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Morfologia: Tamanho, forma e arranjos bacterianos As bactérias são extremamente variáveis quanto ao tamanho e formas que apresentam. Até recentemente acreditava-se que as menores bactérias apresentavam cerca de 0,3 µm (ex: Mycoplasma), entretanto, já existem relatos de células menores, denominadas nanobactérias ou ultramicrobactérias, com tamanhos variando de 0,2 a 0,05 µm de diâmetro, sendo algumas inclusive já cultivadas em laboratório. Há ainda controvérsias quanto a este grupo, pois vários autores acreditam ser meros artefatos. Muitas bactérias medem de 2 a 6 µm de comprimento, por 1 a 2 µm de largura, mas certamente estes valores não podem ser definidos como absolutos, pois eventualmente encontramos bactérias de até 500 ou 800 µm, como no caso de Epulopiscium ou Thiomargarita. Em relação às formas, a maioria das bactérias estudadas seguem um padrão menos variável, embora existam vários tipos morfológicos distintos. De maneira geral, as bactérias podem ser agrupadas em três tipos morfológicos gerais: cocos, bacilos e espiralados. Os cocos correspondem a células arredondadas, podem se dividir sem um plano de orientação definido, o que leva a um grande número de arranjos diferentes. Assim temos os cocos isolados, diplococos (Neisseria, pneumococos), tetracocos, sarcinas (cubos contendo 8 células), estreptococos (cocos em cadeia) e estafilococos (cocos formando massas irregulares). Microscopia óptica, corada pelo método de Gram, de cocos em um arranjo denominado estafilococos. Microscopia eletrônica de varredura das células apresentadas acima. Os bacilos têm forma de bastonetes, podendo apresentar extremidades retas (Bacillus anthracis), arredondadas (Salmonella, E. coli), ou ainda afiladas (Fusobacterium). Como seu plano de divisão é fixo, ocorrendo sempre no menor eixo, os bacilos exibem uma menor variedade de arranjos, sendo via de regra encontrados isolados, como diplobacilos ou ainda como estreptobacilos. Há ainda um arranjo, denominado “em paliçada”, também denominado letras chinesas, que é típico do gênero Corynebacterium. Tal tipo de arranjo ocorre porque a parede celular desses organismos é dupla e no momento da divisão celular ocorre a ruptura de apenas uma das camadas, deixando as células unidas pela camada de parede que não se rompeu. Os bacilos podem ainda apresentar-se como pequenas vírgulas (Vibrio cholerae) ou em forma de meia lua (Selenomonas). Microscopia óptica, corada pelo método de Gram, de bacilos arranjados dois a dois (diplobacilos). Microscopia óptica, corada pelo método de Gram, de cocos formando cadeias, um arranjo denominado estreptococos. Microscopia eletrônica de varredura das células apresentadas acima. Microscopia eletrônica de transmissão, de um bacilo em processo de divisão celular. Espiralados: Sua nomenclatura é bastante controvertida ainda. Um tipo de classificação divide os espiralados em dois grupos, osespiroquetas, que apresentam uma forma de espiral flexível, possuindo flagelos periplasmáticos. O outro grupo são os espirilos, que exibem geralmente morfologia de espiral incompleta e rígidos. Geralmente os espiralados são microrganismos bastante afilados, de difícil observação por microscopia de campo claro, sendo muitas vezes analisados por meio da microscopia de campo escuro, ou de técnicas de coloração empregando a impregnação por sais de prata. Microscopia óptica de fluorescência, de um organismo espiralado. Microscopia óptica, utilizando um procedimento de impreganção com sais de prata, revelando a bactéria causadora da sífilis, Treponema pallidum(observe os grandes neutrófilos próximos às bactérias) Micrografias eletrônicas colorizadas de diferentes bactérias. No sentido horário: Enterococcus (cocos ovalados), Francisella (bacilos pequenos, com a região central abaulada), Fusobacterium (longos bacilos, geralmente com extremidades mais afiladas) e Neisseria gonorrhoeae (diplococos em forma de rins). (Fotos obtidas de sites da internet) Há ainda formas intermediárias como os cocobacilos; formas pleomórficas (quando o microrganismo não tem uma morfologia padrão), tal como Mycoplasma; ou ainda formas de involução, originadas quando o meio encontra-se desfavorável ao desenvolvimento. Nesses casos, como o organismo deixa de realizar os processos metabólicos (nutrição e divisão celular) adequadamente, este sofre alterações morfológicas. Há também bactérias apresentando apêndices, tais como extensões celulares na forma de longos tubos ou hastes (prostecas) (Rhodomicrobium vannielii). Além destas bactérias, estudos vêm revelando a ocorrência de bactérias com formas bastante peculiares, tais como células estreladas ou retangulares. bactéria com morfologia retangular bactéria com morfologia semelhante a uma estrela (Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998) Bactéria pedunculada (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) retornar Ultraestrutra Bacteriana A ultraestrutura bacteriana começou a ser estudada em maiores detalhes nas décadas de 50 e 60, a partir do melhoramento das técnicas de microscopia eletrônica. Os procedimentos adotados incluíam a lise celular, seguida de centrifugação para promover a separação dos vários componentes subcelulares, que podiam agora ser purificados e analisados bioquimicamente. Parede Celular - Estrutura presente na maioria das bactérias conhecidas, exceto em micoplasmas e algumas Archaea, que não a possuem. Corresponde a uma das estruturas mais importantes nas células bacterianas, estando localizada na porção mais externa, acima da membrana citoplasmática. Devido à sua grande rigidez, a parede celular é responsável pela manutenção da forma do microrganismo. Como o ambiente intracelular é bastante concentrado em relação ao meio externo, (variando de 2 a até 10 atm), a parede atua como uma barreira física rígida, que mantém a forma celular, impedindo que a célula estoure em decorrência do grande turgor. Além disso, a parede celular atua como uma barreira de proteção contra determinados agentes físicos e químicos externos, tais como o choque osmótico. A parede pode ainda desempenhar importante papel em microrganismos patogênicos, em decorrência de presença de componentes que favorecem sua patogenicidade, tais como antígenos ou moléculas envolvidas no reconhecimento celular. Em 1884, Christian Gram desenvolveu um método de coloração de bactérias que permitia sua separação em dois grupos distintos, as Gram positivas (que coravam-se em roxo) e as Gram negativas (que coravam-se em vermelho). A partir do advento da microscopia eletrônica e do aperfeiçoamento das técnicas de análise bioquímica dos diferentes componentes celulares, foi verificado que esta diferença entre as bactérias Gram positivas e Gram negativas era, provavelmente, devida às diferenças de composição e estrutura das paredes celulares. Assim, quando observadas sob microscopia eletrônica de transmissão, as bactérias Gram positivas apresentam uma parede celular espessa (de 20 a 80 nm), de aspecto homogêneo, enquanto as células Gram negativas exibem uma parede mais delgada (de 9 a 20 nm) e de aspecto bastante complexo, aparentemente apresentando mais de uma camada. A microscopia eletrônica de varredura revelou outras diferenças entre estes dois grupos de organismos. As Gram positivas exibiam a superfície mais lisa e homogênea, enquanto as Gram negativas apresentavam-secom maior complexidade superficial. Aspecto das paredes celulares de organismos Gram positivos e negativos (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) Retornar Composição da parede celular Peptideoglicano (mureína ou mucopeptídeo): Composto exclusivamente encontrado no domínio Bacteria, sendo o responsável pela rigidez da parede celular. O peptideoglicano corresponde a um enorme polímero complexo que, em bactérias Gram positivas pode formar até 20 camadas, enquanto em células Gram negativas está presente, formando apenas uma ou duas camadas. O peptideoglicano corresponde a um esqueleto, formado por dois derivados de açúcares, a N-acetilglicosamina (NAG) e o ácido N- acetilmurâmico (NAM), unidos alternadamente, através de ligações do tipo ß-1,4. O grupo carboxil de cada molécula de NAM liga-se a um tetrapeptídeo, composto por aminoácidos que alternam-se nas configurações L e D. Destes aminoácidos, o D-glutamato, D-alanina e o ácido meso-diaminopimélico não são encontrados em qualquer outra proteína conhecida. Acredita-se que sua presença confira maior resistência da parede contra a maioria das peptidases. Assim, em cada resíduo de NAM há um tetrapeptídeo associado. A enorme rigidez da da parede celular é resultante das ligações entre os tetrapeptídeos de cadeias adjacentes. Neste aspecto, há uma grande diferença entre as bactérias Gram positivas e negativas. Nas bactérias Gram negativas (Ala-Glu-DAP-Ala), a ligação entre os tetrapepídeos é direta, ocorrendo entre o grupamento amino do DAP subterminal (posição 3) e o grupamento carboxi da D-Ala terminal (posição 4). Já nas Gram positivas (Ala-Glu-Lys-Ala), a ligação é indireta, sendo mediada por uma ponte interpeptídica de natureza variável (cinco glicinas em S. aureus). A análise das figuras abaixo deixa clara a grande estruturação do peptídeoglicano, em virtude das inúmeras ligações cruzadas existentes ao longo da molécula. Assim, devido a esta complexa estruturação física, o peptideoglicano confere rigidez à parede, embora exiba certo grau de elasticidade e também porosidade. peptideoglicano de células Gram positivas peptideoglicano de células Gram negativas Nas bactérias Gram positivas, cerca de 90% da parede celular é composta pelo peptídeoglicano, que geralmente forma cerca de 20 camadas. O restante da parede é composto essencialmente por ácido teicóico. Nas bactérias Gram negativas, apenas cerca de 10% da parede corresponde ao peptideoglicano, existindo geralmente como uma camada única ou dupla. Os demais componentes da parede celular de bactérias Gram negativas serão analisados posteriormente. Esquema ilustrando o espesso peptideoglicano de bactérias Gram positivas (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) Ácidos Teicóicos: Juntamente com peptideoglicano, os ácidos teicóicos compõem a parede celular das bactérias Gram positivas. Estes compostos, presentes em grandes quantidades, correspondem a polímeros de glicerol ou ribitol ligados a açúcares ou aminoácidos e conectados entre si por meio de grupamentos fosfato. Os ácidos teicóicos associam-se ao peptideoglicano pela ligação do grupamento 6 hidroxil do ácido N-acetilmurâmico, podendo alternativamente associar-se aos lipídeos da membrana citoplasmática, quando passam a ser denominados de ácidos lipoteicóicos. Devido à sua carga negativa, os ácidos teicóicos contribuem com o caráter negativo da superfície celular de Gram positivas. Seu papel fisiológico é ainda desconhecido, mas especula- se que estes possam participar nos processos de passagem de íons pela parede, ou ligar-se a prótons, mantendo um pH celular relativamente baixo. Em casos de escassez de fosfato, os ácidos teicóicos podem ser substituídos por ácidos teicurônicos, deixando assim os fosfatos livres para comporem ATP ou DNA, por exemplo. Fórmula de um ácido teicóico, contendo ribitol (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) O componente adicional da Parede Celular de Gram negativos Membrana Externa: Esta, embora denominada "membrana"externa é um componente da parede celular, presente apenas nas bactérias Gram negativas. A membrana externa corresponde a uma segunda bicamada lipídica (semelhante à membrana plasmática), localizada acima do peptideoglicano, contendo fosfolipídeos, lipoproteínas, proteínas e também lipopolissacarídeos. Quando comparada à membrana citoplasmática, a membrana externa exibe maior permeabilidade a pequenas moléculas, tais como glicose ou outros monossacarídeos. Sua face interna geralmente é rica em pequenas lipoproteínas (7,2 kDa), denominadas lipoproteínas de Braun, que ligam-se covalentemente ao peptideoglicano, ancorando firmemente a membrana externa à camada de peptideoglicano. Estudos indicam que a membrana externa e a membrana citoplasmática mantém contato em algumas discretas regiões celulares, denominadas sítios de adesão. Acredita-se que estas regiões de junção podem conferir maior rigidez à parede celular das bactéria Gram negativas, além de fixar melhor a membrana externa, não deixando-a frouxa, associada somente ao peptideoglicano. Os sítio de adesão foram também denominados junções de Bayer e acredita-se que possam ser importantes locais de passagem de compostos citoplasmáticos, seja componentes envolvidos na síntese da membrana externa ou diferentes nutrientes. Esquema da parede celular de organismos Gram negativos (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) A face externa da membrana externa é rica em lipopolissacarídeos (LPS), inexistentes na membrana citoplasmática. Estes componentes são também denominados de endotoxina, uma vez que provocam febre, choque e eventualmente morte, quando injetados em animais. O LPS é uma molécula complexa, composta por 3 regiões distintas: lipídeo A, polissacarídeo central e cadeia polissacarídica lateral O, ou Antígeno O. Esquema do lipopolissacarídeo, encontrado na face externa da membrana externa (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) O lipídeo A corresponde à porção mais interna da molécula, ancorando o LPS à porção hidrofóbica da membrana externa. Este componente corresponde à porção tóxica do LPS e geralmente é composto por ácido esteárico, palmítico, mirístico, láurico ou capróico. Estes ácidos graxos estão ligados a um dissacarídeo de NAcGlicosamina-P. A porção polissacarídica localiza-se acima do lipídeo A, em direção ao exterior, sendo composta por duas regiões, o polissacarídeo central e polissacarídeo O, que é mais externo, de natureza repetitiva. EmSalmonella, o cerne é composto por 10 açúcares pouco usuais. Conectado ao cerne, há o Ag O, que geralmente é composto por 3 a 5 açúcares bastante peculiares e variáveis. A natureza destes açúcares pode ser modificada pelos microrganismos, resultando em um mecanismo de evasão do sistema imune. O LPS também confere carga nagativa à superfície celular. O LPS se associa a proteínas, formando a face externa da unidade de membrana. A membrana externa apresenta um grupo especializado de proteínas, denominadas genericamente de porinas, que atuam como canais para a passagem de pequenas moléculas hidrofílicas, participando assim do processo de nutrição. As porinas podem ser específicas, contendo sítios de ligação para 1 ou mais substratos, ou inespecíficas, compondo canais aquosos. A maioria das porinas correspondem a proteínas transmembrânicas, com 3 subunidades idênticas, que formam orifícios de cerca de 1 nm, sendo que, aparentemente, possuem mecanismos para a abertura e fechamento. Para algumassubstâncias, a membrana externa é mais restritiva. retornar Compostos que afetam a Integridade da Parede Celular Ação da Lisozima na PC: Esta enzima, sintetizada por alguns organismos e por glândulas endócrinas do homem, age clivando as ligações do tipo -1,4, presentes no peptideoglicano. Nas células Gram positivas, o tratamento com lisozima origina protoplastos (células sem parede celular), enquanto nas Gram negativas, a lisozima origina esferoplastos (células com resquícios de parede celular). Ação da penicilina na PC: Este antibiótico impede a ligação dos tetrapeptídeos. A droga se liga irreversivelmente às PBPs, que são proteínas envolvidas no processo de biossíntese do peptideoglicano. Paralelamente, as autolisinas, que atuam em conjunto com a maquinaria de biossíntese, passam a degradar porções do peptideoglicano. Como a síntese está bloqueada, o resultado líquido é a formação de uma parede defeituosa. retornar A Camada S Algumas bactérias e várias Archaea apresentam uma camada de natureza protéica ou glicoprotéica estruturada (como um piso de tacos), denominada camada S. Esta camada, as bactérias, encontra- se acima da parede celular e até o momento, suas funções não se encontram totalmente esclarecidas. Acredita-se que esta camada proteja a célula contra flutuações osmóticas, de pH e íons, além de auxiliar na manutenção da rigidez da parede. Alguns autores especulam que a camada S pode mediar a ligação dos orgnaismos a superfícies. Microscopia eletrônica de uma célula contendo a camada S. (Adaptado de Prescott et al., 2002) retornar Cápsula, Glicocálix e camada limosa - A cápsula pode ser definida como uma camada externa à parede celular, geralmente apresentando-se como um material viscoso, fortemente associado à superfície celular, geralmente de natureza polissacarídica e raramente protéica. Por outro lado, o termo camada limosa é algumas vezes definido como uma uma zona difusa, contendo material pouco organizado, sendo facilmente removida. A presença da cápsula normalmente confere vantagens às bactérias, pois suas principais funções incluem: ligação às células do hospedeiro, fator de virulência por dificultar a fagocitose e também a proteção, seja aumentando a resistência ao dessecamento, uma vez que armazena grandes quantidades de água, fonte de nutrientes e proteção contra a infecção por bacteriófagos, ou interação com anticorpos. Em odontologia, a presença da cápsula pode ser considerada como um importante fator de virulência para o principal agente cariogênico - S. mutans, que sintetiza um cápsula composta por um homopolissacarídeo denominado glucano (produto da degradação da sacarose em glicose e frutose). Tal polímero adere-se firmemente à parede celular do microrganismo e permite sua aderência ao esmalte, favorecendo sua colonização. Outros microrganismos apresentam cápsula de natureza heteropolimérica - S. pneumoniae. Eventualmente, a cápsula pode ser de natureza polipeptídica, como em B. anthracis (ácido glutâmico, na forma D). Micrografia óptica, empregando a tácnica de coloração negativa, revelando células capsuladas. (Adaptado de Tortora et al., Microbiologia, 1998) Micrografia eletrônica de transmissão, revelando a delgada cápsula circudando a célula (Adaptado de "An eletctronic companion to microbiology") retornar Fímbrias e Pili - Muitas bactérias Gram negativas apresentam apêndices finos (3 a 10 nm), retos e curtos, denominados fímbrias. Geralmente estas são bastante numerosas, podendo atingir números de 1000 ou mais por célula. Como são muito pequenas e delgadas, somente podem ser visualizadas pela microscopia eletrônica. As fímbrias s ão de natureza protéica, compostas por subunidades repetitivas de uma proteína denominada genericamente de pilina. As fímbrias possuem, geralmente em sua extremidade, e algumas vezes ao longo da estrutura, proteínas distintas, denominadas adesinas, as quais mediam a adesão específica da célula bacteriana a diferentes substratos. Micrografia eletrônica de varredura de bacilos apresentando fímbrias Esquema ilustrando a organização estrutural de uma fímbria, assinalando a presença de moléculas do tipo adesina, situadas na extremidade da estrutura (Adaptado de An Electronic Companion to Microbiology) Muitas bactérias podem ainda apresentar outro tipo de apêndice, denominado pilus F ou fímbria sexual, o qual exibe semlhanças estruturais com as fímbrias. No entanto, este tipo de fímbra é normalmente encontrado em um menor número nas células, variando de 1 a 10. O pilus F corresponde a uma estrutura bastante longa e menos rígida que as fímbrias convencionais, estando envolvido no reconhecimento de outras bactérias, em um processo de transferência de genes denominado conjugação. Micrografia eletrônica colorizada, revelando a longa fímbria sexual (pilus F). Observar também a presença de fímbrias. Atualmente, diferentes tipos diferentes de fímbrias vêm sendo descritos, sendo vários destes associados à adesão, ou à virulência. Bactérias Gram positivas podem, muitas vezes, apresentar estruturas fibrilares (diferentes de fímbrias) em sua superfície, provavelmente também envolvidas nos processos de adesão a substratos. retornar Flagelos - Estruturas longas, delgadas e relativamente rígidas, apresentando cerca de 20 nm de espessura e 15 a 20 µm de comprimento, responsáveis pela locomoção das bactérias. Devido à sua pequena espessura, os flagelos somente podem ser visualizados por meio de colorações específicas, microscopia de campo escuro, ou por icroscopia eletrônica. De acordo com o número e distribuição dos flagelos, as bactérias podem ser classificadas como: atríquias (sem flagelos), monotríquias (um único flagelo), anfitríquias (um flagelo em cada extremidade) , lofotríquias (um tufo de flagelos em uma, ou ambas as extremidades) e peritríquias (apresentando flagelos ao longo de todo o corpo bacteriano). Bactéria monotríquia (Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of Microbiology) Bactéria anfitríquia (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Bactéria lofotríquia (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Bactéria lofotríquia (Adaptado de Atlas, 1997 - Principles of Microbiology) Bactéria peritríquia (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Bactéria peritríquia (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Estrutura - Estruturalmente, o flagelo pode ser subdivido em 3 regiões: filamento, corpo basal e gancho, sendo estas duas últimas importantes para a inserção e movimentão do filamento. O filamento dos flagelos apresenta estrutura helicoidal, com comprimento de onda constante para cada espécie. Este corresponde a um cilindro longo e oco, composto por unidades repetitivas de uma proteína denominada genericamente de flagelina, que pode variar de 30 a 60 kDa, dependendo do microrganismo. Sua extremidade distal é revestida por uma proteína seladora. Algumas bactérias apresentam bainhas de diferentes naturezas revestindo o filamento, tal como em Vibrio cholerae, ouBdellovibrio. O gancho apresenta maior espessura que o filamento, sendo composto por diferentes subunidades protéicas. O corpo basal corresponde à porção mais complexa do flagelo, apresentando 4 anéis ligados a um bastão central em bactérias Gram negativas, enquanto em Gram positivas são observados apenas 2 anéis. Os anéis externos L e P associam-se ao LPS e peptidioglicano, respectivamente, enquanto os anéis S e M estão associados à membrana citoplasmática. Esquema da estrutura dos flagelosbacterianos, em células Gram negativas (à esquerda) e Gram positivas (à direita) (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Detalhe ampliado da estrutura de um flagelo de células Gram negativas (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) Síntese flagelar - Muitos genes estão envolvidos na síntese do flagelo e na mobilidade celular. Em E. coli e Salmonella foram identificados mais de 40 genes (fla), que codificam proteínas estruturais, de exportação de componentes para o exterior e de regulação de muitos eventos bioquímicos envolvidos na síntese de novos flagelos. A síntese de flagelos é fortemente regulada, tanto por fatores metabólicos como por sinais emitidos durante a divisão celular. Acredita-se que as subunidades de flagelina sejam transportadas ao longo do filamento e se autoarranjam espontaneamente, quando atingem a ponta. Movimentação - A movimentação dos flagelos ocorre através de um mecanismo de rotação do filamento, em velocidades que podem atingir até 270 ou 1100 rps, o que permite uma locomoção de até 100 µm/segundo, correspondendo a 100 vezes o seu comprimento/minuto. Os flagelos atuariam de maneira análoga a propulsores de um barco, sendo o sentido da rotação importante para o tipo de movimentação resultante. Em muitas células monotríquias, a rotação no sentido anti-horário promove a movimentação para frente, enquanto a rotação no sentido horário faz com que a célula se locomova no sentido oposto. Em outras monotríquias, quando o flagelo gira no sentido horário promove a locomoção. Tipos de movimentação de células monotríquias (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) No caso de bactérias peritríquias, quando os flagelos giram no sentido anti-horário as células se movem para frente. Estes dobram seus ganchos e seus filamentos se agrupam, formando um feixe, que gira e propele a célula. Quando a rotação ocorre no sentido horário, os flagelos se separam e a bactéria passa a vibrar somente, até que os flagelos voltem a girar no sentido anti-horário, impulsionando novamente a célula para frente. Para que haja a movimentação, o bastão localizado entre o gancho e o anel M tem a capacidade de rodar livremente na membrana citoplasmática. Acredita-se que o anel S esteja fixo na parede celular, sem a possibilidade de rodar. Os anéis P e L sustentariam o bastão. Há evidências que o corpo basal atuaria como uma estrutura passiva que giraria no interior de um complexo proteíco inserido na membrana, semelhante a um rotor de um motor elétrico, que gira no centro de um anel de eletromagnetos (estator). A energia necessária para a rotação é provida pela força próton motiva. A dissipação do gradiente de prótons cria uma força que gira o flagelo no sentido anti-horário, impelindo o microrganismo. O rotor seria composto pelo bastão central, pelo anel M e por um anel C, ligado ao M através da membrana citoplasmática. Estes anéis são formados por várias proteínas, sendo a FliG bastante importante. No estator, temos as proteínas MotA e MotB, que formam um canal de prótons, sendo que MotB também ancora o complexo ao peptideoglicano. Esquema ilustrando a movimentação de bactérias peritríquias (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Flagelos periplasmáticos - Estes flagelos são encontrados apenas nos espiroquetas (sendo muitas vezes denominados de filamentos axiais). Como o prórpio nome indica, estes flagelos situam-se no periplasma, localizando-se abaixo da membrana externa destas bactérias. Os flagelos periplasmáticos originam-se a partir dos polos celulares, voltando-se em direção ao centro da célula, envolvendo a membrana citoplasmática do corpo bacteriano. Micrografia eletrônica colorizada, revelando os flagelos periplasmáticos (amarelo) (Adaptado de Tortora et al., 1998 - Microbiology) Micrografia eletrônica revelando o flagelo periplasmático, situado abaixo da membrana externa (Adaptado de An Electronic Companion to Microbiology) retornar Movimentação por meio de deslizamento Muitos procariotos são móveis, apesar de não possuírem flagelos. Estas bactérias são capazes de se movimentar sobre superfícies sólidas, por um processo denominado deslizamento. A motilidade por deslizamento é apresentada por vários membros de Bacteria, sendo, no entanto, estudada somente em alguns poucos grupos. O movimento deslizante é consideravelmente mais lento – 10 µm/seg para algumas bactérias, quando comparado às velocidades atingidas pelo movimento flagelar mas, da mesma forma, permite a locomoção das bactérias em seus habitats. Mecanismos da Motilidade Por Deslizamento Embora até o momento nenhum mecanismo de deslizamento tenha sido comprovado, existem alguns modelos definindo o processo, além de evidências sugerindo a existência de mais de um tipo de mecanismo. Em cianobactérias, à medida que as células deslizam, secretam um polissacarídeo limoso em sua superfície externa. Aparentemente, este polissacarídeo estabelece o contato entre a superfície celular e a superfície sólida, contra a qual a célula desliza. À medida que o polissacarídeo limoso excretado se adere à superfície, a célula é gradativamente puxada. Esta hipótese é sustentada pela observação de poros excretores de compostos limosos na superfície de várias cianobactérias filamentosas. Em Flavobacterium johnsoniae, provavelmente o mecanismo de deslizamento envolve a movimentação de proteínas na superfície celular. De acordo com este modelo, proteínas específicas de motilidade, ancoradas nas membranas citoplasmática e externa, parecem propelir a célula para frente por um mecanismo de cremalheira contínua. Ao que parece, o movimento das proteínas da membrana citoplasmática é promovido pela liberação de energia oriunda da força próton motiva que, de alguma maneira, transmite esta energia às proteínas da membrana externa, localizadas ao longo de uma “pista de corrida” na superfície celular. Acredita-se que o movimento das proteínas da pista de corrida contra uma superfície sólida, literalmente empurre a célula para frente. Assim como as outras formas de motilidade, o deslizamento apresenta grande relevância ecológica. Este movimento permite que a célula explore novos recursos, ou interaja com outras células, de maneira benéfica. Esquema proposto para a movimentação deslizante de Flavobacterium (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) retornar Periplasma (gel periplasmático) - Corresponde a um espaço situado entre a membrana externa e membrana citoplasmática, encontrado em células Gram negativas. Embora questionáveis, relatos esporádicos descrevem a existência de um espaço observado entre o peptideoglicano e a membrana citoplasmática de organismos Gram positivos. O periplasma apresenta consistência de gel, provavelmente devido ao grande número de proteínas presentes nesta região. Em virtude disto, este "espaço" passou a ser denominado gel periplasmático. O periplasma pode atingir de 1 a cerca de 70 nm de espessura, correspondendo a até 40% do volume total da célula. Em Gram negativas, tem grande importância, pois várias enzimas e outras proteínas estão localizadas, incluindo hidrolases, proteínas de ligação envolvidas no transporte e quimiorreceptores. Bactérias quimiolitotróficas e denitrifcantes apresentam muitas vezes proteínas transportadoras de elétrons no periplasma, outras apresentam enzimas envolvidas na síntese de peptideoglicano. A presença do periplasma bactérias Gram positivas é ainda motivo de controvérsias, devido ao enorme potencial secretor que este grupo apresenta. retornar MembranaCitoplasmática - Estrutura delgada, com cerca de 8 nm, composta por uma bicamada fosfolipídica (podendo apresentar 7 tipos de fosfolipídeos diferentes), entremeada de proteínas (cerca de 200 tipos distintos), atuando como importante barreira osmótica, altamente seletiva. Normalmente, as membranas de organismos procariotos apresentam maiores concentrações de proteínas que as membranas eucarióticas, tendo em vista a ausência de organelas citoplasmáticas nas bactérias. A bicamada fosfolipídica é composta por glicerol ligado a duas cadeias de ácidos graxos, através de ligações do tipo éster, com proteínas entremeadas. Tanto as proteínas como os fosfolipídeos podem mover-se lateralmente ao longo da membrana. Esta é estabilizada principalmente por interações hidrofóbicas e por pontes de H. Paralelamente, os íons Ca+2 e Mg+2 também participam, interagindo ionicamente com as cargas negativas dos fosfolipídeos. Via de regra, os fosfolipídeos bacterianos contém ácidos graxos com cadeias não ramificadas de 16 a 18 átomos de carbono. Esta composição pode ser variável, de acordo com as condições ambientais. Assim, quando cultivadas em temperaturas baixas, há um aumento da proporção de ácidos graxos insaturados, aumentando consequentemente a fluidez da membrana. Por outro lado, aumetando o grau de saturação, as cadeias tornam-se mais rígidas, pois as moléculas têm maior capacidade de associação. Esquema da membrana citoplasmática bacteriana (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) Via de regra, exceto no caso dos micoplasma (bactérias desprovidas de parede celular), micoplasmas, as membranas procarióticas não apresentam esteróis, como observado em eucariotos. Entretanto, muitas bactérias apresentam moléculas pentacíclicas, semelhantes a esteróis, denominadas hopanóides, talvez conferindo maior rigidez à membrana. A presença de esteróis na membrana citplasmática de micoplasmas pode ser justificada pela ausência da parece celular, neste grupo de organismos. Similaridade estrutural entre os esteróis (a), colesterol (b) e hopanóides (c) (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) retornar Mesossomos - correpondem a extensas invaginações da membrana citoplasmática, em forma de vesículas, lamelas ou túbulos. Geralmente são encontrados com maior abundância em Gram positivos, mas também presentes em Gram negativos. Até hoje, sua existência e funções são ainda debatidas pelos pesquisadores. Diversas funções têm sido atribuídas aos mesossomos, tais como a participação na segregação dos cromossomos durante a divisão, papel respiratório, papel na esporulação, ou até mesmo como sendo um mero artefato decorrente dos procedimentos utilizados para a preparação microscópica dos espécimes. A partir do acahado de extensos mesossomos em bactérias de grandes dimensões, acredita-se que sua principal função seja de aumentar a superfície da membrana, aumentando assim o conteúdo enzimático das células. retornar Matriz Citoplasmática - É composta por cerca de 70% de água, além dos demais compostos celulares, tais como o DNA, inclusões e plasmídeos. Caracteristicamente, o citoplasma celular apresenta um grande concentração de ribossomos e proteínas, tais como proteínas atuando como um sistema de citoesqueleto. retornar Nucleóide e plasmídeos- Os procariotos são organismoshaplóides, geralmente apresentando apenas 1 único cromossomo não envolto por carioteca. Eventualmente, algumas bactérias podem apresentar 2 ou 3 cromossomos. O cromossomo bacteriano é normalmente cirucular e encontra-se bastante enovelado, em uma região celular denominada nucleóide. Em bactérias, o cromossomo não apresenta-se associado a histonas, sendo estabilizado por outras proteínas de natureza básica. Geralmente o DNA cromossomal corresponde a uma molécula bastante grande, podendo ser 1000 vezes maior que a própria célula. Em E. coli, o DNA possui cerca de 4,7 Mb, exibindo aproximadamente 1 mm de comprimento, quando linearizado. (Adaptado de An Electronic Companion to Microbiology) Várias bactérias apresentam também moléculas de DNA extracromossomal, denominadas plasmídeos, as quais são geralmente circulares, contendo muitas vezes genes que conferem características adaptativas vantajosas ao microrganismo. Seu número e dimensões são bastante variáveis. retornar Corpúsculos de inclusão - São grânulos de armazenagem, de diferentes naturezas, sendo geralmente utilizados como fonte de material de reserva ou energia, muitas vezes insolúveis. Estes podem apresentar-se sem qualquer envoltório ou envoltos por uma única camada lipídica delgada (diferente de uma membrana), ou por proteínas. Dentre os compostos orgânicos armazenados temos o glicogênio, o amido e poliidroxibutirato. Já dentre os inorgânicos temos polifosfatos (volutina ou metacromáticos) e enxofre. Grânulos de poliidroxibutirato (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) Os magnetossomos são partículas intracelulares de magnetita (Fe3O4), que originam um dipolo magnético na célula, que pode responder aos campos geomagnéticos. Estes foram descritos em algumas bactérias aquáticas e algas. Outras bactérias aquáticas apresentam vesículas de gás, que conferem mobilidade nas diferentes camadas de água. São estruturas em forma de fuso, ocas, compostas por proteínas, tendo tamanhos variáveis (30 - 300 nm de diâmetro e até 1000 nm de comprimento). Consistem de um orifício oco envolto por uma membrana (armação) protéica extremamente delgada (2 nm). Nesta membrana encontram-se por 2 tipos de proteínas que originam uma estrutura rígida, impermeável à agua e permeável a gases. A proteína predominante tem cerca de 7.5 kDa, contendo Å 50% de resíduos de aminoácidos hidrofóbicos (Ala, Val, Leu, Ile), provavelmente voltados para o interior da partícula, evitando a entrada de água. Células apresentando magnetossomos em seu interior (corpúsculos negros enfileirados) (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Preparação de magnetossomos (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Bactérias se movendo em direção a um campo magnético (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Esquema de uma vesícula de ar, indicando como as proteínas que a formam se associam (Adaptado de Madigan et al., Brock Biology of Microorganisms, 2003) retornar Ribossomos - Estes são extremamente abundantes, encontrando- se livres no citoplasma ou associados à face interna da membrana citoplasmática. São partículas compostas por proteínas e rRNA Embora sua composição seja similar a dos ribossomos eucarióticos, exibem várias diferenças: apresentam coeficiente de sedimentação 70 S (50 e 30 S). A subunidade 30 S é constituída por 21 proteínas e por um rRNA 16 S (1542 nt), enquanto a 50 S, apresenta 32 proteínas e os rRNAs 23 S (2904 nt) e 5 S (120 nt). Já nos eucariotos, na 40 S temos 33 proteínas e o 18 S (1874 nt) e na 60 S, 49 proteínas e os 28 S, 5.85 S (4718 + 160 nt) e o 5 S (120 nt). Endosporos - Estruturas de latência que exibem altíssima resistência tanto a agentes físicos como químicos. Os esporos foram encontrados, até o momento, em alguns gêneros Gram positivos, tais como Clostridium, Bacillus e Sporosarcina. Estas estruturas de dormência se caracterizam pela extraordinária resistência ao calor, às radiações, aos desinfetantes e à desidratação. Quando as bactérias com capacidade de esporular se encontram em ambientes cujas condições tornam-se inadequadas, estas iniciam o processo de esporulação, garantindo assim a manutenção de seu materialgenético. Quando analisados por microscopia eletrônica, revelam uma estrutura complexa, sendo compostos por várias camadas. Mais externamente, há o exosporium, que corresponde a uma fina e delicada. Abaixo do exosporium encontramos a capa do esporo, composta por uma ou várias camadas protéicas, provavelmente responsável pela resistência aos agente químicos. Mais internamente há o córtex, composto por camadas de peptideoglicano ligadas frouxamente entre si. Abaixo do córtex há a parede celular do esporo e o cerne, contendo a parede celular, membrana e outros componentes citoplasmáticos, metabolicamente inativos. Uma possível explicação para a enorme resistência dos esporos seria a presença de um composto denominado ácido dipicolínico, localizado no cerne, correspondendo a cerca de 15% do peso seco. O ácido dipicolínico associa-se a íons cálcio, originando o dipicolinato de cálcio, que provavelmente estabiliza os ácidos nucléicos contidos no cerne. Além disso, foram detectadas proteínas de ligação a ácidos nucléicos, que também auxiliam na estabilização destes. Além disso, o grau de desidratação do esporo também é um fator importante na sua resistência, bem como a presença de tantas camadas, tornando-o bastante impermeável. Micrografia eletrônica colorizada, de um bacilo com um endosporo ainda no interior da célula Estrutura de um endosporo, com suas diferentes camadas (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) A esporulação geralmente inicia-se em decorrência de alguma carência nutricional, sendo um evento complexo, envolvendo muitas vezes mais de 200 genes. Geralmente é um evento demorado (cerca de 10 horas em algumas espécies), podendo ser subdividido em 7 estágios. No estágio I há a formação de um filamento axial do material do nucleóide. Em seguida (II) a membrana começa a invaginar-se, de maneira a revestir o DNA, formando um septo. O estágio III caracteriza-se pelo engolfamento do pré-esporo pela membrana, formando um segundo envoltório. A seguir (IV), há a deposição do córtex entre as duas membranas e o acúmulo do dipicolinato de cálcio. No estágio V as proteínas da capa se estruturam sobre o córtex. no estágio VI o esporo sofre uma maturação. O processo termina (VII) com a libração do esporo pela ação de enzimas líticas, que destroem o corpo bacteriano (também denominado de esporângio). Processo de esporulação (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Quando em condições favoráveis, ocorrerá o processo de germinação, onde o esporo dará novamente origem à célula vegetativa. Este processo pode ser subdividido em 3 estágios: Ativação, Germinação e Crescimento. A ativação é um processo reversível, que prepara o esporo para a germinação. Na germinação, começa a ocorrer um intumescimento, em decorrência da absorção de água do meio. Há então a ruptura ou reabsorção da capa do esporo, a perda da resistência e o aumento da atividade metabólica. Este estágio pode ser disparado por diferentes metabólitos, tais como açúcares ou aminoácidos. A última etapa consiste no crescimento, quando o metabolismo normal é retomado e há a síntese dos constituintes normais de uma célula vegetativa. Neste momento, o protoplasto emerge do restante da capa e desenvolve-se normalmente, outra vez. Processo de germinação do esporo (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 2000) Considerações Gerais Por volta da década de 70, vários organismos procarióticos foram isolados a partir de uma série de ambientes considerados extremamente inóspitos, quase que incompatíveis com a presença de seres vivos. Estes ambientes naturais caracterizavam-se por apresentar temperaturas bastante elevadas (próximas a 100ºC), extrema acidez (pH próximo a 2), altas salinidades (cerca de 10 a 15%) e, muitas vezes, ausência completa de oxigênio. Como várias destas características correspondiam às possíveis condições encontradas na Terra primitiva, os pesquisadores acreditavam que os organismos procarióticos presentes nestes ambientes deveriam corresponder a células primitivas, talvez "fósseis vivos", representando as formas de vida ancestrais das bactérias modernas. Por esta razão, estes organismos foram denominados "arqueobactérias". No entanto, a partir dos trabalhos de Carl Woese e colaboradores (há cerca de 25 anos), realizando estudos comparativos de sequências de DNA que codificavam rRNA (16S e 23S) de diferentes organismos, foram definidos 3 grandes domínios compreendendo todos os seres vivos. Assim, de acordo com a proposta de Woese, os seres vivos poderiam ser agrupados em três grandes domínios: Bacteria (anteriormente denominadas eubactérias),Archaea (as "arqueobactérias") e Eucarya (Eucariotos). Estes três domínios teriam derivado de um hipotético ancestral comum de todas as células. A análise da árvore filogenética apresentada abaixo, revela como a denominação "arqueobactérias" é inadequada e quão obsoleta é a idéia de que as "arqueobactérias" seriam os ancestrais das bactérias atuais, pois estes organismos não correspondem aos ancestrais da bactérias atualmente conhecidas. Árvore filogenética universal, apresentando os três domínios da vida (Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms) Esta árvore revela claramente que as "arqueobactérias" não correspondem aos ancestrais das bactérias atuais, visto que sua possível origem ocorre quase que concomitantemente à origem das bactérias mais primitivas. Outro aspecto que a árvore permite deduzir é o fato das "arqueobactérias" ocuparem uma posição intermediária entre os domínios Bacteria e Eucarya, sugerindo que estas correspondem a um grupo de organismos diferentes de bactérias e de células eucarióticas. De fato, estudos genéticos e fisiológicos posteriormente revelaram que tais organismos apresentam características de bactérias, de eucariotos, além de características exclusivas, não encontradas em qualquer outro domínio. Por esta razão, deixaram de ser denominadas "arqueobactérias", recebendo a denominação archaea. Uma questão ainda não elucidada refere-se ao porquê de encontrar- se um grande variedade de archaea extremófilas, habitanto ambientes de altas temperaturas, salinidade, ou extremos de pH. Por outro lado, o acúmulo de conhecimentos sobre este grupo vem mostrando que as archaea podem ser encontradas nos mais diversos ecossistemas, desde ambientes aquáticos frios, sistema digestório do homem e outros animais, em tecidos vegetais. Certamente não é absurdo cogitar que no futuro sejam descobertas archaea patogênicas ao homem ou outros seres vivos. As características apresentadas por alguns dos membros deste domínio parecem refletir as condições primitivas da Terra, quando tal domínio começou a evoluir como um ramo filogenéticio distinto. Ao que parece, várias archaea conservaram mais do que as eubactérias estas características fisiológicas primitivas, o que seria responsável pela distribuição atual no planeta. Assim, as archaea compreendem um grupo heterogêneo de microrganismos que podem ser caracterizados, em sua maioria, como habitantes de ambientes inóspitos, geralmente crescendo em condições consideradas até então como extremas e limítrofes para a vida. retornar Classificação das Archaea Atualmente, considera-se que este domínio apresente três filos: Crenarchaeota, Euryarchaeota e Korarchaeota. Árvore filogenética do domínio Archaea (Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms) O filo Crenarchaeota, separa-se muito próximo da raiz da árvore universal, sendo composto por organismos hipertermófilos (Thermoproteus, Pyrolobuse Pyrodictium), compreendendo osorganismos capazes de crescer nas maiores temperaturas conhecidas. Estes hipertermófilos são, em sua maioria, quimiolitotróficos autotróficos, sendo então classificados como produtores primários. Neste grupo há também organismos isolados (mas ainda não cultivados em laboratório) de ambientes frios, tais como águas oceânicas. Lagoa quente, rica em enxofre, que é convertido a ácido sulfúrico, por espécies de archaea. Sulfolobus, exemplo de uma archaea do filo Crenarchaeota, habitante da lagoa ilustrada acima. (Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms) O filo Euryarchaeota é um grupo fisiologicamente diverso, sendo composto por dois grupos: 1) as archaea metanogênicas, que são anaeróbias, (Methanococcus, Methanobacterium e Methanosarcina), encontradas em ambientes de condições extremas, e 2) as halofílicas extremas, que são aeróbias (Halobacterium, Halococcus). As metanogênicas compreendem os organismos mais anaeróbios conhecidos, ou seja, o oxigênio mesmo em concentrações baixíssimas, exerce um efeito extremamente letal sobre estes organismos. Neste filo há ainda o gênero Thermoplasma, composto por bactérias acidófilas, termofílicas, que não apresentam parede celular. As halofílicas geralmente coram-se como Gram negativas, não apresentam esporos e, em sua maioria, são imóveis, geralmente apresentando grandes plasmídeos, contendo cerca de 25 a 30% do DNA da célula. Dentre as metanogênicas, encontra-se o gênero Methanopyrus, que cresce em temperaturas de até 110°C. Lago hipersalino no Egito, rico em carbonato de sódio. O pH destas águas encontra-se na faixa de 10, sendo habitado por archaea halófilas extremas, tais como Halobacterium salinarum. A coloração vermelha é decorrente da presença de pigmentos carotenóides, presentes nestes organismos. Thermoplasma, uma archaea desprovida de parede celular. Pilha de refugo da mineração de carvão, que muitas vezes sofre auto- combustão. Hábitat da archaea Thermoplasma. (Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms) O filo Korarchaeota é composto quase que somente por isolados identificados apenas a partir do sequenciamento de 16S rRNA, sendo considerado um grupo de hipertermófilos. Até o momento, poucos espécimes de Korarchaeota foram cultivados em laboratório. Pesquisas realizadas em uma fenda termal localizada no fundo do mar da Islândia, em 2002, levaram à identificação de uma nova espécie de archaeaapresentando características bastante distintas, quando comparada aos demais membros desse domínio. A espécie Nanoarchaeum equitansdiferencia-se das demais archaea por ser aparentemente muito primitiva (ou modificada), sendo encontrada em associação com outra archaea(Igniococcus sp.). Este organismo de morfologia arredondada é bastante diminuto, apresentando cerca de 400 nm de diâmetro e um pequeno genoma, de 0,5 Megabases. De acordo com seus descobridores, as grandes diferenças apresentadas por Nanorachaeum em relação à seqüência de RNA ribossomal, sugerem que tal organismo seja classificado em um novo filo, proposto como Nanoarchaeota. Micrografia de fluorescência, empregando um corante específico para DNA, revelando as células de Igniococcus (maiores) e deNanoarchaeum equitans (menores). No quadro à direita, micrograf ia eletrônica evidenciando a estreita associação das duas archaea. Boucher & Doolittle (2002) Nature, 417:27-28 (clique no autor, caso deseje ver o artigo original) Micrografia de fluorescência empregando corantes específicos para os rRNAs deIgniococcus (verde) e Nanoarchaeum(vermelho) Huber et al. (2002) Nature, 417:63-67. (clique no autor, caso deseje ver o artigo original) retornar Estrutura celular das Archaea Quanto à morfologia, podem ser esféricas, bacilares, espiraladas, achatadas, quadradas, discóides e muitas vezes de morfologia irregular ou pleomórficas. Suas dimensões são extremamente variáveis, de 0,1 a 15 µm, com alguns filamentosos atingindo 200 µm. As archaea apresentam várias características especiais, que permitem seu desenvolvimento em uma vasta gama de ambientes. Estas incluem alterações de composição de membrana, composição variada de paredes celulares, presença de proteínas tipo histonas, íntrons, mecanismos de splicing, entre outros. Parede celular: Apresenta composição e estruturação extremamente variáveis neste grupo de microrganismos. Esta variabilidade sugere que o ancestral comum seria desprovido de parede, sendo as diversas paredes resultantes de evolução independente, de acordo com os diferentes ambientes e grupos de archaea. Diferentes composições de parede celular presentes em archaea. (Adaptado de Atlas, R.M. (1997) - Principles of microbiology) Quando coradas pelo método de Gram, algumas archaea comportam- se como Gram positivas e outras como Gram negativas, embora suas paredes sejam completamente distintas daquelas de eubactérias. Como observado na figura acima, suas paredes celulares apresentam uma grande diversidade quanto à composição química e, diferentemente das eubactérias, não apresentam peptideoglicano. Além disso, existem também outrasarchaea que não exibem parede celular (Thermoplasma). O gênero Thermoplasma cresce bem em temperaturas de 55°C e pH 2, em meios complexos. Estes organismos apresentam a membrana citoplasmática bastante diferente, contendo compostos semelhantes a lipopolissacarídeos, contendo ligações tetraéter. Um outro gênero, filogeneticamente relacionado a Thermoplasma, é Picrophilus, que cresce em pHs de 0,06 a 0,7. Várias archaea exibem uma parede espessa, rígida, semelhante à parede Gram positiva (Methanobacterium, Methanopyrus, Halococcus), entretanto, os polímeros que compõem a estrutura podem ser: pseudopeptideoglicano ou metanocondroitina. O pseudopeptideoglicano diferencia-se do peptideoglicano pela ocorrência de ácido talosaminurônico em substituição ao murâmico, pela ligação do tipo -1,3 ao invés de -1,4 entre os açúcares e pela ausência de D-aminoácidos nas porções peptídicas da molécula. Nestas bactérias, a lisozima não exibe qualquer atividade de degradação da parede, uma vez que seu sítio de ação são as ligações -1,4. Da mesma forma, a penicilina é ineficaz contra estes organismos porque o mecanismo de síntese de parede é distinto nas archaea. A metanocondroitina é um polímero de 4 açúcares (galactosamina, ácido glucorônico, N-acetil-galactosamina e glicose), muito semelhante ao tecido conectivo animal, composto por sulfato de condroitina. Aquelas archaea que coram-se como Gram negativas podem ter paredes compostas por proteínas, polissacarídeos ou glicoproteínas. As paredes protéicas podem variar entre si, podendo ser do tipo monocamada de natureza cristalina, ou policamadas, de proteínas tubulares. As glicoproteínas são também comuns, muitas vezes contendo grandes quantidades de aminoácidos carregados negativamente. As halobactérias são um exemplo do modelo descrito acima, onde as cargas negativas da parede interagem com os íons Na+ do ambiente, estabilizando a parede. O gênero Halococcus apresenta a parede celular composta por um heteropolissacarídeo altamente sulfatado, nunca observado em qualquer outro ser vivo. Eventualmente, algumas archaea exibem uma camada protéica adicional ao redor da parede celular, ou compondo a própria parede, denominada “camada S”, em um estado cristalizado. Membrana Citoplasmática: corresponde a uma estrutura única, apresentando composição química e arranjo totalmente diferentes das membranas citoplasmáticas de quasetodas as bactérias e de todos eucariotos. Membrana Bacteria Archaea Eucarya Conteúdo protéico alto alto baixo Composição lipídica fosfolipídeos Sulfolipídeos, glicolipídeos, hidrocarbonetos ramificados, isoprenoides, fosfolipídeos Fosfolipídeos Estrutura dos lipídeos cadeia linear cadeia ramificada cadeia linear Ligação dos lipídeos éster éter (di e tetraeter) éster As membranas de archaea geralmente apresentam um alto conteúdo protéico e vários lipídeos: glicolipídeos, sulfolipídeos, fosfolipídeos (raros) e lipídeos apolares do tipo isopreno. A presença de hidrocarbonetos ramificados aumenta a fluidez da membrana, uma vez que dificultam a formação de estruturas cristalinas. Dentre os principais lipídeos estão aqueles do tipo glicerol-éter-isopreno (hidrocarbonetos de 20, 25 ou 40 Carbonos). Uma característica da porção lipídica da membrana é o fato desta não ser composta por ácidos graxos convencionais. Em seu lugar encontram-se longas cadeias de hidrocarboneto ramificadas. Os hidrocarbonetos ligam-se ao glicerol por ligações do tipo éter (ao invés de éster) e podem apresentar-se como bicamadas (como em todas as membranas) ou como monocamadas. Quando formam bicamadas, denominam-se glicerol diéter e quando originam monocamadas, diglicerol tetraéter. Quando há a monocamada, esta modula sua fluidez através da ciclização de alguns elementos da cadeia de hidrocarboneto, formando anéis pentacíclicos. As proteínas de membrana podem ser também bastante diferentes daquelas observadas em outros tipos celulares. Estrutura e composição da membrana presente em várias archaea. (Adaptado de Madigan et al., 2003 - Brock Biology of Microorganisms) Cromossomo: É bastante semelhante ao cromossomo das eubactérias, uma vez que é único e, na maioria dos casos, circular. Por outro lado, sua organização é semelhante aos eucariotos, uma vez que observam-se proteínas (do tipo histona) associando-se ao DNA, atuando na manutenção da estrutura do DNA, afetando também a expressão gênica. Foi observado que em muitos hipertermófilos a associação das proteínas ao DNA promove um enovelamente do tipo positivo no DNA, enquanto em eucariotos, este é negativo. Foi também relatada a presença de introns no cromossomo de Archaea, em genes de RNA de hipertermófilos e halófilos, sendo processado através de endonucleases. Transcrição: Em relação aos promotores, aparentemente sua estrutura tem maior semelhança com promotores de eucariotos que de procariotos. A RNA polimerase é mais complexa que a de bactérias, podendo ser composta por 8 polipeptídeos em metanogênicas e halofílicas (enquanto emBacteria são 4). Nas hipertermófilas, podem existir 10 polipeptídeos distintos (assemelhando-se à RNA polimerase de eucariotos). Ribossomos: São do tipo 70S, semelhantes aos de bactérias, entretanto, sua composição protéica é bastante distinta, tornando-os resistentes aos antibióticos que afetam a síntese protéica bacteriana. A tradução também é diferentes das Bacteria, assemelhando-se mais aos Eucarya, sem a participação da formil-metionina no início do processo. A toxina diftérica, que inibe a tradução de células eucarióticas também inibe o processo emArchaea. Flagelos: Muitas archaea, inclusive aquelas sem parede celular, podem apresentar flagelos. Estes diferem totalmente dos flagelos bacterianos, uma vez que não apresentam a estruturação em corpo basal, gancho e filamento. Nas Archaea, o flagelo não apresenta os anéis observados nas bactérias e, geralmente, é composto por vários tipos de “flagelina”, que exibe composição similar a várias fímbrias. Ao que parece, o flagelo é composto por flagelina, que se organiza a partir da membrana citoplasmática, projetando-se para o exterior da célula. retornar Metabolismo As archaea apresentam uma enorme diversidade metabólica. Muitas são quimiorganotróficas, com metabolismo semelhante às demais células, outras são quimiolitotróficas, utilizando o H2 como doador de elétrons nas reações de oxi-redução. Várias archaea são anaeróbias e geralmente termófilas e suas vias para obtenção de energia geralmente envolvem 1) Redução do CO2 a metano ou conversão do acetato a CO2 e então metano; sendo incorporado pela via do Acetil-Coa CO2 + 4H2 k CH4 + 2H2O nas metanogênicas 2) Redução de SO4 a H2S; SO4 2- + H+ + 4H2 k HS- + 4H2O 3) Redução de Enxôfre elementar a H2S. S + H2 k HS - + H+ Assim, pode-se notar que muitas archaea exibem metabolismo quimioautotrófico. (clique aqui, caso deseje maiores informações sobre a bioquímica geral das archaea) retornar Ecologia de archaea Embora inicialmente fossem consideradas organismos restritos a ambientes extremos, muitas archaea vêm sendo isoladas de ambientes favoráveis aos demais organismos procarióticos e eucarióticos. No entanto, dentre as várias archaea descritas até o momento, a maioria é encontrada em poucos ambientes especializados terrestres e aquáticos, tais como lagos extremamente salinos, ambientes estritamente anaeróbios e/ou ambientes extremamente quentes. Até pouco tempo, a menor temperatura onde foi possível se fazer o cultivo “in vitro” de archaea era de 30°C. Dados recentes indicam, por outro lado, que este grupo de microrganismos pode também ser isolado de ambientes frios. Atualmente sabemos que estes organismos são importantes membros da microbiota aquática de regiões frias do planeta. Ao que parece, as archaea podem corresponder a até 34% da biomassa procariótica das águas costeiras superficiais da Antártida. De maneira geral, e pelo fato da maioria das archaea conhecidas serem isoladas de ambientes quentes, salinos e/ou anaeróbios, este domínio é didaticamente dividido em três grandes grupos: termofílicos, halófilos e metanogênicos. No entanto, vale ressaltar mais uma vez que dados mais recentes comprvam a ampla distribuição geográfica e ecológica desse grupo de organismos. Termofilia: Sabe-se que várias archaea têm temperatura ótima superior a 80°C e temperatura máxima de crescimento acima de 100°C (Pyrodictium brockii tem ótimo de 105°C e Pyrolobus fumarii de 106°C, embora cresça em até 113°C). Ainda não se sabe até onde pode ir esta faixa de temperatura. Pyrolobus fumarii foi isolado de uma fenda no Oceano Atlântico, a uma profundidade de 3.650 metros, crescendo em uma faixa de temperatura de 90 a 113°C, pH de 4 a 6.5 e concentrações de NaCl variando de 1 a 4%. Experimentos realizados em laboratório mostram que culturas na fase exponencial de crescimento sobrevivem ao tratamento em autoclave (121°C) por 1 hora. A termofilia requer adaptações fisiológicas especializadas, pois as proteínas e ácidos nucléicos não podem ser desnaturados e a membrana deve manter-se funcional nestas temperaturas. Curiosamente, a estrutura primária (seqüência de aminoácidos) de várias proteínas de Archaea não exibem diferenças significativas quando comparada a outros organismos. Provavelmente, o principal fator para esta característica seja o dobramento destas proteínas. Uma característica das proteínas de termofílicos refere-se à substituição de aminoácidos mais flexíveis por aqueles que conferem maior rigidez à molécula. Além disso, foi sugerido que as proteínas poderiam ser estabilizadas pela presença de altos teores de aminoácidos hidrofóbicos. As archaea termófilas também exibem um enorme número de chaperonas, que garantem o dobramento correto das proteínas nas temperaturas mais elevadas. Em termos de genoma, observa-se muitas vezes valores maiores de G+C nas hipertermófilas, estabilizando assim os ácidos nucléicos. Entretanto, tal característicanão pode ser considerada como regra. Muitas termofílicas apresentam altas concentração de 2,3- difosfoglicerato cíclico, um composto que protege contra a depurinização. Várias outras produzem uma DNA girase reversa, que enovela o DNA no sentido positivo, que é mais estável que o negativo, o qual é encontrado na maioria das outras células. Além disso, muitas vezes são encontradas proteínas do tipo histona ou outras, que se ligam fortemente ao DNA, protegendo-o. Quanto à membrana, sua funcionalidade é decorrente da presença de isopreno e da ciclização de seus componentes, além da alta frequência de membranas do tipo tetraéter. As termófilas podem ser encontradas em fontes geotérmicas, fontes vulcânicas (que expelem vapores e compostos sulfurados), fontes termais marinhas, onde erupções vulcânicas elevam a temperatura para mais de 100°C. Nestes casos, estas bactérias requerem, adicionalmente, pressões elevadas para o seu desenvolvimento. Estes organismos são muito utilizados em biodigestores de esgoto e também como fonte de insumos laboratoriais (Taq pol). Halofilia: Este grupo de archaea habita locais denominados hipersalinos, requerendo grandes quantidades de sal para seu desenvolvimento. Um halófilo extremo requer pelo menos 1,5M de NaCl (9%), podendo variar de 2 a 4M (12 a 23%) para outras espécies. Foram descritos organismos capazes de crescer na presença de 5,5M de NaCl, o que equivale a 32%, correspondendo ao limite de saturação para este sal. Embora ambientes salinos sejam comuns, os hipersalinos são raros, encontrando-se em áreas quentes e secas do mundo (lagos salgados, salinas, mar morto). Nestes ambientes, as células tenderiam a perdem água, devido à elevada concentração externa de sal. Entretanto, exibem uma adaptação fisiológica que corresponde ao acúmulo de sais ou íons em seu citoplasma, ou pela síntese de compostos orgânicos intracelulares, denominados solutos compatíveis. Assim, o gênero de halófilos Halobacterium bombeia grandes quantidade de K+ para o interior da célula, superando a concentração externa de Na+. Nestes organismos, as enzimas devem exibir maior tolerância ao sal, tendo em vista que seu funcionamento deverá ocorrer em um ambiente muito concentrado. Muitas apresentam bombas de cloro, que constantemente bombeiam este íon para o interior da célula. As paredes podem conter uma grande quantidade de aminoácidos carregados negativamente, ou polissacarídeos sulfatados, para interagir com íons Na+ presentes no meio, sendo esta interação essencial à integridade da parede. Metanogênicos: Este foi o primeiro grupo de archaea descrito, sendo único por sua capacidade de sintetizar metano. Sua distribuição geográfica é muito ampla, sendo encontrados no intestino de ruminantes, em cupins, em lagoas, lodos de esgoto, etc. Podem ser quimiolitotróficos ou quimiorganotróficos e, via de regra, são anaeróbio estritos, exibindo enorme sensibilidade ao oxigênio. retornar Interações microbianas Ao que parece, as archaea interagem intensamente com outros organismos, embora sejam eventos menos frequentes que aqueles observados para as eubactérias. As archaea metanogênicas realizam associações com outros microrganismos, uma vez que necessitam de substrato (principalmente H) para a produção de metano. Assim, em processos de degradação anaeróbia de resíduos de indústrias de papel, que ocorrem em rios e lagos e também no intestino de ruminantes, pode- se observar a ocorrência de comunidades microbianas contendo metanogênicas, havendo a produção de metano e gás carbônico. Um dos principais produtos da fermentação de muitos anaeróbios é o H2, que é prontamente utilizado pelas metanogênicas, que associado ao CO2, origina o metano. O ácido fórmico pode também ser utilizado como doador de elétrons para a redução do CO2. A produção de metano, por sua vez, garante um ambiente anaeróbico. Já foi descrita a ocorrência de metanogênicas endossimbiontes em protozoários que habitam o rumen de vertebrados. Foi descrita a associação de archaea com animais e em alguns tecidos vegetais, embora até o momento não tenha sido comprovada a capacidade de invadir tecidos ou manifestar potencial patogênico nesses organismos. Em muitos casos a presença de metanogênicas no rumen pode levar a prejuízos ao gado, uma vez que competem pelo acetato produzido na fermentação da celulose. Há ainda um problema ambiental associado à produção de metano pelas archaea, pois este metano expelido pelas archaea contribui ao agravamento do efeito estufa. Estudos recentes indicam que a quantidade de metano expelida pelas Archaea pode ser de 400 ton3/ano (cerca de 50 litros por dia). Dados recentes revelam a detecção de archaea em amostras de placa dental subgengival, embora nada tenha sido provado em relação ao potencial patogênico dos organismos isolados. Introdução Os microrganismos exibem os mais diversos mecanismos nutricionais. Em relação aos procariotos (Bacteria e Archaea), a nutrição ocorre predominantemente pela absorção, uma vez que a grande maioria destes organismos possui uma espessa parede celular, impossibilitando a realização de fagocitose. Os seres vivos podem ser classificados de acordo com as fontes de energia e de carbono que utilizam para seu crescimento. Assim, em relação às fontes de energia, tempos os organismos fototróficos (que utilizam a energia luminosa) e os quimiotróficos (que utilizam a energia proveniente de reações químicas). Em relação às fontes de carbono, temos os organismos autotróficos (fontes inorgânicas) e os heterotróficos (fontes orgânicas). Dentre os procariotos, iremos encontrar exemplos em todas as possíveis classes de organismos. Classificação dos seres vivos, de acordo com as fontes de energia e carbono (Adaptado de Tortora et al., Microbiology - An Introduction, 1997) Retornar Composição química da célula procariótica As células procarióticas são compostas, essencialmente por macromoléculas (proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos e lipídeos), apresentando também uma menor quantidade de outros compostos orgânicos e inorgânicos. Além destes, encontramos íons e água. Relativamente, podemos consideram a célula como sendo ¼90% de água, ¼10% de macromoléculas e o restante compreendido pelos demais componentes. A maioria das pequenas moléculas são obtidas a partir do meio, sendo as macromoléculas sintetizadas em seu interior. Nutrientes Os nutrientes são definidos como as substâncias encontradas no ambiente, que participam do anabolismo e catabolismo celular, podendo ser divididos em dois grandes grupos: macronutrientes, que são necessários em grandes quantidades e micronutrientes, necessários em pequenas quantidades. Alguns nutrientes são utilizados como fonte de material para a biossíntese das moléculas, enquanto outros correspondem a fontes de energia, necessária aos processos biossintéticos e de manutenção dos organismos. Muitas vezes, diferentes nutrientes podem apresentar os dois papéis descritos acima. Principais Macronutrientes Carbono: corresponde à base de todas as moléculas orgânicas. Entre os procariotos melhor estudados até o momento, a maioria requer algum tipo de composto orgânico como fonte de carbono, o qual pode ser de diferentes variedades (aminoácidos, ácidos orgânicos, açúcares, bases nitrogenadas, etc). Nitrogênio: corresponde ao segundo elemento mais abundante nas células, compondo proteínas, ácidos nucléicos e peptideoglicano. Podemos encontrar o nitrogênio sob a forma de compostos orgânicos ou inorgânicos, sendo ambas as formas prontamente utilizadas por um grande número de procariotos. Assim, a partirda degradação de proteínas e ácidos nucléicos, bem como a partir de amônia e nitrato, os organismos utilizam o nitrogênio presente na natureza. Embora o nitrogênio esteja em grandes concentrações na atmosfera, este não é amplamente utilizado, exceto por aqueles organismos denominados fixadores de N2. Hidrogênio: elemento presente em proteínas, açúcares e demais moléculas orgânicas. Fósforo: encontrado em compostos orgânicos (ácidos nucléicos) ou inorgânicos (fosfatos), sendo importante na composição de ácidos nucléicos e fosfolipídeos. Em sua maioria, os microrganismos utilizam o fósforo sob a forma de compostos inorgânicos. Enxofre: compondo a cisteína e metionina, estando presente também em várias vitaminas (tiamina, biotina). Na natureza, o enxofre sofre uma série de transformações, as quais são exclusivamente realizadas por microrganismos. A principal fonte de enxofre para os microrganismos corresponde aos sulfatos inorgânicos ou H2S. Potássio: necessário para todos os microrganismos, devido ao seu papel ativador de várias enzimas, tais como aquelas envolvidas na tradução. Magnésio: necessário geralmente em grandes quantidades, uma vez que tem papel na estabilização de ribossomos, membranas e ácidos nucléicos, sendo também importante para o funcionamento de diferentes enzimas, especialmente aquelas envolvidas na transferência de fosfato. Cálcio: embora não seja essencial ao crescimento da maioria dos microrganismos, tem papel de estabilização da parede celular e de termorresistência nos esporos. Sódio: importante, especialmente para microrganismos marinhos e certas archaea halófilas. Ferro: presente em um grande número de proteínas, especialmente aquelas envolvidas na respiração. Principais Micronutrientes: Embora necessários em pequenas quantidades, têm papel tão importante quanto os macronutrientes. Cobalto: necessário apenas para a formação da vitamina B12. Zinco: tem papel estrutural em várias enzimas (DNA e RNA polimerases) e outras proteínas de ligação ao DNA. Molibdênio: presente em certas enzimas como a nitrato redutase assimilativa. Cobre: importante para enzimas respiratórias. Manganês: ativador de muitas enzimas. Níquel: presente em hidrogenases. Retornar Fatores de crescimento: correspondem a compostos orgânicos específicos, que são necessários em quantidades muito pequenas devido à incapacidade das células os sintetizarem (vitaminas, aminoácidos, purinas e pirimidinas), os quais são geralmente fornecidos como componentes dos meios de cultura (peptonas, extrato de levedura) utilizados para o crescimento in vitro dos microrganismos. Na natureza, tais fatores são normalmente encontrados nos hábitats naturais dos microrganismos. Por exemplo, bactérias do gênero Porphyromonas requerem vitamina K como fator de crescimento, sendo esta fornecida pelo próprio hospedeiro eucarioto. As vitaminas correspondem ao fator de crescimento mais comum para os microrganismos. Estas são definidas como compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades, para o crescimento e funções não relacionadas à nutrição, atuando na maioria das vezes como parte de coenzimas. Estão descritas abaixo algumas das funções desempenhadas pelas principais vitaminas requeridas pelos microrganismos: biotina - Biossíntese de ácidos graxos, b-decarboxilações, fixação de CO2; tiamina (B1) - a-decarboxilações e transcetolase piridoxina (B6) - transformações de aminoácidos e ceto ácidos cobalamina (B12) - redução e transferência de fragmentos únicos de carbono, síntese de desoxirribose. As bactérias dos gêneros Streptococcus e Lactobacillus têm uma necessidade por vitaminas maior do que aquela exibida pelo homem. Retornar O processo de nutrição em procariotos Nos procariotos contendo parede celular os processos de nutrição ocorrem através da absorção dos nutientes, a partir do ambiente externo. Entretanto, devido às características diferenciais na composição e estrutura da parede celular dos organismos Gram positivos e Gram negativos, este processo apresenta algumas diferenças nestes dois grupos de organismos. Nutrição em Gram positivos: Estas bactérias caracterizam- se por sintetizar uma série de exoenzimas, as quais são liberadas no meio, clivando os nutrientes, que são capatados por proteínas transportadoras. Os fungos (células eucarióticas), posuem um sistema de nutrição semelhante ao das bactérias Gram positivas, nutrindo-se pela absorção, após a clivagem extracelular de compostos complexos. Nutrição em Gram negativos Papel da parede celular em Gram negativas A parede celular das bactérias Gram positivas é composta por várias camadas de peptídeoglicano, enquanto nas Gram negativas observa-se uma maior complexidade química e estrutural da parede, decorrente da presença de camadas lipoprotéica e lipopolissacarídica, localizadas externamente à camada de peptídeoglicano, originando a membrana externa. Estas diferenças, por si só, contribuem em grande parte às diferenças observadas na forma de captação dos nutrientes. Devido à presença de uma membrana externa de caráter hidrofóbico (LPS), as bactérias Gram negativas apresentam um grande número de porinasassociadas à camada lipopolissacarídica. As porinas correspondem a proteínas, formadas por três subunidades idênticas, que originam um canal de cerca de 1 nm de diâmetro, cujo mecanismo de abertura e fechamento permanece ainda desconhecido. Desta forma, as porinas permitem a passagem de moléculas hidrofílicas, de baixa massa molecular. Estas proteínas podem atuar de forma inespecífica, formando canais aquosos, ou específica, exibindo sítios de ligação para substratos de até 5 kDa, ou ainda, acopladas a proteínas transportadoras. Papel das proteínas periplasmáticas em bactérias Gram negativas O periplasma corresponde à porção celular localizada entre a membrana plasmática e a membrana externa, geralmente exibindo constituição gelatinosa, provavelmente devido ao grande número de enzimas e proteínas presentes, assim como pela própria presença do peptídeoglicano e lipoproteínas. De forma geral, são encontrados três tipos de proteínas no periplasma de células Gram negativas: hidrolases, que atuam na degradação inicial dos nutrientes; proteínas de ligação, que iniciam os processos de transporte e os quimioreceptores, envolvidos em processos de quimiotaxia. O transporte inicial das moléculas para o citoplasma, a partir do periplasma, é um processo que requer gasto energia, por meio da utilização de ATP. Papel da membrana citoplasmática na nutrição de Gram positivos e negativos A membrana citoplasmática, estrutura vital para qualquer tipo de célula, é uma barreira que separa o conteúdo celular do meio externo. A membrana corresponde a uma barreira altamente seletiva, permitindo que as células concentrem metabólitos específicos em seu interior. No domínio Bacteria, a membrana apresenta-se como uma bicamada fosfolipídica, contendo proteínas dispersas por toda sua superfície. A estutura global da membrana é estabilizada através de interações do tipo pontes de hidrogênio, interações hidrofóbicas e pela presença de íons Ca++ e Mg++, os quais se combinam com as cargas negativas dos fosfolípides. Embora em archaea, a membrana apresente estrutura totalmente distinta, podendo ser do tipo bicamada ou monocamada, muitas vezes desprovida de fosfolipídeos, tal estrutura desempenha os mesmo papéis fisológicos descritos para as membranas de qualquer ser vivo. Assim, a membrana tem papel essencial nos
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