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Universidade Federal Rural de Pernambuco Departamento de Medicina Veterinária Área de Patologia * Este é um resumo e não deve ser usado como única fonte de estudo do assunto. PATOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Profª. Márcia de Figueiredo Pereira 1. REVISÃO DE MORFOLOGIA E EMBRIOLOGIA DIFERENCIAÇÃO SEXUAL E GONADAL Para que possamos compreender as alterações que conduzem ao aparecimento de intersexualidade e outras malformações do aparelho genital, é necessário conhecer os mecanismos envolvidos na embriologia e determinação sexual. A determinação sexual envolve o sexo genético, sexo gonadal, sexo ductal e sexo fenotípico. O sexo genético baseia-se na presença do cromossomo Y e a sua determinação é fixada na época da fertilização. O sexo genético se impõe sobre a gônada indiferenciada. O sexo gonadal baseia-se no tipo de tecido que se desenvolve na gônada (testículo ou ovário). O sexo ductal baseia-se no fato dos elementos presentes derivarem dos ductos de Wolff ou mesonéfricos (que dão origem às vias genitais masculinas internas, ou seja, ductos deferentes, epidídimo, ampola, ductos seminais e ductos ejaculatórios e glândulas acessórias) ou dos ductos de Müller ou paramesonéfricos (que dão origem às vias genitais femininas internas, ou seja, tuba uterina, útero e vagina). O sexo fenotípico baseia-se nas características da genitália externa, que se desenvolve a partir do seio urogenital. No desenvolvimento embrionário, o trato genital de ambos os sexos consiste dos ductos de Wolff e dos ductos de Müller, gônadas bipotenciais e primórdios genitais externos (seio urogenital). No entanto, apenas o sistema de ductos determinado pelo sexo genético do embrião desenvolve-se normalmente. Ambos os sistemas tem contato com os seios urogenitais, a partir do qual desenvolve-se a genitália externa. A crista gonadal embrionária é uma estrutura com potencial para formar o testículo ou o ovário. As células germinativas, que darão origem aos oócitos ou as espermatogônias, originam-se no saco vitelino e migram para a crista genital ainda indiferenciada. Lá, elas colonizam o epitélio celômico e o tecido mesenquimal entre o mesonefro e o epitélio celômico. A gônada indiferenciada, neste estágio inicial, consiste de células germinativas, células mesenquimais (ou de sustentação), células produtoras de esteróide e células mesenquimais não especializadas. O mecanismo pelo qual o sexo genético determina a diferenciação sexual não está completamente esclarecido. Sabe-se que o cromossomo Y é um forte determinante masculino. Atualmente, propõe-se que um gene do braço curto do cromossomo Y, chamado SRY (região de Y determinante do sexo) é responsável pela expressão do Fator Determinante Testicular (FDT). No indivíduo geneticamente macho, o fator determinante testicular tem sua primeira ação sobre a linhagem das células de sustentação, para diferenciá-las em células de Sertoli, que sintetizam um Hormônio Inibidor de Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 2 Müller (HIM). Este hormônio induz a regressão dos ductos de Müller no feto do sexo masculino. Acredita-se que esta conversão seja o mecanismo desencadeador da diferenciação masculina nas outras células. Isto resulta na diferenciação das células de Leydig a partir da linhagem das células produtoras de esteróide, a captura mitótica das células germinativas e a organização do tecido conjuntivo em um padrão testicular. As células de Sertoli formam cordões que envolvem as células germinativas. A testosterona promove a diferenciação dos ductos de Wolff e da genitália externa masculina. Na diferenciação da fêmea, que ocorre na ausência de FDT, a entrada das células germinativas em meiose é o primeiro evento detectável, seguido pela diferenciação das células de sustentação em células foliculares que circundam os oócitos. As células da linhagem produtora de esteróides dão origem às células da teca. O ovário não se desenvolve na ausência de células germinativas, o que sugere que o desenvolvimento do ovário depende da ação gênica expressa nas células germinais. A diferenciação feminina ocorre na ausência de gônadas masculinas funcionais. A diferenciação masculina é imposta sobre o sistema em um estágio inicial pela testosterona produzida pelas células de Leydig no testículo em desenvolvimento e esta diferenciação previne o desenvolvimento feminino. Todo desenvolvimento sexual seria feminino se não fosse pelos hormônios testiculares. Um fator importante da diferenciação das gônadas é a diferença cronológica existente entre os sexos. Em todas as espécies de mamíferos estudadas, os machos se diferenciam mais prematuramente que as fêmeas. O testículo fetal produz dois hormônios críticos para a diferenciação normal do macho. As células de Sertoli secretam o fator inibidor dos ductos de Müller (entre 55 e 60 dias), que é responsável pela regressão destes. Ao mesmo tempo, as células de Leydig secretam testosterona, que evita a regressão dos ductos de Wolff e estimula a sua diferenciação em vasos deferentes, vesícula seminal e epidídimo. A testosterona, que também é convertida em dihidrotestosterona, por ação da 5--redutase, e induz o desenvolvimento do pênis e do saco escrotal a partir do seio urogenital. Na ausência da dihidrotestosterona, o seio urogenital irá formar vias genitais externas femininas. 2. INTERSEXUALIDADE O intersexo é o indivíduo com variações anatômicas e congênitas na genitália, que dificultam o diagnóstico do sexo. Pode ser uma anormalidade cromossômica, gonadal ou fenotípica. 2.1 HERMAFRODITISMO As alterações do desenvolvimento são causadas por anormalidades genéticas ou cromossômicas ou por exposição inadequada aos hormônios. O hermafroditismo é um grupo amplo, mas de maneira geral há discordância entre o sexo gonadal, ductal e fenotípico. O hermafrodita possui genitália ambígua, com parte ou toda a genitália de ambos os sexos presente. Este é classificado em hermafrodita verdadeiro e pseudo-hermafrodita. A distinção baseia-se na presença de tecido das gônadas de ambos os sexos (testículo e ovário) no hermafroditismo verdadeiro, em que o indivíduo é dotado de dois sexos distintos anatômica e fisiologicamente e é capaz de produzir gametas masculinos e femininos. O hermafrodita verdadeiro classifica-se em bilateral (presença de um ovotestis em cada lado) ou unilateral (ovotestis em um dos lados ou testículo de um lado e ovário do outro). A maioria dos hermafroditas verdadeiros é geneticamente fêmea. O tecido ovariano pode ser funcional e ter gestação, o que é comum em suínos, produzindo leitegadas normais. Em geral, porém, ela será subfértil. A fêmea apresenta distúrbios endócrinos e comportamento reprodutivo anormal. Na maioria das vezes, os hermafroditas verdadeiros são inférteis ou estéreis. A distância ano-genital é aumentada (2 a 3 cm) na fêmea. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 3 No pseudo-hermafroditismo, os cromossomos e as gônadas são de um sexo e os órgãos tubulares são modificados para a constituição do outro sexo. Trata-se de uma anormalidade do sexo fenotípico. O pseudo- hermafroditismo tem somente um tipo de tecido gonadal. O indivíduo pode ser classificado em pseudo- hermafrodita macho ou pseudo-hermafrodita fêmea, dependendo do tipo de tecido gonadal presente. O pseudo-hermafrodita macho representa uma falha na cadeia de eventos como a não reação testicular à gonadotrofina coriônica ou ao LH, erros na biossíntese de testosterona, defeitos no tecido alvo dependente de andrógeno ou defeito na síntese ou secreção de fator inibidor de Müller. O pseudo-hermafrodita macho possui gônadas testiculares e as vias genitais internas são femininas. O trato genital externo é ambíguo ou feminino. São exemplos de defeitos do pseudo-hermafrodita macho: hipospadiae persistência dos ductos de Müller, que podem desenvolver piometra ou tumores de Sertoli. O pseudo-hermafrodita fêmea possui gônadas ovarianas e características externas ambíguas. O hermafroditismo é uma condição hereditária, possivelmente determinada por um gene recessivo. É uma condição rara nos animais domésticos. 2.2 FREE-MARTINISMO Quimera e Mosaico são indivíduos com células cromossomicamente diferentes (XX e XY), sendo que as células da quimera originam-se de diferentes fontes e as do mosaico tem a mesma origem. O Free-Martinismo é um exemplo de quimera. É uma condição mais freqüente na espécie bovina. Compreende toda fêmea bovina resultante de gestação de gêmeos com um ou mais machos, cuja placenta é comum a ambos por anastomoses dos vasos coriônicos que se forma por volta de 39-40 dias, o que permite a colonização da fêmea por hormônios e células hematopoéticas do macho. Pode ocorrer em parto simples, indicando que o outro gêmeo morreu nos primórdios da embriogênese. As condições sugeridas para que ocorra o free-martinismo, portanto, são: Dupla ovulação Formação de heterosexo no útero (gêmeos de sexos diferentes) Anastomoses dos vasos placentários Modificações na organogênese feminina Por causa da clara associação entre o free-martinismo e a presença de anastomoses interplacentárias e porque as gônadas masculinas se desenvolvem antes das gônadas femininas, presumiu-se que os hormônios sexuais masculinos eram levados do feto macho para a fêmea, esterilizando e modificando a última. A inadequação desta explicação foi demonstrada pelo fato que os andrógenos podem masculinizar um feto feminino, mas não podem inibir os ovários ou os ductos de Müller. O sangue embrionário de gêmeos é trocado e leva à permanente colonização por células hematopoéticas, resultando em que cada gêmeo desenvolve uma tolerância adquirida para as células sangüíneas do outro. Esta condição, conhecida como quimerismo, parece estar confinada às células hematopoéticas. Trocas de outras células não parecem acontecer no free-martinismo. Acredita-se, atualmente, que o feto masculino esteriliza a fêmea pela expressão parcial de FDT do cromossomo Y, levado pela corrente sangüínea, através das anastomoses placentárias para a gônada feminina, onde eles provocam inibição ovariana. Esta inibição manifesta-se primeiro funcionalmente; a produção de estrógeno pelo ovário do Free-Martin está reduzida e a androstenediona está elevada aos 40 dias de gestação. Isto é bem antes das alterações morfológicas serem reconhecidas. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 4 O Free-Martin é quase sempre estéril, têm gônadas de ambos os sexos, vias genitais internas e externas femininas rudimentares. O desenvolvimento do ovário é impedido e muitas vezes contém túbulos seminíferos estéreis. Algumas vezes, a gônada se caracteriza por um espessamento em forma de cordão na borda cranial do ligamento ovariano. Os derivados dos ductos de Müller podem estar quase completamente ausentes ou faltar apenas a comunicação com a vagina. Várias partes dos ductos de Wolff estão freqüentemente presentes e podem ser encontradas glândulas vesiculares rudimentares. A genitália externa muitas vezes não está alterada. A glândula mamária não se desenvolve normalmente. As características fenotípicas do Free-Martin dependem da intensidade do quimerismo. O efeito sobre o macho é mínimo. Nos ovinos, gêmeos dizigóticos são comuns, podendo ocorrer free-martinismo, mas a freqüência é bem menor. O motivo é que as anastomoses interplacentárias calibrosas geralmente se desenvolvem tardiamente, quando já ocorreu a diferenciação sexual. O free-martinismo também ocorre em caprinos, mas é raro pelo mesmo motivo. Anastomoses calibrosas desenvolvem-se em suínos, onde o free-martinismo já foi observado. No entanto, por causa das grandes ninhadas, é difícil identificar o vizinho do leitão intersexo e a condição não foi comprovada. 2.3 SÍNDROME DA FEMININIZAÇÃO TESTICULAR (SFT) OU INSENSIBILIDADE AOS ANDRÓGENOS Os indivíduos são geneticamente machos (XY) e possuem testículos que produzem testosterona, mas não apresentam desenvolvimento de genitália derivada dos ductos de Wolff, ou de Müller. A genitália externa é feminina. A mutação produz uma deficiência nos receptores intracelulares de andrógeno, tornando todas as células insensíveis aos andrógenos. Os derivados dos ductos de Müller estão ausentes porque sua sensibilidade ao hormônio inibidor de Müller é mantida e o hormônio é produzido pelos testículos do animal afetado. O gene que controla esta alteração está ligado ao cromossomo X. Ocorre em eqüinos e bovinos e o indivíduo é um pseudo- hermafrodita masculino, com testículos criptorquídicos. PATOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR FEMININO 1. OVÁRIOS 1.1 HISTOFISIOLOGIA a) Funções Endócrinas e Exócrinas Citogenética ovócitos Hormonal hormônios: estrógeno, progesterona, inibina O ovário funcional é aquele que apresenta foliculogênese. O ovário afuncional ou inativo não apresenta foliculogênese. Alguns animais apresentam foliculogênese durante a gestação e lactação (égua e vaca) e outras não (porca ovário inativo) devido à interferência da prolactina. b) Organização histológica e anatômica Epitélio superficial (germinativo) cúbico a pavimentoso e túnica albugínea (tecido conjuntivo) Cortical: folículos, corpo lúteo, Corpo albicans Medular: tecido conjuntivo, vasos sangüíneos e linfáticos, nervos, rete ovarii, hilo Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 5 1.2 ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS (OOFORITE) A ooforite é relativamente rara e geralmente bacteriana e piogênica. A via de entrada pode ser hematógena, ascendente (endometrite e salpingite) ou por expansão de peritonite. Abscessos ovarianos podem surgir após a enucleação do corpo lúteo em cadelas com piometra ou por propagação de bactérias, secundária a endometrite, piometra, salpingite ou peritonite. Em bovinos com tuberculose peritoneal, os granulomas ovarianos têm aspecto de nódulos avermelhados ou amarelados, granulosos, elevados na superfície do ovário e oviduto. Na brucelose dos suínos por Brucella suis, podem surgir lesões granulomatosas semelhantes. Uma ooforite caracterizada por infiltrado linfoplasmocitário perivascular pode acompanhar outras alterações na infecção pelo vírus da Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (RIB) (por via hematógena ou venérea sistema genital, útero, vulva, ovário vulvovaginite pustular bovina ), Pseudoraiva, Diarréia Viral Bovina (BVD) e peste suína. Em todas estas, as alterações são semelhantes. No entanto, o vírus da RIB costuma ocasionar ooforite necrosante. No caso de infecções uterinas ascendentes ou trauma físico, podem surgir ADERÊNCIAS DA BOLSA OVARIANA. 1.3 ALTERAÇÕES REGRESSIVAS a) Hipotrofia e fibrose São alterações observadas na senilidade e se caracterizam por um ovário que deixou de funcionar. Também é observado em doenças crônicas caquetizantes (neoplasia maligna) e em vacas criadas em regime extensivo, na época da seca. Durante a amamentação, algumas fêmeas podem demorar a entrar novamente no ciclo, talvez por causa de uma deficiência do estímulo gonadotrófico. Na hipotrofia ovariana, os animais não apresentam uma parada total da atividade ovariana como ocorre na menopausa, na espécie humana. Com a idade, no entanto, as fêmeas domésticas apresentam uma perda de oócitos e diminuição da fertilidade. O ovário pode estar aumentado de tamanho devido a grande quantidade de tecido conjuntivo fibroso, proveniente da regressão vascular após várias gestações, involução do corpo lúteo e regressão de folículos. Há uma predominância de corpos fibrosos (atrésicos e albicans) em substituição aos folículos. O ovário está aumentado de tamanho em conseqüência da proliferação de tecido conjuntivo.Não ocorre foliculogênese. O ovário afuncional está diminuído de tamanho devido a ausência de crescimento folicular e ocorre nas doenças crônicas, podendo retornar ao normal depois de corrigida a causa. É uma alteração adquirida e reversível. b) Cistos ovarianos Cistos ovarianos representam a principal alteração do ovário das fêmeas domésticas. O ovário pode conter um ou mais cistos claros, com diâmetro entre um a vários centímetros. É um dos responsáveis por esterilidade em fêmeas, principalmente na vaca e na porca, espécie em que esta alteração adquire maior importância econômica, por causa dos distúrbios reprodutivos que este provocam muitas vezes. São classificados nos seguintes tipos: Cistos Paraovarianos (epoóforos e paraóforos): São estruturas adjacentes ao ovário, localizados no mesovário, fímbria ou trompa; eles originam-se de remanescentes dos canais de Wolff (ductos mesonéfricos); são revestidos por epitélio cúbico com fibras musculares lisas; são comuns a todas às espécies e não tem significado Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 6 clínico, pois a atividade ovariana é normal. Possuem até 1cm de diâmetro. Na égua, podem chegar a 7cm. Com a idade, eles aumentam de diâmetro. Cistos de Inclusão Germinativa (ou de superfície): resultam da penetração de segmentos do peritônio (serosa) ou da invaginação do epitélio germinativo para o interior do córtex ovariano, que ocorreria após a ovulação ou em conseqüência de traumatismo. O epitélio da tuba uterina também pode ser levado para dentro do ovário logo após a ovulação. Eles geralmente são pequenos e localizam-se na superfície do ovário; são freqüentes em todas as espécies, mas somente na égua tem significado clínico, podendo estar associados à infertilidade, pois quando invaginados na fossa de ovulação (cistos da fossa), podem obstruir a tuba uterina. O óvulo não pode progredir e será reabsorvido. Não possuem atividade hormonal. São múltiplos e podem medir desde alguns milímetros até 4,5cm. Podem causar atrofia do parênquima ovariano por compressão. Cistos da rete ovarii: São relatados em cadelas, gatas e vacas. Originam-se do acúmulo de secreção na rete ovarii (grupos intra-ovarianos e extra-ovarianos de túbulos anastomosados), provocando dilatação cística. São revestidos por uma camada simples de epitélio cúbico. Os cistos intra-ovarianos estão localizados na medular e não possuem músculo liso na parede. Em cadelas com distúrbios hormonais (excesso de progesterona ou estrógeno), a rete ovarii sofre hiperplasia e forma cistos; por exemplo, o uso contínuo de anticoncepcionais está associado a lesões no endométrio e cistos. Os cistos da rete ovari extra-ovariana são difíceis de diferenciar dos cistos paraovarianos, pois estes também possuem músculo liso na sua parede. Podem originar tumores cistoadenomatosos. Crescem lentamente e, em gatas, surgem no primeiro ano de vida. Cistos do Folículo Atrésico: A atresia folicular é um fenômeno normal em todas as espécies, mas pode ocorrer também em condições patológicas quando outras influências inibem a maturação. Compartilham características com os folículos císticos de Graaf anovulatórios e os cistos luteínicos. Durante o ciclo estral de espécies uníparas, muitos folículos se desenvolvem, mas somente um deve amadurecer e ovular; os outros sofrem atresia, degeneram e desaparecem. Em algumas espécies que apresentam anestro sazonal, tal como a égua e a porca, o crescimento folicular cíclico e a atresia sem maturação ocorre durante todo o período do anestro. A atresia folicular é patológica quando a degeneração é causada por um anestro determinado por debilidade e inanição. O oócito sofre degeneração e as células da granulosa também degeneram, apresentando vacúolos no citoplasma. Ocorre luteinização das células da teca interna. Um folículo atrésico pode ser invadido por macrófagos, células da teca e tecido conjuntivo fibroso, formando uma cicatriz, ou podem persistir como um cisto revestido por uma camada delgada de células da granulosa. Cisto do Corpo Lúteo ou Corpo Lúteo Cístico: representam um acúmulo anormal de fluido no centro do corpo lúteo, onde normalmente encontra-se uma pequena cavidade contendo fluido. Mede desde alguns milímetros a 2cm e é irregular. A ovulação ocorreu e a atividade ovariana está normal. A patogenia parece estar relacionada a oclusão prematura do local da ovulação e à falta de irrigação no centro do corpo lúteo. Ocorre em vacas gestantes até o 40 o dia de gestação e, então, se rompe. Diferenciam-se do cisto luteinizado pela presença de uma papila ovulatória na superfície. Cisto luteinizado ou luteínico (mais importante): é um folículo que iniciou mas não completou o desenvolvimento e sofreu uma luteinização precoce das células da teca interna, que se transformam em células luteínicas; as células da granulosa degeneram. As células da teca luteinizadas produzem progestágenos. Essa luteinização precoce pode ocorrer devido a deficiência de FSH e liberação excessiva de LH. Apresenta parede espessa e distendida, consistência firme, líquido citrino e inodoro e a parede interna amarelada. Distingue-se do cisto folicular pela presença de células esféricas ou poliédricas contendo lipídio, nas suas paredes. São mais comuns Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 7 em vacas, causando anestro. Neste caso, não há hiperestrogenismo. Em porcas, múltiplos cistos podem estar associados à infertilidade. Cistos foliculares ou Cisto do Folículo de Graaf (DOENÇA OVARIANA CÍSTICA) (mais importante): É o cisto ovariano mais comum e a mais importante alteração ovariana, principalmente na vaca, cadela e porca. A DOC (Doença Ovariana Cística) é uma disfunção ovariana que se caracteriza pela persistência de uma estrutura folicular anovulatória, com mais de 2,5cm, por mais de dez dias, na ausência de corpo lúteo e com interrupção da atividade ovariana cíclica normal. O cisto folicular é uma estrutura ovariana cística semelhante a um folículo maduro, podendo medir até 10 cm, arredondado, liso, tenso ou flácido, com líquido claro que pode conter hormônios estrogênicos, e ressalta na superfície do ovário. Dependendo da constituição e da atividade das células que compõem a parede, eles podem provocar ninfomania, anestro ou virilismo. Possuem a estrutura de um folículo atrésico, diferenciando-se pelo tamanho e persistência, mas também podemos nos referir a eles como folículos que se aproximaram mas não atingiram a maturidade normal. Podem ser simples ou múltiplo, uni ou bilateral. Pequenos pontos de tecido luteínico na parede dificultam sua diferenciação do cisto luteínico. Também podem ser confundidos com folículos pré-ovulatórios. A diferenciação baseia-se nas características clínicas: vulva edematosa, hipertrofia de clitóris, edema e flacidez do útero, hiperplasia do endométrio, mucometra, etc. É um folículo maduro que não foi exposto a ação do LH. Etiopatogenia: Ocorrem devido a um desequilíbrio neuroendócrino (eixo hipotalâmico hipofisário gonadal). Sugeriu-se que ocorre ausência ou liberação anormal de LH pré-ovulatório, excesso de FSH, ação da inibina ou falha na liberação de gonadotrofinas. Os cistos foliculares são causados por ação contínua e excessiva de estímulos. Fatores predisponentes: Nas infecções uterinas pós-parto, a proliferação de E. coli leva à produção de altas concentrações de endotoxinas, com elevação na produção de cortisol e metabólitos da prostaglandina. Especialmente nas porcas, o estresse também é responsável pela elevação dos níveis de cortisol, o qual atua inibindo a liberação de LH. Outros fatores envolvem a alta produção de leite, o estado nutricional (Vacas alimentadas somente com feno e concentrado desenvolvem estresse metabólico e alterações endócrinas), hereditariedade, idade,fase da lactação (na 3 a lactação, aproximadamente 60 dias após o parto), além de outros fatores como a retenção das membranas fetais e a ingestão de plantas fitoestrogênicas. Aspecto Clínico: É mais comum em rebanho leiteiro, principalmente no período pós-parto até a primeira ovulação. Um ou mais folículos císticos podem passar despercebidos, mas em porcas e vacas, ninfomania e estro contínuo são conseqüências comuns. As alterações clínicas dependem do tipo de hormônio produzido pelo cisto: estrógeno ou progesterona. Os principais aspectos clínicos são: ninfomania, anestro, ciclos estrais curtos e irregulares e virilismo. Nos animais que apresentam ninfomania, os cistos secretam estrógenos e pode haver edema de vulva, hipertrofia de clitóris e do canal cervical, hiperplasia endometrial cística, elevação da cauda, cistos de ductos de Gartner e das glândulas de Bartholin, desenvolvimento de glândula mamária e secreção de leite. Em cadelas, foram encontrados tumores mamários, hiperplasia glandular do endométrio e outras desordens uterinas, associadas aos cistos foliculares, possivelmente como resultado do excesso de estrógeno. Também podem ser observados dor, hemorragias e coágulos organizados. O hiperestrogenismo pode causar supressão da medula óssea, levando ao aparecimento de anemia, trombocitopenia com sangramento ou granulocitopenia com aumento da susceptibilidade à infecção. O anestro ocorre em animais com cistos que secretam progesterona. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 8 ETIOPATOGENIA DOS CISTOS FOLICULARES Algumas éguas desenvolvem múltiplos cistos foliculares anovulatórios proeminentes no final do anestro. Estes cistos anovulatórios da égua não interferem com o início da atividade cíclica normal durante a estação de reprodução. O desenvolvimento de folículos anovulatórios é normal, pelo menos em algumas espécies, durante a gestação. INFECÇÕES UTERINAS PÓS-PARTO Endotoxinas Stress Inibidores do Estro Cortisol Liberação de LH Cistos Foliculares Estrógeno Estro contínuo Ninfomania (CL) H.E.C. Hidrometra ou Mucometra Progesterona Anestro H.E.C. com Piometra Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 9 1.4 ALTERAÇÕES PROGRESSIVAS E NEOPLASIAS 1.4.1 NEOPLASIAS São mais estudas em cadelas, vacas e éguas. Algumas podem apresentar atividade endócrina e causas distúrbios reprodutivos. Elas são classificadas quanto à morfologia e histogênese. a) Tumores Epiteliais (ou de Superfície) Cistoadenoma e Adenocarcinoma Papilífero: São mais comuns em cadelas, mas também ocorrem na égua, porca e vaca. Estão relacionados à ocorrência de hiperplasia cística do endométrio. Caracteriza-se por massas sólidas, multicêntricas, rosadas ou acinzentadas, de consistência firme, com formações císticas ao corte, que dividem o tumor em espaços cavitários de tamanhos variáveis e estão cheios de líquido seroso, sanguinolento ou de uma massa gelatinosa consistente. No Cistoadenoma Papilífero são observados prolongamentos papilomatosos que saem da cápsula fibrosa e dos septos para dentro do espaço cavitário. Pode atingir grandes dimensões e pesar até 30 kg. Como conseqüência, pode surgir ascite devido à obstrução dos linfáticos ou por secreções do tumor. A forma maligna pode sofrer implantação peritonial e determinar metástases para os linfonodos e pulmão. b)Tumores dos Cordões Sexuais Tumor das Células da Teca: É menos freqüente. Geralmente unilateral, sólido, amarelo - pálido; microscopicamente, caracteriza-se por feixes de células fusiformes, abundante estroma de tecido conjuntivo e células vacuolizadas (lipídios) Tumor das Células da Granulosa (TCG): É geralmente unilateral. Macroscopicamente, é redondo a oval, amarelado, superfície externa lobular e superfície de corte sólida e dura com pequenas cavidades císticas contendo líquido claro ou hemorrágico. Pode atingir 15 kg. Microscopicamente, há formação de rosetas. Geralmente é benigno. Possui atividade hormonal, podendo produzir estrógeno e testosterona. Também causa hemorragias uterinas, perturbações do cio, hiperplasia do endométrio, metrite e piometra. Outros sintomas ligados ao hiperestrogenismo incluem hipertrofia da vulva e das mamas. É comum em vacas Guernsey e Holandesa, aumentando a incidência com a idade. Também ocorre na égua e na galinha. Raramente, ocorrem metástases para o ligamento largo, útero, peritônio e vísceras abdominais. Tumores das Células Germinativas Disgerminomas (seminoma) Derivam das células sexuais primitivas e indiferenciadas. São quase sempre unilaterais. São sólidos, bem encapsulados, hemorrágicos e necróticos e apresentam volume variável. Não tem atividade endócrina e são considerados malignos. São relatados na vaca e na cadela. Teratomas Originam-se das células germinativas e é composto por vários tipos de tecido, incluindo osso, pele e anexos, tecido adiposo, etc. São, portanto, tumores heterogêneos volumosos, císticos e complexos. Geralmente, são benignos. São pouco freqüentes na cadela e encontrados principalmente em animais jovens. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 10 2. TUBA UTERINA É um órgão tubular que estabelece comunicação entre o ovário e o útero; é o local onde se dá a fusão dos pró-núcleos (espermatozóide x óvulo). É constituída por um infundíbulo com porção fimbriada (que capta o oócito), ampola e istmo. A parede é revestida por um epitélio cilíndrico com células secretoras e ciliadas, para nutrição do oócito, espermatozóide e ovozigoto. Durante o estro, a corrente do fluxo é no sentido útero ovário e os cílios no sentido ovário útero. 2.1 HIDROSALPINGE É a distensão da tuba com acúmulo de líquido, em conseqüência de um processo obstrutivo, seguida da perda da patência do lúmen. A obstrução pode ser congênita ou adquirida (evolução de um processo inflamatório ocasionando fibrose e estenose da tuba uterina). As anomalias congênitas nas tubas são raras, exceto nas fêmeas Free-Martin, mas podem estar associadas a obstrução e aplasia segmentar dos cornos uterinos. As inflamações crônicas são as causas mais freqüentes, pois tendem a causar estenose luminar; as inflamações que resultam em aderências entre as trompas e os ligamentos, com obstrução do óstio. No bovino, é comum na inflamação causada por manipulação traumática do ovário, levando a hemorragias e organização de coágulos, com adesão na porção fimbriada da tuba. A tuba apresenta-se distendida, aumentada em extensão e tortuosa, com parede fina e, histologicamente, há formação extensa de cistos multiloculares na mucosa e infiltrado mononuclear na lâmina própria. Leva à redução da fertilidade se for unilateral; se for bilateral, infertilidade total, pois não permite a fusão dos pró-núcleos. Uma conseqüência é a invasão bacteriana, resultando em salpingite. 2.2 SALPINGITE É o processo inflamatório da tuba uterina, podendo ser agudo ou crônico. Geralmente, é bilateral e não detectável macroscopicamente, e pode ser serosa, catarral ou fibrinosa. Muito freqüente na vaca, porca e égua. Os principais agentes são o Mycoplasma e o Ureaplasma. A salpingite também pode ocorrer por extensão de endometrite, o que é observado na vaca e na porca. O agente etiológico da endometrite invade a trompa, causando salpingite. Na égua, o processo geralmente se instala por via hematógena. Nos casos mais brandos, as lesões podem ser muito discretas com pouco significado funcional. No entanto, nos processos mais severos, pode haver acúmulo de exsudato catarral no lúmen, infiltrado e congestão da mucosa e perda do epitélio. A destruição das células secretoras e dos cílios e a alteração no pH causam infertilidade, pois a integridadedo epitélio é necessária à propulsão do óvulo ou zigoto, dissolução do cumulus oophorum antes da fertilização e manutenção de um ambiente luminar adequado à sobrevivência do óvulo e do espermatozóide. Quando há exsudação purulenta, é chamado piosalpingite, que é causada por bactérias piogênicas. Piosalpingite é o acúmulo de pus na tuba, seguido da obstrução da luz pelo exsudato, espessamento da mucosa ou tecido de granulação. A irregularidade do envolvimento de segmentos das tubas leva a formação de saculações compreendidas por segmentos distendidos cheios de pus. Macroscopicamente, a tuba está distendida por múltiplos cistos, com a parede espessa e presença de exsudato mucopurulento. Histologicamente, a mucosa possui infiltrado de neutrófilos, linfócitos e plasmócitos e as mesmas células acumulam-se no lúmen e em cistos da mucosa. Eventualmente, a bactéria envolvida pode ser destruída e o exsudato convertido em um fluido aquoso (Hidrosalpinge). A piosalpingite, muitas vezes, é uma complicação de metrite na vaca, cadela, égua e gata. Entre os agentes mais comuns, são encontrados Streptococcus, Staphylococcus, E. coli e Actinomyces pyogenes. Brucella abortus, Brucella suis, Mycobacterium tuberculosis, M. bovis, Campylobacter foetus veneralis e Tritrichomonas Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 11 causam formas específicas de salpingite em suínos e bovinos, respectivamente. A infecção por B. abortus na vaca causa salpingite grave que deixa como seqüela a obstrução da tuba uterina. Na tuberculose da tuba uterina observam-se lesões granulomatosas características. Geralmente é uma extensão da tuberculose peritoneal e a parede do útero também está envolvida. A salpingite pode curar, sofrer cicatrização, causar estenose com acúmulo de líquido e contaminação por bactérias. 3. ÚTERO É um órgão tubular, com parede espessa e grande cavidade. Subdivide-se em três partes: colo (ou cérvix), corno e corpo uterino. O endométrio é revestido por um epitélio cilíndrico ciliado secretor, que invagina para o córion, formando as glândulas endometriais. Possui grande capacidade de regeneração. É onde se implanta o embrião e estabelece relação vascular mãe/feto. Nos ruminantes, são encontrados espessamentos circunscritos constituídos por fibroblastos e vasos sangüíneos, chamados carúnculas, que formam a parte materna da placenta (placentoma). Sob o efeito da progesterona, o miométrio diminui sua atividade de contrações; oxitocina, PGF2 e estrógeno aumentam a ação contrátil; a relaxina faz cessar totalmente as contrações. Durante o proestro e o estro, os folículos ovarianos produzem estrógenos e no metaestro e diestro, o corpo lúteo produz progesterona. O endométrio sofre alterações sob a ação destes hormônios, refletindo a atividade hormonal: fase proliferativa (estrógeno) e fase secretória (progesterona). 3.1 ALTERAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO E REGRESSIVAS a) Cistos endometriais São mais freqüentes nas éguas velhas. São quase sempre resultantes de obstrução com dilatação de vasos linfáticos (lacunas linfáticas) no miométrio e no endométrio. Não permite a migração da vesícula embrionária e impede o reconhecimento da gestação, ocasionando infertilidade. Quando o cisto se localiza próximo à bifurcação dos cornos uterinos (base do corno uterino), há transtorno na fixação do blastocisto, impedindo principalmente a nutrição. Pode ser conseqüência de endometrite, em animais jovens, e fibrose em animais velhos. Lacunas linfáticas (10 mm) são maiores que os cistos glandulares. b) Adenomiose Designa a presença de glândulas endometriais e estroma entre os feixes musculares do miométrio. Esta alteração é observada em cadelas, gatas e vacas sob estímulo estrogênico, como na hiperplasia endometrial cística. Já foi observado em vacas com aplasia segmentar ou como uma má formação dos cornos uterinos. A parede uterina mostra aumento de volume assimétrico, focal, simétrico ou difuso. Alguns autores costumam denominar endometriose interna a presença de glândulas endometriais junto aos feixes musculares do miométrio e endometriose externa a presença de glândulas endometriais fora do útero (ovário, mesovário, peritônio e cicatrizes peritoniais cirúrgicas). É comum em primatas e causa infertilidade. c) Pólipos endometriais: São formações nodulares, pedunculadas, no endométrio, constituídas por glândulas e tecido conjuntivo. Podem ser múltiplas ou isoladas e sua forma é moldada ao lúmen do útero. Não é uma neoplasia. Já foram relatados na cadela, gata, rata e camundongo fêmea. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 12 3.2 ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS a) Hiperemia e edema Ocorrem em condições fisiológicas, durante o estro e o pró-estro, especialmente na cadela. Em condições patológicas, a hiperemia e o edema compreendem as alterações iniciais da metrite. A congestão, causada por fatores que determinam a compressão da circulação venosa local (tumores abdominais e pélvicos) e pelas cardiopatias congestivas, também pode resultar em edema. b) Hemorragia (Metrorragias) Metrorragias são hemorragias de origem uterina. As hemorragias uterinas podem ser fisiológicas ou patológicas. Hemorragias uterinas fisiológicas ocorrem no proestro e no estro. Na cadela, a diapedese e a descamação endometrial causam metrorragias no pró-estro. Também ocorrem hemorragias na subinvolução placentária, com retardamento da involução do sítio placentário da cadela, principalmente no primeiro e segundo parto. Em vacas jovens, ocorrem hemorragias uterinas no metaestro, devido ao rompimento de arteríolas endometriais. A etiologia das hemorragias patológica é bastante diversificada. Podem ocorrer por ação mecânica, como na torção e prolapso uterino. O hiperestrogenismo pode levar a hemorragias endometriais em cadelas. O estrógeno pode ter origem endógena, como no caso de tumores de células da granulosa, cistos foliculares ou outra disfunção endócrina. Também pode ter origem exógena, como no caso da administração terapêutica de estrógenos em doses elevadas (abortos anti-reprodutivos). Também são relatadas hemorragias uterinas na Erliquiose canina e na hiperplasia endometrial cística. Por último, as metrorragias também acompanham o aborto. O endométrio apresenta-se espesso, avermelhado e com extravasamento sangüíneo. 3.3 DISTOPIAS (ALTERAÇÕES DA POSIÇÃO): a) Hérnia A hérnia é uma insinuação ou deslocamento total ou parcial do útero (de um ou ambos os cornos uterinos) através da parede abdominal (por uma solução de continuidade). Nas cadelas, o deslocamento pode ocorrer para dentro do canal inguinal. Pode desenvolver-se quando há lesão da musculatura e insinuação da parede do útero - prenhez com morte fetal ou piometra e traumatismos. As complicações podem ser decorrentes do desenvolvimento de gravidez no segmento herniado, ou ocorrência de piometra ou aderências. b) Torção É mais comum na vaca, cadela, gata, ovelha e cabra. Ocorre no útero grávido, no terço médio da gestação ou no útero distendido devido a mucometra, hidrometra ou piometra. O útero grávido ou o corno uterino giram sobre o eixo longitudinal em volta de um ponto fixo. Na vaca, que possui o ligamento intercornual bem desenvolvido, a torção envolve todo o órgão, tendo como pontos fixos o mesovário e a vagina ou cérvix. Na cadela e gata, onde não há ligamento e os cornos são bem longos, somente parte ou todo um corno está envolvido. Os pontos fixos são o mesovário e o ponto de conexão do corno ao corpo uterino. A torção até 90 o em geral resolve-se naturalmente. A torção de 180 o ou mais causa distocia e transtornos circulatórios locais, como congestão e edema do útero, edema da placenta e morte do feto, que sofre mumificação. O útero perde a capacidade de retornar a posição normal. A desvitalização da parede uterinapode Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 13 determinar a ruptura, com liberação do feto para a cavidade abdominal, sem haver complicação por peritonite ou endometrite. É mais comum em bovinos. Os mecanismos que determinam esta condição estão relacionados a perda da estabilidade do corno gestante ao projetar-se para a cavidade abdominal. c) Prolapso Trata-se da inversão de uma porção do útero na cavidade uterina acompanhada da sua invaginação para fora da vagina. É mais comum em vacas após o parto, com retenção de placenta e parto distócico. O prolapso pode ocorrer nos primeiros dias após o parto (despolarização da membrana). As causas predisponentes envolvem hipotonia e disritmias de contração uterina. Estas condições são encontradas na tração forçada do feto durante o parto, retenção de placenta, hipocalcemia pós-parto; hiperestrogenismo (em ovelhas que ingeriram plantas com elevados níveis de estrógeno); e cadelas com pólipos uterinos. As conseqüências envolvem transtornos circulatórios, a começar por congestão, já que a parede das veias são menos resistentes a pressão, seguida de edema, hemorragias, necrose, contaminação e gangrena. d) Ruptura Pode ser causada por manipulação obstétrica ou podem ser espontâneas. A torção, o prolapso e a distocia prolongada provocam desvitalização da parede e ruptura. Também ocorrem rupturas em conseqüência da distensão aguda por fluidos usados em lavagens uterinas. O local das rupturas é a curvatura menor ao longo da linha de ligação do mesométrio. As rupturas totais do útero são geralmente fatais. Podem ocorrer hemorragias; disseminação de inflamação uterina ou deslocamento de membranas retidas para a cavidade abdominal com desenvolvimento de peritonite; resposta inflamatória granulomatosa no caso de fluido oleosos. 3.4 MUCOMETRA E HIDROMETRA Mucometra é o acúmulo de muco e hidrometra é o acúmulo de líquido (transudato) na luz uterina, causando distensão do útero. Diferencia-se pelas características físicas do material e dependem do grau de hidratação da mucina, que pode estar relacionado à atividade relativa dos hormônios estrogênicos. A hidrometra pode estar associada a distúrbios hormonais ou a obstrução do cérvix. O acúmulo de um fluido fino e viscoso no útero ocorre junto com o desenvolvimento de hiperplasia endometrial ou próximo à obstrução no lúmen do útero, cérvix ou vagina. No primeiro caso, pode acumular-se muitos litros e quanto maior a quantidade de fluido, menos viscoso ele é. Pequenas quantidades de mucina dão aderência a superfície mucosa. Em vacas com cistos ovarianos e hiperplasia endometrial cística, o grande volume de fluido está geralmente associado a cistos foliculares funcionais. Quando ocorre anestro terminal, aparentemente muito fluido é reabsorvido, deixando uma pequena quantidade de muco persistente. No segundo caso (obstrução do lúmen), o volume de fluido depende do local da obstrução. No útero unicorno, pode haver 500ml, enquanto no hímen imperfurado, 10 litros ou mais. O fluido é ligeiramente turvo e aquoso, mas em alguns casos de aplasia segmentar, onde o volume de secreção retida não é grande, pode ser muito viscoso, de coloração ocre e, algumas vezes, com massas condensadas de mucina e detritos celulares. Os ovários estão normais. Animais com mucometra são estéreis. Se o útero é infectado, desenvolve-se piometra não tratável. O útero pode sofrer hipotrofia, especialmente na hidrometra. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 14 3.5 ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS DO ÚTERO São muito mais freqüentes nos animais domésticos do que na mulher, especialmente em coelhas (90%), na porca (40%) e na cadela (15%). É uma das mais importantes causas de infertilidade nas espécies domésticas. O útero normal (não gestante) possui uma alta resistência a infecção e não permite o crescimento ou a permanência de bactérias por longo período, mesmo no caso de inflamações específicas (Campylobacter, Brucella, Tritrichomonas). Esses processos inflamatórios aparecem principalmente após o parto, mas também podem ocorrer após o coito, pela introdução de agentes infecciosos pelo sêmen. Classificação: Quanto à localização, os processos inflamatórios uterinos classificam-se em endometrite (limitada ao endométrio), miometrite (miométrio) e perimetrite ou parametrite (limitada à serosa e ligamentos acessórios). A metrite envolve toda a parede do útero. Quanto ao curso, a metrite classifica-se em aguda (caracterizada por hiperemia, edema e infiltrado inflamatório perivascular e periglandular por leucócitos polimorfonucleados ou mononucleares) ou crônica (proliferação de tecido conjuntivo e infiltrado inflamatório linfoplasmocitário). Quanto ao exsudato, pode ser purulento, mucopurulento (muco, piócitos, células descamadas, debris celulares), muco-hemorrágico e fibrinopurulento. Etiologia: As causas são geralmente infecciosas e incluem: Bactérias: Campylobacter, Streptococcus, Staphylococcus, Brucella sp, E. coli, Clostridium (Fisometrite gasoso); Vírus: herpesvírus bovino, Diarréia Viral Bovina, cinomose; Protozoários: Tritrichomonas Causas não infecciosas: químicas (produtos desinfetantes em concentrações inadequadas), térmicas (lavagens muito quentes) e mecânicas (ferimentos durante o parto); fatores predisponentes (alterações nutricionais e endócrinas). As vias de penetração podem ser: Via ascendente (mais importante): quase sempre precedida de vaginite, cervicite, vulvite. Via hematógena: RIB, cinomose, tuberculose. Infecção descendente: microorganismos oriundos da cavidade abdominal e das trompas. Via serosa e perimétrio (peritonite). Via linfógena. Fisiopatologia: A resistência uterina varia durante o ciclo estral. A susceptibilidade é maior durante a fase luteínica. Vários fatores podem estar envolvidos. Durante o estro, a motilidade uterina está aumentada e a cérvix está aberta, facilitando a drenagem e a eliminação física de bactérias. A síntese e secreção de IgG e IgA não sofrem grandes variações, mas são consideradas importantes. A atividade funcional e o número de leucócitos polimorfonucleados que migram para o útero também pode ser afetada pela fase do ciclo, sendo mais ativa durante o estro. A redução da resistência uterina está relacionada especialmente a secreção de imunossupressores, induzida pela progesterona para o lúmen do útero, que são capazes de inibir a proliferação de linfócitos e reduzir a Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 15 migração e capacidade de fagocitose dos neutrófilos. Por isso, o útero sob efeito de estrógeno é mais resistente às infecções pois possui maior número de leucócitos polimorfonucleares e muco contendo IgG e IgA. O útero sob o efeito de progesterona é pouco resistente às infecções pois há inibição para a síntese de anticorpos e não há contração para a eliminação de fluidos (tônus uterino baixo). Os animais susceptíveis possuem neutrófilos com baixa capacidade de fagocitose, menor tônus uterino, deficiência de migração de neutrófilos. Os animais resistentes possuem abundância em leucócitos polimorfonucleados no útero, elevado tônus muscular, com grande poder de eliminação de fluidos uterinos. A presença de uma reação inflamatória no útero pode inibir o processo luteolítico do ciclo estral (liberação de PGF2 na vaca), criando um círculo vicioso. Na maioria das espécies, a prostaglandina, produzida pelo endométrio, é responsável pela lise do corpo lúteo. Na inflamação aguda, há liberação de ácido aracdônico, aumentando a produção de prostaglandina e a lise do corpo lúteo ocorre mais cedo. Na inflamação crônica, há destruição da mucosa reduzindo a produção de prostaglandina e levando a persistência do corpo lúteo. A presença de leucócitos polimorfonucleadosé muito mais importante para o diagnóstico de processo inflamatório do que a cultura de bactérias (citologia uterina). A taxa de anticorpos é maior nos animais susceptíveis. Após a infecção uterina, substâncias quimiotáticas liberadas por bactérias e o leucotrieno do endométrio e dos leucócitos contribuem para o recrutamento de neutrófilos para a parede e o lúmen uterino. Estes neutrófilos contribuem com mais leucotrieno, aumentando o estímulo quimiotático. A ativação do complemento pode levar a eliminação do microorganismo por lise ou por fagocitose. Alguns fatores físicos também podem contribuir para a infecção uterina, como a conformação da vulva e a capacidade de drenagem. Bezerras virgens cobertas por touros adultos desenvolvem endometrite inespecífica pois ainda não possuem imunidade contras as bactérias saprófitas do pênis e do prepúcio. É comum ocorrer infecção uterina após o parto normal, mas esta regride em até dois dias. Após um parto patológico (retenção de placenta, aborto, parto distócico, traumatismo do canal genital) é mais freqüente ocorrerem complicações, como metrite. Algumas vezes, o aborto pode ter sido ocasionado por infecções durante a gestação, como a Brucella abortus. Outras vezes, há infecção após o parto, podendo ser predisposta por retardo na involução uterina. Os agentes encontrados com mais freqüência são Streptococcus, Actinomyces pyogenes e E. coli. Quase todo aborto no final da gestação complica-se com processo inflamatório. Agentes abortivos como Campylobacter foetus e Tritrichomonas foetus causam morte fetal precoce sem complicações, mas outros, como a Brucella abortus, causam aborto no final da gestação, com retenção de placenta e desenvolvimento de metrite aguda. Nestes casos, a doença uterina resulta da invasão secundária de bactérias que chegam ao útero como resultado de parto anormal de um feto morto ou doente. Os lóquios, uma mistura de sangue, fluidos fetais, muco, detrito epitelial e remanescentes placentários, devem ser eliminados na sua maior parte nas primeiras 48 horas após o parto, sendo removido em parte por descarga e em parte por reabsorção. O acúmulo e retenção de lóquios oferecem um excelente meio para o crescimento bacteriano. Quase toda infecção uterina começa no endométrio, onde são mais freqüentes, mas pode progredir rapidamente para outras manifestações. A ENDOMETRITE caracteriza-se por mucosa tumefeita, com superfície irregular e presença de fibrina e restos necrosados. À microscopia, podem ser observados neutrófilos no estroma e glândulas, esfacelamento de células epiteliais e até necrose severa. Esta pode resolver-se completamente ou, nos Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 16 casos crônicos, pode haver substituição por tecido cicatricial sem glândulas. A destruição do endométrio pode levar à incapacidade de síntese de PGF2, resultando em persistência do corpo lúteo. A seguir, serão comentados alguns tipos especiais de metrite. a) Piometra (piometrite) É o processo inflamatório caracterizado por acúmulo de exsudato purulento no útero, com o cérvix total ou parcialmente fechado. É mais comum na cadela, gata, vaca e égua e rara na ovelha e na porca. Na vaca, geralmente é processo pós-parto ou após o coito e associa-se ao corpo lúteo persistente (influência da progesterona). Na cadela e na gata, é mais freqüente na pseudogestação ou decorrente de infecção bacteriana secundária à hiperplasia cística de glândulas endometriais (complexo hiperplasia cística endometrial-piometrite da cadela). Associa-se ao excesso de estrógeno ou de progesterona (anticoncepcionais). Macroscopicamente, observa-se distensão uterina, mucosa com áreas necróticas, ulceradas e hemorrágicas e áreas secas, brancas, espessadas e císticas, conteúdo purulento, espesso, viscoso, pardo-avermelhado e fétido (E. coli e Proteus). Microscopicamente, há hiperplasia endometrial e infiltrado leucocitário. PATOGENIA DA PIOMETRA: Vacas Cadelas Endometrite Cistos ou Neoplasias PGF2 Corpo lúteo persistente Progesterona Progesterona Hiperplasia Endometrial Cística Infecção Bacteriana Piometra Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 17 b) Metrite puerperal (ou séptica) É um processo inflamatório da parede do útero que se instala após o parto. Observado em vacas com retenção de placenta e na porca associa-se ao parto distócico de longa duração; as bactérias são introduzidas no útero pelas mãos do homem ou instrumentos cirúrgicos; pode ser fatal em conseqüência da toxemia e septicemia.O útero está distendido, parede flácida, facilmente perfurável e corrimento (exsudato) de coloração escura e odor fétido. Em cadelas, relata-se uma metrite aguda que ocorre no puerpério ou por outras afecções uterinas, envolvendo a contaminação por colibacilos, estafilococos e estreptococos. Entre os fatores predisponentes, relaciona-se a baixa resistência uterina à idade, alimentação ou doenças intercorrentes, além de complicações durante e após o parto como o atraso na involução do útero, trauma durante manobras obstétricas e lesões do aparelho genital. São descritas três manifestações anatomopatológicas deste processo: Metrite Aguda Catarral (cornos dilatados, duros, com redução da luz e secreção seromucosa); Metrite Aguda Purulenta (útero endurecido e aumentado de volume, luz reduzida com secreção aderida ao endométrio) e Metrite Aguda Gangrenosa (útero flácido, congesto, exsudato acinzentado, mucosa friável, com úlceras, hemorragias e necrose). c) Complexo metrite - mamite - agalaxia (MMA) Descrito em porcas, é um processo que aparece 24 a 48 horas após o parto; caracteriza-se por anorexia, febre, parada da produção de leite e corrimento vaginal purulento. A produção de endotoxina bacteriana (E. coli) inibe a produção de prolactina. Existem alguns fatores de manejo que predispõem ao complexo, como ingestão de grandes quantidades de ração nos dias que antecedem ao parto (constipação intestinal proliferação de E. coli aumento de endotoxinas diminuição da produção de prolactina e septicemia útero metrite); o uso contínuo das instalações sem vazio sanitário e esquema rigoroso de desinfecção, além de outros. d) Metrite Contagiosa Eqüina (MCE) É a infecção uterina de éguas causada pela Taylorela (Haemophylus) equigenitalis. A égua torna-se portadora por 90 dias. Caracteriza-se por corrimento vaginal fibrinopurulento entre dois e dez dias após a monta. É uma doença venérea, com cura espontânea e causa infertilidade temporária. O garanhão é portador sem apresentar lesões e responsável pela transmissão. O diagnóstico definitivo requer o isolamento da bactéria, a fim de se diferenciar de outras infecções. e) Infecção por Campylobacter foetus foetus Estas bactérias pertencem à flora saprófita normal do prepúcio de touros, mas podem causar problemas em vacas. Quando há contaminação durante o coito, não ocasiona problemas, pois na fase de estro o útero possui uma alta concentração de leucócitos PMN com atividade bactericida. Na fase progestacional diminui o número e a eficiência bactericida dos leucócitos e a bactéria pode colonizar o útero a partir da cérvix. A C. foetus possui mobilidade que facilita sua movimentação, colonização e penetração intracelular. Sua imobilização por IgA é uma condição importante na defesa local contra esta bactéria. Além disso, a fixação do complemento ajuda a destruir as bactérias e portanto pode haver eliminação temporal destas em um curto espaço de tempo. Porém, junto com as bactérias, a reação inflamatória elimina os embriões, que são reabsorvidos, reiniciando o ciclo estral na fêmea. Estes eventos podem se repetir nas montas seguintes, se houver novamente introdução da C. foetus na vagina da vaca, até que esta desenvolva uma boa imunidade local que impeça novacolonização bacteriana do útero, o que pode levar três a cinco meses. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 18 Os principais sinais da infecção pela C. foetus são morte e reabsorção embrionária, com ciclos longos e irregulares (28 a 35 dias) ou aborto antes dos quatro meses, sem retenção placentária. As placentas podem estar autolisadas, refletindo o longo período que decorreu entre a morte do feto e seu abortamento. A placenta intercotiledonária está edematosa e opaca e os cotilédones possuem focos amarelados de necrose. O feto pode estar autolisado e apresentar lesões inespecíficas, como pneumonia exsudativa e conteúdo abomasal turvo, amarelo e grumoso (este é o material de eleição, ao lado dos cotilédones, para o diagnóstico). Patogenia da Infecção por Campylobacter foetus (adaptado de Elizondo, 1998) f) Infecção por Tritrichomonas foetus É a principal causa de infertilidade em bovinos em que se utiliza a monta natural. É um protozoário que causa um processo com patogenia e sintomatologia muito parecido com a infecção por C. foetus, exceto que não há desenvolvimento de imunidade contra o agente. g) Tuberculose A Mycobacterium bovis e M. avium podem causar metrite granulomatosa em vacas. Os casos generalizados podem envolver o endométrio e o perimétrio e se caracteriza por nódulos pequenos amarelados e consistentes, com necrose de caseificação. A via de infecção geralmente é descendente, por extensão do peritônio para as tubas e daí para o útero. Podem ser observados abortos repetidos. 3.6. HIPERPLASIA ENDOMETRIAL Designa o espessamento do endométrio em conseqüência de proliferação de glândulas endometriais. Etiopatogenia: Ocorre, por ordem de importância, em ovelhas, cadela, vacas, gatas e porcas. A etiopatogenia geralmente está relacionada ao hiperestrogenismo. Na ovelha, a ingestão de plantas estrogênicas é a principal causa. Em vacas, pode ser devido a cisto folicular ou tumor de células da granulosa. Na cadela, a etiologia inclui o uso de progestágenos com finalidade anticonceptiva ou de estrogênios para interromper a gestação. A etiologia é TOURO PORTADOR Bezerra em estro Introdução de bactérias na região cervical e vaginal Fase progestacional: diminuição de número e atividade de PMN Entrada de bactérias no útero Bactérias aderem e penetram na mucosa ENDOMETRITE E SALPINGITE Morte embrionária Reabsorção embrionária Bezerra em cio 28-35 dias após o coito Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 19 comum a da piometra e geralmente cursa com esta patologia (Complexo Hiperplasia Endometrial Cística e Piometra, na cadela). As patogenias nestas espécies serão estudadas separadamente. Na vaca, a hiperplasia endometrial cística deve-se ao estímulo excessivo e prolongado por estrógenos, associado aos cistos foliculares ou tumores da granulosa. Os estrógenos estimulam a hipertrofia do miométrio e a hiperplasia das glândulas endometriais. Muitas vezes, é acompanhada de glândulas císticas, quando há obstrução do colo das glândulas endometriais e estas ficam cheias com a própria secreção, dilatando-se e levando a formação de cistos. Também pode haver adenomiose e o animal apresenta estro contínuo, ninfomania e corrimento vaginal persistente. Na cadela, há influência de progesterona, com estímulo inicial por estrógenos. Os estrógenos atuam ligando- se aos receptores para estrógeno nas células endometriais e induzem, nestas células, a expressão de receptores para progesterona. A progesterona é o principal agente na indução de hiperplasia endometrial na cadela e na gata. Além de estimular a proliferação das glândulas endometriais, a progesterona estimula sua atividade secretora, mantendo o colo fechado e, portanto, impedindo a drenagem das mesmas. Ela tem ainda, efeito imunossupressor e diminui o tônus e as contrações do miométrio. Nestas condições, o útero está predisposto à colonização bacteriana e à infecção e desenvolve-se piometra. Ao mesmo tempo, as lesões endometriais ocasionadas pelo processo infeccioso levam a diminuição nos níveis de PGF2, o que leva ao aparecimento de um corpo lúteo persistente, surgindo assim um círculo vicioso que mantém a infecção. Este processo é conhecido como COMPLEXO HIPERPLASIA ENDOMETRIAL CÍSTICA E PIOMETRA da cadela. O estrógeno, por sua vez, tem a ação de induzir a hipervascularização, o crescimento da mucosa (proliferação do epitélio endometrial), relaxamento cervical e migração de leucócitos para a luz uterina. Aspectos Clínicos: O útero nestas condições não permite a implantação do embrião, dificulta a chegada do espermatozóide. O animal tem ovulação normal. Ovelhas gestantes que ingerem plantas estrogênicas, terão gestação prolongada devido à morte do feto e por isso o mecanismo do parto não é desencadeado. Ovelhas virgens podem ter desenvolvimento de glândula mamária e secreção de leite. Na égua, não se sabe se é devido ao excesso de estrógeno ou progesterona. Na cadela, pode ocorrer a condição conhecida com PSEUDOPRENHEZ ou PSEUDOGESTAÇÃO. O útero apresenta hidrometra ou mucometra, está bastante distendido, e ocorrem alterações no comportamento e desenvolvimento de glândula mamária, acompanhado de produção de leite. Aspecto anatomopatológico: Na hiperplasia endometrial, há espessamento do endométrio devido ao aumento no tamanho e número de glândulas endometriais, distribuídas irregularmente, estroma edematoso, as glândulas apresentam atividade proliferativa e secretória e, na cadela, podem estar tortuosas e secretórias. Pode haver algum grau de adenomiose, tanto na cadela com na vaca. Muitas vezes, o endométrio desenvolve hiperplasia cística, com espessamento do endométrio e formações císticas (“queijo suíço”). Apresenta-se nas formas difusa ou segmentar, com cistos de até 2 mm de diâmetro, com conteúdo aquoso claro; nas formas mais graves, na cadela, pode haver crescimentos papilares ou vilosos localizados, constituídos por tecido epitelial. A condição é irreversível. Não é uma lesão pré-neoplásica, exceto na mulher. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 20 3.7 NEOPLASIAS a) Adenocarcinoma: São raros em animais domésticos, exceto na vaca (freqüentemente encontrado em matadouro) e na coelha. É um tumor primário de glândulas endometriais. A incidência é elevada com o avançar da idade. Pode crescer difusamente no endométrio e infiltrar no miométrio ou aparece sob a forma de nódulo brancacentos de consistência moderadamente firme e que se infiltram no miométrio (não encapsulado). Quando difuso, causa espessamento da parede uterina e se confunde macroscopicamente com o linfossarcoma. Produz metástase nos linfonodos regionais, principalmente da cavidade pélvica e nos casos avançados pode atingir o pulmão. b) Leiomioma: É mais freqüente em cadelas, sendo encontrados no útero, cérvix e vagina.Seu crescimento é dependente de hormônio e freqüentemente está associado a cistos foliculares, hiperplasia endometrial ou neoplasias mamárias. Cessado o efeito do hormônio, o tumor pára de crescer ou sofre involução. Inicia no miométrio (primário). Caracteriza-se por formação nodular bem demarcada e não encapsulada, esférica, de coloração rósea ou branca e consistência firme (fibróide), constituído por fibras musculares lisas neoplásicas e grande quantidade de tecido conjuntivo. c) Linfossarcoma: Ocorre em vacas como uma forma de leucose bovina, causado por vírus. Caracteriza-se por placas amarelo- claras, friáveis e necróticas. Podem ser focais ou multifocais e coalescentes. 3.8 ENFERMIDADES DO ÚTERO GESTANTE a) Morte embrionária São fatores responsáveis pelo aumento da mortalidade embrionária: Hormonais: diminuição da progesterona e diminuição ou aumento do estrógeno, PGF2, aumento da prolactina e corticóide.A gestação se mantém na presença de uma parte de estrógeno para 200 partes de progesterona. Vacas com alta produção de leite têm alta produção de prolactina. Nutricionais: excesso de proteína (morte do embrião ou do feto); nitrogênio não protéico (uréia); porcas que ingerem ração com alto teor de energia, níveis elevados de proteínas e baixos teores de fibra. Infecciosos: vírus (parvovírus suíno, enterovírus suíno, pseudo-raiva e peste suína); bactérias (endometrite inespecífica); protozoários (tricomoníase). Genéticos: aberrações cromossômicas (X0) Estado físico: obesidade. Ambientais: temperaturas elevadas por longos períodos Caracteriza-se por repetição do cio precoce (25-30 dias) ou tardio (40-60 dias) e nascimento de ninhadas pequenas (multíparas). Na égua, a mortalidade embrionária é maior entre a 3 a e a 4 a semana; na porca, nas Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 21 primeiras 3 semanas. Na égua, tem sido relacionado ao cio do potro (Sete dias após o parto). O útero não teve involução completa ou devido a hormônios (lactação). Na porca, até o 14 o dia são necessários pelo menos quatro blastocistos para manter a gestação. Se houver nascimento de menos de 4 leitões, é porque houve morte embrionária após o 14 o dia. O parvovírus suíno causa morte embrionária, principalmente em primíparas. Espécie Período embrionário Porca 40 dias Égua 7 semanas Vaca 45 dias b) Morte fetal Nas uníparas, a morte fetal geralmente é seguida de aborto. Nas multíparas, quando alguns fetos morrem e outros sobrevivem, a gestação se mantêm até o final. Se todos os fetos morrerem, pode ocorrer aborto ou mumificação. Os que morrem, se mumificam. Se ocorrer a mumificação, o período de gestação será prolongado e não haverá o estresse fetal para induzir o mecanismo do parto. Mumificação: é comum nas multíparas, especialmente nas porcas (1% de mumificação é considerado normal). Há desidratação dos líquidos placentários no feto mumificado. As membranas fetais aderem ao feto morto, dando-lhe coloração escura, sem odor e sem exsudato (ausência de infecção no útero é o requisito básico para que ocorra mumificação). A porca que elimina o feto mumificado não sofre alteração no útero que comprometa as futuras gestações. Uma das causas de mumificação é a torção do cordão umbilical causando anoxia no feto. Os mesmos vírus que causam morte embrionária, se infectarem no período fetal, causam morte fetal com mumificação. Eliminado como corpo estranho. Maceração: dá-se na presença de infecção no útero, especialmente bactérias piogênicas. Compromete a função reprodutora futura. Devido à destruição de glândulas endometriais pela ação dos microorganismos, não há produção de PGF2 e ocorre persistência do corpo lúteo. O feto macerado é aquele que sofreu destruição dos tecidos moles, permanecendo a estrutura óssea. Caracteriza-se pela presença de exsudato e estruturas ósseas no útero. Nas multíparas, uma infecção bacteriana causa a morte de todos os fetos ao mesmo tempo (fetos todos do mesmo tamanho). Na infecção por vírus, os fetos morrem em idades diferentes (tamanhos diferentes). O parvovírus só provoca morte do feto até os 70 dias de gestação. Depois, o feto é imunocompetente e produz anticorpos contra o parvovírus. Um sêmen de má qualidade pode desencadear a maceração. Aborto: é o feto morto expulso antes do período normal de gestação. Na maioria das vezes, não é possível determinar a causa. O abortamento é o ato de eliminar o feto morto. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 22 Os fatores infecciosos incluem bactérias, como a Brucella (terço final da gestação), Leptospira, Campylobacter; vírus, como o BVD, IBR, rinopneumonite eqüina (aborto entre o 9 o e o 10 o mês de gestação); protozoários, como o Tritrichomonas e Toxoplasma e fungos, como o Aspergillus sp. O feto abortado em conseqüência de brucelose apresenta pneumonia e artrite. Na leptospirose, não são observadas lesões específicas, mas pode se tentar o isolamento do conteúdo gástrico. Na rinopneumonite eqüina, o feto apresenta lesões bem características: esplenomegalia, hepatomegalia, enterite generalizada, icterícia subcutânea, hemorragia das vias aéreas superiores. Os fatores nutricionais podem envolver excesso de proteína ou de nitrogênio não protéico, inanição, deficiência de vitamina A, deficiência de iodo e deficiência de selênio. Há também fatores hormonais (excesso de corticóide, deficiência de progesterona, PGF2 e excesso de estrógeno), físicos (ruptura de âmnio, inseminação em útero gestante, palpação retal indevidamente realizada, remoção de corpo lúteo) e tóxicos (clorados, DDT, diazina – fosforado – e micotoxinas – aflatoxinas). c) Gestação prolongada Uma das causas de gestação prolongada é a morte fetal, se todos os fetos morrerem. Em vacas com hipertireoidismo, o feto morre e a gestação se prolonga por um a dois meses. O mesmo ocorre em casos de hipopituitarismo com adrenais hipoplásicas (aberração cromossômica fetal). Em ovelhas, a ingestão de Veratrum californicum, até os 14 dias de gestação, causa má formação do feto. d) Feto prematuro O feto prematuro nasce vivo, antes do período normal de gestação. Ocorre em porcas com deficiência de iodo. e) Feto natimorto O feto natimorto é aquele que morre imediatamente antes do parto ou durante o parto. É um achado comum em porcas (4-5%). A principal causa é a anoxia. Após o rompimento do cordão umbilical, o animal precisa nascer em até 5 minutos. Quanto maior a leitegada, maior a probabilidade de nascer morto. f) Retenção de Membranas Fetais É mais comum na vaca, onde se considera que há retenção quando a placenta não é eliminada até 12 horas após o parto. Sugere-se que isso possa ocorrer por causas infecciosas, nutricionais, hormonais, circulatórias, hereditárias e climáticas. Doenças que cursam com placentite, como a brucelose, freqüentemente determinam retenção da placenta. A presença de restos placentário no útero após o parto favorece a proliferação bacteriana e predispõe a endometrite pós-parto. Além disso, pode ocorrer produção exagerada de toxinas bacterianas e as vacas desenvolvem toxemia. g) Hidrâmnio e hidralantóide Corresponde ao acúmulo de líquido na cavidade amniótica e no alantóide. O hidrâmnio está geralmente associado à má formação fetal. O hidralantóide ocorre nas patologias uterinas, número inadequado de carúnculas e desenvolvimento de placenta adventícia, ou ainda em gestação gemelar. Entre as seqüelas são descritas: distocia, atonia uterina, retenção de placenta e metrite; os fetos morrem ou são pequenos, apresentando anasarca e ascite. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 23 4. ENFERMIDADES DO CÉRVIX 4.1 CERVICITE Geralmente, é uma extensão de endometrite ou vaginite. O epitélio secretor de muco fornece uma boa defesa contra a invasão bacteriana. Se ele for lesado, o tecido subjacente é exposto, mas este não é especialmente sensível a ação de bactérias. A maioria das inflamações é superficial, exceto em casos como a necrobacilose. A cervicite caracteriza-se por hiperemia, edema, projeção dos anéis e exsudato mucopurulento, com degeneração e descamação do epitélio. O prolapso e a tumefação dos anéis cervicais é mais óbvio em vacas velhas. A cervicite crônica pode ocasionar aumento e endurecimento do cérvix, com relativa estenose. Abscessos cervicais e fístulas supuradas resultam de lesão acidental (irrigação uterina e inseminação artificial). 5. ENFERMIDADES DA VULVA E DA VAGINA A vagina, a vulva e o vestíbulo têm origem ectodérmica, sendo derivadas da partição do seio urogenital. A falha na partição permite a persistência da cloaca. A hipoplasia da vulva e do vestíbulo é observada ocasionalmente,às vezes sozinha, mas geralmente associada à hipoplasia dos derivados dos ductos de Müller. A hipertrofia do clitóris ocorre no pseudo-hermafroditismo em vacas e porcas com cistos foliculares funcionais. 5.1 ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO a) Persistência do Hímen (Hímen imperfurado) Deve-se a fusão imperfeita dos ductos de Müller e seio urogenital. Ocasiona acúmulo de secreção com distensão e atonia do útero, cérvix e vagina. b) Cistos Vaginais e Vulvares São descritos dois tipos de cistos, segundo sua origem e localização. Cistos dos Ductos de Gartner: são remanescentes dos ductos de Wollf, situados abaixo do epitélio do assoalho da vagina, em vacas, que se tornam císticos em animais envenenados por naftalenos clorados, com cistos foliculares e, ocasionalmente, na vaginite. Medem 1-2cm de diâmetro. Cistos das Glândulas de Bartholin: estão situados no vestíbulo e normalmente tem dimensões de 3x1,5cm. Sua dilatação cística ocorre sob os mesmos estímulos dos cistos de Gartner, sendo mais comuns em conseqüência da inflamação. Estas glândulas são muito sensíveis aos estrógenos, respondendo com elaboração de um muco fino e hiperplasia do ducto. O hiperestrogenismo pode ser responsável pelo desenvolvimento cístico. Grandes cistos de retenção acompanham a constrição inflamatória dos ductos excretores. 5.2 VULVOVAGINITE A mucosa da vagina e da vulva tem em comum com as mucosas em geral uma susceptibilidade a substâncias irritantes. A resistência destas é explicada por fatores mecânicos do epitélio queratinizado e pela produção local de ácido lático a partir do glicogênio depositado no epitélio. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 24 a) Etiologia: Vulvovaginite Pustular Infecciosa (IBR) É causada por um subtipo de herpesvírus-1 bovino. A infecção pode ser transmitida para ovinos e caprinos, causando vaginite. É muito contagiosa, transmitida principalmente pelo coito, mas também pelo contato íntimo. Depois de aproximadamente dez dias, a doença desaparece, deixando uma imunidade passageira. Há, inicialmente, hiperemia da mucosa, com hemorragias dos folículos linfóides e surgem focos pequenos (2- 3mm), ligeiramente elevados, pálidos, macios e friáveis. Há erosão e úlcera e em alguns dias os focos são placas lisas, acinzentadas, semitransparentes. Algumas novilhas podem apresentar falhas reprodutivas depois de infectadas. A doença recrudesce e o animal possui o vírus e pode transmitir. Durina É doença venérea de eqüinos, causada pelo Trypanosoma equiperdum. É diferente das outras tripanossomíases, pois a transmissão ocorre pelo coito, de modo que a doença ocorre quase exclusivamente em garanhões e éguas em reprodução. O microorganismo penetra na mucosa intacta no local de implantação e prolifera nos espaços linfáticos da submucosa. Daí dissemina-se pelo sangue e pode ocorrer edema onde ele se localizar. Ocorrem sinais genitais, cutâneos, nervosos e generalizados. A genitália externa está edematosa e grosseira e pode haver endurecimento nos casos crônicos. Os folículos linfóides tornam-se hiperplásicos e ulcerados e pode haver grande volume de descarga. 5.3 PROLAPSO VAGINAL É mais freqüente em vacas e ovelhas. Ocorre no final da gestação ou após o parto, podendo estar associado ao prolapso uterino. Na cadela, ocorre em resposta ao aumento do nível de estrógeno durante o proestro e o estro, podendo impedir o coito. Regride na fase luteínica, mas pode recorrer nos estros seguintes. 5.4 NEOPLASIAS a) Leiomioma É o tumor mais comum da genitália da cadela. Origina-se do músculo liso da parede do útero, cérvix e vagina. Geralmente, há múltiplos focos e ele não é maligno, mas é hormônio dependente. Freqüentemente está associado a cistos foliculares, tumores que secretam estrógeno ou hiperplasia endometrial cística. Cadelas castradas precocemente são isentas e os tumores regridem após a ovariectomia. O leiomioma pode atingir 10-12cm, mas não é invasivo. Tumores pequenos são carnosos e a medida que crescem tornam-se mais firmes. Ao corte, tem coloração avermelhada ou branca, dependendo da quantidade de músculo e tecido conjuntivo. Não é encapsulado, mas é bem demarcado. Em geral, os tumores se projetam como massas globosas ou elípticas ou pólipos bulbosos ao lúmen. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 25 b) Tumor venéreo transmissível É uma neoplasia contagiosa de cães, transmitida pelo coito ou contato íntimo. Ocorre na genitália externa de machos e fêmeas, sendo conhecido por “Tumor de Sticker”. Provavelmente é causado por vírus. É mais freqüente em cães de rua, em condições de promiscuidade e subnutrição, o que sugere que seu desenvolvimento pode estar associado a imunossupressão. Tem cura espontânea e pode haver implante na conjuntiva por contato direto (hábito da cadela se lamber). Não é infiltrativo e é benigno. Caracteriza-se por uma massa irregular, ulcerada e friável, que se projeta na vagina e na vulva e sangra facilmente. c) Fibropapiloma Mais comum em bovinos, é um tumor benigno, causado por vírus e observado na vagina e vulva, na fêmea, e no prepúcio, no macho. Acredita-se que seja uma variação do vírus do papiloma bovino. Podem estacionar ou regredir espontaneamente. Os animais que se recuperam, tornam-se imunes. d) Carcinoma espinocelular É mais freqüente na vulva de vacas em que esta região é despigmentada. A incidência de raios solares ultravioletas, assim como traumatismos, predispõem ao aparecimento desta neoplasia. A conjuntiva ocular também é susceptível. e) Melanoma Pode ser observado na vulva de éguas tordilhas. PATOLOGIA DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO TESTÍCULOS, EPIDÍDIMO E BOLSA ESCROTAL PATOLOGIAS DA BOLSA ESCROTAL E TÚNICA VAGINAL Hidrocele A túnica vaginal possui uma camada visceral e uma parietal, unida ao escroto. O espaço entre as duas camadas é contínuo com a cavidade peritoneal e portanto, as túnicas e a cavidade estão sujeitas às mesmas patologias do peritônio e cavidade peritoneal, sendo susceptível ao acúmulo de fluido nas condições que levam a ascite, anasarca e linfedema local. A hidrocele é o acúmulo de líquido seroso na cavidade vaginal ou no cordão espermático. Esta alteração pode levar a degeneração testicular severa no lado envolvido e em menor grau do lado oposto (termoregulação). A hidrocele vaginal no cavalo está muitas vezes associada à hérnia inguinal e, neste caso, o líquido seroso origina-se dos segmentos intestinais herniados. Observa-se, em decorrência da hidrocele, acentuado intumescimento da bolsa escrotal e do cordão espermático. Ao corte, as estruturas peritesticulares apresentam-se cheias de líquido seroso coagulado. Além das causas de edema citadas acima, também podem estar envolvidas na etiologia da hidrocele os processos inflamatórios, traumatismos e outras alterações circulatórias. Patologia Especial dos Animais Domésticos DMV / UFRPE profª. Márcia de Figueiredo Pereira 26 Hematocele É o acúmulo de grande quantidade de sangue na cavidade vaginal, causada principalmente por trauma. Dermatite Escrotal Devido à delicadeza da pele da bolsa escrotal, ela é especialmente vulnerável à inflamação. O seu desenvolvimento é influenciado pelas abundantes anastomoses arteriovenosas presentes e os efeitos incluem impedimento da função da túnica dartos. As causas mais freqüentes são irritantes ambientais inespecíficos, como trauma físico, “queimaduras” por frio excessivo e exposição a irritantes químicos. Em ruminantes, também são importantes causas o Dermatophilus congolensis, Besnoitia besnoitti, fungos e ectoparasitos (Chorioptes ovis), específicos do saco escrotal. A miíase escrotal pode ser causada por larvas de mosca. Na dermatite escrotal, há elevação local da temperatura, levando a degeneração testicular. A infecção grave
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