Buscar

Aula 3 on line Filosofia na história

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – EAD
LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA
sábado, 26 de setembro de 2015
Aula 3: Filosofia da História
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Compreender o significado de filosofia da História; 
2. Entender o objetivo do estudo da Filosofia da História; 
3. Problematizar as questões referentes à filosofia da História e do conhecimento histórico.
Como diz José Carlos Reis em seu livro “História e Teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade”, no último milênio, os historiadores ocidentais aterrorizados com as guerras, injustiças sociais, epidemias etc. se manifestavam a preocupação com “o destino de uma humanidade universal. 
Ainda segundo o autor:
Perguntas metafísicas orientaram as reflexões e pesquisas históricas no Ocidente: quem somos? Para onde vamos? Para que viemos e qual será o nosso destino? Como obter salvação?
Essas perguntas revelam uma angústia fundamental, a experiência de um permanente mal-estar de ser-no-tempo. O ocidente sofre com a própria ausência e procura construir uma imagem global, reconhecível e aceitável de si mesmo.
REIS, José Carlos. História e teoria: historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p.15.
Da forma como José Carlos Reis expôs, percebemos que a identidade ocidental não existe sem fissuras e tenta se reconhecer em sua totalidade. Assim, nesta aula, você verá as diversas representações da vida e do seu sentido ao longo da história do Ocidente.
Para começarmos a refletir sobre as questões relativas à filosofia da História, vale a pena irmos até aqueles que são considerados os pais da civilização ocidental. 
Os gregos desenvolveram um tipo de História que se baseava em relatos considerados importantes. A narrativa oscilava entre o sagrado e o profano e na recuperação do passado se misturava a poesia e a mitologia.
A história grega era limitada temporalmente e se apoiava em documentos visuais e orais. Isso significava que só quem presenciava o evento poderia relatá-lo de modo confiável.
Entre os gregos, é importante destacarmos dois filósofos. O primeiro, Heródoto (484 – 425 a.c), é conhecido como o “pai da História”. 
Sua principal obra foi ““As Guerras Médicas” onde relatou o conflito entre os gregos e o Império Persa ocorrido durante o século V a.C. 
Nessa obra, Heródoto procurou separar a narrativa histórica das outras narrativas existentes na época. O grande diferencial do seu trabalho foi à crença do autor de que era preciso conhecer profundamente cada povo para posteriormente realizar sua escrita e, assim o fez, tendo feito diversas  viagens aos locais de conflito. 
Entretanto, em “As Guerras Médicas”, Heródoto, filho do seu tempo, ainda concede uma importância muito grande dos rumos das guerras à vontade divina.
Os gregos tem tradição de  observar a História como relacionada à sua organização. Vide o papel desempenhado pela narrativa homérica em seus trabalhos.  
O diferencial de Heródoto é justamente determinar as formas de fazer história. Heródoto determina que a história deve ser feita a partir de fontes consideradas, fidedignas, daí a ideia de conhecimento. Então, a história necessita desse conhecimento.
A função do historiador não está nessas fontes, mas sim no JULGAR a história. Esse é o papel do historiador em Heródoto, determinar os erros e acertos, transformando o historiador em juiz.
Heródoto não defende a história como a defesa dos deuses, mas, sim, sinaliza sua importância na tradição e nas ações dos homens. Por isso, não é um crítico a Homero como, por exemplo, outros de seus contemporâneos como Thales de Mileto.
O segundo filósofo importante para a nossa reflexão sobre a filosofia da História é Tulcídides. 
Em sua obra “A Guerra do Peloponeso”, conflito armado entre Atenas e Esparta ocorrido entre 431 a 404 a.C.  
A sua obra difere das, até então, produzidas, pois foi a primeira a deixar de lado o discurso religioso, tanto que na sua conclusão, a motivação principal para  a guerra  foi o crescimento do poderio ateniense e o receio dos espartanos.
Ainda segundo José Carlos Reis, os gregos se interessavam pelo eterno, pelo que não precisa da história para ser. 
Seus historiadores, ao fundarem a história, desafiavam a própria cultura anti-histórica. A história que fundaram não se interessava pelo futuro, apenas pelo presente e pelo passado (...) Entre os gregos, a ideia de uma história universal não era ainda formulável.”
Os gregos não pensavam em uma história que pudesse ser universal. Essa ideia só começou a tomar corpo com os romanos e é justamente aí que se percebe a ruptura com a concepção de história grega. A história entre os romanos é em um primeiro momento claramente influenciada pelos gregos.  A diferença é o sentido, a história é um exercício de legitimidade, busca a afirmação do poderio de Roma. O historiador Romano perde a noção do cuidado do historiador, como diz Finley, completa os fatos da maneira que melhor lhe convém, desde que marque os ensinamentos que a história precisa trazer.
O império romano movido pelo seu expansionismo pensa o passado e o futuro como assimétricos e o futuro passa a ser o centro de gravidade da História. Sendo assim, a história universal seria a história da unidade romana sobre todos os outros povos. 
A ideia do cristianismo que foi inicialmente combatido e depois incorporado e adotado como religião oficial apoiou com o sentimento religioso e o discurso teológico a conquista romana do mundo. Assim, a Igreja Romana e o império romano formaram a ideia de “história universal”, “como vontade de potência universal legitimada por um discurso de salvação da humanidade.”
HARTOG, F. Historiadores gregos. In: BURGUIÈRE, A. Dictionnaire dês sciences historiques. Paris: PUF, 1986.
Eneida de Virgílio Tito Lívio
Vamos pensar no mito de fundação de Roma.
Poucos documentos de fato existem sobre o período monárquico romano, a maioria dos documentos é de séculos depois, mas contam os eventos de forma reta, mostrando o quão grandioso foi à formação do mundo romano.  
Tanto a Eneida de Virgílio como os relatos de Tito Lívio deixavam claro a origem grega de Roma e sua importância na construção do poderoso império.
Plutarco e Suetônio
Plutarco e Suetônio apresentam esta mesma tendência, mas tratando de personagens considerados grandiosos que marcam a força do mundo Romano, não à toa o primeiro conta as histórias de Alexandre da Macedônia, ou Alexandre o Grande, e o segundo a Vida dos Doze Césares, ainda que com esforço biográfico, mantendo a mesma proposta de não se ater aos detalhes ou contradições, mas fazendo o que Finley chama de "completar a história".
José Carlos Reis
Dessa forma, como bem diz José Carlos Reis:
“Os romanos iniciaram a aventura ocidental de conquista do mundo imbuídos da fé de que iriam salvá-lo! A ideia de história universal e de um sentido histórico único para toda a humanidade começou a se elaborar como conquista, por um povo, de todos os povos. Os romanos se atribuíam essa missão divina e não poderiam  falhar. 
Eles sintetizavam a tese judaica do ‘povo eleito’ com o universalismo cristão do pagão-também-filho-de-deus. Eles, povo eleito, tinham a missão de levar aos pagãos essa verdade única da história universal: ‘somos todos filhos do único Deus, seu filho dileto, pois Ele veio ao nosso mundo e nos revelou a verdade; temos o direito divino de liderá-los na história da salvação!’”
REIS, José Carlos. Op. cit. p.19 -20.
A  partir da perspectiva romana, a ideia de uma história universal toma corpo. Os valores religiosos aumentavam o desprestígio do que era temporal. O significado do pecado envolvia tudo nesse mundo e só a necessidade de salvação levava a religião a torna-se intemporal.
Essa concepção de história universal permaneceu durante séculos e apenas entre os séculos XIII e XVI começou a surgir uma nova consciência no sentido histórico. Na modernidade, a metafísica começa a ser recusada como explicação para a história.
De fato, estávamosem um mundo que passava por uma revolução cultural e para acompanhar as estruturas da nova ordem política (Estado burocrático)/econômico( ética do trabalho e empresa capitalista)/social (não  fraternidade religiosa) era preciso que a história do mundo terreno desafiasse a história universal sagrada.
Foi o historiador Le Goff que percebeu que na modernidade passou a existir um conflito entre o tempo da igreja e o tempo do mercador, o que fundou uma nova mentalidade. 
O novo agente, o burguês, passou a ter dois objetivos diferentes: o lucro e a salvação. 
“Ao procurar realizar fins contraditórios, a consciência burguesa perde a unidade que antes a religião garantia. O cristão reformado até confunde seu sucesso nos negócios com a graça de Deus, misturando esferas que não se articulam. ”
Voltando à questão referente à filosofia da História, vamos agora destacar a figura de Immanuel Kant. 
Kant nasceu em 22 de abril de 1724 em Königsberg (Prússia). Na casa dos pais, Kant provavelmente teve contato com o pietismo. 
Em 1755, Kant se doutorou e foi se estabelecer em Privatdozet como professor universitário. Durante sua vida, ministrou nas cátedras de lógica e metafísica e também deu preleções sobre matemática, física, geografia, antropologia e de teologia natural, moral e direito natural.
STÖRIG, Hans Joachim. História geral da filosofia. Petropólis, RJ: Vozes, 2009. p. 331-332.
O Pietismo surgiu em fins do século XVII dentro do luteranismo, como oposição à negligência da luterana para com a dimensão pessoal da religião. O movimento, além da crença, exigia a piedade genuína. Este influenciou o surgimento de movimentos como o pentecostalismo.
Para uma melhor orientação da leitura, abaixo as principais obras do filósofo Kant:
1755: História geral da natureza e teoria do céu ou ensaio sobre a constituição e a origem mecânica do universo em sua totalidade, de acordo com os princípios de Newton.
1756: Monadologia Física
1766: Sonhos de um visionário esclarecidos pelos sonhos da metafísica.
1770: Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e do mundo inteligível.
1775: Sobre as diferentes raças humanas.
1781: Crítica da razão pura.
1783: Prolegômenos a toda futura metafísica que se apresentar como ciência.
1784: ideias sobre a história universal sob o ponto de vista cosmopolita.
1885: Fundamentação da metafísica dos costumes.
1788: Crítica da razão prática.
1790: Crítica do juízo.
1793: A religião nos limites da simples razão.
1795: Sobre a paz perpétua; Um projeto filosófico.
1797: A metafísica dos costumes em duas partes.
1798: A disputa das faculdades.
A obra que vamos nos deter por ter oferecido outro entendimento para a ótica da história é “Ideias sobre a história universal sob o ponto de vista cosmopolita”. Nela, Kant afirma que a razão traria a reunificação da humanidade, substituindo a religião, ao se dar como finalidade a construção de uma sociedade moral.
Assim, o autor afirma que os acontecimentos históricos, tanto positivos como negativos, sempre seriam vistos pela visão cosmopolita, ou seja, aquilo que traz bem a todos.
Com Kant, a Europa passou a pensar a história de uma humanidade universal e o que reunificaria a humanidade seria a razão, mas a história teria um fio condutor, ou seja, a tentativa filosófica da história universal do mundo seria de acordo com um plano da natureza que tinha como objetivo a perfeita união da espécie.
Assim, o olhar do historiador precisaria verificar a natureza desde os tempos antigos e perceber um plano e um propósito final, aí então a ideia poderia ser útil e também um fio condutor. Kant se debruçou fundamentalmente sobre os helenos, pois, segundo o autor, todas as outras histórias estariam agregadas a esta.
Assim sendo, a grande maioria dos povos somente faria parte da história quando se relacionassem com a cultura ocidental. Com isso, se descobre um fio condutor da história humana, uma perspectiva consoladora para o mundo e esclarecedora, “na qual a espécie humana se elevará finalmente, por seu trabalho, a um estado em que todos os germes que a natureza colocou nela poderão desenvolver-se plenamente e sua destinação aqui na Terra ser preenchida.”
O pensamento da história de Kant é bastante interessante, mas vale lermos o comentário de José Carlos Reis sobre a filosofia da História que diz:
“As filosofias da História mostram com transparência toda a tensão interna à cultura ocidental. Elas são ambíguas: greco-modernas, pois são uma elaboração racional-profana sobre a história; neojudeo-cristãs, pois dirigem-se ao futuro, prosseguem a espera metafísica da redenção. As filosofias da história expõem a fratura da identidade ocidental: “Fé na Razão!” É como um retorno ao pensamento religioso, em busca de unificação que ele oferecera. 
Mas esse esforço de reunificação e de retorno prevalecia a face moderna, a razão, profana e laica, que jamais conseguiu superar a fragmentação renascentista. As filosofias da história são um pensamento tenso que não reconhece as suas contradições. Elas ignoram pulsões, intuições, instintos, emoções e se imaginam dominadas pela transparência absoluta da razão. A sua convicção inabalável, que se tornou uma obsessão, é de que a ação racional dos homens deve produzir  uma aproximação acelerada do futuro com o presente.”
REIS, José Carlos. Op. cit. p. 30.
Kant de fato revolucionou o pensamento filosófico e, com elogios ou críticas, todos os intelectuais nos séculos posteriores se embasaram no autor. 
A ideia de que o caminho da humanidade unida era o único que levava à sociedade moral influenciou outros estudos que tiveram destaque no século XIX. 
De qualquer forma, no século XVII o mundo ocidental passou a pensar filosoficamente a história universal da humanidade, atribuindo-lhe o sentido da realização de uma finalidade moral.
Por fim, cabe trabalharmos com outro autor que também pensou a filosofia da História. Georg Wihelm Friedrich Hegel nasceu em 1770 em Stuttgart. Ele sempre se interessou por três temas: o estudo da filosofia, o interesse pela antiguidade e o entusiasmo pela Revolução Francesa. 
Durante alguns anos, Hegel foi redator e diretor de um liceu em Nürrenberg. Foi lá que ele concluiu a obra “Ciência da Lógica”, em três volumes. Este belo trabalho lhe valeu a cadeira filosófica em Heidelberg, lugar onde escreveu a “Enciclopédia das ciências filosóficas”, em 1817.
Hegel tornou-se “filósofo do Estado prussiano” e o chefe oficial da filosofia alemã. Ele ministrava aulas das principais disciplinas filosóficas e também de filosofia do direito, da arte, da religião, da história e história da filosofia.
(STÖRIG, Hans Joachim. Op. cit. pp. 395-396).
Em Hegel, a modernidade aparece não mais em dívida com o passado grego nem com o cristianismo, ela procura nela mesma sua normatividade. Ela procura ser autoconfiante e garantir sua fundamentação sobre seus próprios meios. Segundo José Reis, “Hegel revelou o princípio dos novos tempos: a subjetividade. ”
Em seus textos sobre a história da filosofia, Hegel apontava que a mesma tinha uma contradição interna, qual seja, "a filosofia quer conhecer o imperecível, o eterno, seu fim é a verdade. 
Mas a história conta o que foi numa época e que desapareceu em outra, substituído por outra coisa". Se a verdade é eterna, "ela não penetra na esfera do que passa e não tem história". 
Sendo assim, cada filosofia corresponderia a um momento da história, a uma etapa na conquista do espírito absoluto.  As filosofias não se refutariam, mas se sucederiam e as novas mostram as anteriores como verdades parciais.
Para o autor Lyotard, os discursos da modernidade são considerados grandes narrativas pelo fato de se referirem à humanidade como um sujeito universal e pretenderem produzir uma descrição completa do desenvolvimento histórico. O projeto moderno é de uma história que se fragmentou e se descentralizou.
Ao mesmo tempo, durante o século XIX outro movimento pretendia liberta-se da filosofia da História e tornar a disciplina como uma ciência autônoma.Assim, chegaram à conclusão de que a metafísica era impossível de ser analisada, pois os resultados eram impossíveis de serem controlados. A história científica vinha não para discutir o sentido da história, tampouco a história universal, vinha para produzir conhecimento positivo que você verá na próxima aula.

Outros materiais