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Resumo sobre receita pública

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RECEITA PÚBLICA
Conceito: É a entrada que, integrando-se ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer o seu vulto, como elemento novo e positivo (Aliomar Baleeiro). Ou seja, Receita Pública possui o caráter de definitividade, servindo para o Estado fazer face às suas despesas; uma vez arrecada incorpora ao Patrimônio da Entidade Política.
INGRESSO PÚBLICO
Conceito – É todo aquele recurso que entra no caixa do governo, mesmo que possa ser devolvido ao particular depois. Desse modo, pode se dizer que engloba as Receitas, que entram definitivamente nos cofres públicos (ex.: Tributos), bem como os recursos que entram provisoriamente, sujeitos a devolução posterior. Ex.: Caução em Licitação, em que o Licitante cumpriu com as regras estabelecidas no edital e no contrato de licitação, que permite o levantamento do valor caucionado; consignação em pagamento, etc.
OBS.: Taxa de concurso público é considerada Receita e por isso deve entrar no caixa do governo em caráter de definitividade, podendo fazer face às despesas públicas, através do orçamento anual. Por isso, a Administração Pública ao promover um concurso público deve contratar a empresa organizadora do Concurso por um valor fixo, enquanto que as taxas pagas pelos candidatos através das inscrições devem ser recolhidas ao caixa do governo e utilizadas como receitas púbicas, para fins de pagamento de despesas diversas. Conclui-se que não é correto a empresa organizadora do concurso apropriar-se dos valores arrecadados com as inscrições como pagamento das despesas que terá com a organização do concurso (Súmula 214 do TCU).
CLASSIFICAÇÃO DAS RECEITAS PÚBLICAS
1) Quanto à periodicidade ou regularidade.
a) Ordinária – é aquela receita que normalmente ocorre de forma periódica, que são previsíveis, servindo para pagamento das despesas que surgem em um determinado período de tempo. São as receitas de caráter constante, que se renovam ano a ano no Orçamento Público. Ex.: Receita do Imposto de Renda (IR); Receita do Imposto incidente sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA); Receita de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), etc. São Receitas que o governo prevê que pode contar com elas todo ano, para inserir os valores estimáveis no Orçamento Anual.
b) Extraordinária – é aquela Receita imprevisível, excepcional, inconstante, que é arrecadada do povo em circunstâncias especiais (Guerra, Calamidade Pública, etc.). Ex.: Empréstimo Compulsório, Imposto Extraordinário de Guerra, Doações, etc.
2) Quanto ao Sentido:
a) Sentido Amplo – é sinônimo de Ingresso Público. Ou seja, é todo aquele recurso que entra no caixa do governo, mesmo que possa ser devolvido ao particular depois;
b) Sentido Restrito – Somente os Recursos que entram definitivamente no caixa do governo, não sendo devolvido a qualquer pessoa posteriormente. O Direito Financeiro brasileiro adota o conceito restrito de receita.
3) Quanto à Competência do Ente da Federação:
a) Receita Federal – São as receitas pertencentes à União. Ou seja, suas Receitas Originárias; Receitas Derivadas (Taxas, Contribuição de Melhoria, Impostos, multas, etc.), deduzidas as transferências obrigatórias para os Estados/DF e Municípios.
b) Receita Estadual – São as receitas pertencentes aos Estados. Ou seja, suas Receitas Originárias; Receitas Derivadas (Taxas, Contribuição de Melhoria, Impostos, multas, etc.) e Receitas Transferidas/ Repassadas pela União, deduzidas as transferências obrigatórias para os Municípios.
c) Receita Distrital - DF – São as receitas pertencentes ao DF. Ou seja, suas Receitas Originárias; Receitas Derivadas (Taxas, Contribuição de Melhoria, Impostos, multas, etc.) e Receitas Transferidas/ Repassadas pela União.
d) Receita Municipal – São as receitas pertencentes aos municípios. Ou seja, suas Receitas Originárias; Receitas Derivadas (Taxas, Contribuição de Melhoria, Impostos, multas, etc.) e Receitas Transferidas/ Repassadas pela União e pelo Estado.
4) Quanto à Fonte/Origem/Coercitividade
a) Originárias – são as Receitas decorrentes da exploração do Patrimônio do Ente Político, ou outra fonte que não necessite constranger o particular. A relação do Estado com o particular é regida pelo direito privado, de natureza jurídica contratual (bilateralidade), sem o uso da Coercitividade. Tem-se como exemplos as receitas provenientes de doações, preço público ou tarifa da venda de produtos ou prestação de serviços, aluguéis, exploração empresarial (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste, Correios, etc.), lucros obtidos da exploração pecuária (Fazendas), etc.
b) Derivadas – são as Receitas decorrentes do exercício do Poder Império do Estado. A relação do Estado com o particular é regida pelo direito público, de natureza jurídica legal (unilateralidade), com o uso da Coercitividade; o Estado pode constranger o particular a entregar-lhe receita. A Receita derivada pode ser tributária ou não tributária. São receitas tributárias: Taxas, contribuições de melhorias impostos e adicionais/acréscimos relacionados aos tributos (multa tributária, correção monetária, etc.). Por sua vez, são receitas não tributárias: contribuições especiais, empréstimos compulsórios, multas decorrentes do exercício do Poder de polícia, etc. OBS.: Para o direito financeiro os tributos são apenas as taxas, contribuições de melhorias e impostos. Já para o direito tributário, incluem-se também como tributos as contribuições especiais e os empréstimos compulsórios (Fonte: Harrison Leite).
A taxa e a contribuição de melhoria são espécies tributárias de competência comum de todos os Entes da Federação. Ou seja, tanto a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios podem instituir/criar estas espécies tributárias.
Já os impostos fazem parte da competência exclusiva de cada Ente, ou seja, cada Entidade política institui/cria seus impostos, sem possibilidade desta competência ser delegada a outro Ente. Desse modo, vejamos os impostos da competência tributária de cada um:
I) São impostos da União: 
a) Não instituídos: Imposto Extraordinário de Guerra – IEG; Imposto sobre Grandes Fortunas – IGF; e Impostos Residuais. OBS.: Impostos residuais são outros impostos ainda NÃO previstos na Constituição Federal.
b) Instituídos: Imposto sobre produtos industrializados – IPI; Imposto de Exportação – IE; Imposto de Renda – IR; Imposto de Importação – II; Imposto Territorial Rural – ITR; e Imposto sobre Operações Financeiras – IOF.
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II) São Impostos dos Estados e do DF: Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação, de quaisquer bens ou direitos – ITCMD; Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação – ICMS; e Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores - IPVA.
III) São impostos dos municípios e do DF: Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU; Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis por ato oneroso "inter vivos" – ITBI; e Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza – ISS.
c) Receitas Transferidas - são as Receitas decorrentes da transferência de recursos de um Ente da Federação para outro (ex.: da União para os Estados). A transferência pode se dar de maneira obrigatória, por estar prevista na constituição ou em lei, ou de maneira voluntária, por meio da celebração de convênios. As transferências voluntárias são formalizadas por meio de convênios, em que um Ente da Federação repassa voluntariamente recursos a outro Ente. É muito comum a União repassar a municípios recursos para construção de escolas, hospitais, etc. por meio de convênios. Quem nunca escutou falar que o prefeito foi até Brasília, falar com o presidente, pra pedir recursos para construção disto ou daquilo? Nesta situação, os prefeitos vão pedir transferência voluntária. Se se tratasse de uma transferência obrigatória, não haveria que se falar em “pedir”, não é verdade?No que se refere às transferências obrigatórias, especialmente a transferência decorrente de imposição constitucional, temos como um assunto que merece melhor atenção. Desse modo, estudaremos com maiores detalhes, a transferência de receitas previstas na Constituição Federal em um tópico seguinte, intitulado de Repartição das Receitas Tributárias – Transferências Constitucionais.
DIFERENÇAS ENTRE PREÇO PÚBLICO/TARIFA X TAXA
	PREÇO PÚBLICO/TARIFA
	TAXA
	Não é tributo; decorre do exercício de uma atividade particular – receita originária.
	É tributo; prestação pecuniária compulsória – receita derivada.
	Tem natureza contratual.
	Tem natureza legal – a obrigação de pagar decorre de Lei.
	Não observa o princípio da anterioridade.
	Observa o princípio da anterioridade.
	Só pode ser cobrada pelo uso efetivo.
	O mero uso potencial permite sua cobrança.
	A relação com o usuário é regida pelo Direito do Consumidor.
	A relação com o contribuinte é regida pelo Direito Tributário.
	Pode haver duas relações jurídicas: a) uma do Estado com o Concessionário/Permissionário; b) outra do Concessionário/Permissionário com o Consumidor.
	Só há uma relação jurídica: do Estado para com o Contribuinte.
	Resultado de um ato de vontade das partes.
	Resultado da vontade da lei.
	Em regra, remunera serviço público não-essencial.
	Em regra, remunera serviço público ínsito à soberania do Estado e serviço público essencial ao interesse público.
	A Prescrição da dívida é regida pelo Código Civil.
	A Prescrição da dívida é regida pelo Código Tributário Nacional.
PEDÁGIO
Conceito: é a remuneração paga pela utilização de certas vias construídas e/ou conservadas pelo poder público.
Natureza Jurídica: por muito tempo pedágio foi considerado taxa, exigindo o preenchimento dos requisitos acima exposto, dentre eles: a) tinha que ser criada por lei; e b) Observava o princípio da anterioridade, ou seja, só poderia ser cobrado no ano seguinte e desde que tivessem transcorrido 90 dias da data da publicação da lei que o instituía.
Ocorre que no dia 11 de junho de 2014, o STF, ao julgar a ADIN 800, manifestou-se mais uma vez a respeito da natureza jurídica do Pedágio e chegou à conclusão de que o mesmo não preenchia os requisitos próprios de taxa (compulsoriedade), pelo o que deveria ser considerado Preço Público. Eis um trecho do voto do relator da ADIN mencionada: “O tributo é compulsório, ao passo que o preço público somente é cobrado pelo uso efetivo e voluntário do serviço público prestado” (Teori Zavascki).
Conclusão: o Pedágio possui natureza jurídica de Preço Público, por isso é receita originária para os cofres públicos.
5) Quanto à natureza ou previsão orçamentária
a) Orçamentária – é a receita que consta no Orçamento e o governo pode contar com ela para pagamento das despesas públicas. São as receitas que não serão restituídas no futuro, podendo ser inseridas no Orçamento, para fins de conversão em bens e prestação de serviços (ex.: Receitas Originárias, tributárias, entre outras).
b) Extraorçamentária – é a Receita que não faz parte do Orçamento. O governo não pode contar com essa receita para fazer face às suas despesas. É contabilizada como receita, porque é lançada nos cofres públicos como um crédito, mas não podem ser informadas no orçamento – LOA, para fins de gastos públicos. São consideradas pela doutrina como meros movimentos de caixa. Ex.: depósito feito a título de garantia, que está sujeito à devolução ao particular, caso o mesmo cumpra com o que foi pactuado com a Administração Pública; consignação em folha de pagamento decorrente de empréstimo feito por funcionário público, em que o Estado recebe do funcionário (“receita”), mas repassa para o credor; no caso de Regime Geral de Previdência Social, a retenção de contribuição social na fonte, em que o Governo recebe do funcionário (“receita”) e repassa para o INSS; entre tantas outras modalidades, que não ficam no cofre do governo, não permitindo serem inseridas na Lei Orçamentária Anual – LOA.
6) Quanto à Categoria Econômica
a) Receita Corrente – consiste na Receita proveniente de uma fonte renovável e é destinada para a manutenção da máquina pública. A mesma não acrescenta o patrimônio público, pois logo que são arrecadadas são convertidas em bens e serviços. Exemplos:
→ Receita tributária;
→ Receita das contribuições especiais (*);
→ Receita patrimonial (aluguel);
→ Receita agropecuária (rendimentos da atividade agropecuária);
→ Receita industrial (rendimentos da atividade industrial);
→ Receitas de serviços (tarifas);
→ Transferências correntes (FPM e FPE);
→ Outras receitas correntes (Royalties).
OBS.: O Superávit corrente (Receita corrente – Despesa corrente) é Receita de Capital, permitindo que o governo realize investimento com ele.
b) Receitas de Capital – consiste na Receita que direta ou indiretamente provoca um reflexo no patrimônio público. É, no conceito doutrinário, a receita destinada a produzir riquezas. A mesma poderá resultar de:
→ Operações de crédito/empréstimo – a realização de um empréstimo permite visualizar reflexo patrimonial, no momento em que torna o Ente público devedor de uma quantia, a qual deve ser contabilizada no passivo público. Assim, toda vez que se calcula o patrimônio líquido precisa-se levar em consideração o valor da dívida. OBS.: em regra, empréstimo é para realizar investimento público; para custear/manter a máquina pública, o governo tem que se valer de outras fontes de receitas;
→ Alienação de bens móveis e imóveis – a venda de um bem público permite visualizar reflexo patrimonial; o bem deixa de fazer parte do patrimônio público. OBS.: a receita resultante da venda de bens deve, em regra, ser destinada para a realização de algum investimento público, pois se for pra custear a máquina pública, uma hora o Ente público quebra;
→ Amortização de empréstimos – se pago parte de minha dívida, diminuo meu passivo, que reflete indiretamente no meu patrimônio. Pode ser também uma amortização de um empréstimo concedido.
→ Transferência de capital – uma doação de imóvel da União para um município ou vice versa; uma transferência de recurso para construção de uma obra pública, feita pela União a um município; tudo isso permite visualizar reflexo patrimonial;
→ Outras receitas de capital (Superávit corrente – sobra de receita corrente, depois de pagas as despesas correntes).
REGIME CONTÁBIL DA RECEITA
Conceito: Entende-se por Regime Contábil o procedimento ou técnica adotado para a realização dos registros dos fatos aplicados à ciência contábil.
Espécies: Existem três tipos de Regimes contábeis, que são: a) regime de caixa; b) regime de competência; e c) regime misto.
a) Regime de caixa – por esse regime, entende-se como receita, aquela contabilizada no momento da efetiva entrada/ingresso do recurso, no caixa/conta do governo, independentemente, do momento em que foi feita sua previsão;
b) Regime de competência – por esse regime, entende-se como receita, aquela contabilizada no momento de sua previsão, independentemente, do momento em que se deu o seu efetivo recolhimento.
c) Regime misto – é uma combinação dos dois regimes anteriores.
A contabilidade pública brasileira utiliza o Regime de caixa para as receitas (a efetiva entrada do dinheiro) e o regime de competência para as despesas públicas (o mero empenho). Ou seja, a contabilidade pública brasileira utiliza o regime contábil misto. Este é o regime utilizado na contabilidade púbica brasileira, por força do artigo 35 da Lei 4.320/64, que assim dispõe: “Pertencem ao exercício as receitas nele arrecadadas e as despesas nele legalmente empenhadas”.
DÍVIDA ATIVA
Conceito: é um banco de dados composto por informações relativas a devedores inadimplentes para com a fazenda pública, sejam os créditos de natureza tributária ou não-tributária. A dívida abrange atualização monetária, juros e multa de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato.
a)A Dívida ativa tributária é composta pelos créditos tributários (os tributos e seus acréscimos);
b) A Dívida ativa não tributária é composta por: 1) Empréstimos compulsórios e seus acréscimos; 2) Contribuições Especiais e seus acréscimos; 3) Multas de qualquer origem (exceto as tributárias); receitas originárias, etc.
POSSIBILIDADE DE PROTESTO DE CDA
a) Tem Previsão legal – Lei 9.492/97;
b) É meio de cobrança extrajudicial;
c) Procedimento feito em cartório;
d) Tem por finalidade constituir o devedor em mora e interromper a prescrição da dívida;
e) Permite a inserção do nome do devedor no rol de maus pagadores.
FASES DA RECEITA
a) Previsão – constitui-se na primeira fase da receita e é verificada no momento da aprovação do Orçamento Anual;
b) Lançamento – é a fase da constituição do crédito (qualificação e quantificação). Momento em que a receita passa a existir de fato, apesar de a entidade política ainda não dispor da quantia. O lançamento pode ser de ofício/direto, por declaração/misto e por homologação/autolançamento.
c) Arrecadação – consiste na fase em que o contribuinte ou o devedor liquida suas obrigações para com o Estado junto aos agentes arrecadadores, como os bancos, e demais entidades autorizadas, tesourarias, coletorias ou postos fiscais.
d) Recolhimento – é a entrega dos valores arrecadados ao governo. Consiste na entrega do numerário, arrecadado pelos agentes autorizados (ex.: Bancos), às repartições oficiais. 
REPARTIÇÃO DAS RECEITAS TRIBUTÁRIAS – TRANSFERÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
No que se refere às Taxas e Contribuições de melhorias, nenhum Ente da Federação reparte a Receita destes Tributos. Cada Ente utiliza as receitas provenientes destes tributos para custear ou ressarcir-se das despesas, que motivaram a criação deles.
A Repartição constitucional de Receitas entre os Entes, só ocorre com os Impostos e com uma contribuição especial, que é a CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico.
A Federação brasileira apresenta algumas distorções, dentre elas está a ausência de sincronia entre o sistema de repartição de receitas dos entes federativos e o sistema de atribuições de cada um. Assim é que, considerando toda a receita tributária arrecadada no país, a União isoladamente fica com 60% do total arrecadado, seguida dos Estados e DF, que arrecadam 25% do total, e os Municípios com apenas 15% das receitas.
Ocorre que, a despeito de terem a menor receita, Estados e Municípios possuem um leque de atribuições que, muito raramente, conseguem atender com os recursos próprios, sendo necessária uma repartição das receitas tributárias entre todos os entes de forma a tornar mais equânime a relação entre serviços e receitas (Harrison Leite).
Observe que na transferência de receitas, o Tributo é criado por um Ente político, porém, parte da receita é transferida para outro Ente (Estado, DF e municípios). Vejamos:
Apesar de serem impostos da União, pertencem aos Estados e ao Distrito Federal:
I – O IR pago por eles (retido na fonte) ou por suas Autarquias e Fundações;
II – 20% dos Impostos Residuais que a União vier a instituir/criar.
Apesar de serem Impostos da União ou dos Estados, pertencem aos Municípios:
I – O IR pago por eles (retido na fonte) ou por suas Autarquias e Fundações;
II – 50% do ITR, relativamente aos imóveis neles situados, podendo ser 100% na hipótese da opção destes por fiscalizarem; 
III – 50% do IPVA, relativamente aos veículos licenciados em seus territórios;
IV – 25% do ICMS.
OBS.: No que se refere à fonte/origem das receitas, pode-se dizer que o IPVA e o ICMS são receitas derivadas para o Estado e receitas transferidas para os municípios. 
A União entregará aos Estados e DF:
I – 29% da CIDE – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (petróleo, gás natural, e derivados; álcool combustível). OBS.: Os Estados entregarão 25% do que receberem, aos seus municípios;
II – 10% do IPI. OBS.: Os Estados entregarão 25% do que receberem, aos seus municípios. Esse repasse refere-se ao Fundo de Compensação pela Exportação de Produtos Industrializados – FPEX e tem por finalidade compensar os Estados e Municípios pelas imunidades tributárias Estaduais e municipais, que recaem sobre as exportações.
A União entregará:
→ Do total arrecadado com o IPI + IR (deduzidas as parcelas já repassadas) 49% da seguinte forma:
 I – 21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e DF (FPE);
II – 24,5% ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM);
III – 3% para aplicação em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste [(FNO (0,6%), FNE (1,8%) e FCO (0,6%)].
→ Do total arrecadado com o IOF sobre o ouro (ouro enquanto ativo financeiro ou instrumento cambial/moeda) da seguinte forma:
I – 30% para o Estado, o Distrito Federal ou o Território, conforme a origem;
II – 70% para o Município de origem.
Transferências Constitucionais e seu reflexo no IRRF – Imposto de Renda Recolhido na Fonte
Conforme já estudamos, o imposto de renda (IR) é um tributo da competência da União, porém, pertence aos municípios, o produto da arrecadação do IR incidente na fonte, sobre rendimentos pagos, a qualquer título, por eles, suas autarquias e pelas fundações que instituírem e mantiverem. Em uma linguagem mais clara, pertence ao município a receita do IR que recai sobre a folha de pagamento municipal.
Imagine que um funcionário de um município pague imposto de renda em um valor superior ao devido. Caso o funcionário resolva ajuizar uma Ação de cobrança dos valores pagos a mais:
a) Ele deve ajuizar a Ação contra a União, já que o IR é um tributo federal ou deve ajuizar a Ação contra seu município, já que foi este que ficou com a receita do IR recolhida da folha de pagamento do funcionário?
b) Qual é a Justiça competente para julgar o feito, no caso da alínea “a” (Justiça Federal ou Justiça Estadual)?
RECEITA PÚBLICA E ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES À LUZ DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL
1. Receita Corrente Líquida – RCL
Para a União: é o somatório de suas receitas (todas correntes) originárias e receitas derivadas, com as seguintes deduções: a) os valores transferidos aos Estados e Municípios por determinação constitucional ou legal; b) a contribuição patronal paga pelos empregadores e a contribuição previdenciária paga pelos empregados/trabalhadores, pois ambas financiarão o Regime Geral de Previdência Social – RGPS; c) a contribuição previdenciária paga pelos servidores estatutários efetivos, pois esta custeará o Regime Próprio de Previdência Social – RPPS; d) os valores arrecadados para o PIS e PASEP mencionados no art. 239 da CF/88; e e) as receitas provenientes da compensação financeira citada no § 9º do art. 201 da CF/88.
OBS.: As contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), mais conhecido pela sigla PIS/PASEP tem por objetivo financiar o pagamento do seguro-desemprego, abono, etc. O PIS é destinado aos funcionários de empresas privadas regidos pela CLT, sendo administrado pela CEF. Já o PASEP é destinado aos servidores públicos regidos pelo Regime jurídico estatutário federal, sendo administrado pelo Banco do Brasil.
A contribuição para o PIS/PASEP será apurada mensalmente, sendo composta da seguinte forma: a) as pessoas jurídicas de direito privado e as que lhes são equiparadas (EP e SEM) contribuirão com 0,65% sobre o faturamento do mês + 1% sobre a folha de salários; b) as pessoas jurídicas de direito público contribuirão com 1% sobre o valor das receitas correntes arrecadadas e das transferências correntes e de capital recebidas (Lei 9.715/98, arts. 2º e 8º).
Para os Estados: é o somatório de suas receitas (todas correntes) originárias, receitas derivadas e receitas transferidas pela União, com as seguintes deduções: a) as transferências constitucionais – parcelas entregues aos municípios por determinação constitucional; b) a contribuição previdenciária paga pelos servidoresestatutários efetivos, se houver no Estado o Regime Próprio de Previdência, pois estas custearão o RPPS; e c) as receitas provenientes da compensação financeira citada no § 9º do art. 201 da CF/88.
Para os Municípios: é o somatório de suas receitas (todas correntes) originárias, receitas derivadas e receitas transferidas pela União e os Estados, com as seguintes deduções: a) a contribuição previdenciária paga pelos servidores estatutários efetivos, se houver no município o Regime Próprio de Previdência Social, pois estas custearão o RPPS; e b) as receitas provenientes da compensação financeira citada no § 9º do art. 201 da CF/88.
Mas professor, por que eu preciso saber o que é Receita Corrente Líquida? Não basta eu aprender o que é Receita? _ Veja bem, o conceito de Receita Corrente Líquida - RCL será parâmetro de cálculo, por exemplo, para definição e limite da despesa com pessoal (folha de pagamento), com previsão nos arts. 18 a 23 da LRF, bem como para o cálculo do limite da Dívida Pública e das Operações de Crédito (art. 30, LRF). Sabe-se que Receita é todo recurso que entra no cofre do governo e que este pode utilizar para fazer face às despesas públicas. Porém, quando o assunto é Receita Corrente Líquida, verifica-se que existem deduções, que provocam redução significativa no montante da receita líquida disponível. Então, não confunda receita propriamente dita com Receita Corrente Líquida. Receita = Receita corrente + Receita de capital; RCL = Receita corrente (somente a corrente) líquida (depois das deduções).
RECEITA CORRENTE LÍQUIDA – RCL X BASE DE CÁLCULO DO REPASSE AO LEGISLATIVO MUNICIPAL
A base de cálculo do Repasse ao Poder Legislativo municipal é composta da receita de todos os tributos municipais + todas as transferências obrigatórias (art. 29-A, CF/88). OBS.: Ficam fora as receitas originárias e derivadas não tributária.
2. Responsabilidade na Gestão Fiscal
Entende-se por Gestão Fiscal Responsável o ato pelo qual os Entes da Federação não só instituem/criam os tributos de sua competência, como também, e talvez principalmente, envidam esforços no sentido de arrecadarem as receitas advindas dos mesmos. De nada adianta criar os tributos por meio de lei, se os mesmos não forem lançados, cobrados, apurados, e, se for o caso, até cobrados judicialmente.
Tamanha importância que possui o assunto, a Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF por meio de seu artigo 11, assim dispôs: “Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação”.
De nada adiantaria a LRF criar uma obrigação para os Entes da Federação, se a mesma não previsse uma punição pelo descumprimento da obrigação. Desse modo, por meio do parágrafo único do artigo supramencionado, ficou preceituado que: “É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos”. Importante: percebe-se que não existe punição para o Ente político (o gestor pode sofrer punição) que não institui, prevê e arrecada todas as taxas e contribuições de melhoria.
Salienta-se que, nessa situação, são vedadas apenas as transferências voluntárias, decorrentes de convênios, em que um Ente da Federação repassa voluntariamente recursos a outros Entes. É muito comum a União repassar a municípios recursos para construção de escolas, hospitais etc. por meio de convênio. No que se referem às transferências obrigatórias (constitucional e legal) as mesmas não são atingidas pela vedação do dispositivo legal supratranscrito.
Os Tribunais de Contas têm aplicado penalidades aos gestores, que não conseguem arrecadar, razoavelmente, as receitas tributárias dos Entes, dos quais são governantes. Porém, é analisado caso a caso, pois, em determinadas situações existem dificuldades que são próprias de alguns Entes, como a falta de servidores suficientes para fiscalização/arrecadação tributária, cadastros desatualizados das empresas, etc.
O certo é que, o administrador público que comprove que fez uso de todos os meios possíveis para o aumento da receita pública, muito embora não tenha atingido o resultado esperado, não poderá sofrer as penalidades graves impostas pela Lei de Improbidade Administrativa, pagamentos de multas ou rejeição de contas pelo Tribunal de Contas, pois não haveria se falar em negligência na arrecadação das receitas.
3. Renúncia de Receitas
Outro assunto tratado com destaque pela Lei de Responsabilidade fiscal foi a Renúncia de Receitas. Renunciar a receitas é abrir mão da mesma; optar por não arrecadar, quando existe a possibilidade. Vê-se de pronto que é assunto sério, considerando o leque de serviços que o Estado é obrigado a prestar à população, somado às punições previstas a quem não possui Responsabilidade na Gestão Fiscal.
Renúncia de receitas consiste na concessão de benefícios fiscais por parte de alguns entes federativos, com o fim maior de atrair investimentos. Estados e municípios que desejam atrair empresas para seu território, com o fim de provocar a geração de emprego, valem-se desse instrumento, oferecendo redução/isenção tributária. De inicio, vê-se que a intenção dos governantes é das melhores.
A legislação não veda a Renúncia de receitas, mas exige a observância de vários requisitos, especialmente, que seja verificado o impacto financeiro que a renúncia provocará no Orçamento. E tendo em vista a necessidade de se analisar os impactos de qualquer renúncia de receita no orçamento, o art. 165, § 6º da CF/88, preceituou que: “O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia”.
Tendo em vista o impacto que a renúncia de receita possa provocar no orçamento, a Lei de Responsabilidade Fiscal tratou de regulamentar a matéria, trazendo alguns requisitos de preenchimento obrigatório, para que a concessão de renúncia de receita seja válida, vejamos:
Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de:
a) estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes;
b) atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias; e
c) atender a pelo menos uma das seguintes condições:
c.1) demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; ou
c.2) estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição.
A renúncia de receitas pode se dar de diversas formas, sendo que todas elas, obviamente, levam a uma diminuição das receitas do governo. A própria LRF discriminou os principais tipos de renúncia de receita. São eles:
a) Anistia – Consiste no perdão legal de infrações que tem como consequência a proibição de que sejam lançadas as respectivas penalidades pecuniárias;
b) Isenção em caráter não geral – É a dispensa legal do pagamento do tributo devido, que tem como consequência a proibição de constituição do crédito tributário, por meio do lançamento. Trata-se, aqui, de isenção concedida em caráter individual; ou seja, a isenção geral pode.
c) Remissão – É a dispensa gratuita da dívida devidamente constituída, feita pelo credor em benefício do devedor;
d) Subsídio – São auxílios de caráter econômico, em dinheiro ou sob a forma de benefícios pelo governo a empresas para lhes aumentar a renda, para estimular exportações do país ou para baixar os preços de determinados produtos, com vistas a beneficiar as pessoas em geral e a economianacional;
e) Crédito presumido – Consiste no direito de o contribuinte lançar na sua escrita contábil determinado valor a título de crédito, que deverá ser abatido do débito do tributo apurado e, consequentemente, resultar no não pagamento do tributo (restituição/ressarcimento);
f) Alteração de alíquota – Consiste na redução do percentual da alíquota do tributo que a Fazenda Pública arrecada. Digamos que a alíquota do ICMS é 17% sobre o valor da mercadoria e passa a ser 15%;
g) Alteração da base de cálculo – Consiste na modificação da base de cálculo do tributo de tal forma que diminua, ao final, o valor do tributo a ser pago.
Como exceções, a LRF previu duas situações que não configuram renúncia de receitas, que são:
a) alterações das alíquotas do II, IE, IPI e IOF, tendo em vista que se trata de impostos extrafiscais, ou seja, sua instituição não visa arrecadar receitas e sim regular o mercado de consumo;
b) cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao custo de cobrança. Digamos que um indivíduo deve à Fazenda Pública R$ 50,00 referente ao IPTU e de nenhum modo realiza o pagamento. Então, a Fazenda Pública pode cancelar o débito, caso os custos de uma cobrança judicial seja superior ao valor do tributo, sem que isso configure renúncia de receita.
BLOQUEIO DE TRANSFERÊNCIAS
Sabe-se que as transferências constitucionais, que são os valores repassados pela União aos Estados, ao DF e aos municípios, bem como os valores repassados pelos Estados a seus respectivos municípios, por obrigação contida na CF/88, constituem o meio de sobrevivência dos Entes recebedores destes recursos. Isso é tão verdade, que tem município que sobrevive quase que exclusivamente de verbas transferidas, chegando a ser motivo de propaganda algum investimento com recursos próprios.
Assunto de tamanha importância, o mesmo ganhou status constitucional, inclusive, acompanhado de vedação do bloqueio da verba por parte do Ente que é obrigado a transferir/repassar. No entanto, a própria norma constitucional previu exceções, pelo o que, em situações específicas, é possível que o Ente obrigado a repassar os recursos arrecadados, realize o bloqueio de valores correspondentes a transferências constitucionais de receitas tributárias. Senão, vejamos o que diz a CF/88:
Art. 160. É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos. (OBS.: a seção trata da repartição de receitas tributárias).
Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de condicionarem a entrega de recursos: 
I - ao pagamento de seus créditos, inclusive de suas autarquias (ex.: retenções para pagamento das contribuições previdenciárias ao INSS);
II - ao cumprimento do disposto no art. 198, § 2º, incisos II e III, que diz respeito ao mínimo de recursos na aplicação da saúde.
Conclui-se pela disposição do artigo 160 da CF/88, que, em regra, é VEDADO o bloqueio/retenção de verbas decorrentes das transferências constitucionais, ficando ressalvadas as hipóteses descritas em seus incisos I e II.
OBS.: A União deve aplicar na saúde o valor do ano anterior + no mínimo o percentual da variação positiva do PIB do ano anterior à LOA. Os Estados devem aplicar na saúde 12% de (75% do ICMS, 50% do IPVA, 100% do ITCMD + receitas transferidas de impostos). Os municípios devem aplicar na saúde 15% de (IPTU, ISS, ITBI + receitas transferidas de impostos). Já o DF deve aplicar na saúde 12% de (ICMS, IPVA, ITCMD + receitas recebidas de transferências de impostos da União) + 15% de (IPTU, ISS, ITBI).

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