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As novas prioridades do Estado brasileiro

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E r n a n d o U c h o a Lima 
R e g i n a l d © O s c a r d e C a s t r o 
F e r n a n d o H e n r i q u e C a r d o s o
A S N O V A S 
P R I O R I D A D E S 
D O E S T A D O 
B R A S I L E I R O
y^ o sse J a cio
a>unseif)n (fa Q ~7iJi
Z Iríê n io 199S-2001 
X ) is c u rs o s
CONSELHO FEDERAL DA 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL
o Ordem dos Advogados do Brasil 
Conselho Federal, 1998
Distribuidor: Centro de Documentação e Informação do Conselho Federal
da OAB
Setor de Autarquias Sul - Q .5 - Lote 2 - Bl. N - Sobreloja 
Brasília - DF 
CEP 7 0 0 /0 -0 0 0 
Fones: (061) 316-9631 e 316-9632 
Fax: (061) 225 -4947 
6-mail: webmaster@oab.com.br 
Tiragem: 3 .0 0 0 exemplares 
Capa e Editoração: Forum Propaganda
FICHA CATALOGRÁFICA
Lima, Ernando Uchoo
As novos prioridades do Estado brasileiro: posse da Diretoria do 
Conselho Federal da OAB, triênio 1998*2001: discursos / Ernando 
Uchoo Lima, Reginaldo Oscar de Castro, Fernando Henrique Cardoso. 
Brasília: OAB, Conselho Federal, 1998.
24 p.,il.
1. Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) • Presidente - Posse. • 3. 
Discursos. I. Castro, Reginaldo Oscar de. II. Cardosc, Fernando Henrique, 
III. Ordem dos Advogados do Brosil. Conselho Federal. IV. Título.
CDD: 341 .41504
G D I/C F -O A B /L u iz C ar los M a ro c lo
S u /n d r io
Discurso proferido Delo Doufor Ernando
Uchoo Limo, no so 
do cargo de Presic 
Conselno Federal 
Advogados do Brosi
enidade de transmissão 
ente do 
0 Ordem dos
Discurso proferido pelo Doutor 
Reginaldo Oscar de Castro, no 
cerimônia de posse no cargo de 
Presidente do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil........................................................... 9
Discurso proferido pelo Presidente da 
República, Doutor Fernando Henrique 
Cardoso, no solenidade de posse do 
Presidente do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil.......................................................... ?7
3
íntegra do discurso proferido pelo advogado Ernando 
Ucboa Lima no ato em que transmitiu a Presidência do 
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oo 
advogado Reginaldo Oscar de Castro, em 2 de Fevereiro 
de 1998, no auditório Petrônio Portella, em Brasília.
C edo aprendi a cultivar a gratidão, virtude essa que se vai tornando cada vez mais escassa nestes tempos pragmáti­cos e rudes, marcados pelo egoísmo, pela negação dos 
valores éticos, pelo desamor ao próximo, pela violência. 
Por isso. principiei meu discurso de posse na Presidência do 
Colendo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil 
agradecendo a Deus, com a alma genuflexa, a suprema ventura 
daquele momento sublime e grandioso, inapagável na minha 
memória.
E hoje. ao concluir o mandato que me foi outorgado, quero 
que cscas primeiras palavras sejam de agradeccmcnto ao Criador 
pelo ânimo e força que me deu para que pudesse cumprir a 
árdua e honrosa missão de dirigir os destinos da nossa gloriosa 
instituição com serenidade, equilíbrio, independência e altivez, 
como é exigido de um Presidente da Ordem, nesses três anos de 
intenso e diuturno labor, de inteira consagração aos superiores 
interesses da advocacia brasileira e à causa sacrossanta do 
Direito, da Justiça, da Democracia e da Liberdade.
Movido pelo mesmo sentimento, agradeço, comovido, a 
inestimável colaboração dos ilustres e leais companheiros da 
diretoria, dos eminentes Conselheiros Federais, dos preclaros 
membros honorários vitalícios, dos insignes presidentes das sec­
cionais. dos denodados e incansáveis dirigentes das Caixas de 
Assistência dos Advogados, sob a liderança esclarecida da Dra. 
Ana Maria de Farias Cavalcanti e dos competentes e dedicados 
servidores da Casa.
Por igual, devo manifestar, publicamente, meu reconheci­
mento a Regina, pela solidariedade, incentivo e participação em 
todos os momentos da dura jornada que termina nesta noite festiva.
Assim, na pessoa de minha mulher, saúdo e expresso pro­
5
funda gratidão às abnegadas e admiráveis mulheres dos valorosos 
líderes e dirigentes da OAB, pela valiosa ajuda que emprestaram 
à minha administração.
No tocante às atividades da gestào que ora finda, não 
cansarei o egrégio auditório com a citação, que seria longa e fas­
tidiosa, das inúmeras realizações da diretoria que tive a honra de 
presidir, seja no plano corporativo, seja no plano institucional, 
inclusive no campo internacional, onde a Ordem dos Advogados 
do Brasil marcou presença em reuniões e congressos acontecidos 
em países da América do Sul, nos Estados Unidos e na Europa, 
sendo de destacar o 1° Congresso Internacional de Direitos 
Humanos, em terras brasileiras, patrocinado pela nossa entidade, 
e a XXXIII Conferência da Federação Interamericana de 
Advogados, levada a efeito no Rio de Janeiro.
De outra parte, não devo nem quero ser juiz de minha atu­
ação no exercício da Presidência.
De feito, nào obstante a imensa e sincera vontade de acer­
tar, terei, talvez, à força da falibilidade humana, cometido erros.
Assim, se cumpri e como cumpri minhas atribuições de 
Presidente, cabe o julgamento à intrépida classe dos advogados.
Diz-me, contudo, a consciência - farol e bússola da minha 
vida - que fiz o quanto pude para desempenhar com exação os 
meus deveres funcionais, preservando as caras tradições de inde­
pendência e destemor da Ordem e combatendo em todas as 
trincheiras na defesa da Constituição, dos postulados democráti­
cos e dos interesses nacionais.
Sem pretender, nem de longe, antecipar-me ao veredicto a 
ser proferido, no futuro, sobre a minha gestão, parece-me, salvo 
melhor juízo, que a ascensão do eminente secretãrio-geral à 
Presidência da Ordem, em sufrágio unânime das prestigiosas 
seccionais, representa a aprovação da nossa classe no que per- 
tine à conduta da diretoria que se despede neste instante.
Com a mesma incontida emoção que experimentei ao 
assumir a Presidência, transfiro o poder administrativo e político 
da Ordem dos Advogados do Brasil a um dos mais brilhantes 
expoentes da advocacia deste País: Reginaldo Oscar de Castro.
Homem de seu tempo, sensível ao clamor das massas, 
democrata por convicção, advogado modelar, que vivência a 
cada dia os embates e as dificuldades forenses, inteligente, culto,
6
operoso, criativo, independente e destemido, tudo isso faz ante­
ver, sem receio de erro no vaticínio, que sua presidência será das 
mais profícuas de toda a história da nossa corporação.
Cumpre ressaltar, entretanto, que muito mais que essas 
acrisoladas virtudes, que elevam e dão ao nosso Presidente lugar 
de relevo no cenário jurídico do País, sobressaem, como ponto 
mais alto de sua personalidade marcante, a bondade sem osten­
tação, a retidão de caráter, a lealdade jamais desmentida, a corte­
sia espontânea, a elegância de maneiras, a sábia moderação, a 
coerência de atitudes, a honestidade de propósitos, a bra\aira 
moral com que defende suas crenças e seus ideais, invariavel­
mente a serviço do Direito e da Liberdade.
Bem de ver, portanto, que a eleição do ilustre advogado 
Reginaldo Oscar de Castro é a garantia de que a Ordem dos 
Advogados do Brasil, sempre vigilante no resguardo de nossas 
tradições jurídicas e ideais democráticos, permanecerá na van­
guarda de todas as lutas em prol da construção de uma sociedade 
pluralista, igualitária, transparente, democrática e justa.
Para isso, Vossa Excelência, ínclito Presidente, ã seme­
lhança de seus conspícuos antecessores, irá percorrer caminhos 
íngremes, cobertos de espinhos, de obstáculos e de incompreen- 
sões, mas que jamais impedirão sua marcha de bravo coman­
dante da impávida milícia dos defensores dos humildes, dos 
excluídos, dos miseráveis, por cuja libertação não cessaremos de 
lutar, os advogados e advogadas brasileiros, em consonância com 
a vocação eo destino da Ordem dos Advogados do Brasil.
Por tudo isso, sinto-me extremamente feliz e jubiloso em 
passar a Vossa Excelência, caríssimo e vero amigo Reginaldo 
Oscar de Castro, a direção da entidade que tanto amamos, hoje 
inteiramente pacificada e unida de forma inquebrantável.
Enfim, deixo a Presidência, mas não me despeço dos com­
panheiros de muitas memoráveis jornadas nem da nossa insti­
tuição, porque enquanto durar minha passagem pela Terra con­
tinuarei na dianteira de todas as suas batalhas, sinceramente con­
vencido de que servir a OAB significa servir o Brasil.
Muito obrigado.
7
Integra do discurso proferido pelo advogado 
Reginaldo Oscar de Casfro, na cerimônia de posse no 
cargo de Presidente da Ordem dos Advogados do 
Brasil, em 2 de Fevereiro de 1998, no auditório 
Petrônio Portella, em Brasília.
F raternos amigos, que ao longo dos anos me têm conce­dido o privilégio da convivência, senhoras e senhores que nos honram com sua presença: a todos, a nova dire­
toria da OAB agradece pelo comparecimento a este ato 
solene de posse, atençào que recebemos como um tributo à insti­
tuição que tem atuado permanentemente na defesa do Estado 
democrático de direito.
A Ordem dos Advogados do Brasil, ao longo de sua 
história, pela segunda vez recebe o Excelentíssimo Senhor 
Presidente da República em solenidade de posse de sua 
diretoria.
Na primeira, em 1956, quando da posse de Nehemias 
Gueiros, sucessor de Seabra Fagundes, registram nossos anais a 
presença ilustríssima do saudoso Presidente Juscelino 
Kubitschek.
Hoje, honra-nos o Presidente Fernando Henrique Cardoso 
com seu comparecimento, atribuindo significativa distinção a esta 
solenidade.
Recebemos a presença de Sua Excelência como home­
nagem aos advogados brasileiros. Representando-os consigno, 
honrado, nossos agradecimentos.
As diversas correntes de opinião representadas nesta 
solenidade, a par de refletir anseio por cidadania e justiça, 
reforçam-nos a convicção de que a representatividade social e 
políticâ da Ordem dos Advogados do Brasil jamais poderá se aco­
modar em suas fronteiras de entidade corporativa. É a certeza de 
que, embora ultrapassada a gloriosa fase de luta dos anos de 
chumbo, continuamos depositários da esperança de que a nossa 
bandeira estará sempre na linha de frente dos embates - por
9
certo intermináveis - pelo aprimoramento da democracia e pela 
intransigente defesa dos direitos humanos.
Não estamos isolados nessa caminiiada. Crescem visivel­
mente o desconforto e a angústia da opinião pública, ante a 
lentidão do Estado no atendimento dos direitos básicos da maior 
parte da populaçào brasileira. São cada vez mais freqüentes as 
críticas da mídia. A banalização da violência, a grave deficiência 
do sistema de saúde e o ambiente de impunidade induzem, em 
todas as camadas da sociedade civil, à idéia de que o Estado de 
Direito é uma preocupação secundária do Poder Público.
Desrespeito ao meio ambiente, carência habitacional, refor­
ma agrária e desemprego são outras insatisfações em debate no 
cotidiano brasileiro, ao lado de temas como aborto, doação pre­
sumida de órgãos e, agora, o novo Código de Trânsito.
Alegra-me perceber que os brasileiros já discutem com 
mais freqüência as questões que lhes afetam a vida, que lhes 
confrontam as crenças - e isso é altamente positivo. É um claro 
sinal de que cessaram a letargia e o conformismo em que se aco­
modava a sociedade civil. Tudo indica, afinal, que o cidadão 
brasileiro se conscientiza de sua força como instrumento legítimo 
e jurídico, para reivindicar seus direitos ante os Poderes da 
República.
Em recente entrevista à televisão, o sociólogo Alain 
Tourraine observou que o Brasil responde, ainda hoje, pelo 
equívoco de ter-se estruturado em Estado sem antes construir 
uma sociedade política, despida das amarras impostas pela corte, 
pelos fazendeiros, mercadores de escravos e pelos comerciantes, 
ou seja, as classes dominantes da época. O tempo substituiu 
alguns desses atores, mas os remanescentes do poder de fato 
ainda influem na condução política do País, com graves dis­
torções do sistema democrático.
Nessa inversão, o eminente sociólogo identifica uma das 
fontes dos males sociais que afligem o País.
Nesse contexto preocupa-nos o instituto da medida pro­
visória, Por sua natureza perturbadora do princípio da separação 
de poderes, está agora sob o foco de crescentes restrições, inclu­
sive no país onde foi concebido. Adverte o sr. presidente do 
Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello, em voto
10
recentemente proferido (ADIN N° 1.687-0), que a Corte 
Constitucional da Itália já registra reação limitativa de seu uso. 
Afirma S. Exa. “que é o Parlamento, no regime da separação de 
poderes, o único órgão estatal investido de legitimidade constitu­
cional para elaborar, democraticamente, as leis do Estado'%
A adoção de instrumentos constitucionais semelhantes 
durante toda a nossa vida republicana, nunca absorvidos pelos 
defensores da democracia, justifica a análise de Tourraine quan­
to às distorções de origem de nosso sistema político.
Nào obstante as imperfeições que aponta, o sociólogo, que 
tão bem conhece o Brasil, manifesta a esperança de que, doma­
da a inflação, com reconhecidas melhorias do padrão alimentar 
da população menos assistida, a etapa seguinte do governo de­
verá ser a construção do novo arcabouço político, do qual se 
espera resulte a paz social, anseio maior da Nação
Também nós advogados nutrimos a mesma esperança de 
que o Governo terá maior empenho em resgatar a dignidade do 
povo brasileiro.
Mas a Ordem dos Advogados do Brasil não ficará inerte 
nesse tempo de espera. Estamos e continuaremos a postos para 
contribuir na reversão do presente quadro de desigualdades,
O espírito de solidariedade que devemos cultivar e estimu­
lar nào pode se conformar com o desatendimento de carências 
sociais básicas, que exigem providências imediatas.
Apesar de terem melhorado nos últimos anos, continuam 
nos envergonhando os indicadores sociais brasileiros, que nos 
colocam ao lado ou abaixo de nações menos desenvolvidas. 
Tampouco podemos nos conformar com recente relatório da 
ONU, que revela uma queda brutal da idade média dos pre­
sidiários no País. O documento revela lambém que, nos últimos 
quatro anos, aumentou em mais de 20% o número de detentos 
cuja idade varia de 18 a 24 anos.
No Estado do Paraná, a OAB acaba de concluir levanta­
mento que aponta a existência de 1.217 detentos com as respec­
tivas penas de reclusão cumpridas, e que continuam presos.
A presença das mais expressivas lideranças da Nação neste 
ato solene, que acolhemos como homenagem e apoio à nossa 
luta em defesa da cidadania, nos encoraja a anunciar que a nova
diretoria do Conselho Federal dará, imediatamente, início a 
entendimentos com entidades afins, com vistas à elaboração con­
junta de uma agenda mínima a ser submetida às autoridades 
competentes. Temos em mente que essa iniciativa há de ser trans­
parente, plural, para que resulte em projeto objetivo e exeqüível.
Cumpre-me também anunciar que a nova diretoria dará 
prosseguimento ao diálogo com a Magistratura, o Ministério 
Público e membros do Congresso Nacional, com vistas a uma 
profunda reestruturação do Poder Judiciário. È de fundamental 
importância que os trabalhos a serem desenvolvidos contem com 
a presença de todos os que estão preocupados com a crítica situ­
ação do Judiciário.
Sobre a lentidão da Justiça, não se deve esquecer que uma 
de suas causas e o arcaico sistema processual brasileiro, cuja 
modernização faz-se imperativa. Tampouco é de se desprezar o 
uso abusivo dos ecursos processuais, com o objetivo de retardar 
a solução dos litígios. Evitar tal conduta é dever ético dos advo­
gados, que sobre isso devem refletir.
Entende a OAB que muitopode ser feito, de imediato, com 
a implementação de providências que independem de mudanças 
constitucionais; é claro, contudo, que a reestruturação profunda 
que se almeja só poderá ser alcançada por emenda ã 
Constituição.
A Ordem dos Advogados do Brasil sustenta a necessidade 
da criação de um Conselho Administrativo da Magistratura, em 
condições de ser assimilado pelo nosso sistema constitucional, de 
modo que suas decisões não conflitem com o ato jurisdicional 
puro, nem aspirem a sobre este ter precedência.
É salutar que se diga que o controle disciplinar da magis­
tratura, uma das finalidades desse Conselho, não pode ser visto 
como panacéia para os males do judiciário. É uma iniciativa 
importantíssima ã sua modernização administrativa. Não é, 
decerto, a única.
O desafio não é pequeno: temos de pensar na funcionali­
dade dessa estrutura, enxugá-la, conferir-lhe padrão de qualidade 
adequado, tendo em vista a democratização e a rápida dis­
tribuição da justiça.
Os advogados brasileiros estão certos de que a reforma do
12
Judiciário é inadiável e deverá ter prioridade na agenda política 
do País. Apesar disso, o tema ainda não foi suficientemente 
examinado e debatido pela sociedade civil.
Nós, que conhecemos o Judiciário, temos o dever de 
traduzir para a compreensão leiga todo o emaranhado de dificul­
dades e desafios que o afligem. Ouvindo a sociedade, registran­
do suas demandas, torna-se mais fácil, mais seguro e mais legíti­
mo decidir as mudanças que precisam ser feitas.
A OAB não tem a pretensão de substituir partidos políticos 
ou qualquer das instituições do poder político. Tampouco se 
ilude com o sonho ingênuo de que possa ver eliminadas, a curto 
ou médio prazo, todas as perversidades que sufocam a expressi­
va maioria dos brasileiros.
Nosso objetivo é acelerar, à toda força, a construção da 
democracia, para que se reduza a distância entre o presente de 
desigualdades e o futuro dc justiça social, almejado há mais de 
um século, desde a primeira Constituição republicana.
Somos a única entidade corporativa que, por dever legal, 
nào se ocupa apena.s dos interesses dos filiados.
Atribuiu-nos a vontade soberana do povo brasileiro o 
dever de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado 
democrático dc direito, os direitos humanos, a justiça social, E 
mais; pugnar pela boa aplicação das leis. pela rápida adminis­
tração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das insti­
tuições jurídicas. São estas as primeiras finalidades arroladas em 
nosso Estatuto.
Oportuno assinalar que, no cumprimento e obediência a 
esie relevantíssimo dever legal, somos, não raras vezes, taxados 
de corporativistas. Ocorre, porém, que só seremos indispensáveis 
à sociedade à medida que formos capazes de dar expressão às 
suas insatisfações, nas áreas que nos compete defendê-la. A capi­
laridade da estrutura federativa da Ordem dos Advogados do 
Brasil nos legitima a tanto, pois, mesmo nos mais recônditos 
municípios brasileiros, há um advogado.
A amplitude da nossa atuação no quadro preocupante em 
que vivemos exige - e o legislador nos outorgou - prerrogativas 
indispensáveis ao livre exercício profissional. Os que insistem em 
conceituá-las como meros privilégios esquecem-se de que essas
13
prerrogativas se destinam, exclusivamente, à preservação dos 
interesses individuais ou coletivos, defendidos pelos advogados, 
não à proteção de seus interesses pessoais.
Defenderemos com rigor nosso Estatuto, forte no manda­
mento constitucional contido no art. 133 de nossa Carta Política, 
que nos faz indispensáveis à administração da justiça. Realizar a 
justiça é preservar a liberdade, razão última pela qual os homens 
se reúnem e constituem o Estado.
Somos conscientes da dimensão de nossas finalidades. 
Continuaremos a caminhar com o firme propósito de interpretar e 
vivificar os anseios da sociedade, civil, mantendo em permanente 
movimento essa obra, sempre inacabada, que é a democracia.
O que nos tranqüiliza é que somos reconhecidos como 
espaço plural, avesso a sectarismos, o que não significa passivi­
dade em relação aos desafios político-institucionais do País. A 
nossos olhos, o Brasil, nesta quadra de sua trajetória, decide o 
futuro que teremos nas próximas décadas.
Senhoras e senhores-, em nome da Ordem dos Advogados 
do Brasil, registro que sou profundamente grato pelo privilégio 
de recebê-los nesta solenidade. A todos reitero que as portas da 
Casa do Advogado estarão sempre abertas. Comungando dos 
mesmos ideais, poderemos, juntos, trabalhar pela consolidação 
da democracia e pela prosperidade do Brasil.
Ao assumir a presidência nacional da OAB, desejo prestar 
justa homenagem aos diretores que ora concluem os seus 
mandatos. Homenageio especialmente o presidente Ernando Uchoa 
Lima, um cidadão extraordinário. À sua serenidade e diligência 
atribuo o apoio maciço dos advogados ã bandeira Cidadania e 
Justiça, traduzido na unanimidade dos votos que nos elegeram. Foi 
com emoção que acabei de ouvir suas generosas referências à 
minha pessoa. A ele, no entanto, credito a união dos advogados 
brasileiros em torno dos objetivos maiores da instituição.
Consigno, na pessoa do Presidente do Senado Federal, 
meus agradecimentos a esta Casa pela gentileza da cessão deste 
auditório, que tem como patrono o saudoso Senador Petrônio 
Portella, personalidade que muito contribuiu para o êxito dos 
esforços da OAB pela redemocratizaçào do País. Ao realizar aqui 
esta solenidade, pretendemos simbolizar o propósito de estreitar
14
nossas tradicionais relações com o Congresso Nacional. A Ordem 
dos Advogados do Brasil deseja ampliar a participação dos advo­
gados na discussão dos grandes temas nacionais.
Encerro pedindo-lhes licença para render um tributo pes­
soal ao advogado Sebastião Oscar de Castro, meu pai. Advogado 
independente, de acendrado espírito ético, orientou-me na vida 
e habilitou-me a assumir, com inexcedível honra, a Presidência 
Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil.
Obrigado a todos, e sejam sempre bem-vindos à Casa do 
Advogado.
15
Integra do discurso p ro fe r ido pe lo Senhor 
Presidente da República, Doutor Fernando 
Henrique Cardoso, na so len idade de posse do 
Presidente do Conselho Federal da Ordem dos 
Advogados do Brasil, em 2 de Fevereiro de 1998, 
no auditório Petrônio Portella, em Brasília.
E uma especial alegria esiar presente a esta cerimônia de transmissão da Presidência da Ordem dos Advogados do Brasil, do D r. Ernando Uchoa Lima ao Dr.
Reginaldo Oscar de Castro, Esse sentimento encontra 
raízes tanto no respeito à entidade como na minha admiração 
pessoa] por aquele que dirigirá os seus destinos nos próximos 
anos.
Desde 1956, quando juscelino Kubitschek de Oliveira par­
ticipou de cerimônia semelhante, um Presidente da República 
nào vinha a esta Casa - que é a Casa dos Advogados e que eu 
prezo muito e considero, também, como a minha casa, como 
senador que fui. Repilo hoje aquele gesto com a natural afeição 
que um democrata há de ter por esta casa do direito, da liber­
dade e da justiça.
Conheço bem Reginaldo Oscar de Castro. Conheço sua 
postura ética e seu compromisso com o País. Sua experiência 
como Secretário-Geral da OAB, desde 1995, e o apoio unânime 
que recebeu das secçòes dc todo o País, tenho certeza, assegu­
rarão uma gestão profícua e eficaz à frente desta entidade tão re­
levante para os brasileiros e que foi tão bem dirigida até agora 
pelo Dr. Ernando Uchoa Lima.
A Ordem dos Advogados do Brasil - sobra dizer, mas con­
vém repelir - sempre esteve ao lado de boas causas. Já no 
Império, o órgão que a antecedeu, o Instituto da Ordem dos 
Advogados do Brasil, que foi criado em 7 de agosto de 1843. por
17
Francisco Acaiaba de Montesuma, o Visconde de Jequitinhonha, 
contribuíra para as diversas etapas da lutacontra a escravidão, 
desde a lei chamada Euzébio de Queiroz, de 1850, que reprimiu 
o tráfico, até a Lei Áurea, de 1888. E desde a sua criação na forma 
atual, como Ordem dos Advogados do Brasil, em 18 de novem­
bro de 1930, a OAB esteve à frente dos principais momentos da 
história do País, sempre na defesa das liberdades fundamentais e 
dos direitos da pessoa humana.
Foi assim no Estado Novo e durante o período militar. Foi 
assim cada vez que o poder perdeu legitimidade, ao afastar-se 
dos seus compromissos com a Nação.
Nos momentos em que a força do Estado deixava de servir 
à cidadania, de onde emana, e passava a ameaçá-la em seus di­
reitos, fez-se evidente a necessidade de estruturas da sociedade 
civil que pudessem dar proteção a indivíduos e grupos sociais em 
perigo.
Essas estruturas, felizmente, apareceram, mesmo nos piores 
momentos da nossa História recente, ao contrário do que se ve­
rificou em outras experiências autoritárias e totalitárias. Essa 
capacidade de resistência das instituições da sociedade civil 
explica por que a reconstrução democrática foi mais fluída entre 
nós do que em outras paragens.
Além do Congresso, que, com as restrições conhecidas, 
permaneceu em funcionamento durante o regime militar, foram 
instituições essenciais naquele momento, pelo lado da sociedade 
civil, a imprensa, a Igreja, o movimento sindical e a OAB.
A Ordem fez do direito a sua arma no questionamento 
constante do arbítrio e na luta pelos direitos dos cidadãos. A 
Constituição de 1988 reconheceu esse papel crucial da OAB. em 
seu artigo 103, inciso VII, ao incluí-la como uma das poucas 
instâncias da sociedade civil que pode propor a ação direta de 
inconstitucionalidade. O relator da Constituinte, senador 
Bernardo Cabral, ex-presidente da Ordem, participou ativamente 
dessa decisão. Como Senador e adjunto da relatoria da 
Constituinte, eu também empenhei-me nessa direção.
18
A Ordem dos Advogados é protagonista da reconstrução da 
democracia e do Estado de Direito em nosso País. De agora em 
diante, terá um papel primordial na construção de um Brasil eco­
nomicamente mais próspero e, como já foi dito pelo seu novo 
presidente, um Brasil socialmente mais justo, o que é aspiração 
de todos nós. Será particularmente ativa com respeito aos direitos 
humanos, que constituem um valor essencial para a sociedade 
brasileira.
A nova diretoria da OAB tem um mandato que vai de agora 
até 2001, Acompanhará, portanto, o Brasil na entrada do Terceiro 
Milênio. Na era da globalização, o papel do advogado e do 
Direito será ainda mais central, abrangente e instigante. No caso 
brasileiro, caberá aos advogados enfrentar os múltiplos desafios 
resultantes da crescente inserção internacional do País e das 
novas formas de supervisão do Estado - através das agências re­
guladoras -, enfim, todos os desafios que estamos vivendo e que 
nos obrigam a prepararmo-nos para que, nesta nova etapa do 
mundo e do Brasil, possamos continuar fiéis servidores dos 
princípios fundamentais do Direito e do respeito ao homem e, 
portanto, aos seus direitos.
Nessa nova fase, transformam-se as relações entre o inter­
no e o externo, o público e o privado, o governamental e o não- 
governamental. Caberá aos advogados estar preparados para 
lidar com essa mudança acelerada. Como já mencionado, há 
pouco, pelo Dr. Reginaldo Oscar de Castro, um ilustre sociólogo, 
essas modificações imensas que nos desafiam, implicam, na ver­
dade, uma espécie de revolução "copernicana" na nossa per­
cepção da realidade, Não se pode mais imaginar, como no pas­
sado, que seja possível simplesmente olhar para o Estado, por um 
lado. e para a sociedade, pelo outro, como se não houvesse algu­
ma interação possível, como se não houvesse um espaço públi­
co não-estatal, no qual se manifestam formas de organização que 
não pertencem propriamente à ordem do Estado, mas que 
envolvem decisões que têm alcance público. Por outro lado. estas 
são formas de organização que não estão puramente no plano da
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sociedade civil e que. portanto, nào se organizam apenas em ter­
mos dos interesses específicos de um ou de outro grupo - inde­
pendentemente da legitimidade ou caráter corporativo desses 
interesses mas refletem a criação de formas de sociabilidade, 
para as quais se fazem necessárias, também, outras formas de 
instituição, inclusive jurídicas, que possam regulamentar essa 
nova maneira pela qual, no mundo contemporâneo, se dão as 
relações entre o poder e a cidadania, entre o mercado e o Estado, 
entre o mercado e a sociedade, e assim por diante.
Toda essa construção dependerá, crescentemente, à medi­
da em que sejamos, como somos, cultores do Estado de Direito, 
de uma participação crescente dos advogados, dos tribunais, da 
ordem jurídica, que têm um caminho imenso a percorrer na refor­
mulação de toda essa vida nova que está surgindo no nosso País.
Paralelamente, o espaço conquistado pelas diversas organi­
zações da sociedade civil, na promoção dos direitos humanos e 
da justiça social, permitirá aos advogados e ã sua entidade re­
presentativa renovar seus compromissos de advogar pela 
sociedade e pelos mais fracos. Como disse o novo presidente 
desta Casa, em obra recente, após a vitoriosa campanha pela 
redemocratização, instituições da vanguarda da sociedade civil 
como a OAB, viveram uma certa perplexidade. Cito-o; "As ban­
deiras institucionais - liberdade de expressão, direitos civis e 
políticos, redemocratização do país - já foram conquistadas. A 
questão hoje nào é mais de natureza institucional. É de ordem 
prática. Os direitos conquistados e formalmente reconhecidos 
precisam ser exercitados". É o que ele chama, com propriedade, 
de "varejo” da cidadania.
Esta é uma área em que o Governo e a sociedade civil têm 
atuado juntos - e devem fazê-lo cada vez mais -, através de parce­
rias, com vistas a chegar ao pequeno, a transformar a letra da lei 
em direito efetivamente exercido. É uma parceria dessa natureza, 
que não pretende omitir as diferenças naturais em qualquer diá­
logo genuíno, que ofereço à Ordem dos Advogados do Brasil.
Quanto mais se fragmenta e se descentraliza o poder do
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Estado, devolvido à sociedade civil, às suas entidades e aos 
cidadãos, maiores são as responsabilidades dos advogados e 
maior, também, é a carga para o Poder Judiciário. Este é um pro­
blema crucial que devemos enfrentar juntos. Uma justiça lenta ou 
de difícil acesso é muitas vezes percebida pela sociedade - e com 
razão - como injusta. Por isso, é necessário buscar os meios para 
desafogar o Judiciário. É de amplo conhecimento a sobrecarga de 
trabalho a que está submetido o Poder Judiciário. Tal sobrecarga 
tem importado em prejuízos à celeridade e à efetividade da 
prestação jurisdicional, verificando-se uma crônica incapacidade 
material das corres superiores de enfrentar a verdadeira "enxur­
rada" de recursos que lhes são submetidos à apreciação.
Nos Estados Unidos - e repito aqui o que ouvi dos mestres 
do Supremo Tribunal Federal - chegam à Suprema Corte cerca de 
4 mil processos, dos quais apenas 5% sào julgados. Na Alemanha, 
onde 7 mil dão entrada, para serem apreciados apenas 2%. Não 
obstante, nesses dois países fala-se em crises dessas cortes, diante 
do elevado número de recursos. Comparando com o que ocorre 
entre nós, basta dizer que no Supremo Tribunal Federal, no ano 
passado, houve o enxugamento de mais de 40 mil processos, 
restando outros 96 mil para apreciação, o que só é compreensí­
vel se lembrarmos que mais de 80% dos julgamentos sào estrita­
mente uma repetiçào de julgamentos anteriores.
Não é diferente a situação do Tribunal Superior de Justiça, 
onde. dos 3-711 processos julgados em 1989, quando da sua 
instalação, chegou ao ano de 1997. até o mês de novembro, ã 
cifra recorde de 94.140 processos julgados, alcançando quase 100 
mil em dezembro. Oano de 1998 já começa com um estoque dc 
40 mil processos. É necessário, portanto, alcançar um novo 
cenário, onde as cortes superiores possam, efetivamente, desem­
penhar sua função precípua de conformadoras do ordenamento 
jurídico, à luz da Constituição, dando-se realce aos seus pronun­
ciamentos e evitando-se a proliferação de meios de recursos que 
apenas perenizam as demandas e consomem inutilmente os 
esforços da magistratura nacional.
Atento a esta realidade, o Governo tem promovido
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inúmeras medidas, com o objetivo de evitar o ajuizamento, a 
reprodução de causas e a interposição de recursos que pro­
movam uma inútil e injusta sobrecarga ao Judiciário. Refiro-me à 
ação que eu posso ter, como Presidente, para evitar que conti­
nue a verificar-se essa pletora de causas originadas dentro do 
Executivo e que já se sabe, de antemão, que serão recusadas, 
porque já foram objeto de decisões. Temos feito o esforço e eu 
próprio já adotei mais de uma medida com o objetivo de reduzir 
esta carga. Nào se pode, portanto, ignorar que há um esforço 
nessa direção. A nova orientação, além de atender a aspectos 
práticos e a critérios de economicidade, traduz uma significativa 
evolução no relacionamento entre os poderes constituídos da 
República e desses com a cidadania.
Fico satisfeito de ouvir que a OAB, como afirmou há pouco 
seu novo presidente, pretende trabalhar ainda mais estreitamente 
com o Congresso Nacional. Espero que o faça também com o 
Executivo. Nào no sentido de que possamos impor uns aos ou­
tros uma ordem institucional ou um ponto de vista, mas no sen­
tido de verificar quais são as convergências para os objetivos 
comuns que impliquem em uma maior economicidade, pratici- 
dade e eficácia das instituições da justiça.
Nào quero, neste momento, entrar em discussões mais difí­
ceis. Como sabem os senhores, existem no Congresso Nacional 
discussões sobre a atribuição de efeito vinculante às súmulas do 
Supremo Tribunal Federal. Sei de opiniões divergentes, 
respeitáveis. Não sào matérias de fácil solução, nem se poderia 
imaginar que uma matéria dessa natureza pudesse ser objeto de 
pressão de algumas das partes, porque nào seria cabível.
Nào quero deixar de comentar a alusão que aqui foi feita 
às medidas provisórias. Sabem os senhores que o Senado Federal 
já aprovou uma nova regulamentação dessas medidas. Na con­
vocação extraordinária do Congresso, incluí essa matéria no texto 
relativo à Câmara dos Deputados. O que temos aqui, portanto, 
uma vez mais, é um processo de convergência. É necessário que 
se chegue a alguma definição por parte do Congresso, porque.
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enquanto isso não ocorrer, o Executivo estará obviamente cingi- 
do àquilo que estipulado na Constituição e estará cumprindo as 
suas funções da mellior maneira possível, tratando de reduzir o 
quanto possível o número de medidas provisórias.
Quero reiterar que o Congresso Nacional está discutindo 
essa matéria e que ela nào encontra objeçào por parte do Poder 
Executivo. Ao contrário, achamos que também nisso é preciso 
chegar a uma convergência.
Vê-se, por todas essas considerações, que existe uma pre­
ocupação comum, nessa nova etapa de democracia em que vive­
mos, no sentido de avançar da forma mais célere possível na 
redefinição da ordem jurídica e dos modos pelos quais os vários 
níveis de poder devem convergir para que se concretize o que a 
Constituição estabelece: que os poderes sejam independentes, 
mas harmônicos, e que dessa independência resulte um diálogo 
permanente e nào uma imposição de qualquer um deles sobre os 
outros.
Antes de concluir, desejo reiterar que a minha visita hoje ã 
OAB é mais do que um ato protocolar. É a confirmação do meu 
respeito pela instituição, pela diretoria que encerra seu mandato, 
tendo à frente o presidente Ernando Uchoa Lima, e pela nova 
diretoria, representada pelo presidente Reginaldo Oscar de 
Castro. É a reafirmação da importância de um diálogo direto 
entre o Presidente da República e a entidade que reúne cerca de 
400 mil advogados brasileiros, e de que esse diálogo se faça em 
benefício do Brasil.
Acredito, como já escreveu o novo presidente da OAB, que 
o verdadeiro ambiente democrático é aquele em que o diálogo, 
desde que elevado, não tem limites, devendo prevalecer sempre 
a opinião dos que convencem, daqueles que, pela excelência dos 
argumentos, conseguem convencer os seus contrários. Acredito, 
como já dizia Immanuel Kant - assim como outros filósofos con- 
tratualistas -. que a toda sociedade subjaz um contrato social, não 
como falo histórico, mas como idéia da razão, cuja realidade con­
siste em obrigar cada legislador a fazer leis como se estas pre­
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cisassem derivar da vontade comum de todo o povo e em con­
siderar cada indivíduo, uma vez que quer ser cidadão, como se 
tivesse dado o seu consenso a uma tal vontade.
Cabe a esta Casa, em nome da sociedade civil, velar para 
que assim seja.
Muito obrigado.
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