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Modelo de Artigo publicado na Revista do MP

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Prévia do material em texto

279
Bruno Rossi Doná*
A POSSIBILIDADE JURÍDICA DE ADOÇÃO 
POR CASAIS HOMOAFETIVOS
ThE lEGAl PoSSiBiliTy oF ADoPTion 
By hoMoSExUAl CoUPlES
lA PoSiBiliDADE JURíDiCA DE ADoPCión 
PoR PAREJAS hoMoAFETiVAS
Resumo: 
O presente estudo tem como escopo primordial fazer uma análise
sobre a possibilidade jurídica e a viabilidade social da adoção de
crianças e adolescentes por casais homoafetivos. Nessa esteira,
as fontes de pesquisa utilizadas foram basicamente as obras lista-
das nas referências e jurisprudências dos tribunais pátrios, sobre-
tudo os recentes posicionamentos firmados pelo Colendo Superior
Tribunal de Justiça. Desse modo, fez-se um estudo doutrinário e
jurisprudencial, com amparo no ordenamento jurídico pátrio, sobre
a possibilidade ou não de casais homoafetivos poderem adotar,
chegando-se a conclusão, ao final do trabalho, de que referida
medida é possível e socialmente recomendável. 
Abstract:
This article has the main goal of making an analysis of the legal pos-
sibility and social viability of the adoption of children and adolescents
by homosexual couples. On this way, the research sources used were
basically the works listed in the references and court decisions of their
ancestors, especially recent placements signed by the Superior Court.
Thus, it has been done a study of doctrine and jurisprudence, in re-
liance on the national legal system, about whether or not homosexual
couples are able to adopt, reaching completion at the end of the work,
that this measure is possible and socially recommended.
* Especializado em Direito Civil e Processual Civil pela UCDB/CPC Marcato. Espe-
cializando Legal Law Master em Direito Empresarial pela FGV/MMurad. Bacharel
em Direito pela UFES. Assessor Jurídico na Procuradoria Criminal do MP-ES. 
Resumen:
El presente estudio busca hacer un análisis sobre la posibilidad ju-
rídica y la viabilidad social de adopción de niños y adolescentes por
parejas homoafectivas. En ese sentido, las fuentes de investigación
utilizadas fueron básicamente las obras listadas en las referencias
y jurisprudencias de tribunales pátrios, especialmente los recientes
posicionamientos firmados por el Colendo Superior Tribunal de Jus-
ticia. De esa manera, se hizo un estudio doctrinario y jurispruden-
cial, con base en el ordenamiento jurídico pátrio, sobre la posibilidad
o no de parejas homoafectivas puedan adoptar, llegándose a la
conclusión, al final de este trabajo, de que referida medida es posi-
ble y socialmente recomendable.
Palavras-chaves:
Adoção, Possibilidade jurídica, Casais homoafetivos.
Keywords:
Adoption, Legal Possibility, Homosexual Couples.
Palabras clave:
Adopción, Posibilidad jurídica, Parejas homoafectivas.
INTRODUÇÃO
A possibilidade jurídica de adoção por casais homoafetivos
é um tema bastante atual, polêmico e de grande repercussão social,
tendo sido alvo de vários estudos dirigidos por parte dos estudiosos
pátrios, não havendo, portanto, que se falar em posicionamento pa-
cificado sobre tal temática.
Desse modo, o presente estudo pretende analisar referido
tema, de modo a enfocar os estudos doutrinários, nos posiciona-
mentos jurisprudenciais e no ordenamento jurídico pátrio pertinentes
ao assunto, a fim de se chegar a uma conclusão pela possibilidade
ou impossibilidade de haver a adoção em comento.
280
Conforme mencionado anteriormente, referido tema é bas-
tante polêmico, pois não envolve apenas discussões sobre os contor-
nos jurídicos que permeiam o tema, mas também questões filosóficas
e religiosas, que não serão aprofundadas no estudo em tela.
Assim, diante da grande repercussão jurídica e dos efeitos
práticos que tal tema reflete, se passa agora a analisá-lo mais
detidamente.
ASPECTOS GERAIS DA FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍ-
DICO BRASILEIRO
A família é um dos institutos mais tradicionais da história
da humanidade, sendo um dos pontos fundamentais de qualquer
corpo social.
Em termos conceituais, interessante se revela a lição de
Arx Tourino (1995, p. 41), para quem
o conceito de família pode ser analisado sob duas acepções:
ampla e restrita. no primeiro sentido, a família é o conjunto de
todas as pessoas, ligadas pelos laços do parentesco, com des-
cendência comum, englobando, também, os afins – tios, primos,
sobrinhos e outros. É a família distinguida pelo sobrenome: fa-
mília Santos, Silva, Costa, Guimarães e por aí afora, neste
grande país. Esse é o mais amplo sentido da palavra. na acep-
ção restrita, família abrange os pais e os filhos, um dos pais e
os filhos, o homem e a mulher em união estável, ou apenas ir-
mãos... É na acepção stricto sensu que mais se utiliza o termo
família, principalmente do ângulo o jus positum...
Já no tocante à proteção legislativa, a família ganhou im-
portante destaque na Constituição da República Federativa do
Brasil (CF) de 1988, estando regulada no Capítulo Vii de tal corpo
normativo. 
Com efeito, o art. 227 da Carta Magna estatui que “a fa-
mília, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”, ou
seja, nota-se que a família é tratada como um dos alicerces do
meio social, o que revela sua grande importância.
281
há de se destacar também que o novo Código Civil de
2002, a exemplo do código anterior, possui livro exclusivo para tra-
tar do Direito de Família, o que mais uma vez demonstra a gran-
deza de tal instituto.
Retornando à análise da família na Constituição Federal
(CF), vislumbra-se claramente que esta elenca a existência de três
modelos/espécies de entidades familiares, quais sejam:
- a constituída pelo casamento civil ou religioso com efeitos civis
(Art. 226, §§ 1º e 2º);
- a constituída pela união estável entre o homem e a mulher,
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento (Art. 226, §
3º);
- a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descen-
dentes, chamada de família monoparental (Art. 226, § 4º).
Aqui, analisaremos um pouco mais detidamente o instituto
da união estável, que interessa diretamente ao estudo que ora se
pretende fazer.
União Estável: conceito e regulamentação
Conforme breve exposição anterior, o art. 226, § 3º, da
CF, prevê expressamente o instituto da união estável, afirmando
que o mesmo é caracterizado como espécie de entidade familiar.
Pode-se conceituar a união estável, em apertada síntese,
como sendo a união prolongada entre o homem e a mulher, sem
que haja casamento entre ambos.
Pois bem, desde o advento da CF de 1988, que previu ex-
pressamente a união estável, passaram-se vários anos sem que
tenha havido regulamentação específica de tal instituto, eis que a
lei Maior apenas concebeu a existência do mesmo, deixando a
cargo do legislador infraconstitucional a posterior regulamentação.
nesse passo, somente em 1994 surgiu a primeira lei que
tratou do assunto, qual seja, lei n. 8.971. Referida lei conceituou
como “companheiros” a mulher e o homem que mantinham união
comprovada, na qualidade de solteiros, separados judicialmente,
divorciados ou viúvos, por mais de cinco anos, ou com prole.
282
Embora tal lei tenha sido uma inovação na regulamenta-
ção da união estável, sobretudo por disciplinar o direito a alimentos
e à sucessão, deixou muito a desejar, sobretudo em razão do tí-
mido tratamento dispensado a referido instituto.
Diante das várias críticas, em 1996 foi promulgada a lei
n. 9.278, que também tratou do assunto, trazendo significativas
mudanças, tais como alteração do conceito e omissão em relação
aos requisitos de natureza pessoal, tempo mínimo de convivência
e existência de prole.
nessa toada, o art. 1º conceituou a união estável como sendo
“a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma
mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família”. Trouxe
também disposições em relação ao direito sucessório e alimentos.
Todavia, ambasas leis supra elencadas foram revogadas
com o advento do Código Civil de 2002 (CC), que passou a tratar
do assunto em título próprio (Título iii), situado dentro do livro de
Direito da Família, mais precisamente nos artigos 1.723 a 1.727.
no intuito de melhor analisar o instituto ora em cotejo, ne-
cessário se faz transcrever abaixo o artigo do Código Civil que con-
ceitua a união estável:
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável
entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública,
contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de consti-
tuição de família.
nota-se assim que o Código Civil elenca cinco requisitos
básicos para que haja a caracterização da união estável, cha-
mando a atenção a diversidade de sexos, ou seja, pelo teor literal
da lei a união estável só poderia ser reconhecida, em tese, entre
homem e mulher.
União estável homoafetiva
Conforme visto anteriormente, o art. 1.723 do Código Civil
de 2002, amparado pela CF de 1988, elenca a diversidade de sexo
283
como um dos requisitos impostos para que haja a caracterização
da união estável.
lastreada em tal dispositivo, bem como no § 3º do art. 226
da CF, grande parte da doutrina pátria entende como sendo pos-
sível o reconhecimento de união estável apenas entre homem e
mulher, o que consequentemente exclui a possibilidade de reco-
nhecimento de união estável entre pessoas do mesmo sexo.
À guisa de exemplificação, esse é o posicionamento de
Álvaro Villaça Azevedo (2003, p. 203), para quem
Desde que foram conferidos efeitos ao concubinato, até o ad-
vento da Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal, sempre a
Jurisprudência brasileira teve em mira o par andrógino, o
homem e a mulher. Com a Constituição Federal, de 5-10-1988,
ficou bem claro esse posicionamento, de só reconhecer, como
entidade familiar, a união estável entre o homem e a mulher,
conforme o claríssimo enunciado do § 3º do seu art. 226.
Todavia, esse posicionamento não pode prosperar,
consoante o que será adiante esposado.
Com efeito, os dispositivos transcritos limitam-se a esta-
belecer a possibilidade de união estável entre pessoas de sexo di-
ferentes que preencham as condições impostas pela lei, que são,
basicamente, convivência pública, duradoura e contínua.
Todavia, os dispositivos comentados não criam nenhuma
restrição à eventual união entre duas mulheres ou dois homens.
nesse passo, calha ressaltar que o objetivo da lei é o de
conferir aos companheiros direitos e deveres elencados no orde-
namento jurídico, não havendo qualquer proibição expressa no
sentido de que esses efeitos não alcançam uniões entre pessoas
do mesmo sexo.
Verifica-se, assim, que o legislador não se valeu de expres-
são restritiva que pudesse ensejar a vedação expressa da união entre
pessoas do mesmo sexo, razão pela qual se pode afirmar tranquila-
mente que tal matéria ainda não foi expressamente regulamentada.
Diante de tal circunstância, conclui-se que existe lacuna
na legislação. Como se sabe, a lacuna existe na lei, e não no or-
denamento jurídico, razão pela qual é possível a integração mediante
284
o uso da analogia, objetivando alcançar casos não expressamente
contemplados, mas cuja essência coincida com outros versados
pelo legislador.
nesse diapasão, vale colacionar a doutrina de Caio Mário
da Silva Pereira (2004, p. 72), para quem
A analogia consiste no processo lógico pelo qual o aplicador do
direito estende o preceito legal aos casos não diretamente com-
preendidos em seu dispositivo. Pesquisa a vontade da lei, para
leva-lás às hipóteses que a literalidade de seu texto não havia
mencionado.
Vale ressaltar ainda que o julgador não pode eximir-se de
prestar a jurisdição sob o argumento de que não há previsão legal
sobre uma determinada matéria.
Versando acerca da prestação jurisdicional, aduz com a
habitual proficiência Maria Berenice Dias (2003, p. 11-12) que “A
falta de previsão específica nos regramentos legislativos não pode
servir de justificativa para negar prestação jurisdicional ou ser in-
vocada como motivo para deixar de reconhecer a existência de di-
reito merecedor de tutela”.
Destarte, a analogia, prevista no art. 4º da lei de introdu-
ção ao Código Civil, se revela como um importante mecanismo
que o julgador pode se utilizar para integrar a norma jurídica nos
casos de omissão.
necessário se faz aguçar que no Colendo Superior Tribu-
nal de Justiça já há precedentes em que, embora não se tenha re-
conhecido expressamente a união estável homoafetiva,
considerou-a análoga à união entre pessoas de sexos diferentes,
surtindo os devidos efeitos jurídicos. observe a seguir trecho do
REsp 1.026.981/RJ: 
Direito civil. Previdência privada. Benefícios. Complementação.
Pensão post mortem. União entre pessoas do mesmo sexo.
Princípios fundamentais. Emprego de analogia para suprir la-
cuna legislativa. necessidade de demonstração inequívoca da
presença dos elementos essenciais à caracterização da união
estável, com a evidente exceção da diversidade de sexos. igual-
dade de condições entre beneficiários.
285
[...]
Especificamente quanto ao tema em foco, é de ser atribuída
normatividade idêntica à da união estável ao relacionamento
afetivo entre pessoas do mesmo sexo, com os efeitos jurídicos
daí derivados, evitando-se que, por conta do preconceito, sejam
suprimidos direitos fundamentais das pessoas envolvidas.
- o manejo da analogia frente à lacuna da lei é perfeitamente
aceitável para alavancar, como entidade familiar, na mais pura
acepção da igualdade jurídica, as uniões de afeto entre pessoas
do mesmo sexo. Para ensejar o reconhecimento, como entida-
des familiares, de referidas uniões patenteadas pela vida social
entre parceiros homossexuais, é de rigor a demonstração ine-
quívoca da presença dos elementos essenciais à caracterização
da união estável, coma a evidente exceção da diversidade de
sexos.
- Demonstrada a convivência, entre duas pessoas do mesmo
sexo, pública, contínua e duradoura, estabelecida com o obje-
tivo de constituição de família, haverá, por conseqüência, o re-
conhecimento de tal união como entidade familiar, com a
respectiva atribuição dos efeitos jurídicos dela advindos. [...]
(REsp 1.026.981/RJ, Rel. Ministra nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 04/02/2010, DJ de 23/02/2010)
 Ademais, no julgamento do REsp 820.475/RJ, DJ de
11/05/2009, o STJ entendeu pela possibilidade jurídica do pedido
de declaração de união estável formulado por casal homossexual,
o que só reforça a plena possibilidade de se aplicar analogica-
mente às uniões entre pessoas do mesmo sexo o regramento exis-
tente da união estável, eis que são situações completamente
análogas.
o Supremo Tribunal Federal, por intermédio do Ministro
Celso de Mello, quando da análise do pleito formulado na MC na
ADin 3.300/DF, DJ de 09/02/2006, se manifestou no sentido de
que há “necessidade de se atribuir verdadeiro estatuto de cidada-
nia às uniões homoafetivas.”.
Por fim, perfeitamente possível nos afigura a possibilidade
de reconhecimento da união estável homoafetiva, ou, ao menos,
a aplicação analógica do regramento da união estável à mesma.
286
ADOÇÃO
Conceito e características gerais
Antes de adentrarmos na análise dos requisitos legais da
adoção, imperioso se faz tecermos breve análise conceitual do
termo.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 328), “Ado-
ção é o ato jurídico solene pelo qual alguém recebe em sua família,
na qualidade de filho, pessoa a ela estranha”.
Pois bem, no ordenamento jurídico pátrio, a Constituição
Federal de 1988 deu grande destaque aos direitos das crianças e
adolescentes, destacando ao lado deles o instituto da adoção, con-
soante pode ser observado da leitura do art. 227, caput, e de seu
§ 5º, verbis:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegu-
rar à criança, ao adolescentee ao jovem, com absoluta priori-
dade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de co-
locá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
[...]
§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por
parte de estrangeiros.
no plano infraconstitucional, ficou a cargo do Estatuto da
Criança e do Adolescente -ECA- (lei n. 8.069/1990), juntamente
com o Código Civil, disciplinar a adoção no Brasil.
Sob o aspecto social, a adoção cumpre importante papel,
pois faz com que crianças e adolescentes que não possuam famí-
lia, quer seja porque foram abandonados por seus pais ou porque
estes morreram, quer seja por algum outro motivo, sejam adotadas
e inseridas em novas famílias, onde terão todo o apoio e afeto ne-
cessário para se desenvolver adequadamente no meio social.
287
Ademais, a adoção faz com que o adotando tenha sua
dignidade plenamente atendida e respeitada, o que constitui um
dos fundamentos primordiais da República Federativa do Brasil
(art. 1º, iii, da CF), bem como ajuda a construir uma sociedade
mais justa e solidária, além de diminuir a pobreza e promover o
bem dos mesmos, sendo estes objetivos da República em que vi-
vemos (art. 3º, i, iii e iV, da CF).
Conclui-se, assim, que a adoção é um instituto que traz
grandes vantagens para a sociedade brasileira, pois faz com que
crianças e adolescentes que geralmente estão à margem da so-
ciedade, sejam inseridas em novas famílias, e, com isso, passem
a ter melhores condições de desenvolvimento e crescimento como
seres humanos.
Requisitos básicos para a adoção
Visto em linhas gerais o que é o instituto da adoção, bem
como sua importância na sociedade como um todo, passa-se
agora a analisar quais são os requisitos básicos impostos pelo or-
denamento jurídico para que esta se concretize.
Conforme brevemente exposto alhures, o ECA disciplina,
dentre outros institutos, quais são os requisitos para que haja o de-
ferimento de um pedido de adoção de uma criança ou adolescente.
importante ressaltar que vários dispositivos do ECA foram
recentemente alterados pela lei n. 12.010/2009, sendo ainda que
tal lei revogou a maioria dos dispositivos do Código Civil de 2002
que tratavam da adoção.
nessa toada, o art. 42 do ECA elenca os requisitos neces-
sários para que possa haver a adoção, razão pela qual se torna
imprescindível sua transcrição na íntegra, verbis:
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, inde-
pendentemente do estado civil. (Redação dada pela lei n.
12.010, de 2009) Vigência
§ 1º não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
adotando.
288
§ 2º Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes
sejam casados civilmente ou mantenham união estável, com-
provada a estabilidade da família. (Redação dada pela lei n.
12.010, de 2009) Vigência
§ 3º o adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
velho do que o adotando.
§ 4º os divorciados, os judicialmente separados e os ex-com-
panheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem
sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de
convivência tenha sido iniciado na constância do período de
convivência e que seja comprovada a existência de vínculos de
afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda, que
justifiquem a excepcionalidade da concessão. (Redação dada
pela lei n. 12.010, de 2009) Vigência
§ 5º nos casos do § 4º deste artigo, desde que demonstrado
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda com-
partilhada, conforme previsto no art. 1.584 da lei no 10.406, de
10 de janeiro de 2002 - Código Civil. (Redação dada pela lei n.
12.010, de 2009) Vigência 
§ 6º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após ine-
quívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
procedimento, antes de prolatada a sentença.(incluído pela lei
n. 12.010, de 2009) Vigência
Da análise do dispositivo anteriormente transcrito, verifica-
se que, basicamente, pode adotar a pessoa que tenha mais de 18
(dezoito) anos, não seja ascendente ou irmão do adotando e seja
pelo menos 16 (dezesseis) anos mais velho que este.
no caso de haver adoção conjunta, os adotantes devem
ser casados civilmente ou manter união estável.
Analisados os requisitos primordiais para que haja a adoção,
passa-se a seguir a analisar o objeto principal do presente estudo,
qual seja, se é possível ou não a adoção por casais homoafetivos.
Da possibilidade jurídica de adoção por casais homoafetivos
Chega-se agora ao ponto crucial do presente artigo, qual
seja, analisar, sobretudo à luz do ordenamento jurídico pátrio, se
é possível ou não um casal homossexual praticar a adoção.
289
nesse passo, há de se dizer que a corrente predominan-
temente majoritária entende ser impossível tal ato jurídico de ado-
ção por casais homoafetivos, sustentando para tanto que, para
haver adoção conjunta, é imprescindível que as partes sejam ca-
sadas ou estejam em união estável, a teor do que dispõe o art. 42,
§ 2º do ECA.
Assim, como o art. 226, § 3º da CF, estabelece que a
união estável se constitui entre homem e mulher, tal corrente
afirma que não é possível o reconhecimento de união estável entre
pessoas do mesmo sexo, o que por via reflexa acarreta na impos-
sibilidade de adoção por parte das mesmas.
Todavia, referido posicionamento não parece ser o mais
adequado, eis que, consoante visto alhures, não há no ordena-
mento jurídico nacional nenhuma lei ou dispositivo que vede ex-
pressamente a adoção por casais homoafetivos. no mesmo
sentido entende Sylvia Mendonça do Amaral (2003, p. 79).
nessa toada, há de ser feita aplicação analógica do insti-
tuto da união estável às uniões homoafetivas, desde que estas
possuam os mesmos requisitos exigidos para que haja a caracte-
rização da união estável convencional, com exceção, é claro, da
diversidade de sexos.
Ademais calha registrar que no direito privado há de ser
observado o princípio da legalidade, que para os particulares sig-
nifica poder fazer tudo o que quiserem, desde que não seja ex-
pressamente vedado por lei, sendo que, como visto, a adoção por
casais homoafetivos não é taxativamente vedada pelo ordena-
mento jurídico pátrio, razão pela qual não pode ser proibida.
Ainda na seara ora enfocada, calha registrar que não se
mostra sustentável a proibição da adoção de crianças e adoles-
centes por casais homoafetivos só pelo fato de não haver diversi-
dade de sexo entre os adotantes, pois tal posicionamento seria no
mínimo preconceituoso, ferindo frontalmente o art. 3º, iV, da Carta
Magna nacional, além de penalizar a liberdade de orientação se-
xual das pessoas, o que via de consequência abalroaria dois dos
maiores princípios constitucionais, quais sejam, o da igualdade e
o da dignidade da pessoa humana. 
Assim, o caminho mais razoável que se afigura é o de se
permitir a adoção por casais homoafetivos, que vivam em estado
290
similar à união estável convencional, e desde que tal medida seja
adotada visando atingir o melhor interesse do menor adotado.
Referido posicionamento tem sido acolhido pelos Tribu-
nais mais consentâneos com as novas formatações dos núcleos
familiares. Veja a seguir aresto oriundo do Tribunal de Justiça do
Mato Grosso:
APElAÇÃo CíVEl. ADoÇÃo PoR CASAl FoRMADo PoR
PESSoAS Do MESMo SExo. PoSSiBiliDADE. RECURSo
PRoViDo. A omissão legal não significa inexistência de direito,
tampouco quer dizer que as uniões homoafetivas não merecem
a tutela jurídica adequada, inclusive no que tange ao direito de
adotar, motivo pelo qual não há que se falar em impossibilidade
jurídica do pedido de adoção. A homossexualidade é um fato
social que se perpetua através dos séculos,não mais podendo
o judiciário se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a uniões
que, enlaçadas pelo afeto, assumem feição de família, de modo
que a marginalização das relações homoafetivas constitui
afronta aos direitos humanos por ser forma de privação do di-
reito à vida, violando os princípios da dignidade da pessoa hu-
mana. Sendo possível conceder aos casais formados por
pessoas do mesmo sexo tratamento igualitário ao conferido às
uniões estáveis entre heterossexuais, não há que se falar em
impossibilidade de adoção por casais homossexuais, ainda
mais quando nem o ECA tampouco o Código Civil trazem qual-
quer restrição quanto ao sexo, ao estado civil ou à orientação
sexual do adotante. Assim, na ausência de impedimentos, deve
prevalecer o princípio consagrado pelo referido estatuto, que
admite a adoção quando se funda em motivos legítimos e apre-
senta reais vantagens ao adotando. (TJMT; APl 78200/2009;
Tangará da Serra; Segunda Câmara Cível; Relª Desª Maria helena
Gargaglione Póvoas; Julg. 28/04/2010; DJMT 07/06/2010; p. 13)
Ainda nesse contexto, importantíssimo ressaltar que recen-
temente a 4ª Turma do STJ julgou o REsp n. 889.852 – RS, publi-
cado no Diário de Justiça do dia 10/08/2010, entendendo, à
unanimidade, pela possibilidade de adoção de crianças por parte de
uma mulher que vivia em união homoafetiva com sua companheira.
nota-se assim que, embora tal caso tenha uma marcante
particularidade, qual seja, a de que as crianças adotadas já haviam
291
sido adotadas anteriormente pela companheira da adotante, pode-
se afirmar que se trata do primeiro precedente do STJ sinalizando
pela possibilidade de adoção de crianças por casais homoafetivos.
Devido à grande magnitude do mencionado decisum, ne-
cessário se faz transcrevê-lo integralmente:
DiREiTo CiVil. FAMíliA. ADoÇÃo DE MEnoRES PoR
CASAl hoMoSSExUAl. SiTUAÇÃo JÁ ConSoliDADA. ES-
TABiliDADE DA FAMíliA. PRESEnÇA DE FoRTES VínCU-
loS AFETiVoS EnTRE oS MEnoRES E A REQUEREnTE.
iMPRESCinDiBiliDADE DA PREVAlÊnCiA DoS inTERES-
SES DoS MEnoRES. RElATóRio DA ASSiSTEnTE SoCiAl
FAVoRÁVEl Ao PEDiDo. REAiS VAnTAGEnS PARA oS
ADoTAnDoS. ARTiGoS 1º DA lEi 12.010/09 E 43 Do ESTA-
TUTo DA CRiAnÇA E Do ADolESCEnTE. DEFERiMEnTo
DA MEDiDA.
1. A questão diz respeito à possibilidade de adoção de crianças
por parte de requerente que vive em união homoafetiva com
companheira que antes já adotara os mesmos filhos, circuns-
tância a particularizar o caso em julgamento.
2. Em um mundo pós-moderno de velocidade instantânea da
informação, sem fronteiras ou barreiras, sobretudo as culturais
e as relativas aos costumes, onde a sociedade transforma-se
velozmente, a interpretação da lei deve levar em conta, sempre
que possível, os postulados maiores do direito universal.
3. o artigo 1º da lei 12.010/09 prevê a "garantia do direito à
convivência familiar a todas e crianças e adolescentes". Por sua
vez, o artigo 43 do ECA estabelece que "a adoção será deferida
quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-
se em motivos legítimos".
4. Mister observar a imprescindibilidade da prevalência dos in-
teresses dos menores sobre quaisquer outros, até porque está
em jogo o próprio direito de filiação, do qual decorrem as mais
diversas consequências que refletem por toda a vida de qual-
quer indivíduo.
5. A matéria relativa à possibilidade de adoção de menores por
casais homossexuais vincula-se obrigatoriamente à necessi-
dade de verificar qual é a melhor solução a ser dada para a pro-
teção dos direitos das crianças, pois são questões
indissociáveis entre si.
6. os diversos e respeitados estudos especializados sobre o
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tema, fundados em fortes bases científicas (realizados na Uni-
versidade de Virgínia, na Universidade de Valência, na Acade-
mia Americana de Pediatria), "não indicam qualquer
inconveniente em que crianças sejam adotadas por casais ho-
mossexuais, mais importando a qualidade do vínculo e do afeto
que permeia o meio familiar em que serão inseridas e que as
liga a seus cuidadores".
7. Existência de consistente relatório social elaborado por as-
sistente social favorável ao pedido da requerente, ante a cons-
tatação da estabilidade da família. Acórdão que se posiciona a
favor do pedido, bem como parecer do Ministério Público Fede-
ral pelo acolhimento da tese autoral.
8. É incontroverso que existem fortes vínculos afetivos entre a
recorrida e os menores – sendo a afetividade o aspecto prepon-
derante a ser sopesado numa situação como a que ora se co-
loca em julgamento.
9. Se os estudos científicos não sinalizam qualquer prejuízo de
qualquer natureza para as crianças, se elas vêm sendo criadas
com amor e se cabe ao Estado, ao mesmo tempo, assegurar
seus direitos, o deferimento da adoção é medida que se impõe.
10. o Judiciário não pode fechar os olhos para a realidade fe-
nomênica. Vale dizer, no plano da “realidade”, são ambas, a re-
querente e sua companheira, responsáveis pela criação e
educação dos dois infantes, de modo que a elas, solidaria-
mente, compete a responsabilidade.
11. não se pode olvidar que se trata de situação fática consoli-
dada, pois as crianças já chamam as duas mulheres de mães
e são cuidadas por ambas como filhos. Existe dupla materni-
dade desde o nascimento das crianças, e não houve qualquer
prejuízo em suas criações.
12. Com o deferimento da adoção, fica preservado o direito de
convívio dos filhos com a requerente no caso de separação ou
falecimento de sua companheira. Asseguram-se os direitos re-
lativos a alimentos e sucessão, viabilizando-se, ainda, a inclu-
são dos adotandos em convênios de saúde da requerente e no
ensino básico e superior, por ela ser professora universitária.
13. A adoção, antes de mais nada, representa um ato de amor,
desprendimento. Quando efetivada com o objetivo de atender
aos interesses do menor, é um gesto de humanidade. hipótese
em que ainda se foi além, pretendendo-se a adoção de dois me-
nores, irmãos biológicos, quando, segundo dados do Conselho
nacional de Justiça, que criou, em 29 de abril de 2008, o Cadastro
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nacional de Adoção, 86% das pessoas que desejavam adotar
limitavam sua intenção a apenas uma criança.
14. Por qualquer ângulo que se analise a questão, seja em re-
lação à situação fática consolidada, seja no tocante à expressa
previsão legal de primazia à proteção integral das crianças,
chega-se à conclusão de que, no caso dos autos, há mais do
que reais vantagens para os adotandos, conforme preceitua o
artigo 43 do ECA. na verdade, ocorrerá verdadeiro prejuízo aos
menores caso não deferida a medida.
15. Recurso especial improvido.
Forçoso se faz observar que o STJ adotou o mesmo po-
sicionamento por nós defendido, qual seja, de que deve-se aplicar
analogicamente às uniões homoafetivas o mesmo tratamento legal
das uniões estáveis.
Trilhando novamente tal entendimento, em fevereiro deste
ano foi publicado acórdão do STJ mantendo decisão proveniente
do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que havia deferido
a uma mulher a adoção unilateral de criança menor de idade que
era filha biológica de sua companheira, com quem mantinha união
estável. observe o julgado:
CiVil. PRoCESSUAl CiVil. RECURSo ESPECiAl. UniÃo
hoMoAFETiVA. PEDiDo DE ADoÇÃo UnilATERAl. PoS-
SiBiliDADE. AnÁliSE SoBRE A ExiSTÊnCiA DE VAnTA-
GEnS PARA A ADoTAnDA. i. Recurso Especial calcado em
pedido de adoção unilateral de menor, deduzido pela compa-
nheira da mãe biológica da adotanda, no qual se afirma que a
criança é fruto de planejamento do casal, que já vivia em união
estável, e acordaram na inseminação artificial heteróloga, por
doador desconhecido, em C.C.V. ii. Debate que tem raiz em pe-
dido de adoção unilateral - que ocorre dentro de uma relação
familiar qualquer, onde preexista um vínculo biológico, e o ado-
tante queira se somar ao ascendente biológico nos cuidados
com a criança -, mas que se aplica também à adoção conjunta- onde não existe nenhum vínculo biológico entre os adotantes
e o adotado. iii. A plena equiparação das uniões estáveis ho-
moafetivas, às uniões estáveis heteroafetivas, afirmada pelo
STF (ADi 4277/DF, Rel. Min. Ayres Britto), trouxe como corolário,
a extensão automática àquelas, das prerrogativas já outorgadas
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aos companheiros dentro de uma união estável tradicional, o
que torna o pedido de adoção por casal homoafetivo, legal-
mente viável. lV. Se determinada situação é possível ao extrato
heterossexual da população brasileira, também o é à fração ho-
mossexual, assexual ou transexual, e todos os demais grupos
representativos de minorias de qualquer natureza que são abra-
çados, em igualdade de condições, pelos mesmos direitos e se
submetem, de igual forma, às restrições ou exigências da
mesma lei, que deve, em homenagem ao princípio da igual-
dade, resguardar-se de quaisquer conteúdos discriminatórios.
V. Apesar de evidente a possibilidade jurídica do pedido, o pe-
dido de adoção ainda se submete à norma-princípio fixada no
art. 43 do ECA, segundo a qual "a adoção será deferida quando
apresentar reais vantagens para o adotando". Vi. Estudos feitos
no âmbito da Psicologia afirmam que pesquisas "[...] têm de-
monstrado que os filhos de pais ou mães homossexuais não
apresentam comprometimento e problemas em seu desenvol-
vimento psicossocial quando comparados com filhos de pais e
mães heterossexuais. o ambiente familiar sustentado pelas fa-
mílias homo e heterossexuais para o bom desenvolvimento psi-
cossocial das crianças parece ser o mesmo". (FARiAS, Mariana
de oliveira e MAiA, Ana Cláudia Bortolozzi in: Adoção por ho-
mossexuais: a família homoparental sob o olhar da Psicologia
jurídica. Curitiba: Juruá, 2009, pp. 75/76). Vii. o avanço na per-
cepção e alcance dos direitos da personalidade, em linha inclu-
siva, que equipara, em status jurídico, grupos minoritários como
os de orientação homoafetiva - ou aqueles que têm disforia de
gênero - aos heterossexuais, traz como corolário necessário a
adequação de todo o ordenamento infraconstitucional para pos-
sibilitar, de um lado, o mais amplo sistema de proteção ao
menor - aqui traduzido pela ampliação do leque de possibilida-
des à adoção - e, de outro, a extirpação dos últimos resquícios
de preconceito jurídico - tirado da conclusão de que casais ho-
moafetivos gozam dos mesmos direitos e deveres daqueles he-
teroafetivos. Vii. A confluência de elementos técnicos e fáticos,
tirados da i) óbvia cidadania integral dos adotantes; ii) da au-
sência de prejuízo comprovado para os adotados e; iii) da evi-
dente necessidade de se aumentar, e não restringir, a base
daqueles que desejam adotar, em virtude da existência de mi-
lhares de crianças que longe de quererem discutir a orientação
sexual de seus pais, anseiam apenas por um lar, reafirmam o
posicionamento adotado pelo Tribunal de origem, quanto à
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possibilidade jurídica e conveniência do deferimento do pleito
de adoção unilateral. Recurso Especial nÃo PRoViDo. (STJ;
REsp 1.281.093; Proc. 2011/0201685-2; SP; Terceira Turma;
Relª Minª nancy Andrighi; Julg. 18/12/2012; DJE 04/02/2013)
De outra banda, outro importante aspecto sobre a temá-
tica posta merece ser analisado, qual seja, a viabilidade psicoló-
gica da educação pelo casal homoafetivo.
isso se dá porque há muitas indagações e posicionamen-
tos leigos no que pertine à criação e à adoção pelo casal homoa-
fetivo, no sentido de que a orientação afetivo-sexual dos adotantes
poderia interferir no desenvolvimento da afetividade dos filhos,
como se, pela convivência, esses estivessem propensos a se tor-
narem homossexuais. Também há considerações acerca dos pos-
síveis prejuízos oriundos da falta dos dois referenciais básicos na
educação do menor, quais sejam, o paterno e o materno. 
Pois bem, com relação à inconveniência de crianças serem
adotadas por casais homossexuais, o ministro relator do REsp n.
889.852, luis Felipe Salomão, fez questão de ressaltar algumas in-
formações que foram colhidas no acórdão recorrido, dados esses
que por sua vez se originaram de estudos feitos por entidades es-
trangeiras, tais como Universidade de Virgínia, Universidade de Va-
lência e Academia Americana de Pediatria, quais sejam:
- ser pai ou ser mãe não está tanto no fato de gerar, quanto na
circunstância de amar e servir;
- nem sempre, na definição dos papéis maternos e paternos, há
coincidência do sexo biológico com o sexo social;
- o papel de pai nem sempre é exercido por um indivíduo do
sexo masculino;
- os comportamentos de crianças criadas em lares homosse-
xuais não variam fundamentalmente daqueles da população em
geral;
- as crianças que crescem em uma família de lésbicas não apre-
sentam necessariamente problemas ligados a isso na idade
adulta;
- não há dados que permitam afirmar que as lésbicas e os gays
não são pais adequados ou mesmo que o desenvolvimento psi-
cossocial dos filhos de gays e lésbicas seja comprometido sob
qualquer aspecto em relação aos filhos de pais heterossexuais;
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- educar e criar os filhos de forma saudável o realizam seme-
lhantemente os pais homossexuais e os heterossexuais;
- a criança que cresce com 1 ou 2 pais gays ou lésbicas se de-
senvolve tão bem sob os aspectos emocional, cognitivo, social
e do funcionamento sexual quanto a criança cujos pais são he-
terossexuais.
Depreende-se assim que não há nenhum dado concreto
que possa inferir que haverá prejuízos psíquicossociais às crianças
adotadas por casais homoafetivos, sendo tais considerações
quase sempre reveladas na prática em posicionamentos precon-
ceituosos por parcela da população, opiniões estas muitas vezes
lastreadas em ideais e convicções filosófico-religiosas, sem o mí-
nimo cunho científico, o que traz barreiras na análise da questão.
Conforme alhures mencionado, sob o aspecto social refe-
rida medida também se revela de grandiosa valia, pois a adoção por
casais homoafetivos faz com que o campo da adoção se alargue,
ou seja, mais pessoas se habilitem como adotantes, o que conse-
quentemente fará com que um número maior de crianças e adoles-
centes sejam adotadas, passando assim a ter efetivamente uma
família, podendo se desenvolver adequadamente como cidadãos.
Para encerrar a análise do tema em comento, imperioso
se faz analisar a seguir a preciosa lição de Enézio de Deus Silva
Júnior (2007, p. 85), que afirma:
Sustentar a impossibilidade jurídica do pedido de adoção for-
mulado por um casal homossexual, na perspectiva apresentada
por esta pesquisa doutrinária e frente ao ordenamento jurídico
pátrio, é desconsiderar o poder jurisdicional de o magistrado
realizar uma interpretação eficaz, sintonizada com a realidade
fática, de acordo com os fins sociais aos quais a lei se dirige
(liCC, art. 5º), através do recurso analógico. Defender, outros-
sim, tal impossibilidade, sem contextualizar a legislação pátria
com as aberturas doutrinárias e jurisprudenciais progressivas –
em matéria de Direito de Família, por exemplo – pode, além de
se apresentar como postura hermética e literal limitante, escon-
der discriminação voltada para a sexualidade das pessoas que,
juntas, candidatam-se à adoção, por se amarem e desejarem
exercitar os sentimentos de maternidade/paternidade.
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Por fim, ante tudo o que foi aqui posto e analisado, con-
clui-se pela possibilidade jurídica de adoção por casais homoafe-
tivos, eis que não há nenhuma vedação legal expressa quanto a
tal possibilidade, sendo ainda tal medida socialmente adequada,
à medida que faz com que mais menores sejam inseridos em fa-
mílias nas quais poderão se desenvolver plenamente.
CONCLUSÃO
Conforme examinado, a possibilidade jurídica de adoção por
casais homossexuais é um tema recente e bastante polêmico, pois não
envolve apenas discussões jurídicas, mas também questões filosóficas,
morais, religiosas, sociais, ou seja, é umtema multidisciplinar.
nesse passo, verificou-se que não há no ordenamento jurídico
brasileiro nenhum dispositivo que vede expressamente a adoção por
parte de pessoas do mesmo sexo, ocasião em que firmamos o posicio-
namento de que deve ser aplicado às uniões homoafetivas o mesmo tra-
tamento jurídico dispensado às uniões estáveis, por meio do instituto da
analogia.
Viu-se também que não há nenhum estudo científico que ateste
que a adoção por casais homoafetivos influencie na personalidade e no
desenvolvimento psíquico-afetivo dos adotandos, sendo, na prática, tais
ideias frutos de pensamentos preconceituosos de parte da sociedade.
Ademais, constatou-se que caso se possibilite a adoção por ca-
sais homoafetivos, referida medida trará grandes benefícios sociais, eis
que possibilitará que mais crianças e adolescentes que estejam em abri-
gos e orfanatos, às margens da sociedade, sejam adotados, inseridos
em verdadeiras famílias, nas quais poderão se desenvolver plenamente,
tendo uma adequada formação e inserção na sociedade.
Assim, conclui-se que o posicionamento mais razoável a ser
adotado é aquele que entende pela possibilidade de adoção por casais
homoafetivos, por ser medida de verdadeira justiça social e atendimento
ao princípio da dignidade da pessoa humana, tanto sob o ponto de
vista do adotando quanto do adotante.
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