Buscar

História Ambiental: Tietê, Mata Atlântica e os Níveis de Análise

Prévia do material em texto

HISTÓRIA AMBIENTAL
Avaliação Final – 1º. Semestre 2013 – Profa. Célia Camargo
Discente: Janainna Zanella Gomes Noturno
___________________________________________
Questões:
(1-) O trabalho de Janes Jorge - Tietê, o rio que a cidade perdeu: São Paulo 1890-1940 - é considerado referência no campo da história ambiental. No entanto, mantém estreita relação com as pesquisas que abordam a história do cotidiano. 
Explique e apresente passagens do texto onde podemos encontrar informações sobre o assunto.
"O processo de degradação e a perda do Tietê por parte dos moradores, uma das mais significativas descontinuidades históricas em São Paulo, se prejudicou a maior parte da população da cidade. Afetou sobretudo as classes populares, em cuja as vidas o Tietê e seus afluentes ocupavam lugar central." Pg.21 
Este trecho deixa clara a relação dos paulistanos que viviam deste e para este rio, o Tietê, que a cidade perdeu. O autor procura mostrar o papel que tiveram a destruição das matas ciliares e a valorização das várzeas sobre o desaparecimento gradativo dos pássaros, dos peixes, da caça, que era o sustento dos moradores pobres. Traz a história social dos ribeirinhos, dos grileiros das várzeas do Tietê, dos pequenos canoeiros que pescavam e sobreviviam da lenha e da caça, que foi abundante nas margens do rio até a década de vinte. Aborda o elo entre o projeto das elites na urbanização de São Paulo e o povoamento das várzeas por ex-escravos expulsos do centro e, a partir de 1885, por imigrantes italianos e portugueses que sobreviviam da extração e do transporte da areia e da argila. O rio foi sendo dominado pela força dos interesses ferroviários, da industrialização, do esgoto e do lixo, que acompanharam o crescimento demográfico da cidade. O rio foi transformado num canal estreito e sujo, dominado pelos interesses da industrialização. Mais do que isso, Janes Jorge mostra como estes moradores se relacionavam com o rio e reconstrói muito da vida social da época que tinha o rio como um dos personagens da vida cotidiana do paulistano. 
(2-) Responda as seguintes questões sobre o texto de Donald Worster Para Fazer História Ambiental: Quais os três níveis de análise que devem ser considerados pela história ambiental, ou seja, quais os três grandes conjuntos de questões que o historiador deve enfrentar quando atua nesse campo de pesquisa? Explique cada um deles; Por que, na afirmação do autor, a história ambiental, praticada a partir dos anos de 1970, nasceu de um objetivo moral?
Donald Worster ,explica que existem três níveis em que a “nova história” funciona, três conjuntos de questões que enfrenta e procura responder, exigindo contribuições de outras áreas da ciência e aplicando métodos especiais de analise. O primeiro nível trata do entendimento da natureza, como se organizou e funcionou no passado; incluímos nessa analise todos os aspectos da natureza, orgânicos e inorgânicos. O segundo nível introduz o domínio socioeconômico na medida em que este interage com o ambiente. O terceiro é o tipo de interação mais intangível e exclusivamente humano, puramente mental ou intelectual, no qual percepções, valores éticos, leis, mitos e outras estruturas de significação se tornam parte do dialogo de um individuo ou de um grupo com a natureza.										Ele ainda afirma que a história ambiental nasceu de um objetivo moral, pois na década de 1970 os debates acerca das consequências da exploração predatória do meio ambiente estavam em pauta “ela nasceu numa época de reavaliação e reforma cultural, em escala mundial”. E essa consciência refletiu em todos os mecanismos e ciências da sociedade.
(3-) Warren Dean fez uma trajetória, como historiador, que se iniciou na história econômica, com seus estudos sobre a industrialização no Brasil, e desembocou na história ambiental, culminando com seu trabalho A Ferro e Fogo. História e devastação da Mata Atlântica. Qual a grande questão a que procurou responder, que esteve presente em toda a sua obra, sustentando suas investigações?Que relação pode ser estabelecida entre a história econômica e a história ambiental, a partir disso?
A grande questão que Warren Dean busca ressaltar é o sentimento, por parte do ser humano, de sobreposição a natureza. Dean cita em vários momentos como foi à intervenção humana ao meio ambiente e os seus danos causados. A partir da história da ocupação e da destruição da Mata Atlântica o autor narra à história do Brasil, desde o período pré-descobrimento pelos portugueses, passando pela era colonial, desembarque da corte portuguesa, primeiro e segundo reinados, república velha, estado novo, regime militar, re-democratização até os primeiros anos da década de 90 do século passado.	Warren Dean sempre ressalta as intervenções do homem ao meio ambiente durante os períodos. Dean deixa claro que a questão Ambiental nunca foi motivo de preocupação para as elites política, intelectual e científica brasileira salvo raras exceções. Segundo ele nós nunca tivemos um movimento ambientalista ou preservacionista devidamente organizado, articulado e constituído. Para ele, mesmo os mais afamados naturalistas que por aqui passaram, sempre olharam para a questão ambiental com um olhar preconceituoso e eurocêntrico, incapazes de tentar entender as relações do homem com as mais diversas espécies da fauna e da flora aqui presentes.	Assim, o que W. Dean procurar mostrar é que este sentimento de sobreposição do homem a natureza, aliado a outros fatores, condicionou à destruição de grande parte do que o homem conheceu de natureza, inclusive a Mata Atlântica brasileira. O que o autor enfoca é que este sentimento de superioridade tem que mudar. O homem precisa ter a consciência, ou precisa passar a ter, de que tudo e todos fazem parte de um mesmo meio ambiente. 
No que tange uma comparação entre a história ambiental e a história econômica na obra de Dean, podemos dizer que os dois estiveram, por toda a história do Brasil, extremamente ligados. A natureza sempre rendeu lucros para seus investidores, seja por meio de sua devastação ou exploração. O meio ambiental brasileiro, por sua vastidão, geografia e heterogeneidade, sempre representou, como não poderia deixar de ser, uma possibilidade lucrativa seja no período colonial, monárquico ou republicano.
(4-) Qual é a fundamentação que pode ser apresentada para a relação entre natureza e sociedade, tomando por eixo a formação das identidades sociais?
Elabore sua resposta a partir do trabalho de J. A. Drummond e J. L. Andrade Franco Proteção à Natureza e Identidade Nacional no Brasil, anos 1920-1940.
 A natureza estudada por Drummond e Andrade durante o período de 1920-1940, é interpretada de diversas formas conforme a sociedade se altera dentro do tempo.	Nesta época surge uma expansão do pensamento de preservação da natureza, por motivos diferentes, mas que ainda sim se assemelhavam, aos de hoje. Após um longo período de produção de excedente, grande parte oriunda de matéria prima retirada de solo brasileiro, a escassez começa a se fazer presente. Neste período onde já existiam manifestações próximas do positivismo no Brasil, este caráter acaba por se concretizar, pois cada vez sendo mais freqüentes pesquisas focadas no meio ambiente, e com institutos sendo aberto pelo Estado, o argumento cientificista se aproxima do nacionalista, pela preservação do ''patrimônio natural brasileiro''. 	
Dessa forma, o argumento cientificista foi sendo cada vez mais aceito dentro da política brasileira, buscando construir o sentimento nacional baseado nas ideais de preservação racional dos bens naturais. Permitindo dar alicerce a outros argumentos cientificistas, como o darwinismo social que se tornou parte da política brasileira nesse período, inclusive nas políticas educacionais, adepta do eugenismo. 		Podemos observar através das linhas de argumentação de Leôncio Corrêa, presidente da Sociedade dos Amigos das Árvores, para justificar a proteção da natureza; sendo uma delas a valorização do recurso econômico a ser usufruído racionalmente, na outra eraobjeto de culto e fruição estética, ou seja, os argumentos oscilam entre uma perspectiva mais pragmática e outra através de uma olhar mais estético.
(5-) Faça uma reflexão sobre a relação entre história ambiental e política, procurando apoiá-la em autores lidos no curso. 
Em função da crescente ocupação territorial, falta de planejamento urbano, desmatamentos em grande escala, associado a alterações climáticas instáveis, está se tornando cada vez mais comum a ocorrência de desastres ambientais. É notável que o ser humano, no passar dos séculos, vem alterando de forma drástica o meio ambiente se tornou um catalisador de tais eventos. 											A partir do final do século XIX, desenvolveram-se políticas públicas para prevenir e ou remediar situações calamitosas causadas às populações por esses desastres ambientais, todavia os seus resultados nem sempre são efetivos e atendem as populações atingidas. Estudar os desastres é uma forma de auxiliar na compreensão de suas causas e as principais conseqüências que trazem para as comunidades afetadas direta e indiretamente.
Pádua se aproxima do tipo de abordagem que atribui a crise ambiental contemporânea não a falhas ou acidentes ocasionais dos sistemas produtivos, mas, sim, ao funcionamento cotidiano de padrões de produção e consumo insustentáveis, exigindo para a sua superação, mais do que medidas técnicas e setoriais, ações políticas voltadas para profundas transformações sociais, econômicas e culturais. Dessa forma, embora a tradição crítica da devastação da natureza produzida no Brasil dos séculos XVIII e XIX não deva ser vista como precursora do debate atual, as suas reflexões ganham relevância teórica e projeção histórica.

Outros materiais