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Cap´ıtulo 11 Lei da Induc¸a˜o Com as experieˆncias de Oersted, viu-se que correntes ele´tricas geram campos magne´ticos. Ficou enta˜o a seguinte du´vida: Pode o campo magne´tico gerar corrente? Michael Faraday (1791-1867), um dos maiores f´ısicos experimen- tais, interessou-se em descobrir e estudar essa relac¸a˜o. Em 1831, Faraday montou dois soleno´ides, com 70 metros de fio de co- bre em cada. Os dois foram concatenados, mas um foi ligado a` um gerador, enquanto o outro foi conectado a um galvanoˆmetro, como mostrado na Fi- gura 11.1 . Figura 11.1: Soleno´ides concatenados 195 196 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Notou-se quando uma corrente cont´ınua passava pelo soleno´ide 1, o gal- vanoˆmetro na˜o acusava passagem de corrente. No entanto, sempre que a chave era ligada ou desligada, surgia uma corrente no circuito 2. Isso le- vou Faraday a supor que a forc¸a eletromotriz no circuito 2 resultava de uma variac¸a˜o do campo magne´tico no interior dos soleno´ides. Continuando seus experimentos, ele construiu o circuito apresentado na Figura 11.2 . Figura 11.2: Experimento de Faraday Quando um ı´ma˜ era aproximado ou afastado do soleno´ide, observava-se uma deflexa˜o do galvanoˆmetro. Se o ı´ma˜ permanecesse imo´vel em relac¸a˜o ao circuito, a deflexa˜o era nula. Ainda nesse experimento, Faraday notou que a a´rea dos soleno´ides tambe´m influenciava na forc¸a eletromotriz induzida. Suas descobertas podem ser sintetizadas em termos matema´ticos da se- guinte maneira: �ind ∝ dB dt �ind ∝ A Para melhor compreender esse fenoˆmeno, precisamos definir o que e´ fluxo magne´tico. 11.1 O Fluxo Magne´tico Vimos que a forc¸a eletromotriz depende tanto da variac¸a˜o do campo magne´tico quanto da a´rea dos soleno´ides. A grandeza que relaciona o vetor �B e a a´rea 11.2. A LEI DE LENZ 197 S permeada por esse campo e´ denominada de fluxo magne´tico , e e´ definida como: φB = �B · �S = BS cos θ (11.1) Ate´ agora, tendo em vista as constatac¸o˜es de Faraday, podemos dizer que: |�ind| = dφB dt (11.2) Substitu´ındo 11.1 em 11.2 : |�ind| = dB dt A cos θ +B dA dt − BA sen θ dθ dt (11.3) Percebe-se enta˜o que e´ poss´ıvel induzir corrente em uma espira imersa em um campo magne´tico por meio dos seguintes me´todos: • variando a intensidade do campo. • variando a a´rea como tempo • variando o aˆngulo entre os vetores �A e �B com o tempo Ainda podemos analisar o fenoˆmeno da induc¸a˜o levando em conta a cor- rente induzida. Sabe-se que �ind = RIind, logo: Iind = 1 R ���� dφBdt ���� 11.2 A Lei de Lenz Vimos que a variac¸a˜o do fluxo magne´tico gera corrente ele´trica em conduto- res. Mas o que determina o sentido da corrente induzida? Isso e´ explicado pela Lei de Lenz: A corrente induzida produz um campo magne´tico que tende se opoˆr a` variac¸a˜o do fluxo magne´tico que a gerou 198 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Considere o exemplo da Figura 11.3. Se o ı´ma˜ aproxima-se da espira, o fluxo magne´tico no interior desta aumentara´, enta˜o deve surgir uma corrente no sentido anti-hora´rio para reduzir o fluxo. Caso o ı´ma afaste-se da espira, o fluxo no interior desta diminuira´, logo, pela Lei de Lenz, surge uma corrente no sentido hora´rio. Figura 11.3: Deflexa˜o do galvanoˆmetro Se aplicarmos a Lei de Lenz na 11.2 , teremos a Lei de Faraday: �ind = − dφB dt (11.4) O sinal negativo representa a resisteˆncia que o circuito apresenta a` va- riac¸a˜o do fluxo magne´tico E´ interessante notar que se fizermos a integral de linha do campo ele´trico na espira, teremos: � Γ �E · d�l = �ind (11.5) Ora, vimos na eletrosta´tica que essa integral de linha deveria ser nula sempre! Qual sera´ a inconsisteˆncia? Na verdade, na˜o ha´ inconsisteˆncia. Ocorre que o campo ele´trico estudado na eletrosta´tica tem natureza diferente do campo ele´trico induzido. O campo ele´trico oriundo de cargas ele´tricas sempre e´ conservativo, por isso a integral de linha em um circuito fachado e´ nula. Mas, devido a` equac¸a˜o 11.5, nota-se que o campo ele´trico induzido pela variac¸a˜o de fluxo magne´tico 11.2. A LEI DE LENZ 199 na˜o e´ conservativo. Por isso, e´ importante distinguir os dois tipos campos ele´tricos. Seguem alguns exemplos da aplicac¸a˜o da Lei de Lenz: Exerc´ıcio 11.1. Suponha uma barra condutora, deslizando sem atrito sobre um trilho condutor, em meio a um campo magne´tico perpendicular ao plano dos trilhos, conforme mostrado na Figura 11.4 . Calcule: a forc¸a eletromotriz induzida, a corrente induzida a forc¸a magne´tica e a velocidade da barra em func¸a˜o do tempo. Figura 11.4: Trilho magne´tico • Forc¸a eletromotriz Temos que o fluxo magne´tico na barra e´ dado por: φB = BA = Blx portanto a forc¸a eletromotriz e´: |�ind| = dφB dt = Bl dx dt = Blv • Corrente induzida: Iind = �ind R = Blv R • Forc¸a magne´tica: Temos que a forc¸a em fios e´ dada por: 200 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O �F = I�l × �B = IindBl = B2l2v R − iˆ (11.6) • Velocidade do fio: Aplicando a segunda lei de Newton ao reultado da equac¸a˜o 11.6 : m dv dt = B2l2v R Resolvendo essa equac¸a˜o diferencial separa´vel: � v(t) v0 dv v = − � t 0 B2l2 Rm dt→ ln � v(t) v0 � = − B2l2 Rm t v(t) = v0e − B2l2t/Rm Vemos enta˜o que a forc¸a tende a` frear a` barra. Exerc´ıcio 11.2. Considere um campo magne´tico uniforme que aponta pra dentro da folha e esta´ confinado numa regia˜o circular de raio R. Suponha que a magnitude de �B aumenta com o tempo. Calcule o campo ele´trico induzido em todo o espac¸o: Figura 11.5: Campo magne´tico Vimos que o campo ele´trico induzido pode ser calculado por: � Γ �Eind · d�l = �ind = − dφB dt 11.2. A LEI DE LENZ 201 Enta˜o precisaremos descrever curvas fechadas para calcular o campo ele´trico induzido. Pela simetria do problema, fazermos circunfereˆncias de raio r. • Para r < R : Figura 11.6: Curva para ca´lculo do campo induzido Como a circunfereˆncia aborda apenas uma porc¸a˜o do campo, a variac¸a˜o fluxo no seu interior sera´: φB = Bπr 2 → dφB dt = dB dt πr2 Logo: � Γ �Eind · d�l = dB dt πr2 Eind2πr = dB dt πr2 → Eind = dB dt r 2 • Para r > R : Como a circunfereˆncia aborda todo o campo, a variac¸a˜o fluxo no seu interior sera´: φB = BπR 2 → dφB dt = dB dt πR2 Logo: 202 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.7: Curva para ca´lculo do campo induzido � Γ �Eind · d�l = dB dt πR2 Eind2πr = dB dt πR2 → Eind = dB dt R2 2r Sintetizando os resultados na forma de um gra´fico; Figura 11.8: Campo induzido vs distaˆncia 11.3 Geradores As experieˆncias de Faraday lanc¸aram os princ´ıpios de funcionamento de mo- tores ele´tricos e geradores de eletricidade. Considere uma espira imersa em um campo magne´tico �B rotacionando com uma velocidade angular constante ω = θ t . Substiu´ındo θ na equac¸a˜o 11.3 , temos que: 11.4. EFEITOS MECAˆNICOS 203 |�ind| = ωBA senωt Em termos de corrente induzida: Iind = ωBA R senωt Calculando a poteˆncia gerada para N espiras: P = I|εind| = (NBAω sin(ωt))2 R Observa-se que a bobina gerara´ corrente alternada. Para evitar isso, empregam-se comutadores no circuito. Isso que foi visto e´ o princ´ıpio de funcionamento de va´rios tipos de usinas de gerac¸a˜o de energia, como as hidrele´tricas, termoele´tricas, eo´licas e nucle- ares. Todas elas envolvem a transfereˆncia de energia mecaˆnica de um fluido (a´gua, vento) para a bobina, fazendo-a girar. 11.4 Efeitos Mecaˆnicos A induc¸a˜o magne´tica, quando aliada a outros fenoˆmenos f´ısicos, pode resultar em efeitosinteressantes. Vejamos alguns exemplos 11.4.1 As correntes de Foucault Considere uma chapa meta´lica e um pente meta´lico, inicialmente em movi- mento uniforme, entrando em cum campo magne´tico, conforme esquemati- zado na Figura 11.9 . Experimentalmente, observa-se que o chapa meta´lica sobre uma reduc¸a˜o de velocidade mais acentuada que o pente. Por queˆ? Isso ocorre pois, durante a imersa˜o no campo magne´tico, a variac¸a˜o do fluxo magne´tico no interior da chapa e´ maior do que no pente. Logo a corrente 204 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.9: Objetos aproximando-se de um campo magne´tico induzida, a corrente de Foucault nesse caso, na chapa e´ superior. Mas a ac¸a˜o do campo magne´tico sobre a corrente induzida gera uma forc¸a que tende a frear o objeto, portanto a chapa sofre uma maior reduc¸a˜o de velocidade. Figura 11.10: Correntes de Foucault Pode-se dizer tambe´m que as correntes de Foucault resultam em uma maior dissipac¸a˜o por efeito Joule, aquecendo o material que imerge em um campo magne´tico. 11.4.2 Atrito Magne´tico Se uma espira condutora e´ solta em queda livre sobre um ima˜ permanente, a corrente induzida criara´ um dipolo magne´tico que tende a ser repelido pelo ima˜, produzindo uma forc¸a de freamento da espira ana´loga a uma forc¸a de atrito viscoso (ver Figura 11.11) . 11.5. INDUTAˆNCIA MU´TUA 205 Figura 11.11: Comportamento da espira em queda 11.4.3 Canha˜o Magne´tico Considere um soleno´ide enrolado em um eixo isolante e, acoplado nesse mesmo eixo, uma espira. Quando uma corrente passar pela espira, o fluxo do campo magne´tico no interior da espira sera´ alterado. A corrente induzida fara´ com que a espira seja lanc¸ada no sentido oposto ao do soleno´ide. Figura 11.12: Canha`o Magne´tico 11.5 Indutaˆncia Mu´tua Induntaˆncia mu´tua refere-se ao surgimento de uma corrente induzida em um circuito em func¸a˜o da passagem de corrente ele´trica em um outro circuito. Considere duas espiras em repouso. Se aplicarmos uma corrente I1 na espira 1, ocorrera´ uma variac¸a˜o do fluxo de campo magne´tico dφ21 dt na espira 2, surgindo enta˜o uma forc¸a eletromotriz induzida �2 dada por: 206 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.13: Exemplo de indutaˆncia mu´tua �2 = − dφ21 dt Mas a variac¸a˜o do fluxo do campo magne´tico depende de uma variac¸a˜o de corrente na espira 1: dφ21 dt ∝ dI1 dt Enta˜o podemos substituir essa proporcionalidade por uma igualdade por meio da definic¸a˜o da constante de induc¸a˜o mu´tua M21 1: dφ21 dt = M21 dI1 dt (11.7) M21 = dφ21 dI1 (11.8) Experimentalmente, observa-se que a constante de induc¸a˜o mu´tua de- pende apenas da geometria das espiras e tambe´m da distaˆncia entre elas. Neumann deduziu uma fo´rmula que permite determinar essa constante. Temos que o fluxo do campo magne´tico pode ser calculado por: 1[M21] = H(henry) = Tm2 A 11.5. INDUTAˆNCIA MU´TUA 207 φ21 = � S2 � �B · d�S2 = � S2 � � �∇× �A1 � · d�S2 Aplicando o Teorema de Stokes: φ21 = � S2 � � �∇× �A1 � · d�S2 = � Γ2 �A1 · d�l2 Pela equac¸a˜o 10.45 : φ21 = µ0 4π I1 � � d�l1 · d�l2 r φ21 dt = µ0 4π � � d�l1 · d�l2 r dI1 dt (11.9) Comparando as equac¸o˜es 11.9 e 11.7 encontramos a Fo´rmula de Neumann: M21 = µ0 4π � � d�l1 · d�l2 r (11.10) Como podemos comutar os fatores da fo´rmula, conclui-se que: M12 = M21 = M Isso indica que, independentemente das formas e posic¸o˜es das espiras, o fluxo atrave´s de 2 quando uma corrente I passa em 1 e´ ideˆntico ao fluxo atrave´s de 1 quando a passamos a corrente I ao redor de 2. No entanto, ainda e´ mais interessante calcular M por meio da equac¸a˜o 11.8 do que pela Fo´rmula de Neumann, como veremos nos exemplos a seguir. Exerc´ıcio 11.3. Calcule a indutaˆncia mu´tua entre duas espirar coplanares e conceˆntricas de raios R1 e R2, com R1 >> R2. Para calcular a indutaˆncia mu´tua, precisamos calcular uma relac¸a˜o entre a variac¸a˜o de corrente em uma espira e a variac¸a˜o do fluxo magne´tico na 208 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.14: Espiras coplanares e conceˆntricas outra espira. Sabemos que a campo magne´tico no centro de uma espira circular e´ B = µ0I 2R1 . Como R1 >> R2, pode-se considerar que o campo no interior da espira 2 e´ constante, logo o fluxo no seu interior sera´: φ21 = BA = µ0I 2R1 πR22 Enta˜o temos que: dφ21 dI = µ0 2R1 πR22 Logo a indutaˆncia mu´tua e´: M = µ0 2R1 πR22 Exerc´ıcio 11.4. Calcule a indutaˆncia mu´tua entre dois soleno´ides conceˆntricos de desnsidades de espiras n1 e n2. Para calcular a indutaˆncia mu´tua, precisamos calcular uma relac¸a˜o entre a variac¸a˜o de corrente em um soleno´ide e a variac¸a˜o do fluxo magne´tico no outro. Sabemos que a campo magne´tico no interior do soleno´ide 1 e´ B = µ0In1. Como o campo no interior do soleno´ide 2 e´ constante, o fluxo no seu interior sera´: 11.5. INDUTAˆNCIA MU´TUA 209 Figura 11.15: Soleno´ides conceˆntricos φ21 = BAn2l = µ0In1n2lπR 2 2 Enta˜o temos que: dφ21 dI = µ0n1n2lπR 2 2 Logo a indutaˆncia mu´tua e´: M = µ0n1n2lπR 2 2 Exerc´ıcio 11.5. Calcule a indutaˆncia mu´tua entre dois toro´ides concatena- dos com N1 e N2 enrolamentos. Figura 11.16: Toro´ides concatenados Para calcular a indutaˆncia mu´tua, precisamos calcular uma relac¸a˜o entre a variac¸a˜o de corrente em um toro´ide e a variac¸a˜o do fluxo magne´tico no outro. 210 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Sabemos que a campo magne´tico no interior do toro´ide 1 e´ B = µ0N1I 2πr . Considerando que o campo no interior do toro´ide apresenta simetria cil´ındrica, o fluxo no seu interior deve ser calculado por meio a seguinte integral: Figura 11.17: Elemento de a´rea na sec¸a˜o do toro´ide φ21 = N2 � �B1 · d�s2 = N2 b� a µ0N1I1 2πr hdr φ21 = µ0N1N2I1 2π h ln( b a )I Enta˜o temos que: dφ21 dI = µ0N1N2 2π h ln( b a ) Logo a indutaˆncia mu´tua e´: M = µ0N1N2 2π h ln( b a ) 11.6 Auto-Indutaˆncia Considere novamente uma espira de N voltas pela qual passa uma corrente I. Se ocorre alguma alterac¸a˜o na corrente, o fluxo atrave´s da espira varia 11.6. AUTO-INDUTAˆNCIA 211 com o tempo, enta˜o, de acordo com a lei de Faraday, uma forc¸a eletromotriz induzida surgira´ para gerar um campo no sentido oposto a` variac¸a˜o do fluxo de �B inicial. Enta˜o podemos dizer que o pro´prio campo opo˜e-se a qualquer mudanc¸a da corrente, e assim temos o fenoˆmeno da auto-indutaˆncia. Figura 11.18: Efeitos da auto-indutaˆncia Definimos matematicamente a auto-indutaˆncia L2 da seguinte maneira: dφB dt = dφB dI dI dt = L dI dt L = dφB dI (11.11) Do mesmo modo que a indutaˆncia mu´tua, a auto indutaˆncia depende apenas de fatores geome´tricos da espira em questa˜o. Exerc´ıcio 11.6. Calcule a auto-indutaˆncia de um soleno´ide. Figura 11.19: Soleno´ide Para calcular a auto-indutaˆncia, precisamos calcular como uma variac¸a˜o 2[L] = H(henry) 212 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O de corrente no soleno´ide varia o fluxo magne´tico no interior do pro´prio so- leno´ide. Sabemos que a campo magne´tico no interior desse objeto e´ B = µ0In. Como o campo no interior do soleno´ide e´ constante, o fluxo no seu interior sera´: φB = BAnl = µ0In 2lπR2 Enta˜o temos que: dφB dI = µ0n 2lπR2 Logo a auto-indutaˆncia e´: L = µ0n 2lπR2 Exerc´ıcio 11.7. Calcule a auto-indutaˆncia de um toro´ide de sec¸a˜o retangu- lar. Figura 11.20: Toro´ide Para calcular a auto-indutaˆncia, precisamos calcular como uma variac¸a˜o de corrente no toro´ide varia o fluxo magne´tico no interior do pro´priotoro´ide. Sabemos que a campo magne´tico no interior desse objeto e´ B = µ0NI 2πr . Considerando que o campo no interior do toro´ide apresenta simetria cil´ındrica, o fluxo no seu interior deve ser calculado por meio a seguinte integral: 11.7. ASSOCIAC¸A˜O DE INDUTORES 213 Figura 11.21: Elemento de a´rea na sec¸a˜o do toro´ide φB = N � �B · d�s = b� a µ0N 2I 2πr hdr = µ0N 2I 2π h ln( b a ) Enta˜o temos que: dφ21 dI = µ0N 2 2π h ln( b a ) Logo a auto-indutaˆncia e´: L = µ0N 2 2π h ln( b a ) 11.7 Associac¸a˜o de Indutores Indutores sa˜o componentes eletroˆnicos que apresentam elevada indutaˆncia. Devido a` Lei de Lenz, tais elementos evitam variac¸o˜es bruscas de corrente, sendo essa uma das principais func¸o˜es desempenhadas pelos indutores em circuitos eletroˆnicos. Sabe-se que a diferenc¸a de potencial nos terminais de um indutor tem a mesma magnitude da forc¸a eletromotriz induzida nele, ou 214 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O seja: V = L dI dt (11.12) Quando um circuito apresenta mais de um indutor associado, e´ poss´ıvel substitu´ı-los por um indutor equivalente, a fim de simplificar os futuros ca´lculos relativos ao circuito. Mas para calcular a indutaˆncia equivalente, de- vemos levar em conta tanto os efeitos de auto-induc¸a˜o quanto de indutaˆncia mu´tua entre os componentes da associac¸a˜o. Faremos, como exemplo, a associac¸a˜o de dois indutores em se´rie e dois indutores em paralelo. 11.7.1 Dois indutores em se´rie Figura 11.22: Exemplo de indutaˆncia mu´tua Em uma associac¸a˜o em se´rie, a corrente e´ a mesma em todos os indutores. L dI dt = L1 dI dt +M dI dt + L2 dI dt +M dI dt = (L1 + L2 + 2M) dI dt 11.7. ASSOCIAC¸A˜O DE INDUTORES 215 Observe que o primeiro e o terceiro termo referem-se a`s auto-indutaˆncias de 1 e 2, respectivamente, ja´ o segundo e o quarto termo referem-se a`s in- dutaˆncias mu´tuas. Segue enta˜o que: L = L1 + L2 + 2M (11.13) 11.7.2 Dois indutores em paralelo Figura 11.23: Exemplo de indutaˆncia mu´tua Em uma associac¸a˜o em paralelo, a diferenc¸a de potencial e´ a mesma para todos os indutores. Calculando a ddp para cada ramo: V1 = L1 dI1 dt +M dI2 dt (11.14) V2 = L2 dI2 dt +M dI1 dt (11.15) Multiplicando as duas equac¸o˜es pela constante de indutaˆncia mu´tua: V1M = L1M dI1 dt +M2 dI2 dt (11.16) V2M = L2M dI2 dt +M2 dI1 dt (11.17) Multiplicando agora a equac¸a˜o 11.14 por L2 e a 11.15 por L1: 216 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O V1L2 = L1L2 dI1 dt +ML2 dI2 dt (11.18) V2L1 = L2L1 dI2 dt +ML1 dI1 dt (11.19) Mas, da associac¸a˜o em paralelo, temos que: V = V1 = V2 I = I1 + I2 Logo, subtra´ındo 11.16 de 11.19 e 11.17 de 11.18, encontramos que: V (L1 −M) = L1L2 dI2 dt −M2 dI2 dt (11.20) V (L2 −M) = L1L2 dI1 dt −M2 dI1 dt (11.21) Somando as equac¸o˜es 11.20 e 11.21: V (L1 + L2 − 2M) = � L1L2 −M 2 � dI dt L = L1L2 −M 2 L1 + L2 − 2M (11.22) Nota-se que, se desconsiderarmos os efeitos da indutaˆncia mu´tua, a asso- ciac¸a˜o de indutores e´ ideˆntica a` associac¸a˜o de resistores. 11.8 Circuito R-L Considere o circuito da Figura 11.24, com as condic¸o˜es iniciais: 11.8. CIRCUITO R-L 217 Figura 11.24: Circuito R-L t = 0 , I(t) = 0 t =∞ , I(t) = V R A equac¸a˜o do circuito e´: V −RI − L dI dt = 0 (11.23) V R − I = L R dI dt t� 0 − R L dt = I(t)� 0 dI I − V R ln � I − V R �I(t) 0 = − R L t I(t)− V R = − V R − R L t 218 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O I(t) = V R � 1− e− R L t � (11.24) Quanto maior for a indutaˆncia L do indutor no circuito, maior sera´ o tempo para a corrente se aproximar da ma´xima Imax = V/R. Figura 11.25: Gra´fico de corrente de um circuito R-L 11.9 Circuito L-C Considere o circuito da Figura 11.26, com o capacitor inicialmente carregado com uma carga Q0, ou seja, as condic¸o˜es iniciais: t = 0 , Q(t = 0) = Q0 t = 0 , I(t = 0) = 0 A equac¸a˜o do circuito e´: Q C − L dI dt = 0 (11.25) Como o capacitor esta´ descarregando, I = −dQ/dt, e portanto: 11.9. CIRCUITO L-C 219 Figura 11.26: Circuito L-C d2Q dt2 + 1 LC Q = 0 (11.26) Que e´ a equac¸a˜o de um oscilador harmoˆnico, cuja soluc¸a˜o e´: Q(t) = Q0 cos(ωt) (11.27) Onde: ω2 = 1 LC I(t) = − dQ dt = ωQ0 sen(ωt) I0 = Q0ω Ana´lise de energia: 220 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.27: Gra´fico de corrente e carga no capacitor em um circuito L-C UE = Ucapacitor = 1 2 CV 2 = Q2 2C UE = Q2 2C cos2(ωt) UB = Uindutor = 1 2 LI2 = L 2 I20 sin 2(ωt) = LQ20ω 2 2 sen2(ωt) = Q20 2C sen2(ωt) U = UE + UC = Q2 2C Figura 11.28: Energia em um circuito L-C 11.10. ANALOGIA COM SISTEMA MECAˆNICO 221 11.10 Analogia com sistema mecaˆnico Analogia com sistema mecaˆnico massa-mola: d2x dt2 + K M x = 0 d2Q dt2 + 1 LC Q = 0 U = 1 2 mv2 + K 2 x2 U = 1 2 LI2 + 1 2C Q2 Figura 11.29: Analogia do circuito LC com sistema mecaˆnico. m L 1/k C x Q v = x˙ I = Q˙ mv2/2 LI2/2 kx2 2 Q2 2C 222 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O m d2x dt2 = −kx+mg L dI dt + Q C = V x(t) = h+ A cos(ω0t) q(t) = q1 + (q0 − q1) cos(ω0t) x(0) = h+ A q(0) = q0 x˙(0) = 0 q˙(0) = 0 Molas em se´rie Capacitores em paralelo x = x1 + x2 = F � 1 K1 + 1 K2 � q = ε(C1 + C2) Molas em paralelo Capacitores em se´rie 11.11 Circuito R-L-C Considere o circuito da Figura 11.30, com o capacitor inicialmente com carga Q0. A equac¸a˜o do circuito e´: Q C −RI − L dI dt = 0 11.11. CIRCUITO R-L-C 223 Figura 11.30: Circuito R-L-C Fazendo I = −dQ dt : d2Q dt2 + R L dQ dt + Q LC = 0 (11.28) Com a condic¸a˜o inicial: Q(0) = Q0 O ana´logo mecaˆnico a` este circuito e´ o oscilador amortecido: d2x dt2 + 2β dx dt + ω20x = 0 (11.29) Cuja soluc¸a˜o e´ dada por: x(t) = e−βt � A1 exp( � β2 − ω20t) + A2 exp(− � β2 − ω20t) � (11.30) A ana´lise deve ser dividida em treˆs casos: • ω20 > β: subcr´ıtico • ω20 = β: cr´ıtico • ω20 < β: supercr´ıtico 224 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O Figura 11.31: Comportamentos do oscilador amortecido. 11.11.1 Subcr´ıtico ω21 = ω 2 0 − β 2, ω21 > 0 Q(t) = e−βt [A1 exp(iω1t) + A2 exp(−iω1t)] A soluc¸a˜o pode ser reescrita como: Q(t) = Ae−βt cos(ω1t− δ) Que corresponde a uma oscilac¸a˜o de frequ¨eˆncia angular ω1, com uma amplitude decrescente com o tempo de um fator e−βt. 11.11.2 Cr´ıtico Q(t) = (A+Bt)e−βt 11.11.3 Supercr´ıtico Q(t) = e−βt [A1 exp(ω2t) + A2 exp(−ω2t)] 11.12. ENERGIA EM CAMPOS MAGNE´TICOS 225 Figura 11.32: Oscilador amortecido subcr´ıtico. 11.12 Energia em Campos Magne´ticos Vimos anteriormente que a energia ele´trica podia ser escrita em termos do campo ele´trico, o que nos fornecia a interpretac¸a˜o da energia armazenada no campo. Agora vejamos como seria a energia magne´tica em termos do campo. Sabemos que: φB = LI Por outro lado: φB = � S �B · d�s = � S (�∇× �A) · d�s Aplicando o Teorema de Stokes: 226 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O � S (�∇× �A) · d�s = � Γ �A · d�l φB = � Γ �A · d�l = LI A energia magne´tica e´ dada por: U = 1 2 LI2 = I 2 � Γ �A · d�l Sabendo que Id�l = �Jdv: U = I 2 � V ( �A · �J)dv Mas �∇× �B = µ0 �J , enta˜o: U = 1 2µ0 � V �A · (�∇× �B)dv Utilizando a identidade: �∇ · ( �A×�B) = �B · (�∇× �A)− �A · (�∇× �B) �A · (�∇× �B) = �B · (�∇× �A)− �∇ · ( �A× �B) = �B · �B − �∇ · ( �A× �B) Temos: U = 1 2µ0 � V �B · �B − � V �∇ · ( �A× �B)dv 11.12. ENERGIA EM CAMPOS MAGNE´TICOS 227 Aplicando o teorema da divergeˆncia: U = 1 2µ0 � V �B · �B − 1 2µ0 � S ( �A× �B)d�s Fazendo V → todo espac¸o, o segundo termo tende a zero, portanto: UB = 1 2µ0 � R3 B2dv (11.31) A densidade de energia do campo magne´tico e´ dado por: uB = B2 2µ0 (11.32) Note a similaridade das energias dos campos ele´trico e magne´tico: UE = 1 2 � V ρV dv = ε 2 � 3 E2dv UB = 1 2 � V � �A · �J � dv = 1 2µ0 � 3 B2dv Exemplo 11.1. Cabo coaxial. Calcular a energia armazenada em uma sec¸a˜o de comprimento l. Resoluc¸a˜o. Pela lei de Ampe`re, o campo magne´tico no cabo e´ dado por: 228 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O � �B · d�l = µ0I B2πr = µ0I B = µ0I 2πr B = µ0I 2πr θˆ , a < r < b 0 , r < a ou r > b A densidade de energia e´ dada por: u = B2 2µ0 = µ20I 2 2µ04π2r2 = µ0I 2 8π2r2 A energia armazenada em um trecho sera´: U = ��� µ0I 2 8µ0π2r2 rdθdrdz, 0 ≤ θ ≤ 2π a ≤ r ≤ b 0 ≤ z ≤ l U = µ0I 2 8π2 2πl b� a 1 r dr = µ0I 2 4π l ln � b a � Pelo me´todo anterior, ter´ıamos que, primeiro, calcular a auto-indutaˆncia: 11.12. ENERGIA EM CAMPOS MAGNE´TICOS 229 φ = � �B · d�s = �� µ0I 2πr drdz, � a ≤ r ≤ b o ≤ z ≤ l φ = µ0I 2π l ln � b a � L = dφ dI = µ0l 2π ln � b a � A energia armazenada sera´ enta˜o: U = LI2 2 U = µ0I 2 4π l ln � b a � 230 CAPI´TULO 11. LEI DA INDUC¸A˜O
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