	 dizer..."),	 novos	 emissários
(Estefanaz,	 Fortunato	 e	Acaico)	 chegaram	 de	 Corinto,	 trazendo	 uma	 carta	 em
que	 várias	 questões	 eram	 apresentadas	 ao	 Apóstolo	 (cf.	 16,17):	 matrimônio	 e
virgindade	 (cf.	7,1),	carnes	 imoladas	aos	 ídolos	 (cf.	8,1),	uso	dos	carismas	 (cf.
12,	 l	 ),	 ressurreição	 dos	 mortos	 (cf.	 15,12.35).	 Todos	 estes	 pontos	 seriam
abordados	na	carta,	fazendo	desta	um	dos	documentos	mais	ricos	do	epistolário
paulino.
	
												Deve	ter	sido	escrita	poucos	meses	após	a	carta	mencionada	em	1Cor	5,9,
pois	 supõe	 o	 equívoco	 ainda	 recente.	 Considerando-se	 5,7	 e	 16,8,	 deve-se
dizer:...	 redigida	 pouco	 antes	 da	Páscoa	de	 56,	 três	 ou	quatro	 anos	 depois	 que
Paulo	deixara	Corinto.	De	16,8	e	18	se	depreende	que	foi	escrita	em	Éfeso.
	
Lição	2:	O	conteúdo	de	1Cor
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 epístola	 apresenta	 duas	 partes	 bem	 distintas	 uma	 da	 outra:	 1)
repreensão	dos	defeitos;	2)	respostas	às	questões.	Mais	precisamente:
	
												Introdução:	1,1-9	-	saudação,	ação	de	graças
	
												l.	Repreensão	dos	defeitos:	1,10-6,20
	
												a)	os	partidos	na	comunidade:	1,10-4,21
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 unidade	 da	 Igreja,	 cuja	 cabeça	 é	 um	 só,	 Cristo,	 exclui	 toda
possibilidade	de	divisão:	1,10-16.	Deus	não	quis	que	o	Evangelho	fosse	pregado
com	os	 artifícios	da	oratória,	 embora	 contenha	 suma	 sabedoria,	 que	Paulo	não
pôde	 revelar	 aos	 coríntios	 carnais	 (1,17-3,4).	Os	pregadores	 do	Evangelho	 são
ministros	de	Deus;	por	isto	não	devem	ser	preferidos	uns	aos	outros	(3,5-4,21).
	
												b)	Os	abusos	a	reprimir:	5,1-6,20
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Seja	 excomungado	o	pecador	 público	da	 comunidade	 (5,1-13).	Não
sejam	levados	a	tribunais	pagãos	os	litígios	entre	cristãos	(6,1-11).	A	fornicação
é	profanação	do	Corpo	de	Cristo	e	do	templo	do	Espírito	Santo	(6,12-20).
	
												II.	Respostas	às	questões	propostas:	7,1-15,58
	
												a)	Matrimônio	e	virgindade:	7,1-40
	
												É	licito	o	matrimônio	(7,1-9).	O	matrimônio	entre	cristãos	é	indissolúvel.
A	 união	 de	 parte	 cristã	 e	 parte	 pagã	 pode	 ser	 dissolvida	 sob	 certas	 condições
("privilégio	 paulino"):	 7,10-24.	 A	 virgindade	 é	 dom	 especial	 de	 Deus,	 atitude
que	brota	da	consciência	de	que	os	valores	definitivos	começam	no	tempo	(7,25-
40).
	
												b)	Os	idolotitos:	8,1-11,1
	
												Em	principio,	é	licito	comer	carnes	imoladas	aos	ídolos,	já	que	estes	nada
são.	Todavia,	se	isto	causa	escândalo	aos	irmãos	mais	fracos,	é	preciso	abster-se
dos	 idolotitos	 (8,1-13).	 O	 próprio	 Paulo	 abstém-se	 do	 que	 lhe	 é	 lícito,	 não
querendo	receber	dos	fiéis	nem	mesmo	o	sustento	cotidiano	a	que	teria	direito.
Castiga	 o	 seu	 corpo,	 pois	 a	 abstinência	 é	 necessária	 para	 se	 vencerem	 as
tentações	 como	 o	 demonstra	 a	 história	 mesma	 do	 povo	 de	 Deus	 (9,1-10,13).
Solução	de	casos	práticos	(10,14-11,1).
	
												c)	As	assembléias	de	culto:	11,2-34
	
												Esta	secção,	por	ser	censura	de	abusos,	melhor	se	encaixaria	na	parte	1.
O	 véu	 das	 mulheres	 é	 sinal	 de	 reverência:	 11,2-16.	 A	 ceia	 eucarística	 seja
dignamente	celebrada:	11,17-34.
	
												d)	Os	carismas:	12,1-14,40
	
												É	necessário	que	haja	diversos	carismas,	como	num	corpo	é	preciso	que
haja	diversas	 funções:	12,1-31a.	A	caridade	é	o	mais	nobre	dos	dons	de	Deus,
embora	 nem	 sempre	 aparatosa:	 12,31b-13,13.	 Entre	 os	 demais	 carismas,	 o	 da
profecia	é	preferível	ao	das	línguas,	pois	é	mais	útil	ao	próximo:	14,1-40.
	
												e)	A	ressurreição	dos	mortos:	15,1-58
	
												Já	que	a	ressurreição	de	Cristo	é	um	fato,	que	os	coríntios	não	negam,
admitam	 conseqüentemente	 a	 ressurreição	 dos	 homens:	 15,1-34.	 A	 maneira
como	se	dará	a	ressurreição,	é	ilustrada	por	analogias	da	natureza:	15,35-58.
	
												Epílogo:	16,1-24:	normas	e	providências	práticas.
	
Lição	3:	A	mensagem	de	1Cor
	
												1.	Ao	passo	que,	nos	demais	escritos.	S.	Paulo	geralmente	tratava	de	uma
só	 doutrina,	 em	 1Cor	 ele	 explana	 com	 profundidade	 assuntos	muito	 variados,
estabelecendo	princípios	básicos	para	os	diversos	 tratados	 teológicos,	 lançando
mesmo	 os	 rudimentos	 do	 Direito	 eclesiástico	 (1Cor	 5,3-5).	 Esta	 variedade	 de
temas	é	a	imagem	viva	de	uma	comunidade	importante	da	Igreja	nascente	e	dá	à
1Cor	o	caráter	de	"enciclopédia	paulina".
	
												2.	Ao	passo	que	em	1/2Ts	São	Paulo	se	voltava	para	o	Cristo	vindouro	e
os	problemas	da	parusia,	em	1Cor	 (assim	como	em	Gl,	2Cor,	Rm)	o	Apóstolo
manifesta	a	consciência	de	que	o	Cristo	está	presente	e	vive	nos	membros	da	sua
Igreja.	Esta	 doutrina,	 perpassando	os	 diversos	 temas	de	1Cor	à	 semelhança	de
linha-mestra,	confere	a	esta	carta	uma	unidade	superior	muito	bela.	Observemo-
lo	de	mais	perto:																																																										
	
												As	facções	são	condenadas	pela	razão	de	que	Cristo	é	um	só;	cabeça	e
corpo	constituem	uma	comunhão	de	vida,	na	qual	não	 se	pode	admitir	divisão
sem	que	haja	morte	(1,13).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 sabedoria	 de	 Deus,	 que	 Paulo	 opõe	 à	 sabedoria	 deste	 mundo,
encarnou-se	 no	 Cristo	 Jesus,	 que	 foi	 crucificado.	 Este	 aspecto	 paradoxal	 da
sabedoria	divina,	reflete-se	nos	membros	da	comunidade	coríntia,	que,	aos	olhos
dos	sábios	da	terra,	são	desprezíveis,	mas	possuem	bens	indizíveis	(1,18-31).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	Apóstolos	 são	cooperadores	de	Deus	 (3,9),	ministros	pelos	quais
Cristo	age	(4,1).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	pureza	moral	decorre	do	fato	de	que	o	cristão	é	membro	de	Cristo,
constitui	um	só	espírito	com	Cristo	à	semelhança	de	esposo	e	esposa,	que	entre
si	constituem	uma	só	carne	(6,15-17).	É	por	isto	que	os	cristãos	devem	fazer	do
seu	corpo	o	reflexo	da	glória	de	Deus,	que	neles	habita	(6,19s).
	
												No	lar	em	que	nem	todos	são	cristãos,	a	parte	fiel	santifica	a	parte	não
cristã	e	os	filhos	(7,14).	A	virgindade	é	preferível	ao	matrimônio	porque	permite
mais	íntimaaplicação	às	coisas	do	Senhor	(7,32-35).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Quanto	 aos	 idolotitos,	 há	 cristãos	 de	 consciência	 fraca	 que	 se
escandalizam	quando	vêem	seus	 irmãos	comer	de	 tais	carnes.	Por	 isto	os	mais
esclarecidos	devem	renunciar	aos	seus	direitos,	quando	necessário,	a	fim	de	não
causar	dano	aos	pequeninos,	pois	 também	por	estes	morreu	Cristo,	e	ofender	a
consciência	destes	seria	ofender	ao	próprio	Cristo	(8,4.11-13).
	
												As	reuniões	de	culto	merecem	o	máximo	respeito,	pois	então	é	a	vida	do
Pai	que,	através	do	Cristo,	se	comunica	ao	homem	e	à	mulher	(11,2-16).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Também	 a	 diversidade	 de	 dons	 é	 explicada	 e	 regrada	 dentro	 da
perspectiva	do	Corpo	de	Cristo;	as	múltiplas	atribuições	devem-se	adaptar	umas
às	 outras	 para	 preencherem	 sua	 finalidade:	 o	 maior	 bem	 do	 Corpo	 (12,1-31;
14,1-40).	 Neste	 contexto,	 a	 caridade,	 que	 congrega	 todos	 na	 unidade,	 aparece
como	o	dom	por	excelência	(13,1	-13).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	ressurreição	dos	mortos	era	odiosa	aos	gregos,	que	só	conheciam	o
corpo	como	cárcere	da	alma.	S.	Paulo	afirma	que,	se	Cristo	ressuscitou	(e	disto
os	 coríntios	 não	duvidam),	 não	pode	haver	 dúvida	de	 que	os	membros	 do	 seu
Corpo	Místico	ressuscitarão	com	Ele	para	uma	vida	gloriosa	como	a	do	próprio
Senhor	ressuscitado	(15,1-58).
	
												Para	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
*				*				*
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Qual	era	o	ambiente	humano	da	cidade	de	Corinto?
												2)	Como	e	quando	Paulo	ai	fundou	a	comunidade	cristã?
												3)	Quais	os	antecedentes	próximos	de	1Cor?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	4)	Escolha	 três	 temas	que	 lhe	parecem	mais	 importantes	em	1Cor	e
desenvolva-os	à	luz	do																									pensamento	paulino.
												5)	Qual	a	característica	dominante	da	mensagem	de	1Cor?
												6)	Mostre	em	três	seções	da	carta	a	importância	da	doutrina	do	Corpo
de	Cristo,	com	multiplicidade									de	membros	dentro	da	unidade	do	conjunto.	
													
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
												MÓDULO	V:	A	SEGUNDA	EPÍSTOLA	AOS
CORÍNTIOS
	
Lição	1:	O	fundo	de	cena	da	2Cor
	
												Quem	compara	entre	si	1	e	2Cor,	verifica	grandes	diferenças	entre	uma	e
outra.	 A	 primeira	 é	 doutrinaria,	 abordando	 diversos	 temas	 teológicos	 como	 a
unidade	da	Igreja,	a	ceia	eucarística,	a	ressurreição	dos	mortos,	os	carismas,	etc.
Ao	contrário,	 a	2Cor,	entre	outras	coisas,	 trata	das	 relações	de	S.	Paulo	com	a
comunidade,	 desfaz	 mal-entendidos,	 expõe	 os	 sentimentos	 de	 alma	 do
Apóstolo...
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Daí	a	pergunta:	que	 terá	acontecido	entre	1	e	2Cor	para	provocar	 tal
mudança	de	conteúdo	e	de	estilo?
	
												-	Não	há	como	responder	muito	precisamente,	pois	o	livro	dos	Atos	nada
refere	 a	 propósito.	 Somente	 da	 própria	 2Cor	 podemos	 deduzir	 alguns	 dados
conjeturais,	como	faremos	a	seguir.	O	trabalho	de	consulta	de	textos	e	leitura	em
filigrana,	 que	vamos	 empreender,	 requer	paciência	 e	 atenção	do	 leitor;	 se	 não,
pouco	compreenderia	da	exposição	seguinte:
	
												1)	Timóteo	volta	de	Corinto	a	Éfeso	com	más	noticias:	os	partidos	e	os
ânimos	não	se	acalmaram	na	comunidade;	cf.	1Cor	4,17;	16,10	(textos	que	falam
da	missão	de	Timóteo	em	Corinto).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2)	Paulo	 então	 resolve	 ir	 a	Corinto	 pessoalmente	 para	 apaziguar	 os
ânimos;	cf.	2Cor	12,	14;	13,1.	-	Com	efeito,	se,	ao	escrever	2Cor,	Paulo	já	tinha
estado	duas	vezes	em	Corinto,	pergunta-se:	quais	seriam	essas	duas	estadas?	A
primeira	é	obviamente	a	da	fundação	da	comunidade	(At	18,1-11);	o	texto	de	At
20,2s	é	posterior	à	2Cor.	Só	 resta	postular	uma	viagem	intermediária	entre	1	e
2Cor.
	
												3)	Em	Corinto	Paulo	é	publicamente	injuriado;	cf.	2Cor	2,5-10;	7,12.
	
												4)	Para	não	punir	logo,	Paulo	deixa	Corinto,	prometendo	voltar	em	breve.
Mas,	 absorvido	 por	 afazeres,	 adiou	 o	 seu	 retorno;	 pelo	 que,	 foi	 acusado	 de
leviano,	inconstante	e	covarde;	cf.	2Cor	1,15s.23.
	
												5)	Em	vez	de	retornar,	Paulo	escreveu	a	"epístola	das	lágrimas";	cf.	2Cor
2,3-9;	 7,5-12.	 Esta	 seria	 a	 terceira	 carta	 aos	 coríntios,	 pois	 a	 primeira	 se	 acha
documentada	 em	 1	 Cor	 5,9-11,	mas	 se	 perdeu;	 a	 segunda	 é	 a	 canônica	 1Cor.
Também	a	epístola	das	lágrimas	se	perdeu,	embora	alguns	a	queiram	identificar
com	a	polêmica	secção	de	2Cor	10-13	(esta	secção	visa	aos	judaizantes,	e	não	a
comunidade	de	Corinto	como	tal).
	
												6)Tito	é	o	portador	da	"epístola	das	lágrimas";	cf.	2Cor8,17;	12,18.
	
												7)	Antes	que	partisse,	Paulo	marcou	encontro	com	Tito	em	Trôade	(Ásia
Menor).	 Mas,	 como	 teve	 que	 deixar	 Éfeso	 precipitadamente	 por	 causa	 da
celeuma	de	Demétrio	(At	19,23-20,1),	Paulo	não	encontrou	Tito	em	Trôade	(cf.
2Cor	2,12s).
	
												8)	Paulo	seguiu	de	Trôade	para	a	Macedônia,	onde	encontrou	Tito	em
Filipos;	 cf.	 2Cor	 2,13;	 7,5-7.	 A	 alegria	 de	 Paulo	 deve	 ter	 sido	 reforçada	 pela
presença	 de	Lucas	 em	Filipos	 (cf.	At	 20,6);	 Lucas	 era	 o	médico	muito	 caro	 e
dedicado	a	São	Paulo.
	
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 9)	As	 notícias	 que	 Tito	 comunicava	 a	 Paulo,	 eram	 satisfatórias;	 a
comunidade	se	reconciliara	com	o	Apóstolo	e	resolvera	afastar	de	si	o	mal:	2Cor
7,7.11.	Estava	disposta	a	colaborar	na	coleta	em	favor	dos	pobres	de	Jerusalém
(cf.	2Cor	9,1-15).
	
												10)	Todavia	Tito	não	podia	deixar	de	relatar	calúnias	e	invectivas	dos
judaizantes	 em	 Corinto.	 À	 semelhança	 do	 que	 se	 dera	 na	 Galácia,	 acusavam
Paulo	 de	 não	 ser	 verdadeiro	 Apóstolo,	 pois	 não	 convivera	 com	 Jesus.	 O
procedimento	de	Paulo	seria	um	aberto	testemunho	de	que	não	estava	seguro	da
sua	autoridade;	sim,	o	adiamento	da	viagem	prometida	era	tornado	como	sinal	de
hesitação	e	inconstância,	próprias	de	um	homem	sujeito	às	suas	paixões,	não	de
quem	 está	 revestido	 da	 autoridade	 de	 Cristo	 (cf.	 2Cor	 1,17);	 Paulo	 era	 dito
covarde,	pois	à	distância	ameaçava	duros	castigos,	escrevia	cartas	severas,	mas
não	 ousava	 comparecer	 e,	 quando	 presente	 entre	 os	 coríntios,	 tinha	 aparência
fraca,	 desprezível,	 usava	 de	 linguagem	 simples	 e	 não	 se	 aventurava	 a	 punir
ninguém	(cf.	2Cor	10,2-11;	11,2;	13,2-4).	Além	disto,	o	fato	mesmo	de	ter	Paulo
procurado	viver	do	 trabalho	de	suas	mãos	em	Corinto,	 sem	pesar	aos	 fiéis	 (cf.
1Cor	 9,12-18;	 1Ts2,9;	 2Ts	 3,7-10),	 era	 interpretado	 como	 indício	 de	 que	 ele
reconhecia	 não	 ter	 direito	 às	 esmolas	 dos	 fiéis	 e	 não	 ser	 Apóstolo	 como	 os
demais	 (cf.	 2Cor	 11,7-12;	 12,13);	 e,	 não	 obstante	 o	 aparente	 desinteresse
pecuniário,	 ainda	 acusavam	Paulo	 de	 viver	 das	 esmolas	 que	 arrecadava	para	 a
comunidade	de	Jerusalém	(cf.	2Cor	6,8).
	
												11)	Ciente	das	boas	disposições	da	comunidade,	Paulo	decidiu	voltar	lá,
numa	 terceira	 visita	 (cf.	 2Cor	 12,14;	 13,1).	 Para	 preparar	 esse	 novo	 encontro
com	os	fiéis,	quis	escrever	a	2Cor,	que	na	verdade	é	a	quarta	carta	de	São	Paulo
aos	coríntios.	Esta	devia	mais	uma	vez	chamar	os	coríntios	à	ordem,	para	que,
presente,	o	Apóstolo	não	tivesse	de	censurá-los	(cf.	2Cor	13,10).
	
												Tito,	acompanhado	de	mais	dois	irmãos,	talvez	Lucas	e	Aristarco,	devia
voltar	sem	demora	a	Corinto,	como	portador	da	carta	(cf.	2Cor	8,16-22).	Esta	foi
escrita	 em	Filipos.	A	 série	 de	 acontecimentos	 supostos	 entre	1	 e	2Cor	 exige	o
intervalo	 de	 um	 ano	 ou	 mais	 entre	 estas	 duas	 epístolas,	 de	 sorte	 que	 a	 2Cor
parece	datar	de	meados	ou	da	segunda	metade	de	57.
	
Lição	2:	O	conteúdo	de	2Cor
	
												São	Paulo	via-se	caluniado	pelos	judaizantes.	Tais	acusações,	porém,	não
afetavam	apenas	a	pessoa	do	Apóstolo,	mas	punhamem	xeque	a	própria	causa
do	Evangelho.	Daí	 a	 necessidade	que	 incumbia	 a	Paulo,	 de	 responder	 fazendo
longa	exposição	de	suas	intenções,	de	seus	trabalhos	e	da	eminente	dignidade	da
sua	 missão	 apostólica.	 Nessa	 epístola	 Paulo	 expandiria	 toda	 a	 sua	 alma	 de
homem	ardente	que	lutava	pela	mais	sublime	das	causas.	Ao	fazer	isto,	porém,	o
Apóstolo	não	se	fechou	numa	visão	individualista	ou	mesquinha	da	realidade;	ao
contrario,	desenvolveu	perspectivas	teológicas	muito	vastas	e	belas.
	
												Introdução	1,1-11.	Saudações.	Paulo	dá	graças	a	Deus,	que	o	libertou	de
gravíssimos	perigos	de	morte.
	
												l.	Apologia	de	Paulo	diante	dos	Coríntios:	1,12-7,16
	
												1)	As	relações	de	Paulo	com	os	coríntios	após	a	1Cor:	1,12-2,17
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Paulo	 mudou	 o	 seu	 plano	 de	 viagem,	 não	 indo	 a	 Corinto,	 como
prometera,	 não	 em	 virtude	 de	 inconstância	 ou	 falta	 de	 amor,	 mas	 para	 não
contristar	 os	 fiéis	 (1,12-2,4).	Recomenda	 caridade	 para	 com	o	 irmão	penitente
(2,5-11).	"Somos	o	bom	odor	de	Cristo"	(2,12-17).
	
												2)	A	dignidade	do	ministério	apostólico:	3,1	-7,1
	
												O	ministério	da	Nova	Aliança	é	mais	nobre	do	que	o	da	Antiga	(3,1-4,6).
O	poder	de	Deus	se	manifesta	na	debilidade	humana	(4,7-5,10).	É	a	caridade	de
Cristo	que	move	o	Apóstolo	e	o	leva	a	apregoar	a	reconciliação	com	Deus.	Não
vivam	os	coríntios	como	os	pagãos	(5,11-7,1).
	
												3)	O	restabelecimento	das	boas	relações	de	Paulo	com	os	coríntios:
7,2-10
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Exposição	dos	fatos	recentes,	principalmente	da	vinda	alegre	de	Tito;
manifestação	do	prazer	conseqüente.
	
												II.	A	coleta	em	favor	da	comunidade	de	Jerusalém	8,1-9,15
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Sigam	os	coríntios	o	exemplo	dos	fiéis	da	Macedônia	(8,1-15).	Paulo
recomenda	aos	coríntios	Tito	 e	os	 irmãos	que	 se	 encarregarão	da	coleta	 (8,16-
9,5).	Deus	recompensa	a	generosidade	dos	seus	fiéis	(9,6-15).
	
												III.	Apologia	polêmica	diante	dos	adversários:	10,1-13,10
	
												1)	Refutação	das	calúnias:	10,1-18
	
												Paulo	não	procede	segundo	as	paixões,	mas	por	espírito	de	fé	(10,1-11);
tem	justos	títulos	de	glória	diante	dos	seus	adversários	(10,12-18).
	
												2)	A	justa	glória	de	Paulo:	11,1-12,18
	
												Em	um	só	ponto	Paulo	é	inferior	aos	pregadores	judaizantes	("apóstolos
por	 excelência"):	 pregou	 o	 Evangelho	 aos	 coríntios	 sem	 lhes	 ficar
financeiramente	a	cargo.	Continuará	a	fazê-lo	(11,1-15).
	
												Embora	seja	tolo	expor	os	próprios	títulos	de	glória,	Paulo	ousa	fazê-lo,
coagido	 pelos	 adversários:	 recorda	 os	 seus	 trabalhos,	 os	 dons	 extraordinários
recebidos	de	Deus	e	também	as	moléstias	corporais,	nas	quais	o	poder	de	Deus
se	manifesta	(11,16-12,10).
	
												Paulo	indica	novos	sinais	da	autenticidade	da	sua	missão.	Os	coríntios
deveriam	defendê-lo	das	calúnias,	já	que	tanto	amor	lhes	demonstrou	no	passado
(12,11	-18).
	
												3)	Admoestação	preparatória	da	próxima	visita:	12,19-13,10.	Paulo
procederá	severamente	contra	os	mal	intencionados	(12,19-13,6).	Espera,	porém,
que	isto	não	se	torne	necessário	(13,7-10).
	
												Epílogo:	13,11-13.	Ultimas	exortações.	Saudações.	Bênção.
	
												A	primeira	e	a	terceira	partes	são	intimamente	conexas	entre	si:	visam	a
defender	a	autoridade	de	Paulo	ora	aos	olhos	dos	coríntios	(1-7),	ora	perante	os
judaizantes	(10-13).	Entre	as	duas	apologias,	a	segunda	parte	parece	interromper
o	curso	das	idéias.	Mas	tem	seu	nexo	lógico	com	os	capítulos	antecedentes	e	os
subseqüentes.	Com	efeito,	São	Paulo,	que	combatia	os	 judaizantes,	podia	dar	a
impressão	de	ser	contrário	à	 Igreja-mãe	de	Jerusalém	e	de	estar	suscitando	um
cisma	 entre	 étnico-cristãos	 e	 judeo-cristãos1.	 Ora,	 justamente	 para	 dissipar	 tal
equivoco,	 o	 Apóstolo,	 ao	 mesmo	 tempo	 em	 que	 combatia	 os	 judaizantes,	 se
mostrava	 fiel	 à	 Igreja-mãe	 (judeo-cristã)	 e	 inculcava	 aos	 coríntios	 (étnico-
cristãos)	que	também	o	fossem	mediante	as	suas	esmolas.
												1	-	Étnico-cristãos	são	os	cristãos	de	origem	pagã.	Judeo-cristãos	são	os	de	origem	judaica.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Os	 efeitos	 alcançados	 pela	 2Cor	 foram	 muito	 satisfatórios:	 a
reconciliação	 da	 comunidade	 com	 seu	 pai	 espiritual	 se	 consolidou.	 Por	 isto,
pouco	 depois	 de	 enviada	 a	 2Cor,	 Paulo,	 no	 inverno	 de	 57/58,	 se	 deteve	 três
meses	 em	Corinto;	 esta	 terceira	 visita	 parece	 ter	 decorrido	numa	 atmosfera	 de
muita	 calma,	 que	 permitiu	 ao	 Apóstolo	 redigir	 a	 epístola	 aos	 Romanos,
profundamente	mergulhado	na	teologia.
	
Lição	3:	A	mensagem	de	2Cor
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 2Cor	 é	 um	 dos	 escritos	 que	mais	manifestam	 a	 alma	 de	 Paulo.
Envolvido	 pelas	 tramas	 maldosas	 dos	 adversários	 e	 vítima	 dos	 achaques
corporais,	Paulo	experimentou	em	grau	muito	 intenso	a	angústia	da	vida	nesta
terra.
	
												Hoje	os	homens	são	muito	sensíveis	à	angústia;	não	poucos	se	sentem
"condenados	à	morte",	sem	esperança	e	sem	consolo.
	
												Precisamente	a	2Cor	é	importante	por	mostrar	como	o	Apóstolo	reagiu
diante	 das	 tribulações.	 Paulo,	 de	 um	 lado,	 não	 se	 entregou	 à	 lamentação	 e	 ao
desânimo;	 de	 outro	 lado,	 não	 quis	 negar	 artificialmente	 a	 angústia	 como	 se
reconhecê-la	não	fosse	digno	do	homem	perfeito.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Paulo	aludia	 freqüentemente	 às	 tribulações	que	o	afligiam:	1,8;	7,5;
11,23-27	(o	catálogo	de	dores	físicas	e	morais	do	Apóstolo);	12,7	(o	aguilhão	na
carne,	o	anjo	de	Satanás	que	o	esbofeteava	e	que	não	sabemos	identificar).	Em
5,2-4	 o	 Apóstolo	 confessava	 mesmo	 o	 pesar	 que	 experimentava	 por	 ter	 que
morrer.
	
												Ora,	essas	tribulações,	efeitos	da	fragilidade	humana,	eram	interpretadas
pelos	 judaizantes	 como	 sinais	 de	 que	 Deus	 não	 dera	 a	 Paulo	 a	 missão	 do
apostolado;	 pareciam	 incompatíveis	 com	 a	 autoridade	 e	 a	 dignidade	 de	 um
legado	de	Deus.
	
												O	argumento	em	favor	dos	judaizantes	era	forte.	Contudo	Paulo	quis	dar
às	 suas	 deficiências	 físicas	 uma	 interpretação	 contrária	 à	 dos	 adversários.
Conforme	 o	Apóstolo,	 as	misérias	 físicas	 do	 cristão	 são	 justamente	 o	 sinal	 da
presença	de	Deus	no	fiel.	No	caso	de	Paulo,	os	achaques	significariam	que	não
era	Paulo,	como	simples	homem,	que	agia,	mas	era	Deus,	quem	agia	por	meio	de
Paulo.	Toda	a	obra	missionária	de	Paulo	era	efeito	da	graça	de	Deus,	que	Paulo
trazia	 como	 um	 tesouro	 em	 vaso	 de	 argila	 (4,7-10).	 Por	 conseguinte,	 pelas
deficiências	do	instrumento	Paulo	comprovava	a	autenticidade	da	sua	missão.	É
justamente	próprio	de	Deus	mostrar	em	meio	à	 fraqueza	humana	 todo	o	poder
divino	(12,9).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Mais:	 Paulo	 confessava	 suas	 angústias	 diante	 da	 morte	 para	 mais
altamente	 proclamar	 a	 sua	 esperança	 na	 ressurreição;	 o	 definhar	 do	 velho
homem	seria	a	condição	para	o	desenvolvimento	do	homem	novo;	ressurreição	e
vida	 nova	 constituem	 um	 processo	 que	 opera	 paralelamente	 com	 definhar	 e
morte	(4,11-16).	Por	isto	a	vida	do	cristão	tem	duas	faces:	uma	exterior,	visível,
um	tanto	 ilusória,	e	outra	 interior,	oculta,	que	é	mais	verídica,	porque	derivada
da	posse	da	eternidade.	Observe-se	o	paradoxo	com	que	São	Paulo	caracteriza	a
vida	 do	 cristão:	 "somos	 considerados	 como	moribundos,	 e	 eis	 que	 vivemos...
somos	 considerados	 como	 quem	 nada	 tem,	 embora	 tudo	 possuamos!"	 (2Cor
6,9s).
	
												Em	suma,	a	mensagem	da	2Cor	se	compendia	nas	palavras	de	12,9s:	"É
na	fraqueza	(do	homem)	que	a	força	(de	Deus)	manifesta	todo	o	seu	poder...	Por
isto	 eu	 me	 comprazo	 nas	 fraquezas,	 nos	 opróbrios,	 nas	 necessidades,	 nas
perseguições,	nas	angústias	por	causa	de	Cristo.	Pois,	quando	sou	fraco,	então	é
que	sou	forte".
	
												Para	aprofundamento	do	estudo,	ver	pág.	56.
	
PERGUNTAS
	
												1)	Compare	o	que	Paulo	diz	nos	capítulos	2-3	com	o	que	diz	nos	cap.	10-
13	de	2Cor	e	diga	se	a																	epístola	das	lágrimas	poderia	ser2Cor10-13.
												2)	Como	é	que	os	coríntios	receberam	Tito	e	a	epístola	das	lágrimas?
Cite	textos.
												3)	Indique	as	três	passagens	que	mais	lhe	falam	na	2Cor.
												4)	Que	seria	o	aguilhão	da	carne	de	que	fala	2Cor	12,7?
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	5)	Compare	2Cor	2,5-10;	7,12	e	1	Cor	5,1-7.	Será	o	mesmo	caso	em
ambas	as	epístolas?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 6)	 Como	 você	 aplicaria	 à	 sua	 vida	 e	 à	 vida	 do	mundo	 de	 hoje	 a
interpretação	do	sofrimento																								proposta	peta	2Cor?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 7)	 Qual	 a	 atitude	 que	 São	 Paulo	 propõe	 aos	 seus	 fiéis	 diante	 da
perspectiva	de	coleta	?	Deduza	os														traços	principais	dos	capítulos	8	e	9.
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
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												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 VI:	 A	 EPÍSTOLA	 AOS
ROMANOS
	
Lição	1:	O	fundo	de	cena	de	Rm
	
												Já	à	primeira	leitura,	Rm	apresenta	índole	diversa	da	de	outros	escritos
paulinos.	Em	parte,	isto	se	deve	ao	fato	de	que	se	dirigia	a	uma	comunidade	não
fundada	por	S.	Paulo.	Quais	as	origens	da	comunidade	cristã	em	Roma?
	
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	Havia	em	Roma	uma	colônia	judaica	formada	por	prisioneiros	judeus
levados	para	Roma	pelo	general	Pompeu	em	63	a.	C.	Muitos	destes	conseguiram
a	 liberdade	 e	 fixaram	 residência	 em	 Roma.	 É	 de	 crer	 que,	 por	 ocasião	 do
primeiro	 Pentecostes	 cristão,	 muitos	 judeus	 de	 Roma	 se	 achavam	 na	 Cidade
Santa.	Convertidos	ao	Evangelho,	regressaram	a	Roma,	onde	deram	origem	a	um
núcleo	de	cristãos	provenientes	do	judaísmo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Essa	 comunidade	 deve	 ter	 sido	 confirmada	 na	 fé	 pela	 pregação	 do
Apóstolo	São	Pedro.	Em	conseqüência,	quando	Paulo	escrevia	aos	romanos,	 já
existia	em	Roma	uma	Igreja	numerosa,	bem	organizada	e	famosa	por	sua	fé	(cf.
Rm	1,8;	15,14;	16,16.19).	Constava,	em	sua	maioria,	de	pagãos	convertidos	à	fé.
Sabe-se	 que	 em	 49/50	 o	 Imperador	 Cláudio	 expulsou	 de	 Roma	 judeus	 que
provocavam	tumultos	por	causa	de	Cristo.	Isto	deve	ter	diminuído	sensivelmente
o	 número	 de	 judeo-cristãos	 de	 Roma,	 pois	 Paulo	 se	 lhes	 apresenta	 como
"apóstolo	 dos	 gentios"	 (Rm	 11,13;	 1,5)	 e	 "ministro	 de	 Cristo	 Jesus	 entre	 os
pagãos"	 (Rm	15,16);	 exorta	 os	 destinatários	 a	 não	 desprezar	 os	 israelitas	 (Rm
11,17-25)	e	a	observar	deveres	que	eles	têm	para	com	os	judeus	(Rm	15,25-27).
Cf.	também	Rm	1,13.
	
												Pergunta-se:	por	que	é	que	o	Apóstolo	quis	escrever	a	tal	comunidade?
	
												São	Paulo	tinha	por	princípio,	em	sua	vida	missionária,	não	intervir	na
vida	 de	 comunidades	 que	 outros	 haviam	 evangelizado	 (cf.	 Rm	 (15,20s),	 2Cor
10,13-16).	Todavia	o	caso	da	 Igreja	Romana	 lhe	parecia	diferente:	Roma	era	a
capital	do	Império	pagão.	Ora,	consciente	da	sua	missão	de	anunciar	a	fé	entre	os
gentios	 (cf.	Gl	 1,15s;	 Rm	 1,14s;	 Ef	 3,8s),	 Paulo	 julgava	 que	 devia	 chegar	 até
Roma	e	mesmo	até	a	Espanha	(que	marcava	os	limites	do	Império	romano	e	da
oikouméne,	 terra	 habitada).	 Já	 no	 fim	 da	 sua	 permanência	 em	 Éfeso	 (56),	 o
Apóstolo	concebeu	o	projeto	de	ir	até	Roma	(At	19,21);	depois	passaria	para	a
Espanha	 (Rm	 (15,23s).	 Das	 relações	 com	 os	 irmãos	 de	 Roma	 o	 Apóstolo	 só
podia	esperar	confirmação	e	proveito	na	fé	(Rm	1,10-15).
	
												Nutrindo	tal	desejo,	Paulo	quis	preparar	sua	visita	aos	cristãos	de	Roma
mediante	uma	carta	(Rm	15,23s.28s).	Esta	foi	escrita	no	fim	da	terceira	viagem
missionária,	 quando	 Paulo	 passava	 os	 três	 meses	 de	 inverno	 de	 57/58	 em
Corinto,	à	espera	de	uma	nave	que	o	levasse	à	Palestina.	Estas	circunstâncias	são
confirmadas	 pelo	 fato	 de	 que	 o	 Apóstolo	 está	 para	 ir	 a	 Jerusalém	 levando	 as
esmolas	dos	fiéis	da	Acaia	e	da	Macedônia	-	o	que	bem	concorda	com	o	quadro
do	 fim	 da	 terceira	 viagem	missionária	 (cf.	 At	 (19,21);	 1Cor	 16,1-4;	 2Cor8s).
Além	 disto,	 	 em	 Rm	 16,1s	 Paulo	 recomenda	 aos	 leitores	 Febe,	 diaconisa	 da
igreja	 de	 Cêncreas	 e	 portadora	 da	 carta	 (ora	 Cêncreas	 era	 porto	 contíguo	 a
Corinto).
	
												Paulo	deve	ter	ditado	a	Tércio,	seu	escriba	(cf.	Rm	16,22).	A	redação	da
carta	pode	ter	levado	uma	centena	de	horas	ou	o	equivalente	a	32/49	serões	de
trabalho1.
	 			 	 			 	 	 	 	1	-	Ver	na	Introdução	Geral	ao	epistolário	paulino	a	maneira	como	São	Paulo	redigia	suas
cartas.
	
												Por	conseguinte,	Rm	é	fruto	maduro	das	reflexões	diurnas	e	do	trabalho
noturno	do	Apóstolo	durante	quase	a	metade	de	um	inverno	coríntio.	Representa,
sem	 dúvida,	 o	 ponto	 mais	 elevado	 da	 elaboração	 teológica	 do	 Apóstolo.	 Foi
redigida	em	tom	muito	impessoal,	à	guisa	de	tratado	teológico,	visto	que	o	autor
não	conhecia	pessoalmente	a	comunidade	destinatária.
	
Lição	2:	O	conteúdo	de	Rm
	
												Não	tendo	problemas	particulares	a	tratar,	São	Paulo	quis	abordar	o	tema
geral	 "vida	 cristã",	 ou	melhor,	 a	 justificação	que	nos	 faz	 viver	 como	 filhos	 de
Deus,	herdeiros	do	Pai	e	co-herdeiros	com	Cristo	(cf.	Rm	8,15-17).
	
												Essa	justificação	ou	a	maneira	de	nos	tornarmos	justos	ou	amigos	e	filhos
de	Deus,	 é	 a	 do	Patriarca	Abraão;	 este,	 sem	méritos	 prévios,	 foi	 chamado	por
Deus	 para	 receber	 a	 bênção;	 acreditou	 na	 Palavra	 de	 Deus,	 obedecendo-lhe
corajosamente,	 e,	 em	 conseqüência,	 foi	 feito	 amigo	 de	 Deus.	 -	 O	 modelo	 de
Abraão	é	perene	e	definitivo	também	para	os	cristãos.
	
												Ao	falar	de	Abraão,	chamado	gratuitamente,	São	Paulo	não	podia	deixar
de	 pensar	 em	Moisés,	 que,	 seis	 séculos	 depois	 de	 Abraão,	 trouxe	 a	 Lei,	 com
promessas	de	bênçãos	para	quem	cumprisse	os	seus	preceitos,	e	de	punição	para
os	transgressores.	Afirma,	porém,	que	a	Lei	foi	algo	de	provisório	na	história	do
povo	 de	 Deus;	 terminou	 sua	 missão	 com	 a	 vinda	 de	 Cristo,	 de	 modo	 que
atualmente	o	modelo	de	Abraão	é	o	que	Deus	propõe	ao	homem.
	
												A	tese	afirmada	por	S.	Paulo	é	desenvolvida	em	suas	diversas	facetas	em
Rm,	de	maneira	sistemática	e	completa,	como	se	pode	depreender	do	esquema
seguinte:
	
												Introdução:	1,1-17.	Saudação.	Ação	de	graças.	Desejo	de	ir	a	Roma.	O
tema	da	epístola	é	anunciado	em	1,16s.
	
												l.	Parte	teológica:	A	JUSTIFICAÇÃO	PELA	FÉ	(1,18-11,36)
	
												Quatro	aspectos	são	desenvolvidos:	necessidade	da	justificação,	modo,
frutos	da	justificação,	a	situação	dos	judeus.
	
												1)	A	necessidade	da	justificação:	1,18-3,20
	
												A	justificação	é	necessária	aos	gentios,	mergulhados	nos	vícios	(1,18-32).
												A	justificação	é	necessária	aos	judeus,	também	pecadores	(2,1-3,8).
												O	mundo	inteiro	(gentios	e	judeus)	se	reconhece	réu	diante	de	Deus	(3,9-
20).
	
												2)	O	modo	como	se	dá	a	justificação:	3,21-4,25
	
												Todos	são	justificados	pela	fé	em	Cristo,	e	não	pela	observância	da	Lei
de	Moisés,	de	modo	que	não	fica	título	de	vã	glória	para	o	homem	(3,21-30).
	
												Esta	verdade	é	ensinada	pela	história	de	Abraão,	que	foi	feito	amigo	de
Deus	 séculos	 antes	 que	Moisés	 trouxesse	 a	 Lei.	 Abraão	 é	 o	 pai	 (modelo)	 de
todos	os	que	crêem	(3,31-4,25).
	
												3)	Os	frutos	da	justificação:	5,1-8,39
	
												a)	A	reconciliação	com	Deus	e	a	esperança	segura	da	salvação	(5,1-21).
												b)	A	libertação	da	servidão	do	pecado	pelo	batismo	(6,1-23).
												c)	A	libertação	da	servidão	da	Lei	(7,1-25).
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	d)	A	filiação	divina,	pela	qual	somos	constituídos	herdeiros	da	glória
celeste	(8,1-30).
											
												Hino	de	ação	de	graças	(8,31-39)
	
												4)	Os	judeus	e	a	justificação:	9,1-11,36
	
												A	rejeição	de	Israel	não	está	em	antítese	com	as	promessas	de	Deus	feitas
a	este	povo.	Em	última	análise,	nãoé	a	descendência	carnal	de	Israel	que	salva,
mas	a	livre	escolha	de	Deus,	o	que	se	evidencia	na	história	dos	Patriarcas	e	de
Moisés	(9,1-29).
	
												Os	judeus,	procurando	justificar-se	pela	observância	da	Lei	de	Moisés,
negligenciando	 a	 fé	 no	Messias,	 foram	 rejeitados	 por	 sua	 incredulidade	 (9,30-
10,21).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Na	rejeição,	 parcial	 e	 temporal,	 dos	 judeus,	manifesta-se	 admirável
providência	 divina:	 a	 apostasia	 dos	 judeus	 deu	 lugar	 à	 conversão	 dos	 gentios,
que	será	cumulada	pela	volta	dos	judeus	no	fim	dos	tempos	(11,1	-36)
	
												II.	Parte	moral:	OS	DEVERES	DOS	FIÉIS	(12,1-16,13)
	
												1)	Deveres	de	ordem	geral:	12,1-13,14
												2)	As	relações	entre	os	fortes	e	os	fracos;	14,1-15,13
	
												Epílogo:	15,14-16,27
	
												Chama	a	atenção	o	trecho	de	Rm	16,1	-16.21	-23,	que	apresenta	longa
lista	 de	 saudações	 aos	 fiéis	 de	 Roma,	 como	 se	 Paulo	 já	 conhecesse	 a
comunidade.	Alguns	críticos	quiseram	identificar	esta	secção	com	fragmento	de
uma	epístola	de	S.	Paulo	 aos	Efésios	 (Paulo	 esteve	 três	 anos	 em	Éfeso)	ou	de
uma	carta	posterior	aos	Romanos.	Estas	hipóteses,	porém,	suscitam	dificuldade
ainda	 maior:	 como	 explicar	 que	 tais	 epístolas	 aos	 Efésios	 e	 aos	 Romanos	 se
tenham	perdido	sem	deixar	vestígio	na	Tradição,	ficando	apenas	o	seu	capitulo
de	saudações	anexo	a	Rm?	É	mais	fácil	admitir	o	testemunho	da	tradição	e	dar-
lhe	a	seguinte	explicação:	Paulo	pregava	o	Evangelho	a	pessoas	de	vida	um	tanto
nômade	 (como	 eram	 os	 comerciantes);	 por	 isto	 muitos	 daqueles	 que	 Rm	 16
supõe	 em	Roma,	 já	 deviam	 ser	 conhecidos	 de	 Paulo	 no	Oriente	 (Andronico	 e
Júnias	são	parentes	e	companheiros	de	prisão	de	Paulo,	16,7;	a	mãe	de	Rufo	era
também	"a	mãe"	de	Paulo,	16,13;	Epeneto,	Ampliato,	Pérsida	eram	muito	caros
a	Paulo,	16,5.8.12).	Ademais	é	de	crer	que	Paulo	tivesse	algum	conhecimento	da
importante	comunidade	romana,	famosa	por	sua	fé	(1,8).
	
Lição	3:	A	mensagem	de	Rm
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Rm	 é	 considerada	 a	 mais	 importante	 das	 epístolas	 paulinas	 pela
profundidade	com	que	explana	o	tema	central	do	Cristianismo:	a	santificação	do
homem	 se	 faz	 mediante	 a	 fé	 em	 Cristo.	 É	 a	 expressão	 de	 certa	 plenitude	 de
pensamento	do	Apóstolo.
	
												O	ponto	culminante	de	toda	a	epístola	é	o	capítulo	8,	também	de	todos	o
mais	longo.	Este	capítulo	continua,	em	tom	cada	vez	mais	inflamado,	a	descrição
da	 nobreza	 da	 vida	 cristã,	 descrição	 iniciada	 no	 cap.	 6	 (batismo,	 ressurreição
para	uma	vida	nova).	Vida	cristã	é	vida	conforme	o	Espírito	de	Deus,	que	habita
em	 nós,	 mas	 vida	 de	 luta,	 pois	 o	 espírito	 deve	 obter	 o	 triunfo	 sobre	 a	 carne,
levando-a	à	transfiguração	no	dia	da	ressurreição	universal	(8,1-13).	Este	triunfo
é	preparado	por	Deus	Pai,	que	nos	fez	filhos,	a	fim	de	dar	ao	Cristo	Jesus	muitos
irmãos,	 co-herdeiros	 da	 glória	 do	 Primogênito	 (8,14-18).	 Atualmente,	 desta
gloria	 só	 temos	 uma	 esperança.	 O	 apóstolo,	 por	 conseguinte,	 se	 detém	 em
enumerar	os	argumentos	que	nos	garantem	o	cumprimento	dessa	esperança.	Tais
são:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	a)	a	aspiração	das	criaturas	 irracionais,	que,	sujeitas	à	desordem	pelo
pecado	 do	 primeiro	 homem,	 aguardam	 a	 restauração	 da	 ordem,	 isto	 é,	 o
cumprimento	 do	 direito	 de	 servir	 a	 Deus	 mediante	 o	 homem	 regenerado;	 cf.
8,19-22;
												b)	o	nosso	próprio	desejo	de	cristãos,	que,	tendo	recebido	as	primícias,
somos	intimamente	levados	a	aspirar	ao	complemento;	cf.	8,23-25;
												c)	O	Espírito	mesmo	de	Deus,	que	habita	em	nós,	e	dentro	de	nós	geme
ao	Pai	numa	prece	que	Deus	sabe	ouvir;	cf.	8,26s;
												d)	enfim,	a	própria	vontade	de	Deus,	que,	em	seu	amor,	tudo	dispõe	para
nos	levar	à	salvação	(8,28-30).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Note-se	a	 força	gradativa	desses	 argumentos:	 criaturas	 irracionais,	o
Cristo,	o	Espírito	de	Deus	no	cristão,	o	próprio	Deus	em	seu	amor	eterno.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	À	medida	 que	 o	Apóstolo	 desvenda	 aos	 leitores	 essas	 perspectivas
grandiosas,	a	sua	mente	parece	arrebatada	em	ardor	e	alegria	crescentes.	Por	isto
no	auge	da	sua	ascensão	prorrompe	em	belíssimo	hino,	que	canta	a	confiança	do
cristão	 no	 indefectível	 amor	 de	Deus	 (8,31	 -39);	 o	 pecado	 (Rm	 1-3)	 levava	 à
morte	(Rm	5),	da	qual	a	Lei	justa	e	santa	era	incapaz	de	nos	libertar	(Rm	7);	ao
contrário,	o	pecado	servia-se	da	Lei	para	dar	morte	ao	homem	(Rm	7).	Eis	que
pelo	Cristo	 Jesus	 somos	 libertados	 do	 pecado	 e	 da	morte,	 defendidos	 contra	 a
condenação	e	assegurados	da	vida	(Rm	8).	Este	hino	é	bem	a	conclusão	de	todo
o	ensinamento	iniciado	em	Rm1	a	respeito	da	emancipação	do	cristão	do	jugo	do
pecado	e	da	Lei.	Com	este	hino	de	triunfo	também	estava	terminada	a	exposição
de	que	"o	Evangelho	é	força	de	Deus	para	a	salvação	de	todo	homem	que	crê"
(1,16).	Por	conseguinte	o	Apóstolo	continuaria	a	epístola	considerando	de	mais
perto	 o	 apêndice	 do	 enunciado...	 "primeiramente	 para	 o	 judeu,	 depois	 para	 o
gentio";	 é	 este	 o	 conteúdo	dos	 capítulos	 9-11,	 conclusão	 da	 parte	 teológica	 da
epístola.
	
												Além	do	c.	8,	merecem	particular	atenção	as	seguintes	passagens:
	
												Rm	1,18-23	-	o	conhecimento	de	Deus	mediante	as	criaturas;				
												5,12-21								-	o	pecado	original;																									
												6,1-14										-	o	Batismo;																							
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	11,11	-36		 	 	 	 -	a	 infidelidade	dos	judeus,	a	vocação	dos	gentios	e	seu
sentido	providencial;
												13,8-10								-	a	caridade;
												14,22s										-	a	consciência.
	
												A	epístola	aos	Romanos	sempre	foi	muito	lida	entre	os	cristãos.	Sabe-se,
porém,	que	não	 é	 de	 fácil	 interpretação;	 os	Reformadores	 protestantes	 fizeram
desse	 documento	 o	 esteio	 da	 doutrina	 da	 fé	 sem	 as	 obras,	 interpretando
unilateralmente	 o	 pensamento	 paulino.	 Quem	 estuda	 Rm,	 deve	 conjugar	 esse
estudo	com	o	de	Gl	e	o	de	Tg.	Com	razão	afirmava	São	Pedro	que	"nas	cartas	de
Paulo	 se	encontram	pontos	difíceis	de	entender,	que	os	 ignorantes	e	vacilantes
torcem,	 como	 fazem	 com	 as	 demais	 Escrituras,	 para	 a	 sua	 própria	 perdição"
(2Pd3,16).	Quando	 S.	 Paulo	 diz	 que	 a	 fé,	 sem	 obras	 boas,	 nos	 faz	 amigos	 de
Deus,	tem	em	vista	a	nossa	entrada	na	filiação	divina;	ninguém	a	"compra"	por
merecimentos	 prévios.	 Uma	 vez,	 porém,	 feitos	 amigos	 de	 Deus,	 temos	 que
praticar	obras	boas,	como	ensinam	S.	Paulo	e	S.	Tiago;	ver	Gl	6,10;	1ïs	5,15;	Fl
2,12;	Tg	2,14-26.
	
												Para	aprofundamento	deste	estudo,	ver	pág.	56.
	
*				*				*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Por	que	São	Paulo	quis	escrever	aos	Romanos?
												2)	Que	é	a	justificação,	segundo	São	Paulo?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 3)	Queira	 ler	Rm	6,1-11.	E	diga	com	suas	palavras	o	que	S.	Paulo
propõe	sobre	o	Batismo.
												4)	Em	Rm	4,1ls,	o	Apóstolo	apresenta	Abraão	como	o	pai	de	todos	os
que	crêem.	Como	entender														esta	proposição?
												5)	São	Paulo	diz	que	o	homem	não	faz	o	bem	que	quer	e	comete	o	mal
que	não	quer;	onde	o	diz?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 6)	 O	 Apóstolo	 afirma	 que	 o	 Espírito	 geme	 em	 nós	 com	 gemidos
inenarráveis.	Onde	o	afirma?
												7)	Onde	é	dito	que	Abraão	esperou	contra	toda	esperança?
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 VII:	 AS	 EPÍSTOLAS	 DO
CATIVEIRO	(I)
	
Lição	1:	Introdução	Geral
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1.	 Chamam-se	 "epístolas	 do	 cativeiro"	 as	 cartas	 a	 Filemon,	 aos
Colossenses,	aos	Efésios,	aos	Filipenses.	E	com	razão,	pois	cada	qual	apresenta
Paulo	prisioneiro:	Fm	1.9.10.13;	Cl	4,3.10,18;Ef	3,1;	4,1;	6,20;	Fl,7.13s.
	
												2.	Pergunta-se,	porém:	em	qual	cativeiro	Paulo	escreveu	essas	cartas?
	
												Contam-se	cinco	cativeiros	na	vida	de	São	Paulo:	em	Filipos	(At	16,23-
40),	em	Jerusalém	(At	21,31	 -23,31),	em	Cesaréia	 (At	23,35-26,32),	em	Roma
primeira	vez	(At	27,1	-28,16),	em	Roma	segunda	vez	(2Tm	1,8.12.16s;	2,9).
	
												Há	quem	julgue	que	Paulo	esteve	preso	também	em	Éfeso,	pois	nesta
cidade	permaneceu	três	anos	(cf.	At	20,	31)	e	sofreu	hostilidades	(cf.	1Cor	16,8,
"adversários	numerosos";	15,32,	"luta	contra	as	feras;	At	19,	13-40,	tumulto	dos
ourives).	Mais:	em	2Cor	11,23	Paulo	afirma	que	sofreu	várias	vezes	a	prisão;	ora
os	Atos	só	referem	até	a	data	de	2Cor	a	prisão	em	Filipos	(cf.	At	16,23-40);	não
se	deveria,	por	isto,	supor	um	encarceramento	em	Éfeso?	Em	Rm	16,4	é	dito	que
Priscila	e	Áquila	expuseram	sua	cabeça	para	salvar	a	vida	de	Paulo	 -	o	que	se
supõe	tenha	ocorrido	em	Éfeso	(cf.	At	19,	23s).
	
												Os	argumentos	em	favor	de	um	cativeiro	de	Paulo	em	Éfeso	são	fracos	e
genéricos.	Em	contrário	esta	o	silêncio	do	livro	dos	Atos
	
												3.	Já	podemos	responder	à	pergunta:	qual	o	cativeiro	suposto	por	Fm,	Cl,
Ef	e	Fl?
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Até	 o	 século	XVIII,	 os	 autores	 admitiam,	 em	 resposta,	 o	 primeiro
cativeiro	 romano	de	Paulo	 (61	 -63).	Desde	1731,	 porém,	 vários	 críticos	 foram
pensando	no	possível	cativeiro	efésio	como	contexto	histórico	de	tais	cartas.	Até
hoje	 há	 quem	 admita	 que	 ao	menos	 Fl	 data	 do	 hipotético	 cativeiro	 efésio	 em
56/57,	quando	Paulo	esperava	partir	para	a	Macedônia	depois	da	sua	libertação
(cf.	Fl	1,26;	2,19-24	e	At	19,21s;	20,1;	1	Cor	16,5).
	
												Não	faltou	também	quem	quisesse	atribuir	às	quatro	epístolas	origem	no
cativeiro	de	Cesaréia	(58-60).	Tal	hipótese	hoje	quase	não	tem	defensores.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Neste	nosso	Curso,	seguiremos	a	sentença	mais	antiga,	que	atribui	as
quatro	 cartas	 ao	 primeiro	 cativeiro	 romano,	 embora	 reconheçamos	 que	 entre
Filemon-Colossenses-Efésios,	 de	 um	 lado,	 e	 Filipenses,	 do	 outro	 lado,	 há
diferenças,	que	permitiriam	admitir	para	Fl	outro	contexto.	Notemos	os	seguintes
pontos	diferenciais:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	em	Cl	e	Ef:	Cristo	e	a	Igreja,	culto	dos	anjos,	falso
ascetismo;
												Conteúdo						em	Fl:		vida	cristã,	tom	exortatório	semelhante	ao	de	1/2	Ts,
Gl,	2Cor;	a	seção
																																													cristológica	de	Fl	2,5-11	é	ocasionada	por	problemas
da	comunidade
																																																									
	
																																							em	Cl	e	Ef:	o	estilo	é	denso	e	pesado:
												Linguagem									em	Fl:	cheio	de	vida
	
																																										de	Cl	e	Ef:	Tíquico	(cf.	Cl	4,7s;	Ef	6,21s);
												Portadores																															Onésimo	(cf.	Cl	4,9);
																																									de	Fl:	Epafródito	(Fl	2,25-30).
		
																																							em	Cl	e	Ef:	Tíquico,	Aristarco	e	arcos	(cf.	Cl	4,10;
Fm24);	Epafrás
												Companheiros																																				(Cl	4,12;	Fm	23);	Lucas	e	Demas
(Cl	4,14;	Fm	24);	Timóteo
												de	Paulo																																													(Cl	1,1;	Fm	1);
																																																			em	Fl:	Epafródito	(Fl	2,25)	e	Timóteo	(4,19).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Como	dito,	na	impossibilidade	de	provar	a	existência	de	um	cativeiro
efésio	de	Paulo,	seguiremos	a	hipótese	antiga,	que	enquadra	as	quatro	epístolas
no	cativeiro	romano	de	61	a	63.
	
												4.	A	ordem	de	origem	de	Fm,	Cl	e	Ef	é	provavelmente	esta:	Paulo,	detido
em	Roma,	foi	procurado	por	Onésimo,	escravo	fugitivo	da	cidade	de	Colossos;
tendo	 gerado	 este	 filho	 para	Cristo,	 Paulo	 o	 devolveu	 ao	 patrão	 Filemon	 com
uma	carta	para	este	(Fm)	e	com	outra	carta	para	toda	a	comunidade	de	Colossos
(Cl),	ameaçada	por	 falsas	doutrinas.	A	epístola	aos	Colossenses	assim	redigida
foi	 ampliada	 por	 Paulo	 ou	 por	 um	 discípulo	 de	 Paulo,	 devendo	 circular	 pelas
comunidades	cristãs	da	Ásia	Menor,	ameaçadas	pelos	mesmos	males;	visto	que
Éfeso	era	a	cidade	capital	desta	província,	tal	epístola	circular	tomou	o	nome	de
"epístola	aos	Efésios".
	
												Quanto	a	Fl,	será	examinada	oportunamente	a	sua	situação	de	origem.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Nos	nossos	estudos	subseqüentes,	consideraremos	Fm	e	Fl	 (Módulo	VII),	Cl	e	Ef
(Módulo	VIII).
	
	
Lição	2:	A	carta	a	Filemon
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Estando	Paulo	cativo	em	Roma	entre	61	e	63,	 foi	procurado	por	um
escravo,	Onésimo,	que	fugira	da	casa	de	seu	patrão	Filemon	em	Colossos	(Ásia
Menor)	e	procurava	abrigo	em	Roma,	cidade	cosmopolita.	A	legislação	judaica
mandava	não	devolver	ao	amo	o	escravo	fugitivo	(cf.	Dt	23,16).	Ao	contrário,	a
legislação	romana	considerava	o	escravo	como	propriedade	do	patrão	e	impunha
a	devolução	do	mesmo;	além	do	que	previa	penas	severas	para	esses	desertores;
Paulo	estava	a	par	dessas	normas.	Todavia	quis	reter	Onésimo	consigo;	embora
não	lhe	pudesse	dar	a	alforria	no	foro	civil,	podia	apregoar-lhe	a	redenção	trazida
por	Cristo	e	gerá-lo	para	a	vida	nova	dos	cristãos.	Tendo	feito	isto	(v.	10),	Paulo
pensou	 em	 guardar	 consigo	Onésimo	 para	 que	 este	 colaborasse	 na	 difusão	 do
Evangelho	 (v.	 17).	 Todavia	 acabou	 resolvendo	 devolver	 o	 escravo,	 pois	 não
queria	 assumir	 atitude	 desleal	 para	 com	Filemon	 e,	 doutro	 lado,	 a	Lei	 romana
exigia	 a	 devolução.	 Ao	 enviar	 Onésimo	 de	 novo	 para	 a	 casa	 do	 patrão,	 o
Apóstolo	quis	escrever	uma	carta	cheia	de	calor	humano	e	de	vivacidade,	em	que
recordava	ao	patrão	a	necessidade	de	receber	o	escravo	não	mais	como	"coisa"
ou	propriedade	sua,	mas	como	caríssimo	 irmão	em	Cristo	 (v.	16).	Se	Onésimo
tinha	 roubado	 algo	 a	 Filemon,	 que	 este	 o	 pusesse	 na	 conta	 de	 Paulo,	 o	 qual
prometia	pagar	por	Onésimo	(embora	na	verdade	Filemon	é	que	devia	a	Paulo	a
sua	 conversão	 a	 Cristo);	 cf.	 v.	 18s;	 São	 Paulo	 usa	 assim	 autêntica	 linguagem
comercial	para	persuadir	Filemon.	Este,	aliás,	devia	ser	um	cristão	bem	formado,
que	exercia	"caridade	para	com	todos	os	santos,	reconfortando	os	corações	dos
irmãos"	 (cf.	 v.	 5.7);	 por	 isto	Paulo	 concluía	 sua	 carta	 exprimindo	 a	 certeza	 de
que	Filemon	seria	ainda	mais	generoso	do	que	Paulo	lhe	pedia.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esta	 é	 a	 primeira	 declaração	dos	 direitos	 humanos	 no	Cristianismo;
baseava-se	na	verdade	de	que	todos	somos	irmãos,	porque	todos	participamos	da
mesma	natureza	humana;	 ademais	 a	 regeneração	batismal	 faz	que	 todos	 sejam
um	só	em	Cristo,	sem	distinção	de	judeu,	grego	ou	bárbaro,	escravo	ou	livre;	cf.
Rm	6,5;	Ef	4,24;	Gl	3,27;	Cl	3,11	;	1Cor	12,13.
	
																																																			O	Apóstolo	não	quis	apregoar	uma	violenta
revolta	 dos	 escravos	 contra	 os	 patrões	 nem	 a	 eliminação	 brusca	 do	 regime	 de
escravidão,	pois	esta	teria	sido	fatal	para	a	vida	do	Império	Romano;	os	escravos
eram	 mais	 numerosos	 do	 que	 os	 homens	 livres	 e	 garantiam	 a	 indústria	 e	 a
agricultura	da	época.	Se,	de	um	momento	para	o	outro,	a	escravatura	tivesse	sido
abolida,	milhões	de	pessoas	morreriam	de	fome,	pois	a	civilização	da	época	não
tinha	a	capacidade	de	criar	para	si	novos	sistemas	e	recursos	de	subsistência.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	que	importava	a	Paulo	era	transformar	as	relações	entre	escravos	e
patrões,	proclamando	em	cada	escravo	um	irmão	que	compartilhava	a	dignidade
do	seu	patrão.	Era	preciso	realizar	a	emancipação	dos	escravos	nas	mentes	dos
homens	 antigos	 para	 depois	 concretizá-la	 na	 praxe	 e	 nas	 leis	 civis.	 Por	 isto,
Paulo,	além	de	respeitar	o	Direito	Romano	vigente	na	sua	época,	quis	lembrar	a
Filemon	outros	direitos,	como	os	da	caridade	decorrentes	do	ser	cristão:	Paulo	já
ancião	(v.	9),	carregado	de	algemas	(v.	10),	amigo	e	credor	espiritual	de	Filemon
(v.	19),	suplicou	em	favor	de	um	filho	(v.	10),	para	que	este	fosse	recebido	como
irmão	 caríssimo	 em	Cristo(v.	 16).	Caso	Filemon	 compreendesse	 o	 alcance	 de
tais	 palavras,	 faria	 de	Onésimo	um	 liberto	 feliz,	 servidor	de	Cristo	 juntamente
com	seu	patrão.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim	Fm	aparece	 como	obra	 prima	da	 arte	 epistolar,	 portadora	 de
princípios	que	revolucionariam	a	história	dos	homens.
	
Lição	3:	A	epístola	aos	Filipenses
	
												3.1.	O	pano	de	fundo
	
												Em	358-7	a.C.,	Filipe	II	da	Macedônia,	pai	de	Alexandre	Magno,	ocupou
a	 comarca	 de	 Krenides	 (=	 pequenas	 fontes)	 e	 transformou-a	 em	 florescente
cidade,	à	qual	impôs	o	nome	de	Filipos.	O	Imperador	Romano	Augusto	isentou	a
cidade	 de	 taxas	 e	 impostos	 e	 conferiu-lhe	 privilégios;	 fez	 de	Filipos	 um	posto
avançado	da	civilização	romana	(	=	colônia,	conforme	At	16,12).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Paulo	 esteve	 três	 vezes	 em	Filipos:	 por	 ocasião	da	 segunda	viagem
missionária	 (50-53),	 conforme	At	 16,12-40,	 e	 ainda	 durante	 a	 terceira	 viagem
apostólica,	segundo	At	20,1	s	 (fins	de	57)	e	At	20,3-6	(Páscoa	de	58).	Entre	o
Apóstolo	 e	 os	 fiéis	 estabeleceram-se	 relações	 de	 grande	 ternura,	 a	 ponto	 que
Paulo	 chama	 os	 filipenses	 "irmãos	 amados	 e	 queridos,	minha	 alegria	 e	 coroa"
(4,1)	ou	ainda	exclama:	"Deus	me	é	testemunha	de	que	vos	amo	a	todos	com	a
ternura	de	Cristo	Jesus"	(Fl	1,8).
	
												Por	causa	dos	laços	afetivos	com	os	filipenses,	Paulo	mais	de	uma	vez
aceitou	 deles	 auxílio	 em	 dinheiro	 (cf.	 2Cor	 11,8s;	 FI	 4,15-16).	 Paulo	 não
costumava	 aceitar	 ofertas,	 pois	 queria	 pregar	 o	 Evangelho	 sem	 ser,	 de	 algum
modo,	 oneroso	 aos	 fiéis	 ou	 vivendo	 unicamente	 do	 trabalho	 de	 suas	 mãos.
Precisamente,	estando	Paulo	cativo	em	Roma,	os	filipenses,	após	certo	recesso,
enviaram-lhe	 alguns	 recursos	 por	 intermédio	 de	 Epafródito,	 delegado	 da
comunidade	 junto	 a	 Paulo	 (cf.	 Fl	 4,10-13;	 2,25).	 Epafródito,	 porém,	 adoeceu
gravemente.	Este	fato	muito	preocupou	os	fiéis	de	Filipos	e	o	próprio	enfermo.
Paulo	então	resolveu	mandar	este	de	volta	aos	seus,	juntamente	com	uma	carta
(cf.	Fl	2,25-29),	que	teria	como	principal	objetivo	agradecer	aos	fiéis	os	socorros
materiais	 e	 o	 afeto	 que	 dedicavam	 ao	 Apóstolo	 (Fl	 4,15-20);	 aproveitando	 o
ensejo,	Paulo	mandaria	notícias	suas,	principalmente	do	seu	apostolado	(cf.	1,12-
25);	exortaria	os	 fiéis	à	unidade	e	à	concórdia	 fraternas	 (1,27-2,18;	4,1-4)	e	os
acautelaria	contra	as	ciladas	dos	judaizantes	(cf.	3,1-6).
	
												Por	duas	vezes	(1,25s	e	2,24),	o	Apóstolo	manifesta	a	esperança	de	em
breve	 retornar	 à	 companhia	dos	 seus	 fiéis;	 donde	 se	 conclui	 que	 a	 epístola	 foi
escrita	no	fim	do	período	de	cativeiro,	quando	o	processo	se	encaminhava	para
um	desfecho	feliz.
	
												Em	favor	do	cativeiro	romano,	citam	alguns	estudiosos	os	textos	de	Fl
1,13	 (menção	 do	 pretório)	 e	 4,22	 (referência	 à	 casa	 de	 César).	 Todavia	 esses
argumentos	hoje	têm	pouco	significado,	pois	se	sabe	que	toda	sede	de	pro	cônsul
ou	de	magistrado	inferior	podia	chamar-se	pretório,	e	membros	da	casa	de	César
podiam	 ser	 os	 agregados	 à	 casa	 de	 um	 governador.	 -	 Contra	 a	 origem	 de	 Fl
durante	o	primeiro	cativeiro	romano,	está	o	fato	de	que	Paulo	espera	em	breve
rever	os	 filipenses	 (1,25.27;	2,24);	na	verdade,	 sabe-se	que	Paulo	 intencionava
passar	 de	 Roma	 para	 a	 Espanha	 (cf.	 Rm	 15,24.28).	 -	 Quem	 não	 aceita	 a	 tese
tradicional	 (Fl	oriunda	em	Roma),	postula	um	cativeiro	de	Paulo	em	Éfeso	 -	o
que	é	hipótese	mal	fundamentada.	A	questão,	pois,	do	lugar	de	origem	de	Fl	é	de
difícil	 solução,	mas	não	representa	empecilho	para	o	 frutuoso	entendimento	da
mensagem	 desta	 carta.	 Vimos	 à	 p.	 77	 que	 também	 há	 quem	 suponha	 um
cativeiro	em	Cesaréia	da	Palestina,	mas	com	pouca	probabilidade.
	
3.2.	Conteúdo	e	mensagem	de	Fl
	
												1.	A	epístola	aos	Filipenses	é,	com	razão,	tida	como	"a	carta	da	alegria
cristã".	 O	 vocábulo	 "alegria"	 e	 seus	 sinônimos	 constituem	 a	 trama	 desse
documento,	recorrendo	24	vezes;	cf.	1,4.7.25;	2,2.18;	3,1;	4,1.4...	E	São	Paulo,
portador	da	alegria,	quer	que	ela	seja	a	partilha	 também	de	 todos	os	seus	fiéis.
Todavia	 essa	 alegria	 paulina	 é	 paradoxal:	 existe	 num	 homem	 já	 adiantado	 em
anos	e	detido	na	prisão,	de	onde	escreve	uma	carta	cheia	de	entusiasmo.	Parece
reproduzir-se,	na	prisão	donde	Paulo	escreve,	o	que	ocorrera	na	cidade	de	Filipos
muitos	anos	antes:	Paulo	e	Silas	estavam	detidos	em	cárcere	público,	 sofrendo
terrivelmente	pelas	 feridas	da	 flagelação	que	ainda	sangravam;	e	contudo,	pela
meia-noite,	cantavam	hinos	de	louvor	a	Deus	(cf.	At	16,23-25).
	
												É	de	notar	que	também	os	filipenses,	na	época	em	que	esta	carta	lhes	era
escrita,	sofriam	perseguições	por	causa	da	fé	(cf.	Fl	1,27-30).	Todavia	São	Paulo
os	admoesta	a	não	se	deixarem	abater,	mas	antes	exorta-os	a	agradecer	a	Deus
não	só	pela	garça	de	crerem	em	Cristo,	mas	também	pela	de	sofrerem	por	Ele,
empenhados	 todos	 num	 duro	 combate	 (cf.	 1,27-30).	 A	 eles,	 sofredores,	 dirige
Paulo	o	estribilho:	"Alegrai-vos	sempre	no	Senhor.	Repito:	alegrai-vos!"	(Fl	4,1).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Pergunta-se:	 como	explicar	 situações	 tão	 paradoxais?	A	 resposta	 se
encontra	a	seguir.
	
												2.	Paulo	se	identificava	com	um	modelo,	que	ele	propunha	aos	fiéis:	o
Cristo	 Jesus:	 "Tende	 em	 vós	 os	 mesmos	 sentimentos	 de	 Cristo	 Jesus"	 (2,5).
Precisamente	a	seção	de	2,6-11	desenvolve	a	imagem	de	Cristo	Jesus	num	hino
que	 talvez	 fosse	 usual	 na	 liturgia	 da	 Igreja	 antiga:	 o	 Cristo,	 antes	 de	 se	 fazer
homem,	preexistia	 em	 igualdade	de	condições	 com	o	Pai,	mas	não	hesitou	em
despojar-se	da	gloria	que	lhe	competia	como	Deus,	para	assumir	as	condições	de
fragilidade	 e	 esvaziamento	 próprias	 da	 natureza	 humana;	 feito	 homem,
experimentou,	 por	 obediência	 ao	 Pai,	 a	morte	 do	 escravo	 pregado	 a	 cruz.	 Em
conseqüência,	Deus	Pai	o	quis	exaltar	(a	Ele,	o	crucificado),	dando-lhe	um	nome
que	esta	acima	de	todo	nome:	assim,	como	homem,	o	Cristo	participa	da	gloria
de	Deus.	Essa	transfiguração	da	Cruz	e	da	dor	realizada	por	Cristo	é	que	se	devia
tornar	 o	 segredo	 da	 fortaleza	 de	 ânimo	 e	 da	 profunda	 alegria	 do	 Apóstolo
identificado	 com	Cristo.	 Esse	 segredo,	 São	 Paulo	 o	 revelou	 aos	 filipenses	 e	 o
revela	ainda	hoje	a	todos	os	leitores	de	tão	bela	carta.
	
												Para	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
*	*	*
																																																																																																																																																																																																																																																															
																																																																																																																																																	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Porque	damos	a	Fm,	Cl,	Ef	e	Fl	o	titulo	de	"epístolas	do	cativeiro"?
												2)	Qual	a	provável	ordem	de	origem	das	epístolas	do	cativeiro?
												3)	Qual	a	problemática	suposta	por	Fm	e	como	Paulo	a	abordou?
												4)	Em	que	lugar	e	em	que	época	foi	escrita	a	epístola	aos	Filipenses?
												5)	Qual	a	mensagem	de	Fl?
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 VIII:	 AS	 EPÍSTOLAS	 DO
CATIVEIRO	(II)
	
Lição	1:	Epístola	aos	Colossenses
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Cl	 e	 Ef	 são	 duas	 epístolas	 afins	 entre	 si,	 pois	 supõem	 a	 mesma
problemática	e	a	segunda	parece	ser	a	reedição	ampliada	e	retocada	da	primeira.
Estudemos	cada	qual	de	per	si.
	
Lição	1:	Epístola	aos	Colossenses
	
												1.1.	O	fundo	de	cena	geográfico
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 cidade	 de	 Colossos	 ficavana	 Frigia,	 região	 montanhosa	 que,
juntamente	com	Trôade,	a	Mísia,	a	Lídia	e	a	Caria,	constituía	a	província	da	Ásia
pro	consular.	Em	133	a.C.	os	romanos	adquiriram	o	domínio	da	região,	por	onde
passava	o	 rio	Lico,	 banhando	 as	 cidades	de	Colossos	 (distante	uns	200	km	de
Éfeso),	 Laodicéia	 e	 Hierápolis	 (distante	 de	 Colossos	 16	 e	 20	 km
respectivamente).	Colossos	era	originariamente	notável	centro	comercial,	que	foi
ofuscado	por	Laodicéia.
	
												Os	povos	da	Ásia	Menor,	especialmente	os	da	Frigia,	eram	inteligentes	e
dotados	de	propensão	filosófica;	entregavam-se	a	indagações	sobre	o	mundo	e	a
natureza	assim	como	ao	estudo	da	religião.	Entre	os	pensadores	filhos	da	região,
podem-se	mencionar	os	filósofos	jônicos	e	Heráclito;	os	cultos	religiosos	tinham
seus	rituais	exuberantes	e	violentos,	como	os	da	deusa	Cibelis	e	do	deus	Atis.
	
												1.2.	O	fundo	de	cena	cristão
	
												Sabemos	que	Paulo	por	duas	vezes	evangelizou	a	Frigia:	por	ocasião	da
segunda	viagem	missionária	(cf.	At	16,6)	e	no	fim	da	terceira	expedição	(cf.	At
18,23).	Todavia	a	comunidade	cristã	de	Colossos	foi	fundada	sem	a	intervenção
direta	de	Paulo,	como	atesta	a	própria	carta	aos	Colossenses	(2,1:	não	conheciam
Paulo	 pessoalmente).	 A	 sua	 origem	 se	 deve	 à	 prolongada	 permanência	 do
Apóstolo	em	Éfeso	nos	anos	de	54-57,	tempo	durante	o	qual	"todos	os	habitantes
da	Ásia,	judeus	e	gregos,	puderam	ouvir	a	Palavra	do	Senhor"	(At	19,10).	Entre
esses	ouvintes,	estavam	certamente	Epafrás	(Cl	1,7)	e	Filemon	(Fm	1),	cidadãos
colossenses,	 que,	 convertidos	 em	 Éfeso,	 se	 encarregaram	 de	 fundar	 a
comunidade	 cristã	 de	 sua	 cidade;	 de	modo	 especial,	 Epafrás	 parece	 ter	 sido	 o
grande	arauto	da	Palavra	nas	cidades	de	Colossos,	Laodicéia	e	Hierápolis	(cf.	Cl
4,12-14).
	
												É	de	notar	ainda	que	a	maioria	dos	fiéis	de	Colossos	era	de	origem	pagã
(cf.	 Cl	 2,13;	 1,21.27),	 embora	 ainda	 devesse	 haver	 também	 judeus,	 que	 eram
numerosos	na	Frigia.
	
												1.3.	A	problemática	suposta	por	Cl
	
												A	comunidade	de	Colossos,	em	seus	primeiros	anos,	deve	ter	sido	assaz
fervorosa;	 além	 do	 que,	 nutria	 por	 Paulo	 afeto	 filial	 (cf.	 Cl	 1,3-8).	 Todavia
sobrevieram-lhe	 pregadores,	 portadores	 de	 doutrinas	 aberrantes,	 das	 quais	 se
podem	recolher	alguns	traços	no	texto	de	Cl:	deviam	disseminar	um	sincretismo
religioso,	composto	de	elementos	judaicos,	cristãos	e	pré-gnósticos1,	sincretismo
que	Paulo	chamava	"filosofia	 segundo	a	 tradição	dos	homens...	 e	não	 segundo
Cristo"	(Cl	2,8).
																1	-	A	gnose	era	uma	corrente	em	que	se	mesclavam	proposições	da	filosofia	grega,	da	mística
oriental	e	das	Escrituras																	Sagradas.	Expandiu-se	sob	diversas	formas	nos	séculos	II	e	III	d.C.,	de
modo	que	no	século	l	(época	de	Cl)	só	podia																	haver	os	antecedentes	da	gnose	ou	a	pré-gnose.
Uma	das	características	desta	eram	o	dualismo	ou	a	oposição	entre	o																	espírito	(bom,	santo)	e	a
matéria	(má,	pecaminosa).
	
												O	fundo	judaico	e,	ao	mesmo	tempo,	pré-gnóstico	(dualista)	das	novas
doutrinas	se	percebe,	por	exemplo,	em	Cl	2,16.18:	os	fiéis	deveriam	abster-se	de
certos	alimentos	e	bebidas;	deviam	observar	novilúnios	e	sábados;	em	Cl	2,20s
refere-se	 que	 esses	 pregadores	 proibiam	 "pegar,	 provar,	 tocar..."	 Transmitiam
preceitos	 judaizantes,	que	São	Paulo	chama	"tradição	dos	homens"	 (2,8.22;	cf.
Mc	7,5);	incutiam	provavelmente	a	circuncisão	(cf.	Cl	2,11).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	novos	mensageiros	apregoavam	também	um	exagerado	culto	aos
anjos	 (2,18),	 que	 punha	 em	perigo	 o	 próprio	 primado	 que	 a	 fé	 crista	 atribui	 a
Cristo	 e	 que	 Paulo	 reafirma	 (tendo	 em	 vista	 precisamente	 a	 subordinação	 dos
anjos)	em	Cl	1,15-20.	Na	mentalidade	 judaica	os	anjos	eram	os	 intermediários
entre	 Deus	 e	 os	 homens,	 executores	 da	 justiça	 divina	 sobre	 a	 terra.	 Mais:	 os
judeus	os	consideravam	como	prepostos	aos	astros,	que	com	suas	órbitas	rígidas
influíam	na	vida	dos	homens;	 em	conseqüência,	os	 anjos,	 tidos	 como	 regentes
dos	astros,	eram	tidos	também	como	dotados	de	influência	na	vida	dos	homens	-
o	que	lhes	merecia	um	culto	de	temor	servil.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Os	 arautos	 intrusos	 preconizavam	 também	 ascese	 ou	 mortificação
corporal,	que,	a	quanto	parece,	se	lhes	tornava	motivo	de	vã	glória	hipócrita;	cf.
Cl	2,23.	Essa	ascese	levaria	a	visões	extraordinárias	e	a	conhecimento	superior,	à
semelhança	do	que	se	pregava	nas	religiões	dos	mistérios	de	Cibelis	e	Atis;	cf.
Cl	2,18.
	
												A	pré-gnose,	estabelecendo	antítese	entre	o	espírito	(Deus)	e	a	matéria
(ou	 o	 mundo	 material),	 havia	 de	 favorecer	 o	 abusivo	 culto	 dos	 anjos,	 como
intermediários	 entre	 Deus	 e	 a	 matéria.	 Os	 gnósticos	 chamavam	 esses
intermediários	eons;	os	eons	eram	emanações	do	Ser	Supremo,	que	se	tornavam
tanto	mais	imperfeitos	quanto	mais	distanciados	dele;	alguns	gnósticos	contavam
até	 365	 emanações	 ou	 eons.	 Os	 eons	 enchem	 o	 espaço	 cósmico	 entre	 a
Divindade,	no	alto,	e	a	matéria	em	baixo;	constituem	o	pléroma	(=	plenitude)	e
o	reino	da	luz.	Ora	São	Paulo,	aludindo	à	plenitude	em	Cl	1,19	e	ao	reino	da	luz,
em	Cl	1,12s,	faz	eco	a	essas	concepções,	e	mostra	que	a	plenitude	da	vida,	dos
bens	e	das	graças	a	que	os	homens	possam	aspirar,	 se	acha	contida	em	Cristo;
Este	enche	a	história	e	os	espaços,	pois	é	o	Senhor	de	todas	as	criaturas	visíveis	e
invisíveis	 (qualquer	 que	 seja	 o	 nome	 destas):	 "Nele	 foram	 criadas	 todas	 as
coisas,	 nos	 céus	 e	 na	 terra,	 as	 visíveis	 e	 as	 invisíveis:	 Tronos,	 Soberanias,
Principados,	Autoridades...	Nele	aprouve	a	Deus	fazer	habitar	toda	a	Plenitude"
(Cl	1,15-19).	Cristo	aparece	assim	como	o	único	e	suficiente	Mediador,	ao	qual
os	anjos	e	os	homens	estão	subordinados.
	
												1.4.	Conteúdo	e	mensagem	de	Cl
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Paulo,	 prisioneiro	 em	Roma	 (61-63),	 foi	 procurado	 por	 Epafrás,	 o
apóstolo	 das	 comunidades	 do	 vale	 de	Lico.	 Este	mensageiro	 não	 tinha	 apenas
boas	novas	a	referir	a	Paulo,	mas	era	também	portador	das	notícias	de	males	que
afligiam	 a	 comunidade	 de	 Colossos	 (e,	 certamente,	 as	 das	 regiões	 vizinhas);
aliás,	 os	 frígios	 eram	 dados	 à	 imaginação	 e	 a	 extravagantes	 experiências
religiosas	 o	 que	 oferecia	 terreno	muito	 propicio	 para	 a	 propagação	 das	 novas
doutrinas.
	
												Em	vista	dessas	nuvens,	Paulo	quis	escrever	a	epístola	aos	Colossenses,
que	seria	levada	por	Tíquico	e	Onésimo	juntamente	com	a	epístola	a	Fílemon.
	
												O	teor	de	Cl	visa	a	por	em	relevo	o	primado	absoluto	de	Jesus	Cristo.	O
Apóstolo,	para	melhor	persuadir	seus	leitores,	recorre	a	vocábulos	da	linguagem
pré-gnóstica	(Cristo	é	imagem	de	Deus,	1,15,	Plenitude	de	Deus,	2,9,	Plenitude,
2,10;	 1,19);	 recorre	 também	 a	 conceitos	 técnicos	 do	 pensamento	 judaico
(criação,	 salvação,	 perdão,	Tronos,	 Soberanias,	 Principados,	Autoridade...),	 em
suma,	 utiliza	 35	 palavras	 que	 não	 ocorrem	 nos	 outros	 escritos	 paulinos.	 O
Apóstolo	 quer	 apresentar	 Cristo	 como	 a	 Grande	 Resposta	 que	 os	 colossenses
procuravam.	 O	 ponto	 alto	 da	 epístola	 é	 precisamente	 o	 hino	 cristológico
apresentado	em	1,15-20,	onde	se	diz	o	seguinte:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Cristo	é	o	PRIMEIRO	e	o	ÚLTIMO,	o	Senhor	absoluto	no	plano	da
criação	 (1,15).	 Ele	 é	 também	 o	 PRIMEIRO	 no	 plano	 da	 redenção	 como
Salvador	 do	 mundo,	 cujo	 sangue	 reconcilia	 todas	 as	 criaturas	 entre	 si	 e	 com
Deus	(1,18).
	
												É	claro	que	a	salvação	oferecida	por	Cristo	requer,	da	parte	do	cristão,
ascese	 e	 renúncia	 ao	 velho	 homem;	 esta	 ascese,	 porém,	 é	 efeito	 da	 graça	 ou
transbordamento	da	vida	de	Cristo	lançada	no	cristão	através	do	Batismo	(cf.	Cl
2,11s;	3,1-3.9s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	Cristologia	 de	Cl	 é	 certamente	mais	 evoluída	que	 a	das	 epístolas
anteriores;	 revela	 o	 pensamento	 de	 Paulo	 ainda	mais	 perspicaz	 e	 amadurecido
que	 em	 1/2	 Cor.	 Estas	 duas	 cartas	 jápreparavam,	 de	 certo	 modo,	 Cl;	 cf.
1Cor8,5s;	10,4;	2Cor5,19.	Ef	é,	por	sua	vez,	a	continuação	de	Cl.
	
Lição	2:	A	epístola	aos	Efésíos	2.1	Os	destinatários
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Éfeso	 era	 a	 capital	 da	Ásia	pro	 consular,	 cidade	 famosa,	 na	qual	 se
cultuava	a	deusa	Artemis.	Nessa	cidade	Paulo	esteve	no	fim	da	segunda	viagem
missionária	 (cf.	 At	 18,19-21)	 e,	 mais	 demoradamente,	 durante	 a	 terceira
expedição	 apostólica	 (cf.	 At	 19,1-20,1);	 obteve	 numerosos	 frutos	 de
evangelização	não	só	na	capital,	mas	em	toda	a	região	vizinha;	cf.	At	19,10.18-
20.	Isto	tudo	criou	laços	de	profunda	amizade	de	Paulo	com	os	efésios,	como	se
depreende	de	At	20,17-38.
	
												Ora	quem	examina	a	carta	aos	Efésios,	verifica	que	não	se	refere	a	fatos,
pessoas	 e	 acontecimentos	 determinados,	 como	 as	 outras	 cartas;	 apresenta	 tom
impessoal,	 a	 ponto	 de	 faltarem	 as	 habituais	 saudações	 dos	 numerosos
colaboradores,	 como	 Timóteo	 e	 Aristarco,	 tão	 conhecidos	 aos	 efésios	 (cf.	 Aí
19,22-29;	 1	 Cor	 4,17);	 também	 não	 se	 encontram	 saudações	 aos	 amigos
residentes	em	Éfeso.	Dir-se-ia	mesmo	que	os	destinatários	só	conheciam	Paulo
indiretamente	ou	por	ter	ouvido	falar	(cf.	Ef	3,2-4;4,21).	Em	síntese,	o	texto	de
Ef	 dá	 a	 impressão	 de	 ser	 um	 tratado	 teológico,	 apresentado	 a	 leitores
desconhecidos,	sem	polêmica	nem	intervenção	em	casos	particulares,	e	não	uma
carta	a	discípulos	muito	amados.
	
												Os	críticos	levantaram	então	a	questão:	terá	sido	Ef	realmente	uma	carta
enviada	aos	efésios?	As	dúvidas	aumentam	desde	que	se	 leve	em	conta	que	as
palavras	 "em	Éfeso"	 faltam	em	alguns	manuscritos	 antigos	 de	Ef,	 embora	 não
em	todos	(ver	Ef	1,1).
	
												A	problemática	sugeriu	diversas	soluções,	das	quais	a	mais	plausível	é	a
seguinte:	Ef	é	uma	carta-circular,	 destinada	 não	 somente	 à	 capital	 da	Ásia	 pro
consular,	 mas	 a	 todas	 as	 cidades	 vizinhas;	 por	 isto	 faltam-lhe	 comunicações
pessoais	 e	 alusões	 a	 circunstâncias	 locais.	 Terá	 prevalecido	 na	 tradição	 dos
manuscritos	o	costume	de	mencionar	"em	Éfeso"	no	início	da	carta	(1,1),	porque
Éfeso	era	a	cidade	mais	importante	da	região.	Assim	se	explicam	tanto	o	caráter
impessoal	da	carta	como	a	notícia	tradicional	de	que	foi	dirigida	aos	Efésios.
	
												2.2.	Autor	e	mensagem	de	Ef
	
												1.	Ciente	dos	perigos	que	ameaçavam	a	comunidade	de	Colossos,	Paulo
escreveu	um	tanto	apressadamente	a	carta	aos	Colossenses;	tentaria	assim	conter,
de	 imediato,	 os	 erros	 dos	 falsos	 doutores.	 Com	 o	 passar	 do	 tempo,	 porém,	 o
Apóstolo	foi-se	lembrando	das	comunidades	que	se	haviam	formado	em	toda	a
região	da	Ásia	pro-consular	e	que	corriam	o	mesmo	perigo	que	a	de	Colossos.
Em	conseqüência,	 resolveu	 retomar	 o	 teor	 de	Cl	 e	 desenvolvê-lo	 numa	versão
ampliada,	sem	caráter	polêmico,	mas,	antes,	em	atitude	contemplativa.	Na	carta-
circular	 (Ef)	 assim	 oriunda,	 a	 Cristologia	 é	 explanada	 sem	 alusões	 a
controvérsias	e	com	ênfase	mais	acentuada	sobre	a	Igreja	como	Corpo	de	Cristo
(Ef	1,23;	4,12.16;	5,23.30),	doutrina	esta	já	esboçada	em	1	Cor	12,27;	Rm	12,15.
	
												O	tema	de	Rm,	que	encarava	judeus	e	pagãos	como	pecadores,	atingidos
gratuitamente	pela	misericórdia	do	Salvador,	é	retomado	em	Ef	2,1-21:	os	dois
povos	se	encontram	em	Cristo,	e	por	Ele	caminham	para	o	Pai	no	Espírito	Santo
(2,18;	cf.	Rm	9-11).	A	Igreja	está	estritamente	associada	ao	Espírito,	a	Cristo,	ao
Pai	e	aos	sacramentos:	"Há	um	só	corpo	e	um	só	Espírito,	um	só	Senhor,	uma	só
fé,	 um	 só	Deus	 e	 Pai	 de	 todos"	 (Ef	 4,4s).	 Temos	 aqui	 o	 ponto	 alto	 de	 toda	 a
eclesiologia	paulina.
	
												Mais	precisamente,	comparando	entre	si	Cl	e	Ef,	verifica-se	o	seguinte:
	
												Cl	tem	apenas	30%	de	próprio,	isto	é,	sem	paralelos	em	Ef;	esta	possui
50%	 de	 exclusivamente	 seu.	 São	 passagens	 próprias	 de	 Cl:	 1,15-20	 (hino
cristológico,	 talvez	 tirado	 da	 Liturgia	 antiga);	 2,1-9.16-23	 (polêmica	 contra	 os
falsos	pregadores)	;	3,1-4	(exortação	a	procurar	as	coisas	do	alto);	4,9	(saudações
e	encargos).	Ef	tem	de	exclusivamente	seu:	1,3-14	(o	grande	prólogo	de	ação	de
graças);	 2,1-10	 (a	 vida	 nova	 em	 Cristo);	 3,14-21	 (oração	 para	 que	 os	 fiéis
compreendam	 o	 mistério);	 4,1-16	 (exortação	 à	 unidade);	 5,8-14	 (exortação	 a
caminhar	 na	 luz);	 5,23-32	 (o	 matrimônio	 inserido	 no	 mistério	 de	 Cristo	 e	 da
Igreja)	;	6,10-17	(a	armadura	do	cristão).
	
												Nas	seções	comuns,	não	existe	identidade	absoluta	de	conteúdo,	menos
ainda	de	palavras.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2.	 É	 a	 "concórdia	 discorde"	 de	 Cl	 e	 Ef	 que	 leva	 alguns	 críticos	 a
perguntar	se	ambas	estas	cartas	são	do	Apóstolo	Paulo.	Há	quem	atribua	Ef	a	um
autor	 do	 tempo	 pós-paulino	 (século	 II	 ou,	 no	mínimo,	 da	 década	 de	 80);	 terá
desenvolvido	de	maneira	própria	a	temática	de	Cl,	utilizando	em	Ef	30	palavras
que	 não	 mais	 ocorrem	 em	 todo	 o	 Novo	 Testamento,	 e	 83	 palavras	 que	 não
aparecem	nas	outras	epístolas	de	São	Paulo.
	
												Esta	hipótese	relativamente	recente	não	é	compartilhada	pela	maioria	dos
exegetas	católicos.	Estes	preferem	guardar	a	tese	de	que	Paulo	é	o	autor	de	Cl	e
Ef;	para	a	elaboração	de	Ef,	o	Apóstolo	terá	recorrido	a	um	redator	(não	simples
escriba,	mas	compositor	de	frases);	assim	se	explicariam	as	particularidades	de
linguagem	e	estilo	de	Ef,	como	também	as	passagens	de	Ef	2,20;	3,5,	em	que	o
redator	 aparece.	 A	 sublimidade	 teológica	 de	 Ef	 dissuade	 bons	 críticos	 de
considerá-la	 apenas	 como	 obra	 de	 um	 discípulo	 de	 Paulo;	 este	 no	 fim	 de	 sua
atividade	apostólica	percebia	cada	vez	melhor	que	um	único	e	grande	"mistério"
dava	sentido	à	sua	aventura	pessoal	e	à	história	da	humanidade:	na	plenitude	dos
tempos,	Deus	Pai	houve	por	bem	"recapitular	todas	as	coisas	em	Cristo,	tanto	as
terrestres	quanto	as	celestes"	(cf.	Ef	1,9s).	Arrebatado	pela	contemplação	desta
verdade,	Paulo	explanou	o	mistério	de	Cristo-Cabeça,	cujo	corpo	vai	realizando
seu	crescimento	no	amor	(cf.	Ef	4,15s).
	
												3.	Como	"jóia"	do	epistolário	paulino	e	do	Novo	Testamento,	ocorre	o
prólogo	de	Ef	1,3-14.	Trata-se	de	um	hino	de	ação	de	graças	(eucharistia),	que
tem	semelhança	com	os	prefácios	da	Missa	(Eucaristia).	Consta	de	três	estrofes,
terminadas	 pelo	 mesmo	 refrão:	 "para	 louvor	 e	 glória	 da	 sua	 graça"	 (cf.
1,6.12.14).	 -A	 primeira	 estrofe	 (1,3-6a)	 conta	 a	 obra	 do	 Pai,	 que	 é	 de	 pré-
escolher,	pré-destinar	em	Cristo	desde	toda	a	eternidade;	a	segunda	estrofe	(1,6b-
12)	louva	a	obra	do	Filho,	manifestada	na	plenitude	dos	tempos,	quando	Cristo
quis	 recapitular	 (assumir	 em	 si,	 fazendo-se	Cabeça)	 toda	 a	 história	 e	 todas	 as
criaturas;	a	terceira	estrofe	(1,13-14)	se	volta	para	a	ação	do	Espírito	Santo,	que
é	 o	 selo	 (ou	 confirmação)	 das	 promessas	 e	 o	 penhor	 da	 nossa	 herança.	 -	 O
Espírito	é	menos	enfatizado	no	prólogo	de	Ef	do	que	o	Pai	e	o	Filho,	mas	Ele
ocorre	em	toda	a	trama	da	carta	até	o	fim	-	o	que	bem	significa	que	a	vida	cristã
e	essencialmente	vida	no	Espírito;	cf.	2,18.22;	3,16;	4,4.30;	5,18;	6,17.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Assim	 todo	 cristão	 encontrará	 em	Ef	 rico	 alimento	 para	 a	 sua	 vida
espiritual.
											
												Para	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
	
PERGUNTAS
											
												1)	Como	foi	fundada	a	comunidade	de	Colossos?
												2)	Porque	São	Paulo	quis	escrever	aos	Colossenses?
												3)	Quais	as	linhas	principais	da	mensagem	de	Cl?
												4)	Quais	os	destinatários	de	Ef?	Exponha	o	problema.
												5)	É	discutida	a	questão	do	autor	de	Ef?
												6)	Quais	as	linhas	doutrinárias	de	Ef?
											
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3aA	distinção	entre	 inspiração	bíblica	e	 revelação	se	 faz	muito	clara	no	 livro	de	Jó.	Este	 trata	do
sofrimento	 do	 homem	 justo;	 por	 que	 é	 abatido	 pela	 doença?	 O	 autor	 sagrado	 só	 tinha	 noção	 do	 cheol;
ignorava	a	retribuição	póstuma;	Deus	não	lhe	quis	revelar	a	vida	póstuma	consciente;	mas	quis	 inspirá-lo
para	escrever	o	 livro	de	Jó.	 Isto	quer	dizer	que	o	autor	procurou	dentro	dos	 limites	da	vida	presente	uma
resposta	 para	 a	 questão	 do	 sofrimento	 dos	 justos.	 Não	 a	 encontrou,	 porque	 só	 se	 elucida	 à	 luz	 da
ressurreição	 e	 da	 vida	 póstuma,	 consciente.	 Em	 consequência,	 o	 hagiógrafo	 apenas	 pôde	 dizer	 que	 o
sofrimento	nem	sempre	supõe	pecados	pessoais,	como	se	fosse	um	castigo	(o	que	já	era	um	progresso	na
mentalidade	de	Israel);	quanto	ao	mais,	terminou	pedindo	o	silêncio	do	homem	diante	do	mistério	da	dor;	é
certo	que	Deus	é	mais	sábio	do	que	o	homem	e	não	se	engana,	mas	o	homem	não	é	capaz	de	abarcar	os
desígnios	de	Deus.	Esta	conclusão	é	plenamente	válida,	é	digna	de	um	livro	inspirado;	mas	não	contém	a
revelação	da	ressurreição	dos	mortos	e	da	vida	póstuma	consciente,	que	só	mais	tarde	teria	lugar	em	Israel.
Por	último,	 Jesus	nos	 revelou	que	o	 sofrimento,	 aceito	 em	união	com	Ele,	 é	Páscoa	ou	passagem	para	 a
ressurreição	e	a	glória	definitiva.
	
												Algo	de	semelhante	se	deu	com	o	livro	do	Eclesiastes.	É	inspirado	de	ponta	a	ponta,	mas	não	traz	a
revelação	 da	 vida	 póstuma	 consciente,	 sem	 a	 qual	 é	 impossível	 debater	 o	 problema	 da	 felicidade,	 que	 o
hagiógrafo	encara.	Não	obstante,	a	conclusão	do	livro	é	verídica	não	só	para	um	judeu,	mas	para	um	leitor
cristão;	cf.	Ecl	12,13s.	Ver	revelação.
	
												Javé:	é	o	nome	com	o	qual	Deus	se	revela	a	Moisés	em	Ex	3,14s.	Pode	ser	interpretado	de	várias
maneiras:	a	tradição	dos	judeus	de	Alexandria,	muito	dados	a	especulações	filosóficas,	traduziu	Javé	para	o
grego	por	ho	on,	Aquele	que	é;	queriam	indicar	assim	o	Absoluto	ou	o	Transcendente	de	Deus.	Todavia
parece	que,	segundo	a	concepção	dos	judeus	da	Palestina,	menos	propensos	a	elevações	filosóficas,	o	nome
Javé	significa	Aquele	que	é	fiel,	que	acompanha	o	seu	povo	e	lhe	está	sempre	presente.
	
												Lei:	na	linguagem	paulina	designa	freqüentemente	a	Torá	ou	a	Lei	de	Moisés	de	modo	que,	quando
o	Apóstolo	censura	a	Lei	(cf.	Gl	2,6;	3,10.19),	tem	em	vista	não	qualquer	lei	nem	a	boa	ordem	publica,	mas
a	Lei	de	Moisés,	que	era	um	provisório	preparativo	da	vinda	do	Cristo.
	
												Messias:	vocábulo	hebraico	que	significa	Ungido;	foi	traduzido	para	o	grego	por	Christós.	Eram
ungidos	os	 reis	de	 Israel	 (cf.	1Sm	10,1;	16,13;	2Sm	2,4...),	que	por	 isto	 traziam	o	nome	de	"Ungidos	de
Javé".	A	 unção	 significa	 relação	 particular	 entre	 o	 Senhor	Deus	 e	 o	 ungido,	 que	 assim	 era	 revestido	 de
autoridade	especial	e	 inviolável	(cf.	1Sm	24,7;	26,9.11...).	Ungidos	eram	também	os	sacerdotes	em	Israel
(cf.	 Ex	 28,41;	 Lv	 10,7;	Nm	 3,3).	Aos	 profetas	 se	 aplicava	 uma	 unção	 não	 em	 sentido	 próprio,	mas	 em
sentido	metafórico	(cf.	1Rs	19,19;	2Rs	2,9-15).	-Visto	que	o	Salvador	prometido	desde	Gn	3,15	seria	Rei,
filho	de	Davi	(cf.	2Sm	7,12-16),	Sacerdote	(cf.	Hb	7,1-25;	Gn	14,17-20)	e	Profeta,	o	titulo	de	Ungido	lhe
foi	atribuído	na	 literatura	 judaica	e	nos	escritos	do	Novo	Testamento	(cf.	Jo	1,41;	4,25).	Jesus	foi	ungido
com	o	Espírito	Santo	e	com	poder	(At	10,38);	Ele	mesmo	aplicou	a	Si	o	texto	de	Is	61,1,	apresentando-se
corno	o	Ungido	que	veio	anunciar	aos	povos	a	Boa-Nova	(cf.	Lc	4,18-21).
	
												Com	o	tempo,	a	palavra	Ungido,	que	era	um	adjetivo	próprio	para	significar	uma	função,	tornou-se
nome	próprio,	justaposto	a	Jesus;	donde	Jesus	Cristo,	e	não	Jesus	o	Cristo.
	
												Midraxe:	é	uma	narração	de	fundo	histórico,	ornamentada	pelo	autor	sagrado	para	servir	à	instrução
teológica	 e	 à	 edificação	 dos	 seus	 leitores.	 O	 autor	 conta	 o	 fato	 de	modo	 a	 pôr	 em	 relevo	 o	 valor	 ou	 o
significado	religioso	desse	fato.	A	sua	intenção	não	é	estritamente	a	de	um	cronista,	mas	a	de	um	catequista
ou	teólogo.	Como	exemplo,	citemos	o	caso	do	maná:	em	Nm	11,4-9	é	apresentado	como	alimento	insípido	e
pouco	atraente;	mas	em	Sb	16,20s	é	tido	como	cheio	de	sabor,	adaptando-se	ao	paladar	dos	que	comiam.
Parece	haver	contradição;	na	verdade	não	a	há:	o	autor	de	Nm	escreve	uma	narração	de	cronista,	ao	passo
que	o	de	Sb	nos	apresenta	o	sentido	teológico	do	maná	num	midraxe:	o	maná	era	pão	delicioso	não	por	seu
paladar,	mas	porque	era	o	penhor	da	entrada	do	povo	na	Terra	Prometida;	visto	no	contexto	da	história	da
salvação,	o	maná	foi	delicioso.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Parábola:	história	 fictícia	 que	 serve	 para	 ilustrar	 uma	 verdade	 teológica.	 É,	 pois,	 uma	 longa
comparação;	caracteriza-se	pelas	fórmulas	"O	reino	dos	céus	é	semelhante...,	é	como...".	A	parábola	nunca
aconteceu.	Deve-se	 interpretar	a	parábola	procurando	a	 linha-mestra	do	seu	ensinamento	e	 transpondo	tal
mensagem	para	o	plano	da	fé.	Assim	em	Lc	15,11-32	a	bondade	do	pai	para	com	o	filho	pródigo	ilustra	a
misericórdia	 de	Deus	 para	 com	 os	 pecadores;	 em	Lc	 10,30-37	 a	 solicitude	 caridosa	 do	 bom	 samaritano
ilustra	a	maneira	como	devemos	tratar	o	próximo,	qualquer	que	seja	a	sua	condição	humana	ou	social.
	
												A	alegoria	carece	da	fórmula	"é	semelhante,	é	como..."	Exprime	diretamente	o	nexo	entre	o	sujeito	e
o	predicado:	"Eu	sou	o	Bom	Pastor"	(Jo	10,11),	"Eu	sou	a	verdadeira	videira"	(Jo	15,1)...	Na	alegoria	os
pormenores	da	 imagem	podem	ser	aplicados	ao	plano	 transcendental	com	mais	 rigor	do	que	na	parábola
(esta	geralmente	fala	apenas	por	seu	fio	condutor}.
	
												Parusia:	visita	que	o	Imperador	Romano	fazia	às	cidades	do	Império;	tal	aparição	do	Imperador	era
sempre	ocasião	de	alegria	festiva.	-	Ora	os	cristãos	assumiram	este	vocábulo	para	designar	a	segunda	vinda
de	Cristo	ao	mundo	a	fim	de	consumar	a	história;	Ele	virá	como	Senhor,	Kyrios,	Imperador	a	fim	de	julgar
o	mundo	e	restaurar	plenamente	a	ordem.
	
												Presbítero:	ver	Bispo.
	
												Promessa:	no	vocabulário	paulino,	é	a	promessa,	feita	por	Deus	a	Abraão,	de	que	sua	posteridade
seria	numerosa	e	por	ela	todos	os	povos	receberiam	a	bênção	(=	o	Messias);	cf.	Gl	3,16.18.	Tal	promessa	se
cumpriu	em	Cristo;	cf.	2Cor	1,20.
	
												Querigma:	ver	catecúmeno.
	
												Revelação:	a	Bíblia	nos	dá,	a	saber,	que	Deus	falou	aos	homens	comunicando-lhes	o	mistério	da	sua
vida	trinitáría	e	o	seu	desígnio	de	salvação,	centrado	em	Cristo	Jesus.	Nunca	os	homens	chegariam	por	si	a
conhecer	tais	verdades.	Por	isto	o	judaísmo	e	o	Cristianismo	são	religiões	reveladas.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	Bíblia	contém	a	revelação	de	Deus	aos	homens,	mas	nem	todas	as	páginas	da	Bíblia,	embora
inspiradas,	são	portadoras	de	revelação	divina.	Note-se,	por	exemplo,	que	em	Is	7,14	está	predito	que	uma
virgem	conceberia	e	daria	à	luz	um	filho:	isto	foi	consignado	no	texto	sagrado	por	efeito	de	dois	carismas	(o
da	revelação	e	o	da	inspiração);	mas,	quando	Mt	1,20-23	e	Lc	1,26-38	nos	dizem	que	a	virgem	concebeu	e
deu	 à	 luz	 um	 filho,	 já	 não	 escrevem	 por	 efeito	 de	 revelação	 (o	 fato	 já	 ocorrera	 e	 era	 notório),	 mas
unicamente	por	efeito	do	dom	da	inspiração	bíblica.	-	Toda	profecia	é	fruto	de	revelação	divina.
	
												Salmos	(numeração):	O	texto	hebraico	(M)	e	o	dos	LXX	e	da	Vulgata	latina	contêm	150	salmos,
mas	o	modo	de	numerá-los	é	diverso,	como	se	pode	ver	na	seguinte	tabela:
	
	
																																					Texto	hebraico	(M)																								LXX	e	Vulgata
	
																																																1-8																																															1-8
																																																9-10																																															9
																																															11-113																																								10-112
																																													114-115																																											113
																																														116,1-9SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
												MÓDULO	IX:	AS	EPÍSTOLAS	PASTORAIS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Chamam-se	 "Pastorais"	 as	 epístolas	 1/2	Tm	e	Tt,	 pois	 se	 dirigem	 a
pastores	de	comunidades,	aos	quais	propõem	normas	administrativas.	O	titulo	de
"Pastorais"	data	do	século	XVIII	e	deve-se	ao	teólogo	protestante	Paul	Anton	(†
1730).	Há	quem	duvide	da	autoria	paulina	destas	cartas.	Daí	o	primeiro	título	do
nosso	estudo.
	
Lição	1	:	Autenticidade
	
												1.	Até	o	começo	do	séc.	XIX	admitia-se	tranquilamente	a	autoria	paulina
das	epístolas	pastorais.	Esta	até	hoje	é	afirmada	por	grande	número	de	autores
católicos.	Todavia	os	críticos	apontam	em	contrário	os	seguintes	argumentos:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1)	O	estilo	das	Pastorais	é	regular	e	harmonioso,	contrastando	com	a
impetuosidade	 e	 a	 exuberância	 das	 epístolas	 anteriores.	O	 próprio	 vocabulário
difere:	de	848	vocábulos	das	cartas	pastorais,	306	são	exclusivos	destas	cartas	no
conjunto	do	epistolário	paulino.
	
												2)	A	organização	da	Igreja	e	a	evolução	da	hierarquia	apresentadas	pelas
Pastorais	são	demais	desenvolvidas	para	se	situar	na	época	de	S.	Paulo	(†	67).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Para	 entender	 este	 argumento,	 devemos	 lembrar	 que,	 enquanto	 os
Apóstolos	 viviam,	 eles	 eram	 os	 pastores	 de	 toda	 e	 qualquer	 comunidade;
todavia,	 como	 não	 tinham	 estabilidade,	 deixavam	 em	 cada	 comunidade	 um
Colégio	de	anciãos	(presbýteroi,	em	grego)	ou	superintendentes	(epískopoi,	em
grego),	 que	 governavam	 a	 comunidade	 na	 ausência	 do	Apóstolo	 e	 que	 tinham
abaixo	de	si	os	diáconos	(diákonoi,	ministros,	em	grego).	É	o	que	se	depreende,
por	 exemplo,	 de	At	 11,30;	 14,23;	 15,23;	 1	 Pd	 5,1;	 Fl	 1,1	 e	 de	At	 20,17	 (São
Paulo	manda	 chamar	 os	presbýteroi,	anciãos,	 de	 Éfeso)	 e	At	 20,28	 (S.	 Paulo
designa	 esses	 anciãos	 como	 sendo	 epískopoi,	 superintendentes,	 guardas,
vigilantes).	 -	 Com	 o	 passar	 da	 geração	 dos	Apóstolos,	 essa	 organização	 devia
ceder	 ao	 chamado	 "episcopado	 monárquico":	 um	 dos	 presbýteroi-epískopoi
seria	 escolhido	 como	 chefe	 do	 colégio	 e	 ficaria	 com	 o	 nome	 exclusivo	 de
epískopos	 (bispo),	 ao	 passo	 que	 os	 restantes,	 subalternos,	 teriam	 o	 nome	 de
presbyteroi,	presbíteros	 (sacerdotes,	 no	 sentido	 comum	da	 palavra	 hoje).	 Esta
nova	organização	nos	é	atestada	pelas	cartas	de	S.	Inácio	de	Antioquia	(f†107).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ora,	 dizem	os	 críticos,	 as	 epístolas	 pastorais	 supõem	 o	 episcopado
monárquico	(que	é	posterior	à	época	de	S.	Paulo),	pois	Timóteo	e	Tito	parecem
ser	os	pastores	de	uma	comunidade,	cada	qual.	Por	conseguinte	um	discípulo	do
séc.	 II	 terá	 usado	 o	 pseudônimo	 de	 Paulo	 para	 escrever	 as	 cartas	 pastorais	 -
Voltaremos	ao	assunto.
	
												3.)	Os	erros	combatidos	em	1/2	Tm	e	Tt	supõem	o	gnosticismo	do	século
II1.	Tenham-se	em	vista	1Tm	4,1-5;	6,3.20:;	2Tm	2,14-18;	4,3s;	Tt	1,10-16...
														1	-	O	gnosticismo	é	uma	corrente	que	mistura	doutrinas	gregas,	judaicas	e	orientais	(místicas);
prepondera	aí	o			
														dualismo	ou	a	oposição	entre	o	espírito	(tido	como	o	bom	e	puro)	e	a	matéria	(considerada	como
má	e	impura).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	4)	O	Cristianismo	das	Pastorais	é	 jurídico,	ao	passo	que	o	paulino	é
místico.	As	 Pastorais	 recomendam	 a	 ortodoxia	 (1Tm	 1,10;4,1;Tt	 1,9;2Tm4,3);
insistem	nas	boas	obras	(1Tm2,10;	5,10;	6,18;Tt2,7.14;	2Tm	2,21),	ao	passo	que
São	Paulo	recomenda	muito	a	fé.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	conseqüência,	 as	Pastorais	 seriam	de	 um	autor	 do	 séc.	 II.	Este,
recorrendo	a	pseudonímia,	teria	procurado	fazer	eco	aos	Atos,	a	2Cor,	a	Fl	e	Cl,
para	 escrever	 cartas	 que	 visavam	 a	 preservar	 a	 sã	 doutrina	 e	 a	 hierarquia	 da
Igreja	 em	 comunidades	 ameaçadas	 pelas	 especulações	 extravagantes	 do
gnosticismo.
	
												2.	Que	dizer	a	tal	propósito?
	
												Na	verdade,	os	argumentos	não	são	decisivos,	como	se	poderá	perceber:
	
												1)	Compreende-se	que	um	autor	dinâmico,	como	era	São	Paulo,	não	se
tenha	fixado	num	linguajar	único,	principalmente	quando	novas	circunstâncias	e
novos	temas	exigiam	novos	vocábulos	e	novo	estilo.	Vimos	que	entre	Gl	e	Rm
existe	evolução	de	pensamento	e	expressão.	Também	se	deve	considerar	que	a
idade	 avançada	 pode	 ter	 abrandado	 a	 linguagem	 ardente	 de	 Paulo.	 Mais:	 na
antiguidade,	 sendo	 o	 trabalho	 de	 escrever	 penoso	 e	 longo,	 as	 pessoas	 mais
atarefadas	limitavam-se	a	indicar	idéias	e	palavras-chaves	a	um	redator;	este	se
encarregava,	 de	 dar	 a	 tal	 material	 o	 estilo	 e	 a	 forma	 literária	 que	 julgasse
convenientes;	o	escrito	assim	redigido	era	atribuído	ao	doador	das	idéias.	Ora	é
possível	que	Paulo	tenha	recorrido	a	este	expediente	para	produzir	as	Pastorais
(como	 também	 Ef);	 há	 mesmo	 quem	 julgue	 que	 esse	 redator	 foi	 Lucas,	 pois
apontam	afinidades	entre	o	estilo	de	Lucas	e	o	das	Pastorais.
	
												2)	As	Cartas	Pastorais	ainda	não	supõem	o	episcopado	monárquico.	O
título	 de	 "epíscopo"	 aparece	 ai	 como	 sinônimo	 de	 "presbítero"	 (cf.	 Tt	 1,5-7),
como	em	At	20,17.28.	Nem	Timóteo	nem	Tito	são	bispos	residenciais,	postos	à
frente	 de	 uma	 comunidade	 só,	 mas	 são	 pastores	 peregrinantes,	 postos	 à
disposição	de	Paulo,	que	os	desloca	como	lhe	apraz	{cf.	Tt	3,12;	2Tm	4,11-13).	-
Verdade	é	que	nas	epístolas	pastorais	é	realçada	a	diversidade	dos	ministérios	(o
autor	se	refere	também	aos	diáconos	e	às	viúvas	cf.	1Tm	3,8-13;	5,3-16),	como
se	 S.	 Paulo	 quisesse	 descentralizar	 o	 serviço	 da	 comunidade,	 preparando	 o
episcopado	monárquico	 que	 aparece	 nas	 cartas	 de	S.	 Inácio	 de	Antioquia	 (aos
Magnésios	3,2;	6,1;	aos	Esmirnenses	8,1).
	
												3)	As	doutrinas	combatidas	nas	Cartas	Pastorais	não	são	necessariamente
as	 da	 gnose	 do	 século	 II.	A	descoberta,	 em	1947,	 de	 documentos	 judaicos	 em
Qumran,	datados	do	limiar	da	era	cristã,	ajuda	a	identificar	tais	erros:	trata-se	de
teorias	sutis	(1	Tm	6,4),	fábulas	e	genealogias	sem	fim	(cf.	1Tm	1,4),	polêmicas
a	respeito	da	Lei	(cf.	Tt3,9),	contos	de	gente	caduca	(cf.	1Tm	4,7),	associados	a
ascetismo	 dualista	 (cf.	 1Tm4,3;	 2Tm	 2,18);	 isto	 tudo	 sugere	 a	 pré-gnose,	 já
reconhecida	no	estudo	de	Cl	e	Ef.
	
												4)	A	insistência	de	Paulo	sobre	a	fidelidade	às	proposições	da	fé	aparece
nas	epístolas	mais	antigas:	1	Cor	11,2.23;	15,3;	2Ts2,15;	3,6;	Rm6,17	("forma	de
doutrina").	 Não	 é,	 pois,	 para	 estranhar	 que	 ocorra	 nas	 Pastorais.	 -	 Também	 a
exortação	às	boas	obras	é	familiar	a	S.	Paulo:	Gl5,6;	Rm2,7s;	2Cor	9,8;	Fl1,6.	-
Por	 sua	 vez,	 o	 tema	 da	 graça	 e	 da	 gratuidade,	 caro	 às	 epístolas	mais	 antigas,
ocorre	em	ITm1,12-17;	Tt3,4-7.
	
												Vemos	assim	que	há	continuidade	entre	as	epístolas	pastorais	e	o	clássico
epistolário	paulino.	Podemos,	pois,	manter,	com	a	tradição,	a	tese	de	que	Paulo
também	é	o	autor	(se	não	o	redator)	das	Pastorais.
	
												Mais	precisamente,	descrevemos	nos	seguintes	termos	o	contexto	de	tais
cartas:
	
												O	primeiro	cativeiro	romano	(61	-63)	de	Paulo	terminou	com	sentença
favorável	 a	 Paulo.	 Este,	 então,	 conforme	 seus	 anseios,	 foi	 à	 Espanha	 (cf.
Rm15,24-28).	A	 seguir,	 em	 65	 e	 66	 empreendeu	 nova	 viagem	 ao	Oriente	 (cf.
Fm22),	a	fim	de	visitar	e	multiplicar	as	comunidades	cristãs.	No	decurso	dessa
viagem,	 terá	deixado	Tito	em	Creta	e	Timóteo	em	Éfeso	(Ásia	Menor);	a	estes
dirigiu	 pouco	 depois,	 em	 65-66,	 as	 duas	 primeiras	 cartas	 pastorais,	 a	 fim	 de
fortalecê-los	 no	 exercício	 da	 sua	 missão.	 Não	 muito	 depois,	 Paulo	 foi	 preso,
talvez	 em	Trôade	 (cf.	 2Tm	 4,13),	 pois	 o	 nome	 de	 cristão	 era	 ilícito;	 levado	 a
Roma	 para	 um	 segundo	 cativeiro,	 escreveu	 2Tm	marcada	 pela	 consciência	 da
morte	próxima.
	
Lição	2:	Os	destinatários
	
												Timóteo	era	originário	de	Listra,	na	Licaônia,	filho	de	pai	pagão	e	de	mãe
judia	 convertida	 ao	 Cristianismo	 e	 chamada	 Eunice	 (At	 16,1;	 2Tm	 1,5).	 Por
ocasião	 da	 primeira	 viagem	missionáriade	 Paulo	 provavelmente,	 foi	 batizado
em	45;	 instruído	nas	Escrituras	Sagradas	por	 sua	 avó	Loide	 e	 sua	mãe	Eunice
(2Tm	 3,15),	 foi	 assumido	 por	 Paulo	 como	 auxiliar	 de	 apostolado	 durante	 a
segunda	viagem	missionária;	Paulo	mandou	circuncidá-lo,	porque	todos	sabiam
que	o	pai	de	Timóteo	era	pagão	(cf.	At	16,1-3).
	
											 	-	Desde	então,	Timóteo	tornou-se	fiel	companheiro	de	Paulo,	dócil	ao
Apóstolo	e	plenamente	identificado	com	o	mestre;	cf.	2Tm	l,2;	2,1	;	1Tm	1,2;	1
Cor4,17;	FI2.20.	Não	sem	razão	Timóteo	é	associado	a	Paulo	no	cabeçalho	de
seis	cartas;	1/2	Ts,	2Cor,	Cl,	Fl,	Fm.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Timóteo	compartilhou	o	primeiro	cativeiro	romano	de	Paulo.	Depois
acompanhou	o	Apóstolo	em	sua	viagem	pelo	Oriente	e	foi	constituído	epíscopo
missionário	em	Éfeso,	com	a	finalidade	de	admoestar	"alguns	a	não	ensinar	outra
doutrina"	(1	Tm	1,3).	Diz	a	tradição	que	morreu	em	Éfeso,	como	mártir	em	97.
	
												Tito,	que	devia	ter	a	mesma	idade	que	Timóteo,	é-nos	conhecido	apenas
por	 referências	 em	quatro	 cartas	de	S.	Paulo:	Gl,	 2Cor,	Tt,	 2Tm.	Os	Atos	não
falam	 deste	 discípulo.	 Filho	 de	 pais	 pagãos	 (cf.	 Gl	 2,1	 s)	 e	 convertido	 à	 fé
provavelmente	 por	 Paulo	 (cf.	 Tt	 1,4),	 Tito	 pertencia	 à	 comunidade	 cristã	 de
Antioquia.	Pela	primeira	vez	aparece	como	companheiro	de	Paulo,	por	ocasião
do	 Concilio	 de	 Jerusalém	 (Gl	 2,1-2).	 Após	 o	 fracasso	 de	 Timóteo,	 aceitou	 o
convite	 de	 reconduzir	 à	 obediência	 e	 paz	 a	 comunidade	 agitada	 dos	 coríntios;
levando	 a	 estes	 a	 "carta	 das	 lágrimas",	 viu	 seus	 esforços	 bem	 sucedidos	 (cf.
2Cor7,13-15;	8,6;	12,17s).	Foi	também	o	portador	da	2Cor	(cf.	2Cor	8,6.16-24).
Após	longo	intervalo,	Tito	reaparece	ao	lado	de	Paulo	em	Creta,	onde	é	deixado
com	a	 tarefa	de	 concluir	 a	organização	das	 comunidades	 locais	 (cf.	Tt	1,5);	 aí
devia	 ficar	até	que	Artemas	ou	Tíquico	o	 fosse	substituir	 (Tt	3,12).	Segundo	a
tradição,	morreu	em	93	como	bispo	da	ilha	de	Creta.	Em	conseqüência,	pode-se
dizer	 que	 Tito	 possuía	 um	 temperamento	 sólido	 forte	 e	 ponderado;	 era	 apto	 a
tarefas	difíceis,	bom	organizador,	zeloso	no	ministério...	Salientaremos,	a	seguir,
alguns	traços	mais	importantes	das	Pastorais.
	
	
Lição	3:	Traços	importantes
	
												3.1.	Vida	cristã	e	beleza
	
												O	termo	kalós	(belo	e	bom)	é	característico	de	1/2	Tm	e	Tt.	Ocorre	aí	24
vezes,	quase	sempre	como	adjetivo,	ao	passo	que	nas	outras	dez	cartas	paulinas
só	aparece	num	total	de	20	vezes.	Assim	a	beleza	parece	tornar-se,	aos	olhos	de
Paulo	ancião,	uma	nota	característica	da	vida	cristã	ou	uma	expressão	da	vida	de
fé.	Tenhamos	 em	vista	 algumas	das	passagens	que	 empregam	o	 adjetivo	kalós
(bom	e	belo):	2Tn	4,7e	1Tm6,12	(o	belo	ou	nobre	combate	da	fé);	1	Tm	6,13	(a
bela	ou	heróica	confissão);	1Tm	1,18	(a	bela	ou	fiel	militância);	1	Tm	4,6	(bela
ou	sadia	doutrina);	1Tm	3,7	(belo	ou	favorável	testemunho);	2Tm	1,14	(belo	ou
precioso	 depósito);	 1Tm	 1,5.19	 (bela	 ou	 reta	 consciência);	 1Tm	 1,8	 (bela	 ou
válida	Lei);	1Tm	2,10;	3,1;	5,25;	2Tm	2,21;	3,17	(belas	ou	santas	obras).	Assim
toda	 a	 vida	 crista	 é	 bela	 e	 o	 pastor	 deve	 procurar	 formar	 os	 fiéis	 a	 vivê-la
conseqüentemente	 (cf.	 Tt	 3,8;	 2,3;	 1Tm	 2,3).	 Verdade	 é	 que	 as	 traduções
portuguesas	 nem	 sempre	 conservam	 a	 força	 da	 palavra	kalós;	 como	 quer	 que
seja,	 é	 oportuno	que	o	 leitor	 saiba	 quanto	 ela	 está	 presente	 nas	 pastorais.	Este
fato	 é	 especialmente	 surpreendente	 se	 levarmos	 em	 conta	 que,	 para	 o	 filósofo
Aristóteles	(f	322	a.C.),	os	anciãos	não	vivem	para	a	beleza	de	ideais,	mas	para	o
que	é	útil	ou	pragmático;	ora	precisamente	São	Paulo	ancião	fala	mais	da	beleza
da	 vida	 do	 que	 em	 sua	 idade	 madura;	 isto	 só	 se	 pode	 explicar	 pela	 fé	 do
Apóstolo,	 que	 lhe	 apontava	 o	 fim	 da	 vida	 terrestre	 como	 consumação	 ou
plenitude	 da	 verdadeira	 vida,	 que	 já	 existe,	 sob	 forma	 de	 semente,	 em	 cada
cristão	desde	o	dia	do	seu	batismo.
	
												3.2.	A	vida	cristã	como	treinamento	atlético
	
												São	Paulo	usava	de	muitas	metáforas	para	melhor	se	fazer	compreender.
Entre	estas,	não	pendia	negligenciar	a	dos	exercícios	atléticos	muito	estimados
pelos	gregos.
	
												Em	suas	primeiras	epístolas,	o	Apóstolo	se	referiu	ao	pugilato	ou	jogo	de
box	(1	Cor	9,26;	2Cor4,8s),	às	corridas	atléticas	(1	Cor	9,24;	Gl	5,7;	Fl	3,12-14;
cf.	 Hb	 12,1),	 a	 fim	 de	 ilustrar	 o	 zelo	 com	 que	 o	 cristão	 se	 deve	 dedicar	 à
conquista	 da	 coroa	 da	 vida	 eterna.	 Em	 1	Tm	 4,7s	 Paulo	 retoma	 a	 imagem	 do
atletismo	 e	 recomenda	 mais	 explicitamente	 o	 empenho	 pelo	 treinamento
espiritual:	"Exercita-te	na	piedade.	A	pouco	serve	o	exercício	corporal,	ao	passo
que	a	piedade	é	proveitosa	para	tudo,	pois	contém	a	promessa	da	vida	presente	e
futura".	 Estas	 palavras	 se	 tornam	 particularmente	 ricas	 de	 sentido,	 se
compreendemos	 que	 foram	 escritas	 para	 um	 discípulo	 que	 devia	 educar-se	 ou
formar-se	para	o	encargo	de	pastor	do	rebanho	de	Cristo.	O	Apóstolo	afirma	que
muito	mais	valioso	do	que	o	atletismo	corporal	(praticado	com	tanto	afinco	pelos
homens)	 é	 a	 áskesis,	 a	 ascese	 ou	 o	 treinamento	 espiritual;	 este	 exigirá	 não
menos	esforço	do	que	a	luta	do	estádio,	pois	tem	para	si	melhores	promessas	do
que	as	das	competições	atléticas.
	
												3.3.	Solidariedade	e	não	solidariedade	com	Cristo
	
	 	 		 	 	 		 	 			Em	2Tm	2,11-13,	o	Apóstolo	transcreve	um	possível	hino	da	Liturgia
antiga,	que	assim	reza:
	
												"Se	com	Ele	morrermos,	com	Ele	viveremos.
												Se	com	Ele	sofrermos,	com	Ele	reinaremos.
												Se	nós	o	renegarmos,	também	Ele	nos	renegará.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Se	 lhe	somos	 infiéis,	 ele	permanece	 fiel,	 pois	não	pode	 renegar	a	 si
mesmo".
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esta	estrofe	compõe-se	de	quatro	versos:	os	dois	primeiros	afirmam
plena	solidariedade	do	cristão	com	Cristo	no	morrer	e	no	ressuscitar;	o	terceiro
ainda	mostra	um	paralelo	entre	o	cristão	e	o	Cristo,	mas	trágico;	o	quarto	nega
qualquer	paralelo.	-	Que	significam,	pois,	o	terceiro	e	o	quarto	verso?	O	terceiro
supõe	a	renegação	no	momento	final	desta	peregrinação	terrestre;	se	o	cristão	é
então	encontrado	avesso	a	Cristo,	a	sua	opção	negativa	é	respeitada;	Deus	não	o
forçará	a	converter-se	(tal	é	a	tragédia	do	inferno).	O	quarto	verso	refere-se	aos
pecados	da	vida	cotidiana:	ainda	que	o	cristão	peque	(seja	infiel),	Cristo	não	lhe
é	 infiel,	 de	 modo	 que,	 sempre	 que	 deseje	 voltar,	 arrependido,	 ao	 Senhor,	 o
pecador	encontra	Este	de	braços	abertos,	como	Ele	sempre	foi;	com	efeito,	Deus
não	 nos	 pode	 dizer	 não	 depois	 de	 haver	 dito	 sim;	 não	 pode	 retratar-se,
precisamente	porque	é	Deus	perfeito	e	não	criatura	volúvel.	A	perfeição	de	Deus,
tornando	Deus	diferente	do	homem,	é	que	fundamenta	a	confiança	e	a	esperança
do	cristão.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Eis	algumas	seções	que	recomendam	a	leitura	atenta	e	proveitosa	das
epístolas	pastorais.
	
												Para	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
	
*		*		*
	
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Leia	as	epístolas	pastorais	e	aponte,	em	cada	uma,	três	passagens	que
revelem	a	solicitude	do															pastor.	Justifique	sua	escolha,
												2)	Onde	é	que,	nas	Cartas	Pastorais,	o	autor	nos	diz	que	"toda	Escritura
é	inspirada	por	Deus	e	útil										para	instruir,	para	refutar,	para	corrigir...,	a
fim	de	que	o	homem	de	Deus	seja	perfeito"?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 3)	Em	que	passagem	das	pastorais	 São	Paulo	 diz	 que	 "é	 grande	 o
mistério	da	piedade..."?
												4)	Himeneu	e	Fileto	têm	uma	palavra	que	é	como	gangrena.	Onde	se
encontra	isto?
												5)	Onde	São	Paulo	nos	diz	que	a	graça	de	Deus	se	manifestou	a	todos	os
homens	e	nos	ensina	a																viver	santa,	justa	e	piedosamente	neste	mundo?
												6)	Na	2Tm	qual	a	secção	que	mais	manifesta	a	solidão	do	Apóstolo?
												7)	Onde	São	Paulo	diz	a	Timóteo	que	tome	um	pouco	de	vinho	por	causa
do	estômago?
												8)	Como	deve	ser	a	viúvaque	serve	ao	Senhor,	conforme	1	Tm?	Indique
capitulo	e	versículos?
											
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												3a	SUBETAPA:	SÃO	PAULO	E	SUAS	EPÍSTOLAS
	
												MÓDULO	X:	A	EPÍSTOLA	AOS	HEBREUS
	
Lição	1:	O	autor	de	Hb
	
												Até	cinqüenta	anos	atrás	era	comum	dizer-se	que	Hb	é	carta	de	S.	Paulo
Apóstolo.	 Em	 nossos	 dias,	 porém,	 já	 não	 se	 afirma	 isto,	 mesmo	 entre	 os
católicos.	Aliás,	 faz-se	 oportuno	 notar	 que	 é	 lícito	 discutir	 a	 autoria	 de	 algum
escrito	bíblico,	contanto	que	não	se	ponha	em	dúvida	a	canonicidade	do	mesmo
ou	o	seu	valor	de	Palavra	de	Deus.	É	o	que	ocorre	com	Hb:	pergunta-se	qual	o
autor	humano	dessa	carta	inspirada	pelo	Espírito	Santo.
	
												1.1.	Os	dados	da	tradição
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	 própria	 tradição	 é	 hesitante	 sobre	 a	 origem	 paulina	 da	 carta.	Os
escritores	 orientais	 a	 atribuíram	 a	 São	 Paulo;	 verdade	 é	 que	 Orígenes	 de
Alexandria	 (†	 258)	 admitia	 que	 Paulo	 fora	 o	 autor	 de	 Hb	 (isto	 é,	 a	 fonte	 da
doutrina	de	Hb),	mas	não	o	redator;	assim	tentava	explicar	as	diferenças	de	estilo
existentes	entre	Hb	e	as	cartas	propriamente	paulinas.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	No	Ocidente	os	 testemunhos	 são	mais	 divergentes.	Até	o	 século	 IV
houve	 quem	 duvidasse	 não	 só	 da	 autoria	 paulina	 de	 Hb,	 mas	 até	 da
canonicidade.	A	 razão	desta	posição	 extremada	 é	 a	 seguinte:	 nos	 séculos	 II/III
ocorreram	movimentos	heréticos,	como	o	dos	Montanistas	e	o	dos	Novacianos;
estes	se	valiam	de	Hb	6,4-8	para	afirmar	que	havia	pecados	irremissíveis	(=	sem
perdão).	Ora,	a	fim	de	combater	tal	rigorismo	herético,	alguns	mestres	ocidentais
negaram	a	própria	canonicidade	de	Hb	(não	queriam	que	fosse	lida	em	público).
Todavia,	a	partir	de	meados	do	século	IV,	tais	correntes	perderam	sua	voga,	e	os
escritores	 ocidentais	 passaram	 a	 aceitar	 tanto	 a	 canonicidade	 quanto	 a	 autoria
paulina	de	Hb.
	
												Eis,	porém,	que	os	críticos	dos	últimos	decênios	voltaram	a	levantar	a
questão	da	autoria	da	carta,	apoiando-se	principalmente	no	exame	do	texto.	Daí
o	novo	subtítulo:
	
												1.2.	Critérios	internos	do	texto
	
												a)	Em	Hb	2,3	o	autor	distingue:	primeiramente	o	Senhor,	que	começou	a
pregar	 a	 Boa-Nova,	 depois	 os	 Apóstolos	 e	 discípulos,	 que	 imediatamente	 a
ouviram,	 e	 finalmente	 nós,	 isto	 é,	 uma	 segunda	 geração,	 que	 é	 discípula	 dos
Apóstolos	e	dos	primeiros	ouvintes	da	Palavra.	Ora	São	Paulo	nunca	se	incluiria
entre	 os	 discípulos,	 como	 se	 inclui	 o	 autor	 de	 Hb;	 fazia	 questão	 absoluta	 de
afirmar	que	ele	recebera	o	Evangelho	diretamente	de	Cristo;	cf.	Gl	1,1	s.	12.16s.
	
												b)	Em	Hb	falta	a	introdução,	que	é	habitual	nas	cartas	paulinas;	começa
sem	o	nome	do	remetente	e	sem	as	costumeiras	saudações.	Comparem-se	entre
si	o	início	de	1	Cor,	por	exemplo,	com	o	início	de	Hb.	Esta	carta	parece,	antes,
um	tratado	 teológico	ou	uma	homilia,	à	qual	se	acrescentou	um	fecho	de	carta
(cf.	13,18-25).
	
												c)	Hb	apresenta	168	palavras	que	não	se	encontram	no	resto	do	Novo
Testamento,	 e	 outras	 124	 que	 faltam	 nas	 cartas	 paulinas.	 Algumas	 destas	 se
derivam	 da	 filosofia	 grega	 do	 século	 I:	 demiourgos,	 em	 Hb	 11,10;
metriopathein,	ter	compreensão,	em	5,2.	O		autor	prefere	falar	de	Jesus	Cristo
ou	 simplesmente	 de	 Jesus	 ou	 de	Cristo,	 em	 vez	 da	 habitual	 formula	 paulina
Cristo	Jesus	(cf.	Hb	2,9;	3,1;	13,8	e	Fl	2,5;	Gl	5,14).	De	modo	geral,	o	estilo	de
Hb	revela	escritor	que	conhecia	muito	bem	o	vocabulário	e	a	sintaxe	gregos,	ao
passo	que	as	cartas	paulinas	são	muito	menos	buriladas.
	
												d)	O	modo	de	citar	a	Bíblia	também	é	diferente:	S.	Paulo	usa	as	formulas
"está	escrito...,	como	está	escrito...,	diz	a	Escritura...,	Moisés	diz...,	Davi	diz...".
Ao	 contrário,	 conforme	 Hb,	 Deus	 diz	 diretamente	 (cf.	 1,5.6.7.13;	 4,3;	 7,21	 ;
8,5.8;	 10,30.37.38;	 11,18;	 12,15;	 13,5.6)	 ou	 o	 Espírito	 Santo	 diz	 (cf.	 3,7;	 9,8;
10,15).
	
												e)	O	Antigo	Testamento	é	interpretado	como	tipo	ou	imagem	do	Novo
Testamento.	 Assim	 a	 Lei	 é	 a	 sombra	 ou	 o	 esboço	 dos	 bens	 da	 nova	 Aliança
(10,1);	Melquisedec,	rei	e	sacerdote,	é	figura	de	Cristo	(7,1	-28);	o	tabernáculo
terreno	 é	 vislumbre	 pálido	 do	 celeste	 (8,1	 -13);	 os	 sacrifícios	 do	 Antigo
Testamento	são	prefigurações	do	sacrifício	de	Cristo	(9	1-19).
	
												f)	O	conteúdo	doutrinário	de	Hb	é,	sem	duvida,	em	sua	essência,	o	das
cartas	 paulinas.	 Todavia	 há	 diferenças	 de	 ênfase,	 que	 não	 constituem
contradições:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Para	São	 Paulo,	 Cristo	 é	 sobretudo	 a	Cabeça	 de	 um	 grande	 corpo;
comunica	 vida	 e	 movimento	 aos	 membros	 desse	 corpo,	 que	 são	 os	 fiéis	 (cf.
principalmente	Cl	e	Ef).	Ora,	para	Hb,	Cristo	vem	a	ser,	antes	do	mais,	o	Guia
que	dirige	os	fiéis	(Hb	2,10;	12,2)	ou	o	Precursor	que	os	precedeu	atravessando	o
véu	do	tabernáculo	celeste,	onde	Ele	é	Pontífice	para	sempre	(cf.	Hb6,19).
	
												São	Paulo	põe	em	relevo	os	aspectos	precários	da	Lei	de	Moisés:	esta
tinha	a	função	de	mostrar	aos	judeus	a	sua	insuficiência	e	miséria	morais	(cf.	Rm
4,15;	 7,7-13;	 Gl	 3,19).	 Ao	 contrário,	 o	 autor	 de	Hb	 enfatiza	 a	 Lei	 de	Moisés
como	prenúncio	da	dispensação	da	graça	cristã	(cf.	Hb	8,13;	10,1)	-	o	que	é	mais
positivo	e	otimista	do	que	o	enfoque	expresso	em	Rm	e	Gl.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 São	 estas	 e	 outras	 observações	 que	 levam	os	 estudiosos	modernos,
mesmo	católicos,	a	dizer	que	Hb	não	foi	redigida	por	S.	Paulo.	Inegavelmente,
porém,	 há	 traços	 comuns	 de	 doutrina	 e	 até	 idênticas	 expressões	 em	Hb	 e	 nas
epístolas	paulinas.	Assim	a	eminente	dignidade	de	Cristo,	Filho	eterno	de	Deus
(cf.	Rm	1,3	e	Hb	4,14);	Cristo,	imagem	da	substância	do	Pai	e	mediador	na	obra
da	 criação	 (cf.	 Cl	 1,15-17	 e	 Hb	 1,3s);	 a	 mesma	 teologia	 da	 cruz,	 ato	 de
obediência,	aparece	em	Fl	2,8	e	Hb	5,7;	Cristo	oferece	um	sacrifício	de	expiação
(cf.	Rm	3,25	e	Hb	10,12);	após	a	Paixão,	Cristo	é	elevado	à	direita	de	Deus	(cf.
Rm	8,34	e	Hb	10,12).
	
	
											
												Notem-se	ainda	a	referência	a	Timóteo,	o	caro	discípulo	de	Paulo,	em	Hb
13,23,	assim	como	os	ecos	do	fraseado	paulino	em	Hb	13,18s	(cf.	2Cor	1,11s),
Hb	13,19.23	(cf.	Fm	22	e	Fl	2,1.23s),	Hb	13,14.25	(cf.	FI4,18.21s).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Uma	vez	considerados	todos	estes	pontos,	pergunta-se:	que	autor	terá
escrito	um	tal	documento?
	
												1.3.	A	indicação	do	autor
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	carta	supõe	um	escritor	de	origem	judaica	e	de	formação	helenista,
capaz	de	escrever	de	modo	original	(embora	sob	a	influência	de	S.	Paulo);	devia
ser	 bem	 versado	 na	 tradução	 grega	 ou	 alexandrina	 das	 Escrituras,	 dita	 "dos
LXX",	que	ele	cita	ao	pé	da	letra,	e	não	de	memória;	devia	também	conhecer	o
ritual	 do	 Antigo	 Testamento,	 com	 suas	 solenidades,	 às	 quais	 faz	 freqüentes
alusões;	 além	do	mais,	 o	 escritor	 gozava	de	 certa	 autoridade	nas	 comunidades
judeo-cristãos,	para	poder	escrever-lhes	tal	carta,	que	não	raro	censura	os	leitores
(cf.	5,11-14;	6,7s.9-12;3,12s;	4,1;	13,22).
	
												Ora	a	tais	requisitos	parece	satisfazer	Apolo,	o	judeu	nascido	e	educado
em	Alexandria,	do	qual	falam	os	Atos	em	18,24-28;	Apolo	certamente	gozava	de
autoridade,	pois	 em	Corinto	quiseram	contrapô-lo	 a	Paulo	 e	 a	Pedro	 (cf.	 1Cor
1,13;	 3,4-6;	 4,6).	 Há	 quem	 admita	 Barnabé,	 que	 era	 hebreu,	 levita,	 amigo	 e
colaborador	de	Paulo	 (cf.	At	4,36;	13,2);	 todavia	 esta	hipótese	goza	de	menos
sólido	fundamento	do	que	a	anterior.
	
Lição	2:	Os	destinatários	de	Hb
	
												Como	diz	o	título,	a	carta	se	dirige	a	judeus	convertidos	ao	Cristianismo.
Sim;	 o	 escritor	 faz	 amplo	 uso	 dasEscrituras,	 que	 ele	 cita	muitas	 vezes	 como
fonte	 principal	 de	 argumentação.	 Mais	 precisamente,	 podemos	 dizer:	 os
destinatários	eram	sacerdotes	 judeus	que	haviam	abraçado	a	 fé	cristã,	 julgando
estar	aderindo	ao	Messias;	deixaram	o	solene	culto	do	templo	de	Jerusalém	para
abraçar	a	simplicidade	das	celebrações	cristãs,	cujo	valor	eles	entreviam	na	 fé.
Desde	o	início	da	sua	vida	cristã,	tinham	suportado	perseguições	(tenhamos	em
vista	 At	 8,1-3;	 após	 o	 martírio	 de	 S.	 Estêvão,	 em	 36,	 os	 cristãos	 foram
atormentados	 em	 Jerusalém,	 de	 modo	 que	 se	 dispersaram	 pela	 Judéia	 e	 a
Samaria.	 Com	 o	 decorrer	 dos	 tempos,	 porém,	 esses	 cristãos	 sentiam	 sua	 fé
fraquejar.	Sim;	em	64	o	Imperador	Nero	decretou	a	primeira	perseguição	romana
contra	os	cristãos;	o	Senhor	Jesus	parecia	ter	esquecido	os	seus	amigos,	pois	não
voltava,	 como	 prometera,	 para	 pôr	 fim	 à	 história.	 Entrementes,	 o	 templo	 de
Jerusalém	 continuava	 de	 pé,	 incólume;	 parecia	 que	 Deus	 lá	 estava	 presente,
desabonando	a	fé	cristã.	Compreende-se	então	que	tais	sacerdotes	judeus	feitos
cristãos	sofressem	a	 tentação	de	voltar	para	o	 judaísmo	e	continuar	a	servir	no
Templo.	A	sua	conversão	a	Cristo	podia	parecer-lhes	grave	erro.
	
											 	Supondo	tais	circunstâncias,	Hb	é	uma	palavra	de	exortação	(cf.	Hb
13,22).	Tenciona	reavivar	a	fé	dos	leitores	(tenha-se	em	vista	especialmente	Hb
11,	 que	 traía	 profundamente	 da	 fé).	 E,	 para	 avivar	 a	 fé,	 o	 autor	 se	 detém,	 de
ponta-a-ponta	 da	 epístola,	 na	 comparação	 mútua	 da	 antiga	 e	 da	 nova	 Lei,
mostrando	 que	 a	 antiga	 Aliança	 era	 apenas	 uma	 imagem	 e	 um	 prenúncio	 da
Aliança	 travada	 por	 meio	 de	 Jesus	 Cristo;	 não	 teria,	 pois,	 sentido	 voltar	 aos
preceitos	do	ritual	judaico,	pois	este	envelhecera	e	cumprira	sua	missão	(cf.	Hb
8,13).	Observemos	Hb	5,12:	os	que	deviam	ser	mestres,	precisam	de	que	se	lhes
ensinem	 os	 rudimentos	 da	 fé	 crista;	 eram	 cristãos	 convertidos	 havia	 muito
tempo;	 todavia	 pareciam	 crianças	 desanimadas	 (cf.	 principalmente	Hb	 10-12);
eram	 também	 semelhantes	 a	 atletas	 que	 haviam	 corrido	 corajosamente	 no
estádio,	mas,	já	na	reta	finai,	se	sentiam	prestes	a	desfalecer	e	entregar	os	pontos;
perto	 de	 obter	 a	 coroa	 da	 vitória,	 estavam	 dispostos	 a	 jogar	 fora	 todos	 os
esforços	anteriores	e	capitular;	 faltava-lhes	o	 fôlego	para	correr	os	10%	finais,
depois	de	haverem	superado	tantos	obstáculos!
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Não	é	difícil	 indicar	a	data	de	origem	de	Hb.	Se	levamos	em	conta	a
situação	dos	destinatários,	devemos	colocá-la	entre	64	e	66.	Com	efeito;	64	é	o
ano	da	perseguição	decretada	por	Nero,	e	66	é	o	ano	em	que	começa	a	guerra
dos	 judeus	contra	os	 romanos,	guerra	que	acabaria	em	70	com	a	destruição	do
templo	 de	 Jerusalém.	 Só	 enquanto	 o	 culto	 era	 celebrado	 normalmente	 em
Jerusalém,	podiam	os	judeo-cristãos	sentir	a	tentação	de	aderir	novamente	a	ele.
Portanto	admitimos	a	redação	de	Hb	entre	64	e	66.
	
	
												O	lugar	da	redação	de	Hb	fica	sendo	incerto.	Terá	sido	escrita	na	Itália
por	causa	da	alusão	aos	"irmãos	da	Itália"	em	Hb	13,24?
	
Lição	3:	A	mensagem	de	Hb
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	 carta	 aos	Hebreus	 é	 perpassada	por	 uma	 linha	 central,	 a	 saber:	 o
confronto	entre	a	antiga	e	a	nova	Aliança.
	
												3.1.	Antiga	e	nova	Aliança
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	autor	de	Hb	quer	mostrar	a	superioridade	da	dispensação	cristã	da
graça,	comparada	com	a	dispensação	judaica.	Daí	as	antíteses:
											
												a)	O	Filho	é	superior	aos	anjos:	Hb	1,5-14.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	b)	O	Filho	é	superior	a	Moisés,	pois	Moisés	não	era	mais	do	que	um
servidor	fiel,	ao	passo	que	Cristo	é	o	Senhor	da	Casa:	Hb	3,1-6.
											
												c)	O	sacerdócio	de	Cristo	é	mais	agradável	a	Deus	e	mais	útil	aos	homens
do	que	o	sacerdócio	levítico;	Hb7,1-28.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	d)	O	sacrifício	de	Cristo	é	muito	mais	nobre	do	que	os	sacrifícios	da
antiga	 Aliança,	 pois	 Jesus	 se	 ofereceu	 ao	 Pai,	 em	 vez	 de	 oferecer	 vítimas
irracionais:	Hb	9,1-27.
	
												e)	A	geração	do	deserto,	que	não	entrou	no	repouso	da	terra	prometida,
prefigurava	 o	 novo	 povo	 chamado	 por	Deus	 ao	 verdadeiro	 repouso	 ou	 à	 vida
eterna:	Hb	3,7-4,1	3.
	
												f)	O	Sinai	é	a	montanha	na	qual	o	Senhor	deu	a	Moisés	a	Lei	antiga	em
meio	a	fogo	ardente,	tempestade	e	temor.	Ao	contrário,	Sion	é	o	monte	em	que
Jesus	se	entregou	aos	discípulos	na	última	ceia	em	sinal	do	maior	amor	possível:
Hb	1	2,1	8-29.
	
												3.2.	A	figura	de	Cristo
	
												A	Cristologia	de	Hb	já	é	bem	elaborada;	Cristo	aí	aparece	nitidamente
como	Deus	e	homem.
	
												Como	Deus...	Cristo	preexistia	à	Encarnação,	como	Deus	que	era;	cf.	Hb
13,8.	Em	Hb	1,10-12	é	aplicado	a	Cristo	o	Sl	101	(102),	26-28,	que	louva	a	Javé
e	 opõe	 a	 imutabilidade	 de	 Deus	 à	 caducidade	 da	 criatura.	 Também	merece	 a
adoração	dos	anjos	 (1,6);	é	como	o	resplendor	que	procede	da	glória	do	Pai;	é
como	a	imagem	que	reproduz	fielmente	a	substância	do	Pai	(1,3).
	
												Cristo	é	verdadeiro	homem.	Embora	fosse	Filho	de	Deus,	convinha	que
o	 Salvador	 fosse	 em	 tudo	 e	 por	 tudo	 semelhante	 àqueles	 que	 haviam	 de	 ser
salvos	(2,10-15).
	
												O	episódio	do	horto	das	Oliveiras	é	recordado	com	muita	vivacidade	em
Hb	5,7-10:	está	dito	aí	que	Jesus	foi	atendido;...	atendido	não	no	sentido	de	que
tenha	sido	dispensado	do	cálice,	mas	pelo	fato	de	pedir,	acima	de	 tudo,	que	se
fizesse	 a	 vontade	 do	 Pai;	 ora	 esta	 se	 cumpriu,	 dando	 a	 Jesus	 mais	 do	 que	 a
isenção	do	cálice;	o	Pai	o	fez,	através	da	Paixão	e	da	morte,	o	Senhor	da	vida	e
da	morte.	-	O	autor	também	nos	diz	que,	embora	fosse	Filho,	Jesus	aprendeu	a
obediência	 pelo	 sofrimento;	há,	 pois,	 uma	 correlação	 entre	 sofrer	 e	 aprender,
correlação	que	já	os	gregos	exprimiam	no	trocadilho	páthos-mâthos,	sofrimento
é	escola.
	
												Para	aprofundamento,	ver	pág.	56.
	
*		*		*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Explique	o	sentido	de	Hb	2,3	e	compare	com	Gl	1,	1s.	12.	16s.	Que	se
segue	daí	a	respeito	do															autor	de	Hb?
												2)	Hb	6,4-8	quer	dizer	que	há	pecados	sem	perdão?	Procure	o	sentido
exato	destes	versículos.
												3)	É	licito	discutir	a	respeito	do	autor	de	um	escrito	bíblico?	Explique.
												4)	Indique	três	textos	de	Hb	em	que	apareça	a	crise	de	fé	aos	leitores.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	5)	Em	que	passagem	o	autor	trata	de	sábado	e	repouso?	Qual	a	sua
mensagem?
												6)	Onde	é	que	o	autor	compara	a	Palavra	de	Deus	a	uma	espada	de	dois
gumes?
												7)	Onde	Hb	diz	que	Deus	é	o	arquiteto	e	construtor	da	cidade	definitiva?
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												4a	SUBETAPA:	AS	EPÍSTOLAS	CATÓLICAS	(I)
	
												MÓDULO	l:Tg	e	1/2/3	Jo
	
	
												São	sete	as	epistolas	ditas	"católicas"	ou	"universais":	Tg,	1/2Pd,	1/2/3Jo,
Jd.	A	designação	de	"católicas"	é	antiga,	pois	data	do	século	IV;	deve-se	ao	fato
de	que	 tais	 cartas	 têm	destinação	mais	universal	do	que	 as	 cartas	paulinas:	Tg
(1,1)	se	dirige	às	doze	tribos	da	dispersão;	1	Pd	(1,1)	se	dirige	aos	fiéis	do	Ponto,
da	Galácia,	da	Capadócia,	da	Ásia	e	da	Bitínia;	2Pd,	1	Jo	e	Jd	são	destinadas	aos
fiéis	da	Ásia	Menor	e	a	outros	cristãos.	As	2/3Jo	fazem	exceção	(2Jo	1,	à	Sra.
Eleita;	3Jo	1,	a	Gaio).	Estas	duas	últimas	foram	colocadas	após	1Jo	por	causa	da
identidade	do	autor.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	ordem	de	tais	epístolas	no	Cânon	data	do	século	IV.	É	a	ordem	de
prestígio	dos	Apóstolos	no	Oriente	antigo;	Tiago,	Céfas	e	João	(cf.	Gl	2,9);	Jd
ficou	por	último,	porque	o	autor	era	menos	conhecido.
Trataremos	destas	epístolas	em	dois	Módulos:	um	abordará	Tg,	1/2/3	Jo;	o	outro,
1Pd,2Pd	e	Jd.	.
	
Lição	1:	A	epístola	de	Tiago
	
												1.1.	O	autor	de	Tg
	
												a)	É	certamente	um	judeu,	que	fala	como	um	sábio	ou	um	profeta	do
Antigo	Testamento;	veja-se	o	estilo	das	sentenças	em	Tg	3,13-18;	4,13-17;	5,1-6.
	
												Em	Tg	2,21,	Abraão	é	chamado	"nosso	pai".
	
												Em	1,27;	3,9	Deus	é	dito	"Nosso	Pai",	sem	que	haja	menção	do	Filho;	é
Pai	dos	homens,	à	semelhança	das	concepções	do	Antigo	Testamento.
	
												Conhece	bem	as	Escrituras	do	AT,	das	quais	tira	os	modelos	inspiradores
da	virtude:	Abraão	(2,21),	Raab	(2,25),	Jó	(5,11),	Elias	(5,17s).
	
												Também	conhece	a	vegetação	da	Palestina	e	o	regime	de	chuvas	desta:
3,12;	5,7.
	
												b)	O	autor	é	certamente	um	cristão.	Chama	Jesus	Senhor	(Kyrios);	cf.
1,1;	 2,1.	 O	 fato	 de	 pouco	 falar	 das	 verdades	 do	 Cristianismo	 se	 explica	 por
dirigir-se	a	judeo-crisíãos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Em	 5,7-9,	 o	 autor	 professa	 aguardar	 a	 segunda	 vinda	 de	 Cristo
ressuscitado.
	
												Em	1,18	fala	da	regeneração	pela	palavra	da	verdade	(Batismo).
	
												Em	1,25;	2,12	menciona	a	lei	perfeita	da	uberdade.
	
												Em	5,14	refere-se	aos	presbíteros	da	Igreja.
	
												c)	O	autor	deve	ser	identificado	com	Tiago,	bispo	de	Jerusalém;	cf.	1,1.
No	Novo	Testamento	ocorrem	três	homens	apostólicos	de	nome	"Tiago":
	
												-	Tiago,	irmão	de	João,	filho	de	Zebedeu.	É	dito	"Tiago	Maior";	está	fora
de	cogitação,	pois	morreu	em	44	(cf.	At	12,2)	e	a	epistola	é	posterior	a	esta	data.
	
												-Tiago,	filho	de	Alfeu:	Mc	3,18;	Mt10,3;	Lc	6,15;	At	1,13.	É	o	Tiago
Menor	de	Mc	15,40.
	
												-Tiago,	irmão	do	Senhor:	Mc	6,3;	Mt	13,55.	É	muito	provável	que	este	se
identifique	 com	Tiago,	 irmão	 do	 Senhor,	 encontrado	 por	 Paulo	 em	 Jerusalém,
conforme	Gl	1,19;	era	personagem	de	autoridade	(cf.	2,9.12).	O	Tiago,	irmão	do
Senhor,	deve	ser	também	o	Tiago	que	gozava	de	grande	consideração	na	Cidade
Santa	 (cf.	 At	 12,17;	 15,13;	 21,18;	 1Cor	 15,7),	 e	 que	 se	 tornou	 bispo	 em
Jerusalém,	 conforme	 a	 tradição	 antiga.	 Foi	 martirizado	 depois	 da	 morte	 do
procurador	Festo	(f	62).
	
												Identificamos,	pois,	o	autor	de	Tg	com	Tiago,	filho	de	Alfeu,	irmão	do
Senhor	e	bispo	de	Jerusalém,	fiel	observante	das	tradições	judaicas.
	
												A	tradição	confirma	esta	tese.	Objeta-se	porém,	contra	a	mesma	o	fato	de
que	a	epístola	de	Tiago	é	escrita	em	linguagem	e	estilo	gregos	muito	polidos.	-	A
isto	 respondem	 os	 estudiosos,	 lembrando	 que	 Tiago,	 filho	 de	 Alfeu,	 muito
dedicado	 às	 tradições	 judaicas,	 pode	 ter	 recorrido	 a	 um	 redator,	 de	 cultura
helenista;	além	do	que,	deve-se	notar	que	o	próprio	Tiago	pode	ter	adquirido	a
cultura	helenista,	muito	disseminada	por	todo	o	Império	Romano;	cf.	At	6,1	-3.
	
												A	expressão	"irmão(s)	do	Senhor	Jesus"	requer	explicação:	não	se	trata
de	filhos	de	José	e	Maria	nascidos	após	Jesus,	nem	de	filhos	de	S.	José	nascidos
de	um	primeiro	matrimônio.	A	linguagem	semita	era	pobre,	e	por	isto	utilizava	a
mesma	 palavra	 ah	 para	 designar	 Irmão	 e	 outros	 familiares.	 Na	 verdade,	 os
"irmãos	 de	 Jesus"	 (Mc	 6,3;	 Mt	 13,55)	 eram	 primos	 do	 Senhor,	 como	 se
depreende	 do	 seguinte:	 comparando	Mt	 27,56	 com	 Jo	 19,25,	 observamos	 que
"Maria,	 Mãe	 de	 Tiago	 e	 José"	 parece	 ser	 a	 mesma	 que	 "Maria,	 esposa	 de
Cleopas";	Cleopas,	por	sua	vez,	é	o	mesmo	que	Alfeu	(Cleopas	é	a	forma	grega
do	 nome	 aramaico	Chalphai);	 ora	 Cleopas	 era	 irmão	 de	 S.	 José,	 conforme	 o
antigo	historiador	Hegesipo.	Donde	se	segue	que	os	filhos	de	Cleopas	e	Maria,
entre	 os	 quais	 Tiago,	 eram	 primos	 de	 Jesus.	 Pode-se	 completar	 este	 quadro
mediante	a	seguinte	suposição:	S.	José	deve	ter	morrido	cedo,	e	Jesus	aos	trinta
anos	deixou	a	casa	para	se	entregar	ao	seu	ministério.	Maria,	tendo	ficado	só,	foi
amparada	pelos	seus	sobrinhos	 (=	os	primos	de	Jesus);	é	o	que	explica	que	no
Evangelho	Maria	 aparece	 freqüentemente	 "com	os	 irmãos	 de	 Jesus"	 (nunca	 se
diz:	Maria	com	seus	filhos);	cf.	Mt	12,46;	Mc	3,31;	Lc	8,19.
	
												1.2.	Os	Destinatários	de	Tg
	
	
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	carta	é	dirigida	"As	doze	tribos	da	dispersão"	(1,1).	Esta	expressão
sugere	 as	 doze	 tribos	 de	 Israel	 encontradas	 na	 dispersão	 ou	 fora	 da	 terra	 de
Israel.	 -	 Deve-se,	 porém,	 afastar	 a	 hipótese	 de	 que	 eram	 judeus:	 trata-se	 de
destinatários	cristãos.	Como	entender	isto?	Há	duas	sentenças:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1)	Seriam	judeo-cristãos	residentes	na	Palestina,	pois	na	carta	não	há
advertência,	 sobre	 idolatria	 ou	 luxúria	 ou	 outras	 práticas	 pagãs.	 Mais:	 na
comunidade	 há	 pessoas	 abastadas	 (1,1	Os;	 2,1-13;	 4,13-16;	 5,1-5)	 -	 o	 que	 era
mais	 comum	 nas	 comunidades	 recrutadas	 do	 judaísmo.	 Entre	 os	 pagãos,	 só
tardiamente	as	classes	abastadas	se	voltaram	para	o	cristianismo.
	
												2)	Outra	sentença	julga	que	Tiago	se	dirige	ao	conjunto	dos	cristãos	de
determinada	 região	 designados	 como	 "as	 doze	 tribos",	 à	 semelhança	 de	 Pedro
(cf.	1	Pd	1,1;	2,11).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	destinatários	estavam	em	tribulação:	1,2-4.12.	Sofriam	não	só	por
causa	 da	 fé,	 mas	 especialmente	 por	 causa	 do	 comportamento	 dos	 ricos	 que
pertenciam	à	comunidade	e	ostentavam	fausto	(2,2-4)	e	arrogância	(2,5-7;	5,1-6).
Os	 mais	 tímidos	 caiam	 na	 adulação	 (2,1-9),	 outros	 se	 entregavam	 a	 cólera
(1,19s),	às	contendas	(3,14s;	4,1-3),	à	maledicência	(4,11)	e	à	murmuração	(5,9).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Quanto	à	data	de	origem,	há	quem	indique,	com	boas	razões,	os	anos
anteriores	ao	Concílio	de	Jerusalém	(49)	-	o	que	faria	de	Tg	a	primeira	página	do
N.T.	Lugar	de	origem:	Jerusalém.
	
												1.3.	Mensagem	de	Tiago
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	 carta	 de	Tg	 tem	 o	 aspecto	 de	 um	 escrito	 sapiencial	 (portador	 de
sabedoria):	exorta	a	praticar	a	verdadeira	sabedoria,	harmonizando	pensamento	e
ação,	fé	e	obras.
	
												A	insistência	de	S.	Tiago	sobre	a	necessidade	das	boas	obras	tem	sido
considerada	como	contrária	à	doutrina	de	S.	Paulo,	que	recomenda	a	justificação
mediante	a	fé	e	não	as	obras.	-	Respondemos	que	não	há	oposição	entre	Tiago	e
Paulo.	 Este	 tem	 em	 vista	 a	 entrada	 na	 amizade	 com	 Deus	 ou	 o	 início	 da
justificação	e	afirma	que	ninguém	"compra"	a	amizade	de	Deus,	mas	que	todos	a
recebem	gratuitamente	 numa	 atitude	 de	 fé.	Ninguém	pode	 dizer	 que,	 por	 suas
obras	anteriores,	mereceu	a	amizade	de	Deus.	 -	Ao	contrário,	S.	Tiago	tem	em
mira	 a	 perseverança	 na	 amizade	 com	Deus,	 e	 afirma	 que	 ninguém	 conserva	 a
graça	 recebida	 se	 não	 a	 faz	 frutificar	 em	boas	 obras;	 a	 fé	 inerte	 ou	 sem	obras
morre.	 Aliás,	 a	 recomendação	 das	 boas	 obras	 faz	 eco	 ao	 Evangelho	 ou,	 mais
precisamente,	ao	sermão	da	montanha	(Mt	5-7).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Muito	importante	também	em	Tg	é	a	seção	de	5,14s,	que	promulga	o
sacramento	da	Unção	dos	Enfermos.
	
												Em	toda	a	sua	epístola,	o	Apóstolo	aborda	calorosamente	o	tema	"riqueza
e	pobreza"',	cf.	1,9-11;	1,27-2,9;	4,18-5,6.	Faz	eco	assim	a	uma	tradição	bíblica
que	 começa	 com	 o	 profeta	 Jeremias	 e	 valoriza	 os	 humildes	 como	 criaturas
abertas	para	Deus;	as	bem-aventuranças	evangélicas	retomam	esta	temática;	cf.
Ml	5,3;	Sf	2,3.
	
												Tenha-se	em	vista	outrossim	a	exortação	ao	domínio	da	língua	em	3,1-13.
	
	
Lição	2:	As	epístolas	de	João
	
												As	três	epístolas	de	João	estão	intimamente	relacionadas	entre	si.
											
												2.1.				A	1JO
												2.1.1.	O	autor
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Uma	longa	série	de	autores,	desde	a	metade	do	 século	 II,	 atribui	 ao
Apóstolo	João	um	escrito	chamado	"primeira	epístola	de	João".	Quem	examina	o
respectivo	 texto,	 verifica	grande	 afinidade	de	 estilo	 e	 conteúdo	entre	1Jo	 e	 Jo.
Em	ambos	estes	escritos	se	revela	um	autor	contemplativo,	capaz	de	perceber	a
verdade	 através	 das	 mais	 simples	 imagens	 da	 vida	 cotidiana:	 luz	 e	 trevas,
verdade	 e	mentira,	 vida	 e	morte,	 amor	 e	 ódio...O	 vocabulário	 é	 simples,	mas
rico	em	significado.	O	autor	contempla	e	volta	a	contemplar	a	verdade,	repetindo
a	 mesma	 coisa	 de	 diversas	 maneiras,	 até	 por	 meio	 de	 teses	 e	 antíteses;	 o
pensamento	vai	para	diante	e	para	trás,	à	semelhança	das	ondas	do	mar;	cf.	1	Jo
3,4.5.6.7.8.9...	;	Jo	8,44.46-47.49.50.54...
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	seu	conteúdo	a	1Jo	 refere-se,	não	 raro,	 a	 Jo.	Assim,	o	autor	diz
explicitamente	que	é	testemunha	ocular	do	que	narra,	mas	nunca	diz	o	seu	nome;
cf.	 1Jo	 1,1-3;	 4,14;	 Jo	 1,14;	 19,35.	Em	1Jo	 2,13s,	 o	 autor	 diz	 que	 escreve...	 e
escreveu;	 isto	 não	 são	 fórmulas	 retóricas,	 mas	 o	 presente	 se	 refere	 a	 1Jo,	 ao
passo	que	o	pretérito	a	Jo.
	
												A	finalidade	de	1Jo	e	a	de	Jo	é	a	mesma;	cf.	1Jo	5,13;	Jo	20,31.	A	mesma
doutrina	 fundamental	 é	 transmitida	 pelos	 dois	 escritos:	 Jesus	 é	 o	 Messias,	 o
Filho	 de	Deus,	 enviado	 pelo	 Pai	 ao	mundo	 para	 redimi-lo	 com	 o	 seu	 sangue;
comparemos
	
																								1Jo	1,1s																									com																											Jo	1,1-4
																								2,2																																				"																																11,51	s
																								4,9																																				"																																	3,16s
																								5,6																																				"																																19,34s
																								5,12																																			"																																		3,36
																								5,20																																			"																																	17,3
	
												O	mesmo	grande	mandamento	do	amor	é	incutido	em	1Jo	2,8-11;	3,1	Os;
4,11	e	Jo	13,34s;	1S,12.
	
												Aliás,	dados	os	vários	títulos	de	afinidade	entre	1Jo	e	Jo,	bons	exegetas
julgam	que	 a	 1Jo	 foi	 escrita	 para	 apresentar	 aos	 leitores	 o	Evangelho	 segundo
João.
	
												2.1.2.	Os	destinatários
	
												Os	destinatários	parecem	ser	fiéis	convertidos	do	paganismo	(5,21).	Não
faltam	indícios,	porém,	de	que	entre	eles	havia	numerosos	judeo-cristãos,	como
se	 deduz	 da	 menção	 de	 Caím	 (3,12),	 das	 alusões	 a	 falsos	 profetas	 (4,1),	 aos
anticristos	(anti-Messias)	em	2,18.22...	Esses	cristãos	já	estavam	convertidos,	à
fé	desde	muito	(cf.	2,7.24;	3,11).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 O	 autor	 sabe	 que	 tais	 leitores	 correm	 perigo	 por	 parte	 de	 falsos
pregadores,	que	querem	quebrar	a	unidade	existente	entre	Cristo-Deus	e	Jesus-
homem;	 cf.	 1Jo	 2,18-22.26;	 4,1-3.14s;	 5,1.5-13.	Negavam	que,	 por	 ocasião	 da
Paixão,	 o	 Filho	 de	 Deus	 estivesse	 unido	 à	 humanidade	 de	 Jesus;	 em
conseqüência,	negavam	que	a	Redenção	tenha	sido	obtida	mediante	o	sangue	do
Filho	de	Deus.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Tais	hereges	são	os	mesmos	que	o	Evangelho	segundo	João	combate.
Eram	 inspirados	 por	 um	 certo	 Cerinto.	 Este	 ensinava	 que	 Jesus	 fora	 mero
homem,	 filho	 de	 José	 e	 Maria;	 no	 Batismo	 uniu-se-lhe	 o	 Cristo	 (o	 Filho	 de
Deus),	de	modo	que	Jesus	em	sua	vida	pública	possuía	uma	ciência	elevada	e	o
poder	de	fazer	milagres,	mas	antes	da	Paixão	o	Cristo	deixou	Jesus.	É	por	causa
destas	 idéias	 que	 a	 1Jo	 tanto	 incute	 a	 realidade	 da	 Encarnação	 (1,1	 -3),	 a
identidade	 de	 Jesus-Cristo-Filho	 de	 Deus	 (4,14s;	 5,1.5),	 a	 Redenção	 realizada
mediante	o	sangue	de	Jesus	(1,7).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Pode-se	 crer	 que	 na	 1Jo	 sejam	 também	 considerados	 os	 primeiros
vestígios	 do	 gnosticismo	 do	 séc.	 II;	 em	 2,27	 há	 alusão	 à	 sublime	 gnose
(conhecimento)	que	os	hereges	julgavam	possuir.
	
												2.1.3.	A	mensagem	da	1	Jo
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	1Jo	apresenta-se	como	uma	carta	encíclica	ou	circular	destinada	às
comunidades	da	Ásia	Menor	ameaçadas	por	heresias.
	
												O	autor	aí	desenvolve	principalmente	o	tema	"comunhão	(koinonia)	com
Deus".	Com	efeito,
	
												Em	1,1-4	é	proposta	a	comunhão	com	Deus;
	
												Em	1,5-2,28,	Deus	é	apresentado	como	Luz	(1,5-7);	o	homem	une-se	a
Ele	caminhando	na	luz	(1,8-2,28).
	
												Em	2,29-4,6,	Deus	é	apresentado	como	o	Justo	por	excelência	(2,29);	o
homem	 une-se	 a	 Ele	 praticando	 a	 justiça,	 e	 vivendo	 a	 filiação	 divina	 (3,1-2).
Quem	é	 filho	de	Deus	não	peca	 (3,3-10),	pratica	a	caridade	 fraterna	 (3,10-24),
crê	em	Jesus,	Filho	de	Deus	encarnado	(3,24-4,6).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	4,7-5,12	Deus	é	 apresentado	como	Amor	 (ágape);	 cf.	 4,8.16.	O
homem	une-se	a	Ele	vivendo	de	amor,	que	é	eficiente	(4,7-12)	e	crê	(5,1-12).
	
												2.2.	As2/3Jo
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	 tradição	atribui	estas	duas	cartas	ao	mesmo	João	evangelista.	Esta
noticia	é	confirmada	pelo	exame	do	texto	sagrado:
	
												O	autor	é	chamado	"o	ancião	(cf.	2Jo	1;	3Jo	1).	Este	apelativo	indica	a
dignidade	do	escritor	e	lembra	o	titulo	que	os	discípulos	atribuíam	a	S.	João	em
Éfeso	na	sua	velhice
	
												A	temática	é	a	de	Jo	e	1Jo.	Incutem	o	mandamento	do	amor	(2Jo	5;	3Jo
11),	 exortamos	 fiéis	 a	 não	 se	 deixar	 arrastar	 pelos	 anticristos,	 "que	 não
confessam	 que	 Jesus	 Cristo	 veio	 na	 carne"	 (2Jo	 7).	 Ocorrem	 as	 mesmas
expressões:	 "amar	na	verdade'	 (1Jo	3,18;	2Jo	1;	3Jo	1),	 "caminhar	na	verdade,
nas	trevas"	(Jo	12,35;	1Jo	2,11;	2Jo	4;	3Jo	3),	"dar	testemunho"	(Jo	21,24;	19,35;
3Jo	12),	"ser	de	Deus"	(Jo	8,47;	1Jo	3,10;	4,6;	3Jo	11).	E	a	mesma	a	conclusão
em	2Jo	12	e3Jo	13s.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 2Jo	 parece	 ser	 um	 compêndio	 da	 1Jo.	 Teria	 sido	 escrita	 a	 uma
comunidade	 (Eleita),	 que	 não	 podemos	 identificar	 e	 que	 o	 Apóstolo	 espera
visitar	em	breve	(2Jo	12).
	
												A	3Jo	é	dirigida	a	um	certo	Gaio,	que	também	não	podemos	identificar.
Louva	a	benevolência	com	que	Gaio	tratou	os	pregadores	da	fé,	em	oposição	a
Diotrefes,	bispo	da	comunidade,	homem	ambicioso,	que	resistiu	à	autoridade	do
Apóstolo	e	não	recebeu	os	irmãos	enviados	por	João
	
												Para	aprofundamento,	ver,	além	da	bibliografia	indicada	à	p.	59:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 BARBAGLIO,	 FABRIS,	 MAGGIONI,	As	 Cartas	 Católicas.	 Ed.
Loyola.	1990.
	
*		*		*
	
PERGUNTAS
	
												1)	Em	Tg	2,23;	Rm	4,3	e	Gl	3,6	é	citado	o	texto	de	Gn	15,6.	Exponha	o
sentido	que	S.
																Paulo	e	S.	Tiago	dão	a	este	texto.	Como	o	interpretam?
												2)	S.	Tiago	e	S.	Paulo	se	opõem	no	tocante	à	fé	e	às	obras?	Cf.	Tg2,24	e
Ef	2,8-10.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	3)	Escolha	em	Tg	dois	 trechos	que	muito	 lhe	falam,	e	exponha	o	seu
sentido.
												4)	Leia	1Jo	1,1-4	e	compare	com	Jo	1,1-14.	Aponte	as	semelhanças.
												5)	Conte	quantas	vezes	ocorre	a	metáfora	de	luz	e	trevas	em	1Jo.	Indique
os	lugares.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 6)	Aponte	os	 textos	de	1Jo	em	que	ocorrem	os	 vocábulos	mentira	 e
verdade.
												7)	Escolha,	da	2a	ou	da	3a	epístola	de	S.	João,	os	versículos	que	mais
o(a)	impressionaram.
																E	explique	por	quê.
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												4a	SUBETAPA:	AS	EPÍSTOLAS	CATÓLICAS	(II)
	
												MÓDULO	II:	1/2Pd,	Jd
	
Lição	1:	A1Pd
	
												1.1.	A	pessoa	do	Pedro
	
												Simão,	filho	de	João	(Jo	1,42;	21,15-17;	Mt	16,17)	era,	como	seu	irmão
André,	discípulo	de	João	Batista	 (Jo	1,40s).	Foi	chamado	pelo	Senhor,	que	 lhe
impôs	 o	 nome	 de	 Cephas	 =	 Pedro	 (Jo	 1,42).	 Durante	 toda	 a	 vida	 pública	 de
Jesus,	exerceu	papel	de	destaque;	cf.	Mt	14,28-31;	17,24-27;	Jo	6,67-69.	A	Pedro
o	Senhor	prometeu	e	outorgou	o	primado	entre	os	Apóstolos;	cf.	Mt	16,16-19;
Lc	22,31s;Jo	21,15-17.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Após	a	Ascensão	do	Senhor,	 teve	atividade	primacial	na	escolha	de
Matias,	no	dia	de	Pentecostes,	diante	do	sinédrio	de	Jerusalém,	na	recepção	do
pagão	Cornélio	na	Igreja	(cf.	At	1	-5;	8-11;	Gl	1,18)...
	
												A	tradição	refereque	Pedro	esteve	em	Roma,	onde	morreu	como	bispo
local	 após	 ter	 sofrido	 a	 crucificação	de	 cabeça	para	baixo.	A	 sua	 sepultura	 foi
encontrada	na	basílica	de	S.	Pedro	em	Roma.	Deve	ter	morrido	no	ano	de	67,	em
dia	incerto	para	nós.
	
												Pedro	tinha	caráter	impetuoso,	coração	generoso	e	ardente.	Em	Jo	6,68s,
num	 momento	 de	 perplexidade,	 ele	 toma	 a	 palavra	 em	 nome	 dos	 demais
Apóstolos;	caminha	ao	encontro	de	Jesus	sobre	as	águas,	conforme	Mt	14,28-33;
Jo	21,7;	quando	Cristo	anuncia	sua	Paixão,	protesta	com	energia	(Mc	8,32;	Mt
16,22)	;	no	jardim	das	Oliveiras,	desembainha	a	espada	e	fere	Malco	(Jo	18,10)...
	
												1.2.	A	autoria	e	os	destinatários	da	1Pd
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1.	Ao	Apóstolo	Pedro	a	 tradição,	através	de	numerosos	 testemunhos,
atribuí	 a	 autoria	 da	 1Pd.	Até	 em	 2Pd	 3,1	 encontramos	 referência	 a	 uma	 carta
precedente,	escrita	pelo	Apóstolo	Pedro.
	
												O	exame	do	texto	da	1Pd	confirma	tal	noticia:
	
												O	autor	se	apresenta	como	Pedro	(1,1),	testemunha	da	Paixão	de	Cristo
(5,1);	refere-se	a	Marcos	como	seu	filho	-	o	que	corresponde	a	antiga	tradição,
que	 apontava	 Marcos	 como	 colaborador	 de	 Pedro.	 Como	 testemunha	 ocular,
alude	aos	sermões	e	feitos	de	Jesus;	cf.
3,14;4,14			e					Mt	5,10-12
2,12							e					Mt	5,16
				2,6-8						e						Mt	21,42
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	freqüente	recordação	da	Paixão	de	Cristo	(cf.	1,18s;	2,21-25;	3,18;
4,1.13s)	 corresponde	ao	modo	como	Pedro	prega	em	At	 (cf.	At	2,23;	3,13-15;
4,9-12).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Contra	a	autoria	petrina	de	1Pd	objetam-se	a	correção	e	a	 linguagem
discreta	 da	 epístola;	 segundo	 alguns	 críticos,	 tal	 estilo	 não	 pode	 convir	 a	 um
pescador	da	Galiléia,	que,	segundo	At	4,13,	era	iletrado.	A	propósito	observe-se:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 a)	 o	 ser	 iletrado	 de	 Pedro	 podia	 significar	 apenas	 que	 não	 tinha
freqüentado	escola	rabínica	como	Paulo;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	b)	o	Apóstolo	pode	 ter	assimilado	um	 tanto	de	cultura	helênica,	que
penetrara	 na	 Palestina,	 É	 de	 notar,	 por	 exemplo,	 que,	 quando	 alguns	 gregos
quiseram	ver	 Jesus,	 pediram	a	Filipe,	 de	Betsaida	 da	Galiléia	 (cidade	 natal	 de
Pedro),	que	os	introduzisse	junto	ao	Divino	Mestre;	aliás,	Filipe	e	André	(irmão
de	 Pedro)	 são	 nomes	 gregos	 -	 o	 que	 bem	 mostra	 quanto	 a	 cultura	 grega	 se
tornara	natural	entre	os	próprios	Judeus	da	Palestina;
	
												c)	o	Apóstolo	Pedro	recorreu	a	Silvano	como	escriba	ou	talvez	redator
(cf.	 5,12).	 Ora	 Silvano	 ou	 Silas	 era	 cidadão	 romano	 (cf.	 At	 16,19.37s)	 e
companheiro	de	Paulo	na	segunda	e	na	terceira	viagens	apostólicas	(cf.	At	15,40-
18,5;	1	Ts	1,1;	2Ts	1,1;	2Cor	1,19).	Silvano	pode	ter	colaborado	para	a	pureza	da
linguagem	de	1	Pd	assim	como	para	dar	certo	colorido	paulino	à	1	Pd.
	
												Não	tem	fundamento	a	sentença	segundo	a	qual	Silvano	teria	escrito	toda
a	1	Pd,	de	acordo	com	as	idéias	de	Pedro,	muito	depois	da	morte	do	Apóstolo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2.	Os	destinatários	 da	 carta	 eram	cristãos	 esparsos	 pela	Ásia	Menor
(Ponto,	 Galácia,	 Capadócia,	 Ásia,	 Bitínia:	 1,1).	 Eram,	 em	 grande	 maioria,
convertidos	do	paganismo;	cf.	1,14.18;	2,9s;	3,6;	4,3.	Não	se	exclui,	entre	eles,	a
presença	de	judeu-cristãos,	vista	que	eram	freqüentes	os	judeus	naquela	região.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Esses	 fiéis	 sofriam	de	várias	 tribulações	 (cf.	1,6s;	3,14;	4,12;	5,7.9).
Houve	 quem	 as	 quisesse	 identificar	 com	 as	 perseguições	 desencadeadas	 por
Domiciano	 (81-96)	 ou	 Trajano	 (98-117),	 o	 que	 nos	 levaria	 a	 época	 muito
posterior	à	de	S.	Pedro.	Na	verdade;	tratava-se	de	sofrimentos	devidos	a	injúrias
e	calúnias	que	os	convertidos	experimentavam	por	causa	da	sua	pureza	de	vida;
os	concidadões	pagãos	os	tinham	como	lucífugas	(gente	que	foge	da	luz)	e	hostis
ao	consórcio	dos	homens	pelo	 fato	de	não	participarem	das	orgias	dos	gentios
(cf.	4,4);	 eram	acusados	como	malfeitores	pelos	antigos	companheiros	de	vida
desregrada	(cf.	2,12;	3,16,4,14s).	Além	disto,	os	judeus,	geralmente	infensos	aos
cristãos	 nos	 primeiros	 decênios,	 não	 deixavam	de	 atribular	 a	 vida	 destes.	Ora,
em	tais	circunstâncias,	era	de	 temer	que	os	cristãos	pressionados	cedessem	aos
adversários	e	retomassem	os	hábitos	depravados	de	outrora.
	
												Foi	por	isto	que	o	autor	de	1	Pd	muito	enfatizou	a	dignidade	da	vocação
cristã	 (2,1-10,	 especialmente	 2,9),	 a	 necessidade	 e	 fecundidade	 do	 sofrimento,
que	redunda	em	purificação	da	fé	(1,6-9),	a	imitação	e	a	participação	da	Paixão
de	 Cristo	 (2,21-25).	 Incute-lhes	 que	 a	 melhor	 resposta	 aos	 caluniadores	 é	 a
retidão	da	vida	e	o	cumprimento	fiel	dos	deveres	(3,13-17;	4,14-16).
	
												Portanto,	a	finalidade	da	epístola	não	é	doutrinária,	mas	exortatória	ou
parenética	(cf.	5,12).
	
												O	lugar	de	redação	deve	ter	sido	Roma	(cf.	5,13,	onde	Babilônia	é	alusão
a	 Roma).	 Como	 data	 de	 origem,	 assinalamos	 os	 anos	 de	 63-64	 anteriores	 à
perseguição	de	Nero,	pois	na	1	Pd	não	há	indícios	de	tal	perseguição.
	
												A	1	Pd	é	valioso	documento	da	vida	cristã:	fortalece	o	leitor	para	que,
com	 paciência	 suporte	 as	 tribulações	 (cf.	 1,6-9;	 2,20-25;	 4,13s,	 5,6s);	 assim
desenvolve	 a	 "teologia	 da	 cruz".	 Eis	 as	 principais	 passagens	 de	 significado
teológico:	 1,2.19	 (a	 redenção	 pelo	 sangue	 de	 Cristo);	 2,5.9	 (a	 dignidade
sacerdotal	 do	 povo	 cristão);	 3,19s	 (a	 descida	 de	 Jesus	 à	mansão	 dos	mortos);
3,22	(a	ascensão	do	Senhor	aos	céus).
	
	
Lição	2:	A	epístola	de	Judas
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	2	Pd	difere	assaz	da	1	Pd	e	muito	mais	se	assemelha	a	Jd,	da	qual
parece	ser	uma	nova	edição,	ampliada	e	melhorada.	Eis	por	que	estudaremos	Jd
antes	de	2Pd.
	
												2.1.	O	autor	de	Jd
	
O	autor	da	carta	se	chama	"Judas...	irmão	de	Tiago"	(v.	1).	Ora	em	Mc	6,3	e	Mi
13,55	são	mencionados,	entre	os	primos	de	Jesus,	Tiago	e	Judas.	É	de	crer	que
este	seja	o	autor	da	carta	em	foco.	-	Outra	sentença	julga	que	tal	autor	é	o	próprio
Apóstolo	 Judas,	 de	 cognome	 Tadeu	 (=	 homem	 de	 coração),	 mencionado	 no
catálogo	dos	Apóstolos	(Lc	6,16;	Aí	1,13;	Mi	10,3;	Mc	3,18).	Contra	esta	tese,
aponta-se	o	v.	17,	no	qual	o	autor	se	distingue	do	grupo	dos	Apóstolos.
	
											 	Deve-se	ainda	notar	que,	embora	os	primos	de	Jesus	fossem	hostis	ao
Senhor	 (cf.	 Jo	 7,2-5),	 alguns	 acreditaram	 nele	 posteriormente	 (cf.	 At	 1,14)	 e
colaboraram	no	apostolado	com	Paulo	e	os	onze	(cf.	1	Cor	9,5).
	
												Muitos	testemunhos	da	antiga	tradição	cristã	reconhecem	Jd	como	escrito
canônico;	 todavia	 só	 houve	 unanimidade	 a	 respeito	 depois	 de	 uma	 fase	 de
hesitação,	 devida	 ao	 tato	 de	 que	 Jd	 cita	 dois	 livros	 apócrifos;	 a	Assunção	 de
Moisés	 (v.	9)	 e	 o	Apocalipse	de	Henoque	 (v.	 14s);	 com	o	 tempo,	 os	 cristãos
tomaram	consciência	de	que	citar	estes	livros	não	significa	tê-los	por	Inspirados;
S.	 Paulo	 citou	 mesmo	 os	 poetas	 pagãos	 Arato	 ou	 Cleantes	 em	 At	 17,28;
Epimênides	em	Tt	1,12;	Menandro	em	1	Cor	15,33;	citou	também	tradições	não
canônicas	dos	judeus	em	2Tm	3,8.
	
												2.2.	Destinatários	de	Jd
	
												Os	leitores	da	epístola	são	cristãos	de	origem	pagã	e	de	origem	judaica...
De	 origem	 pagã,	 dada	 a	 facilidade	 com	 que	 se	 propagava	 entre	 eles	 a
licenciosidade	de	costumes...	(w.	8.12.16.18.).	De	origem	judaica,	por	causa	do
amplo	uso	do	A.T.	e	dos	apócrifos	 judaicos	 (w.	5.7.9.11.14s).	 -	Talvez	 se	 trate
dos	mesmos	leitores	aos	quais	S.	Tiago	escreveu	(pois	Judas	se	apresenta	como
"irmão	de	Tiago",	v.	1).
	
												Tais	fiéis	estavam	sendo	ameaçados	pela	pregação	de	falsas	doutrinas,
levadas	 por	 cristãos	 apóstatas,	 que	 se	 entregavam	 aos	 mais	 baixos	 vícios	 do
paganismo	(v.	12.18),	negavam	a	divindade	de	Cristo	(v.	8),	injuriavam	os	anjos
(v.	 8),	 zombavam	 das	 verdades	 pregadas	 pelos	 Apóstolos	 como	 se	 fossem
fábulas	 (vv.	 3	 e	 4)	 e	 causavam	 divisões	 nas	 comunidades	 (v.	 19).	 É	 difícil
identificar	pelo	nome	tal	facçãoherética;	podiam	ser	discípulos	de	Simão	Mago
(cf.	At	8,18-24),	mal	afamados	na	Tradição;	defendiam	teses	que	constituiriam
no	séc.	II	o	corpo	doutrinário	da	gnose.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	tom	da	carta	é	vivaz,	enérgico	e	rude.	A	linguagem	grega	é	polida
(tenha-se	 em	vista	 especialmente	 a	 doxologia	 final,	 vv.	 24s);	 as	metáforas	 são
várias	 e	 pitorescas	 (cf.	 vv.	 12s).	 Esse	 breve	 escrito	 contém	 dez	 palavras	 que
nunca	mais	ocorrem	em	todo	o	Novo	Testamento.	Todos	estes	elementos	levam	a
supor	 que	 Judas	 tenha	 adquirido	 boa	 cultura	 helenística	 ou,	melhor,	 que	 tenha
recorrido	a	um	redator	para	escrever	a	carta.	Ele	o	terá	feito	entre	os	anos	de	62
(morte	de	São	Tiago)	e	66	(início	da	guerra	dos	judeus	contra	Roma,	que	acabou
com	a	destruição	de	Jerusalém	em	70).
	
												2.3.	Jd	e	2Pd
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Chama-nos	 a	 atenção	 a	grande	 afinidade	 entre	 Jd	 e	2Pd:	 em	ambas
aparecem	as	mesmas	expressões	raras,	as	mesmas	idéias,	especialmente	quando
se	trata	de	descrever	os	falsos	pregadores	e	os	espécimes	do	juízo	de	Deus	sobre
os	malvados.	Veja-se	a	seguinte	tabela:
	
Jd4	-	2Pd2,1
				Jd6	-	2Pd	2,4.9
Jd7	-	2Pd2,6
		Jd8	-	2Pd2,10
Jd10	-	2Pd2,12
					Jd11s	-	2Pd	2,13-15
Jd13	-	2Pd2,17
Jd16	-	2Pd2,18
Jd17	-	2Pd3,1s
Jd18	-	2Pd3,3
	
												É	muito	provável	que	haja	dependência	da	2Pd	em	relação	a	Jd,	e	não
vice-versa.	Na	verdade,	a	2Pd	parece	retomar	Jd	em	seu	capítulo	2,	melhorando
os	textos	de	Jd:	por	exemplo,
	
												Em	Jd	4	é	dito	brevemente	que	os	ímpios	se	infiltravam	na	Igreja;	em
2Pd	2,1-3	esses	ímpios	são	minuciosamente	descritos.
	
												Em	Jd	5-7	são	enumerados	os	castigos	de	Deus	sem	ordem	cronológica
(Israel	no	deserto,	os	anjos	maus,	Sodoma	e	Gomorra).	Em	2Pd	2,4-6,	a	ordem
cronológica	 é	 retificada;	 ao	que	2Pd	2,5-7	 acrescenta	 a	 salvação	de	Noé	e	Ló,
que	não	pereceram	no	castigo	enviado	aos	pecadores.
	
												Note-se	também	como	a	2Pd	corrige	Jd:	em	Jd	12	há	menção	de	nuvens
sem	água	(o	que	é	paradoxal),	ao	passo	que	em	2Pd	2,17	se	fala	de	fontes	sem
água.	A	2Pd	elimina	a	citação	dos	apócrifos;	cf.	Jd	9	e	2Pd	2,11;	Jd	14s	e	2Pd
2,17.
	
												Assim	passamos	para	o	estudo	da	2Pd.
	
Lição	3:	A	2Pd
	
												2.1.	O	autor	de	2Pd
	
												Tem-se	discutido	a	questão	do	autor	da	2Pd.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Nos	 três	 primeiros	 séculos,	 os	 escritores	 cristãos	 hesitavam	 sobre	 a
autoria	 petrina	 da	 carta.	 Somente	 no	 século	 IV	 se	 firmou	 o	 consenso	 sobre	 o
nome	do	Apóstolo	S.	Pedro.
	
												1)	Em	favor	da	autoria	petrina,	cita-se:
												-o	nome	com	que	o	autor	se	apresenta	em	2Pd	1,1;
												-a	referência	à	presença	no	monte	da	transfiguração	em	2Pd	1,18(cf.	Mt
17,1-9);
												-	a	menção	de	uma	epístola	anterior	dirigida	aos	mesmos	leitores	e	que
seria	a	1	Pd;	cf.	2Pd	3,1;
												-a	designação	de	"irmão	caríssimo"	atribuída	a	Paulo,	em	3,15;
												-a	referência	à	proximidade	da	morte,	predita	por	Jesus,	lembra	Jo	21,18s
(cf.	2Pd2,13-15).
	
												2)	Contra	a	autoria	petrina,	apresentam-se	os	seguintes	pontos:
												-	a	linguagem	e	o	estilo	da	2Pd	muito	diferem	dos	que	ocorrem	na	1	Pd;	a
maioria	 das	 palavras	 são	 diferentes,	 mesmo	 quando	 indicam	 os	 mesmos
acontecimentos;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	em	2Pd	3,16	 tem-se	a	 impressão	de	que	as	cartas	paulinas	 já	estão
reunidas	numa	só	coleção,	o	que	supõe	certo	intervalo	após	a	morte	de	S.	Paulo;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	a	descrença	de	muitos	em	relação	à	segunda	vinda	de	Cristo	supõe
época	tardia;	cf.	2Pd	3,8s.	A	1	Pd	anunciava	a	parusia	como	próxima;	cf.	1	Pd
4,7;	5,1;
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	o	autor	apresenta	a	primeira	geração	como	passada	 (3,4),	 e	parece
distinguir-se	dos	Apóstolos	(3,2),	embora	se	diga	Apóstolo	em	1,1.
	
												Diante	destas	diferenças	os	estudiosos	admitem	um	redator	para	a	2Pd
(Silvano;	cf.	1Pd	5,12).	Outros,	porém,	julgam	(e	talvez	com	mais	razão)	que	um
discípulo	 posterior	 a	 Pedro,	 e	 a	 nós	 desconhecido,	 apresentou	 o	 seu	 próprio
escrito	 como	 sendo	 de	 São	 Pedro,	 a	 fim	 de	 lhe	 dar	 mais	 autoridade;	 devia
pertencer	 aos	 círculos	 que	 dependiam	 do	 Apóstolo,	 talvez	 tenha	 utilizado	 um
escrito	proveniente	de	Pedro,	escrito	que	ele	adaptou	e	completou	com	o	auxílio
de	Jd.	-	Esta	hipótese	não	se	opõe	à	inspiração	e	à	dignidade	do	texto	bíblico;	os
antigos	eram	mais	liberais	do	que	nós	na	tocante	a	direitos	autorais	e	propriedade
literária:	estavam	também	acostumados	ao	uso	de	pseudônimos	(cf.	Eclesiastes	e
Sabedoria	literariamente	atribuídos	a	Salomão).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Aliás,	para	o	cristão,	basta	que	a	epístola	tenha	sido	reconhecida	pela
Igreja	como	canônica	e	represente	um	legado	da	época	dos	Apóstolos.	O	autor
queria	prevenir	seus	leitores	(genericamente	indicados	em	1,1)	contra	a	invasão
de	falsas	doutrinas	(2Pd	2),	como	também	lembrar-lhes	verdades	fundamentais:
a	 participação	 na	 natureza	 divina	 pela	 graça	 (1,4),	 o	 caráter	 inspirado	 das
Escrituras	(1,20s),	a	certeza	da	parusia	futura	(3,3-13).
	
												Para	aprofundamento,	ver	bibliografia	indicada	à	p.	96
	
	
*		*		*
	
	
PERGUNTAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	 Procure	 nos	 Evangelhos	 três	 passagens	 em	 que	 Pedro	 toma	 a
dianteira	sobre	os	demais																									Apóstolos.	Faça	o	mesmo	no	livro	dos
Atos.
												2)	Onde	é	que	a	1	Pd	fala	do	batismo,	cuja	imagem	foi	o	dilúvio?	Queira
explicar	esse	texto.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 3)	 A	 1Pd	 cita	 Is	 53?	Queira	 explicar	 em	 que	 contexto	 e	 com	 que
finalidade.
												4)	A	partir	do	texto	de	Jd,	descreva	o	tipo	de	hereges	e	de	heresias	que
ameaçavam	os	leitores	da														carta.
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	5)	Jd	3	 fala	da	 fé	 "uma	vez	por	 todas	confiada	aos	 santos".	Queira
explicar	o	sentido	desta																									expressão.
												6)	Ponha	lado	a	lado	numa	folha	o	texto	de	Jd	3-19	e	o	de	2Pd2,1-22	e
sublinhe	com	tinta	vermelha										o	que	lhes	é	comum.
												7)	Em	2Pd2,13	e	em	Jd	12	há	referência	a	banquetes	e	ágapes	(refeições
fraternais).	Trata-se	da																Eucaristia?
												8)	Que	diz	2Pd	1,19-21	sobre	a	profecia	e	as	Escrituras	?
											
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												2a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	AO	NOVO	TESTAMENTO
	
												5a	SUBETAPA:	O	APOCALIPSE
	
												MÓDULO	ÚNICO:	O	Apocalipse
	
Lição	1:	As	circunstâncias	de	origem
	
												Nos	últimos	decênios	do	séc.	I	vários	cristãos	atravessavam	séria	crise	de
fé.	Com	efeito;	a	expectativa	da	segunda	vinda	de	Cristo	para	breve	ficava	de	pé,
mas	achava-se	um	tanto	abalada:	em	64	Nero	imperador	declarou	ilícito	o	nome
de	 cristão,	 desencadeando	 então	 forte	 perseguição	 aos	 discípulos	 de	Cristo;	 os
judeus,	 por	 sua	 vez,	 hostilizavam-nos;	 Cristo,	 porém,	 não	 voltava	 para
reconfortar	 os	 seus;	 parecia	 ter	 esquecido	 a	 sua	 igreja	 peregrina	 na	 terra.	 O
Imperador	Domiciano	(81-96)	moveu	nova	perseguição	aos	cristãos,	deportando
então	 S.	 João,	 bispo	 de	 Éfeso,	 para	 a	 ilha	 de	 Patmos	 (cf.	 1,9).	 Nestas
circunstâncias,	 o	Apóstolo	 quis	 escrever	 aos	 fiéis	 da	Ásia	Menor	 um	 livro	 de
consolação	e	esperança,	que	seria	o	Apocalipse.
	
												Apocalipse	(em	grego,	apokálypsis	=	revelação)	é	um	gênero	literário
que	se	 tornou	usual	entre	os	 judeus	após	o	exílio	da	Babilônia	 (587-583	a.C.):
versa	sobre	o	fim	dos	tempos;	descreve	o	juízo	de	Deus	sobre	os	povos,	de	modo
a	punir	os	maus	e	premiar	os	bons.	Essa	intervenção	de	Deus	é	acompanhada	de
sinais	 que	 abalam	 a	 natureza	 (todo	 apocalipse	 descreve	 sempre	 cenários
cósmicos);	é	freqüente	o	recurso	a	símbolos	e	números	simbólicos	nesse	gênero
literário.
	
												Sobre	este	fundo	de	cena	situa-se	o	Apocalipse	de	S.	João,que	tenciona
levantar	 os	 ânimos	 dos	 leitores	 abatidos,	 servindo-se	 das	 regras	 de	 estilo	 dos
autores	apocalípticos	da	época.
	
												E	como	João	haveria	de	reerguer	as	forças	espirituais	dos	seus	leitores?
Não	 lhes	diria	que	o	dia	de	amanhã	seria	próspero	para	os	amigos	de	Deus	ou
que	o	Senhor	isentaria	de	maus	tratos	os	seus	fiéis.	Tal	maneira	de	consolar	seria
infantil.	 O	 autor	 quis	 proceder	 de	 outro	 modo:	 descreveu	 cenas	 de	 horríveis
calamidades	(simbolizando	os	males	que	os	cristãos	sofrem	no	cotidiano	da	sua
existência	terrestre),	entrecortadas	por	visões	da	corte	celeste,	onde	os	anjos	e	os
santos	cantam	"Aleluia!	A	vitória	compete	ao	Cordeiro	que	foi	imolado	e	está	de
pé".	No	Apocalipse	há,	pois,	uma	sucessão	de	quadros	dolorosos	e	de	quadros	de
paz	e	 confiança:	na	 terra	 existe	dor,	 enquanto	no	céu	há	plena	 serenidade.	Por
que	São	João	quis	montar	o	seu	livro	segundo	tal	estrutura?
	
												-	Para	dizer-nos	que	a	história	é	como	um	belíssimo	tapete	persa.	Este
tem	seu	lado	de	cima,	que	é	trabalhado	e	harmonioso,	e	seu	lado	de	baixo,	que	é
o	 avesso,	 cheio	 de	 fiapos	 e	 sujeiras.	 Quem	 olha	 o	 tapete	 de	 baixo	 para	 cima,
pode	lamentar-se	por	ver	coisa	sem	beleza	nem	graça;	mas	quem	olha	de	cima
para	 baixo	 (o	 que	 é	 o	 autêntico	 modo	 de	 encarar	 o	 tapete),	 verifica	 que	 é
esplendoroso	 e	 se	 regozija	 profundamente.	 O	 problema	 dos	 que	 se	 lamentam,
decorre	 do	 fato	 de	 que	 estão	vendo	mal	 ou	 estão	olhando	 como	não	deveriam
olhar;	 o	 tapete	 não	 foi	 feito	 para	 ser	 contemplado	de	 baixo	 para	 cima	ou	 pelo
avesso.	Assim	é	a	história	dos	cristãos:	quem	a	considera	a	partir	dos	homens	e
com	 olhar	 meramente	 humano,	 acha-a	 dolorosa	 e	 desanimadora;	 mas	 quem	 a
contempla	de	cima	para	baixo	ou	como	Deus	a	contempla,	a	partir	da	eternidade,
verifica	 que	 as	 calamidades	 e	 perseguições	 que	 afligem	 os	 cristãos,	 estão
envolvidas	num	plano	grandioso	de	Deus,	que	as	faz	concorrer	para	o	bem	dos
que	amam	a	Deus;	a	palavra	final	da	história	tocará	ao	Senhor	Deus.	Por	isto	os
justos	no	Céu	cantam	Aleluia,	enquanto	os	homens	peregrinos	na	terra	gemem:
"Ai,	ai,	ai!"
	
												Estas	idéias	serão	ainda	desenvolvidas	sob	o	título	seguinte.
	
												Lição	2:	A	interpretação	do	Ap
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	Ap,	com	suas	múltiplas	 imagens,	 tem	suscitado	a	 curiosidade	dos
cristãos	 através	 dos	 séculos.	As	 numerosas	 interpretações	 que	 se	 tem	 dado	 ao
livro,	podem	reduzir-se	a	quatro	sistemas:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	1)	Sistema	escatológico:	os	mais	antigos	 intérpretes	 julgavam	que	o
Apocalipse	se	referia	aos	acontecimentos	do	fim	dos	tempos	e	da	consumação	do
mundo	 (perseguições,	 apostasia,	 Anticristo,	 ressurreição	 dos	 mortos	 e	 juízo
final).	O	livro	mostraria	como	a	história	acabará	com	o	triunfo	do	Reino	de	Deus
sobre	o	pecado.	Sendo	assim,	não	tinham	a	preocupação	de	relacionar	os	quadros
do	 Apocalipse	 com	 episódios	 e	 personalidades	 dos	 primeiros	 tempos	 da	 era
cristã.
	
												Este	sistema	esteve	mais	ou	menos	abandonado	durante	a	Idade	Média.
É,	porém,	de	novo	prestigiado	do	séc.	XVI	aos	nossos	dias:	há	quem	julgue	que
as	calamidades	anunciadas	pelo	Apocalipse	se	cumprirão	ao	pé	da	letra	na	última
quadra	da	história.
	
												-	Reconheçamos	que	o	autor	sagrado	tem	em	vista	levar	aos	seus	leitores
uma	mensagem	de	grande	esperança	referente	ao	fim	dos	 tempos.	Contudo	ele
não	perdeu	o	contato	com	a	história	da	sua	época	(Nero,	Roma,	as	invasões	dos
bárbaros	 no	 império...).	 Por	 isto	 o	 sistema	 meramente	 escatológico	 é
insuficiente.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2)	 Sistema	 da	 história	 antiga:	 Supõe	 que	 São	 João	 descreva	 os
acontecimentos	 não	 do	 fim,	mas	 do	 início	 da	 história	 da	 Igreja:	 apresentaria	 a
luta	 do	 judaísmo	 e	 do	 paganismo	 contra	 os	 cristãos,	 luta	 que	 terminou	 com	 a
queda	 da	 Roma	 pagã	 e	 o	 triunfo	 do	 Cristianismo	 em	 313;	 assim	 o	 ciclo	 da
história	considerada	pelo	Apocalipse	 se	encerraria	no	 séc.	 IV,	o	que	 também	é
insuficiente.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	3)	Sistema	da	história	universal:	O	Apocalipse	 apresentaria,	 sob	 a
forma	 de	 símbolos,	 uma	 visão	 completa	 de	 toda	 a	 história	 do	 Cristianismo:
descreveria	 sucessivamente	 os	 principais	 episódios	 de	 cada	 época	 e	 do	 fim	do
mundo.
	
												4)	O	sistema	da	recapitulação:	Parte	da	observação	de	que	o	corpo	do
livro	do	Apocalipse	consta	de	três	septenários:	7	selos,	de	6,1	a	8,1;	7	trombetas,
de	8,2	a	11,15;	7	taças,	de	15,6	a	16,21.	Ora	sete	é	o	símbolo	de	totalidade,	para
os	 antigos.	 Cada	 septenário,	 portanto,	 recapitula	 toda	 a	 história	 da	 Igreja;
descreve	não	os	acontecimentos	sucessivos	de	cada	século,	mas	o	fio	condutor
que	está	por	debaixo	de	todos	esses	acontecimentos,	a	saber:	a	luta	entre	Cristo	e
Satanás	 ou	 entre	 a	 linhagem	 da	 mulher	 e	 a	 da	 serpente	 (cf.	 Gn	 3,15);	 em
qualquer	 época,	 essa	 luta	 prossegue,	 tendo	 diversos	 protagonistas,	 sim,	 mas
sempre	o	mesmo	sentido	básico;	somente	depois	da	terceira	recapitulação	ou	do
terceiro	 septenário,	 o	 livro	 se	 encaminha	 para	 o	 desfecho	 da	 história,	 que	 é
descrito	especialmente	nos	capítulos	21	e	22:	dá-se	então	o	triunfo	definitivo	do
Reino	 de	 Cristo	 sobre	 o	 de	 Satanás,	 triunfo	 que	 implica	 em	 ressurreição	 dos
corpos	e	renovação	da	natureza	material.
	
												Por	conseguinte,	as	calamidades	que	o	Apocalipse	apresenta,	não	hão	de
ser	 interpretadas	ao	pé	da	 letra;	o	 seu	 sentido	depreende-se	à	 luz	das	cenas	de
paz	e	triunfo	que	o	autor	intercala	entre	as	narrativas	de	flagelos;	cf.	Ap	7,9-12;
11,15-18;	12,10-12;	15,3s;	19,1-8...	Justapondo	aflições	(na	terra)	e	a	alegria	(no
céu),	São	 João	queria	dizer	 aos	 seus	 leitores	que	 as	 tribulações	desta	vida	não
surpreendem	 o	 Senhor	 e	 os	 justos;	 foram	 cuidadosamente	 previstas	 pela
sabedoria	divina,	que	as	quis	incluir	num	plano	muito	harmonioso,	ao	qual	nada
escapa.	Com	outras	palavras:	os	 acontecimentos	que	nos	 afligem	na	 terra,	 têm
dupla	 face:	 uma	 exterior,	 visível,	 que	 tende	 a	 nos	 abater;	 outra,	 interior,	 só
perceptível	 aos	olhos	da	 fé,	 que	 é	grandiosa,	 pois	 faz	parte	da	vitória	do	Bem
sobre	o	mal;	é	mesmo	a	prolongação	da	obra	do	Cordeiro	que	foi	imolado,	mas
atualmente	 reina	 sobre	 o	mundo	 com	 as	 chagas	 glorificadas,	 como	 Senhor	 da
história	(cf.	5,5-14).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	 sistema	 da	 recapitulação	 assim	 proposto	merece	 francamente	 ser
preferido	aos	demais,	pois	é	o	que	mais	leva	em	conta	a	mentalidade	e	o	estilo
(de	repetição	ou	recapitulação)	de	S.	João.
	
Lição	3:	Textos	difíceis	do	Ap
	
												Detenhamo-nos	em	especial	sobre	passagens	do	Ap.
	
												3.1.	O	número	da	Besta	em	13,18
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Consoante	o	simbolismo	dos	números	(gematria)	dos	antigos,	o	autor
quer	designar	o	perseguidor	dos	cristãos	(figurado	por	uma	Besta),	dizendo	que
o	nome	desse	homem	tem	o	valor	numérico	666.	-	Note-se	que,	para	os	antigos,
as	letras	tinham	valor	numérico	(como	no	alfabeto	romano	V	=	5;	L	=	50;	C	=
100;	D	-	500...);	a	soma	dos	números	correspondentes	a	cada	letra	de	um	nome
dava	o	valor	numérico	de	tal	nome.
	
												Procura-se	então:	qual	o	nome	cujas	letras	somadas	dão	o	total	de	666?
	
												Logo	para	início	de	resposta,	note-se	que	não	se	deve	procurar	tal	nome
entre	os	latinos	ou	na	história	posterior	a	S.	João;	os	leitores	do	Ap	não	sabiam
latim	(sabiam	grego	e,	talvez,	hebraico);	só	conheciam	os	acontecimentos	do	seu
passado	e	do	seu	presente.	Ora	era	para	esses	leitores	que	João	queria	transmitir
uma	mensagem	que	eles	compreendessem.
	
												É,	pois,	anticientífico	dizer	que	o	Papa	é	a	Besta	do	Apocalipse	por	trazer
na	cabeça	a	inscrição	latina	"VICARIUS	FILII	DEI"!	-	Aliás,	ele	não	traz	essa
inscrição.
	
												A	exegese	científica	observa	que	o	numero	666	corresponde	às	letras	da
expressão	 César	 Nero	 (escrita	 em	 caracteres	 hebraicos,	 da	 direita	 para	 a
esquerda:N						V						R						N																																													R						S						Q
												50						6					200			50																																										200			60				100						=	666
	
												Caso	se	omita	o	Nun	(N)	final	de	Nero	(n),	dando-se	a	forma	latina	Nero
ao	nome,	tem-se	o	total	666-50	=	616.	Isto	explicaria	que	alguns	manuscritos	do
Ap	 tenham	616	 em	vez	 de	 666.	 -	Nero,	 na	 verdade,	 foi	 o	 tipo	 do	 perseguidor
anticristão,	de	modo	que	S.	João	o	deve	ter	tido	em	vista	no	texto	de	13,18.--
	
												Se	o	leitor	foge	às	normas	sóbrias	e	objetivas	do	estudo	cientifico,	pode
designar	 até	 mesmo	 a	 doutora	 do	 Adventismo,	 que	 viveu	 no	 século	 passado,
como	a	Besta	do	Apocalipse:
	
												H		E		L		L		E		N								G		O		V		L		D										W		H		I		T	E
																			50		50																									5			50	500					5+5					1										=	666
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Ora	 também	esta	 interpretação	é	 falsa,	pois	está	 fora	do	alcance	dos
leitores	imediatos	de	Ap.
	
												3.2.	O	reino	milenar	de	Cristo	em	Ap	20,1-15
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Este	 trecho	 foi	 na	 antiguidade,	 e	 ainda	 hoje	 é,	 entendido	 como	 se
anunciasse	um	reino	de	Cristo	em	paz	e	bonança	durante	mil	anos	imediatamente
antes	 do	 fim	 dos	 tempos.	 Tal	 é	 a	 tese	 dos	milenaristas	 (S.	 Justino,	 S.	 Ireneu,
Tertuliano	no	séc.	II...)	como	também	de	denominações	cristãs	recentes.	Haveria
o	 acorrentamento	 de	 Satanás,	 a	 ressurreição	 dos	 justos	 apenas	 (ressurreição
primeira),	 mil	 anos	 de	 felicidade	 tranqüila	 sobre	 a	 terra,	 e,	 finalmente,	 a
ressurreição	segunda	(para	os	demais	homens)	e	o	juízo	final.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 tradição	 cristã,	 a	 partir	 do	 séc.	 V,	 rejeitou	 decididamente	 o
milenarismo.	E	com	propósito.	Para	entender	Ap	20,1	-15,	é	necessário	recorrer
a	 Jo	 5,25-29	 (que	 é	 do	 mesmo	 autor);	 neste	 trecho	 Jesus	 fala	 de	 duas
ressurreições	(5,25.28):	a	primeira	se	dá	agora	("vem	a	hora	-	e	é	agora")	e	a
outra	é	 futura.	Ora	a	primeira	 ressurreição,	agora,	é	a	sacramental,	a	que	se	dá
pelo	Batismo	e	a	vida	da	graça	(que	S.	João	tanto	estima	em	seu	Evangelho);	a
segunda	 ressurreição	 se	 dará	 no	 fim	 dos	 tempos,	 quando	 ressuscitarmos
corporalmente.	-	É,	pois,	na	perspectiva	deste	trecho	do	Evangelho	que	se	deve
entender	Ap	20;	os	mil	anos	de	reinado	de	Cristo	simbolizam	toda	a	história	da
Igreja	inserida	entre	a	ressurreição	batismal	(no	inicio	da	vida	de	cada	cristão)	e
a	 ressurreição	 final	 dos	 corpos.	 Mil	 é	 símbolo	 de	 bonança	 e	 paz,	 porque	 a
primeira	 ressurreição	 nos	 comunica	 a	 graça	 santificante,	 que	 é	 o	 antegozo	 da
felicidade	 eterna.	 Está,	 portanto,	 afastada	 a	 hipótese	 de	 um	 reino	 milenar
material	de	Cristo	no	fim	dos	tempos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 A	 propósito	 observe-se	 que	 a	 história	 da	 Igreja	 também	 pode	 ser
simbolizada	pelos	números	3	1/2	anos,	42	meses	ou	1.260	dias	(cf.	Ap	11,2.3.9;
12,6.14).	Sendo	3	 1/2	 	a	metade	 de	 7	 (símbolo	 da	 plenitude),	 o	 autor	 sagrado,
recorrendo	a	este	número,	 tenciona	significar	que	a	Igreja	tem	duas	faces:	a	da
viandante	sôfrega	(3	1/2)	e	a	da	presença	dos	bens	definitivos	(1000).
	
Lição	4:	Dados	complementares
	
												Os	autores	modernos	discutem	a	autoria	do	Ap.	Verificam	que	há,	entre
os	escritos	joaneus	e	Ap,	diferenças	de	linguagem	e	estilo;	o	Apocalipse	parece
compor-se	de	seções	quase	independentes	umas	das	outras	(8,2-5;	11,1-13;	12,1-
17;	14,1-15-4),	que	supõem	diversos	autores.	Por	isto	com	boas	razões	há	quem
atribua	 o	 Apocalipse	 à	 escola	 de	 São	 João,	 ficando	 o	 Apóstolo	 como	 fonte
inspiradora	de	todo	o	livro.	A	composição	final	deve	datar	de	fim	do	séc.	l.	-	Ap
2-3	contém	sete	cartas	dirigidas	a	sete	comunidades	da	Ásia	Menor,	que	corriam
o	risco	de	cair	na	tibieza.	Constituem	uma	parte	do	livro	quase	independente	dos
capítulos	4-22.	São	muito	úteis	para	o	exame	de	consciência	dos	cristãos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	canonicidade	de	Ap	foi	posta	em	dúvida	nos	primeiros	séculos	da
Igreja	 em	parte	 por	 causa	 do	 c.	 20,	 que	 os	milenaristas	 entendiam	 em	 sentido
materialista.	Todavia	no	fim	do	século	IV	fez-se	o	consenso	dos	mestres	cristãos
sobre	a	canonicidade	de	Ap.
	
												Em	suma,	o	Ap	fica	sendo	até	hoje	o	livro	da	consolação	e	da	esperança
dos	cristãos,	pondo	em	relevo	o	triunfo	de	Cristo.	"Feliz	aquele	que	lê	e	ouve	as
palavras	desta	profecia"	(1,3).
	
												Para	aprofundamento,
												BARBAGLIO,	FABRIS,	MAGGIONI,	O	Apocalipse.	Ed.	Loyola,	1990.
	
	
*		*		*
	
	
	
PERGUNTAS
	
												1)	Como	o	Apocalipse	é	o	livro	da	esperança	cristã?
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 2)	 Percorra	 as	 sete	 cartas	 iniciais	 do	Ap	 e	 ponha	 em	 relevo	 cinco
características	de	Cristo	que	aí															mais	o	impressionem.
												3)	Onde	é	que	o	Apocalipse	fala	do	Verbo	de	Deus?	Onde	menciona	o
Rei	dos	Reis	e	o	Senhor	dos												Senhores?
												4)	Onde,	dentro	das	sete	cartas	iniciais	(cc.	2-3),	o	Apocalipse	fala	de
quem	não	é	quente	nem	frio	e										por	isto	merece	ser	rejeitado?
												5)	Onde	o	Apocalipse	fala	da	mulher	revestida	de	sol?	Quem	seria	ela?
												6)	Qual	das	comunidades	de	Ap	2-3	que	não	merece	censura	nenhuma?
E	qual	a	que	é	mais																						severamente	é	censurada?
												7)	Onde	o	Apocalipse	fala	de	uma	cidade	que	é	também	esposa?
											
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												3a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	AO	ANTIGO	TESTAMENTO
	
												1a	SUBETAPA:	OS	LIVROS	HISTÓRICOS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Entramos	 agora	 no	Antigo	Testamento,	 conscientes	 de	 que	 quem
conhece	 o	 Novo	 Testamento	 tem	 necessidade	 de	 estudar	 o	 Antigo.	 Não
entenderíamos	 bem	os	Evangelhos,	 São	Paulo	 e	 os	 demais	 escritos	 cristãos	 se
não	conhecêssemos	com	exatidão	Abraão,	Jacó,	Moisés,	Davi,	Isaías...
	
												Os	livros	do	Antigo	Testamento	são	46.	Costumam	ser	distribuídos	em
três	categorias:	históricos	(desde	o	Gênesis	até	o	2Mc),	sapienciais	ou	didáticos
(Jó,	 Pr,	 Sl,	 Ct,	 Ecl,	 Sb,	 Eclo)	 e	 proféticos	 (Is,	 Jr,	 Lm,	 Br,	 Ez,	 Dn	 e	 os	 doze
profetas	menores).	A	nossa	exposição	seguirá	tal	ordem,	que	é	também	a	ordem
do	Cânon	adotada	por	nossas	edições	da	Bíblia.
	
												Os	cinco	primeiros	livros	da	Bíblia	(Gn,	Ex,	Lv,	Nm,	Dt)	constituem	a
Lei	ou	Torá	de	Moisés,	também	chamada	Pentateuco	(em	grego,	pente	=	cinco;
teuchos	 =	 rolo	 ou	 livro).	 Começaremos	 por	 este	 conjunto	 de	 cinco	 livros;	 a
princípio,	 entre	os	 judeus,	 constituíam	uma	obra	 só	 (=	 a	Lei);	mas,	por	 razões
práticas,	a	Lei	foi	dividida	em	cinco	partes.
	
MÓDULO	l:	O	Pentateuco
	
Lição	1:	Generalidades
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Os	nomes	das	cinco	partes	do	Pentateuco	são	gregos	e	devem-se	aos
judeus	que	fizeram	a	tradução	alexandrina	ou	dos	LXX;	ver	Etapa	I,	módulo	III.
Gênesis	 quer	 dizer	 origem,	 porque	 este	 livro	 começa	 falando	 das	 origens	 do
mundo	 e	 do	 homem.	Êxodo	 significa	 saída,	 porque	 o	 livro	 trata	 da	 saída	 dos
judeus	prisioneiros	no	Egito;	Levítico	é	o	 livro	dos	 levitas	 ou	 sacerdotes,	pois
apresenta	leis	para	o	culto;	Números	é	o	 livro	que	começa	pela	história	de	um
recenseamento	feito	por	Moisés	no	deserto;	Deuteronômio	é	o	livro	que	contém
a	repetição	da	Lei	(déuteron	=	segundo;	nómos	=	Lei).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	Gênesis	 compreende	 duas	 partes:	Gn	1-11	 e	 12-50.	A	primeira	 é
chamada	 "pré-história	 bíblica",	 porque	 apresenta	 acontecimentos	 anteriores	 à
história	bíblica;	esta	começa	no	capítulo	12	com	Abraão	(séc.	XIX	a.C.)	Tudo	o
que	precede	Gn	12,	vem	a	ser	o	 fundo	de	cena	que	explica	por	que	Deus	quis
chamar	Abraão	e	fazer-lhe	promessas;	o	Criador	fez	o	mundo	e	o	homem	muito
bons,	mas	o	pecado	estragou	a	obra114
																																												116,10-19																																									115
																																													117-146																																							116-145
																																													147,1-11																																										146
																																												147,12-20																																									147
																																														148-150																																						148-150
	
												As	razões	da	diversidade	de	numeração	são	históricas	e	de	pouca	monta.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	nossas	aulas	 indicaremos	sempre	as	duas	numerações	de	cada	 salmo,	quando	as	houver;	 a
anterior	será	a	da	Vg,	e	a	posterior	a	do	texto	hebraico.
	
												Satã	ou	Satanás:	termo	hebraico	que	significa	"adversário".	Satã	podia	ser	o	indivíduo	que	diante
de	um	tribunal	exercesse	o	papel	de	acusador	(cf.	S1108,6).	Tal	vocábulo,	aos	poucos	a	partir	do	século	V	a.
C.,	foi	reservado	a	um	anjo	que	Deus	criou	bom,	mas	que	se	perverteu	pelo	pecado	e	se	tornou	adversário
ou	tentador	do	gênero	humano;	cf.	Jó	1,6-2,7;	1	Cr	21,1.	Foi	identificado	com	a	serpente	de	Gn	3,1	(cf.	Sb
2,24).	 Portanto	 Satã	 não	 é	 uma	 figura	mitológica	 nem	 é	 a	 realidade	 neutra	 do	Mal,	mas	 é	 uma	 criatura
inteligente,	incorpórea,	que	o	Criador	fez	para	a	sua	glória	e	que	se	afastou	livremente	de	Deus;	atualmente
recebe	do	Senhor	autorização	para	provar	os	homens,	dando-lhes	ocasião	de	acrisolar	 e	 corroborar	 a	 sua
fidelidade	 a	 Deus;	 cf.	 Rm	 16,20;	 Ef	 6,16;	 1Pd	 5,8.	 Com	 Satã	 muitos	 outros	 anjos	 se	 perverteram	 pelo
pecado	e	são	atualmente	chamados	"anjos	maus"	ou	"demônios".	Estes	estão	subordinados	a	Deus;	cf.	Ap
12,7.-17.	S.	Agostinho	nos	diz	que	Satã	é	um	cão	acorrentado,	que	pode	latir	fortemente,	mas	só	consegue
morder	a	quem	se	lhe	chega	perto	ou	a	quem	se	lhe	entrega.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Semitas;	são	os	descendentes	de	Sem,	filho	de	Noé;	cf.	Gn	10,22-30.	Correspondem	a	diversos
povos,	entre	os	quais	o	hebreu	ou	israelita,	o	assírio,	o	babilônico,	o	etíope,	o	fenício,	o	púnico,	o	moabítico,
o	aramaico.
	
												Sínodo:	congresso	de	rabinos	ou	de	bispos.	Tenha-se	em	vista	o	Sínodo	de	Jâmnia	ou	Jabnes,	no
qual	os	rabinos,	por	volta	de	100	d.	C.,	definiram	quatro	critérios	para	reconhecer	um	livro	sagrado	como
inspirado	por	Deus	 e	 canônico:	 fosse	 escrito	 em	hebraico	 (não	 em	aramaico	nem	em	grego),	 na	 terra	de
Israel	 (não	 no	 estrangeiro),	 antes	 de	 Esdras	 (século	 V	 a.C.),	 em	 conformidade	 com	 a	 Lei	 de	Moisés.	 -
Tenha-se	em	vista	também	o	Sínodo	de	Trulos	II	(Constantinopla),	que	em	692	no	Oriente	definiu	o	cânon
bíblico,	incluindo	os	sete	livros	deuterocanônicos	que	os	judeus	em	Jâmnia	não	aceitaram.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Teofania:	etimologicamente,	manifestação	 de	Deus,	 em	grego.	Ocorre,	 por	 exemplo,	 na	 sarça
ardente	em	favor	de	Moisés	(Ex	3,2),	no	final	do	livro	de	Jó	(38,1-42,6),	antes	da	Paixão	de	Jesus	(Jo	12,27-
30).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Testamento:	A	Bíblia	consta	de	dois	Testamentos:	o	Antigo	e	o	Novo.	A	razão	desta	divisão	e
nomenclatura	é	a	seguinte:	Os	judeus,	movidos	pelo	próprio	Deus,	designavam	as	suas	relações	com	Javé
como	sendo	um	Berith	(=	aliança);	por	isto	falavam	dos	livros	da	Aliança.	Todavia	nos	séculos	III/II	a.	C.,
quando	se	fez	a	versão	da	Bíblia	hebraica	para	o	grego	em	Alexandria,	os	intérpretes	traduziram	Berith	por
diathéke	 (-	 disposição);	 queriam	 desta	 maneira	 ressalvar	 a	 unicidade	 e	 soberania	 de	 Deus;	 na	 verdade,
quem	 faz	Aliança	 com	 alguém,	 é	 par	 ou	 igual	 a	 esse	 alguém,	 ao	 passo	 que	 quem	 faz	 uma	 disposição	 é
soberano	 ou	 Senhor.	 Assim	 os	 livros	 sagrados	 de	 Israel	 foram	 chamados	 livros	 da	 diathéke	 ou	 da
disposição	(de	Deus	em	favor	dos	homens).	Quando	a	palavra	diathéke	foi	traduzida	para	o	latim	entre	os
cristãos,	 estes	 usaram	 o	 vocábulo	 testamentum	 (-	 disposição	 que	 se	 torna	 válida	 em	 caso	 de	morte	 do
testador).	 Recorreram	 à	 palavra	 testamentum,	porque	 ficou	 comprovado	 que	 a	 disposição	 de	 Deus	 em
favor	dos	homens	só	se	tornou	plenamente	válida	e	eficiente	mediante	a	morte	de	Cristo.	Assim	os	livros
sagrados,	entre	os	cristãos,	foram	distribuídos	em	duas	categorias:	os	da	Aliança	(ou	Testamento)	antiga	e
os	da	nova	Aliança	ou	do	novo	Testamento;	cf.	2Cor3,14s.
	
																Traduções	gregas	do	Antigo	Testamento.	Além	da	tradução	dita	dos	Setenta,	que	será
apresentada	no	módulo	 III	 deste	Curso	 (1a	Etapa),	 devem	ser	mencionadas	as	 de	Teodocião,
Áquila	e	Símaco.
	
												Teodocião	é	um	prosélito	ou	pagão	convertido	ao	judaísmo,	que	traduziu	o	Antigo	Testamento	para
o	grego	no	século	II	d.	C.	a	fim	de	tentar	extinguir	o	uso	do	texto	dos	LXX.	Esta	 tradução,	realizada	em
Alexandria	entre	250	e	100	a.	C.,	era	muito	utilizada	pelos	cristãos	para	provar	a	messianidade	de	Jesus,
Visto	que	isto	desagradava	aos	judeus,	Teodocião	se	dispôs	a	fazer	nova	versão,	que	é	mais	propriamente
uma	 revisão	 retocada	do	 texto	 dos	LXX.	O	 texto	de	Teodocião	 teve	 importância	 para	 os	 cristãos,	 pois	 a
partir	dele	se	fez	a	tradução	latina	das	partes	deuterocanônicas	do	livro	de	Daniel.
	
												Áquila,	também	no	século	II,	fez	urna	autêntica	tradução	grega	do	A.	T.	O	seu	texto	se	prende	muito
à	letra	do	hebraico,	esforçando-se	por	guardar	em	grego	expressões	tipicamente	semitas.
	
												Símaco	é	o	terceiro	tradutor	do	Antigo	Testamento	para	o	grego.	A	sua	versão	é	mais	livre	do	que	as
anteriores;	procura	levar	em	conta	o	espírito	e	as	peculiaridades	da	língua	grega.	Tanto	Símaco	como	Áquila
tentaram	suplantar	o	uso	dos	LXX.
	
												Vulgata	é	a	tradução	latina	da	Bíblia	que	se	deve	a	S.	Jerônimo	(†	421).	No	século	IV	era	grande	o
número	 de	 traduções	 latinas	 das	 Escrituras,	 todavia	 apresentavam	 grandes	 deficiências	 de	 forma	 e	 de
conteúdo.	Por	 isto	o	Papa	São	Dâmaso	pediu	a	S.	Jerônimo	preparasse	uma	versão	nova	e	fiel	dos	 livros
sagrados.	Este	sábio,	de	grande	erudição	na	sua	época,	aplicou-se	à	tarefa	entre	384	e	406.	Não	chegou	a
traduzir	de	novo	o	texto	do	Novo	Testamento,	mas	fez	a	revisão	dos	textos	já	existentes	cotejando-os	com
bons	manuscritos	gregos.	Para	traduzir	o	Antigo	Testamento,	Jerônimo	estabeleceu-se	na	Terra	Santa,	onde
aprendeu	o	hebraico	 com	os	 rabinos	 e	 traduziu	 em	Belém	 todo	o	Antigo	Testamento,	menos	Br,	 1/2Mc,
Eclo	e	Sb.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	A	tradução	de	São	Jerônimo	aos	poucos	substituiu	as	anteriores,	de	modo	a	chamar-se	Vulgata
editio	ou	edição	divulgada.	Tornou-se	a	tradução	oficial	da	Igreja	até	o	Concilio	do	Vaticano	II	(1962-65).
Todavia	a	tradução	de	S.	Jerônimo	não	podia	deixar	de	ter	suas	falhas,	pois	foi	feita	em	época	na	qual	não
havia	os	 recursos	arqueológicos,	históricos,	 lingüísticos...	de	nossos	 tempos.	Por	 isto,	após	o	Concílio	do
Vaticano	II,	Paulo	VI	mandou	refazer,	a	tradução	latina	dos	livros	sagrados,	que,	uma	vez	pronta,	é	chamada
a	Neo-Vulgata.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
	
																Iniciaremos	o	nosso	estudo	pela	Introdução	Geral	à	Bíblia	(1a	Etapa),	que	trata	da
Inspiração,	 do	Cânon,	 da	História	 do	Texto	e	da	Hermenêutica	 (Interpretação)	 da	S.	Escritura.
Estes	primeiros	passos	poderão	parecer	áridos	ao	cursista,	porque	não	abordam	diretamente	o
texto	sagrado;	mas,	com	paciência	e	perseverança,	o	estudante	adquirirá	noções	fundamentais	e
indispensáveis	para	poder	entrar	no	estudo	do	próprio	texto	sagrado.	Na	2a	Etapa	estudaremos	o
Novo	Testamento	(entraremos	na	Bíblia	pela	porta	do	Novo	Testamento,	que	é	mais	acessível)	e
na	 3a	 Etapa	 consideraremos	 o	 Antigo	 Testamento,	 detendo-nos	 sobre	 cada	 um	 dos	 livros
sagrados.	Serão	apontadas	as	notas	características	de	cada	qual	e	os	 traços	 importantes	para
facilitar	a	respectiva	leitura.	A	4a	Etapa	do	Curso	apresentará	a	exegese	(explicação)	dos	onze
primeiros	 capítulos	 do	 Gênesis,	 quede	Deus	(como	se	vê	no	caso	de	Caím,	no	do
dilúvio,	 no	 da	 torre	 de	 Babel);	 por	 isto	 Deus	 separa	 um	 homem	 e	 sua
descendência	para	serem	os	depositários	da	esperança	de	um	Messias	Salvador.
A	 segunda	 parte	 do	 Gênesis	 (12-50)	 apresenta	 os	 patriarcas	 Abraão,	 Isaque	 e
Jacó,	mediante	os	quais	Deus	vai	realizando	a	preparação	do	Messias.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	Êxodo	 descreve:	 1)	 a	 saída	 do	Egito	mediante	 as	 dez	 pragas	 e	 a
celebração	 de	 Páscoa	 (1,1-15,21);	 2)	 a	 caminhada	 até	 o	 monte	 Sinai	 (15,22-
18,27);	3)	a	aliança	e	a	legislação	do	Sinai	(19,1-40,38).
	
												O	Levítico	apresenta	coleções	de	leis	relativas	ao	culto	(1,1-10,20)	e	à
santidade	do	povo	(11,1-27,34).
	
												O	livro	dos	Números	contém	outras	leis	mescladas	com	a	narrativa	da
caminhada	até	as	margens	do	Jordão	(1,1-36,13).
	
												O	Deuteronômio	consta	de	cinco	sermões	de	Moisés	que	recapitulam	a
Lei	 (1,1-4,43;	 4,44-11,32;	 12,1-28,68;	 28,69-30,20;	 31,1-29)	 e	 da	 narração	 do
fim	da	vida	de	Moisés	(31,30-34,12).
	
												Estes	dados	permitem	avaliar	a	importância	histórica,	religiosa	e	moral
do	 Pentateuco,	 ao	 qual	 nenhum	 outro	 documento	 da	 antiguidade	 pode	 ser
comparado.
	
Lição	2:	A	origem	do	Pentateuco	-	o	problema
	
												Sem	negar	a	inspiração	divina	do	Pentateuco,	o	estudioso	tem	o	direito
de	investigar	qua'	tenha	sido	o	autor	humano	de	tal	obra.
	
												1.Até	o	século	XVIII	d.C.	admitia-se	que	Moisés	no	séc.	XIII	a.C.	tivesse
escrito	os	cinco	livros	da	Lei.	Em	favor	desta	tese,	podem	ser	citados	textos	do
Antigo	Testamento,	como	Ex	17,14;	24,4;	Nm	33,2;	Dt	31,9.22.24...	e	do	Novo
Testamento:	Jo	5,45-47;	Mt	8,4;	19,8;	Mc	7,10;	12,26...
	
												2.	Todavia	nos	últimos	séculos	o	estudo	atento	do	Pentateuco	mostrou
que	 Moisés	 não	 parece	 ser	 simplesmente	 o	 autor	 de	 toda	 esta	 obra.	 Eis	 os
principais	argumentos	que	justificam	este	novo	modo	de	pensar;
	
							1)	a	morte	de	Moisés	é	narrada	em	Dt	34,1-12;
	 	 	 	 	 	 	 2)	Há	 trechos	 em	 que	 Deus	 é	 designado,	 de	 preferência,	 pelo	 nome
revelado	Javé,	ao	passo	que	em	outros	predomina	a	designação	Elohim.	 Isto
parece	insinuar	diversidade	de	autores.
							3)	Há	narrações	em	duplicata.	Por	exemplo,
	 	 	 	 	 	 	 -	 há	 dois	 relatos	 da	 criação	 do	 mundo	 (Gn	 1,1	 -2,4a	 e	 2,4b-25),	 da
expulsão	de	Agar	(Gn	16,4-16	e	21,9-21),	da	aliança	de	Deus	com	Abraão	(Gn
15,1-21	 e	 17,1-27),	 da	 vocação	 de	Moisés	 (Ex	 3,1-4	 e	 6,2-8),	 da	 queda	 do
maná	e	das	codornizes	 (Ex	16,2-36	e	Nm	11,4-34),	da	produção	da	água	do
rochedo	(Ex	17,1-7	e	Nm	20,1-13);
							-há	três	recensões	do	decálogo	(Ex	20,1-17;	34,10-28;	Dt	5,6-21),	da	lei
concernente	 aos	 escravos	 (Ex	 21,2-11;	 Lv	 25,39-46;	 Dt	 15,12-18),	 da	 lei
referente	ao	homicídio	(Ex	21,12-14;	Dt	19,1	-13;	Nm	35,9-34);
	 	 	 	 	 	 	-	há	cinco	recensões	do	catálogo	das	festas:	Ex	23,14-19;	34,18-26;	Dt
16,1-17;	Lv	23,4-44;	Nm	28,1-29,39;
							-	há	nove	recensões	da	lei	do	sábado:	Ex	20,8-11;	23,12;	31,12-17;	34,21;
35,2s;	Dt	5,13s;	Lv	23,3;	25,2;	Nm	28,9s.
							4)	Há	cortes	e	enxertos:	assim
		 	 	 	 	 	 -	em	Gn	4,25s	ocorre	o	 início	da	genealogia	de	Adão,	que	recomeça	e
continua	em	Gn	5,1;
							-	as	palavras	de	Ex	2,23a	não	se	ligam	com	2,23b,	mas,	sim,	com	Ex	4,19;
			 	 	 	 	-	em	Ex	19,25	lê-se:	"Moisés	desceu,	foi	 ter	com	o	povo	e	disse-lhe..."
sem	continuação;
	 	 	 	 	 	 	-	em	Ex	32-34	a	narrativa	da	infidelidade	de	Israel	e	da	restauração	da
Aliança	interrompe	um	trecho	jurídico	homogêneo	(Ex	25-31	e	35-40).
						
							Estes	dados	são	suficientes	para	justificar	as	dúvidas	dos	críticos	sobre	a
origem	 do	 Pentateuco:	 dificilmente	 se	 poderia	 sustentar	 que	 Moisés	 tenha
escrito	o	"livro	da	Lei"	como	ele	hoje	se	encontra.
	
Lição	3:	A	solução
	
	 	 	 	 	 	 	 Depois	 de	 muito	 pesquisar	 a	 questão,	 os	 estudiosos	 propõem	 hoje	 a
seguinte	 teoria	 para	 a	 origem	 do	 Pentateuco,	 teoria	 que	 a	 Igreja	 Católica
aceita:
	
	 	 	 	 	 	 	 O	 povo	 de	 Israel	 teve	 seu	 começo	 quando	Deus	 chamou	 o	 Patriarca
Abraão	no	séc.	XIX	a.C.,	levando-o	a	emigrar	para	a	terra	de	Canaã.	Abraão
deu	início	ao	povo	de	Israel	(Israel-Jacó	era	filho	de	Isaque,	e	este	era	filho	de
Abraão).	No	decorrer	dos	tempos,	o	povo	foi	criando	suas	tradições	históricas
e	jurídicas	(leis	sociais,	militares,	religiosas...).
	
	 	 	 	 	 	 	No	século	XIII	a.C.	Moisés	tornou-se	o	chefe	do	povo	cativo	no	Egito,
Por	 essa	 ocasião,	 no	 deserto	 Deus	 quis	 travar	 aliança	 com	 o	 povo	 eleito;
mandou,	pois,	que	Moisés	codificasse	 leis	e	 tradições	históricas	 já	existentes
em	 Israel	 (cf,	Ex	24,3-8;	 34,28).	O	mesmo	Moisés	 terá	 redigido	outras	 leis,
ampliando	 o	 bloco	 legislativo	 da	 sua	 gente.	Assim	Moisés	 tornou-se	 para	 a
posteridade	o	legislador	de	Israel	por	excelência;	o	seu	nome	e	o	conceito	de
Lei	(Torá)	ficaram	definitivamente	associados	entre	si.
	
							Uma	vez	estabelecido	na	terra	de	Canaã,	após	o	cativeiro	egípcio,	o	povo
de	 Israel	 foi	 constituindo	 seus	 santuários	 (Betel,	 Hebron,	 Dã,	 Siquém,
Mambré,	 Bersabé,	 Jerusalém...),	 aonde	 os	 fiéis	 iam	 periodicamente	 para
celebrar	 o	 culto	 do	 Senhor.	 Nesses	 santuários	 residiam	 sacerdotes	 e	 levitas,
que	cultivavam	as	 tradições	históricas	e	 jurídicas	de	 Israel;	 redigiam-nas	em
peças	adaptadas	à	catequese	ou	à	 liturgia,	e	assim	as	comunicavam	ao	povo.
Desta	forma	o	bloco	de	tradições	que	no	séc.	XIII	recebeu	o	cunho	de	Moisés,
foi	 aos	 poucos	 sendo	 acrescido	 de	 novas	 leis	 motivadas	 pelas	 sucessivas
mudanças	de	condições	históricas	e	sociais	do	povo	de	Israel.
	
							A	partir	dos	tempos	de	Salomão	(972-932),	passou	a	existir	na	corte	dos
reis	tanto	de	Judá	como	da	Samaria	(reino	cismático	desde	930)	um	corpo	de
escribas,	que	zelavam	pelas	tradições	de	Israel;	eram	homens	letrados,	que	se
achavam	 em	 estrito	 contato	 com	 os	 sacerdotes.	 Os	 escribas	 e	 os	 sacerdotes
procuravam	 recolher	 em	 compilações	 mais	 ou	 menos	 sistemáticas	 os
ensinamentos	 (da	 história	 e	 da	 legislação)	 de	 Israel,	 a	 fim	 de	 possuir	 uma
visão	de	conjunto	dos	benefícios	de	Deus	para	com	seu	povo.
	
												Do	trabalho	dos	escribas	e	sacerdotes,	resultaram	algumas	coleções	de
narrativas	históricas	e	de	leis.	Dessas	coleções,	quatro	podem	ser	 identificadas,
pois	entraram	como	fontes	na	composição	do	Pentateuco:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	A	coleção	ou	o	 código	ou	o	documento	dito	Javista	 (J),	 no	 qual
predomina	o	nome	Javé	para	designar	Deus.	Teve	origem	no	reino	de	Judá	sob
Salomão	(972-932).
	
											 	O	código	J	caracteriza-se	por	seu	estilo	simbolista	e	antropomórfico1,
mostrando	 Javé	muito	 perto	 dos	 homens	 -	 o	 que	 é	 forte	 sinal	 de	 antiguidade:
assim	 notemos	 o	 segundo	 relato	 da	 criação	 (Gn	 2,4b-25),	 onde	 o	 Senhor	 é
descrito	 como	 oleiro	 (2,7),	 jardineiro	 (2,8),	 cirurgião	 (2,21),	 arquiteto	 (2,22);
Javé	passeia	no	jardim	em	3,8,	é	alfaiate	em	3,21,	fecha	a	porta	da	arca	de	Noé
em	7,1	G,	visita	Abraão	e	ceia	com	ele	em	18,1-8;	desce	para	ver	o	pecado	de
Sodoma	em	18,21.
												1	-	O	antropomorfismo	representa	Deus	à	semelhança	de	um	homem.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 O	 código	 J	 apresenta	 narrativas	 cheias	 de	 vivacidade,	 realçando	 o
dramático	da	história;	ver	Gn	3	(a	queda	dos	primeiros	pais),	Gn	18s	(a	visita	do
Senhor	 a	 Abraão),	 Ex	 7,8-10,29	 (as	 pragas	 do	 Egito)...	 Reproduz	 também	 as
etimologias	populares	de	nomes	de	pessoas	e	 lugares;	ver	Gn	3,20	 (Eva);	11,9
(Babel);	25,26	(Jacó);	25,30	(Edom);	32,29	(Israel);	Nm	20,13	(Meriba).
	
												2)	O	código	(ou	documento)	Eloista	(E).	Dá	larga	preferência	ao	nome
Elohim	 (=	Deus).	Foi	 redigido	entre	850	e	750	no	 reino	cismático	da	Samaria
(parte	setentrional	da	Palestina).
	
												Evita	os	antropomorfismos	de	J,	pondo	mais	em	relevo	a	transcendência
de	Deus;	Este	fala	aos	homens	por	vias	menos	diretas,	servindo-se	de	sonhos	ou
da	intervenção	de	anjos	(cf.	15,1;	20,3.6;	21,17;	22,11.15;	28,12).tratam	 da	 criação	 do	mundo,	 do	 homem,	 do	 pecado,	 do
dilúvio	e	da	 torre	de	Babel.	Ao	 todo,	o	Curso	consta	de	45	Módulos,	que	poderão	oferecer	ao
cursista	 perseverante	 e	 "teimoso"	 um	 instrumental	 apto	 para	 aprofundar	 seus	 conhecimentos
bíblicos.
	
	
												1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
	
												MÓDULO	l:	INSPIRAÇÃO	BÍBLICA
	
Lição	1:	Noção	e	Extensão
	
												1.1.	Inspiração	Bíblica:	noção
	
												O	estudo	da	Bíblia	deve	começar	pela	prerrogativa	que	cristãos	e	judeus	reconhecem	a	este	livro:	é	a
Palavra	de	Deus	inspirada.	Por	causa	disto	é	que	tanto	a	estimamos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	a)	Mas,	quando	se	fala	de	inspiração	bíblica,	 talvez	aflore	à	mente	a	noção	de	ditado	mecânico,
semelhante	ao	que	o	chefe	de	escritório	realiza	 junto	à	sua	datilógrafa;	esta	possivelmente	escreve	coisas
que	não	entende	e	que	são	claras	apenas	ao	chefe	e	à	sua	equipe.
	
												Ora	tal	não	é	a	inspiração	bíblica.	Ela	não	dispensa	certa	compreensão	por	parte	do	autor	bíblico	(-
hagiógrafo)	nem	a	sua	participação	na	redação	do	texto	sagrado.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	b)	A	 inspiração	bíblica	 também	não	é	revelação	de	verdades	que	o	autor	humano	não	conheça.
Existe,	 sim,	 o	 carisma	 (=	 dom)	 da	 Revelação,	 que	 toca	 especialmente	 aos	 Profetas,	 mas	 é	 diverso	 da
inspiração	bíblica;	esta	se	exercia,	por	exemplo,	quando	o	hagiógrafo	descrevia	uma	batalha	ou	outros	fatos
documentados	em	fontes	históricas,	sem	receber	revelação	divina.
	
												c)	Positivamente,	a	inspiração	bíblica	é	a	iluminação	da	mente	do	autor	humano	para	que	possa,	com
os	dados	de	sua	cultura	religiosa	e	profana,	transmitir	uma	mensagem	fiel	ao	pensamento	de	Deus.	Além	de
iluminar	a	mente,	o	Espírito	Santo	fortalece	a	vontade	e	as	potências	executivas	do	autor	para	que	realmente
o	 hagiógrafo	 escreva	 o	 que	 ele	 percebeu;	 cf.	 2Pd	 1,21.	 As	 páginas	 que	 assim	 se	 originam,	 são	 todas
humanas	(Deus	em	nada	dispensa	a	atividade	redacional	do	homem)	e	divinas	(pois	Deus	acompanha	passo
a	passo	o	trabalho	do	homem	escritor).	Assim	diz-se	que	a	Bíblia	é	um	livro	divino-humano,	todo	de	Deus	e
todo	 do	 homem;	 transmite	 o	 pensamento	 de	 Deus	 em	 roupagem	 humana;	 assemelha-se	 ao	 mistério	 da
Encarnação,	pelo	qual	Deus	se	revestiu	da	carne	humana,	pois	na	Bíblia	a	palavra	de	Deus	se	revestiu	da
palavra	do	homem	(judeu,	grego,	arameu,	com	todas	as	particularidades	de	expressão).
	
												d)	Notemos	agora	que	a	finalidade	da	inspiração	bíblica	é	estritamente	religiosa.	Os	livros	sagrados
não	foram	escritos	para	nos	ensinar	dados	de	ciências	naturais	(pois,	estas,	o	homem	as	pode	e	deve	cultivar
com	 seus	 talentos),	mas,	 sim,	 para	 nos	 ensinar	 aquilo	 que	 ultrapassa	 a	 razão	 humana,	 isto	 é,	 o	 plano	 de
salvação	divina,	o	sentido	do	mundo,	do	homem,	do	trabalho,	da	vida,	da	morte...	diante	de	Deus.	Não	há,
pois,	contradição	entre	a	mensagem	bíblica	e	as	das	ciências	naturais,	nem	se	devem	pedir	a	Bíblia	teorias
de	ordem	física	ou	biológica...	Mesmo	Gênesis	1-3	não	pretendem	ensinar	como	nem	quando	o	mundo	foi
feito.
	
	
												1.2.	Inspiração	Bíblica:	extensão
	
												Pergunta-se	então:	a	Bíblia	só	é	inspirada	quando	trata	de	assuntos	religiosos?	Haveria	páginas	da
Bíblia	não	inspiradas?
	
			 	 	 	 	 	 	 	 	 	a)	Respondemos	que	toda	a	Bíblia,	em	qualquer	de	suas	partes,	é	 inspirada;	ela	é,	por	inteiro,
Palavra	de	Deus;	cf.	2Tm	3,15s.	Mas	há	passagens	bíblicas	que	são	 inspiradas	por	si,	diretamente,	 e	 há
outras	 que	 só	 indiretamente	 são	 inspiradas.	 Em	 outros	 termos:	 a	 mensagem	 religiosa	 que	 Deus	 quer
comunicar	diretamente	aos	homens,	 tem	que	aludir	 a	 este	mundo	e	 às	 suas	diversas	 criaturas	 (céu,	 terra,
mar,	aves,	peixes...);	ela	o	faz,	porém,	em	linguagem	familiar	pré-científica,	que	costuma	ser	bem	entendida
no	trato	quotidiano.	Também	nós	usamos	de	linguagem	familiar,	que,	aos	olhos	da	ciência,	estaria	errada,
mas	que	não	leva	ninguém	ao	erro	porque	todos	entendem	que	essa	linguagem	familiar	não	pretende	ensinar
matéria	científica.	Tenham-se	em	vista	as	expressões	"nascer	do	sol",	"pôr	do	sol",	"Oriente	e	Ocidente":
supõem	o	sistema	geocêntrico,	a	 terra	 fixa	e	o	sol	girando	em	torno	da	 terra	 (ultrapassado),	mas	não	são
censuradas	 como	 mentirosas,	 porque,	 quando	 as	 usamos,	 todos	 sabem	 que	 não	 intencionamos	 definir
assuntos	de	astronomia.	Assim,	quando	a	Bíblia	diz	que	o	mundo	foi	feito	em	seis	dias	de	vinte	e	quatro
horas,	com	tarde	e	manhã...,	quando	diz	que	a	luz	foi	feita	antes	do	sol	e	das	estrelas,	ela	não	ensina	alguma
teoria	astronômica,	mas	alude	ao	mundo	em	linguagem	dos	hebreus	antigos	para	dizer	que	o	mundo	todo	é
criatura	de	Deus;	cf.	Gn	1,1	-2,4a.	A	Bíblia	não	poderia	transmitir	esta	mensagem	de	ordem	religiosa	sem
recorrer	a	algum	linguajar	humano,	que,	no	caso,	é	mero	veículo	ou	suporte	da	mensagem	religiosa.
	
												Por	conseguinte,	todas	as	páginas	da	Bíblia	são	inspiradas,	qualquer	que	seja	a	sua	temática.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Acrescentemos	 que	 também	as	palavras	 da	 Escritura	 são	 inspiradas.	A	 razão	 disto	 é	 que	 os
conceitos	ou	as	idéias	do	homem	estão	sempre	ligadas	a	palavras;	não	há	conceitos,	mesmo	não	expressos
pelos	 lábios,	 que	 não	 estejam,	 em	 nossa	 mente,	 ligados	 a	 palavras.	 Por	 isto,	 quando	 o	 Espírito	 Santo
iluminava	 a	 mente	 dos	 autores	 sagrados,	 para	 que	 vissem	 com	 clareza	 alguma	 mensagem,	 iluminava
também	as	palavras	 com	as	quais	 se	 revestia	 essa	mensagem	na	mente	do	hagiógrafo.	É	por	 isto	que	os
próprios	autores	sagrados	fazem	questão	de	realçar	vocábulos	da	Bíblia;	veja	Hb	8,13;	Gl	3,16;	Mc	12,26s.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Observemos,	porém,	que	somente	as	palavras	das	 línguas	originais	 (hebraico,	aramaico,	grego)
foram	 assim	 iluminadas.	 As	 traduções	 bíblicas	 não	 gozam	 do	 carisma	 da	 inspiração.	 Por	 isto,	 quando
desejamos	estudar	a	Bíblia,	devemos	certificar-nos	de	que	estamos	usando	uma	tradução	fiel	e	equivalente
aos	originais.	Além	disto,	é	absolutamente	necessário	levar	em	conta	o	gênero	literário	do	respectivo	texto,
como	se	verá	abaixo.
	
	
Lição	2:	Gêneros	literários
	
												2.1.	Gêneros	literários:	noção
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Se	a	Bíblia	é	a	Palavra	de	Deus	 revestida	da	 linguagem	humana,	entende-se	que	ela	utiliza	os
gêneros	literários	ou	os	artifícios	do	linguajar	dos	homens.
	
												Gênero	literário	é	o	conjunto	de	normas	de	vocabulário	e	sintaxe	que	se	usam	habitualmente	para
abordar	algum	assunto.	Assim	o	assunto	"leis"	tem	seu	gênero	literário	próprio	(claro	e	conciso,	para	que
ninguém	se	possa	desculpar	por	não	haver	entendido	a	lei);	a	poesia	tem	seu	gênero	literário	antitético	ao
das	 leis	 (é	metafórica,	 reticente,	 subjetiva...);	 uma	crônica	 tem	seu	gênero	próprio,	que	é	diferente	do	de
uma	carta;	uma	carta	comercial	é	diferente	de	uma	carta	de	 família,	uma	 fábula	é	diferente	de	uma	peça
histórica,	etc.
	
												Ora	na	Bíblia	temos	os	gêneros	literários	dos	antigos	judeus	e	gregos;	existe	por	exemplo,	a	história
no	 sentido	 estrito	 do	 termo	 (1°	Macabeus),	 a	 história	 edificante	 ou	midraxe	 ou	 ainda	hagadá	 (Tobias,
Judite,	Ester,	Rute),	a	história	em	estilo	popular	(como	a	de	Sansão	em	Juízes,	13,1-16,31),	a	parábola	(Mt
13,1-51;	Lc	15,1-32),	 a	alegoria	 (Jo	15,1-6),	 a	 lei	 (Ex	20,1-17),	a	poesia	 (Isaías	5,1-7),	o	apocalipse	 (Mt
24,4-44)	 ;	merece	especial	 atenção	a	história	 etiológica	ou	a	história	narrada	em	vista	de	propor	 a	 causa
(aitía,	 em	 grego)	 de	 um	 fato	 estranho	 (assim	 Gn	 19,30-38	 explica	 pelo	 incesto	 das	 filhas	 de	 Lote	 a
inimizade	existente	entre	Israel	e	os	povos	de	Amon	e	Moab;	tais	povos	seriam	filhos	do	pecado)...
	
												2.2.	Gêneros	literários:	interpretação1
	
												Se	cada	gênero	literário	supõe	regras	próprias	de	vocabulário	e	redação,	compreende-se	que	cada
qual	 tem	 também	 suas	 regras	 de	 interpretação	 próprias.	 Não	me	 é	 licito	 entender	 uma	 poesia	 (cheia	 de
imagens)	como	entendouma	lei	(que	deve	ser	clara	e	sem	imagens).	Uma	das	principais	causas	de	erros	na
interpretação	da	Bíblia	 está	 em	que	muitas	pessoas	querem	 tomar	 tudo	 ao	pé	da	 letra	 ou	 tomar	 tudo	 em
sentido	figurado.
	
												Antes	da	interpretação	ou	da	utilização	de	algum	livro	sagrado,	devo	certificar-me	do	respectivo
gênero	 literário:	 estou	 diante	 de	 uma	 poesia?...	 diante	 de	 uma	 crônica?	 Crônica	 de	 guerra?	 Crônica	 de
família?	 Crônica	 de	 corte	 real?	 Por	 exemplo:	 Gn	 1,1	 -2,4ª,	 é	 poesia	 ou	 hino	 litúrgico,	 e	 não	 um	 relato
científico.	Estou	obrigado	a	não	tomar	essa	seção	ao	pé	da	letra	para	não	trair	o	autor	ou	não	lhe	atribuir	o
que	ele	não	queria	dizer.	Mas	a	narração	da	última	Ceia	em	Mt	26,17-29	é	relato	histórico,	que	 tenho	de
entender	ao	pé	da	letra	para	não	trair	o	autor.
	
												Não	é	licito,	de	antemão	ou	antes	da	abordagem	criteriosa	do	texto,	"definir"	o	respectivo	gênero
literário,	como	quem	diz:	"Eu	acho	que	isto	é	poesia",	ou	"Para	mim,	isto	é	uma	tradição	folclórica".	Mas	é
preciso	que	o	leitor	se	informe	objetivamente	a	respeito	do	gênero	literário	do	livro	que	está	para	ler,	a	fim
de	entender	o	livro	segundo	os	critérios	de	redação	adotados	pelo	autor.	Tal	informação	pode	ser	colhida	nas
Introduções	que	as	edições	da	Bíblia	apresentam	antes	de	cada	 livro	 sagrado.	Não	é	necessário	que	 todo
leitor	da	Escritura	conheça	as	 línguas	originais	e	 sua	variedade	de	expressionismos,	mas	basta	que	 leia	a
Escritura	com	alguma	iniciação,	que	pode	ser	facilmente	encontrada.	Todos	compreenderão	que	não	se	pode
ler	a	Bíblia	escrita	do	século	XIII	antes	de	Cristo	até	o	século	I	depois	de	Cristo	como	se	leria	um	jornal	de
hoje.
															
																1	-	Interpretação	=	explicação,	comentário.
	
	
Lição	3:	Veracidade	da	Bíblia
	
												3.1.	Veracidade	da	Bíblia:	âmbito
	
												Se	a	Bíblia	é	a	Palavra	de	Deus	feita	palavra	do	homem,	entende-se	que	ela	deva	ser	inerrante	(sem
erro	de	espécie	alguma)	ou	veraz	(portadora	da	verdade).
	
												Mas	como	se	pode	sustentar	isto,	se	à	Escritura,	à	primeira	vista,	está	cheia	de	"erros"?	O	sol	terá
parado	no	seu	curso	em	torno	da	terra,	conforme	Js	10,12-14;	Is	38,7s...	Nabucodonosor	era	rei	de	Nínive,
segundo	Jt	1,5;	Dario	terá	sido	filho	de	Assuero,	conforme	Dn	9,1..
	
												Eis	a	resposta:
	
												1)	É	isento	de	erro	ou	veraz	tudo	aquilo	que	o	hagiógrafo	como	tal	afirma...
	
												2)...	no	sentido	em	que	o	hagiógrafo	o	entendeu.
	
												Comentemos:
	
												1)	O	autor	sagrado	pode	afirmar	algo	em	seu	nome,	como	pode	afirmar	em	nome	de	outrem.	Por
exemplo,	em	Jo	1,18,	o	Evangelista	afirma	que	Jesus	nos	revelou	Deus	Pai.	Mas	no	salmo	53	(52),	22	se	lê:
"Deus	não	existe".	Como	explicar	a	contradição?	Em	Jo	1,18	é	o	autor	sagrado	como	tal	quem	afirma;	a	sua
afirmação	é	absolutamente	verídica;	mas	no	Sl	53	(52),	1,	o	salmista	apenas	afirma	que	o	insensato	diz	em
seu	coração:	"Deus	não	existe".	Quem	diz	que	Deus	não	existe,	não	é	o	autor	sagrado;	este	apenas	afirma	(e
afirma	 com	plena	veracidade)	 que	o	 insensato	 nega	 a	 existência	 de	Deus	 (o	 insensato	 erra	 ao	negá-la;	 o
salmista	apenas	verifica	o	fato).
																2	-	Muitos	Salmos	podem	ser	numerados	de	duas	maneiras	(a	hebraica	e	a	grega).	O
cursista	o	aprenderá																							quando	estudar	o	Módulo	referente	aos	Salmos.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	2)	"...	no	sentido	em	que	o	hagiógrafo	o	entendeu".	Com	outras	palavras:..	de	acordo	com	o
gênero	 literário	 adotado	 pelo	 autor	 bíblico.	 Se	 este	 quis	 usar	 de	metáfora,	 não	 deverei	 tomá-lo	 ao	 pé	 da
letra;	se	quis	usar	de	gênero	estritamente	narrativo,	não	deverei	entendê-lo	metaforicamente.
	
												Voltando	aos	casos	apontados,	diremos:	quando	Js	10,12-14	diz	que	Josué	mandou	parar	o	sol,	o
gênero	é	de	poesia	 lírica;	há,	pois,	uma	imagem	literária,	segundo	a	qual	o	"estacionamento	do	sol"	quer
dizer	"escurecimento	da	atmosfera,	clima	de	tempestade	de	granizo";	por	conseguinte,	Josué	pediu	a	Deus
uma	tempestade	de	granizo	que	o	ajudasse	a	vencer	a	batalha,	tempestade	da	qual	fala	o	texto	de	Js	10,11.
Quando	os	 livros	de	Judite	e	Daniel	parecem	errar	na	cronologia	dos	reis,	estão	recorrendo	ao	gênero	do
midraxe,	 que	 intencionalmente	 não	 pretende	 ser	 crônica,	 mas	 apresenta	 a	 história	 como	 veículo	 de
edificação	religiosa	(ver	no	Léxico	Bíblico	anexo	o	verbete	Midraxe).	Quando	Mateus	1,1-17	diz	que	de
Abraão	até	Cristo	houve	42	gerações	(na	verdade	houve	mais	do	que	isto),	quer	jogar	com	a	simbologia	do
número	 42	 -	 o	 que	 também	pertence	 ao	 gênero	midráxico;	 de	 resto,	 o	 assunto	 voltará	 a	 ser	 estudado	na
Introdução	ao	Evangelho	de	Mateus.
	
												3.2.	Veracidade	da	Bíblia:	conclusão
											
												Vê-se,	pois,	que	a	Bíblia	é	isenta	de	erro	em	todas	as	suas	páginas,	mesmo	quando	fala	de	assuntos
não	religiosos.	Qualquer	erro	atribuído	à	Bíblia,	recairia	sobre	o	próprio	Deus.	Todavia	a	veracidade	ou	a
mensagem	de	cada	passagem	da	Bíblia	deverá	ser	depreendida	do	respectivo	gênero	literário:	a	poesia	tem
veracidade	diversa	da	veracidade	da	 lei	ou	da	veracidade	do	midraxe.	Ademais,	notemos	que	a	Bíblia	só
pretende	afirmar	categoricamente	verdades	de	ordem	religiosa.	Em	assuntos	não	religiosos,	ela	não	comete
erros,	mas	adapta-se	ao	modo	de	falar	familiar	ou	pré-científico	dos	homens	que,	devidamente	entendido,
não	é	portador	de	erro,	como	atrás	foi	dito.
											
												Diante	das	dúvidas	no	entendimento	da	S.	Escritura,	o	cristão	rezará	com	S.	Agostinho:	"Faze-me
ouvir	e	descobrir	como	no	começo	criaste	o	céu	e	a	terra.	Assim	escreveu	Moisés,	para	depois	ir	embora,
sair	deste	mundo,	de	Ti	para	Ti.	Agora	não	posso	interrogá-lo.	Se	pudesse,	eu	o	seguraria,	implorá-lo-ia	em
teu	 nome	 para	 que	 me	 explicasse	 estas	 palavras,...	 mas	 não	 posso	 interrogá-lo;	 por	 isto	 dirijo-me	 a	 Ti,
Verdade,	Deus	meu,	 de	 que	 estava	 ele	 possuído	 quando	 disse	 coisas	 verdadeiras;	 dirijo-me	 a	Ti:	 Perdoa
meus	pecados.	E	Tu,	que	concedeste	a	teu	servo	enunciar	estas	coisas	verdadeiras,	concede	também	a	mim
compreendê-las"	(Confissões	XI	3,5).
	
												Bibliografia:
												ARENHOEVEL,	DIEGO,	Assim	se	formou	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas.
												BARRERA,	JÚLIO	TREBOLLE,	A				Bíblia	Judaica	e	a	Bíblia	Cristã,	Ed.	Vozes	1996.
												CASTANHO,	AMAURY,	Iniciação	à	Leitura	da	Bíblia.	Ed.	Santuário.
												CECHINATO,	LUIZ,	Iniciação	à	Sagrada	Escritura.	Ed.	Vozes.
												HARRINGTON,	WILFRÍD	J.,	Chave	para	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas.
												MANNUCCI,	VALERIO,	Bíblia.	Palavra	de	Deus.	Ed.	Paulinas.			
												SCHARBERJ,	JOSEF,	Introdução	à	Sagrada	Escritura.	Ed.	Vozes.
												ENCICLOPÉDIA	ILUSTRADA	DA											BÍBLIA.	Ed.	Paulinas.
												MUNDO	DA	BÍBLIA,	por	vários	autores.	Ed.	Paulinas.
	
	
*				*				*
	
	
	
PERGUNTAS
	
												1)		Que	é	Inspiração	bíblica?	Como	se	distingue	de	Revelação?
												2)	A	Inspiração	bíblica	se	estende	a	todos	os	temas	da	Bíblia?	E	a	todas	as	palavras?	Explique.
												3)	Que	é	gênero	literário?	E	quais	as	normas	de	interpretação	dos	gêneros	literários?
												4)	A	Bíblia	não	contém	erros?	Como?
												5)	Como	devo	entenderas	alusões	da	Bíblia,	aparentemente	errôneas,	às	ciências	naturais?
	
	
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o	endereço	do(a)	Cursista,	para:
CURSOS	POR	CORRESPONDÊNCIA,	Caixa	Postal	1362,	20001-970	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
	
	
	
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
	
												MÓDULO	II:	O	CÂNON	BÍBLICO
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Vimos	no	Módulo	I	que	Deus	quis	falar	aos	homens,	dando	origem	à	S.	Escritura.
Perguntamos	agora:	quantos	e	quais	são	os	livros	sagrados?	Qual	é	o	seu	catálogo'?
	
	
Lição	1:	Nomenclatura
	
												Notemos	os	termos	habitualmente	utilizados	neste	estudo:
	
												1)	Cânon,	do	grego	kanón	=	regra,medida	->	catálogo.
	
																2)	Canônico	=	livro	catalogado	-	o	que	implica	seja	inspirado	(no	sentido	do	Módulo	I).
	
												3)	Protocanônico	=	livro	catalogado	próton,	isto	é,	em	primeiro	lugar	ou
sempre	catalogado.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 4)	Deuterocanônico	=	 livro	 catalogado	déuteron	 ou	 em	 segunda
instância,	posteriormente	(após	ter	sido	controvertido).
	
												5)	Apócrifo,	do	grego	apókryphon	=	livro	oculto,	isto	é,	não	lido	nas
assembléias	 públicas	 de	 culto,	 reservado	 à	 leitura	 particular.	 Em	 conseqüência
livro	não	canônico	ou	não	catalogado,	embora	tenha	aparência	de	livro	canônico
(Evangelho	segundo	Tomé,	Evangelho	da	Infância,	Assunção	de	Moisés...).
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Os	 apócrifos,	 embora	 tenham	 sido,	 durante	 séculos,	 tidos	 como
desprezíveis	portadores	de	lendas,	são	ultimamente	reconhecidos	como	valiosos
para	a	história	do	Cristianismo,	porque	1)	através	de	suas	afirmações	referem	o
modo	 de	 pensar	 dos	 judeus	 e	 cristãos	 dos	 séculos	 pouco	 anteriores	 e	 pouco
posteriores	 a	 Cristo	 (século	 II	 a.C.	 até	 século	 V	 d.C.);	 2)	 podem	 conter
proposições	verdadeiras	que	não	 foram	consignadas	pelos	autores	sagrados	 (os
nomes	dos	genitores	de	Maria	SS.,	a	Apresentação	de	Maria	no	Templo	aos	três
anos	 de	 idade,	 a	 assunção	 corporal	 de	 Maria	 após	 a	 morte...);	 3)	 contêm
sentenças	 de	 hereges,	 que	 contribuem	 para	 a	 compreensão	 da	 história	 do
Cristianismo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	O	Cânon	 católico	 compreende	 47	 livros	 do	A.T,	 se	 se	 conta	 como
unidade	 distinta	 a	 carta	 de	 Jeremias	 (=	 Baruque	 6);	 se,	 ao	 contrário,	 é
considerada	 como	 o	 capitulo	 6	 de	 Baruque,	 o	 total	 é	 de	 46	 livros.	 No	 Novo
Testamento	há	27	livros	-	o	que	perfaz	74	(73)	livros	sagrados	ao	todo.
	
												Examinaremos,	a	seguir,	a	história	do	Cânon	ou	a	maneira	como	se	foram
formando	os	catálogos	do	Antigo	e	do	Novo	Testamento	respectivamente.
	
	
Lição	2:	História	do	Cânon	do	Antigo	Testamento
	
												As	passagens	bíblicas	começaram	a	ser	escritas	esporadicamente	desde
os	tempos	anteriores	a	Moisés;	é	de	notar	que	a	escrita	era	uma	arte	rara	e	cara
na	antiguidade.	Moisés	foi	o	primeiro	codificador	das	 tradições	orais	e	escritas
de	Israel,	no	século	XIII	a.C.	-	Essas	tradições	(leis,	narrativas,	peças	litúrgicas)
foram	sendo	acrescidas	aos	poucos	por	outros	escritos	no	decorrer	dos	séculos,
sem	que	os	judeus	se	preocupassem	com	a	catalogação	das	mesmas...	Assim	foi-
se	formando	a	biblioteca	sagrada	de	Israel.
	
												Todavia,	no	século	I	da	era	cristã,	deu-se	um	fato	importante:	começaram
a	 aparecer	 os	 livros	 cristãos	 (cartas	 de	 S.	 Paulo,	 Evangelhos...),	 que	 se
apresentavam	como	a	continuação	dos	livros	sagrados	dos	judeus.	Estes,	porém,
não	 tendo	 aceito	o	Cristo,	 trataram	de	 impedir	 que	 se	 fizesse	 a	 aglutinação	de
livros	judeus	e	 livros	cristãos.	Por	 isto,	segundo	bons	autores	modernos,	vários
rabinos	reuniram-se	no	sínodo	de	Jâmnia	ou	Jabnes	ao	Sul	da	Palestina,	por	volta
do	ano	100	d.C.,	a	fim	de	estabelecer	as	exigências	que	deveriam	caracterizar	os
livros	sagrados	ou	inspirados	por	Deus.	Foram	estipulados	os	seguintes	critérios:
											
												1)	o	livro	sagrado	não	pode	ter	sido	escrito	fora	da	terra	de	Israel;
											
												2)	...	não	em	língua	aramaica	ou	grega,	mas	somente	em	hebraico;
											
												3)	...	não	depois	de	Esdras	(458-428	a.C.);
											
												4)	...	não	em	contradição	com	a	Torá	ou	Lei	de	Moisés.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Em	conseqüência,	 os	 judeus	 da	Palestina	 fecharam	o	 seu	Cânon	 sagrado	 sem
reconhecer	 livros	 e	 escritos	 que	 não	 obedeciam	 a	 tais	 critérios.	 Acontece,	 porém,	 que	 em
Alexandria	 (Egito)	 havia	 próspera	 colônia	 judaica,	 que,	 vivendo	em	 terra	 estrangeira	 e	 falando
língua	estrangeira	 (o	grego),	 não	adotou	os	 critérios	nacionalistas	estipulados	pelos	 judeus	de
Jâmnia.	Os	judeus	de	Alexandria	chegaram	a	traduzir	os	livros	sagrados	hebraicos	para	o	grego
entre	 250	 e	 100	 a.C.,	 dando	 assim	origem	à	 versão	 grega	 dita	 "Alexandrina"	 ou	 "dos	Setenta
Intérpretes".	Essa	edição	grega	bíblica	encerra	 livros	que	os	 judeus	de	Jâmnia	não	aceitaram,
mas	 que	 os	 de	 Alexandria	 liam	 como	 palavra	 de	 Deus;	 assim	 os	 livros	 de	 Tobias,	 Judite,
Sabedoria,	Baruque,	Eclesiástico	(ou	Siracides),	1/2	Macabeus,	além	de	Ester	10,4-16,24;	Daniel
3,24-90;	13-14.	-A	respeito	da	versão	dos	Setenta,	ver	Módulo	III.
											
												Podemos,	pois,	dizer	que	havia	dois	cânones	entre	os	judeus	no	início	da
era	cristã:	o	restrito	da	Palestina,	e	o	amplo	de	Alexandria.
											
		 	 	 				 	 	 	 	Ora	acontece	que	os	Apóstolos	e	Evangelistas,	ao	escreverem	o	Novo
Testamento	em	grego,	citavam	o	Antigo	Testamento,	usando	a	tradução	grega	de
Alexandria,	mesmo	quando	 esta	 diferia	 do	 texto	 hebraico;	 tenham-se	 em	vista
Mt	1,23	(->	Is	7,14);	Hb	10,5	(->	SI	39/40,7);	Hb	10,37s(Hab2,3s);	At	15,16s(->
Am	 9,11	 s).	 O	 texto	 grego	 tornou-se	 a	 forma	 comum	 entre	 os	 cristãos;	 em
conseqüência	o	Cânon	amplo,	 incluindo	os	sete	 livros	e	os	 fragmentos	citados,
passou	para	o	uso	dos	cristãos.
											
												Verificamos	também	que	nos	escritos	do	Novo	Testamento	há	citações
implícitas	dos	livros	deuterocanônicos.	Assim,	por	exemplo,	Rm	1,19-32	->	Sb
13,1-9;	 Rm	 13,1	 ->	 Sb	 6,3;	 Mt	 27,43	 -v	 Sb	 2,13.18-Tg	 1,19->	 Eclo5.11;
Mt11,29s->	Eclo	51,23-30;	Hb	11,34s	->	2Mc	6,18-7,42;	Ap	8,2	->	Tb	12,15.
											
												Deve-se,	por	outro	lado,	notar	que	não	são	(nem	implicitamente)	citados
no	Novo	Testamento	livros	que,	de	resto,	todos	os	cristãos	têm	como	canônicos;
assim	Eclesiastes,	Ester,	Cântico	dos	Cânticos,	Esdras,	Neemias,	Abdias,	Naum,
Rute.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Nos	mais	antigos	escritos	patrísticos	são	citados	os	deuterocanônícos
como	Escritura	 Sagrada:	Clemente	Romano	 (em	 cerca	 de	 95),	 na	 epístola	 aos
Coríntios,	recorre	a	Jt,	Sb,	fragmentos	de	Dn,	Tb	e	Eclo;	o	Pastor	de	Hermas,	em
140,	faz	amplo	uso	do	Eclo	e	do	2	Mc	(cf.	Semelhanças	5,3.8;	Mandamentos
1,1...);	 Hipólito	 (†	 235)	 comenta	 o	 livro	 de	 Daniel	 com	 os	 fragmentos
deuterocanônicos;	cita	como	Escritura	Sagrada	Sb,	Br	e	utiliza	Tb,	1/2	Mc.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Nos	 séculos	 II/IV	 houve	 dúvidas	 entre	 os	 escritores	 cristãos	 com
referência	 aos	 sete	 livros,	 pois	 alguns	 se	 valiam	 da	 autoridade	 dos	 judeus	 de
Jerusalém	 para	 hesitar;	 outros	 deixavam	 de	 lado	 os	 deuterocanônicos,	 porque
não	 serviam	 para	 o	 diálogo	 com	 os	 judeus.	 Finalmente,	 porém,	 prevaleceu	 na
Igreja	 a	 consciência	 de	 que	 o	 cânon	 do	 Antigo	 Testamento	 deveria	 ser	 o	 de
Alexandria,	adotado	pelos	Apóstolos.	Sabemos	que	das	350	citações	do	Antigo
Testamento	no	Novo,	300	são	tiradas	da	versão	dos	Setenta.	Em	conseqüência,
os	Concílios	regionais	de	Hipona	(393),	Cartago	III	(397),	Cartago	IV	(419),
	
Trulos	(692)	definiram	sucessivamente	o	Cânon	amplo	como	sendo	o	da	Igreja.
Esta	 definição	 foi	 repetida	 pelos	 Concílios	 ecumênicos	 de	 Florença	 (1442),
Trento	(1546),	Vaticano	I	(1870).
	
												S.	Jerônimo	(†	421)	foi,	sem	dúvida,	uma	voz	destoante	neste	conjunto.
Tendo	 ido	do	Ocidente	para	Belém	da	Palestina	a	 fim	de	aprender	o	hebraico,
assimilou	também	o	modo	de	pensar	dos	rabinos	da	Palestina	neste	particular.
	
												Durante	a	Idade	Média	pode-se	dizer	que	houve	unanimidade	entre	os
cristãos	a	respeito	do	Cânon.
											
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 No	 século	 XVI,	 porém,	 Martinho	 Lutero	 (1483-1546),	 querendo
contestar	a	Igreja,	resolveu	adotar	o	Cânon	dos	judeus	da	Palestina,	deixando	de
lado	os	sete	 livros	e	os	 fragmentos	deuterocanônicos	que	a	 Igreja	 recebera	dos
judeus	de	Alexandria.	É	esta	a	razão	pela	qual	a	Bíblia	dos	protestantes	não	tem
sete	 livros	 e	 os	 fragmentos	 que	 a	 Bíblia	 dos	 católicos	 inclui.	 Para	 dirimir	 as
dúvidas,	observamos	que:
	
												-	os	critérios	adotadospelos	judeus	de	Jâmnia	para	não	reconhecer	certos
livros	sagrados	eram	critérios	nacionalistas;	tal	nacionalismo	decorria	do	fato	de
que	 desde	 587	 a.C.	 os	 judeus	 estavam	 sob	 domínio	 estrangeiro,	 que	muito	 os
aborrecia;
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 -	 	é	o	Espírito	Santo	quem	guia	a	 Igreja	de	Cristo	e	 fez	que,	após	o
período	de	hesitação	(séc.	I-IV),	os	cristãos	reconhecessem	como	válido	o	cânon
amplo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Aliás,	 o	 próprio	 Lutero	 traduziu	 para	 o	 alemão	 os	 livros
deuterocanônicos;	 na	 sua	 edição	 alemã	 datada	 de	 1534	 o	 catálogo	 é	 o	 dos
católicos	 -	 o	 que	 bem	 mostra	 que	 os	 deuterocanônicos	 eram	 usuais	 entre	 os
cristãos.	Não	foi	o	Concilio	de	Trento	que	os	introduziu	no	cânon.	De	resto,	as
Sociedades	Bíblicas	 protestantes	 até	 o	 séc.	XIX	 incluíam	 os	 deuterocanônicos
em	suas	edições	da	Bíblia.
	
												Para	os	católicos,	os	livros	deuterocanônicos	do	Antigo	Testamento	são
tão	valiosos	como	os	protocanônicos;	são	a	Palavra	de	Deus	inerrante,	que,	aliás,
os	próprios	 judeus	da	Palestina	estimavam	e	 liam	como	 textos	edificantes.	Por
exemplo,	 os	 próprios	 rabinos	 serviam-se	 do	 Eclesiástico	 até	 o	 séc.	 X	 como
Escritura	 Sagrada;	 o	 1Mc	 era	 lido	 na	 festa	 de	 Encênia,	 ou	 da	 Dedicação	 do
Templo	(Hanukkah).	Baruque	era	lido	em	alta	voz	nas	sinagogas	do	séc.	IV	d.C.,
como	 atestam	 as	 Constituições	 Apostólicas.	 De	 Tobias	 e	 Judite	 temos
midrachim	 ou	 comentários	 em	 aramaico,	 que	 atestam	 como	 tais	 livros	 eram
lidos	na	sinagoga.
	
	
Lição	3:	História	do	Cânon	do	Novo	Testamento
	
												O	catálogo	dos	livros	do	Novo	Testamento	também	foi	objeto	de	dúvidas
na	 Igreja	 antiga,	 mas	 hoje	 é	 unanimemente	 reconhecido	 por	 católicos	 e
protestantes.	Os	livros	controvertidos	e,	por	isto,	chamados	deuterocanônicos	do
Novo	 Testamento	 são	 os	 seguintes:	 Hb,	 Ap,	 Tg,	 2Pd,	 Jd,	 2/3	 Jo.	 Vejamos	 o
porquê	das	hesitações:
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Hebreus:	a	carta	não	indica	nem	autor	nem	destinatários.	Os	cristãos
orientais	 a	 tinham	 como	 paulina,	 ao	 passo	 que	 os	 ocidentais	 não.	 Entre	 os
latinos,	 em	meados	 do	 séc.	 III,	 os	 novacianos	 rigoristas	 (que	 ensinavam	haver
pecados	irremissíveis)	valiam-se	de	Hb	6,4-8	para	propor	sua	tese	errônea.	Por
isto,	os	autores	ortodoxos	relegaram	Hebreus	para	o	esquecimento	até	a	segunda
metade	do	séc.	IV,	quando	S.	Ambrósio	e	S.	Agostinho	a	reconsideraram.	Hoje
todos	 os	 cristãos	 a	 reconhecem	 como	 carta	 canônica	 (=	 Palavra	 de	 Deus),
embora	reconheçam	que	não	é	diretamente	da	autoria	de	S.	Paulo.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	Apocalipse:	nos	primeiros	séculos	discutia-se	a	autoria	 joanéia	deste
livro	 entre	 os	 orientais.	 Também	 ocorria	 que	 uma	 facção	 dita	 "milenarista"
apelava	para	Ap	20,1-15	a	fim	de	afirmar	um	reino	milenar	e	pacífico	de	Cristo
sobre	a	terra	antes	da	consumação	da	história.	Por	isto	o	Apocalipse	foi	objeto	de
suspeitas,	que	cederam	ao	reconhecimento	unânime	no	séc.	IV.
	
												Tiago:	também	foi	discutida	a	autoria	deste	escrito,	que,	além	do	mais,
parecia	contradizer	a	S.	Paulo	em	Rm	e	Gl;	a	fé	sem	as	obras	seria	morta	(cf.	Tg
2,14-24).	 Prevaleceu,	 porém,	 a	 consciência	 de	 que	 é	 escrito	 canónico,
perfeitamente	conciliável	com	S,	Paulo:	ao	passo	que	este	afirma	que	a	fé	sem
obras	 (sem	méritos	 do	 indivíduo)	 basta	 para	 entrarmos	 na	 amizade	 com	Deus
(ninguém	 compra	 a	 amizade),	 S.	 Tiago	 quer	 dizer	 que	 ninguém	 persevera	 na
graça	se	não	pratica	boas	obras	ou	se	não	vive	de	acordo	com	a	fé.
Portanto,	São	Paulo	trata	do	ingresso	na	amizade	com	Deus,	São	Tiago	trata	da
perseverança	na	mesma.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Judas:	 também	 foi	 discutida	 a	 autoria	 desta	 carta.	Ademais	 cita	 os
apócrifos	 "Assunção	de	Moisés"	 (v.	 9)	 e	 "Apocalipse	de	Henoque"	 (v.	 14s)-	 o
que	a	tornou	suspeita.	Este	fato,	porém,	nada	significa,	porque	S.	Paulo	cita	os
escritores	gregos	Epímênides	e	Aratos,	em	Tt	1,12	e	At	17,28	respectivamente,
sem	que	Tt	e	At	tenham	sido	excluídos	do	cânon	por	causa	disto.
	
												A	2Pd,	as	2/3Jo	também	foram	controvertidas	nos	três	primeiros	séculos
por	motivos	de	pouca	monta.	-	A	2Pd	aparentemente	é	uma	reedição	ampliada	de
Jd;	por	isto,	terá	sofrido	a	sorte	deste	escrito.	As	2/3Jo,	sendo	bilhetes	pequenos,
de	pouco	conteúdo	teológico,	nem	sempre	foram	consideradas	canônicas.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 Como	 dito,	 porém,	 em	 393	 o	Concílio	 de	Hipona	 definiu	 o	 cânon
completo	 da	 Bíblia,	 incluindo	 os	 sete	 escritos	 controvertidos	 ou
deuterocanônicos	do	Novo	Testamento.
	
												Em	conclusão:	a	própria	Bíblia	não	define	o	seu	catálogo.	Portanto,	este
só	 pode	 ser	 depreendido	 mediante	 a	 Tradição	 (=	 transmissão)	 oral,	 que	 de
geração	 em	 geração	 foi	 entregando	 os	 livros	 sagrados	 ao	 povo	 de	 Deus,
indicando-os,	 ao	 mesmo	 tempo,	 como	 livros	 inspirados	 e,	 por	 conseguinte,
canônicos.	Essa	 tradição	 oral	 viva	 fala	 até	 hoje	 pelo	magistério	 da	 Igreja,	 que
não	é	senão	o	eco	autêntico	da	Tradição	oral.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 São	 palavras	 do	 Concílio	 do	 Vaticano	 II:	 "Pela	 Tradição	 torna-se
conhecido	à	Igreja	o	cânon	completo	dos	livros	sagrados.	As	próprias	Sagradas
Escrituras	 são,	 mediante	 a	 Tradição,	 cada	 vez	 mais	 profundamente
compreendidas	 e	 se	 fazem,	 sem	 cessar,	 atuantes.	 Assim	 o	 Deus	 que	 outrora
falou,	mantém	 um	 permanente	 diálogo	 com	 a	 Esposa	 de	 seu	 dileto	 Filho,	 e	 o
Espírito	 Santo,	 pelo	 qual	 a	 voz	 viva	 do	 Evangelho	 ressoa	 na	 Igreja...,	 leva	 os
fiéis	a	 toda	verdade	e	faz	habitar	neles	copiosamente	a	Palavra	de	Cristo"	(Dei
Verbum	n°	-	8).
	
	
												Bibliografia:
	
												HARRINGTON,	WILFRID,	Chave	para	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1985.
	
												ARENHOVEL,	DIEGO,	Assim	se	formou	a	Bíblia.	Ed.	Paulinas	1978.
	
	
PERGUNTAS
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 1)	 Exponha	 o	 significado	 de	 "cânon,	 canônico,	 protocanônico,
deuterocanônico,	apócrifo".
	
												2)	Por	que	a	Bíblia	dos	protestantes	não	tem	sete	livros	que	a	Bíblia	dos
católicos	tem?	Exponha	a												história	completa.
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 3)	Há	 livros	deuterocanônicos	no	Novo	Testamento?	Por	que	 foram
discutidos	alguns	livros?
	
	
												Escreva	suas	respostas	em	folhas	à	parte,	e	mande-as,	com	o	nome	e	o
endereço	 do(a)	 Cursista,	 para:	 CURSOS	 POR	 CORRESPONDÊNCIA,	 Caixa
Postal	1362,	20001-970	Rio	de	Janeiro	(RJ).
	
	
	
ESCOLA	"MATER	ECCLESIAE"
	
CURSO	BÍBLICO	POR	CORRESPONDÊNCIA
	
												1a	ETAPA:	INTRODUÇÃO	GERAL	À	BÍBLIA
	
	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 	 MÓDULO	 III:	 HISTÓRIA	 DO	 TEXTO
SAGRADO
	
Lição	1:	A	Escrita	Bíblica
	
												Três	são	as	línguas	bíblicas:
	
												1)	O	hebraico,	no	qual	foram	escritos	todos	os	livros	protocanônicos	do
Antigo	Testamento;
												2)	o	aramaico,	língua	vizinha	do	hebraico,	falada	pelos	arameus,	que
eram	 bons	 comerciantes	 na	 Mesopotâmia,	 na	 Ásia	 Menor	 e	 nas	 costas	 do
Mediterrâneo;	por	 isto	a	sua	 língua	se	 tornou	o	 idioma	comercial	 internacional
como	 também	a	 língua	dos	diplomatas	e	das	chancelarias.	Em	aramaico	 foram
redigidos	 trechos	 de	 livros	 protocanônicos	 do	 Antigo	 Testamento,	 como	 Esdr
4,8-6,18;	7,12-26;	Dn	2,4-7,28;	uma	 frase	 em	Jr	10,11	e	duas	palavras	 em	Gn
31,47;	além	disto,	também	o	original	de	S.	Mateus	(hoje	perdido);
												3)	o	grego,	em	que	foram	redigidos	os	livros	do	Novo	Testamento	(de	Mt
temos	uma	tradução	grega	antiga),	Sb,	2Mc.	Além	disto,	os	livros	e	fragmentos
deuterocanônicos	do	Antigo	Testamento	cujos	originais	se	perderam,	encontram-
se	em	tradução	grega:	1Mc,	Jt,	Tb,	algumas	secções	de	Daniel	(Dn	3,24-90;	13-
14)	 e	 os	 acréscimos	 de	 Ester	 recolhidos	 desordenadamente	 em	Est	 10,4-16,24
(da	Vulgata	Latina).
	
												O	texto	do	Eclesiástico	encontra-se	em	situação	especial.	Apresenta-se
como	 tradução	 grega	 do	 original	 hebraico;	 ver	 Prólogo,	 vv.	 15-35.	 O	 texto
original	hebraico	se	perdeu	desde	os	 tempos	de	S.	 Jerônimo	(†	420);

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