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Resumo de História 14 03 2025 (pdf io)

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ingrid Lima

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CAPÍTULO A PRIMEIRA A1 GUERRA MUNDIAL 1. Um panorama da Grande Guerra A Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, é considerada um marco da história do século XX. Antes de conflito começar, na virada do século XX, havia um entusiasmo provocado pelas mudanças relativas à ciência, ao desenvolvimento industrial e à ausência de grandes conflitos militares. A experiência mostrou-se tão marcante que aqueles que viveram na época não conseguiam perceber a ligação entre a Grande Guerra e o passado imediato que levou a ela. A geração que viveu no período anterior à Guerra não entendia como um período de relativa paz teria levado a uma era marcada por tanta violência. o poder devastador da Guerra tomou uma proporção sem precedentes. Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos haviam passado pela Revolução Industrial, que aumentou a capacidade destrutiva das batalhas, pois os avanços tecnológicos, frutos da industrialização, foram aplicados na indústria bélica. Após a Guerra, quatro grandes impérios europeus deixaram de existir: Alemão, Russo, Austro-Húngaro e Assim mapa da Europa tornou-se outro. Além disso, ao envolver grandes potências coloniais, a Grande Guerra atingiu populações não europeias, tendo, portanto, uma dimensão mundial. Pode-se citar como exemplo o fato de indianos, canadenses e australianos terem lutado ao lado dos ingleses, além de haverem ocorrido batalhas no continente africano. As consequências de uma guerra de proporções globais levariam o mundo a questionar pensamento capitalista liberal, que permitiu a emergência do pior conflito visto até então. Para compreender toda a problemática da Primeira Guerra Mundial, Figura 1. o desenvolvimento urbanístico e vamos começar a estudar os antecedentes econômico foram interrompidos pela Grande Guerra. que levaram ao conflito.2. A Belle Époque A partir da segunda metade do século XIX, a Europa passou a viver um período de intenso crescimento Os efeitos da acelerada industrialização foram sentidos em diversas áreas, e a modernização se fazia presente na ampliação da produção de mercadorias, no au- mento da circulação de pessoas e na maior eficácia dos meios de transporte e de comunicação. No início do século XX, trens, motocicletas e automóveis diminuíam as distâncias e faziam o mundo parecer menor. Foram desenvolvidas novas tecnologias de comunicação, com destaque para a invenção do telefone e do telégrafo sem fio, que possibilitaram formas de comunicação mais rápidas e alcançando distâncias cada vez maiores. o crescimento urbano e a eletricidade alteravam a paisagem e a dinâmica das cidades. As mudanças culturais foram significativas e representaram novas percepções da realidade. As expressões artísticas do período, com destaque para os cabarés e a invenção do cinema, refletiam os valores burgueses e a formação de uma cultura urbana. Paris era considerada centro da cultura mundial. Esse conjunto de características gerava uma visão positiva EXPOSITION UNIVERSELLE sobre a economia capitalista e a sociedade europeia. Até a eclosão da Guerra, acreditava-se que a expansão econômica, o desen- volvimento da ciência e da tecnologia e a modernização seriam ilimitados. Tal otimismo refletia-se no modo de vida de muitas ATION BILLETS DE pessoas, marcando uma época de grande efervescência cultural. 25 REDUCTION Mai 1889 No entanto, toda essa euforia seria interrompida pela Guer- ra. "As luzes se apagam em toda a Europa. Não voltaremos a vê-las acender-se em nosso tempo de vida", disse Edward Grey, secretário das Relações Exteriores da Inglaterra. Era fim daquele mundo que os europeus conheciam. Figura 2. Cartaz convidando para exposição da Torre Eiffel um dos da cidade de Paris, foi erguida para a exposição de 1889, comemorativa do centenário da Revolução Francesa. Nessas exposições, eram apresentadas as grandes novidades tecnológicas do período da 30 Belle 3. Fatores para a guerra 3.1. As disputas imperialistas Para compreenden as razões que conduziram à Guerra, é preciso, inicialmente, ter uma noção de como era o cenário europeu e mundial às vésperas do conflito. A procura por mercados para os produtos industriais e áreas para investimento de capitais gerou a expansão imperialista, fazendo com que as potências europeias avançassem sobre os continentes africano e asiático e grandes impérios coloniais. A Inglaterra era a nação mais poderosa do mundo, a maior potência industrial e a que domi- nava comércio marítimo internacional. Possuía vastas áreas de domínio imperialista na Ásia como a Índia -, na Oceania, na África e na América, além de controlar territórios estratégicos para o comércio internacional, como as Ilhas Malvinas e Hong Kong. A força inglesa e a ausência de guerras significativas fizeram com que esse período ficasse conhecido como a Pax Britannica (Paz Britânica).Representação das áreas de dominação direta ou indireta da Inglaterra na segunda metade do século XIX N A Irlanda Hong Kong Honduras Bornéu Ilhas Salomão Serra Malásia Britânica Rodésia do Norte Sarawak Nova Guine Sul África do Sudoeste do Nova Ilhas Malvinas km População (1909) Superfície A Terra em 1909 1:77 1:94 População Superfície 23% 20% Grä-Bretanha Colônias Grä-Bretanha Colônias Império Britânico Gráfico 1. Os gráficos estabelecem uma comparação da população e do tamanho do território inglês com relação às suas colônias. A Inglaterra, entretanto, não estava sozinha, já que outras nações também estavam envol- vidas na disputa pelos mercados internacionais. A França havia se industrializado no século XIX e, desde 1830, iniciara sua expansão pelo norte da África. Muitas vezes, os interesses franceses se chocavam com os dos ingleses, na região, bem como com os dos alemães. A Alemanha era uma nação recém-formada. A Unificação Alemã foi completada em 1870 e deu origem ao Império Alemão, conhecido como II Reich. o principal líder do processo de formação desse Estado, Otto Von Bismarck, consolidou o processo de industrialização germânico, e, no início do século XX, a Alemanha era uma grande rival da Inglaterra no domínio da economia mundial. A força da economia alemã gerou tensões com a França e a Inglaterra pelo controle de áreas coloniais na essas tensões só não resultaram em uma guerra antes de 1914 devido a diversos tratados e acordos firmados entre esses países. Em geral, esses tratados dividiam A divisão do continente africano em 1912territórios na África como forma de N EUROPA amenizar as tensões entre os países Tunisia envolvidos na partilha. Em 1912, esses territórios já se encontravam ÁSIA quase completamente divididos entre Egito os europeus. Ocidental OCEANO Francesa Tibesti ATLANTICO Senegal Sudao As disputas imperialistas acir- Guine FR Daome Antigo raram as tensões entre as nações Serra Leoa Nigéria Egito Libéria Togo Abissinia europeias; desse modo, a busca Costa do Marfim Africa por áreas de dominação foi um Costa do Ouro Oriental Congo Britânica fator preponderante para o início da Africa OCEANO guerra. Com a África completamente Colônias de Portugal Oriental Alema partilhada, as rivalidades aumenta- Colônias da Espanha Colônias da Itália ram. Por fim, a industrialização dos Mocambique Países independentes EUA e do Japão, a partir da década ou associados Madagascar Sudoeste de 1870, e a consequente entrada Colônias da França Alemão desses dois países na corrida im- Colônias da Grä-Bretanha Orange Colônias da Alemanha União perialista acirraram ainda mais Africana 950 km Colônia belga essa competição. A Primeira Guerra estava próxima. Mapa 1. 3.2. Nacionalismo A origem do nacionalismo contemporâneo está na Revolução Francesa de 1789, uma vez que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão já defendia a soberania da nação: Art. o princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhum corpo ou indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO. In: Biblioteca Virtual de Direitos Humanos. USP. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores- Acesso em: 21 set. 2021. Com o fim da Revolução Francesa e a expansão de Napoleão sobre os outros países da Europa, sentimento nacionalista se espalhou pelo continente. Ao resistirem à presença francesa, os povos estavam lutando em defesa de um interesse maior: da sua nação. Com as Revoluções de 1830 e 1848, os ideais nacionalistas tomaram conta da Europa. Já nas décadas de 1860 e 1870, essas noções foram fundamentais para as unificações de Itália e Alemanha. No final do século XIX e início do século XX, portanto, nacionalismo era um fenômeno que havia se disseminado por toda a Europa. A ideia de se sentir pertencente a uma grande pátria, de defendê-la a qualquer custo, é um de seus princípios fundamentais. Acreditar que se faz parte de um grupo unificado que compartilha um conjunto de características comuns, como origem, língua, história e símbolos, também é traço desse sentimento.No período anterior à Primeira Guerra, alguns fatores acirravam ainda mais as questões nacionalistas. A Alemanha defendia a ideia do pangermanismo, ou seja, a união de todos os povos de origem germânica, como alemães e austríacos, em uma única nação. Na França, o nacionalismo sofreu um grande impulso após a derrota dos franceses na Guerra Franco-Prussiana. Essa guerra, que levou à unificação em 1871, ainda teve como consequência a perda da Alsácia-Lorena, região rica em ferro e carvão, para recém-formado Império Alemão. Dessa forma, sentimento de revanchismo francês em relação à Alemanha incentivava os nacionalistas daquele país. No leste da Europa, nacionalismo estava presente na defesa do pan-eslavismo pelo Império Russo, que era a favor da união dos povos de origem eslava. o interesse dos russos era sobre regiões do Leste Europeu, como a dos onde nacionalismo impulsionava algumas minorias a lutar por soberania. Povos como os sérvios e os bósnios lutavam pela formação de nações livres de interferência externa. A seguir, você verá a questão balcânica mais detalhadamente, pois ela foi um fator fundamental para início da Guerra. Figura 3. WEERTS, Jean-Joseph. França!! ou Alsácia e Lorena desesperadas. 1906. Óleo sobre tela, 170 cm 230 cm. Museu Lorraine de Nancy, França. Pintura representando a frustração dos franceses após a perda da Guerra Franco-Prussiana. Nele, as regiões da Alsácia-Lorena aparecem como figuras femininas que, agarradas à bandeira tricolor francesa, parecem implorar seu retorno à França. 3.3. A Paz Armada A Primeira Grande Guerra foi o principal conflito que ocorreu após a expansão da industrialização e provocou, entre outros fenômenos, desenvolvimento da tecnologia bélica, que se tornou um setor importante para as economias dos países europeus. Todavia, mesmo antes do início da Guerra, as nações europeias investiram na produção de armamentos, que fez aquele período ficar conhecido como Paz Armada. Os investimentos nesse setor provocaram o desenvolvimento de armas cada vez mais potentes e tinham como objetivo, junto à expansão do serviço militar obrigatório, a defesa do Estado em caso de alguma agressão externa. Assim, às vésperas do conflito, 19 milhões de soldados tomados pelo sentimento nacionalista estavam prontos para a luta, e os Estados europeus achavam-se armados para a guerra. Gastos das principais potências com defesa (em milhões de libras) Ano 1870 1880 1890 1900 1910 1914 Gastos 94 130 154 268 289 398 Tabela 1.gastos com defesa, às vésperas do conflito França 10% Inglaterra 13% Império Russo 39% Império Alemão 73% Tabela 2. 3.4. A política de alianças As rivalidades econômicas, avanço do nacionalismo e os investimentos na indústria de armamentos criaram uma situação extremamente tensa no continente. Essa situação levou os chefes políticos das nações europeias a buscarem apoio em caso de possíveis agressões de seus vizinhos. Assim, a política de alianças tentava estabelecer um novo equilíbrio entre as forças na Europa. início dessa política se deu ainda no século XIX, logo após a Unificação A iniciativa partiu de Bismarck, chanceler alemão, que, com objetivo de se proteger - principalmente da França, que foi a grande prejudicada com a unificação alemã -, iniciou uma aproximação com outros Estados europeus. Assim, em 1882, foi formada a Tríplice Aliança, composta pelos impérios Alemão e além da Itália. Diante do fortalecimento da Alemanha e do acirramento das disputas imperialistas entre França e Alemanha na região do Marrocos, surgiu a Entente Cordiale, aliança entre franceses e ingleses. Essa aproximação deu origem, em 1907, à Tríplice Entente, formada por Inglaterra, Rússia e França. A política das alianças deixou a situação ainda mais delicada, pois qualquer conflito entre duas nações podia se transformar em uma guerra de grandes proporções. Uma agressão a algum dos países pertencentes a uma das alianças levaria à entrada de seus parceiros no possível conflito. Por isso, dizia-se que a Europa era um barril de pólvora. Política de alianças Entente N (1907) e aliados Mar do Noruega Tríplice Aliança A Norte (1882) e Irlanda Maio 1915 Itália Dinamarca entra na Guerra, Bretanha mas do lado da Holanda Entente Estados neutros Países invadidos pelas forças da Imperio Alemanha e da Suica Austro-Hungaro Romenia Portugal Mar Negro Servia Espanha Bulgaria Montenegro OCEANO 60,29 Imperio Mar Turco 0 400 km Mapa 2. Representação do novo equilíbrio estabelecido na Europa, após a política de alianças.3.5. A questão balcânica Os em 1913 N Foram as disputas nacionalistas nos que A levaram ao início da Primeira Guerra. Até o século XIX, Império Austro-Hungaro quase toda essa região estava sob controle do Império Turco-Otomano, que se estendia também até Romênia Bósnia e Oriente Médio. Herzegovina No entanto, ainda nesse mesmo século, o Império Mar Montenegro Turco, surgido no final da Idade Média, dava sinais de Bulgária Negro fraqueza. Pouco a pouco, Estados foram conquistando Sérvia Mar Adriático Turco- sua independência, como a Grécia e a Sérvia. Já a Otomano Albânia Bósnia e Herzegovina foi formalmente anexada ao Império em 1908. Grécia A fragilidade dos turcos e a fragmentação de seu ÁSIA território transformavam os Bálcãs em uma região cobiçada por outros países. Além da que Mar queria aumentar seus domínios, a Rússia também tinha interesse em se expandir no local. Para conter 150 km o imperialismo austríaco na península, os russos incentivaram a autonomia dos povos balcânicos. Possessão do Império Mar Mapa 3. Balcânica, sudoeste Em resumo, existiam dois projetos para a região: da Europa. A Sérvia, orientada pelo pan-eslavismo, desejava formar um grande Estado eslavo nos a Grande Sérvia; para isso, precisava anexar a região da Bósnia e Herzegovina. Esse projeto possuía apoio da Rússia. A Áustria desejava se expandir pelos Bálcãs e formar uma monarquia tripla, envolvendo a Hungria e território balcânico. o estopim da Grande Guerra se deu com essas disputas. Em 28 de junho de 1914, herdeiro do trono austríaco, arquiduque Francisco Ferdinando, chegou a Sarajevo, capital da Bósnia, para divulgar o projeto da Áustria para a região. Nesse mesmo dia, o aristocrata foi assassinado por um estudante, Gavrilo Princip, a tiros de revólver. Gavrilo fazia parte de uma sociedade secreta chamada Mão Negra, que desejava a incorporação da Bósnia à Sérvia e resistia às pressões austríacas na região. A reação do Império Austro- foi imediata. Para os austríacos, não havia dúvidas de que os responsáveis pelo atentado haviam sido os sérvios. Sendo assim, no final de julho de 1914, o Império declarou guerra à Sérvia. Figura 4. BELTRAME, Achille. L'assassinio [...]. La Dome- nica del Corriere, 5-12 jul. 1914. il. A ilustração de Achille Beltrame representa Gavrilo Princip matando arquiduque Francisco Ferdinand da Áustria em Sarajevo.Mas como um conflito regional entre duas nações se transformou em uma guerra mundial? A resposta para essa pergunta vincula-se ao período anterior à Guerra: a política das alianças colaborou para que as nações da Europa fossem se envolvendo no conflito, uma a uma. A sucessão de eventos a seguir comprova esse fato. 28 de junho 28-29 de julho 1° de agosto Assassinato de A Áustria declara A Alemanha, Francisco Ferdinando guerra à Sérvia da Aústria, declara guerra à Rússia 1914 4 de agosto e França guerra ao Império Alemão) 23 de julho 29 de julho 3 de agosto Império envia Os exércitos russos se A Alemanha invade a Bélgica um ultimato à Sérvia mobilizam em defesa da Sérvia e declara guerra à França Figura 5. ENTENDI 4. o conflito Feinde. 4.1. Primeiras movimentações o início da guerra foi visto por muitos com certa euforia. A defesa da nação, influenciada pelo nacionalismo, foi saudada com entusiasmo. Em todos os Estados, o dever patriótico parecia estar acima de qualquer preocupação individual. A nação estava acima de todos. o trecho da obra Doutor Fausto, de Thomas Mann, descreve esse ambiente: Nessa Alemanha, não há como desmenti-lo, predominava sobretudo sentimento de enlevo, Figura 6. Franz Przybyla, nascido em Dresden entusiasmo histórico, alegria de pôr-se em marcha, em 1904, tinha 9 anos quando a guerra estourou e fez vários desenhos coloridos de dispensa dos afazeres cotidianos, libertação de uma generalizada inércia, que assim não podia eventos da guerra. Os desenhos representam continuar. Em quase todos se impunham a uma crônica da guerra, começando com jubilosa esperança no futuro, o apelo ao dever e à assassinato do herdeiro austríaco ao trono, virilidade, em suma, a sensação de presenciar-se Franz Ferdinand, e estendendo-se à Revolução uma festividade heroica. Russa, a paz com a Rússia em 1917 e armistício em 1918. Além disso, acreditava-se que a guerra seria rápida e que, até Natal de 1914, os soldados estariam de volta. Diziam que aquela era "a guerra para acabar com todas as guerras". No entanto, naquele mesmo ano, todo esse entusiasmo foi desfeito.Devido à política de alianças estabelecida antes da guerra, dois lados se PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL formaram na Europa. A Itália, no entanto, mudou de lado em 1915, aliando-se à Tríplice Entente em busca de territórios na Europa e Ainda em 1914, o Império Alemão se uniu ao Império Turco-Otomano VS devido aos interesses da Alemanha em construir POTENCIAS uma ferrovia ligando Berlim ENTENTE CENTRAIS. a Bagdá, território sob o Figura 7. A Primeira Guerra Mundial foi marcada pela domínio dos turcos. política das alianças. 4.2. Guerra de Movimento (1914-1915) Assim que foi declarada a guerra, a Alemanha colocou em ação um projeto que já existia desde período anterior a esse acontecimento, Plano Schlieffen. A estratégia consistia em formar duas frentes de ataque, uma em direção ao leste e outra para oeste da Europa. Os principais alvos seriam, nesse caso, a França e Império Russo. Para cada sete soldados enviados para front ocidental, um seria enviado para o oriental. Ao agir dessa forma, os militares alemães acreditavam em uma vitória sobre a França em no máximo quarenta dias. Confiavam também na vitória contra os russos, já que seu Exército era superior ao da Rússia. Foi na frente ocidental, no entanto, que a guerra foi decidida. Figura 8. Tropas avançam para combate com a França na frente ocidental.As expectativas iniciais de uma guerra rápida começaram a ser frustradas ainda em seu primeiro ano. A ofensiva alemã sobre a França, passando pela Bélgica, foi inicialmente bem-sucedida. o avanço sobre o território francês foi rápido, mas a intenção de dominar Paris não se tornou realidade. Na Batalha do Marne, os Figura 9. que levaram os soldados inimigos foram contidos pelos franceses, e soldados para a batalha de Marne e chamado Milagre do Marne impediu a queda da França ajudaram os franceses a vencerem diante da Alemanha. essa batalha contra os Nos Exército da Áustria também enfrentava dificuldades de avançar e submeter a Sérvia. A intenção dos austríacos era a de dominar esse Estado independente. Na frente oriental, as forças russas se mobilizaram de forma mais rápida do que a esperada pelos alemães. Esse fato, entretanto, não impediu a derrota da Rússia em grandes batalhas, como a de Tannenberg e a dos Lagos Masurianos, com perdas estimadas em 300 mil soldados. Principais batalhas da Primeira Guerra e a divisão entre Aliados e Potências Centrais N Noruega Triplice Entente, 1914 A Suécia Aliados pós-1914 Mar do Norte D Estados neutros Império Potências Centrais, 1914-18 Dinamarca Russo Bretanha Fronte ocidental, 1915-17 Holanda Extensão máxima do avanço Império das Potências Centrais Belgica Alemão Avanço russo máximo no oeste, 1914-15 Principais batalhas Império França Suica Itália Romênia Mar Negro Sérvia Espanha Montenegro Bulgária OCEANO Albânia Império Mar Grécia Turco 0 380 km Mapa 4. A África também sofreu as consequências das disputas travadas entre os países europeus. A maior parte do território africano estava sendo dominado, e as disputas territoriais ganharam um novo capítulo, com batalhas que resultaram na morte de milhares de africanos. A região dominada pelos alemães, a Togolândia, atual Togo, enfrentou uma guerra contra as tropas britânicas. Ela fazia parte das quatro colônias no continente. Os ingleses e franceses tinham interesse em tomar a região, investindo contra as tropas que a defendiam. Depois de algumas semanas após o início da guerra e da morte de milhares de africanos, a Alemanha perdeu controle desse território. No final do ano de 1914, ficou claro que a Guerra não terminaria tão cedo, uma vez que equilíbrio entre os Exércitos a levou a uma estagnação. Com a chegada do inverno, grandes túneis foram cavados para a proteção dos soldados. o conflito entrava na fase da Guerra de Trincheiras.Colônias em 1914 N A Colônias na África em 1914 Togolândia 0 660 km Mapa 5. mapa destaca, na cor verde, as colônias na África, em A região vermelha corresponde ao território da Togolândia, colônia 4.3. Guerra de Trincheiras (1915-1918) As trincheiras serviram de abrigo para os soldados na Guerra, que se tornava cada vez mais equilibrada devido às novas tecnologias bélicas. A invenção e aperfeiçoamento da metralhadora, por exemplo, tiveram papel importante para estabelecimento dessa estratégia. Um soldado com uma metralhadora era capaz de eliminar dezenas de inimigos que viessem em sua direção. A experiência nas trincheiras foi a mais traumática para os que lutaram na Primeira Guerra. Os terriveis relatos provam que as condições naqueles ambientes eram desumanas. Os combatentes tinham deconviver com os corpos de seus antigos companheiros mortos, já que auxílio nem sempre chegava. Ratos e piolhos também eram comuns nas trincheiras. A situação piorava quando chovia, em razão dos alagamentos. A lama e a sujeira, os gases tóxicos utilizados pelos inimigos e a convivência constante com a morte faziam parte do cotidiano naquele contexto. As trincheiras eram cercadas por arame farpado, sacos de areia e latas amarradas que serviam como alarme, caso algum inimigo se aproximasse. Entre as trincheiras, encontrava-se a chamada "terra de ninguém", áreas não dominadas que, em alguns casos, não separavam os inimigos por mais de 50 metros. Figura 10. Fotografia retratando as condições dos soldados nas trincheiras durante a Primeira Guerra. Nesse contexto, os avanços nas batalhas eram lentos e os territórios conquistados após cada investida eram pequenos, que tornava toda experiência ainda mais desgastante. Grandes ofensivas de ambos os lados fracassaram. Na Batalha de Verdun, iniciada em 1916, por exemplo, avanço alemão foi contido por franceses. Acredita-se de 500 mil soldados tenham sido mortos em quase um ano de combates. Foram utilizadas mais de 40 milhões de granadas, e as conquistas foram quase nulas. No front ocidental, os dois lados lutaram sem avanços significativos em uma faixa de 800 quilômetros, que ia desde norte da Europa até a A Austria havia conseguido algumas vitórias, como a da Batalha de Caporetto, contra os italianos, mas sem provocar grandes alte- rações no equilíbrio do conflito. o ano de 1917, no entanto, mudou os rumos da guerra. 4.4. o ano de 1917 Os Estados Unidos entraram na guerra em 1917, mesmo ano em que se iniciou a Revolução Bolchevique na Rússia. A entrada dos EUA se deveu, principalmente, a razões econômicas. Em janeiro de 1917, a Alema- nha declarou um bloqueio à Inglaterra. Essa medida significava que os navios e os submarinos alemães iriam afundar qualquer embarcação que estivesse se deslocando em direção à Inglaterra.Vale ressaltar que, mesmo antes de entrarem na guerra, os Estados Unidos forneciam merca- dorias para os inimigos da Alemanha. o afundamento de navios mercantes estadunidenses foi, portanto, decisivo para a entrada efetiva do país nos campos de batalha. Além disso, os esta- dunidenses também temiam perder os investimentos feitos nos países da Entente, caso estes fossem derrotados. A interceptação de uma mensagem dos alemães para o governo mexicano também apressou a entrada dos EUA na guerra. o Telegrama Zimmerman, como ficou conhe- cido, enviado por um ministro alemão ao seu embaixador no México, buscava estabelecer uma aliança entre os mexicanos e a Alemanha. Em troca de apoio, os alemães prometeram ao Méxi- CO terras no território dos Estados Unidos. Enquanto isso, a participação russa na guerra foi último golpe no abalado regime czarista. As perdas humanas e as crises social e econômica foram fundamentais para início do processo revolucionário. Em fevereiro de 1917, eclodiu a Revolução Menchevique. Apesar de derrubar regime dos czares, os revolucionários de fevereiro mantiveram a Rússia na guerra. Em outu- bro, os bolcheviques, comandados por Lênin, tomaram poder e retiraram país da guerra. Em 1918, foi assinado Tratado de Brest-Litovski entre Rússia e Império Alemão, retirando oficialmente país do conflito. A saída da Rússia da guerra significou, entretanto, a perda de parte do seu território para os alemães. 4.5. o fim da guerra A entrada dos Estados Unidos ao lado da Entente alterou cenário da guerra. As tropas estadunidenses entraram no conflito utilizando armamentos modernos e com militares bem treinados e motivados. Apesar do desgaste das tropas inglesas e francesas, a possibilidade de os Estados Unidos liderarem desfecho do conflito não era bem-vista. Os países da Entente temiam a redução de seu poder e influência na Europa, para tanto, investiram sua força máxima para ganhar a guerra. o resultado foi o fortalecimento da Entente na reta final da guerra. No dia 9 de novembro, estourou uma revolução em Berlim. o kaiser Guilherme II foi forçado a abdicar, e foi proclamada a República de Weimar. Em 11 de novembro, militares assinaram a rendição alemã em um vagão de trem na Floresta de Compiègne, na França. 5. Os tratados pós-guerra Ainda antes do fim da Primeira Guerra, começaram as negociações com o objetivo de restabelecer a ordem mundial, após quatro anos de conflito. Não havia, contudo, um consenso sobre como a paz deveria ser estabelecida. o presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, defendia que seu país havia entrado na luta para que fosse constituída uma paz duradoura e para garantir que novas guerras não ocorressem. Para que tal objetivo fosse garantido, seria necessário que alguns princípios fossem observados. Foram formulados, então, os "14 pontos de Wilson", com a intenção de estabelecer uma "paz sem vencedores".Inglaterra e França, envolvidas na guerra desde 1914, não aceitaram a proposta de Wilson, e, no lugar de uma "paz sem vencedores", foi determinada uma "paz punitiva". Em janeiro de 1919, foi assinado Tratado de Versalhes, reconhecendo a derrota Além disso, a Alemanha foi declarada a culpada pela guerra, devendo pagar por tal fato. Uma amostra do clima de revanchismo, mesmo após a Guerra, foi fato de o tratado ter sido assinado na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, mesmo local onde a França reconheceu a derrota no conflito que levou à unificação alemã no século XIX. As principais determinações do Tratado de Versalhes foram: A perda de um sétimo do território alemão: a Alsácia-Lorena foi retomada pela França, algumas regiões foram cedidas para a Bélgica, e chamado corredor polonês passou a dividir a Alemanha em duas partes separadas por territórios do recém-criado Estado da Polônia; Com as perdas territoriais, a Alemanha também "perdeu" um décimo de sua população; pagamento de uma indenização pelos prejuízos causados pela guerra com o valor inicial de 132 bilhões de marcos; Proibição da Anschluss, ou seja, ficava vetada a união entre os territórios da Alemanha e Áustria; Perda das colônias na África, Ásia e no Pacífico, que passaram para o controle da Inglaterra e da França; Desmilitarização da fronteira com a França; Limitações no Exército e na Marinha; A criação da Liga das Nações. o objetivo era a formação de uma associação entre os países para impedir a ocorrência de novas guerras. As disputas entre as nações deveriam ser resolvidas, portanto, de forma diplomática, e não violenta. Os Estados Unidos adotaram um posicionamento isolacionista e não participaram da associação, alegando que sua função estava no controle das tensões relativas aos países europeus, portanto não diziam respeito à política estadunidense. Apesar de ter fracassado, já que uma nova grande guerra se iniciou dezenove anos depois de sua criação, a Liga das Nações pode ser considerada primeiro passo para surgimento da ONU. Outros tratados também foram realizados pelos demais países derrotados na guerra. Por exemplo, Império foi desmembrado pelos tratados de Saint-Germain e de Trianon, dando origem à à Hungria, à Tchecoslováquia, à Iugoslávia e à Polônia. Já pelos tratados de Sevres e Lausanne, o Império Turco-Otomano perdeu controle sobre as regiões da Síria, do do Iraque e da Palestina. Observe as principais alterações na Europa, comparando os mapas de antes e depois da Grande Guerra: Europa antes do conflitoN Noruega Mar do Norte Irlanda Dinamarca Bretanha Russo Países Baixos OCEANO Luxemburgo Alemão Belgica Suica Austro-Hungaro Romênia Italia Mar Negro Servia Espanha Montenegro Bulgária Albânia Mar Mediterrâneo 0 350 km Mapa 6. Europa depois do conflito Finlândia N Noruega Suécia A Estônia Mar do Norte Letônia Irlanda Dinamarca Lituânia Grä- Bretanha Paises Baixos Rússia Bélgica Alemanha Polônia OCEANO ATLANTICO Luxemburgo Austria França Romênia Portugal Mar Negro Espanha Albânia Grécia Mar 0 350 km Mapa 7.6. Os reflexos da guerra A Primeira Guerra provocou alterações significativas no panorama político-social mundial, e seus reflexos extrapolaram os prejuízos e mortes causados pelas batalhas. Abalados pela guerra, os países europeus perderam domínio sobre a economia mundial, dando espaço para os Estados Unidos. Apesar de terem participado da guerra, os estadunidenses sofreram menos danos, pois não lutaram durante todo período e não tiveram seu território e indústria abalados diretamente. Surgia, portanto, uma nova potência. A influência cultural europeia sobre resto do mundo também foi reduzida, e os valores do eurocentrismo passaram a ser questionados. Razão, progresso e valorização da ciência foram colocados em dúvida depois de terem colaborado para uma guerra tão destrutiva. No campo social, uma mudança importante também ocorreu. A guerra matou aproximadamente 10 milhões de pessoas, a maioria homens entre 19 e 40 anos. Esse fato fez com que se tornasse necessária, ainda durante o conflito, a substituição da mão de obra masculina nas frentes de tra- balho. As mulheres entraram de vez no mundo das e, com o fim da guerra, essa situ- ação não se alterou. o papel feminino deixou de ser o de dona de casa, e, com isso, novas necessidades surgiram. o movimento feminis- ta também ganhou força na busca por direitos. Nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países, surgiram as sufragistas, que lutavam pelo direito ao voto da mulher. Figura 11. Reunião sufragista de 1908 no Caxton Hall. Tratava-se de um grupo de mulheres que faziam parte do movimento feminista e que lutaram pela igualdade de direitosCAPÍTULO A2 RUSSA 1. A Rússia no final do século XIX Até o final do século XIX, a Rússia conservava um modo de governo chamado czarismo, sendo governada por um czar (termo originário do título de Caesar, cedido a diversos imperadores romanos). Os czares eram líderes autoritários que muito se pareciam com os reis absolutistas, que fizeram parte da história europeia. Mantendo a tradição dos governos absolutistas, czarismo era muito ligado à nobreza, beneficiando essa pequena camada social sustentada com muito luxo e fartura, enquanto a maior parte do país era composta por camponeses que viviam em meio à grande miséria, tendo ainda que pagar pesados impostos. Tanto autoritarismo político dos czares quanto a desigualdade social registrada na Rússia seriam facilmente conservados durante a Idade Moderna (período que se estendeu entre os séculos XV e XVIII), afinal, época, continente europeu era dominado politicamente pela nobreza, que, por meio da força, fazia valer as suas vontades. Na passagem do século XVIII para XIX, entretanto, a Europa sofreu uma série de revoluções burguesas que desmontaram Antigo Regime, criando um alerta para governo russo. Vale lembrar que, em alguns casos, como na França, a queda dos reis absolutistas foi materializada por meio do assassinato das antigas lideranças políticas, a exemplo de XVI, que foi decapitado. Logo no início do século XIX, as elites intelectuais russas se inspiraram nos ideais liberais de caráter iluminista e nas revoluções burguesas, exigindo fim do regime czarista. Pressionados e temendo pelas suas próprias vidas, os czares que conviveram com aquelas agitações populares buscaram mesclar a repressão militar com algumas medidas que agradassem o povo - fim do trabalho servil, por exemplo. Dessa forma, os czares conseguiram manter ainda o regime político autoritário, que perdurou até início do século XX, quando quase toda a Europa era regida por governos liberais burgueses.Se essa sobrevida do czarismo representou uma vitória para a nobreza russa - que continuaria sendo sustentada pelo governo -, para os cofres públicos, ela representou um grande atraso, afinal, afastava a Rússia dos rumos da industrialização seguidos pelos demais países europeus. o resultado dessa situação pôde ser sentido com grande intensidade no começo do século XX, já que as poucas indústrias que lá existiam eram sustentadas por investidores de outros países, tais como Inglaterra e França. A dependência econômica da Rússia desagradava alguns setores mais progressistas do país, anunciando a proximidade de uma revolução. Figura 1. Palácio de Inverno usado pelos russos, localizado na cidade de São Petersburgo. 2. Ensaio Geral (Revolução de 1905) A fragilidade da Rússia foi anunciada para o mundo em 1905, quando ela perdeu uma guerra para Japão, país com quem disputava domínios coloniais no continente asiático. A derrota na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) representava uma humilhação para a Rússia, afinal, as proporções continentais do país são superiores às da pequena ilha do Japão. A diferença real entre os dois países estava nas estratégias políticas, pois, enquanto os russos se mantinham endividados sustentando uma corte parasitária e contavam com um Exército mal preparado com armamentos deficientes, os japoneses haviam organizado a Revolução Meiji, adotando reformas liberais e modernizantes, benéficas à indústria, à economia e, logo, ao seu Exército. A derrota russa ocorreu em um momento delicado para país, pois, ainda no final de 1904, a Rússia sofreu com um inverno rigoroso, acarretando uma grave crise de fome que afetou a vida de milhões de pessoas. Atribuindo esses problemas ao governo czarista, camponeses e operários se aliaram às elites intelectuais, reaquecendo as discussões políticas no país. Foi nesse contexto, portanto, que as ruas das principais cidades russas foram tomadas por multidões, que, por meio de protestos e greves, clamavam contra o autoritarismo do governo, época representado pelo czar Nicolau II.

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