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lei de toxicos -Módulo 02. Tóxicos - Damasio de Jesus

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___________________________________________________________________
CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA
MÓDULO II
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Tóxicos – Lei n. 6.368/76
__________________________________________________________________
Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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1. DOS CRIMES E DAS PENAS
1.1. Art. 12	
Art. 12 - Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1.º Nas mesmas penas incorre quem, indevidamente:
I - importa ou exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda ou oferece, fornece ainda que gratuitamente, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda matéria-prima destinada a preparação de substância que determine dependência física ou psíquica.
§ 2.º Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
I - induz, instiga ou auxilia alguém a usar entorpecentes ou substância que determine dependência física ou psíquica;
II - utiliza local de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecentes ou de substância que determine dependência física ou psíquica;
III - contribui de qualquer forma para incentivar ou difundir o uso indevido ou o tráfico ilícito de entorpecente ou de substância entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica.
 
1.2. Núcleos do Art. 12, caput 
O caput do art. 12 possui 18 núcleos, a saber:
	1.º)	Importar: É proporcionar o ingresso irregular de substância entorpecente no Brasil. Cuida-se de crime da competência da Justiça Federal, porquanto se trata de tráfico internacional. Consuma-se no momento em que a substância entra no território brasileiro, por via aérea, marítima ou terrestre, indevidamente. Não se aplica o art. 334 do CP (contrabando ou descaminho) em razão do princípio da especialidade. Incide a causa de aumento prevista no inc. I do art. 18 da Lei Antitóxicos (“tráfico com o exterior”).
	2.º)	Exportar: Consiste na remessa de substância entorpecente para fora do território nacional por via aérea, marítima ou terrestre. Como enfatiza Vicente Greco Filho, o comportamento típico atende recomendação da Convenção Única sobre Entorpecentes, de 1961, que vê no controle das exportações fator decisivo na repressão ao tráfico ilícito de entorpecentes. Também configura o denominado tráfico internacional, sendo da Justiça Federal a apuração e o julgamento do comportamento em estudo. Incide, também, a causa de aumento prevista no inc. I do art. 18 da Lei Antitóxicos (“tráfico com o exterior”). Não se aplica o art. 334 do CP, em decorrência do princípio da especialidade.
	3.º)	Remeter: Significa enviar, encaminhar substância entorpecente para alguém, dentro do país, podendo fazê-lo, inclusive, por via postal.
	4.º)	Preparar: Combinar substâncias inócuas, isto é, inaptas para causar dependência física ou psíquica, dando origem a outra que é entorpecente.
	5.º)	Produzir: Criar. Exige-se maior capacidade criativa, ultrapassando a mera combinação de substâncias. Citamos como exemplo a indústria extrativa.
	6.º)	Fabricar: Reserva-se o núcleo quando houver o emprego de meios industriais para a obtenção de substâncias entorpecentes.
	7.º)	Adquirir: Obter a posse ou a propriedade da substância entorpecente a título oneroso ou gratuito, normalmente com a contraprestação em dinheiro, com a intenção diversa do uso próprio. Sendo essa a intenção do agente, o enquadramento legal será feito no art. 16 da Lei Antitóxicos. 
	8.º)	Vender: Disposição da droga, mediante pagamento em dinheiro ou outro bem que apresente valor econômico.
	9.º)	Expor à venda: Exibir para a venda, mostrar a substância entorpecente para interessados na aquisição.
10.º)	Oferecer: Apresentar, ofertar, a substância entorpecente a eventuais compradores.
11.º)	Fornecer, ainda que gratuitamente: Prover, proporcionar, dar. Para parte da doutrina o comportamento exigiria a entrega continuada de substância entorpecente a outrem, diferenciando-se da simples entrega ou venda.
	12.º)	Ter em depósito: Para Nelson Hungria ou Magalhães Noronha, ter em depósito é conservar a droga à sua disposição, enquanto que o guardar consistiria na retenção da substância em nome de terceiro. Vicente Greco Filho, no entanto, entende que ambos os verbos têm o mesmo significado, ou seja, o de reter. Ter em depósito, para o mencionado professor, “tem um sentido de provisoriedade e mobilidade do depósito, ao passo que o guardar não sugere essas circunstâncias, compreendendo a ocultação pura e simples, permanente ou precária. O último é mais genérico em relação ao primeiro”.
	13.º)	Transportar: Trata-se do deslocamento da droga com a utilização de um meio de transporte. Difere do núcleo “trazer consigo” porque nessa ação a substância entorpecente é deslocada junto ao corpo ou dentro do corpo do agente.
	14.º)	Trazer consigo: Modalidade de transporte, na qual a substância entorpecente é conduzida pessoalmente pelo agente, junto ao seu corpo ou dentro dele.
	15.º)	Guardar: Conforme já assinalamos na abordagem do núcleo “Ter em depósito”, há controvérsia sobre o preciso sentido desse comportamento.
	16.º)	Prescrever: Trata-se de comportamento que só pode ser praticado por médicos ou dentistas, profissionais autorizados a receitar substâncias entorpecentes. É, portanto, crime próprio (exige qualidade especial do sujeito ativo) e doloso, pois pressupõe que o paciente não necessite da droga para tratamento. Se uma pessoa, que não seja médico ou dentista, falsificar uma receita entendemos que responderá por auxílio, previsto no inc. I do § 2.° do art. 12. Há modalidade culposa prevista no art. 15 da Lei Antitóxicos, que se aperfeiçoa com a prescrição em dose evidentemente maior que a necessária, ou seja, com referência à dosagem recomendada pela terapêutica.
	17.º)	Ministrar: Introduzir substância entorpecente no organismo alheio por meio de inalação, ingestão ou injeção. Pode ser praticado por qualquer pessoa, mediante pagamento ou gratuitamente.
	18.º)	Entregar de qualquer forma a consumo: É o último dos núcleos, considerada a ordem estabelecida no art. 12, caput. O legislador inseriu a fórmula genérica visando evitar que o comportamento que não se amoldasse nos demais núcleos pudesse ficar sem punição.
1.3. Objeto Material do art. 12, caput
	Trata-se de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Segundo preceitua o art. 36 da Lei n. 6.368/76, tais substâncias devem estar indicadas em lei ou relacionadas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde. A Convenção Única sobre Entorpecentes de Nova Iorque, de 1961, contém listas de substâncias consideradas entorpecentes. Entre elas consta, por exemplo, a Cannabis sativa. Pois bem, a Convenção Única sobre Entorpecentes de Nova Iorque integra a legislação brasileira, pois foi aprovada pelo Decreto Legislativo n. 5, de 7.4.64 e promulgada pelo Decreto n. 54.216, de 27.8.64. Portanto, pode ser utilizada como complemento das normas penais em branco existentes na Lei n. 6.368/76, caso seja necessário. No que diz respeito à relação das substâncias pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, esclarecemos, desde logo, que tal incumbência foi transferida para a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, que foi a responsável pela edição da Portaria n. 344, de 12.5.98, que vige atualmente. As atualizações da citada Portariaestão sendo elaboradas pela ANVISA, i. e., pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão do Ministério da Saúde, porquanto foi extinta a antiga Secretaria. O rol das substâncias é completo e atualizado, de modo que tem sido desnecessário recorrer à Convenção Única de 1961 para a aplicação dos artigos da Lei Antitóxicos.
1.3.1. Art. 12, caput: norma penal em branco
Cuida-se de norma penal em branco, pois, como já adiantamos, o seu complemento é encontrado na Portaria n. 344/98, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e nas convenções internacionais que cuidam das substâncias entorpecentes e assemelhadas.
1.3.2. Alteração da portaria
O STF, analisando os efeitos da supressão do cloreto de etila da relação de substâncias elaborada por órgão do Ministério da Saúde, entendeu que ela alcança os comportamentos anteriormente praticados, operando a extinção da punibilidade dos agentes. O posicionamento é distinto da regra geral imposta à maioria das normas penais em branco, pois no caso da Lei Antitóxicos a alteração atinge o cerne da norma penal, porquanto o cloreto de etila não figura na lista da Portaria n. 344/98 em caráter excepcional ou temporário. Como se sabe, a alteração do complemento não atinge, geralmente, as condutas praticadas na vigência da norma. É o que ocorre com o tabelamento de preço, por exemplo.
Assim, se for excluída uma substância entorpecente das listas da Portaria há retroatividade benéfica, em decorrência de verdadeira abolitio criminis. 
1.3.3. Cloreto de etila. Componente do lança-perfume. Resolução n. 104 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
	A primeira publicação da Resolução n. 104, ocorrida em 7.12.2000, excluiu o cloreto de etila da lista “F”, da Portaria n. 344/98. A lista “F” relaciona as substâncias de uso proscrito no Brasil. Na mesma oportunidade, a Resolução citada incluiu o cloreto de etila na lista “D2”, da mesma Portaria, cujo rol contém os insumos químicos para a elaboração de substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicos. Tais insumos não são considerados substâncias entorpecentes. Assim, a aludida transferência do cloreto de etila da lista “F” para a lista “D2”, tornou-a substância de uso permitido, todavia, controlada pela Vigilância Sanitária. 
	Preocupada com os efeitos da alteração, a Resolução n. 104 foi republicada. Nesta republicação, ocorrida em 15.12.2000, o cloreto de etila saiu da lista “D2” (insumos) e entrou na lista “B1” da Portaria n. 344/98, que se refere às substâncias psicotrópicas. Assim, a partir de 15.12.2000, a posse para uso próprio (art. 16) ou qualquer comportamento descrito no art. 12, todos da Lei n. 6.368/76, que envolvam o cloreto de etila, voltaram a ser reprimidos penalmente. Entre os dias 7 e 14.12.2000, o cloreto de etila não era substância entorpecente e/ou psicotrópica.
Assim, no período compreendido entre os dias 7 e 14.12.2000, tornou-se lícito, porém controlado, o manuseio de cloreto de etila. Tal efeito, por ser benéfico, deve retroagir. Assim, os inquéritos policiais que envolvam a substância deverão ser arquivados (extinção da punibilidade). Se existe processo em andamento deverá ser extinto. Se houver condenação deverá ser anulada, desaparecendo todos os efeitos penais.
 O quadro a seguir elaborado ilustra as alterações aludidas acima:
	Até 6.12.2000
	De 7 a 14.12.2000
	A partir de 15.12.2000
	Substância entorpecente de uso proibido no Brasil.
	Insumo químico para a fabricação de entorpecente. Uso permitido, mas controlado pelo Estado.
	Substância psicotrópica
	Lista F da Portaria n. 344/98
	Lista D2 da Portaria n. 344/98
	Lista B1 da Portaria n. 344/98
Atenção: no julgamento do Recurso Especial n. 299.659-PR, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que a primeira publicação da Resolução n. 104, ou seja, a ocorrida no dia 7.12.2000 padecia de vício de forma e, portanto, não teria o condão de propiciar a transferência do cloreto de etila da Lista F (substâncias entorpecentes de uso proscrito no Brasil) para a lista dos insumos químicos (Lista D2). Segundo o entendimento contido no referido acórdão, a transferência exigia deliberação de órgão colegiado da ANVISA e não ato exclusivo de seu diretor-presidente. Caso esse precedente venha a ser reiterado em novos julgamentos, o cloreto de etila foi transferido, diretamente, da Lista F para a B1, sem integrar a lista dos insumos químicos (Lista D2). Em resumo, tal posicionamento do Superior Tribunal de Justiça rechaça, conseqüentemente, o reconhecimento de abolitio criminis. Vejamos a ementa da supracitada decisão:
	“Quanto à substância cloreto de etila, a Resolução RDC 104, tomada isoladamente pelo Diretor-Presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (DOU 7/12/2000), retirando tal substância da lista F2 (substâncias psicotrópicas de uso proscrito no Brasil), não teve validade até sua republicação, agora por decisão da Diretoria Colegiada daquele órgão (DOU 15/12/2000) que a recolocou na lista B1 (substâncias psicotrópicas). Destarte, durante esse interregno, não há como reconhecer que houve ‘abolitio criminis’ (Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, j. em 7/2/2002, v. Informativo n. 122)."
1.3.4. Pequena quantidade de substância
Para efeito de caracterização das condutas criminosas deverão ser analisadas: a natureza e a quantidade da substância apreendida; o local; as condições em que se desenvolveu a ação criminosa; as circunstâncias da prisão; bem como a conduta e os antecedentes do agente (v. art. 37).
 Para o STF, o delito de tráfico de substância entorpecente não se descaracteriza pelo fato de a polícia haver apreendido pequena quantidade de tóxico em poder do réu.
Aliás, é bom ressaltar desde logo, que a pequena quantidade não elide a responsabilidade penal nem mesmo em relação aos comportamentos previstos no art. 16, desde que na porção apreendida tenha sido constatada pericialmente a presença do princípio ativo da substância entorpecente.
1.4. Qualificação Doutrinária do Art. 12
Trata-se de crime de perigo e de mera conduta.
O tipo é misto alternativo, de conteúdo múltiplo ou variado. É alternativo porque no art. 12, caput, há 18 núcleos. Basta um só dos comportamentos tipificados para a configuração do delito.
Havendo a prática de comportamentos num mesmo contexto fático, aplica-se o princípio da alternatividade. Como conseqüência, deverá ser reconhecido um único crime. Assim, se o indivíduo importa, transporta, oferece e vende uma determinada quantidade de cocaína, por exemplo, cometerá uma única infração ao art. 12, caput. A conduta é única. Tomado o mesmo exemplo, se o agente faz ingressar no território nacional, em dias distintos, porções de cocaína, há vários crimes, que poderão ser unificados pela continuidade desde que estejam presentes os requisitos legais. Conseqüentemente, se os comportamentos se mostrarem distintos entre si, isto é, forem cometidos em contextos fáticos diversos, haverá vários crimes.
1.5. Objetividade Jurídica
A objetividade jurídica principal ou imediata é a incolumidade pública, sob o particular aspecto da saúde pública. 
Objetividade jurídica secundária ou mediata é a vida, a saúde e a família.
1.6. Sujeito Ativo
Sujeito ativo do crime em estudo é qualquer pessoa. O crime, nesse aspecto, é comum.
Exceção: O comportamento de prescrever exige a qualidade de médico ou dentista para sua prática.
1.7. Sujeito Passivo
O sujeito passivo principal é a sociedade.
Sujeito passivo secundário são as pessoas que recebem a droga para consumi-la, desde que essa conduta não tipifique o art. 16.
Criança ou adolescente como sujeito passivo. O art. 243 do ECA (Lei n. 8.069/90) tem como objeto material os “produtos” que possam causar dependência física ou psíquica. Essas substâncias não são entorpecentes para os fins da Lei Antitóxicos. É o que ocorre com a cola de sapateiro, que traz inúmeros malefícios às crianças e adolescentes. A cola de sapateiro contém um solvente, o tolueno, responsável pelos efeitos físicos e/ou psíquicos oriundos do produto. O tolueno não é uma substância entorpecente,frise-se, tal como a concebe a Lei Antitóxicos, no seu art. 36. Assim, no caso do supracitado produto, aplicaremos o art. 243 do ECA. Entretanto, se for realizada a venda de substância entorpecente (Cannabis sativa, cocaína etc.) para criança ou adolescente, aplicaremos o art. 12, caput, combinado com a causa de aumento prevista no art. 18, III, ambos da Lei n. 6.368/76.
1.8. Elemento Normativo
Consiste na expressão “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
	1.9. Consumação e Tentativa
Há consumação com o cometimento do comportamento típico, independentemente da produção de qualquer resultado. Entre os núcleos do tipo existem aqueles que dão ensejo a crimes instantâneos, ou seja, a consumação ocorre num determinado instante, sem continuidade temporal, como ensina o Prof. Damásio. É o que ocorre, por exemplo, com o comportamento “importar”, no qual a consumação se verifica no momento em que a substância entorpecente transpõe a fronteira brasileira. No caso do núcleo “preparar”, a consumação ocorrerá no instante em que, da composição de duas ou mais substâncias, surgir outra que é entorpecente. Sendo a hipótese de venda, a consumação dar-se-á com o recebimento do preço ou de outro bem que tenha valor econômico. Na aquisição, por sua vez, a consumação ocorre com o recebimento da substância entorpecente.
Outros núcleos do tipo ensejam crimes permanentes. Esses delitos têm a consumação prolongada no tempo. São, na lição de Damásio E. de Jesus, crimes nos quais a consumação pode cessar por vontade do agente. Como exemplo citamos as condutas: guardar, ter em depósito, trazer consigo. Nos crimes permanentes, a prisão em flagrante poderá ocorrer em qualquer momento, nos termos do art. 303 do CPP.
No que concerne à tentativa, como adverte Vicente Greco Filho, ela não está nem lógica nem juridicamente excluída. Acrescentamos que, mesmo na hipótese de crimes permanentes, a tentativa é viável, desde que tenha a sua fase inicial comissiva. O crime permanente tem duas fases: a primeira corresponde à prática do comportamento descrito na lei, de natureza comissiva ou omissiva e, a segunda fase, de manutenção do estado danoso ou perigoso, de caráter omissivo ou, excepcionalmente, comissivo.
Malgrado haja possibilidade da forma tentada no caso do art. 12, caput, sua configuração na prática é difícil, ante a quantidade de núcleos propositalmente inserida no citado artigo. Cuidando-se de um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, a tentativa de um comportamento ensejará, via de regra, outro já consumado previamente. Desse modo, responderá o agente pelo crime consumado, sendo absorvida a tentativa subseqüente.
1.10. Flagrante Preparado e Esperado
	 São hipóteses distintas. O flagrante preparado, no direito brasileiro, dá ensejo ao denominado “crime putativo por obra de agente provocador” ou “crime de ensaio”. O cometimento da infração penal é provocado por outrem. No âmbito da Lei Antitóxicos, suponha que policiais apresentem-se como usuários e, assim, provoquem a venda de substância entorpecente. A venda não poderá ser imputada ao traficante. Os comportamentos típicos anteriores, não provocados pela encenação protagonizada pelos policiais, serão atribuídos. É o caso, por exemplo, da aquisição, ocultação, guarda ou depósito, transporte ou trazer consigo, todos comportamentos anteriores consumados no momento da venda provocada. 
O flagrante esperado não se confunde com o preparado. Naquele não há provocação. Simplesmente aguarda-se a prática do delito para surpreender o criminoso em flagrante.
Segundo o STF, a infiltração de agente policial, simulando participar de operação de tráfico internacional, com a finalidade de manter a polícia informada sobre atividades do grupo, não atrai a incidência da Súmula n. 145 do STF.
Súmula n. 145: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.
2. 	FIGURAS ASSEMELHADAS
	As figuras assemelhadas são subsidiárias em relação ao caput do art. 12.
2.1. Art. 12, § 1.º, inc. I
Também é crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, pois conta com 14 núcleos. Para conhecê-los, toma-se os 18 núcleos vistos quando do estudo do caput do art. 12, suprimindo os quatros seguintes: preparar, prescrever, ministrar e entregar de qualquer forma a consumo.
O objeto material já não é mais substância entorpecente, mas matéria-prima.
Matéria-prima é a substância da qual ou com a qual podem ser produzidas substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica. Ex.: acetona e éter. Lembramos que a Portaria n. 344/98 contém, na lista “D2”, um rol de insumos químicos utilizados como precursores para a fabricação e síntese de entorpecentes e/ou psicotrópicos. Nesse rol estão a acetona, o ácido clorídrico, o ácido sulfúrico, o anidrido acético, o cloreto de metileno, o clorofórmio, o éter etílico, o metil etil cetona, o permanganato de potássio, o sulfato de sódio e o tolueno.
O crime se consuma com a prática dos comportamentos típicos, independentemente da efetiva preparação de substância entorpecente. Com relação à tentativa reiteramos as explicações dadas quando do estudo do caput do art. 12.
	O elemento subjetivo é o dolo, acrescenta-se que o agente deve ter ciência de que a substância envolvida em seu comportamento tem condições de ser utilizada para a preparação de entorpecentes (STF, RECrim 108.726).
Só há crime se o comportamento típico for praticado indevidamente. 
2.2. Art. 12, § 1.º, inc. II	
São três os núcleos: semear, cultivar e colher. Semear é lançar as sementes no solo (crime instantâneo, i.e., a consumação se dá num determinado instante, sem prolongar-se no tempo). Cultivar, crime permanente (causa um dano ou um perigo que se prolonga no tempo, que pode ser cessado por vontade do agente), consiste em manter a plantação. Colher, por sua vez, é retirar a planta da terra.
Também é crime de ação múltipla, de modo que se os três comportamentos forem praticados pelo agente, num mesmo contexto fático, teremos crime único.
Há controvérsia sobre a tipificação do portar sementes de Cannabis sativa (“maconha”). É sabido que da semente não se extrai o entorpecente, mas da planta germinada da semente. Portanto, o fumo da maconha é preparado com as folhas e flores da planta. Assim, a posse indevida de sementes de maconha, desde que reconhecidas pericialmente, configura, para nós, tentativa da conduta “semear” (v. JUTACrimSP 44/204). Há, no entanto, na jurisprudência orientação no sentido da atipicidade do comportamento ora enfocado.
Outra questão a ser abordada diz respeito ao “plantio para uso próprio”. Há dificuldade no enquadramento e, portanto, três correntes surgiram:
	1.ª) É enquadrado no inc. II do § 1.º, não importando que o comportamento típico tenha sido realizado para uso próprio;
	2.ª) Utiliza-se o art. 16, aplicando-se analogia in bonam partem. Minimizam-se, assim, as conseqüências severas ensejadas pelo caput do art. 12, que seria o adequado tecnicamente à hipótese. A lei não distingue se o plantio é realizado para consumo próprio, de terceiros ou para comércio. Essa segunda posição jurisprudencial é a predominante.
	3.ª) O comportamento é atípico. Não seria possível enquadrar no inc. II ora estudado, porque se trata de plantio para uso próprio. Não se poderia enquadrar também no art. 16, porque nele não encontramos os verbos semear, cultivar e plantar. O juiz não poderia lançar mão de analogia para tipificar penalmente um comportamento. Segundo o Prof. Damásio, que adota a terceira posição, há, na verdade, na segunda posição, o emprego de analogia in malam partem.
	Lembramos, finalmente, que a Lei n. 8.257/91 regulamentou a expropriação de glebas destinadas a culturas ilegais de plantas psicotrópicas, sem qualquer indenização ao proprietário. As glebas expropriadas serão destinadas ao assentamento de colonos para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos (v. art. 243 da CF).
2.3. Art. 12, § 2.º, inc. I
O inc. I contém três núcleos: induzir, instigare auxiliar. Induzir é introduzir a idéia. Instigar é reforçar a intenção de uso de substância entorpecente. Quanto ao auxílio, trata-se da ajuda concreta (material) ao usuário, oferecendo-lhe condições para o uso de substâncias entorpecentes, excluindo-se, obviamente, a conduta de fornecer ou vender tais substâncias, que ensejariam o enquadramento no caput do art. 12. A cessão de local para o uso das supracitadas substâncias permitirá o enquadramento no inc. II do § 2.° do art. 12. São exemplos de auxílio, para fins de subsunção da conduta, no inc. I ora estudado: levar o usuário à boca-de-fumo; fornecer-lhe dinheiro para a aquisição do entorpecente; fornecer-lhe objetos para o consumo da substância, tais como os cachimbos (“maricas”), entre outros.
Os comportamentos devem ser dirigidos a pessoa certa, porque o tipo traz a expressão “alguém”.
O uso é necessário para a consumação da infração. Exigindo-se pessoa certa, não é possível enquadrar aquele que se exponha vestindo camiseta com expressões do gênero “use maconha”.
2.4. Art. 12, § 2.º, inc. II
	O inc. II preceitua o seguinte comportamento:
	§ 2.° Nas mesmas penas incorre, ainda, quem:
	II – Utiliza local de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica.
	Como o tipo deixa claro, não é necessário que o autor seja o proprietário do local fechado ou aberto, como ensina o Prof. Damásio de Jesus. São exemplos desses locais: casas, apartamentos, cafés, bares, hotéis, motéis, veículos automotores etc. O local, segundo Vicente Greco Filho, não pode ser público de uso comum, mas o que pode ser aberto ao público. O local privado, como vimos, também admite a tipificação (móvel ou imóvel).
	Não é possível, entretanto, pretender punir aquele que utiliza a própria casa para o uso próprio de substância entorpecente com base no inc. II ora enfocado.
	Parece-nos, evidente, no entanto, que se exija do autor o conhecimento de o local prestar-se ao uso ou ao tráfico ilícitos de substâncias entorpecentes.
	Consuma-se o crime com o uso de local para os fins ilícitos previstos no inc.. Não se exige habitualidade ou fim de lucro.
2.5. Art. 12, § 2.º, inc. III
	O inc. III do § 2.º assemelha-se ao inc. I. Entretanto, sua construção típica adotou uma fórmula vaga e imprecisa, porquanto tratou de uma contribuição genérica, “de qualquer forma”, que se destine ao incentivo ou a difusão do uso indevido de substâncias entorpecentes ou de tráfico de tais substâncias.
A figura típica, devido à sua amplitude, preocupa. Deve-se, assim, estabelecer a eficácia da conduta para a produção dos males que a norma pretende evitar, i. e., o incentivo ou a difusão do uso indevido ou o tráfico ilícito de entorpecentes. Lembre-se o exemplo citado por Menna Barreto: pessoas que, nas praias do Rio de Janeiro, utilizam-se de apitos para alertar os usuários de entorpecentes sobre a aproximação da polícia.
Exige-se para a consumação do crime, o efetivo uso ou tráfico. Sustenta-se, ainda, que o uso e o tráfico devem estar abrangidos no dolo do agente. 
Não é correto exigir-se que o comportamento dirija-se a uma pessoa ou a um grupo determinado de indivíduos. Entretanto, deve-se evitar o enquadramento daquele que veste uma camiseta com os dizeres “fume maconha”, por inidoneidade do comportamento para ensejar o uso ou o tráfico ilícitos.
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