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DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 1 Aula 1 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO Aula 1 01 classificação Introdução ao Direito Constitucional Direito Constitucional conceito relacionamento com demais disciplinas ciência ou ramo do direito que estuda a org. jur. fundam. de Est. Direito Constitucional positivo Direito Constitucional comparado Direito Constitucional geral Direito Constitucional material e formal estudo das normas constitucionais vigentes e eficazes em determinado lugar busca pontos comuns entre constituições diferentes parte de pontos comuns entre constituições diferentes decorrem da divisão entre constituição material e formal jurídicas não-jurídicas Direito Público Direito Privado é a teoria geral da constituição Princípios Gerais supremacia da constituição democrático da limitação do poder 02 Constitucionalismo Constitucionalismo a idéia de constituição antecedentes preceito da Dec. dos Dir. do Hom. (art. 16-1789 na América a influência das guerras mundiais noções da antiguidade valorização pactos forais e cartas de franquias contratos de colonização as leis fundamentais do reino as doutrinas do pacto social pensamento iluminista a constituição escrita decorreu da própria independência existiam leis superiores e anteriores século XVIII decorreram de acordos entre o rei inglês e os súditos permitiam, na Europa, a participação no governo EUA século XVII doutrina Francesa do século XVIII Hobbes (Leviatã), Locke (Trat. do gov. civ.) e Rousseau (Contr. Soc.) o mundo governado por natureza boa, previdente e racional objetivo asseguravam direitos mínimos dirigiam-se a homens determinados limitação do poder qto. à sua matéria qto. à sua autoridade qto. à estabilidade há regras que o soberano não pode tocar gerou o liberalismo social e econômico 03 Princípios Constitucionais Dos Princípios Constitucionais fundamentais gerais setoriais ou especiais os Princípios Generalidade Primaridade Forma de Estado (art. 1º., “caput”) Forma de Governo (art. 1º., “caput”) Estado Democrático de Direito (art. 1º., “caput”) Fundamentos do Estado Brasileiro (art. 1º.) Objetivos fundamentais do Estado Brasileiro Separação de Órgão de Poder (art.2º.) Valores Origem Estado de Direito Estado Social de Direito soberania cidadania Dignidade da pessoa humana Pluralismo político 04 Interpretação constitucional Interpretação das normas constitucionais a textura aberta A supremacia da Constituição os métodos hermenêuticos tradicionais o caráter político princípios peculiares interpretação conforme com redução do texto sem redução do texto fixando uma interpretação proibindo uma interpretação da Unidade da Constituição da efetividade aparente contradição dos princípios a concordância prática 05 Poder Constituinte Poder Constituinte originário derivado conceito natureza jurídica titularidade exercício poder que constitui os demais divisão doutrinária assembléia constituinte ou outorga para os positivistas é um direito para os jusnaturalistas um fato inexistência de instituições políticas revolução inicial ilimitado ou autônomo para os (jusnaturalistas) características espécies características incondicio- nado decorrente (art. 25) reformador (art. 60) derivado, incondicio- nado e limitado formas de expressão DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 1 Aula 2 TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 01 Princípios Constitucionais Tema 1 - Dos Princípios Constitucionais Dos Princípios Constitucionais Falar em princípio não é tratar de normas superiores, que se sobreporiam hierarquicamente às demais, visto que a nossa Constituição é formal, reconhecendo estarem no mesmo patamar todas as normas integrantes do seu texto, quer sejam princípios ou regras. Assim, todos os dispositivos insertos na Constituição são normas, visto que impõem comportamento, e estão no mesmo lugar, no ápice, da pirâmide de Kelsen. Em aparente contradição (porém, apenas aparente), não pode haver dúvida existirem normas axiologicamente superiores às demais, isto é, mais importantes sob o aspecto valorativo. Estas são as normas principiológicas, verdadeiros alicerces do sistema, explicitando as fulcrais decisões do Constituinte. Neste ponto, a explicação do Prof. Carlos Ari Sundfeld, para quem: "... os princípios são as idéias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a compreensão de seu modo de se organizar. Tomando como exemplo de sistema certa guarnição militar, composta de soldados, suboficiais e oficiais, com facilidade descobrimos a idéia geral que explica seu funcionamento: os subordinados devem cumprir as determinações dos superiores. Sem captar essa idéia, é totalmente impossível entender o que se passa dentro da guarnição, a maneira como funciona..." (Carlos Ari Sundfeld) E o mesmo se aplica para o sistema (o conjunto) das normas constitucionais, é composto por regras e princípios (e não apenas um) necessários para a compreensão e a intelecção do Texto. Dessa forma, precisamos indagar: o que diferencia os princípios das regras? Primeiramente, de forma sintética, esclarecemos serem características daqueles e não necessariamente das regras a generalidade, a primariedade e agregarem valores ao ordenamento jurídico constitucional. A generalidade é perceptível por não se direcionarem a dada situação concreta, diz a doutrina. Isto é próprio de todas as normas legislativas, quer constitucionais, quer infraconstitucionais. É importante frisar que as regras constitucionais também são gerais, porém os princípios o são em ainda maior extensão. Para melhor compreensão, é importante exemplificar. Partamos do disposto no artigo 1º, III, que diz ser princípio fundamental da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana. Aula 2 02 Com as explicações preambulares, passemos a descrever os princípios constitucionais do Estado Brasileiro. Dessa forma, é bom esclarecer estarmos partindo da doutrina dominante, que elenca três ordens: 1) princípios fundamentais; 2) gerais e; 3) setoriais ou especiais. Os princípios fundamentais estão esculpidos nos artigos 1º, 2º e 3º e 4º (em sua maioria), enumerando as mais essenciais opções político-constitucionais. São aqueles que - dentre o universo dos vetores da Carta Magna ocupam a posição mais elevada, com grau de generalidade ainda maior que os demais. Por fim, é relevante lembrar e entender a doutrina como sendo o artigo 76, bem longe, portanto, do Título I, autodenominado "Dos Princípios Fundamentais", também portador de vetor fundamental, referente ao sistema de governo, que é o presidencialista, em contraposição ao parlamentarista. Já os princípios constitucionais gerais não são essenciais à organização do Estado, possuindo generalidade um pouco menor do que a perceptível nos fundamentais, muito embora envolvam conceitos amplos que iluminam todo o texto constitucional. Vale dizer, são fórmulas básicas que servem à interpretação do ordenamento jurídico maior. No que tange aos princípios especiais, ou setoriais, revelam-se como alicerces de dados elementos, capítulos outítulos da Constituição, portanto, não são relevantes para todo o Texto, mas apenas ao setor ou subdivisão ao qual estão inseridos. Dessa forma, se o princípio é especial, não deve ser utilizado para a interpretação ou integração de normas constantes em título, capítulo ou seção a que não pertinente, sob pena de se frustrar a vontade do Constituinte, que restringiu o seu alcance. Agora, incumbe-me demonstrar a imprescindibilidade de se estudar os princípios constitucionais, visto que, analisando-os, somos capazes de abstrair princípios menores, ou regras previstas no ordenamento jurídico, mesmo que do nosso desconhecimento. Ora, se o Estado é de todos os cidadãos, devemos ser tratados de acordo com o princípio da isonomia. Muito bem, se da República abstraímos a isonomia, que não determina o idêntico tratamento às pessoas. Mas "que os iguais sejam tratados igualmente e os desiguais desigualmente", será que as pequenas e microempresas não devem ter legislação diferenciada em relação às demais pessoas jurídicas? É claro que sim, pois do contrário trataríamos os desiguais do mesmo modo, violando a diretriz. Aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais A aplicabilidade das normas constitucionais - possibilidade de incidência a um dado caso concreto - exige a análise de dois institutos: a vigência e a eficácia. Quanto à vigência, tratada em sentido técnico, faz referência a necessária "entrada" no mundo jurídico dos preceitos constitucionais, ou seja, a regular promulgação e publicação. Neste sentido, determina o momento em que todas as normas do ordenamento jurídico devem ser analisadas - para a verificação da validade - frente às novas normas constitucionais. 03 Ainda em campo de vigência, faz-se necessário aduzir ser viável a previsão de "vacatio constituicionis", ou seja, a determinação de que as normas constitucionais entrarão em vigor em data posterior ao de sua publicidade, como para a legislação ordinária. É a "vacatio legis" das normas constitucionais. Tal disposição não é de comum encontro no constitucionalismo universal, porém, foi utilizada em nossa Constituição de 1967. A regra, é a de que - pretendendo o constituinte criar "vacatio constituicionis" - o fará expressamente e, se não o fez, a vigência iniciou-se no momento da publicação, qual seja, 05 de outubro de 1988. Na mesma toada, de forma expressa, excepcionou da regra geral, a omissão: o Capítulo atinente ao Sistema Tributário Nacional, definindo o termo "a quo" da vigência para o 1º dia do 5º mês após a promulgação, isto é, 1º de março de 1989. A razão é muito simples: o Capítulo extinguiu alguns tributos e permitiu a criação de outros, que dependiam de lei para a instituição. Daí o prazo estabelecido. Concluindo, quase toda a Carta tornou-se aplicável na data da sua publicação, exceção apenas ao Capítulo I, do Título VI, por força do artigo 34, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Da eficácia das normas constitucionais É necessário lembrar que trataremos da eficácia jurídica, não da social, também chamada de efetividade, e que consiste na concreta observância da norma no meio social que pretende regular (as normas que "pegam" e as que "não pegam"). Essa (a eficácia social) não interessa neste momento. Seguindo, as normas constitucionais sempre são dotadas de eficácia (jurídica), algumas de eficácia plena, outras de eficácia relativa, dependendo da legislação complementar que as integre. E tal eficácia - sempre existente - garante às normas constitucionais a natureza jurídica, eis que se taxarmos um dispositivo de ineficaz estaremos afirmando a sua não obrigatoriedade, ou melhor, trata-se de orientação sem sanção estatal, quando muito de uma regra moral, o que é inadmissível. Portanto, esqueçam qualquer classificação das normas constitucionais que declare a existência de proposições dependentes de normas infraconstitucionais. José Afonso da Silva parte de uma premissa muito importante, qual seja, de inexistência de normas constitucionais sem o mínimo de eficácia jurídica, por menor que seja ela, propondo classificação tripartite (em três), para identificar as normas constitucionais de eficácia plena, as de eficácia limitada e as de eficácia contida. Normas constitucionais de eficácia plena As disposições que parecem descritivas, como a de que o “Brasil é uma República” e que a forma de estado é a federativa, além de reconhecerem as formas de governo e de estado, exigem uma série de atividades, como a competência de organização dos estados federados e a proibição da monarquia. 04 E não apenas essas, mas todas "aquelas normas fundamentais, verdadeiras decisões políticas concretas que denunciam a forma política de ser do povo brasileiro e formam o pressuposto básico para todas as normatizações ulteriores, inclusive para as leis constitucionais (mediante reforma), conforme o pensamento de Schimitt, demonstram tratar-se de normas de eficácia plena.” Apesar da dificuldade na fixação de critério único para a identificação das normas de eficácia plena, é possível determinar alguns parâmetros (tomando como base a doutrina norte-americana) e se chegar à conclusão de que têm comando certo e definido, incrustando-se, predominantemente, entre as regras organizativas e limitativas dos poderes estatais, e podem conceituar-se como sendo aquelas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem, ou têm possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular. Devemos ressaltar o fato de que as normas de eficácia plena nem sempre produzem todos os efeitos previstos pelo Constituinte, porém, para que assim possam ser classificadas - devem ter a capacidade à produção. Como exemplo, pensemos no artigo 156, I, que defere competência aos municípios para que instituam o IPTU. Em suma, são de eficácia plena as normas constitucionais que: a) contenham vedações ou proibições; b) confiram isenções, imunidades e prerrogativas; c) declarem direitos fundamentais ou garantias constitucionais e democráticas; d) não designem órgãos ou autoridades especiais, a que incumbam especificamente sua execução; e) não indiquem processos especiais de sua execução; f) não exijam a elaboração de novas normas legislativas que lhes completem o alcance e o sentido, ou lhes fixem o conteúdo, porque já se apresentem suficientemente explícitas na definição dos interesses nelas regulados. Por último, quanto às normas definidoras de direitos e garantias fundamentais, devemos atentar para o disposto no parágrafo 1º, do artigo 5º: § 1º. As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. Das Normas constitucionais de eficácia contida José Afonso da Silva diz que alguns autores ou não utilizam esta classificação, realizando a divisão bipartite, ou classificam as normas de eficácia contida como de legislação, o que demonstra grande equívoco, eis que não dependem de atividade infraconstitucional para a eficácia, mas sim a permite com intuito restritivo e, na sua inexistência, a norma terá eficácia plena. 05 Ainda, diz que algumas "normas desse tipo indicam elementos de sua restrição, que não a lei, mas certos conceitos de larga difusão no direito público, tais como ordem pública, segurança nacional ou pública, integridade nacional, bons costumes, necessidade ou utilidade pública, perigo público iminente, etc." São normas muito parecidas com as de eficácia plena, visto não precisarem de legislação inferior, podendo ser restringidas ou pela atividade legislativa, ou pela ocorrência das circunstâncias previstas. Não há dúvida ter o dispositivo aptidão à produçãoimediata de todos os efeitos pretendidos pelo Constituinte, porém, a última parte do preceito permite a limitação, por lei, de sua eficácia, demonstrando tratar-se de uma norma de eficácia contida, ou, mais corretamente, contível. Das normas de eficácia limitada José Afonso da Silva, por questão terminológica, prefere dizer que são "normas constitucionais de princípio aquelas que dependem de outras providências normativas para que possam surtir os efeitos essenciais, colimados pelo legislador constituinte". Tais normas podem ser divididas em dois grupos: 1) as normas definidoras de princípio institutivo ou organizativo; e 2) as definidoras de princípio programático. As normas de princípio institutivo O termo “normas constitucionais de princípio institutivo” é utilizado para definir aquelas que contêm o início ou esquema de determinado órgão, entidade ou instituição, deixando a efetiva criação, estruturação ou formação, para a lei complementar ou ordinária, como dá exemplo o art. 224, que determinou ao Congresso a instituição do Conselho de Comunicação. Analisemos a referida proposição: Art. 224: Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Congresso Nacional instituirá, como órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei. A primeira questão a ser colocada é: o constituinte instituiu o Conselho de Comunicação Social? A resposta é negativa, visto ter incumbido o Congresso Nacional de fazê-lo, na forma da lei. Se tivesse instituído, a norma seria de eficácia plena, como não o fez, porém principiou a criação, sem completá-la devemos classificá-la como de eficácia limitada de princípio institutivo. Ao contrário, analisemos o artigo 44: Art. 44: O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados e do Senado. Tal regra efetivamente criou o Congresso Nacional, não encomendou a instituição a outros órgãos constituídos, portanto, é de eficácia plena, não limitada de princípio institutivo. 06 São, pois, "normas constitucionais de princípio institutivo aquelas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei". José Afonso da Silva acredita que a eficácia de tais normas constitucionais depende de serem impositivas, "que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação integrativa" ou facultativas, que "limitam-se a dar ao legislador ordinário a possibilidade de instituir a situação nelas delineadas". Assim, podemos dizer que as normas: a)"se são confirmativas de situação jurídica preexistente, esta permanece reconhecida, como era; b) se traçam esquemas novos, revogam normas jurídicas preexistentes, instituidoras de situações contrárias ao princípio nelas consubstanciado, e a situação nova só será validamente configurada com a promulgação de lei integrativa". Por outro lado, as normas "que facultam ao legislador regular determinado assunto, mediante lei ...são permissivas, mas não destituídas de eficácia, pois limitam a ação do titular da permissão, o que prova que são dotadas de imperatividade, porquanto, dadas as circunstâncias de sua incidência, obrigam determinado comportamento". Assim, as normas constitucionais de princípio institutivo são aplicáveis independentemente da lei complementar, no que possam sê-lo. Normas de princípio programático Segundo José Afonso da Silva, "podemos conceber, como programáticas, aquelas normas constitucionais, através das quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou- se a traçar-lhes os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos... visando a realização dos fins sociais do Estado". Entende que a norma programática é fruto do embate entre o intervencionismo e o liberalismo e pode ser dividida em: a) as que mencionam norma futura para atuação positiva; b) as que nada indicam. As primeiras vinculam apenas o legislador e as demais todos os órgãos públicos ou toda a sociedade, como se percebe no capítulo da Ordem Econômica e Social. As normas programáticas, como normas jurídicas, devem ser sempre observadas - nos limites de sua eficácia. Interpretação das normas constitucionais Não há dúvida utilizarmos na interpretação das normas constitucionais os métodos hermenêuticos tradicionais, o histórico, o científico, o literal, o sistemático e o teleológico. 07 Aliás, o método sistemático é de fundamental emprego, proibindo a análise isolada de dispositivos que compõem o mesmo sistema, o das normas contidas na Carta Magna. Sua importância é de tal magnitude que a doutrina acabou por nomeá-lo de forma diferenciada, quando aqui utilizado. Fala-se em unidade da Constituição. Interpretar a Constituição de acordo com a sua unidade é levar em conta todo o Texto, sem nada desprezar, e é conduta obrigatória, sob pena de chegarmos a conclusões absurdas e em descompasso com o pretendido pelo Constituinte. A nossa Constituição é analítica, diríamos até prolixa, visto que abundam normas de conteúdos diversos e, às vezes, aparentemente contraditórias. Esta é a razão para a interpretação, segundo a sua unidade. Da interpretação conforme a Constituição Se da interpretação da Constituição já tratamos, devemos nos ater a interpretação do constante em normas infraconstitucionais, normas menores que, até pela supremacia da Constituição, devem sempre com ela estar em consonância. Algumas vezes a legislação vigente mostra-se inconstitucional, quando deverá ser retirada do Ordenamento Jurídico, a fim de manter a já citada supremacia da Constituição. Em outros casos, haverá necessidade da interpretação conforme a Constituição para retirar do mesmo expressões que o nulifiquem, como a constante do art. 7º, par. 2º, do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/94), concedendo à imunidade material dos advogados uma interpretação de acordo com o art. 133. Naquela regra constava a imunidade penal no exercício da profissão, inclusive pela não ocorrência do crime de desacato, tendo o Supremo Tribunal Federal suprimido tal expressão, mantendo o restante lá escrito. É a interpretação conforme a Constituição com redução de texto. Ainda, em outros, a incompatibilidade não é da Constituição com texto de lei, mas sim com possível interpretação ou interpretações do mesmo. Expliquemos melhor: imaginemos que o artigo 3º de certa medida provisória possa suscitar três interpretações, uma de acordo com a ordem máxima e as outras em franca contraposição. Deverá o STF julgar declarando a inconstitucionalidade parcial sem redução do texto, fixando como válida a interpretação não destoante. DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 2 Aula 1 DIREITOS FUNDAMENTAIS 01 Direitos Fundamentais Direitos fundamentais são situações privilegiadas às pessoas, que objetivam o trinômio liberdade, igualdade e fraternidade, enquanto garantias fundamentais são instrumentos para assegurar tais condições favoráveis, artigo 5º., LIV, "in verbis": LIV- ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. A referida proposição nos traz, ao mesmo tempo, direito e garantia, quais sejam, a liberdade e o devido processo legal. O devido processo legal assegurando a liberdade em relação à prisão arbitrária, mas não é o seu único instrumento. Vejamos o exposto no Iinciso LXVIII: LXVIII - conceder-se-á hábeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. A ação de hábeas corpus tem algum fim em si mesmo. Não, presta-se exclusivamente a proteger a liberdade de ir e vir, aliberdade ambulatorial e, se esta não foi lesada ou está na iminência de o ser, o seu uso é absolutamente descabido, portanto, lhe é uma garantia. Os direitos e garantias fundamentais na Carta brasileira A nossa Constituição, contém título denominado de Direitos e Garantias Fundamentais. É o Título II, iniciado no artigo 5º, que aglutina os seguintes capítulos: 1- Dos Direitos e deveres individuais e coletivos; 2- dos Direitos Sociais; 3- Da nacionalidade; 4- Dos Direitos Políticos; 5- dos partidos políticos. No Título II, todos os dispositivos contêm ou direitos ou garantias fundamentais, porém existem outros, espalhados pelo texto constitucional. E o que me autoriza a tal afirmação? O parágrafo 2º., do artigo 5º. É bom lê-lo: § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Há duas regras neste sentido, a que garante o serviço público e universal de saúde (art. 196) e o meio ambiente saudável (art. 225). O art. 60, par. 4., IV, diz serem os direitos e garantias individuais cláusulas pétreas, portanto, integrantes do pequeno rol das normas constitucionais que não podem ser objeto de emenda constitucional, seja para suprimir, ou até mesmo reduzi-lo. Neste ponto, é imprescindível mencionarmos o artigo 150, III, "b", que dispõe: Aula 1 02 Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. O Supremo Tribunal Federal já declarou, ser este artigo direito fundamental, portanto, cláusula pétrea. Cabe especial cuidado com o artigo 5º, parágrafo 3º, acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, portanto, inexistente na redação original da Constituição. É interessante lê-lo: § 3º: Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. Este dispositivo cria a possibilidade da existência de direitos e garantias fundamentais fora da Carta. Hoje o Brasil firmar tratado internacional proibindo a prisão do depositário infiel (como fez anteriormente com o Pacto de San Jose da Costa Rica) e a convenção for aprovada por três quintos das duas casas, em dois turnos, tal garantia será acrescida ao rol do artigo 5º., sem que nele conste expressamente. Vale dizer, abriu- se a possibilidade de termos direitos e garantias fundamentais até mesmo fora do Texto Constitucional, porém com a mesma força dos lá expressamente inseridos. Os destinatários Analisemos o "caput" do art. 5º.: "Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:" Os titulares dos direitos e garantias fundamentais em um primeiro momento, decorrente de interpretação literal, diríamos serem os brasileiros e os estrangeiros aqui residentes. A interpretação literal da Constituição não é a mais adequada. Dessa forma, o dispositivo citado deve ser interpretado no sentido de que os direitos e garantias fundamentais protegem todos que alcançáveis pela jurisdição brasileira, sejam brasileiros ou estrangeiros, regularizados ou não. 03 A eficácia jurídica A aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais e a teoria de José Afonso da Silva aplicável é a norma vigente, enquanto a eficácia jurídica, sempre existente, é dividida em graus, de modo que podemos classificá-las em normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada. Estudemos o parágrafo 1º, do artigo 5º, "in verbis": "§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.” Não declara terem as normas constitucionais aí classificáveis necessariamente - eficácia plena, mas sim terem entrado em vigor na data da publicação da Constituição, em 05 de outubro de 1888. De outro modo, existem dispositivos, unicamente enquadráveis como direitos e garantias fundamentais, que são de eficácia limitada, como é o Inciso XXXII, do art. 5º, vejamos: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Depende de lei para que possa surtir todos os efeitos pretendidos, haja vista a existência do Código de Defesa do Consumidor, portanto, é norma constitucional de eficácia limitada. Relatividade dos Direitos Fundamentais Não existe direito fundamental absoluto. Nem a vida o é. Imaginemos a seguinte situação: sou surpreendido, em casa, por assaltantes, enquanto dormia, porém consigo alcançar uma faca na cozinha e desfiro golpes no intruso, causando-lhe a morte. O fato é típico, porém não antijurídico, razão pela qual não há condenação. Ocorre a legítima defesa. No caso, dois eram os bens jurídicamente protegidos: 1) a vida; 2) o patrimônio. Qual é o mais importante? Se demonstra, nesse exemplo, a possibilidade de relativização dos direitos fundamentais. Deve-se analisar o caso concreto, em que devemos verificar, em que medida cada um dos direitos deve incidir, procurando evitar que um o outro suprima. É o que se chama de princípio da concordância prática. Os direitos fundamentais não podem ser utilizados "como escudo para a prática de crimes", tese que repugna o seu caráter absoluto. Verifica-se o inciso XII, do art. 5º.: XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; Se o sigilo de comunicações e dados podem ser quebrados por ordem judicial e para fins de investigação ou processo penal, o de correspondência não possui esta permissão, permitindo-se a restrição apenas no caso de estado de defesa ou de sítio (vide os artigos 136 e 137). 04 Quanto as provas ilícita, de uso vedado pelo inciso LVI, vislumbremos duas situações distintas: 1) O Ministério Público, sem autorização judicial, intercepta gravação telefônica e pretende utilizá-la para efeito de fundamentar denúncia criminal. Não poderá, pois o dever de punir do Estado não é direito fundamental e a prova é ilícita; 2) O sujeito está sendo acusado de crime de homicídio, sem que o tenha cometido. Existem indícios contra ele, que não possui nenhum álibi. Então resolve contratar um detetive particular, que entra em domicílio não autorizado e apropria-se de documento alheio, comprobatório de não ter o cliente cometido o crime. O Judiciário não irá condenar o réu, mesmo que a prova tenha sido constituída de forma ilícita, haja vista no caso concreto a inocência do acusado devendo prevalecer o devido processo legal (inciso LIV), que exige processo justo, à proibição do uso de prova ilícita. E as provas ilícitas, de uso vedado pelo Inciso LVI? Quais os limites de tal proibição? Os demais direitos e garantias fundamentais. Vislumbremos duas situações distintas: 1) O Ministério Público, sem autorização judicial, intercepta gravação telefônica e pretende utilizá-la para efeito de fundamentar denúncia criminal. Pode? De jeito nenhum, pois o dever de punir do Estado não é direito fundamental e a prova é ilícita; 2) o sujeito está sendo acusado de crime de homicídio, sem que o tenha cometido. Existem indícios contra ele, que não possui nenhum álibi. Então resolve contratar um detetive particular,que entra em domicílio não autorizado e apropria-se de documento alheio, comprobatório de não ter o cliente cometido o crime. Como fazer? O Judiciário irá condenar o réu, visto ser a prova ilícita, mesmo demonstrando a sua inocência? É lógico que não, devendo no caso concreto prevalecer o devido processo legal (Inciso LIV), que exige processo justo, à proibição do uso de prova ilícita. Não há dúvida ser o livre exercício de cultos religiosos, prevista no Inciso VI, absolutamente essencial ao regime democrático. Imaginemos a seguinte situação: igreja muda-se para bem ao lado de sua casa, estabelecida em zona estritamente residencial (e isto independe do credo, que pode ser o meu, o seu ou de qualquer um de vocês). Você tinha uma vida tranqüila, pois resolvem realizar cultos vinte e quatro horas por dia. Ao contrário do esperado, passa a viver no verdadeiro inferno, pois não mais consegue dormir, estudar, assistir televisão ou conversar com os familiares. Em virtude das reclamações, a igreja recebe ordem municipal para fechamento, porém alega a liberdade de culto? Tem razão? Lógico que não, por não ser direito absoluto, devendo ser objeto de concordância prática, no caso, como o Inciso X, assecuratório da vida privada, findada para o coitado morador. DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 2 Aula 2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 01 Temas: Direitos sociais, Nacionalidade, Direitos Políticos e Partidos Políticos Dos Direitos Sociais As normas que integram o capítulo II, do Título II, da Constituição Federal, denominado "Dos Direitos Sociais", podem ser classificadas em três grupos: 1) da síntese dos mesmos, ; 2) dos direitos individuais dos trabalhadores urbanos, rurais e domésticos; e 3) dos direitos coletivos dos mesmos indicados. Quanto ao primeiro grupo, inclui apenas um dispositivo, o artigo 6º, assim disposto: Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Devo ressaltar ser o dispositivo meramente programático, bem como ter sido o direito à moradia incluído pela Emenda Constitucional 26, de 2000. Dos Direitos Sociais Individuais Os Direitos Sociais individuais sobejam no texto do artigo 7º, este também é um rol emplificativo, não taxativo. Vejamos: Art. 7º: São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: Se observa a igualdade de tratamento entre os trabalhadores urbanos e os rurais, visto que a única diferença constitucional foi retirada pela Emenda 28, alterando regra sobre a prescrição das ações trabalhistas e uniformizando-a para todos os trabalhadores: cinco anos, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho. E o trabalhador urbano, sempre trabalha na cidade? Não necessariamente, visto a possibilidade de trabalhador urbano prestar serviço na zona rural, por exemplo, em um frigorífico, enquanto rurícola cultivar na cidade. A importância da identificação? Existem regras próprias, no tocante à Previdência Social, portanto, fora do capítulo. É cabível a leitura do Inciso II, do parágrafo 7º., do artigo 201, cuidando da aposentadoria por idade: II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal. Aula 2 02 Em momento derradeiro, criou-se categoria diferenciada de trabalhadores, dos domésticos, os quais não são assegurados alguns direitos, entre eles o seguro-desemprego e o fundo de garantia por tempo de serviço, previstos nos incisos II e III. Dos Direitos Sociais Coletivos Já os direitos sociais coletivos estão expostos a partir do artigo 8º, embora alguns incisos do artigo 7º assim também possam ser considerados, como o XXVII, determinando a "proteção em face da automação, na forma da lei". Dessa forma, dizem respeito, prioritariamente, a associação profissional ou sindical, se de um lado repetem a liberdade de associação e de participação ou não das pessoas, expressa no artigo 5º, incisos XVIII, XIX, XX e XXI, de outro proíbe a instalação de sindicato na mesma base territorial de um já existente. Art. 8º: III - Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Do Direito de greve Inserto nos direitos sociais coletivos, encontra-se o direito de greve, exposto no artigo 9º: Art. 9º - É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. § 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. § 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei. No parágrafo 2º, se objetivasse restringir somente o anterior, deveria ter constado do próprio texto deste, ou de Inciso, não de dispositivo com a mesma generalidade. Se assim ocorreu, refere-se ao "caput". Melhor explicando, a lei deve referir-se aos abusos, punindo-os, seja os decorrentes de serviço essencial integralmente interrompido, seja em razão do fundamento ou da oportunidade da greve. Tal entendimento, diga-se de passagem, não destoa do que vem expressando o Tribunal Superior do Trabalho. Da nacionalidade Nacionalidade é o vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo e um Estado, pelo qual este garante ao indivíduo certos direitos e deveres oriundos de sua soberania. Mas o conjunto dos nacionais forma o povo brasileiro? Não propriamente, visto que o Povo decorre da soma desses e dos estrangeiros aqui residentes, formando a comunidade nacional. Pode ser dividida em primária ou secundária, aquela adquirida pelo nascimento e esta por opção individual e aceitação do Estado, formalizando a naturalização. 03 Da aquisição primária É a originária e decorre de dois critérios, o "jus soli" e o "jus sanguinis". O "jus soli" diz serem nacionais os nascidos em território do Estado, independentemente de os pais serem ou não de lá oriundos, enquanto o "jus sanguinis" vincula a nacionalidade à ascendência, independentemente do local de nascimento. E o Brasil, qual critério adota? Primeiramente, devemos ler o contido no artigo 20, da Convenção Americana de Direitos Humanos: Art. 20. Direito à nacionalidade. 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Toda pessoa tem direito a nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito à outra. Vislumbrando-o, percebemos que a aquisição originária da nacionalidade brasileira, da qual decorrem os brasileiros natos, é atributo dos que aqui nasceram, desde que os pais não estejam a serviço de seu país. Isto é, se o embaixador da Nigéria aqui tiver um filho, com a embaixatriz, embora nascido no nosso território, não caberá na regra. E se o filho do embaixador tiver como mãe uma brasileira? Neste caso, se aqui nascido, embora as condições do pai, será brasileiro nato. De outro lado, outra exceção à regra do "jus soli", demonstrando termos adotado a teoria, porém, com temperamentos, está contida na alínea "b", do Inciso I, do artigo 12, para o qual será brasileiro o nascido no exterior, "de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil. Vale explicar: não apenas os diplomatas estão, no exterior, a serviço do Estado brasileiro, os militares a serviçodo Brasil também são. Por último, será considerado brasileiro nato o nascido no exterior, de pai ou mãe brasileiro, desde que venha aqui residir e opte, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. Da aquisição secundária A esta se denomina naturalização e os requisitos estão expostos em lei, a de n. 6.815/80, visto ser a alínea "a", do Inciso II, do artigo 12, na primeira parte, norma de eficácia limitada. Não obstante isto, o referido dispositivo e a alínea "b" acabaram por estabelecer duas formas extraordinárias de aquisição de nacionalidade, com requisitos bem menos extensos do que os previstos em lei. Vejamos: II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. 04 Em primeiro lugar, visou o Constituinte prestigiar os oriundos de países que falam a língua portuguesa. Ainda, mesmo com prazo maior, permite aos estrangeiros que não comprovarem todos os requisitos previstos em lei, a naturalização, bastando a inexistência de condenação penal e o requerimento. E os brasileiros naturalizados têm tratamento diferenciado em relação aos natos? Está exposta no parágrafo 3º, do dispositivo em comento. Certos cargos não poderão ser ocupados por naturalizados. É fácil deduzi- los, a regra é a seguinte: nem o Presidente nem qualquer dos seus sucessores podem ser naturalizados, portanto, o Vice-Presidente, o Presidente da Câmara e do Senado e os ministros do STF não podem ter nacionalidade adquirida. Além disso, também são cargos exclusivos de brasileiros natos os dos membros da carreira diplomática, os oficiais das Forças Armadas e o Ministro da Defesa. Da perda da nacionalidade brasileira O brasileiro, quer nato ou naturalizado, pode perder a nacionalidade? Sim, desde que 1) haja cancelamento de sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; 2) optar por outra nacionalidade, salvo se o outro Estado a exigir "como condição de permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis". O brasileiro, naturalizando-se, não perderá a nacionalidade brasileira. Os portugueses aqui residentes Aos portugueses, e isso é resultante dos laços fraternos que nos une, a Constituição defere tratamento absolutamente privilegiado, visto que a eles se assegura reciprocidade. Dos Direitos Políticos Com relação aos Direitos Políticos, devo asseverar serem oriundos da cidadania, de 1ª Geração, visto que positivados já na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, proporcionando a participação do cidadão na vida pública do País. Divide-se em sufrágio, aos casos de inelegibilidade e de perda e suspensão de direitos políticos. Direito de Sufrágio O Sufrágio, direito de voto é, ao mesmo tempo, um dever, na medida em que é obrigatório a quase todos, com exceção dos analfabetos, dos menores de 16 e maiores de 18 anos e dos maiores de 70 anos. E não existe apenas nas eleições para os legislativos e à chefia dos Executivos, visto prever a nossa democracia, embora representativa, alguns mecanismos típicos da direta, quais sejam: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. O que os diferencia? Os dois primeiros podem ser convocados pelo Congresso Nacional e são modos de consulta popular, aquele antes de iniciado o processo legislativo e o referendo após, dele dependendo a vigência da norma. 05 É um ato legislativo dependente da aprovação de plebiscito entre a população diretamente interessada, isto é, do Estado a ser desmembrado e do que se pretende. Se o plebiscito não for favorável, o Congresso Nacional não poderá editar a lei complementar. Para outras matérias, e para saber a posição da população acerca de um tema qualquer, como o da limitação de porte de arma, poderá o Congresso convocar plebiscito ou, se já aprovou o projeto de lei, sujeitá-lo a referendo popular, mediante a edição de Decreto Legislativo. Das inelegibilidades Inelegibilidades, na linguagem da Constituição, são impedimentos à candidatura, ocorrendo aos inalistáveis e aos analfabetos. O conceito de inalistável deve ser preenchido pela lei. Quanto aos analfabetos, importante é a lembrança: podem votar, não são obrigados, porém não se permite a candidatura de um deles, seja qual for o cargo eletivo. Estas são inelegibilidades absolutas. De outro lado, quanto às inelegibilidades relativas, são as que vedam reeleições e as de parentesco, além de outras decorrentes da lei, como se percebe do parágrafo 9º, do artigo 14: § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Em relação às reeleições, a elas não há nenhum impedimento para os cargos do Parlamento, isto é, nada impede que deputado se candidate, quantas vezes quiser, ao mesmo cargo, ocorrendo restrições apenas aos de Chefia do Executivo, federal, estadual e municipal. Assim, Presidente da República pode pleitear a reeleição, porém por uma única vez, o mesmo ocorrendo em relação aos demais citados. Já em decorrência do parentesco, seja consangüíneo ou por afinidade, o parágrafo 7º, do mesmo artigo 14, também prevê limitações aplicáveis aos ligados às Chefias do Poder Executivo ou a quem ocupou o cargo nos últimos seis meses de mandato, visando preservar a lisura da eleição, para que a máquina não seja utilizada em favor do próximo ao Poder. Neste sentido, diz serem inelegíveis, no território do titular, o cônjuge e os parentes, consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção. Não obstante, há uma exceção, se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição: o caso da mulher que deputada estadual e vê o seu marido eleito ao cargo de governador. Para ela não haverá impedimento a novos pleitos, visto concorrer à reeleição. A perda e a suspensão de direitos políticos As hipóteses previstas no artigo 15 diferenciam-se e devem ser classificadas de acordo com a transitoriedade. Desse modo, são de perda o cancelamento de naturalização por sentença transitada em julgado e a recusa de cumprimento de obrigação a todos imposta. 06 O cancelamento de naturalização gera a perda dos direitos políticos por via reflexa, pois a nacionalidade brasileira é requisito ao exercício destes. Com o cancelamento, se finda a cidadania, retornando a pessoa à condição de estrangeira, motivo pelo qual também se esvai a razão de exercer o direito de votar e ser votado. Quanto aos casos de suspensão, decorrem de incapacidade civil absoluta, condenação criminal transitada em julgado, e de condenação por improbidade administrativa. São casos de suspensão, visto que superada a primeira, ou findados os efeitos dos dois últimos casos, deixará de existir. É importante observar que a condenação criminal transitada em julgado, mesmo que o réu se livro solto, ou que lhe seja deferida a "sursi" ou a liberdade condicional, será causa de suspensão de direitos políticos. Dos Partidos Políticos É livre a criação dos partidos políticos, o modo pelo qual os cidadãos acessam a cidadania passiva, isto é, de representação popular. São constituídos como se fossem associações civis, proibindo-se a intervenção estatal e garantido-se o pluripartidarismo,ou seja, a inexistência de obstáculo à criação de nenhuma agremiação, desde que tenham caráter nacional e não recebam dinheiro do estrangeiro. Além disso, devem ser resguardados a soberania nacional, o regime democrático e os direitos da pessoa humana. De outro lado, embora entidades civis, devem prestar contas à Justiça Eleitoral, visto receberem dinheiro público e para evitar o abuso econômico nas campanhas eleitorais. Por último, o parágrafo 3º, do artigo17, é expresso em lhes garantir, na forma da lei o acesso gratuito ao rádio e a televisão, o que nos permite, de quando em quando, momentos agradabilíssimos de propaganda nesses meios de comunicação. DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 2 Aula 3 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 01 Tela 1 - "Writs" Constitucionais e a Ação Popular O "hábeas corpus", o mandado de segurança, o mandado de injunção e o "hábeas data", todos inseridos no artigo 5º, a partir do Inciso LXVIII. O Hábeas Corpus O "hábeas corpus" é sempre ação constitucional penal, muito embora não raras vezes seja impetrado contra ato de autoridade civil. Vejamos a própria Carta, tratando da competência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça: Art. 102: Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: d) o "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; Art. 105: Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: c) os “habeas corpus”, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea "a", ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; Autoridades civis também podem coagir a liberdade de ir e vir das pessoas. Pensemos em suposto pai que é condenado, provisoriamente, ao pagamento de pensão alimentícia e recebe citação para contestar, porém também para cumprir com a obrigação em 48 horas, sob pena de prisão. Esta foi determinada no processo civil. No entanto, caberá "habeas corpus", que continuará a ser uma ação constitucional penal, regida pelos dispositivos do Código de Processo Penal. As Espécies O "habeas corpus", da mesma forma, pode ser impetrado com o fito de obstar a coação decorrente de ilegalidade ou abuso de poder ou de fazer cessá-la, se já ocorrida. É de se supor velho hábito do interior, em que o delegado, atendendo o clamor popular e até mesmo do cônjuge, enclausura bêbado por uma noite. Cabe o "writ" constitucional? Logicamente que sim. Em qual modalidade? Repressiva, pois a coação já ocorreu. Em outra ponta, o caso de prostitutas ameaçadas por estarem exercendo o seu mister na rua do comandante da PM. Podem ingressar em juízo? Claro que sim, impetrando "habeas corpus" preventivo, por estarem na iminência de sofrer prisão ilegal, embora isto ainda não tenha ocorrido. Buscariam um salvo conduto, impedindo a ação da autoridade. Aula 3 02 Do Procedimento Quando se fala de procedimento, lembra-se dos ritos previstos nos Códigos de Processo Penal e Civil, extremamente formais. Sob esse prisma, o "habeas corpus" seguirá um rito especial, porém, extremamente informal, pela importância do direito que pretende defender. Dessa forma, em primeiro lugar, pode ser impetrado por aquele que sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal. Em exemplo citado, nada impede às prostitutas ameaçadas de prisão que proponham a ação. No entanto, sejamos realistas, o desnecessariamente alocado em hospital psiquiátrico e o preso ilegalmente muitas vezes nem terão condições de fazê-lo, a razão de se garantir a legitimidade geral. Neste sentido, nada impede que alguém vá a juízo, em nome próprio, defender direito alheio, isto é, para garantir direito de ir e vir já tolhido ou ameaçado por ilegalidade ou abuso de poder. Embora não haja previsão ao deferimento de liminar, por analogia ao mandado de segurança, deve o juiz (sendo o caso) deferi-la, determinando a soltura imediata e provisória e, em outros casos, o salvo conduto de início, até mesmo "inaudita altera pars". E quando pode fazê-lo? Na hipótese em que se perceber a existência de "fumus boni iuris" e "periculum in mora". Aquele a fumaça, a aparência de razão ao impetrante e o "periculum in mora", o perigo na demora do provimento final, sempre existente no caso de já ter sido tolhida a liberdade de paciente ou de ser iminente o ato. Com a inicial, deferida a liminar ou não, será a autoridade coatora notificada para apresentar informações, seguida (se necessário for) de oitiva do paciente e sentença, na qual se concederá, ou se negará, a ordem pleiteada. Neste sentido, se deferida a liminar anteriormente e a ordem for concessiva, tornar-se-á definitiva, se denegatória, estará imediatamente revogada. Por último, é importante frisar a informalidade procedimental, não se exigindo do impetrante capacidade postulatória e nem mesmo para ser parte, bem como permitir-se a sua apresentação por telegrama, telex ou "fac-simile" ou, até mesmo em papel de pão, visto a importância do direito protegido. Do Mandado de Segurança Outro "writ" constitucional de importância tamanha é o mandado de segurança, previsto nos incisos LXIX e LXX, do artigo 5º, da Constituição Federal. O primeiro trata da espécie individual e o segundo do mandado de segurança coletivo. Deixemos este para momento posterior. Analisemos o Inciso LXIX, prestando atenção ao fato de se tratar de ação residual: LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; Em primeiro lugar, ao contrário do "habeas corpus", é ação constitucional cível, para a proteção de direitos líquidos e certos contra ato de autoridade ou de quem exerça funções públicas, isto é, não se admite a ação em face de particular em atividade própria. 03 Das Espécies Pode, também, ser preventivo ou repressivo. Este visa restabelecer a legalidade, enquanto o preventivo tem por finalidade evitar a violação a direito individual das pessoas. Do Cabimento Quanto ao cabimento, devemos analisar o que se denomina de direito líquido e certo, legitimidade e o prazo para a impetração. O direito líquido e certo é citado expressamente como pressuposto para a impetração e, em grande parte da doutrina, é conceituado como aquele que "determinado na sua existência e limitado na sua extensão". Para entendê-lo, devemos pensar no Código de Processo Civil que estabelece, no artigo 332, o objetivo da prova. Vejamos: Art. 332: Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa. Daí se percebe serem fatos que devem ser provados, não o direito, excepcionando-se apenas a hipótese do artigo 337, isto é, de se tratar de direito alienígena: lei de outro município ou estado, ou do estrangeiro, quando, aí sim, o direito deverá ser provado. Acrescente-se o artigo 5º, XXXV, da Constituição, que assim prega: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Dessa forma, se por regra o direito não precisa ser provado e jádizia o provérbio romano "jura novit cúria", o juiz conhece o direito, o que deve ter liquidez e certeza são os fatos, não o direito. Vale dizer, quando se fala em direito líquido e certo estamos tratando de fatos comprovados, isto é, prova pré-constituída. Da Legitimidade Falar de legitimidade é estudar quem pode propor a ação e quem deve figurar no pólo passivo. Neste caminho, o mandado de segurança, ao contrário do "habeas corpus" deverá ser impetrado em nome próprio para tratar de direito próprio, isto é, é incabível impetrá-lo visando tutelar direito alheio. E quem o impetra, não propõe; deve possuir capacidade para ser parte e estar em juizo, além da necessidade de assinatura por advogado, portanto, com capacidade postulatória. No que tange a legitimidade passiva, deve figurar como impetrado, ou autoridade coatora, nunca ré, aquele que efetivamente praticou o ato, não a autoridade inferior ou a superior. A Lei 1.533/51, que regula o procedimento do mandado de segurança, impede seja impetrado após 120 dias do ato coator. 04 Do Procedimento Impetrado o mandado de segurança, cuja petição precisa seguir os parâmetros do Código de Processo Civil e demonstrar direito líquido e certo, ou melhor, a certeza dos fatos alegados, o juiz despachará a inicial determinando a notificação da autoridade impetrada para prestar informações em dez dias. Após, serão os autos remetidos ao Ministério Público, para parecer, e enviados à conclusão, para sentença. Desde que presentes os pressupostos: "periculum in mora" e "fumus boni iuris", caberá liminar. Existirá este se o juiz em análise objetiva verificar serem críveis os argumentos do impetrante, enquanto o "periculum in mora" estará presente no risco do impetrante aguardar o provimento final. E, encontrados tais requisitos, o deferimento é dever do juiz. E quais os efeitos? Como já visto, os "writs" constitucionais são ações mandamentais, não necessitando o impetrante de execução para obter o determinado em sentença. As decisões neles proferidas são ordens, devendo ser cumpridas mediante simples oficio à autoridade impetrada, sob pena de desobediência. Já os recursos, os mesmos previstos para o procedimento ordinário, inclusive o agravo de instrumento (segundo o STJ), são dotados apenas de efeito devolutivo, portanto, não impedem o cumprimento da decisão recorrida. Mandado de Segurança Coletivo Visto já termos tratado do mandado de segurança individual, resta-nos o coletivo, previsto no Iinciso LXX, do artigo 5º. LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; Analisando-o, verifica-se que a ele aplica-se também o disposto no inciso anterior, já estudado na época em que tratamos do mandado de segurança individual, o que resta é dizer que os legitimados para impetrar este "writ" o fazem em nome próprio, porém, com o objetivo de defender direito de terceiros, os beneficiários. Não poderá, por exemplo, partido político impetrar mandado de segurança coletivo com o objetivo de livrar os seus filiados ou toda a população do pagamento de certa taxa ambiental, ou associação para a defesa do pantanal, por esta via, pretender a inclusão dos seus associados em programa social de combate à pobreza. Diante do exposto, percebe-se que o instituto foi criado com a finalidade de fortalecer as organizações classistas e permitir a economia estatal, na medida em que uma só ação coletiva poderá evitar milhares de individuais. 05 "Habeas Data" O "habeas data" é um "writ" novo, visto ter ingressado no Ordenamento Jurídico brasileiro apenas nesta Constituição e, como todas os demais, com exceção do "habeas corpus", é uma ação civil, porém, mandamental, in verbis: LXXII - conceder-se-á "habeas-data": a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; É um meio para conhecimento e retificação de dados em arquivos públicos ou de caráter público. Arquivo público é todo aquele mantido pelo Poder Público, seja pela Administração Direta, indireta ou fundacional, seja do Executivo, Legislativo ou Judiciário, digital ou em papel. Já arquivo de caráter público é o mantido por ente privado que, porém, tem uma qualidade: destina-se a fornecer informações a terceiros. Assim, se sou titular de conta-corrente no Banco do Brasil, por determinação legal, a instituição financeira é obrigada a manter, em arquivo, cadastro a meu respeito. É público? Não, cuida-se de empresa que segue regime jurídico de direito privado. É de caráter público? Também não, vez que não se destina a prestação de informações a terceiros. Ao contrário, os arquivos da SERASA e dos SPCs não existem para uso interno, mas para compartilhamento com os associados, portanto, são de caráter público e permitem o "habeas data". Somente será cabível impetrá-lo na hipótese de recusa do acesso às informações contidas em banco de dados públicos ou de caráter público ou na demora, por mais de 10 dias, ou na recusa em retificar informação errada ou na demora por mais de 15 dias e, sem a prova de tais fatos, o processo será extinto sem julgamento do mérito. Deve-se ressaltar ter a Lei 9.507/97 instituído mais uma causa para o emprego da ação, na hipótese de se pretender apor explicação ao registro do banco de dados, negado ou com demora superior a 15 dias. É o caso do devedor que, de fato, não pagou a dívida na data do vencimento, porém não o fez em virtude de não ter também o credor cumprido o contrato e entregue a obra a que se obrigou na data estipulada. Sem dúvida, o consulente do arquivo terá melhores condições para avaliar a situação. Quanto ao procedimento, deve ser impetrado contra o ente público ou de caráter público, seguindo, no mais, o rito do mandado de segurança individual. E as informações que consubstanciam segredo de Estado, poderão ser negadas? Entende o Supremo Tribunal Federal, fundado no artigo XXXIII, do artigo 5º. E de se comentar ser essa posição inconsistente, pois se as informações são sobre o impetrante ou ele já sabe, ou tem o direito de saber. 06 Mandado de Injunção Vejamos o Inciso LXXI, do artigo 5º: LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; Do dito, percebe-se funcionar como meio de combate contra a ineficácia de normas constitucionais. Lembrem-se, para dar maior eficácia às normas constitucionais de eficácia limitada que, portanto, dependem de regulamentação. É importante frisar permitir a forma coletiva, nos mesmos casos em que é admitido o mandado de segurança, porém, sempre para viabilizar o exercício de um direito ou liberdade concretamente considerados, nunca com a finalidade de controle concentrado de constitucionalidade, como previsto para a ADIN por omissão. Quem deve figurar no pólo passivo? O órgão que estiver em mora, normalmente o Congresso Nacional ou o Presidente da República, quando o projeto de lei é de sua iniciativa exclusiva, quando o órgão judiciário competente para julgá-lo será o Supremo Tribunal Federal. Por fim, cabe um alerta: o Supremo Tribunal Federal tem adotado posição não concretista, seguindo o mesmo caminho da ADIN por omissão, entendendo não ter poderes,limitados em razão da separação das funções do Poder (artigo 2º) para fixar prazo ao Legislativo ou ao Presidente da República para edição ou apresentação de projeto de lei, o que tem feito do mandado de injunção uma inutilidade. Da Ação Popular A ação popular não é necessariamente mandamental, porém, também tem assento constitucional, no artigo 5º, LXXIII, in verbis: LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; É um instrumento de participação popular, um resquício da democracia direta da qual nos afastamos, juntamente com o plebiscito e o referendo, estes sempre em caráter excepcional. Permite a propositura de ação, por cidadão, portanto, com a juntada de título de eleitor ou equivalente, visando anular ato lesivo ao patrimônio público ou ilegal, alocando no pólo passivo todos os beneficiados. Deve ser proposta, em regra, em primeira instância, da Justiça Federal se o patrimônio ou a legalidade questionada for dela e, no restante dos casos, na Justiça estadual. DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 3 Aula 1 DA DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS 01 Defesa do Estado e das Instituições Democráticas Da Defesa do Estado e das instituições democráticas Dentro do Título V, a Constituição Federal estabeleceu dois grupos de normas: 1) as que detalham instrumentos para manter ou restabelecer a ordem em momentos de anormalidade institucional, o sistema constitucional de crises, composto pelo estado de defesa e de sítio; 2) as criadoras de instituições com o objetivo de defesa do País e da sociedade como um todo, através das Forças Armadas e da Segurança Pública. Do Estado de Defesa e de Sítio Tanto o estado de defesa quanto o de sítio só podem ser utilizados excepcionalmente, em caso de necessidade facilmente verificável e as medidas devem ser as necessárias para o restabelecimento da normalidade, portanto, os institutos estão presos à necessidade, à temporariedade e à proporcionalidade. Dessa forma, são instrumentos repressivos previstos na Constituição, porém, se utilizados fora das situações previstas, afrontarão a Constituição. Do Estado de Defesa O estado de defesa tem pressupostos pode ser decretado nos casos previstos no "caput" do artigo 136, "in verbis": Art. 136: O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. Dele se percebe a possibilidade de decretação em duas situações diferenciadas: 1) no caso de grave perturbação de ordem pública ou da paz social; 2) de calamidade de grande proporção na natureza, ambas em locais restritos e determinados. O Presidente da República é o único que pode decretá-lo e, antes de tomar tal decisão, é obrigado a ouvir os conselhos da República e de Defesa Nacional. É importante frisar: estes apenas opinam, nada impedindo o Chefe de Governo de expedir o decreto contra o sugerido por um ou pelos dois Conselhos, porém, sem ouvi- los, a medida não poderá ser adotada. O decreto determinará a área de abrangência e a razão é simples: se a desordem não é nacional, mas localizada, os atos para combatê-la devem atingir apenas as regiões que a exigem, não as restantes, onde reina a normalidade. Aula 1 02 Assim que editado, o decreto será submetido ao Congresso Nacional que o analisará em 10 dias e, se o rejeitar, cessará imediatamente o estado de defesa, sob pena de crime de responsabilidade do Presidente da República. As possíveis restrições aos direitos e garantias fundamentais estão expostas nos incisos I e II, do parágrafo 1º, do artigo 136, constituindo um rol taxativo, vale dizer, o ato do Chefe de Governo não poderá criar outras limitações que não as elencadas. I - restrições aos direitos de: a) reunião, ainda que exercida no seio das associações; b) sigilo de correspondência; c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos decorrentes. Daí percebe-se que o sigilo de correspondência, intocável até por ordem judicial, conforme dispõe o artigo 5º, Inciso XII, pode ser restringido no caso de estado de defesa, bem como a possibilidade de ocupação e uso de bens públicos ou particulares, sempre que necessário, como no exemplo de grande epidemia, quando prédios poderão ser requisitados para que funcionem como hospitais, disso decorrendo o futuro dever de indenizar. No máximo 30 dias, que poderá ser prorrogado uma vez por igual período, sempre com a submissão do Congresso Nacional. O controle deste, portanto, será concomitante, mas também posterior, vez que findado deverá o Presidente da República apresentar-lhe relatório, inclusive elencando nominalmente os atingidos, nos termos do artigo 141. O Estado de Sítio O estado de sítio tem pressupostos materiais bem mais graves do que o estado de defesa e, portanto, também enseja medidas mais drásticas. Relatemos o cabimento, exposto nos incisos do artigo 137: I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa; II - declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada estrangeira. Da leitura, percebe-se a previsão na forma repressiva (Inciso I), para sustar comoção grave de repercussão nacional, ou restabelecer a ordem, após infrutífera tentativa com o estado de defesa, ou defensiva, em virtude de guerra ou agressão armada estrangeira. Nos dois casos teremos estado de sítio, porém, o rol de direitos e garantias fundamentais a ser limitado será extremamente diferente. O decreto fundado no Inciso I vigorará por 30 dias, permitindo, no entanto, quantas prorrogações forem necessárias. Os direitos e garantias poderão ser limitados? De acordo com o artigo 139, cujo rol, tal qual no estado de defesa, é exaustivo, prevê: 03 Art. 139: Na vigência do estado de sítio decretado com fundamento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as seguintes medidas: I - obrigação de permanência em localidade determinada; II - detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por crimes comuns; III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; IV - suspensão da liberdade de reunião; V - busca e apreensão em domicílio; VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; VII - requisição de bens. Parágrafo Único: Não se inclui nas restrições do Inciso III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa. Quanto a decretação com fundamento no estado de guerra, ou de agressão armada estrangeira, poderá vigorar no período dos fatos, sem a necessidade de prorrogação e, em tese, qualquer um dos direitos e garantias fundamentais poderá ser restringido, desde que necessários e proporcionais à ameaça. No resto, aplica-se o exposto para o estado de defesa, faltando informar ser o controle, aqui, também prévio, na medida em que o decreto dependerá também de autorização do Congresso Nacional, sem a qual nãopoderá ser editado. Das Forças Armadas As Forças Armadas integram o sistema de defesa do Estado, tendo sido sintetizada no "caput" do artigo 142: Art. 142: As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Se é uma instituição nacional, permanente e regular, funcionará em tempo de paz e de guerra, exigindo-se permanente recrutamento, inclusive por alistamento obrigatório, nos termos do artigo 143. Em interpretação isolada do dispositivo, não; porém, não esqueçamos que a Constituição deve ser interpretada de acordo com a sua unidade, o que nos levará ao seu parágrafo 1º, bem como ao Inciso VIII, do artigo 5º, permissivos de prestação alternativa, em tempo de paz. Aí vai uma restrição: em tempo de paz a escusa de consciência ou religiosa permite a prestação de serviço alternativo ao militar, não em época de guerra, quando não haverá esse direito. No que tange às mulheres e aos eclesiásticos, na paz, não o prestarão, sem prejuízo de outros encargos estabelecidos em lei, porém, se em guerra, deverão, sim, prestá-lo. São organizadas com base na hierarquia e disciplina, não a comumente exigida do empregado ou do funcionário público, mas de forma bem mais estrita, vedando-se a sindicalização, a greve e a filiação a partidos políticos, enquanto na ativa, assim como o "habeas corpus" contra punições disciplinares militares. 04 Os oficiais - não os praças - possuem a garantia de só perderem o posto e a patente se julgados indignos por tribunal militar. Dessa forma, mesmo que condenados pela prática de crime, não serão imediatamente exonerados, devendo, se a condenação for em perda de liberdade por mais de dois anos, ser submetidos à decisão da referida justiça especializada. Ainda, é de se atentar para o fato de o Presidente da República ser a autoridade suprema, auxiliado pelo ministro da defesa. E tais cargos não são meramente figurativos, mas integram a hierarquia das instituições, de modo que podemos dizer serem dois civis as autoridades máximas das Forças Armadas, acima dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Tal fato é demonstrado é assegurado pelo inciso I, do artigo 142, quando declara serem as patentes dos oficiais conferidas pelo Chefe de Estado. Da segurança pública No que tange à Segurança Pública, consiste no conjunto coordenado de medidas estatais diretas para a "preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio" e é exercida pelas polícias estaduais e federais, quer administrativas, quer judiciárias, ambas previstas no artigo 144. É imprescindível o conhecimento dos seus órgãos, ali elencados: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. Falar em polícia administrativa é tratar da prevenção à ocorrência do delito, isto é, buscar evitá-lo, não de sua repressão. Isto posto, na esfera da União, isto caberá a todas as instituições elencadas, o mesmo ocorrendo com a polícia militar, mantida nos Estados e no Distrito Federal. No que tange à polícia judiciária, deve agir após a ocorrência do delito, no inquérito policial, com o fim de apurar a sua materialidade e a autoria, atividade de investigação importantíssima ao poder de punir do Estado, sendo exercida pelas polícias estadual civil e federal, que também é civil. Dessa forma, ao mesmo tempo em que é polícia administrativa, quando, em exemplo, faz o controle de passaportes nas entradas do estrangeiro, e procura obstar o tráfico ilícito de entorpecentes, exerce, com exclusividade, a polícia judiciária da União, cabendo-lhe fornecer subsídios à atuação judicial penal. Dessa forma, se as polícias rodoviária e ferroviária federais devem inibir a depredação do patrimônio público, ocorrido o crime, será ele apurado pela polícia federal. Quanto à polícia civil, é também chefiada por delegados de carreira, incumbindo-lhe a função judiciária, se não couber à União e com a exclusão dos crimes propriamente militares. Ressalte-se: os crimes militares estão previstos em lei e são apenas os decorrentes de suas peculiaridades institucionais, como a deserção. O homicídio, o roubo e outros delitos previstos no Código Penal, por exemplo, não são aí enquadráveis. Já as polícias militares, sempre estaduais, funcionam como órgãos auxiliares do Exército e têm competência para o policiamento administrativo, ostensivo, ou seja, fardado. DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL Capítulo 4 Aula 1 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 01 Controle de Constitucionalidade Controlar é cotejar, é o método, o processo, independentemente da conseqüência que se chegue. De tal cotejo, análise, poderemos ter soluções várias, como a inconstitucionalidade total ou parcial ou a constitucionalidade do dispositivo questionado. O que importa é o trabalho de comparação entre dispositivos infraconstitucionais e a Constituição. Lembremos ser a Constituição, na visão de Kelsen, que prepondera e explica o sistema, aquela que dá fundamento a todo o ordenamento jurídico, em suas palavras, estar no ápice da pirâmide normativa, devendo-lhe os demais atos, estatais ou privados, absoluta obediência. Por tal entendimento, havendo contradição entre norma constitucional e inferior, aquela deve prevalecer, com a retirada da mundo jurídico da norma menor, visto que inválida. E, em não havendo controle de constitucionalidade, como garantir a referida supremacia? Impossível, visto que normas inferiores, livres da sanção da nulidade, livremente afrontariam a Carta Magna. Quanto a rigidez, relembremos ser a Carta maior mutável, porém, rígida, isto é, estabelece processo de mudança mais dificultoso do que o previsto para as leis ordinárias e isto é verificável por simples estudo dos artigos 47, 60 e 69. Sendo rígida, não pode ser, por exemplo, alterada por votação da maioria relativa dos deputados e senadores, ao contrário do que se percebe para as leis ordinárias, portanto, como garantir a vontade do Constituinte, no que toca ao processo legislativo para a alteração do Texto? Somente com mecanismos de controle de constitucionalidade. Por último, no que tange a intangibilidade dos direitos fundamentais, frise-se configurarem cláusulas pétreas, como se percebe do parágrafo 4º, do artigo 60. Isto significa que não se pode sequer existir projeto de emenda tendente a aboli-los, porém, sem controle de constitucionalidade, como isto cumprir? Impossível, razão pela qual julgamos demonstrada a necessidade do cotejo, da comparação das normas (ou projetos) com a Carta Magna. É impossível, se se aduz o desrespeito a norma fora do texto maior. Neste caso, jamais poderemos falar em inconstitucionalidade, por não ter sido utilizada a Carta Magna para a análise, quando muito em ilegalidade. Tais normas encontram-se em especial a partir do art. 59, que inicia a seção intitulada “Do processo legislativo”. Para exemplificar, o art. 65 prevê: “Art. 65. O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e votação, e enviando à sanção ou promulgação, se a Casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o rejeitar”. Dele se percebe a impossibilidade de projeto de lei ser aprovado apenas pela Câmara, ou pelo Senado, exigindo-se a participação, e concordância, das duas Casas do Parlamento. Portanto, se lei não foi aprovada no Senado é absolutamente inconstitucional, mesmo se sancionada,
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