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19 - Hidrologia_Tucci (Cap19)

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Antonio Eduardo Lanna
Capítulo 19
GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
I Ii u-cursos hídricos são bens de relevante valor para a promoção do bem-
,li. 11I1111 sociedade. A água é bem de consumo [mal ou intermediário na
IlIlnlldnde das atividades humanas. Com o aumento da intensidade e
II,d~ desses usos ocorrem conflitos entre usuários. Uma forma eficiente
11111 '" administrar estes conflitos é a gestão integrada do uso, controle
n.'1 VII9nO dos recursos hídricos. Isto envolve a consideração de uma
111 dlvl\r'sidade de objetivos (econômicos, ambientais, sociais, etc ), usos
li, geração de energia, abastecimento, etc ) e alternativas. Deste
li!, " plnncjamento dos recursos hídricos aparece como uma atividade
I'" ''', 11"0 envolve grande número de disciplinas e que deve ser aplicado
'1111J1o~ multi e interdisciplinares. Devido à importância estratégica
• 11 1'11I NO C à sua vulnerabilidade, haja vista os problemas de poluição,
11111 uno pode ser executada de forma eficiente para a sociedade através
IIIhlllssllo em propriedade privada. Diante disso, a Constituição
11\ nulbuiu à União e aos Estados a propriedade dos recursos
t~n/lRrlS circunstâncias o poder público deve estruturar um Sistema de
li' 1111111.'1110 de Recursos Hídricos para coordenar e articular os seus
11111. II/IO/! C controles. Esses diversos aspectos serão considerados neste
li 111 lulolulmcnte serão introduzidos alguns conceitos econômicos
IIIIII,IIIH ~ avaliação de investimentos e formação de uma infra-estrutura
A língcnharia de Recursos Hídricos se insere neste processo - seus
) slntcuzados abrindo oportunidade para a classificação dos
,lu IMII <lu água. A diversidade destes usos remete o texto para a
tI~ 1I,~hu dOR projetos de uso múltiplo que, além de oportunizarem o
1H!111I1i1íU1(~I\IO (10 recursos c obtenção de economias de escala, aparecem
illh ,llIll'lIlu com u Intensificação do uso da água. O quadro até então
1111\tll' IIbllllltlrt1 vlslumbnr 1\ complexidade e a interdisciplinaricdade do
<UIIIIIII J doa rccurscs hfddcos.
!I JlII'".,J.IIIIUIIIO dt)8 rCOUl"Ro/t llfdrloolJ é levado 11 cabo através de uma
,I.! ti I1LlllllIUIII(11t Itlulllmonlu ntllOllllldos «Uê 60 dlfcrcncinm quanto aos
IIhllillUOIlOlll Nolmllll O ScoltrMloll, I; 111/ 110llllhnll1Cl\to. Uma
11Il/l,.ll.,nQ t] ~1,,~"II1l'l\çnll é I\pll'If~It,,\(11\ l11l1 coutnuro COUI
728 Hic1rohllll
considerações sobre a harmonização e articulação de diferentes dOCUnlOlIl1I
Os aspectos legais dos recursos hídricos são então brovC\1I111111
comentados. particularmente os relacionados com a sua propriedade 0'1"1111
Estado e a União, para assumirem efetivamente a propriedade desu
estratégico, em nome e para benefício da sociedade, devem estruturar
de gerenciamento que incorporem as diretrizes de um Modelo dt'l (
adequado. Esses sistemas devem promover a articulação entre ali dlv
entidades e instituições públicas e privadas que atuam na área dOIl 11'11111
hídricos, facultando que o uso, controle e conservação da áltllll,
realizado com benefícios para a sociedáde.
19.2 O processo de formação de capital
Um pequeno lavrador, em um país que adote um regime econômico bu
livre iniciativa, cultiva o necessário para sua subsistência. Um dil\ 11'4(l1
restringir' parte do consumo de uma colheita, com o objetivo de OOHI~1I 11111
Ia. Com o dinheiro obtido, adquire um equipamento que lhe permito (l1,1 ••• li!
maior eficiência agrícola, incrementando sua produção. A partir duí 111'1
manter uma certa restrição ao consumo e, com isso, aumenta o 111\1111'111
equipamentos e a área de sua propriedade. Continuando com SUCCSIIO, .,111 IIIMi
tempo poderá tomar-se um médio agricultor, com um nível de consumu 11"1'''11
ao inicial.
Nesse exemplo ocorreu, em escala reduzida um processo d
capital. O agricultor tinha à sua disposição recursos naturais, M
terras agricultáveis e clima. Tinha o recurso do trabalho, seu
sua família, Tinha igualmente tecnologia agrícola para tomar 1'1"11I
sua atividade. através de orientações para um manejo adoqulldlJ 111
sementes aclimatadas à região. Pela restrição que estabeleceu ':"111 111111 I 11I""
ele pode como que transformar bens de consumo, arroz e feijão por Olltlllll,l"
bens de capital, equipamentos agrícolas. Através da formação ,111... lu
estrutura ele pode atuar com maior eficiência e aumentar, tom"
tanto o seu nível de consumo como a sua capitalização ou scj". 1\1111"
de capital e expandir sua atividade.
Esse processo de formação de capital se' repete 00111
análogas. embora em proporções bens distintas, orn qualquer 1M I. 11,111
desenvolvimento econômico, independente do regime oCQOÔmIO(ljl/hllllllll
alertar, contudo, que nem sempre a restrição ao consumo é IIclclhulll 1"11 11
pessoal do trabalhador, mas lhe é imposta pelo poder pl1bllct! em 1'11",
econômicos. Também nem sempre o usufruto dll fOl1lll\Q"o ,I(J e.'pllllt ,. 1"1'
nas mesmas proporções com que foI QlIlgl()() () lUlor/ffolo prdvlu. IlnlU"
a acumulação de-capital ocorre, nRo "lrnv6. dI) N'\Nlfílllo 1)("""11411111 "
usufrui, mas, também, "tru"d8 (It.l (OUhl'N, Jlllhtl"t'~lN o oI'I'Q"I/I\(, rwul'lllll.
cbstnrue t.iS$1.l1I 111111(1011l1i OClI1!k\lI~Vt)I'1 nu 1ft' 11.1'1111'1111'U 111I1.,,1101
Ih'tlnl) dos recursos hídricos 729
l rhulldade, a analogia com o agricultor pode-se aplicar sem maiores
nlvns, A figura 19.1 ilustra esse processo de formação de capital sob
,111ca social global.
()8 recursos naturais disponíveis, na forma de terra, água, minérios,
I •• ornados ao trabalho da população, geram bens de consumo e de capital.
I -] IIIpl05 de bens de consumo são alimentos, roupas, educação e segurança
t ,11,111111. Os bens de capital são aqueles que produzidos em determinado momento
I "III\tI ser utilizados em fase posterior para produção de mais bens de
l",mIL) ou outros bens de capital. Os bens de consumo podem ser também
1.•,~llIol\dos em bens de consumo final ou intermediário. No primeiro caso,
'11111 o próprio nome indica, a produção dos mesmos visa a satisfação de uma
rlnde social. No caso intermediário, trata-se com bens cujo consumo faz
IIII di) um processo produtivo que resultará no aumento da disponibilidade de
'I' I' serviços. de consumo ou de capital, para a sociedade. A água pode ser
1H,I/lLII\Oa tanto •.orno um recurso natural e, conforme o uso que lhe é
I .IIUlUlo,·como bem de consumo intermediário ou final. Por exemplo, quando
dtl plll'lI irrigação ou usos domésticos, respectivamente.
"IIII.O~ I I Ibens de
1II11111i11~.I trabalho capital
L4• I 1
bens de
capital
Flzuru 19,1. Processo de formação de capital.
II"" cltl rUll1l1/1c dCl In'()J~tos Ilc'lh O~ pontos de vista social e privado
/I I ti
111110Il
IIIl111l'W
IIpltul Ó denominado
111 ~o<llllhlllol\ de um
I~III 1I111'II11ll01llU 'lHO
730
alternativos. As vazões de um rio podem ser usadas para írrl
abastecimento industrial, por exemplo. Sob o ponto de vista 111111111'111
custo do investimento é aquele que pode ser determinado no mercado 1111I1
bens são transacionados e que deve ser pago pelo investidor 11
adquiri-los. Já dentro de uma preocupação de eficiência econômica, 110
recursos hídricos, o custo do investimento é o benefício do qual 110 d 1I1I
em função deste mesmo investimento. Este benefício é aquele que 1)(lIh'll
obtido pelo uso dos recursos na segunda alternativa mais rentãvcl, 1111
efetivamente adotada, caso o investimento analisado não fi
denominado em economia como o custo de oportunidade do investllllrtllt
melhor esclarecer esses conceitos, é necessário apresentar alguns Ollrlll!il
que será feito nos próximos parágrafos.
Exemplo 19.1. No caso específico da água algumas situações mostruut i '!li
a distinção dos pontos de vista financeiro e econômico. O uso da~ I(~II
rio em uma seção para abastecimento de uma cidade tem, no que di, '.'1'
água unicamente, custo financeiro nulo, quando não houver 00111111I
mesmo. O custo econômico,entretanto, seria o benefício do 11110,,111'111
irrigação, por exemplo, que deixa de ser realizado em função ti 1\ lul ••
opção de abastecimento.
Exemplo 19.2. Para a construção de um reservatório há noce•••11I1111
desapropriar uma determinada área. Esta área, sem o reservatõrlo, 1•..1
para a pecuária, com um ganho médio anual de 100 kg de como p\ll li•.•·'
custo da desapropriação será de $ 100.000,00 unidades mOUOl/1t111
custo financeiro e o custo econômico desta área inundada? O•• 1111111. !f!
que o custo financeiro será o da desapropriação, igual a $ 100.(KKI,f1l1
custo econômico será o que a sociedade perde com o U~(I ,lu di
reservatório : 100 kg de carne por hectare a cada ano.
IlIu dos recursos hídricos
iplo 19.3. Suponha que o reservatório do exemplo anterior crie urna
",'h'LI natural para a migração de peixes. Isso representa um custo
II,ltll'IItal que deve ser levado em consideração na análise do projeto, embora
I'~" l'IIRsa ser comparado com custos e benefícios de natureza econômica.
Uma decisão importante a ser tomada por uma sociedade é sobre a divisão
,,~ I'IIHlnção entre os bens de consumo e os bens de capital. Tal como ocorreu
uu 11 ugricultor no exemplo anterior, a produção de bens de capital implica a
IIIIIhlll19110de bens de consumo e a restrição do bem-estar da sociedade,
1"\'111I'11)momento. Essa restrição, caso resulte na formação de capital,
1lIlIlh'd que no futuro aumentem as disponibilidades, seja de bens de
1111I11l\(),seja de bens de capital, que darão continuidade, de forma mais
,.•. 11-11,110processo de formação de capital. Pode-se dizer que houve ganho
11I°'111100ou que o investimento tem viabilidade econômica, quando o
111",I" proposto no presente resulta em bens no futuro que superam em
1111n'!\lotes sacrificados. Mas somente haverá eficiência econômica quando
HI'I"l'f outra alternativa de investimento dos recursos resulte em
1IIIIIIII.tll<lOSde bens no futuro que valham menos que os obtidos no projeto
'HII.lulo, Na seleção de projetos ou de investimentos, se busca a eficiência
IIInlllloll. Diante disto, a orientação deve ser: realizar o investimento, mais
Ilh1V11! entre todas as alternativas existentes. Isso justifica o artifício
, rlonorninar por custo de oportunidade ao benefício que seria obtido na
1111111\melhor alternativa ao investimento realizado e exigir que este tenha
1\1 11I)ln/l superiores a este seu custo econômico.
'11 Moh o ponto de vista financeiro a análise é mais direta : uma despesa
11'11111111'11deve ser sempre coberta por uma disponibilidade financeira, A
i1111l1llhllldndc financeira resulta de poupança, receitas ou empréstimos. A
1"·IIIIIII~11éS formada pela restrição ao gasto de disponibilidades financeiras, A
111 6 resultante das transações de bens, em geral resultantes do
111111'1110realizado. Os empréstimos são captados pelo investidor criando
, •• I,hH!DS futuras de pagamentos, ou despesas financeiras futuras. Um
111111'1110será financeiramente viável quando houver disponibilidade
!HHIIIlh li. pura atender ao compromisso de pagamento de uma despesa.
r'll'"' consldcração importante refere-se ao ponto de vista sob o qual as
uIÔmicll e financeira são realizadas. Cabe aí a distinção entre
1I1~lIso de Investimentos públicos e privados. Os primeiros devem
IlIlml 01)) bcncffclo da sociedade como um todo, e serão pagos por ela
do SOUII lmpostos c outros tipos de recolhimento, indireta ou
I>1II1r1l1l1ICIIlOi(lIludo8 com os projetos. A análise, sob este ponto de vista
li", '1'111III'lIlIdl,) relovOnC'111nos projetos de recursos hídricos, já que boa
j, ,I, Ir" 111\0 P11hlh'IW (1 t'0I11t1tnlN buacnm Kcrur bencrrctos pnru 11sociedade
111" 1111IIlIlh· Jd lU Invo.lhllt~nllí" pdvlUluH, 1~1I1cru /lllrll' 1110111100mal
lIilllll", IIIII~ VINIIIII l,dllllu!llllll'lIln 1\~(11111IWIIOlllllll~ 1111tlllllll<'OIl!lI'I!llf
I 11111I1II'11.,lulll/•• N" IlIlllIllIlI, 111'lIlpll'I\III1t\IIII~ fn~, )111111\(\u M.,tllt'lllIcI
731
732 Hidrologia
isto, poderia-r ~ argumentar que os benefícios e custos, que sobre ele
incidem, são os mesmos que incidirão sobre a sociedade. Em conseqüência~ a
análise de um projeto privado, sob ponto de vista público, não necessitaria
de qualquer alteração. Os benefícios e custos que incidem sobre o agente
privado, que faz parte da sociedade, serão os benefícios e custos que
incidirão sobre esta mesma sociedade, ou os benefícios e custos sociais do
projeto.
Esta afirmativa seria correta se não houvesse pelo menos dois eventos
que fazem com que os custos e os benefícios privados não reflitam custos c
benefícios sociais. Um primeiro caso seriam as transferências de pagamento.
Retomando o exemplo 19.2, suponha que a construção do reservatório integro
um projeto público. A desapropriação da área resultaria em pagamento que li
sociedade faria à parte privada que é proprietária da terra. No entanto, parti
a sociedade como um todo, incluindo esta parte privada, houve unicamente uma
transferência de pagamento, sem custo econômico. O pagamento realizado pclu
sociedade, excluída a parte privada, é igual à receita obtida por esta parte,
Considerando a sociedade como um todo, não houve custo nem benefício
resultante dessa transação fmanceira.
Analisando as conseqüências unicamente sobre a parte privada, houve UIlIJI
transação em que 100 kg de carne por hectare/ano foram negociados JlIH
$100.000,00. Sob o ponto de vista social ou seja, da sociedade como um ''1du,
houve tão-somente a perda de 100 kg por hectare/ano, o custo social qlH
deverá ser justificado pelos benefícios do projeto. Está aí a diferença cntu
o ponto de vista privado e social.
Outro evento que pode fazer com que os custos e os benefícios prlvnd«
não sejam custos e benefícios sociais são as chamadas externalídades, ou c,
efeitos colaterais dos projetos, que atingem a terceiros. Vários exemplo
podem ser apresentados. A poluição hídrica causada por uma fábrica, CCull1l
colateral do empreendimento que atinge aos usuários de água do trecho Ouvlul
a jusante da emissão, seria uma extemalidade negativa ou um custo externo, cI
estímulo à economia regional que tal empreendimento acarretaria, resultado dI!
demanda por insumos e da oferta de produtos que fazem parte do ProOOllll1
industrial, seria uma externalidade positiva ou benefício externo. 1111I
reservatório criado para viabilizar a navegação no trecho fluvial " J".IIIII
da barragem, através do aumento das vazões de estiagem, permitiria o 1111I11I'111"
da diluição dos efluentes deste mesmo trecho, resultando em uma oltlollllllltlud
positiva. Em paralelo, ele inviabilizaria atividade turísticas C UNlllllllvH
de canoagorn que eram realizadas nos rápidOS deste trecho fluvlul <lu Jlltlllllll' I1
que dcscstimuíaria fi economia rcglonal , uourrctnndo ImllrclnlllClIl11 111I1
xtornulldudo negativa,
NUii ()Xell1plOIl do oxlOIlllllldndn~ J!<lNIlIVIIH c n
OIJ II\(ltl chlll~ 1\III1no~1\
If~111111 1l1I1I1 11 11""11I
Gestão dos recursos hídricos 733
diluição de efluentes. Outras são trasmitidas por ligações econômícus: o
estímulo econômico de origem industrial e o desestímulo econômico resultante
da inviabilização ao turismo e atividades esportivas. As primeiras são
denominadas extemalidades tecnol6gicas e as segundas extemalidades
pecuniárias.
O problema das extemalidades é que elas nem sempre são consideradas na
análise de projetos privados, embora, obviamente, o devam ser em projetos
públicos, já que são custos ou benefícios gerados para a sociedade. O
industrial do exemplo realizará sua análise econômica privada ignorando o
custo social da poluição e o beneficio social do estímulo à atividade
conômica. Sob o ponto de vista social, aos custos e benefícios considerados
pelo industrial deverão ser agregadas essas extemalidades. Alguma
dificuldade pode existir para suas projeções e mensurações em termos
econômicos.
A existência de extemalidades em projetos de investimento privados
poderãoresultar em uma escala ineficiente sob o ponto de vista social. Ao
não considerar o custo social da poluição hídrica no processo de maximização
cios benefícios líquidos privados, o industrial poderá estabelecer uma escala
uperdimensionada para a indústria. Da mesma forma, ao ignorar os estímulos
onômicos trazidos à região, ele poderá estar subdimensionando a escala em
relação à socialmente ótima. O poder público, municipal, estadual ou federal,
poderá agir em ambos os caso de forma a induzir uma escala socialmente 6tima
pura os investimentos privados. No primeiro caso, pela tarifação adequada da
poluição, situação em que o industrial será induzido a tratar total ou
purcialmente seus efluentes, eliminando em parte ou no todo este custo
torno. No segundo caso, através de subsídios, pode-se induzir ao industrial
11 uurncnto da escala de seu empreendimento, obtendo-se os benefícios externos.
j .),4 Engenharia dos recursos hídricos
A Engenharia de recursos hídricos integra um processo de formação de
IlIplllll no qual o recurso natural básico é a água. Quando o padrão espacial
tllI dlsponibllidade de água, ou seja, a distribuição dos locais onde a água é
dl.pnllrvcl, não está em sintonia com o padrão espacial das necessidades dos
11'lIlfOIl de consumo, ou seja, a distribuição dos locais onde existem
'1II)oll~ltllldes relacionadas com os recursos hídricos, a solução para a
Ih I II~nO das necessid adcs em suas plenitudes é a procura de água em outros
h111I1~onde seja disponível. Isso poderá levar-nos a buscar água no subsolo
li" filljlt.llf1clulmcnte, em outras localidades, De forma oposta, quando o
1'IIIIdrIllII cS CXCCS!l() hrddu() (chchu) l\ solução poderá ser obtida com a
I ilmllll\;nO de CIIIIIII.." hllOilll~ ou UtJl.·[I~ONllutufUII que desviem parte das
lij'II'~ )llll/l lo(ullN nudl' 1"111_"111 'H'r II11ClUlochlllll" 1I11t'qlllld1Ilnt'nte. Ilm todas 11
III'II~C'\(J~ ,lIl1fldllll'~ fi 1'11I 111111 L'"lllt'lllll I!tI 11hllcm Ihlllcl"du htdrlcu foi
734
Hidrologia
nltcrado para sintonizã-lo com o padrão espacial das demandas.
Existe também a possibilidade de que a soma das disponibilidades em
ui.llerminado período de tempo seja suficiente para satisfazer a soma das
necessidades no mesmo período, referindo-se a questões quantitativas apenas.
No entanto, existem subperíodos internos ao período mencionado nos quais esta
Ituação não ocorre e há carência de água. Obviamente, neste caso também
deverão existir subperíodos com excesso de água. A solução do problema
interior poderá ser encontrada, como o foi antes, pela busca de fontes de
nll:ua em outros locais que serão utilizadas durante os subperíodos de
assez. Outra possibilidade é a criação e exploração de reservas de água,
u reservatórios.
Um reservatório visa à acumulação de água (ou formação de reservas) nos
subpcrtodos de excesso de água e uso das reservas previamente formadas nos
ubpcríodos de excassez. Isso poderá tanto atenuar cheias quanto estiagens,
IlIlS estações hidrológicas úmidas e secas, respectivamente. Desta forma
padrão temporal de disponibilidade da água pode ser alterado de forma a ser
ndcquado ao padrão temporal das necessidades.
O padrão qualitativo dos recursos hídricos, tanto quanto o quantitativo,
deve ser objeto de consideração e de adequação das disponibilidades com 111
I1Ccossidades. Ele é intrinsecamente vinculado ao padrão quantitativo. POI'
mplo, o comprometimento qualitativo das águas de um rio pelo despejo d
UIIS servidas pode ser atenuado tanto pelo tratamento destas águas quanto
umcnto das vazões que pode diluir os poluentes.
.'oncluindo, as funções da engenharia de recursos hídricos são 1\
Iid~'qlll\9ões espaciais e temporais, qualitativas e quantitativas dos padrões d
<Ill1ponlbllidade aos padrões das necessidades hídricas. Para melhor avaliar 1\
.xtonli!lo desta tarefa há necessidade de se discorrer sobre os usos da ág\lll.
19.4.1 Tipos de uso
Os usos dos recursos hídricos têm se intensificado com o descnvolvimonít
onôrnico, tanto no que se refere ao aumento da quantidade demandndll 111111
determinada utilização, quanto no que se refere a variedade dc",."
uulizaçõcs. Originalmente, a água era usada principalmente 11111'
dessedentação, usos domésticos, criação de animais c para usos a8.rCoolII
partir da chuva e, menos freqUentemente, com suprimento irrigado. A 1111:'11111
que 11 civilização se desenvolveu outros tipos de uSOS foram RUrijltlllll,
disputando os usos de recursos hfdrlcos multas vezes CSC.I8S0S e I,lSlllhtlll,llll1111111
n /lilas cn Ire O~ u~udrio/l. A tubelu 19.1 1l(lI'Clicnln I\S pdnclpnlr; o"tmwdll
dos uso dn MUII. OS UROS IIchlllll-NU Inll~'ddos em 11'ns 0111
1"1111
Gestão dos recursos hídricos 735
sociedade nos quais a água entra como bem de consumo final.
Agricultura, florestamento e aquacultura: refere-se aos usos da água como bem
de consumo intermediário visando à criação de condições ambientais adequadas
para o desenvolvimento de espécies animais ou vegetais de interesse para a
sociedade. Este interesse pode ser de ordem econômica, ambiental, etc.
Indústria: usos em atividades de processamento industrial e energético nos
quais a água entra como bem de consumo intermediário.
Tabela 19.1. Principais categorias de uso da água (adaptada de Nações Unidas,
1976)
l-Infra-Estrutura 2-Agricultura e 3-Indústria 4-Em todas 5-Conservação
social a aquicultura as classes e preservação
de uso
Dessedentação (C) Agricultura (C) Arrefecirnen- Transporte, Consideração
Navegação (NC) Piscicultura(NC) to (C) diluição e de valores
Usos Pecuária (C) Mineração(NC) depuração de opção, de
domésticos (C) Uso de Hidreletrici- de efluen- existência
Recreação (NC) estuários (NC,L) dade (NC) te (NC) ou intrínse-
Usos públicos (C) Irrigação (C) Processamento cos (NC,L)
Amenidades Preservação de industrial(C)
nmbientais (NC) banhados (1,) Termoeletri -
cidade (C)
Transporte
hidráulico(C)
Quanto à forma de utilização existem três possibilidades:
I 'unsuntlvos (C): referem-se aos usos que retiram a água de sua fonte natural
tllmlnuindo suas disponibilidades, espacial e temporalmente.
Ilo('()nsuntivos (NC): referem-se aos usos que retomam à fonte de suprimento,
PIIIIllJlIl1lentca totalidade da água utilizada, podendo haver alguma modificação
11'I "0" padrão temporal de disponibilidade.
111'!l1 (L): refere-se aos usos que aproveitam a disponibilidade de água em sua
IIIIU" sem qualquer modificação relevante, temporal ou espacial, de sua
,11~11I1J\lh IIld~\tlc.
públicos du I1g111\ 60 referem
IIhll~HlOIIlI(ll1l(1 do IIHIIII. P.NI
736 Hidrologia
sistemas são dimensionados para atender às demandas que dependem diretament
da população a ser atendida. A projeção da população determina a estimativ
da demanda. O suprimento pode ser realizado a partir de manancial
superficiais, rios ou lagos (reservatórios), ou mananciais subterrâneo
(aquíferos). No caso de rios, como o regime fluvial é variável, as condíçõ
críticas de abastecimento surgirão na estação de estiagem. Quando, 0011I
freqüência inaceitável, a disponibilidade de água na seção de captação (o
inferior à necessidade de suprimento, poderá ser construido um reservatérlu
de regularização. Seu objetivo será armazenar água durante a estação úmhht,
de modo a formar reservas hídricas que complementarão as disponibilidad
durante a estação seca. Um lago natural já é um reservatório de regulariznçãu
que, não obstante, poderá ser ampliado para aumentar sua capacidade 1I
armazenamento visando ao atendimento das demandas.
Os aquíferos subterrâneos são reservas naturais que apresentam um rcgun
de disponibilidade hídrica praticamente constante, quando não submetido
sobreexplotação. Esse termo designa a situação em que se extrai mais ág\1II1I
um aquífero subterrâneo que a sua recarga natural, o que ocasionarã .""
rebaixamento e diminuição de disponibilidade hídrica. Testes de bombcamnn«
poderão estabelecertaxas de extração adequadas.
Os padrões de qualidade para sistemas de abastecimento de água são 1111I1111
exigentes o que determina, em geral, o tratamento das águas previamente
suas distribuições e consumo em estações de tratamento de água (ETA)
águas subterrâneas podem oferecer uma alternativa qualitativamente 1111I1
adequada. É mais facilmente evitada a poluição de aquíferos subterrâneos 1111
que de rios ou lagos, embora na despoluição destes mananciais CH11111
exatamente o contrário. Daí a necessidade estratégica de proNolVII~ n••
qualitativa dos aquíferos subterrâneos, como reserva hídrica para aR /11111I
gerações, atividade que tem assumido a maior relevância em II'~I"
industrializadas e com alta densidade demográfica, que aprcscntnui
demanda, acrescida de alto potencial de poluição.
Os sistemas de abastecimento de água produzem efluentes que pmlnu
conduzidos a seus destinos finais por sistemas de esgotamento 111111111111,;
Estes sistemas podem ser tão simples como os de fossas S6pIICJII~, IIIi
apresentam alto risco de poluição do aquífcro subterrâneo, como I\q"t~hl' !lf"i
complexos que exigem a coleta e transporte dos cflucntes em rodos tln r'luWiI
até uma Estação de Tratamento de Esgotos (BTE) parti, f1nllllil~nh)1
lançados de volta ao rio ou em outros corpos de água. O grnu do of'h 1/:1111
tratamento de esgotos determinará a poluição que este lançamento l~~t,\hd
no corpo hídrico de destino. Um problema que ocorre com grundo 11I't111~1I'
deriva da ausência ou do trummcnto lnJ\ooqutldo dOH OIl}:ot()H. b"o 1I1'1111~1
poluição fluvial, com oOllAoqtlcn to Illmlcnto d(~ ousto do UhllllhJl hJlfllllt1
Ilsuddoll de JUSIIII te, NUJ 11 dov Ido n lI('('OR~ 1IIIIdo ,lu tmllllllOIl tllH 110~U"
lah{)rl\d()~, Hei II .!~h\ 1I('I'M~ldllclo tio IUllld1l1ll1l11l 1111I 1111I11111I 1I1ltllllUdlil
Gestão dos recursos hídricos 737
O uso da navegação relaciona-se a sistemas hidroviários. Estes sistemas
têm por objetivo permitir o transporte fluvial. A capacidade de transporte é
iécnica e economicamente estabelecida pela largura do canal de navegação e,
principalmente, pela sua profundidade. A largura e profundidade natural podem
r ampliadas por dragagens e derrocamentos do leito dos rios. Como o regime
de vazões dos rios é variável, a profundidade em cada seção fluvial varia ao
longo do tempo, sendo crítica durante a estiagem. Para aumentá-Ia pode-se
mplantar, a montante da seção crítica, reservat6rios de regularização,
visando aumentar as vazões de estiagem. Outra alternativa é a construção de
hurragens de navegação a jusante da seção crítica, objetivando elevar o seu
nível de água. Ambas obras exigem a construção de eclusas de navegação para
permitir que os barcos as ultrapasse. Os aspectos qualitativos não são
relevantes para esse uso.
Já no caso de recreação e amenidades ambientais os aspectos qualitativos
o tão oumais importantes que os de ordem quantitativa. Mesmo nas situações
eru que não haja contato direto com a água, como na apreciação cênica, as
ências qualitativas são muito estritas.
Os usos de água na agricultura e pecuária ocorrem em estabelecimentos
U1'1I1s, podendo determinar a implantação de pequenos sistemas de
IIt,INlccimento com nenhum ou simplificado sistema de tratamento. A
Ijlllllllificação da demanda pode ser realizada em função da intensidade da
tlvldade agrícola, número de pessoas envolvidas e de cabeças de gado. A
1I1/1I1Çi'ioé estabelecida para suplementar a oferta natural de água, para os
"lllvos, realizada pelas chuvas. Em regiões áridas ou serni-ãridas ela pode
I I 11 única fonte hídrica. O dimensionamento das necessidades de água para
1IIIILJlÇltoé um processo complexo que exige a realização de balanços
IIldlollsrfcolas que levam em consideração o clima, o solo, as culturas,
""'''!lIas de irrigação e área cultivada. Devido às grandes demandas hídricas
I '1Il1ltllnlcsnão é, em geral, economicamente eficiente cogitar-se o tratamento
11 1\)1,1111. A tabela 19.2 ilustra com dados de 1960 o consumo de água para
IIIV lI~no nos Estados Unidos e ex-União Soviética em relação ao uso
'I,dIlNldnl c abastecimento doméstico.
IlillU '1),2. Usos da água na ex-URSS e Estados Unidos em 1960 em milhões de
Hm3, Kitson (1984).
JlAI!> I RÚSSJA I' ESTADOS UNIDOS
liSO ITotal Consunrivo % Total Consuntivo %-82,2 201,0 122,9 61.1
7,5 I~O,() 6.5,0 50,0
40,() ?:I, , l(),,'i 7,'1
738 Hidrologia
A piscicultura, o uso de estuários e a preservação de pântanos
banhados correspondem aos usos não-consuntívo ou local, nos quais são criada
ou preservadas condições para o desenvolvimento de espécies com valor
oomercial. No caso de piscicultura, pode ser explorado o ambiente natural, ou
criados lagos ou tanques de peixes que reproduzam condições ideais. O uso d
estuários aproveita as condições especiais do contato entre água doce
salgada. A preservação de pântanos ou banhados visa à manutenção du
diversidade biol6gica destes ambientes para propiciar o desenvolvimento d
espécies sensíveis.
O uso industrial da água visa ao seu aproveitamento para arrefecimcnto
de processos com geração de calor, como fonte de energia hidráulica ou plUII
geração de vapor com altas pressões, objetivando a geração de encrglu
elétrica, como elemento de desagregação ou diluição de partículas em
mineração, como insumo de processo industrial e, finalmente, como meio fluido
para transporte. Com exceção da geração de energia em hidrelétricas, existem
perdas de água no processo, seja por evaporação ou por diluição d
ubstâncias, que tomam consuntivos os usos industriais. A demanda hídrlon
destes usos de consumo intermediário depende da quantidade de bens de COnSUI1H.
final que são produzidos. Restrições qualitativas sobre a água consumhln
podem estar presentes nos processo de arrefecimento e geração de vapor,
quundo a água entra como insumo de processo industrial.
m grande parte das atividades humanas, e especificamente naquelas (111
\181\01 a água, existe a geração de resíduos. A água pode ser usada como meio 1I
transporte desses resíduos, e para suas diluições e depurações. NeM'!
processos de depuração a água entra como veículo para substâncias COIlIO ti
lgõnlo, fundamental para o desenvolvimento de mícroorganismos aer6blolll,
que transformam os resíduos em substâncias estáveis. A capacidade 11,
munutcnção deste processo de depuração em corpos hídricos é relacionada 001111
[unruidadc de oxigênio encontrado na massa de água, a qual é límlllltill
dependente da temperatura do meio. O processo de oxigenação é proplehul«
tunto por turbulências na interface ar-água, sendo por isso intenso 1'111
uchociras ou trechos fluviais agitados, como também pela lIt1vhhlll
lcrossintética de algas e rnacrõfitos submcrsos. O lançamento contlnun ti
icstduos oxidãvcis na água pode promover uma demanda acelerada do oxll:l~lIlt1
pl\ra sua oxidação biol6gica, eventualmente superior à taxa de rcodlll'lIl1~n"
Sob este dcscquilfbrio esgota-se o oxigênio e perecem as formas de viII" .Ir I
dependeu tcs, incluindo peixes. Também cessa o processo de dcgrudução 11('\1111011 11
m seu lugar surgem condições anacrõblcas, I\'l quuls gernrn illtoll\
uhlillHll.lluls 00 ecosslstcmn, CI\SO pcrsllllu o dOlloqta!lfbrlo, HlJtllll 1111,"
jlclcchidll/l C'OIlIO IJoll4/çtlo, IIUlR roprcacnnun unlClllIlt.ll1tt:l \111\1\ 11111\11\11
tIIldlçl'lell Vl/l.elllcN, ~o,l(l() IllIe () pwt'ellHo dI,) ,lt'UI'I\(IIIÇnU"11111'1111"10
IClNfd"lI~ 01111111mil IItf 1)~li\hl,IC"!lI Ilr IIHI III1VI1 (\1(1111111110 (MIII''lIlUII, II)U \) 11"
11/111 ti" 11""11, qltllllltll 111111111111, ~ 1 11111111111udo do JI~'llIlllhIlJh(l cll. 1111'10 Iilth
Gestão dos recursos hídricos 739
sem causar o desequilíbrio eitado, não ocasiona poluição e nem os custos
sociais e ambientais dela decorrentes.
Outras formas de lançamento, cuja capacidade de assimilação é baixa ou
nula, é a de substâncias tóxicas, carcinogênicas, teratogênícas e
mutagênicas. Elas causam danos ambientaise sociais muitas vezes
irreversíveis e que freqüentemente são identificados apenas a longo prazo,
quando não mais poderão ser penalizados os causadores e nem tomadas medidas
saneadoras.
Os usos referentes à conservação e preservação satisfazem uma categoria
mais complexa de demandas da sociedade moderna, relacionadas com as suas
vinculações com o ambiente natural. Até agora foram tratadas as atividades de
apropriação dos recursos hídricos, nas quais esse recurso ambiental apresenta
valor de uso. Existem outros tipos de valores sociais que devem ser
onsiderados na Engenharia de Recursos Hídricos, e que serão definidos a
cguir, . •
O valor de opção da água é valor derivado do seu uso potencial para
promover o bem-estar da sociedade. Ele se contrapõe ao valor de uso já que
stc se refere ao uso corrente, enquanto, aquele, a um uso provável que
poderã ocorrer. no futuro. Esta classe de valores pode ser associada à
tratégia de preservação de opções de uso, tendo em vista a incerteza
ncrente ao futuro de longo prazo, que poderá tomar certos bens relacionados
orn a água com valor social expressivo. Tal situação ocorreria na preservação
de um banhado em face da sua diversidade biol6gica, como fonte de possíveis
ilquezas no futuro.
Valor intrínseco é o valor intrinsecamente associado aos recursos
hídrlcos independente da possibilidade de seu uso, corrente ou potencial,
pllnt promover o bem-estar da sociedade. Alternativamente, são valores
tnbclecidos pela sociedade em uma base de "não uso", o que determina uma
ulsfação social pela simples existência de um bem ambiental (valor de
tência). Por exemplo, à conservação de um rio situado em região em estado
unlural poderia ser atribuído um valor intrínseco ou de existência, mesmo que
uonhum uso corrente ou potencial pudesse ser atribuído aos seus recursos. Ou,
11I11 valor intrínseco derivado de uma preferência estabelecida pela sociedade
(lll'lIsilcira ou mundial) em não usã-lo, agora ou no futuro. Nesta classe dr
Yl\lo(cs emergem questões filos6ficas e de ética ambiental de grande
uunplcxidadc que são tratadas por Pierce e Turner (1991).
,.t,2 U/jo lllúlUp!u
740 Hidrologia
desenvolvimento econômico acabaram por reduzir as disponibilidades hídricu
em alguns locais e por tomar atraentes outras regiões carentes de recurso
hídricos, exigindo maiores investimentos para obtê-Ios.
A sociedade moderna ampliou consideravelmente a diversidade de usos da
água. O quadro tomou-se complexo com o aparecimento de demanda
conflitantes. Nas regiões industrializadas, de exploração mineral e d
concentração populacional, existe a degradação dos recursos hídrio
estabelecendo conflitos com aqueles usuários que demandam condiçõ
qualitativas melhores.
As disponibilidades de água podem ser inicialmente aproveitadas para li
suprimento de demandas singulares através de projetos que visem 110
atendimento de um único prop6sito. Por exemplo, uma região na qual
estabelecido um projeto de agricultura irrigada. Devido ao cfoll«
multiplicador destes projetos, poder-se-á, em algum tempo, estar diante ti
necessidade de satisfação de diversas demandas hídricas de outras naturezas,
induzidas pelo projeto inicial. Por exemplo, abastecimento doméstloo,
navegação, controle de cheias, de estiagem, da poluição, etc . Logo, em 11111
estágio mais avançado de desenvolvimento econômico, existirão pressões 1)11111
que o sistema seja utilizado atendendo a múltiplos prop6sitos. Isso unll
impede, porém, que um projeto pioneiro de desenvolvimento regional contcrnph-,
desde o início, diversos usos. Por exemplo, um projeto de irrigação II\I!
preveja uma via navegável para escoamento da produção, uma pcqucu
hidrelétrica para fornecer energia para as bombas de recalque, um pUI'q\l!
industrial, de primeira geração, para processar a produção agrícola, hRII
tudo, sem esquecer o abastecimento doméstico de água e energia elétricu lU I
agricultores.
Mais rotineiramente no entanto, e por vício de estruturas instituclomd
organizadas por setores da economia, as diversas finalidades poderão ,.',
contempladas independentemente por sistemas de recursos hídricos IInll
integrados. Neste caso o setor energético implementaria suas hidrclétrlcua, 11
agrícola seus distritos de irrigação, o de transporte suas hidrovias, (,lI!
operação desses sistemas não-integrados será desenvolvida sem contrntonq« I
até um estágio de utilização intensificada em que serão cstabelcold«
conflitos entre os diversos usos da água. Nesta situação
necessidade de harmonização dos diversos usos e sistema ..•,
regulamentações, seja pela expansão da oferta, já em uma 1)II~r .1
gerenciamento integrado, de forma a ampliar ou adequar as disponlhllkh«!
hídricas com as diversas demandas.
Os conflitos de uso das águas podem ser cJoRslflclldos corno :
Conflitos de destínação de \1~(.:
utilizada para dcstlnaçõcs oull'UN que Ilfi\1
polüícns, (llllclIlUWoIU(IiIN 1111 un" \111 IIlINdo
estão dos recursos hídricos 741
ucndimento de demandas sociais, ambientais e econômicas. Por exemplo, a
retirada de água de reserva ecológica para a irrigação.
Conflitos de disponibilidade qualitativa: Situação típica de uso de água em
rios poluídos. Existe um aspecto vicioso nestes conflitos, pois o consumo
xcessivo reduz a vazão de estiagem deteriorando a qualidade das águas já
ornprometidas a priori pelo lançamento de poluentes. Esta deterioração por
ua vez, toma a água ainda mais inadequada para consumo.
('onflito de disponibilidade quantitativa: Situação decorrente do esgotamento
du disponibilidade quantitativa devido ao uso intensivo. Exemplo : uso
ntcnsivo de água para irrigação impedindo outro usuário de captá-Ia,
ucnsionando em alguns casos esgotamento das reservas hídricas. Este conflito
pooe ocorrer também entre dois usos não-consuntivos. Exemplo: operação de
hldrclétrica estabelecendo flutuações nos níveis de água acarretando
PIl'jU(ZOS à navegação.
Em conjunto com esses conflitos ocorrem incrementos das demandas
hldrlcas devido ao aumento populacional, agravando o problema de
nhnsrcclmento, particularmente nas regiões semi-áridas. Outro problema é o
polltrole de inundações que se tomou imperativo nas regiões que sofreram o
lolto simultâneo da urbanização não planejada, que impermeabilizou o solo e
uvudiu o leito maior dos rios, e do manejo do solo não adequado, que
OI'COU os Cursos de água.
O estágio de apropriação dos recursos hídricos no Brasil atingiu um
lI(vol em que conflitos de uso são fartamente detectados nas regiões mais
dll"llOVolvidas ou mais carentes de água. Além daqueles relacionados com a
l/ulIlldade de água, notados nas bacias urbanizadas e industrializadas, existem
flllllhóm conflitos quantitativos. Na Bacia do rio Jacuí, RS, ocorrem problemas
!lflINII natureza entre a geração de energia e a navegação, entre a navegação e
II Ia IIuução de arroz, e entre a irrigação do arroz e o abastecimento de água.
Hllft1 ültímo conflito ocorre na Bacia do rio Araranguá, se, agravado por
IlIlIhkllll\s qualitativos originados na mineração do carvão. Os problemas de
'1llItlltllloc c quantidade de água na Região Metropolitana de São Paulo exigem
1,11I,'l'klS I~ curto prazo. No rio São Francisco começam a ser intensificados os
Itllllll()~ entre a irrigação e a geração de energia. No Centro-Oeste e Norte
11'1'1110 11 poluição dos rios pela atividade de mineração.
Cone lui-se, portnn to, que o uso múltiplo dos recursos hídricos poderá
I 111I11\ O)l\Ro j nlclal, 111118 também será uma conseqüência natural do
11!., uvulvhucnto CC()iI~.IIIr(), A Irlltl/{rI\~'no hurmõnlcu <lestes usos é a opção
1~1f)J11(, (' (1110 I(llll 1'11111(1 1I111'III1111vII (.JUl1fUIOR t'IHI'O lIR\HMolI.
742 Hidrologia
Vantagens do uso múltiplo integrado
Ao implantar-se ou expandir um sistema de recursos hídricos com
ucndimento integrado a múltiplos usos, a capacidade final do sistema não
fá necessariamente igual à soma das capacidades individuaisdaqueles
lstcmas que teriam capacidade de atender a um único uso cada um. Isso
decorre da pr6pria natureza das demandas hídricas. Com freqüência, o padrão
diário ou sazonal da demanda de um tipo de uso poderá ser tal que o sistema
de suprimento trabalhe com folga em determinados períodos. Durante estes
períodos poderá ser previsto, sem qualquer expansão, o atendimento a outro
liSO.
Suponha que um sistema deverá abastecer de água um distrito d
agricultura irrigada. Apenas durante certos períodos do ano ocorrem déficit
igrfcolas que necessitem ser atenuados pela irrigação. O sistema estaria sem
\lRO no .restante do tempo. Seria possível, neste caso, prever um uso
alternativo nestes períodos de ociosidade. Note-se porém que o sistema d
ibustccimcnto agrícola durante o período sem uso poderá estar na fase d
rrnação de reservas hídricas essenciais para garantir o abastecimento
uturo, Não haverá nesta situação possibilidade de se dar um uso alternativ
ua em acumulação.
litro tipo de possibilidade ocorrerá quando a captação e retomo de águl\
tluHtllllldn a um uso não consuntivo se faça de forma a permitir o seu uso
1tC'1I11lIivo. Neste caso não existirão conflitos e o sistema poderá atender Ii
Hllhos usos sem aumento de capacidade. Note-se, porém, que na medida em que o
Imdl'('Ió~ temporais das demandas hídricas alternativas não sejam coincidente
1111'(.\ ~l O com o padrão temporal das disponibilidades hídricas, poderá hllVl'l
1111 uuos.
rnplo J9.4. Suponha que um sistema seja composto por um reservatório '1"
I(lóqul\ o padrão temporal da disponibilidade com o padrão temporal da dcmnndt
hldrlca para a geração de energia elétrica, um uso não-consuntivo. Callo
pretenda incluir o atendimento ao abastecimento agrícola o padrão temporal ,li,
dcmnnda agrícola deverá ser sintonizado com o da demanda de energia 0161t111
Em outras palavras, a demanda de energia em qualquer instante devo exigi. 11I11
hu·blnamcnt.o do água cujo volume seja pelo menos igual à dcmnndllllgrroolll. NI'
tllllÇltO em que isso não ocorra, o atendimento ao abastecimento '1111 luul.,
lHltlcn1 Ser feito apenas de forma parcial.
Gestão dos recursos hídricos 743
do vertedor depende da hidrologia da bacia de drenagem e não da capacidade do
reservat6rio atender a uma dada demanda hídrica. Assim, seja para promover o
atendimento a uma demanda singular ou a várias demandas, o vertedor terá a
mesma dimensão e possivelmente o mesmo custo. Ao serem agregadas ao sistema
diversas demandas, o custo deste vertedor poderá ser rateado entre elas.
A segunda vantagem do uso múltiplo e integrado está nas economias de
escala captadas na implantação do sistema. Elas ocorrem quando os custos de
investimento, operação e manutenção por unidade da dimensão do projeto
diminuem com a dimensão total. Isso faz com que seja mais vantajosa a
construção de um projeto que atenda a vários usos do que se construir vários
projetos isolados que atendam a usos singulares. Esta vantagem é obtida em
função de outro tipo de compartilhamento decorrente da obteção de uma maior
produtividade do trabalho, por meio da especialização, da maior diluição dos
custos fixos que independem do número de usuários e de um maior poder de
barganha .com a aquisição de grandes quantidades de insumos. Como este efeito
decorre da escala maior do empreendimento, ele é denomindo economia de
escala.
Desvantagens do uso múltiplo integrado
As desvantagens do uso múltiplo e integrado dos recursos hídricos são de
caráter gerencial. O compartilhamento dos recursos hídricos por diversos
usuários deverá exigir o estabelecimento de regras operacionais
frcqüentemente complexas para que a apropriação da água seja realizada de
forma harmônica. Além disso haverá necessidade de centralização das decisões,
com a possibilidade de serem estabelecidas entidades multissetoriais de
grande porte e difícil administração. Em uma administração pública
randemente centralizada e organizada por setores econômicos, a constituição
deste tipo de entidade apresenta grandes dificuldades políticas e
nstitucionais.
Não obstante este aspecto, é importante frisar que o uso múltiplo dos
recursos hídricos não é uma opção que faz o planejador, mas uma realidade que
de enfrenta com o desenvolvimento econômico. A opção existente é a de
ntcgrar estes usos de uma forma harmônica, em que pese a complexidade da
udmlnistraçâo, ou deixá-Ias de uma forma desintegrada enfrentanto, como
conseqüência, conflitos entre os usuários comprometendo a eficiência do uso.
Diante das considerações prévias, conclui-se pela necessidade de se
thordnr com maiores dotuíhcs as definições e os conceitos relacionados com a
alIo dos recursos h(~doOd c propor algumas orientações para a atividade de
lllllneJlU11ol1to dOGtoH(('('III'Rlm, 1"10 pClIlllllrli introduzir em uma segunda parte
,lnllllN CIO I\dl,olru \111\1014 Inv-111M (1 1(',1.ImlN i\ atlvldudc de gorcnciamontc do
11 .11111m8 hC,hh'm 11I11J1 '111I'. llil 1"1111' 11111\1, ~t'll\lIl (~/lh()Ç',idll~ 'lR fnllllll/l C.l()H\ (lU"
'" IIl1vldllllr l'I~j~ ."11I111 "ILlIIIII'11I111 1111 11.
744 Hidrologia
19.5 Definições
A gestão de recursos hídricos é uma atividade analítica e criativa
voltada à formulação de princípios e diretrizes. ao preparo de documentos
orientadores e normativos, à estruturação de sistemas gerenciais e à tornada
de decisões que têm por objetivo final promover o inventário. uso, controle
proteção dos recursos hídricos. Fazem parte desta atividade os seguinte
elementos cuja definição foi parcialmente adaptada da ABRH (1986):
Política dos recursos hídricos: Trata-se do conjunto consistente d
princípios doutrinários que conformam as aspirações sociais e/ou
governamentais no que concerne à regulamentação ou modificação nos usos.
controle e proteção dos recursos hídricos.
Plano de recursos hídricos: Qualquer estudo prospectivo que busca, na 8111\
essência; adequar o uso, controle e o grau de proteção dos recursos hídric
às aspirações sociais e/ou governamentais expressas formal ou informalmente
em uma política de recursos hídricos, através da coordenação,
compatibilização, articulação e/ou projetos de intervenções. Obviamente, 1\
atividade de fazer tais planos é denominada Planejamento dos Recurso
Hídricos.
Gerenciamento dos recursos hídricos: Conjunto de ações governamentu
destinadas a regular o uso e o controle dos recursos hídricos e a avalia r 1\
conformidade da situação corrente com os princípios doutrinãrlo
estabelecidos pela política dos recursos hídricos.
As ações governamentais são refletidas através das leis, decrctoa,
normas e regulamentos vigentes. Como resultado dessas ações ficarã fixado 11
que é denominado modelo de gerenciamento ou de gestão dos recursos hídricoj,
entendido como a configuração administrativa adotada na organização do Bsuul«
2para gerir os recursos hídricos. Por exemplo, um modelo que vem sendl!
amplamente utilizado é o que adota a bacia hidrogrãfica como unidru]
administrativa ao contrário de serem adotadas unidades de caráter rn1(thll
como o Estado. Município. etc .
No Brasil. a lei específica para a gerenciamento dos recursos hídrlcu
o C6digo de Águas, estabelecido pela Lei 24.643 de 10 de Julho de 1') \1\
Existem vários instrumentos legais que detalham e disciplinam as atlvldlltl
do setor. Estes instrumentos legais são provenientes de um modulo til
gerenciamento de recursos hldricos orientado por tipos de uso o qu
estabelece freqücntcmcntc conflltos, suporpoeíçõca c 1\ d09111tlculncno tlu
legislação, cxlginõo, pO.111r)lO, IIpcd'clçOIlIlHlIltUII.
As (Il'liniçl'k~ Illlll·dlll(lll (lu fll~Htnu ti fl,llllllll'hlllll'lllo tll\ 1'l'('mnOIl 11(11111I'
propl'\ülll 1111111 (1IIbl'nlll111\~'nll (11tH' II~ 11IOMIIIlIN. 011111111"flllql\l'llItlIlIC\lIltl ONIII
Gestão dos recursos hídricos 745
palavras sejam tomadas como sinônimos. A gestão é considerada de forma ampla,
abrigando todas as atividades, incluindo o gerenciamento.Este é considerado
uma atividade de governo.
Sistema de gerenciamento dos recursos hídricos: Conjunto de organismos,
agências e instalações governamentais e privadas, estabelecidos com o
objetivo de executar a política dos recursos hídricos através do modelo de
gerenciamento dos recursos hídricos adotado e tendo por instrumento o
planejamento de recursos hídricos.
Existem diversas entidades federais, estaduais e municipais com
atribuições de aplicar os instrumentos legais vigentes no setor dos recursos
hfdricos brasileiro.. Esta estrutura organizacional e legal forma uma
administração confusa, desarticulada, organizada por usos, que dificulta o
uso múltiplo e integrado dos recursos hídricos, exigindo aprimoramentos.
Em resumo, a gestão dos recursos hídricos eficiente deve ser constituída
por uma política dos recursos hídricos, que estabelece as diretrizes gerais,
um modelo de gerenciamento, que estabelece a organização legal e
nstitucional e um sistema de gerenciamento, que reúne os instrumentos para o
preparo e execução do planejamento de recursos hídricos.
A necessidade de estudo e aperfeiçoamento da gestão dos recursos
hCdricos decorre da sua complexidade que deverá ser aumentada
ubstancialmente com as pressões que o futuro trará. Estas pressões serão
motivadas por diversas causas, algumas das quais são listadas a seguir:
Ooscnvolvimento econômíco: ocasionando o aumento das demandas de água, seja
mo bem intermediário, seja como bem de consumo final,
umento populacional: trazendo a necessidade direta de maior disponibilidade
dG água para consumo final e, de forma indireta, forçando um aumento de
nvcstimentos na economia para criação de empregos e, com isso, uma maior
dtmll\nda de água como bem intermediário.
Ir.XlJllllsão da agricultura: aumentando o consumo regional de água para
IdUl\çflo, com possíveis conflitos, quando a água é escassa e já existirem
I/111 ros usuários concorrentes.
reglouals: voltadas a reivindicações de uma maior eqüidade nas
nvolvlmonto econômico, qualidade ambiental e
,'!'OIJrROIl hfdricos no sentido do atendimento
~11.IIIIH~WI10('1111"'1111'1111' '11111 III\lr 111 .111I1I1I1Idll 0111o (lH 1ll('UI'IIO
746 Hidrologia
hídricos, por um lado, e possibilitam novas técnicas construtivas e de
utilização da água, modificando a situação vigente de apropriação destes
recursos; estas mudanças poderão permitir um aumento físico dos sistemas de
uso e controle da água e, conseqüentemente, um aumento da abrangência de seus
feitos, espacial e temporal.
Mudanças sociais: trazendo novos tipos de demandas ou modificando o padrão
das demandas correntes das águas.
Urbanização: acarretando uma maior concentração espacial das demandas sobn
s recursos hídricos e impermeabilizando o solo com o conseqüente agravamento
dus enchentes urbanas.
Demandas sociais: que venham ocasionar alterações nos padrões espaciais
temporais correntes do uso da água, bem como trazer novos tipos de demanda em
funcão da modificação dos hábitos e costumes da sociedade.
Demandas ambientais: que venham intensificar as exigências relacionadas com 11
qunlldudc ambiental, motivando a aprovação de legislação mais rigorosu
icluclonuda com o uso dos recursos hídricos e seus impactos ambientais.
hWtll·ttlzn do futuro: permeando todos estes fatores existe a incerteza sob:
qunudo, como e onde ocorrerão as pressões mencionadas, obrigando o plancjudoi
\ cxercltar imprecisos exercícios de futurologia.
A conseqüência é que diversos tipos de necessidade deverão 11<.'1
lH\h..lIlII~llIdos,um grande volume de recursos utilizados, grandes regiões serR"
I/'otlidns na atividade de gestão dos recursos hídricos. Com o conscqüentr
11I1I1t'nlo físico dos projetos e da região que será afetada, a atividade ti
plllllcjllr c de implantar os projetos levará mais tempo havendo a nccessldm!
do que as demandas futuras sejam previstas com antecedência suficiente 1111I1
que J)osst\m ser supridas quando ocorrerem.
11'.S.l IntordlsclpJlnarldade da gestão dos recursos hídrlcos
Gestão dos recursos hídricos 747
profissional atuante em uma equipe de gestão de recursos hrd. h.lllN I\·"hl\
conhecimentos básicos em diversas outras disciplinas que não uquclll que
domine. Por exemplo, um especialista na área dos recursos hídricos deve ter
uma boa base em diversas disciplinas técnicas e conhecimentos gerais d
diversas disciplinas classificadas como não-técnicas ou semitécnicas. Isso
permitirá a formação de equipes interdisciplinares de gestão dos recursos
hídricos.
Tabela 19.3 Disciplinas do Planejamento dos Recursos Hídricos
Não-técnicas Semitécnicas Técnicas
Domínio Principal
Economia Planejamento Hidráulica
Administração Meteorologia Hidrologia
Direito Occanologia Saneamento Ambiental
Ciências políticas Engenharia de Minas Saneamento Básico
Sociologia Geografia Tramento de Esgotos
Psicologia Biologia Estruturas Hidráulicas
Comunicação Botânica Erosão e Sedimentação
Zoologia
Piscicultura Domínio Conexo
Recreação Computação
Saúde pública Modelagem Matemática
Antropologia Análise numérica
Geologia Instrumentação
Agronomia Sensoriamento Remoto
Química Estatística
Ecologia Análise de Sistemas
t'),5.2 Princípios orientadores da gestão dos recursos hídrtcos
Os princípios orientadores da gestão racional do uso, controle e
IlIotcçllo dos recursos hídricos foram sintetizados por Vciga da Cunha et al,
II)HO):
I •. A avaliação dos bcncllcios para a coletividade resultantes da utilização
.\l\ ~Bl\l\ deve ter em conta as vãrias componentes da qualidade de vida: nível
dI. vlda, condições de vlda c qualidade do ambiente."
Jt~te prluolplo é auto-e xpllcntlvo. Os bcnofícios devem ser considerados
rlu 1'11I1111\ 1I11111l IIllIpll\ t.l lI\)ramnOIlIO,nUI termos (10 6Uilll oontrlbuiçOes à qualidade
alo v 11111. IHl'lo l!lVII l,11I \lllllll\ li 1\Ivol c t'(mlll~'l'IoR do vldn em ROJI\, dentro de
lia11111I111U1Ill\ lJIIllllkl\1I ,,'IU 1)llIl, "'" 11111\1111 l'l'lll 11111111(111111,h'lItl\<lt'ib" c cultura,
748 Hidrologia
que nível de vida, representado pela possibilidade de acesso à satisfação
social, pode ser atingido e que padrão mínimo deve ser alcançado
compulsoriamente. A inserção da qualidade ambiental reflete a íntima relação
entre a qualidade do ambiente e a satisfação social, no presente e no longo
prazo.
2 - "A unidade básica de gestão dos recursos hídricos deve ser a baciu
hidrográfica."
A bacia hidrográfica, através da rede de drenagem fluvial, integra
grande parte das relações causa-efeito que devem ser tratadas na gestão.
Embora existam outras unidades político-administrativas a serem consideradas,
como o municípios, Estados, regiões e países, estas unidades não apresentam
necessariamente o caráter integrador da bacia hidrográfica, o que tomaria 11
gestão parcial e ineficiente caso fossem adotadas.
3 - "A capacidade de autodepuração dos cursos de água deve ser considcrndu
como um recurso natural cuja utilização é legítima, devendo os bencfíolo
resultantes desta utilização reverter para a coletividade; a utilização do
ursos de água como meio receptor de efluentes rejeitados não deve, contudo,
provocar a rotura dos ciclos ecológicos que garantem os processos ri,
nntodcpuração."
transporte, diluição e depuração de efluentes já foi anteriorrncnn
ousldcrado um uso dos recursos hídricos. Os corpos de água têm Ulllil
1j111Cldndc de assimilação de resíduos, no entanto deve-se estabelecer 1\11I
lhulto "Ma este uso, sem o que haverá poluição e degradação de suas áSllJl
Uniu cnpacídade de assimilação deve ser adequadamente rateada entro ,I
uclcdndc, evitando o seu comprometimento unilateral. Por exemplo, uuu
ndl1Strla ao lançar seus efluentes em um rio poderá utilizar toda ~m
1I1'II\Cidade de assimilação, impedindo que outros usuários o façam, sem 11'"
rru a poluição. Esta capacidade deve ser rateada entre os pctonoln
UIlUlírios como um recurso natural depropriedade pública e, sendo assim, 1l~11
rntclo deve promover o máximo de satisfação para a sociedade.
ti
til
111
"A HilHlf1tI
1111110 t\IIIILI 11
hflhlulIH rlev
1111111111111\111
t-IIMltllll'1I1
11,"1111 "diJ dll
111'11
Gestão dos recursos hídricos 749
Este princípio amplia o anterior ao evidenciar que os aspectos
qualitativos são indissociáveis dos aspectos quantitativos da água. A
qualidade da água é estabelecida pela concentração de substâncias que nela
são diluídas. O aumento de concentração, e conseqüente comprometimento da
qualidade, pode acontecer tanto pelo aumento da emissão destas substâncias
quanto pela diminuição quantitativa do volume de água que a dilui. Ao serem
estabelecidas obras que afetem o regime quantitativo dos corpos de água as
suas qualidades serão também afetadas, devendo estas questões serem tratadas
de forma conjugada.
6 _" A gestão dos recursos hídricos deve processar-se no quadro do
ordenamento do territ6rio, visando a compatibilização, nos âmbitos regional,
nacional e internacional, do desenvolvimento econômico e social com os
valores do ambiente".
O ordenamento territorial estabelece a compatibilização entre a oferta e
a demanda de uso dos recursos ambientais, evitando conflitos e promovendo a
articulação das ações. O uso de um recurso ambiental raramente ocorre de
forma isolada. Para ficar apenas em um exemplo, a gestão dos recursos
hídricos tem repercursões na gestão do uso do solo, e vice-versa, Desta
forma, recursos hídricos não podem ser geridos de forma isolada, mas sua
gestão deve ser articulada no quadro da gestão de todos os recursos
nrnbientais, que é realizada pelo ordenarnento territorial.
7. "A crescente utilização dos recursos hídricos bem como a unidade destes em
cada bacia hidrográfica acentuam a incompatibilidade da gestão das águas com
lia propriedade privada."
Alguns recursos ambientais como o solo podem ser geridos com razoável
ficiência através da admissão da propriedade privada. Isto decorre de que a
muioria das conseqüências de uma boa ou má gestão, como por exemplo o grau de
lortilidade e de erosão decorrentes do manejo agrícola, é espacialmente
limitada, atingindo via de regra a pr6pria área onde se verifica, ou seja, a
propriedade agrícola. As perdas de fertilidade e de solo têm ocorrido, em
cerurs regiões de forma preocupante, mas os proprietários tendem a reagir
ulequadamente às campanhas de conservação, pois os prejuízos decorrentes de
tlho fazê-lo serão sofridos na sua maior parte por eles mesmos. Isto significa
(I\li: os efeitos colaterais ou, como foi previamente definido. as
xtcntnlldadcs negativas, silo pequenas. Já no caso dos recursos hídricos o
ulOll1110 não ocorre pelo fato de ser um recurso fluido e móvel. A poluição de um
I Ó um exemplo qllo 1ll0Sh'l. que nem sempre o seu causador é o que sofre suas
1llIlIoqUGnolulI.
Ilxllll~1l1 oc,I!I'l (l(!Ut'lllclll (11.0 IU'I4\UIIOI\ltlUl que 90 11 '{B"II fosse propriedade
lulvlilllt Qlllltl IlfOhll)llUl .k' lli ,ll\lli~q unI) ncoirorln, o JiI'oprlólt1rlo IIÔ constntur
t I'qlul~'~IJ l1od(lrlli nx I~ li 1\111 .1.'\1. 11I'11,"11111011 H'~'11I'l1IUHmt(1 !1m, proJn(:r.oN, N
750 Hidrologiu
entanto existem" enormes dificuldades para que esta tarefa seja realizada
devidamente. Inicialmente, para a constatação da poluição que somente pod
ser realizada visualmente quando atinge níveis elevados. Depois para 5
quantificã-la, a não ser usando-se de amostragem freqüente e exam
laboratoriais caros e inacessíveis a grande parte da população. Em seguida, o
problema da identificação dos poluidores, tarefa que exige uma fiscalização
permanente, incompatível de ser assumida por uma parte privada. Finalmento II
questão de responsabilização legal, que gera contenciosos que se arrastam por
vários anos, com custos inacessíveis. Ocorre neste caso dificuldad
insuperãveis de negociação e de responsabilidade legal entre as part
envolvidas, devido às dificuldades de identificação do problema e de SêU
causadores, e aos grandes custos e tempo necessários para o acerto entre 1\
partes. Diante disto, há uma tendência mundial em estabelecer a água como b01l1
público, de propriedade do Estado (União e suas divisões). Isto no Brasil
objeto. de dispositivo constitucional, como será visto adiante.
8 - "Todas as utilizações dos recursos hídricos, com exceção <111
correspondentes a captações diretas de água de caráter individual, parn Ií
satisfação de necessidades básicas, devem estar sujeitas a autorização dI!
Estado. "
Este princípio visa a assegurar na prática o exercício de propriedado Ilu
água pelo Estado e estabelece um instrumento importante de gestão, pcl ••
possibilidade de compatibilizar o uso à oferta dos recursos hídricos.
9 - "Para pôr em prática uma política de gestão das águas é' essonolnl
assegurar a participação das populações através de mecanismos dcvidamcun
institucionalizados."
A participação direta da sociedade nas decisões visa a estabelecer 11111
descentralização de decisões, a consideração de diversos pontos de ViRil. 11
gestão e um comprometimento consciente da população com as medidas que 80JIIU
implementadas. Este processo de participação pública é de dífícil imphmlll\'An
devido à falta de costume e à inexistência de mecanismos instituclouals (I\lU II
viabilizem. Uma das experiências de maior sucesso que tem sido dcscnvolvhh
é a criação de Comitês de Bacia Hidrogrãficas, que reúnem reprcscntnnua II
entidades públicas e privadas, de usuários e de associações comuulnírha,
interessados na gestão dos recursos hfdricos de uma bacia. A estes 0011111
são atribuídas funções de decisão sobre as medidas 11 serem implcrncrundn« 11111
promoção do uso. controle e conservação da ãgun na bnciu.
10 - "A autoridade em mlllérln d
ao Estudo".
11(1
1111(111, que 'I
me> d 111'1\1 1'1
Gestão dos recursos hídricos 751
autoridade de gestão. Este princípio estabelece portanto limitações à
participação da sociedade na gestão, justificada pela constatação de que
poderão existir interesses sobre os recursos hídricos de uma bacia que
cxtrapolam os interesses da população local. Exemplos disto são a energia
elétrica, que pode ser gerada em um rio para ser consumida em centros
distantes, e a proteção ambiental, que pode ser do interesse de toda
ociedade e das gerações futuras, e entrar em conflito com os interesses
locais. Estes exemplos mostram que a gestão dos recursos hídricos se
desenvolve através de um processo de negociação social, que pode envolver
parte substancial da sociedade atual e das gerações futuras. A autoridade de
estão deve pertencer ao Estado para permitir que esta negociação seja
realizada de forma legítima, considerando todos os interesses envolvidos das
orações presentes e das futuras.
11 - "Na. definição de uma política de gestão das águas devem participar todas
mtidades com intervenção nos problemas da água. Todavia, a responsabilidade
pela execução desta política deve competir a um único órgão que coordene, a
todos os níveis, a atuação daquelas entidades em relação aos problemas da
I)U8.tI
Sendo múltiplos os usos da água diversas entidades deverão participar de
lIU gestão. A articulação e harmonização dos diferentes interesses deve ser
(li, responsabilidade de um organismo único, viabilizando a necessária
oordenação, em todos os níveis de decisão existentes. Este organismo tem
do projetado na forma de Conselhos Nacionais ou Estaduais de Recursos
Ilfdricos, que reúnem representantes de ministérios e secretarias estaduais
rclncionados com a água e seus usuários. Maiores detalhes sobre este tipo de
dl.l$enho institucional serão apresentados no item que trata de sistemas de
rcnciamento dos recursos hídricos.
{1).5,3 Organização da atividade de planejamento
A parte da Gestão dos Recursos Hídricos que trata da realização de
t!lludos e preparo de documentos. com vistas a orientar e adequar as
urcrvcnçõcs humanas no setordos recursos hídricos, é o Planejamento.
Setor dos Recursos Hídricos é parte integrante do sistema econômico,
I'I'lllelpn.ndo com outros setores das atividades gerais e concorrendo por
uvcsttmcntos. Para ser entendido o seu espaço há necessidade de se conhecer,
I!Il'NlllO que sucintamente, suas ligações com o todo. A tabela 19.4 apresenta
1I1"lm8 setores econômicos, com SUlIS funções e elementos. O exemplo
IIIIIUSIlIlU\do 1110Rtrl\ 111111. f'1\~lUIII In\I'OI'II\t110 que é 11 supcrposição dos setores em
,Ir 1111,. f\Ulçc'ks. No l'II~O 111111'1'1111111\(111, ON /lC1Of~S do trunsportc C recursos
111dlillUH SO dllllN f1t'I~1I1 1111- 1\11vi 11liI ltl " IIN"tllIIl ~ IlI\V<lflnçl'l() íluvlnl. 09 ~CIOl'
di " I tllllllllfl. IitddillJ' ,. ",, 1111'11" 1t~lnll IUp(llpIlHIt;~1J 111I1'1 ""'PilOlo/! II,WdCl/1 110
752 Hidrollll&h
saneamento. Estas situações demonstram a dificuldade de se planejar dê '111111
estanque por setores da economia. Por outro lado, o planejamento intcgnuln I1
todos os setores seria de uma complexidade excessiva.
Tabela 19.4. Setores econômicos
SETOR FUNÇÃO ELEMENTOS COMPONENlUS
Rodovias
Transporte Estradas Vicinais
Rodoviário Estações Rodoviárias
Empresas de Transporte
Aeroportos
TRANSPORTE Transporte Aerovias
Aéreo Empresas Aéreas
Transporte Elementos comparáveis ao achllll
Urbano apresentados
Portos e vias Elementos comparáveis ao 60111"1
navegáveis apresentados
Esgotos
Saneamento Estações de Tratamento de 1!"}l1J1
Emissário de Esgotos
Dep6sito de Lodos
; -;
RECURSOS Abastecimento Reservat6rios
de Estações de Tratamento de Áj&IIl\
HÍDRlCOS Água Sistemas de Distribuição
Irrigação Elementos comparãvoís 110 IIdllUI
apresentados
: -
Outras funções Outros elementos
AGRICULTURA Etc ... ELe...
SAÚDE Etc ... ELe ...
EDUCAÇÃO Etc ... Eto ...-
OUTROS ssronns ELO ••• lit!) ...-
11
1111Nlfiodos recursos hídricos 753
Para viabilizar a realização do planejamento há necessidade de se
lluiltnr sua abrangência regional, sua abrangência setorial e seu
drllllhamento. Essas limitações são instrumentais, já que o planejamento de
111111\região poderá ter impacto em regiões vizinhas, assim como o planejamento
tlll setor dos recursos hídricos poderá ter efeitos no setor de transportes,
\11111.1 e outros. Diversas classes de documentos têm sido sugeridos para
IIIMIIIlizaro planejamento dos recursos hídricos. A tabela 19.5 apresenta uma
I hl~~lficação baseada na adotada pelo Conselho Americano de Recursos Hídricos
palu ELETROBRÁS.
Tabela 19.5. Categorias de Documentos
JURISDIÇÃO ISETOR IESTÁGIO
Internacional
Nacional
Regional interestadual
Multissetorial Política de Recursos Hídricos
Setorial (todas Plano de Recursos Hídricos
as funções) Inventário ou estudo de pré-
viabilidade.
Estudo de Viabilidade
Projeto Básico
Projeto Executivo
llstadual [Funcional
Regional intra-estadual
Local
,.' .Jurisdições de planejamento
Afi classes são auto-explicatívas. O Planejamento Internacional
IIV"lvôrla várias nações. O Planejamento Nacional terá uma abrangência
1111,,1111I111.Os Planejamentos Regionais poderão abranger uma região estendendo-
I pilr vários estados, caso em que seria interestadual ou uma região situada
III IIIH estado, quando seria intra-estadual, Finalmente, os planejamentos
Illdul!J c municipal envolvem, respectivamente, o Estado e o Município.
A divisão do planejamento em jurisdições atende a pr6pria divisão
11I11111\l()ondministrativade uma nação. Existem competências no âmbito federal,
11111111\1c municipal. Existem Superintendências Regionais Brasileiras para as
I •• Innft Norte (SUDAM) e Nordeste (SUDENE), organismos federais de
1IllIllIlI"llIel1locuja área de atuação abrange vários estados situados em uma
111""111rcglão. Existem legalmente cursos de água federais e estaduais, além de
1'""1 tio uso cuja outorga 6 feita pela União (geração de energia, por
IIlpl\l) O outros que podem ser feitos pelo Estado. Não fossem essas questões
11vhllo pOI' Jur1sdiçno Il\ml.lém "crJ" justifieada devido à necessidade de ser
111111111111\n UbrHlljGnoill cAl1ltOlul do plnncjernento, po r questões opcracionais.
11111111\(111111111IIOlld~l1oll1 110(I(m'lIlvo)vhncnlo do plnncjarncnto no ümbíto de
I, •• 11I(lro8I1tnC!lllt. I li11. l'"drlllllll'O OIICIIII\ftrur 11/1 CIIINIICdo PltUlc11lrncn 1
1111,,1, lu'hl jllll'I(",.'urllllll, .f 11\ IlIlu\ l'.lnduIII IId UIIIII 11II1101' I
754
Hidrologin
tipo de limitação, que enfatiza as inter-relações físicas entre os usos 011
água em uma bacia hidrográfíca, do que nas demais que são estabelecidas parn
otender exclusivamente a aspectos político-administrativos.
19.5.5 Planejamento quanto aos setores
No que diz respeito à setorização econômica, o planejamento pod
envolver vários setores, caso em que seria multissetorial. Quando sno
envolvidas todas as funções de um único setor da economia, trata-se de UIII
planejamento setorial, por exemplo, planejamento dos recursos hídricos,
Quando o planejamento se refere a uma função apenas, será funcional. POI
exemplo, o planejamento do setor de saneamento. O mais abrangente 6 \I
multissetorial. Ele abrange e coordena o planejamento de todos os setores dll
economia. Planos Nacionais de Desenvolvimento são produtos do planejamen 11I
multissetorial.
O Planejamento Setorial se dirige a dado setor econômico. Por exemplo, 11
setor dos recursos hídricos. Ele deverá abranger todas as funções do setor. li
Planejamento de Recursos Hídricos deverá considerar todos os usos e controlo
afetos aos recursos hídricos procurando a harmonização dessas atividades. Nno
existem exemplos brasileiros de Planejamento de Recursos Hídricos numa escnln
nacional. O Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica publicou 11111
documento com o título Plano Nacional de Recursos Hídricos (DNAEE,1985) qu
agrupou os diagn6sticos dos problemas de recursos hídricos nas principn
bacias hidrográficas brasileiras, sem apresentar propriamente um pltilill
completo, mas seu esboço preliminar. Podem ser encontrados alguns casos di
planejamento regional de recursos hídricos, geralmente afetos a uma dlitlll
bacia hidrográfica. Um exemplo antigo deste tipo de plano é o do Vale do dll
Jaguaribe (SUDENE, 1964).
O Planejamento Funcional se dirige a uma função do setor econôrnlcn
Devido à setorização institucional, que ocorre em vários países, c'll
planejamento é o mais comum. Existem no Brasil, relacionados com a ãrca dll
recursos hídricos, a política nacional de irrigação e planos nacionalR 111
energia elétrica, por exemplo, oriundos de uma gestão de natureza funclonnl
Podem ser encontrados também planejamentos estaduais dessas naturezas.
A necessidade de planejamento setorial de recursos hídricos é cvkleu«
diante dos conflitos neste setor, que têm-se tomado mais graves e011l I1
incremento dos usos. A oportunidade de um planejamento multissctorial tulv
não seja tão evidente à primeira vista, No entanto, deve ser cntcndl<h, 1\
íntima relação entre os recursos hfdricos e os setores como o de truIlA1Hllh
(hidrovias), saúde (saneamento), ngriculturn (Irdllllçl'lo), lII'1H11l11
(abastecimento,' saneamento, luzcr, ctc.) o enc •.~11I (hltll'oIÓtdoll). Nu
verdade, esta scpal'llçilo \.:111 SlJtorcA 6 1'0""1111110 1l1111A111\ (H'U'IIIl'l,IIÇnO 1)l)UIII'Il
adrnlnistrntlvu dc) quo do tllIlII cllvnxom H'I\I ,!11M IItlvldllllt)1I 111('11'111011 1\ "111111
lcstão dos recursos hídricos 755
11m. Há uma clara necessidade de coordenação entre as atividades envolvidas
que poderá ser obtida apenas com a interveniência do planejamento
multíssetorial.
Outra necessidade para este tipo de planejamento surge dos
mncrozoneamentcs regionais, entre estes o chamado Zoneamento Ecológico-
llconômico, a fim de que estabeleçam as vocações de cada região e promovam um
\1/10 sustentável dos seus recursos naturais. Os recursos hídricos são uns dos
oumponentes principais deste macrozoneamentoe, por isso, um Planejamento
Hl.lgional Multissetorial deve originar o documento mencionado.
1').5.6 Estágios de planejamento
É na categoria de estágios de planejamento que ocorrem as maiores
divergências entre as diversas classificações. As seguintes categorias são
[nopostas, agregando os estágios de planejamento do Conselho Americano de
I'!'i'ursos Hídricos com os da ELETROBRÁS :
l'ulítlca de recursos hídricos: Os propósitos de uma política é o
tubclecimentc de princípios doutrinários e diretrizes gerais de
I'lill1cjamento visando à coordenação das intervenções a serem implementadas. Os
uintcs itens devem ser abordados:
• definição das metas gerais e dos objetivos programáticos;
- estabelecimento de políticas de desenvolvimento, limites orçamentários
c prioridades;
• disseminação de guias programáticos; e
- avaliação da situação corrente, projeção de sua evolução e dos
resultados das decisões realizadas nesse estágio.
Trnta-se, portanto, de um estágio inicial de planejamento em que a visão
Ilul das demandas e potencialidades é mais relevante que detalhes sobre
I'IIIIIIIHC obras a implementar. Deverão ser consideradas em uma política as
111_ldhnlções de renda, população, recursos hídricos e o uso da terra, seja
111\pllllto de vista nacional ou regional. Por isso a Política deve ser dirigida
IIU l'l<lições de planejamento mais amplas como as regionais. estaduais e
1lllIlulIlIls.
(lI! seguintes elementos poderão constar em uma Política:
b um ponto de vista amplo;
le
IH'"lllO
756 Hidroloftll\
recomendação de metas e objetivos de planejamento;
recomendação de decisões políticas;
coordenação de prioridades;
revisão de programas existentes ou propostos para dar atendimento:
metas de planejamento;
compatibilização preliminar da Política de Recursos Hídricos C()11l11
Política Ambiental
proposta de Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Plano de enquadramento dos recursos hídricos: Este documento deve iden til 11'111
as necessidades e anseios sociais, os problemas regionais do setor dll
recursos hídricos ou de algumas de suas funções, executar avulln
preliminares sobre adequação dos recursos disponíveis para atende:
demandas, apresentar um inventário dos dados e informações básicas exlllll'lt\l:
e recomendar investigações para aquelas sub-regiões que requeiram 1111111
mais detalhadas. É também o momento adequado para realização dos estllllll_ ti
impacto ambiental de planejamento, que avaliem a compatibilização dos 1'\111111
comos Zoneamentos Ecol6gico-Econômicosououtros documentosrelacioruuh ,.' II11I
estabelecimento de restrições gerais à apropriação dos recursos IIlllhll'lIll1l
dentro de uma visão regional.
Como foi adiantado na caracterização acima, nesse e9111»1\I ti
planejamento a jurisdição costuma ser regional e não existe ,t1l1dli
consideração específica sobre projetos. Os ítens a seguir dOVl'rnl'
apresentados :
_ identificação geral dos problemas e necessidades;
_ listagem das alternativas possíveis para solução;
_ inventário dos recursos disponíveis e oportunidades II.l'IlI
desenvolvimento dos recursos hfdricos;
avaliação preliminar da adequação global dos recursos dIRJl(lllrV~\18 Pltlll
atender às demandas;
_ avaliação preliminar da adequação ambicntal do uso dos rCOIUlllIl!1
_ recomendação de investigações específicas il serem 1'011\17,1\(11,
A seguir silo Ilstados alguns elementos '\UO P
de cnqundrnrncnt
prell rulnnr d 1\
prulhllll\JIr"
Gestão dos 'recursos hídricos 757
- inventário do estado presente de desenvolvimento e apropriação dos
recursos hídricos;
inventário geral dos meios disponíveis para satisfação das
necessidades;
- avaliação preliminar das soluções alternativas para atendimento às
metas de planejamento;
- identificação de áreas-problema que necessitem atenção prioritária;
- recomendação de ações que possam ser executadas de imediato e daquelas
que necessitem de estudos complementares para serem consideradas.
De forma resumida a tônica desse estágio é dirigida ao inventário de.
uformações, meios disponíveis, soluções alternativas e áreas prioritãrias
pura ações imediatas. São recomendados estudos complementares sobre aspectos
relevantes a respeito dos quais existem informações insuficientes.
Inventário ou estudo de pré-viabilidade ou plano diretor: Este estágio de
planejamento consiste na avaliação das necessidades e anseios sociais, de uma
forma ainda geral, e de medidas alternativas de caráter estrutural e não
esrrutural para atender as metas de planejamento. Portanto, já há a
I'ollsideração específica de projetos, através das medidas estruturais e não-
truturais,
O inventário ou estudo de pré-viabilidade ou plano diretor constitui-se
Iml um guia para o detalhamento do estudo no estágio seguinte. Ele deverá.
rlentificar e recomendar projetos a serem executados por entidades federais,
tuduais, municipais e privadas. A ênfase deverá ser dirigida a estabelecer
cursos de ação a serem executados no futuro imediato, que se integrão às
pçõcs de ação que serão disponíveis no futuro a longo prazo. O estudo
[lrlgc-se à projetos e medidas de caráter localizado sobre uma região ou
11\l'i1i hidrográfica, já havendo nesse estágio uma seleção prévia daqueles mais
uIequudos com base em análises preliminares de custo-beneffclo e de Estudos
1111 Impacto Arnbiental de planejamento. As alternativas selecionadas serão
1I11111~lIdasem detalhe no estágio seguinte de planejamento.
s seguintes itens devem constar do Inventário ou Estudo de Pre-
Vlllbllidade ou Plano Diretor:
• avaliação geral das medidas alternativas de atendimento às metas e
objetivos de planejamento c de atendimento às restrições de caráter
umblcntnl;
rnbclcctrncnto do J'll lorldndcs ce atendimento a metas c objetivos bem
mo li Jlr()hlt.llll/l~II (1)(11tUllltllldos cspccCf1cns;
rt:t'tillll'lIdlll;nll .le) plllll'lIl~ 11 HCHIIII (.'xl'C\l111d()~ por uR~ncillR públiclls "
Illlvlldll
758
Hidrologia
Os seguintes elementos poderão constar do plano nesse estágio :
- estimativa das demandas hídricas e ambientais atuais e futuras;
- estimativa das disponibilidade hídrica e de solo;
- avaliação preliminar das alternativas de gercnciamento da quantidade e
qualidade de água;
- estimativas preliminares dos custos, benefícios e conseqüências de
medidas e projetos alternativos;
- comparação de alternativas;
- cogitação de ações a serem executadas de imediato e de projetos a
serem executados no futuro;
- recomendação de ações a executar de imediato e no futuro, incluindo 11
seleção de projetos e medidas a serem detalhados no estágio seguinte,
Estudo de Viabilidade: O propósito desse estágio é o de permitir a decisã
sobre quais projetos e medidas, estruturais e não estruturais, ser
executados, O detalhamento das análises deverá permitir estabelecer se uma
dada alternativa poderá ser implementada, a que custo, se existirão recurso,
rçamcntários para sua implementação (Análise Financeira), os propósito
usos que a alternativa atenderá e em que escala e, finalmente, 1\
onseqUências benéficas e adversas de sua implantação (análises econômicn
de lmpnctos ambientais ou sociais), Do quadro resultante será possível /I
ieccmcndaçüo da alternativa a ser implementada, sob ponto de vista técnico
('onllldo, todas as demais alternativas detalhadas deverão ser apresentadas 1111
()II/udo do forma que as decisões, a serem tomadas necessariamente na ,h'llll
ludfllulI, possam ratificar ou retificar de forma circunstanciada 1\
1'(l('O mend nçllo técnica,
Resumidamente, o estudo de viabilidade deverá analisar mcdidn
I!l'ojolos em detalhes suficientes para determinar se eles atenderão lill
IH'Opt1sl10S de forma consistente com as metas, objetivos e cril~1I11
JNlabclecidos de planejamento. Caso afirmativo, deverá ser verificado NO li,
lllt'cllcJns c projetos são viáveis sob qualquer ponto de vista, entre os quu
1Il'11I111I OS de engenharia,

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