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Brasil Século XXI- o direito na era da globalização- Mercosul, Alca e União Europeia

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Brasil Século XXI
O Direito na Em da Globalização 
Mercosul, Alca e União Européia
REALIZAÇÃO 
CONSELHO FEDERAL
Rubens A p p ro b a te M achado 
Presidente
S E M IN Á R IO
Brasil Século X X I
O Direito na Era da Globalização 
Mercosuly Alca e União Européia
PALESTRAS
DIRETORIA
Rubens Approbato M achado : Presidente
Roberto Antonio Busato : Vice-Presidente
Gilberto Gomes : Secretário-Geral
Sérgio Alberto Frazão do Couto : Secretário-Geral Adjunto
Esdras Dantas de Souza : Diretor-Tesoureiro
MEMBROS HONORÁRIOS VITALÍCIOS;
Alberto Barreto de Melo, Laudo de Almeida Camargo, José Cavalcanti Neves, Caio Mário da Silva 
Pereira, Raymundo Faoro, Eduardo Seabra Fagundes, J, Bernardo C ^ ra l , Mário Sérgio Duarte 
Garcia, Hermann Assis Baeta, Márcio Thomaz Bastos, Ophir Filgueiras Cavalcante, Marcello 
Lavenère Machado, José Roberto Batochio, Emando Uchoa Lima e Reginaldo Oscar de Castro.
CONSELHEIROS FEDERAIS
AC: Marcelo Lavocat Galvão, Roberto Rosas, Sergio Ferraz; AL: Adilson Cavalcante de Souza, 
Antonio Nabor Areias Bulhões, Marcos Bemardes de Mello; AM: Eloi Pinto de Andrade, José 
Alfredo Ferreira de Andrade, Ornara Oliveira de Gusmão; AP: Guaracy da Silva Freitas, Paulo Alberto 
dos Santos, Sebastião Cristovam Fortes Magalhães; BA: Gilberto Gomes, Joselito Barreto de Abreu, 
Marcelo Cintra Zarif; CE: José Feliciano de Carvalho Júnior, Marcos Antonio Paiva Colares, Rosa 
Júlia Piá Coêlho; DF: Esdras Dantas de Souza, José Cruz Macedo, Marcelo Henriques Ribeiro de 
Oliveira; ES: Antonio José Ferreira Abikair, ímero Devens, Luiz Antonio de Souza Basilio; GO: Ana 
Maria Morais, José Porfírio Teles, Waldemar Pereira Júnior; MA: Carlos Sebastião Silva Nina, José 
Brito de Souza, José Carlos Sousa Silva; MG: João Otávio de Noronha, José Murilo Procópio de 
Carvalho, Paulo Roberto de Gouvêa Medina; MS: Afeife Mohamad Hajj, Evandro Paes Barbosa, 
José Sebastião Espíndola; MT: Henrique Augusto Vieira, Renato Cesar Vianna Gomes, Roberto Dias 
de Campos; PA: Clovis Cunha da Gama Malcher Filho, Maria Avelina Imbiriba Hesketh, Sérgio 
Alberto Frazão do Couto: PB: Delosmar Domingos de Mendonça Junior, José Araújo Agra, José 
Edisio Simões Souto; PE: Aluísio José de Vasconcelos Xavier, Júlio Alcino de Oliveira Neto, Maurício 
Rands Coelho Barros; PI: Fides Angélica de Castro Veiloso Mendes O m m ati, João Pedro Ayrimoraes 
Soares, Roberto Gonçalves de Freitas Filho; PR: Alberto de Paula Machado, Edgard Luiz Cavalcanti 
de Albuquerque, Roberto Antonio Busato; RJ: Alfredo Bumachar, Orquinézio de Oliveira, Oscar 
Argollo; RN: Emmanoel Pereira, Heriberto Escolástico Bezerra, Paulo Lopo Saraiva; RO: Gilberto 
Piselo do Nascimento, Ney Luiz de Freitas Leal, Odair Martini; RR: Ednaldo do Nascimento Silva, 
Helder Figueiredo Pereira, Jorge da Silva Fraxe; RS: Gabriel Pauli Fadei, Nereu Lima, Reginald 
Delmar Hintz Felker; SC: Ferdinando Damo, Jefferson Luis Kravchychyn, Marcus Antonio Luiz da 
Silva; SE: Clovis Barbosa de Melo, Edson Ulisses de Melo, Raimundo Cezar Britto Aragao; SP: 
Marcelo Guimarães da Rocha e Silva, Michel Elias Zamari, Rosana Chiavassa; TO: Ercilio Bezerra de 
Castro Filho, Ivair Martins dos Santos Diniz, Sady Antonio Boessio Pigatto.
Comissão de Relações Internacionais (2001-2004): Reginaldo Oscar de Castro (Presidente), 
Emmanoel Pereira (Vice-Presidente), Membros Efetivos: Alfredo de Assis Gonçalves Neto, Horácio 
Bemardes Neto, José Martins Pinheiro, Paulo Lins e Silva. Membros Consultores: Aluísio José 
Vasconcelos de Xavier, Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Aristóteles Atheniense, Dourimar 
Nunes de Moura, Isabel Franco, Luiz Carlos Stuzenegger e Vera Helena de Moraes Dantas.
Colaboração: Paola Barreiros Barbieri (Assistente Técnica).
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL 
CONSELHO FEDERAL
S E M I N Á R I O
Brasil Século X X I
O Direito na Era da Globalização 
Mercosul,Alca e União Européia
PALESTRAS
Brasília, 24 de outubro de 2001 
Sede do Conselho Federal da OAB
Brasília - DF, 2002
© Ordem dos Advogados do Brasil 
Conselho Federal, 2002
Distribuição: Gerência de Documentação e Informação
Setor de Autarquias Sul - Q. 5 - Lote 1 - Bl. M - 7® andar 
Brasília - DF 
CEP 70070-939
Fones; (61) 316-9631 e 316-9605 
Fax: (61) 316-9632
e-mail: gdi@oab.org.br
Tiragem: 3.000 exemplares 
Editoração: Sapiens Comunicação 
Capa: Susele Bezerra Miranda
Organização: Luiz Carlos Maroclo
Seminário Brasil Século XXI (2001 : Brasília, DF)
O Direito na era da globalização : Mercosul, Alca e União 
Européia : Palestras. Brasília : OAB, Conselho Federal, 2002. 
192 p.
ISBN 85-87260-20-0
1. Globalização da Economia - Direito - Brasil. I. Ordem 
dos Advogados do Brasil. Conselho Federal. II.. Título.
CDD: 338.94 
OAB-CF/GDI/Luiz Carlos Maroclo
SUMARIO
NOTAS INTRODUTÓRIAS
Apresentação........................................................................................... 9
Rubens Approbato Machado
M ensagem...............................................................................................13
Reginaldo Oscar de Castro
The Challenges, Opportunities and Risks of Globalization 15
Antonio Carlos Rodrigues do Amaral
SEMINÁRIO
Brasií Século X X I
O Direito na Era da Globalização - Mercosuí, Alca e União Européia 
PALAVRAS INICIAIS
Antonio Carlos Rodrigues do Amaral.................................................21
ABERTURA
Rubens Approbato Machado................................................................ 23
CONFERÊNCIA INAUGURAL
O Brasil no Século XXI:
Desafios, Oportunidades e Riscos da Globalização.........................29
Fernando Henrique Cardoso
PAINÉIS
A Integração de Mercados e o Poder Judiciário............................ 47
Roberto Rosas 
Reginaldo Oscar de Castro 
Joaquim de Arruda Falcão Neto 
Carlos Mário da Silva Velloso
Aspectos Econômicos e Sociais da Integração de M ercados 85
Rubens Approbato Machado 
Francisco Oswaldo Neves Domelles 
Sérgio Silva do Amaral 
Pedro Videla
A Integração de Mercados e as Questões Tributárias. 
Repercussões Sociais...........................................................................107
Antonio Carlos Rodrigues do Amaral 
Leonardo de Andrade Costa 
Ives Gandra da Silva Martins 
Everardo Maciel 
Maria Cristina Irigoyen Peduzzi
Integração de Mercados e a Concorrência Internacional.............151
Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira 
Nuno de Azevedo Ruiz 
João Grandino Rodas 
Cristovam Buarque
ENCERRAMENTO
Reginaldo Oscar de Castro...................................................................187
PROGRAMA 189
NOTAS
INTRODUTÓRIAS
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e U nião Européia
APRESENTAÇÃO
A edição desta obra é fruto de uma perturbadora questão que motivou 
a decisão da Ordem dos Advogados do Brasil em organizar o Seminário 
“Brasil Século XXI: o Direito na era da globalização - Mercosul, Alca e 
União Européia: a globalização hegemônica em curso, afetando processos 
econômicos, sociais, políticos e culturais das sociedades nacionais, tem sido 
ou não perniciosa aos valores da promoção humana e do ideal da cidadania? 
A globalização, bem o sabemos, é um fenômeno irreversível, mas as 
maneiras como se processa, os modos como afeta a qualidade de vida de 
milhões de habitantes do Planeta, as conseqüências que gera sobre o plano 
institucional das Nações, particularmente o de países periféricos e em lento 
estágio de desenvolvim ento, hão de ser exaustiva e rigorosam ente 
examinadas, até para se encontrar balizamentos capazes de diminuir os 
efeitos nocivos da interpendência e interpenetração dos sistemas econômicos 
mundiais.
O ponto central da crítica que se faz à globalização relaciona-se ao 
caráter utilitarista do fenômeno, que atende ao poder hegemônico dos 
interesses dos grandes empreendimentos econômicos, incrustadosnos países 
centrais e nas economias emergentes de alto teor financeiro, cuja inspiração 
se volta fundamentalmente para o lucro. Em decorrência, surge um super-
9
SEMINÁRIO - B ra s ií Sécuío X X I
poder emissor, que parte do topo da pirâmide social, invertendo o sentido de 
uma globalização de amplas nuances sociais e privilegiando parcelas mínimas da 
sociedade. Não por acaso, tenho recorrido ao bordão de que “nào nos 
globalizamos, fomos globalizados''.
Os efeitos dessa tendência já começam a se manifestar no plano das 
coletividades, que não sentem melhorias acentuadas em suas vidas, 
observando-se que algumas sociedades até vêem agravados os desajustes e 
as disparidades entre as classes, observados principalmente pelas taxas de 
distribuição de renda e pelo IDH (índice de Desenvolvimento Humano), 
que coloca o Brasil na sexagésima-nona posição.
Entre nós, por exemplo, a distância entre as classes sociais tem 
aumentado, o que é um atestado da incapacidade do país em expandir por 
igual os efeitos de sua inserção nos espaços da globalização econômica. O 
rendimento individual do trabalhador, bem como a renda das famílias, vem 
caindo desde 1996. Segundo os dados do IGBGE, em cinco anos ocorreu 
perda real de 10% na remuneração média da população ocupada, passando 
de R$ 662,00 mensais por trabalhador para R$ 595,00. Os 10% de 
trabalhadores com menor remuneração têm rendimento médio 45 vezes 
menor que os 10% com salários mais altos. Mais ainda: os 10% mais ricos 
recebem 45,7% de toda a renda gerada, enquanto os 10% mais pobres 
recebem apenas 1%. E o 1 % mais rico recebe mais de 12% de toda a renda 
gerada no país.
A situação descrita é alarmante. Aumentam as legiões de excluídos, 
os contingentes marginalizados do mercado de consumo, os bolsões 
periféricos que, somando mais de 50 milhões de brasileiros, constituem, na 
expressão de Cristovam Buarque, os nossos 'Hnsírangeiros' \ porque estes 
brasileiros são estrangeiros - estranhos, distantes - dentro da própria Nação.
Deparamo-nos, portanto, com um efeito devastador da globalização: 
se países estão se integrando, pela via econômica, parcelas ponderáveis das 
forças sociais estão se desintegrando, separados pelo facão afiado das 
políticas econômicas de viés utilitarista. Neste ponto, somos levados a fazer 
a recorrente indagação, que tem aparecido como a mais inquietante e 
veemente dúvida de todos aqueles que se debruçam sobre os problemas 
decorrentes da globalização: “ é possível unir o que a globalização tem 
separado e separar o que a globalização tem unido?”
10
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia
Por trás da angústia inerente à dúvida, aflora o sentimento de que, ao lado 
da globalização hegemônica, é preciso criar uma outra, que se origine nas bases 
da sociedade, de caráter mais amplo, de inspiração solidária, e cujos objetivos 
estejam apontados para as lutas contra a exclusão social, a precarização do 
trabalho, a destruição do meio ambiente, a desmoralização da vida publica e as 
dúbias práticas políticas, o desemprego, as violações dos direitos humanos, as 
pandemias que consomem contingentes humanos, os ódios étnicos e os conflitos 
entre irmãos e vizinhos.
Há de se conferir ao conceito de globalização a essencialidade do 
Humanismo, tão vivo e forte no pensamento de perfis iluminados, como o 
de Teilhard de Chardin, que só vê sentido em um fenômeno como este se a 
ele estiverem agregadas as significações de totalidade, unanimização, 
universalismo, planetização, que tem como luz de inspiração a idéia de 
fraternidade entre os homens. Ou seja, a globalização só terá significação, 
quando voltada para a descoberta da Alma comum da Humanidade, pois, 
segundo o grande teólogo francês, “no fundo do homem dorme uma 
necessidade de universalidade que só espera a hora de despertar". Trata- 
se, portanto, de salvar o valor da pessoa humana, o valor social, sendo este 
valor o caminho de uma socialização, sinônimo de uma unidade, que é a 
comunhão universal dos homens e das coisas. Mas, essa totalidade não 
quer significar um amontoado de indivíduos, de números em série, de peças 
mutáveis entre si, e sim a personalização de cada pessoa, pela promoção de 
seus valores.
Utopia ou não, o esforço por uma globalização paralela, que junte as 
forças organizativas da sociedade mundial, os movimentos e lutas das 
entidades, se faz necessário para dar vazão aos sonhos das comunidades e a 
seus anseios de Liberdade, de Justiça, de Dignidade e de Cidadania. A 
presente obra, que ora apresentamos, traz à luz os pensamentos e as propostas 
daqueles que meditaram, refletiram, analisaram, participaram e expuseram 
suas idéias, e tem por finalidade motivar, no cenário brasileiro, a ampla 
discussão do tema “globalização”.
Rubens Approbato Machado
Presidente do Conselho Federal da 
Ordem dos Advogados do Brasil
11
o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosul, A lc a e União Européia
MENSAGEM
Ao patrocinar a realização do Seminário Brasil Século XXI - O Direito 
na Era da Globalização: Mercosul, Alca e União Européia, a Ordem dos 
Advogados do Brasil pretende ampliar a discussão em tomo dos complexos 
temas que envolvem a inserção do Brasil nas novas práticas de convivência 
entre as nações.
A sociedade brasileira tem sido conduzida a um desconhecido destino 
sem ter tido, até aqui, a oportunidade de se manifestar sobre a ação de seus 
representantes políticos e, se tivesse ensejo, talvez não pudesse com 
segurança aprovar, ou não, tudo o que já está consolidado, pois poucos 
detêm as informações indispensáveis a qualquer avaliação do cenário no 
qual foi incluído o País.
No momento em que o Estado se separa da Nação para isoladamente 
decidir sem consultá-la, corre o risco de se tomar presa fácil do poder 
econômico que, por óbvias razões, não terá outro objetivo senão a realização 
de seus objetivos econômicos.
A opinião pública é a mais eficaz parceira dos governantes, mas para 
que possa desempenhar o papel que a ela é destinado, deverá ser dotada de
13
SEMINÁRIO - B ríisií Sécwío X X I
informações hauridas, sobretudo, na transparência dos atos de seus representantes 
políticos.
Aí está o alvo que busca atingir a OAB com a edição deste livro, cujo 
conteúdo certamente contribuirá para a ampliação do conhecimento de todos 
que se preocupam com o impacto a que estão expostas as futuras gerações 
de brasileiros.
Regínaldo Oscar de Castro
Presidente da Comissão de Relações Internacionais 
do Conselho Federal da OAB
0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosu l. A lc a e União Européia
“Seminar Brazil, 2P ' Century:
Law in the Globalization Era 
Mercosul, FTAA and European Union”
THE CHALLENGES, 
OPPORTUNITIES AND RISKS 
OF GLOBALIZATION
In no other period of our civilization has the world been as small and 
as subject to deep and ongoing changes in term s of organization, 
communication, production and distribution. From new information 
technology to incredible scientific progress in the most varied areas of human 
knowledge, everything concurs to the relentless transformation of economic, 
political and social relations between nations. The rich get richer, while the 
excluded masses cannot many times benefit from such an admirable new 
world.
Given these huge transformations that surprise everyone with their 
galloping speed and the intensity of their implications on everyday life, the 
jurist must interpret this new and complex reality, in the light of the Law 
and Justice. Inserted in the dynamics of markets and, indeed, from a true 
economic and social perspective, new juridical categories and appropriate 
legal instruments are required to preserve good order in domestic and 
international relations, thereby preserving the fundamental rights and
15
SEMINÁRIO- B rdsií Sécuío X X I
guarantees of citizens and their business.
Globalization offers unique opportunities, it being a fact that countries 
that have strayed away from the international economic flow are those that 
present the most disappointing growth rates and the worst social indicators.
The internationalization of economies enables access to capital, new 
technologies, corporate and management techniques, educational and 
scientific progress, labor qualification, modem environmental preservation 
and control systems, development of economies of scale, competitive 
stimulus, deepening of the intelligence of markets and increase in exportation 
levels. The risks are also known: unequal distribution of benefits, abuse of 
economic power due to market flaws and to an inefficient regulatory 
environment, the relentless impact on already established or new non­
competitive domestic sectors, as well as serious impacts resulting from the 
contamination caused by financial crises or international catastrophes. 
Additionally, globalization imposes the destruction of barriers on the foreign 
trade, due to the pressure of richer countries, while such countries continue 
to maintain structures for protecting their non-competitive sectors. All this 
concurs to an unbalanced competition between ferocious competitors on a 
global scale.
All of us, Brazilian lawyers and jurists, are called upon to analyze 
this dramatic context. New, creative and suitable legal solutions are necessary 
to build this formidable and challenging contemporaneous reality, in the 
quest for the stability and development of nations, from various perspectives.
Therefore, the insertion of Brazil in the world scenario, with 
appropriate competitive conditions, with a juridical regime and modem legal 
instruments that are fair, efficient and compatible with our intemational 
peers, will undoubtedly concur to achieving sustainable economic growth, 
the harmonization of social relations and the much desired elimination of 
the exclusion of a great proportion of Brazilians from the benefits produced 
by globalization.
It is in this dynamic context and in view of the issue on how to benefit 
from the internationalization of the flow of goods, services and capital, 
minimizing costs and risks resulting therefrom, that the seminar “Brazil, 
2 P ‘ Century: Law in the Globalization Era - Mercosul, FTAA and European 
Union” is set. It was conceived by the President of the Federal Council of 
the Brazilian Bar Association, Rubens Approbate Machado, by the President 
of its Commission for Intemational Relations, Reginaldo de Castro, and by 
the Brazilian branch of the Harvard Law School Alumni Association. It
16
o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l. A lc a e U nião Européia
represents an extraordinary opportunity to bring lawyers closer to the most 
prominent authorities from governmental, academic and corporate circles, 
concerned with the structuring of appropriate strategies for the insertion 
and development of Brazil in the global scenario.
The seminar was honored by the opening talk given by the President 
of Brazil, Fernando Henrique Cardoso, and by speeches of highly ranked 
authorities, such as Justice Carlos Mário Velloso, of the Supreme Federal 
Court, the Minister of Labor, Francisco Domelles, the Minister of Industry, 
Trade and Tourism, Ambassador Sergio Amaral, the Inland Revenue 
Secretary, Everardo Maciel and other authorities from the Brazilian and 
foreign academic world.
Antonio Carlos Rodrigues do Amaral
Coordinator o f the seminar. President o f the Harvard Law 
School Association o f Brazill Member o f the Commission fo r 
International Relations o f the Federal Council o f the 
Brazilian Bar Association. Professor at Universidade 
Mackenzie and lawyer in São Paulo, Brazil
17
SEIVIINÁRIO
Brasil SécMÍo X X I
O Direito na Era da Globalização 
Mercosul, Alca e União Européia
Senhoras e Senhores, o Senhor Presidente da República.
Acompanham o Senhor Presidente da República à Mesa Diretora, o 
Dr. Rubens Approbato Machado, Presidente do Conselho Federal da Ordem 
dos Advogados do Brasil, o Ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal 
Federal, o Dr. Reginaldo Oscar de Castro, Presidente da Comissão de Relações 
Internacionais do Conselho Federal da OAB, o Dr. Gilberto Gomes, Secretário- 
Geral do Conselho Federal da OAB, e o Dr. Antonio Carlos Rodrigues do 
Amaral, Presidente da Harvard Law School Association do Brasil.
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia
Cerimônia de Abertura do Seminário 
“Brasil Século XXI - O Direito na Era da 
Globalização: Mercosul, Alca e União Européia.”
Palavras de apresentação do Dr. Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, 
Coordenador do Evento e Presidente da Harvard Law School Association 
do Brasil:
Bom dia a todos. Antes da abertura oficial dos trabalhos, gostaria de 
agradecer ao nosso Presidente, Rubens Approbato Machado, e ao Presidente 
da Comissão de Relações Internacionais, Dr. Reginaldo Oscar de Castro, 
pela honra de me terem incumbido da coordenação de tão importante e 
histórico Seminário.
No entanto, sou apenas a parte visível do valoroso time de profissionais 
que, com grande dedicação e afinco, nestes últimos dois meses, se dedicou 
a este evento, a quem agradeceria nas pessoas de Paola Barbieri, Comarci 
N unes, Paulo G uim arães, B artolom eu R odrigues e Jorge V ieira, 
Superintendente desta Casa.
O evento de hoje - valorizado sobremaneira pelas presenças dos 
Excelentíssimos Senhores Presidente da República, Professor Fernando 
Henrique Cardoso, do Ministro Carlos Mário Velloso, do Supremo Tribunal 
Federal e demais expressivas autoridades governamentais e acadêmicas - 
discutirá, nos seus diversos painéis, com nomes da mais alta qualificação, 
aspectos de real relevância voltados à integração de mercados, analisando 
os riscos, as oportunidades e os desafios da globalização.
21
SEMINÁRIO - B ras ií Sécnío X X I
E é esta globalização que faz chegar a nós uma realidade que vai 
muito além da simples unificação de mercados. O conceito de “integração” 
é muito mais profundo, abrangente e muito mais complexo, porque traduz 
a idéia de culturas diferentes, pensamentos diversos e linhas de raciocínio 
muitas vezes conflitantes. Integrar significa aparar arestas entre as Nações, 
para que não apenas estejam “juntas”, mas para que possam adaptar-se umas 
às outras, e passem a trabalhar em perfeita harmonia.
A integração de mercados deve propiciar um sistema novo de idéias e 
paradigmas, equilibrado com as peças das mais diversas origens deste grande 
calidoscópio humano que compõe a civilização. O resultado fmal deve 
satisfatoriamente atender, na maior dimensão possível, as necessidades de 
todos os envolvidos, além de criar opções reais a tantos quanto dela possam 
e devam se beneficiar.
No seu ministério privado, além de unir as várias pontas envolvidas 
em uma transação comercial, é o advogado o profissional que deve ter não 
apenas o conhecimento técnico, mas o talento e a sensibilidade para 
compreender as idéias em debate e as peculiaridades das partes, de forma a 
construir estruturas jurídicas que efetivamente atendam aos seus legítimos 
interesses e necessidades. A responsabilidade do advogado vai muito além 
de montar estruturas legais que garantam lucro para os seus clientes e 
segurança jurídica para suas operações. Nas mãos dos juristas também está 
a responsabilidade de criar mecanismos que façam com que a união de 
mercados marque uma era de benefícios para o País e para a humanidade 
como um todo, tendo o Direito como grande marco civilizador na vida das 
Nações.
Diante desta perspectiva é que ouviremos o Presidente Nacional da 
OAB, Dr. Rubens Approbate Machado, para a abertura oficial dos trabalhos, 
0 quefaço pedindo uma salva de palmas a todos os profissionais desta Casa 
que tanto se dedicaram para a realização e êxito deste evento. Obrigado.
22
0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia
Pronunciamento do Presidente Nacional da OAB, 
Dr. Rubens Approbato Machado, na abertura do 
Seminário Brasil Século XXI - O Direito na Era da 
Globalização
“Vi todas as nações do mundo reunidas, e aprendi 
a não me envergonhar da minha. Medindo de per­
to os grandes e os fortes, achei-os menores e mais 
fracos do que a Justiça e o Direito”, Ruy Barbosa
A Ordem dos Advogados do Brasil, na abertura do serminário “Brasil 
Século XXI - O Direito na Era da Globalização: Mercosul, Alca e União 
Européia”, deseja registrar, desde logo, a sua imensa honra em poder 
receber, em sua nova casa, a presença ilustre do Excelentíssimo Senhor 
Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que, ao longo de 
sua vida pública, com aberto espírito democrático, vem buscando caminhos 
para a inserção do Brasil no concerto das Nações mais avançadas do 
Mundo.
A OAB, por imperativos constitucionais e legais, além de seus 
objetivos de defesa, representação e disciplina dos advogados, incorpora 
finalidades institucionais expressas, quais sejam, as de defender a 
Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos 
humanos, a justiça social e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida 
administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições 
jurídicas. Em razão de sua histórica e tradicional missão em defesa
23
SEMINÁRIO - Brasil Século X X I
permanente e corajosa de tais preceitos é que a OAB não mantém e nem pode 
manter qualquer vínculo funcional ou hierárquico com órgãos da Administração 
Pública.
Sua ação crítica se projeta para o bem comum, o bem estar coletivo, a 
harmonia e a paz social, que é o mesmo objetivo governamental. Por essa 
concepção construtiva, perante a sociedade brasileira, a OAB se legitima 
para tecer críticas, nunca de caráter pessoal ou político-partidário, quando 
se fizerem necessárias, o que é próprio de um regime democrático. Em 
função dessas resumidas razões, a ORDEM se, de um lado, faz críticas, de 
outro aplaude as ações governamentais e a elas adere, sempre que o objetivo 
se revele capaz de produzir o crescimento econômico e social da nação 
brasileira.
Com esse escopo, a OAB se alia à ação governamental na discussão 
de tema tão importante para o Brasil, que é a “globalização das economias”.
Em recente manifestação que, em nome da advocacia brasileira, fiz 
no 45° Congresso da União Internacional dos Advogados, realizado em 
Turim, na Itália, (reproduzida, integralmente, no jornal “OAB Nacional”, 
ano XII, n. 94, setembro/2.001, págs.10/11), após apontar as disparidades 
econômicas entre os Países, foi, por mim, ressaltado que ''não houve e 
nem parece haver qualquer preocupação em preservar interesses 
essenciais da nação. Países europeus, perfeitam ente integrados à 
globalização, estabeleceram critérios dualísticos para aderir, buscando 
evitar traumas para a população e o sistema produtivo. Entre nós, em 
face de nossas fragilidades sociais e econômicas, essa gradualidade é 
ainda mais imperativa. Mas inexiste" e foi sublinhado que “fom os 
inseridos sem qualquer critério ou cuidado no processo de globalização. 
A rigor não nos globalizamos: fom os globalizados"'. Trouxe, naquela 
oportunidade, à colação, o pensamento do Presidente Fernando Henrique 
Cardoso, ao qual aderi, desde logo, quando a respeito do tem a se 
manifestou dizendo ter sido criada “uma economia mundial sem que 
surgissem paralelamente mecanismos satisfatórios de governança, para 
não fa lar de mecanismos de governo''. E, com a adequada apreciação 
conceituou que “existe um déficit de democracia, um déficit de cidadania 
planetária. Cada vez mais, a vida de todos nós é afetada por eventos 
globalizados, mas os instrum entos de participação ou mesmo de
24
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosu l, A lc a e União Européia
deliberação no plano global ainda são insuficientes, para não dizer 
inexistentes. Esse descompasso cria a percepção de que, na globalização, 
o mercado é tudo e o cidadão é nada".
Em sum a, a g lobalização e in terpenetração das econom ias 
contemporâneas só terão sentido quando se puser a serviço da valorização 
do homem, implicando, assim, na globalização dos processos decisórios, 
da co-participação das Nações nas estratégias mundiais de desenvolvimento. 
Globalizar problemas, sem globalizar soluções, parece-nos uma equação 
perversa.
Sintonizados com esse ideário, entendemos que a globalização das 
economias impõe a integração de pessoas buscando um objetivo comum. 
Desse modo, ainda que com visões diferentes, todos devem participar da 
construção de países mais fortes, mais solidários e internacionalmente 
competitivos.
Impõe-se a criação, em âmbito internacional, de uma cultura de 
abertura dos mercados, voltada para o objetivo de melhorar a qualidade dos 
produtos e serviços oferecidos aos cidadãos, respeitada a soberania de cada 
país. Não se pode, contudo, sob a proteção do estatuto da soberania, aceitar, 
passivamente, a constatação de que os países desenvolvidos, líderes do 
processo de globalização econômica, não pratiquem as chamadas virtudes 
do livre comércio, criando, para si, ferramentas protecionistas, que acabam 
se tomando práticas abusivas, incapacitando a efetiva participação dos países 
periféricos e menos desenvolvidos nos benefícios globais.
De outra sorte, não se deve permitir que a abertura da economia 
imponha graves riscos, pela contaminação gerada por crises internacionais, 
pela ausência de competição leal e transparente entre os países, pela outorga 
de subsídios injustos e pelo abuso do poder econômico e político no cenário 
mundial.
Para o Brasil, em sua planificação de busca de competitividade global 
e para a sua adequada inserção na economia internacional, o fomento às 
exportações se toma vital. A legislação brasileira, nesse setor, deve se 
adequar aos modelos e técnicas do livre comércio, aprimorando-se um 
estatuto de direito privado internacional e a elaboração de um regimento 
básico aplicável ao comércio exterior, matérias essas que se inserem, 
naturalmente, na atividade do operador do direito, campo em que a OAB,
25
SEMINÁRIO - B rasií Sécwío X X I
pela capilaridade de sua atuação no âmbito nacional, em todas as suas esferas, 
pode colaborar com a ação governamental.
Além disso, outros instrumentos deverão adensar a pauta das 
discussões, como a modernização da legislação em geral, com a necessária 
reforma tributária, bem como o aprimoramento urgente do aparelho 
judiciário, os quais, certamente, deverão colaborar para a justiça social, o 
desenvolvimento econômico do Brasil e a captação de recursos externos de 
investimento.
Nesse terreno, os advogados brasileiros, diante das oportunidades e 
crescentes exigências de um mercado globalizado, têm o dever, até no 
interesse do seu desenvolvimento profissional, de se tomar competitivos 
em relação aos advogados estrangeiros. As Escolas de Advocacia regidas 
pela Ordem dos Advogados do Brasil, tanto na esfera do Conselho Federal, 
quanto dos Conselhos Seccionais, podem e devem ampliar os cursos nessas 
áreas de conhecimento, além de promover eventos, no país e no exterior, da 
mesma grandeza do que ora se faz, inclusive em parceria com entidades do 
exterior, tal como a mantida com a Harvard Law School Association do 
Brasil.
Sem qualquer conotação de xenofobia, a Ordem dos Advogados do 
Brasil , ciente e consciente da globalização em curso, estabeleceu um 
moderno Provimento para que a prestação de serviços jurídicos por 
advogados de outros países possa ser realizada, mediante a sua inscrição 
nos quadros da OAB, na qualidadede consultores estrangeiros.
Eventos como este, “Brasil Século XXI - O Direito na Era da 
Globalização”, servem para o advogado brasileiro estar mais próximo das 
autoridades públicas encarregadas da formulação das políticas que irão 
influenciar a vida nacional nos próximos anos, contribuir para a tão desejada 
inserção do país no conjunto de países líderes do processo de globalização, 
além, evidentemente, do objetivo de colaborar com a preparação cultural 
do advogado.
A participação e o trabalho dos advogados brasileiros se mostram 
imprescindíveis no aprimoramento do comércio exterior. São esses 
operadores do direito os mais indicados, com capacidade intelectual e técnica, 
para unir as duas pontas da relação comercial, dando-lhe o necessário suporte 
jurídico, tanto no âmbito do cumprimento das normas legais, quanto no
26
o D ire ito na Era da C lohalizaçao: M ercosul, A lc a e União Européia
encaminhamento contratual adequado para os negócios, levando as partes a 
uma relação pacífica, que gera, por óbvio, o aprimoramento da democracia 
e da justiça social.
Convém ouvirmos, dentro da concepção pluralista de idéias que é 
uma das características da OAB, todos os segmentos e pensamentos, 
inclusive das autoridades governamentais, a fim de se poder fazer o 
encaminhamento de todas essas idéias e propostas à definição dos rumos a 
serem adotados pela nossa Entidade, sempre no interesse maior da cidadania 
brasileira.
Que este evento, pequena colaboração da OAB no esforço nacional 
para fortalecer a posição do país no cenário internacional, se transforme em 
uma grande alavanca para aorir as portas a uma justa, eficaz e distributiva 
globalização da economia, com a adequada e necessária participação do 
profissional da advocacia.
Bom trabalho a todos.
Obrigado.
Rubens Approbate Machado
Presidente Nacional da OAB
27
o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l . A lc a e União E uropéia
Conferência do Excelentíssimo Senhor Presidente 
da República Federativa do Brasil Doutor 
Fernando Henrique Cardoso no Seminário Brasil 
Século XXI - O Direito na Era da Globalização %
Dr. Rubens Approbate Machado, Presidente do Conselho Federal da 
OAB; Ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal; Dr. Reginaldo 
Oscar de Castro, Presidente da Comissão de Relações Internacionais da 
OAB; Dr. Gilberto Gomes que é o Secretário-Geral, Dr. Antonio Carlos 
Rodrigues do Amaral, Presidente da Harvard Law School Association do 
Brasil; senhoras e senhores participantes deste Seminário.
Quero manifestar a minha satisfação de comparecer à OAB uma vez 
mais. Tive o prazer de comparecer à transmissão de cargo quando o Dr. 
Reginaldo de Castro assumiu a Presidência desta entidade, mas soube há 
pouco que sou o primeiro Presidente da República que vem à Ordem dos 
Advogados do Brasil para participar de um debate. Isto é muito significativo. 
Mostra, por um lado, que a OAB está discutindo temas de tal relevância 
que justifica inclui-los na agenda do Presidente; por outro, que o clima de 
debate democrático no Brasil está consolidado. O Presidente vem aqui como 
cidadão, com tranqüilidade.
Isto me permite afastar do texto escrito para falar mais à vontade, 
mais amplamente, sobre o tema proposto. Gostaria de dividir a minha 
exposição em dois momentos. No primeiro, algumas reflexões, apenas para 
reafirmar o que já foi dito pelo Dr. Rubens Approbato, que teve a gentileza
29
SEMINÁRIO - B rasií Século X X I
de me citar, sobre a questão mais genérica da globalização e dos desafios que se 
colocam a todos os países - e ao nosso, em particular. Em um segundo momento, 
para que se possa vislumbrar os caminhos a serem trilhados para que possamos 
ter uma inserção soberana nesta nova ordem global que está se formando.
O tema globalização, embora tenha ganhado ímpeto recentemente, não é 
novo. O grande debate da expansão do capitalismo no século XIX, e mesmo 
antes, foi o da globalização. Todos aqueles que pensaram a formação do sistema 
capitalista - dos conservadores até (Karl) Marx - mencionavam a tendência à 
expansão de um mesmo sistema produtivo. E a tendência, portanto, de que 
pouco a pouco se consolidasse uma ordem mundial. Já no século XX, alguns 
pensadores bastante críticos - Rosa de Luxemburgo à frente - mostravam que 
existia, realmente, uma tendência incontrastável no sentido de que a 
homogeneização das forças produtivas seria impor uma ordem econômica só. A 
discussão que se travou mais tarde seria saber que ordem seria essa - se capitalista 
ou socialista. Por uma razão óbvia: é que as transformações tecnológicas foram 
de tal monta que era fácil prever a expansão do sistema produtivo e, com ele, os 
valores entranhados.
O que houve, recentemente, foi uma imensa aceleração desse processo, 
também em função de transformações no modo de produzir: no plano dos 
transportes e das comunicações. O computador coroou esse processo. Em 
um primeiro momento, o que chamava mais a atenção era a homogeneização 
das formas de produção. Depois, veio a dispersão das formas de produção. 
Nos anos 60, quando trabalhei nas Nações Unidas, na Comissão Econômica 
para a América Latina, escrevi um livro chamado “Dependência e 
Desenvolvimento da América Latina” , com um companheiro chileno 
chamado Enzo Faleto. Naquela época, não existia a expressão multinacional. 
Chamava-se trust (cartéis). A expressão multinacional foi criada no fim 
dos anos 60 e começo dos anos 70, e, para fazer referência a esse processo, 
eu usei nesse livro a expressão, hoje insuficiente, de internacionalização 
do mercado interno. Mas não era isso o que estava ocorrendo. Aliás, isso 
também, mas estava ocorrendo uma internacionalização da produção.
A produção começava a se deslocar dos centros para países da 
periferia. Cada vez mais surgiam investimentos na periferia. Isto, nos anos 
70, gerou um debate imenso na América Latina. Muitos achavam que isto 
não iria acontecer porque haveria uma aliança entre o imperialismo - assim 
chamado - e o latifúndio, que impedia o desenvolvimento daqueles países. 
Eu me pus do outro lado: a transformação está ocorrendo; há investimentos, em
30
o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosul, A lc a e União Européia
grande quantidade, em alguns dos países chamados de periferia do sistema 
capitalista. O que estava acontecendo era um processo que chamei, na época, 
de desenvolvimento dependente associado. Ou seja, uma associação. As forças 
produtivas estavam se integrando com todas as transformações nas relações de 
produção, societárias e na política também, no modo como se concebe o papel 
do país no conjunto das nações.
Mas ainda estávamos engatinhando nessa discussão. Nos anos 70, 
voltou à m oda, entre os econom istas, os sociólogos, a econom ia 
internacional, a in ternacionalização. Nos anos 80, isso explodiu. 
Principalmente pelo fato de que, com o computador, com a informação em 
tempo real, importa pouco onde está o quartel-general da empresa. Importa 
menos ainda onde se produz - pode-se produzir dispersamente, pois existe 
uma integração através das técnicas modernas de comunicação e de 
transporte. Isto é a base da internacionalização. O que ninguém imaginava 
é que, ao invés de esse processo se dar através de uma integração apenas 
crescente das forças produtivas, ele se deu através de uma integração 
rapidíssima do capital financeiro.
O que hoje se chama vulgarmente globalização é, muito mais, um 
processo, já na sua etapa final, aonde chegou o sistema financeiro. Isso teve 
uma repercussão imensa no mundo. Mudou, inclusive, a capacidade dos 
Estados nacionais, mesmo os mais poderosos, de regularem os fluxos de 
capital. Os bancos centrais ficaram pequenos diante da velocidade com que 
os fluxos privados de transferência de capital ocorrem. É um outro mundo. 
Se eu quisesse ser provocativo,diria: é uma época pós-imperíalista, porque 
na época chamada imperialista, as economias, as empresas, o mercado enfim, 
precisavam do Estado para se imporem. Hoje, as grandes empresas querem 
tudo, menos o Estado - do ponto de vista econômico, pois do ponto de vista 
político, estamos vendo que é diferente. Portanto, estamos em outra época, 
e as pessoas, às vezes, custam a se adaptar. É uma época, se quiserem dar 
um nome, pós-imperialista, com mecanismos que não dependem do poder 
estatal para que tenham eficiência.
Quando terminou a Segunda Grande Guerra, na ordem que estava 
se constituindo - anos 40, portanto antes das grandes transformações às 
quais me referi - , as grandes nações se organizaram no sistema de Nações 
Unidas. Também ocorreu uma organização das instituições que hoje 
chamam globais, que deveriam processar as relações entre as economias. 
A fixação, na época, era comercial. O Fundo Monetário Internacional e o
31
SEMINÁRIO - Brfl5ÍÍ SécMÍo X X I
Banco Mundial nasceram aí. Mas o Fundo Monetário, crescentemente, passou 
a ser uma instituição para cuidar das solvências dos países, porque no fluxo de 
comércio entre as nações alguns países podiam ficar sem condições de pagar 
aquilo que deviam. Então, o FMI era uma espécie de banco central, mas não 
com todas as funções. Os empréstimos do Fundo passaram a ser, grandemente, 
destinados a certificar se o país seria solvente ou não. O problema da solvência 
era fundamental para os países mais ricos. Era uma questão de ajustar os 
fluxos financeiros aos fluxos de comércio. Muito bem. O processo que está 
ocorrendo, agora, não é apenas de desajuste dos fluxos de comércio, mas de 
uma imensa transformação entre os fluxos financeiros. O próprio FMI ficou 
frágil - ao contrário do que muita gente pensa - diante do poder imenso criado 
por essas novas tecnologias do capital financeiro.
Lorde Keynes, que era uma pessoa de visão, propôs algo diferente. 
Quando as instituições de Bretton Woods foram criadas - o FMI para dar 
liquidez aos países insolventes e o Banco Mundial para criar condições 
ao desenvolvimento econômico, a partir da experiência do Plano Marshall
- o Fundo Monetário devia ser um banco central dos bancos centrais. Ou 
seja, ele percebeu que existiria uma massa de recursos financeiros muito 
grande que podia provocar crises de liquidez, interrupção do fluxo de 
dinheiro. Isto não foi aceito, sob o argumento - que se repete a cada instante
- de evitar o que os ingleses chamam de risco moral: se quem vai emprestar 
está seguro de que vai receber de volta, não presta muita atenção às 
condições de pagamento do devedor. Logo, se o FMI fosse sempre resolver 
as questões, os bancos iriam emprestar muito “irresponsavelmente” aos 
países necessitados. Então, não era bom. Era melhor deixar que o mercado 
penalizasse aqueles que tivessem errado no seu cálculo de risco. Keynes 
não pensava isso naquele momento. Ele pensava que era necessário - 
embora não fosse favorável, obviamente, a empréstimos sem uma análise 
de risco - uma instituição mundial com grande liquidez para poder fazer 
face aos gargalos financeiros que fossem ocorrer depois. Mas não 
aconteceu isso.
O que nós vimos, sobretudo nessa última década de 90, de grande 
expansão econôm ica no mundo, de enorme mobilidade dos fluxos 
financeiros, foi a substituição progressiva do papel dos bancos oficiais - o 
BIRD, o BID, os grandes bancos multinacionais perdendo força 
relativamente aos empréstimos privados. Em seguida nós vimos crises por 
falta da capacidade de liquidez, e, de repente, o mercado seca e deixa de 
fazer empréstimos.
32
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e U nião Européia
Como tudo isso ficou interligado, passou a haver o que se chama hoje 
de contágio, que não se entende muito bem o que seja, mas funciona assim: 
se a Argentina está com dificuldade, contagia o Brasil. Por quê, não sei; 
mas é assim. Passamos então a assistir a uma série de crises. Só no meu 
governo, nem me lembro quantas foram. Em 1995, era a crise do México; 
em 97, da Ásia; em 96 não houve, graças aos céus; em 98, da Rússia; em 
99, a do Brasil; em seguida, a da Rússia de novo, a crise da Turquia, da 
Argentina... crise, crise, interrupção do fluxo... Ou seja, a globalização passa 
por um momento de extrema dificuldade porque não possui os mecanismos 
globais de governança. Estou me referindo, por enquanto, aos aspectos 
financeiros. Depois falaremos dos aspectos políticos.
Os mecanismos ficaram frágeis. É claro que o Fundo Monetário, nesses 
últimos anos, se atualizou. Hoje, o FMI dispõe - não sei exatamente - de 
cerca de 100 bilhões de dólares nos fundos especiais de saques, que é um 
mecanismo de pronto-atendimento. Com isso, tem um pouco mais de 
manobra. As pessoas que não conhecem os mecanismos do mundo ainda 
vêem o FMI como se ele fosse o responsável, o culpado. Não. Em certas 
circunstâncias, ou ele entra ou o país fica paralisado. O problema é saber 
em que condições entram. O próprio FMI foi mudando as suas políticas. 
Aqui, tivemos um acordo com o fundo sem que obrigasse a qualquer 
recessão, e, pelo contrário, incluindo a necessidade de uma cláusula de 
proteção social. Houve mudanças que a consciência comum não notou, na 
prática de funcionamento dessas instituições. O fato é que, pouco a pouco, 
algum recurso adicional foi sendo dado ao Fundo Monetário. Mas é 
insuficiente ainda, porque ele não tem propriamente essa função, e, segundo 
dizem, a nova administração americana está mais preocupada com o risco 
moral do que com a capacidade de intervenção do FMI. Essa questão não 
está resolvida. Estamos passando por um momento de grande turbulência 
na área financeira.
Por outro lado, tampouco foram sendo resolvidas as questões relativas 
àquilo que é fundamental, e diz respeito às legitimidades das decisões. As 
Nações Unidas nasceram sob o signo de alguma restrição, porque a 
Assembléia-Geral tem todo o poder mas quem, na prática, exerce esse poder 
é o Conselho de Segurança, nos assuntos centrais que dizem respeito às 
relações dos países. E o Conselho de Segurança já nasceu com uma distinção: 
cinco países têm direito de veto e, os outros, que são eleitos por um período 
de dois anos, não têm esse direito. Ou seja, já se criou, ali, um embaraço. 
Simultaneamente, foi havendo a descolonização, a formação dos países com
33
SEMINÁRIO - Bvíísií Sécuío X X I
vocação de autonomia nacional. O número de países cresceu enormemente. 
A Assembléia-Geral das Nações Unidas, hoje, é composta por uma imensa 
massa de países. Obviamente, os mais poderosos não aceitam, na prática, o 
princípio de que cada um vale um mesmo. Dirão que perdem a capacidade 
de exercer um poderio correspondente à sua força efetiva na economia, no 
campo militar etc.
Progressivamente, até o Conselho de Segurança deixou de exercer 
as funções centrais das decisões no mundo. A Assembléia-Geral passou a 
se ocupar de muitos temas importantes - o papel da ONU é importante na 
difusão de uma cidadania global, na questão das mulheres, do meio 
ambiente, do trabalho etc mas, em termos políticos, de decisões efetivas 
no comando do mundo, ela passou a ter menos voz. E nós vimos a criação 
de mecanismos extra-institucionais. O G-7, o G -8 .0 que é isso? Um grupo 
de nações que se autoproclamam - e são - ricas e que se reúnem. Decidem 
o quê? Com que legitimidade? Essa legitimidade está sendo posta em 
dúvida agora. Eles nem podem mais se reunir, fazem reuniões em navios. 
Há protestos nas ruas, há um visível problema de legitimidade nesse 
tipo de organismo, independentemente dos desejos ou da boa-vontade 
que possa ter.
A economia se globalizou, o sistema financeiro galopou nesse 
processo, as instituições disponíveis para controlar os mecanismos em nível 
mundial, por mais poderoso que possa ser o FMI, tomaram-se frágeisdiante 
da capacidade do sistema financeiro de manobrar, independente de qualquer 
decisão. Ao mesmo tempo, não houve um processo simultâneo, nem de 
formação de uma consciência planetária de Direito, de participação, e nem 
a formação de instituições que tivessem a capacidade e a legitimidade de 
atuar com precisão.
Este não é todo o panorama. Outros processos ocorreram ao mesmo 
tempo. Alguns são bem notáveis, como o desmantelamento do mundo 
soviético e, portanto, a diminuição da hipótese de que o sistema global 
pudesse ser outro que não o capitalista - na prática, quem propõe isso são 
grupos residuais. Mas houve outro processo, que foi o da integração regional. 
Essa integração, em certos aspectos, teve avanços até mesmo no plano 
político, como é o caso da Europa. A União Européia e seus Altos 
Comissários criaram um parlamento que dá legitimidade popular às decisões 
que são tomadas.
Com menos força, porque baseado em mecanismos meramente 
econômicos, comerciais, está o Nafta, reunindo Estados Unidos, Canadá e
34
o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia
México. E nós, aqui, com o Mercosul, tentando também alguma coisa, com 
aspiração de chegarmos à união aduaneira e, portanto, na direção da União 
Européia. A despeito de todos os percalços que estamos sofrendo, mas com 
uma proposta de integração um pouco mais ampla. Também na África houve 
um processo dessa natureza; na Ásia, simultaneamente, começou a existir 
uma nova teia de países que passaram a atuar na política internacional como 
atores organizados. Isso está ocorrendo. Temos uma indefinição quanto à 
forma institucional do controle das decisões, temos a formação de grupos 
de países muito poderosos que se arrogam como diretório do mundo, e 
temos a tentativa de integração que tem êxito variável conforme a região a 
que estejamos nos referindo. E temos o fato de que um país - os Estados 
Unidos - , tem um tal predomínio cultural, econômico, tecnológico, 
financeiro e militar, que freqüentemente toma decisões sem realmente prestar 
contas até mesmo ao grupo dos mais ricos.
O desafio da globalização é muito maior do que se possa imaginar, 
porque estamos vivendo - ousaria dizer - um outro momento da humanidade. 
No Rio, fiz uma palestra sobre meio ambiente. E voltei ao tema que de vez 
em quando gosto de abordar, que é o tema da humanidade. Estamos 
começando a dar razão aos ideais kantianos, da paz universal, e aos ideais 
hegelianos, da existência de um sujeito geral da história, que é a humanidade, 
que sempre foram criticadas pelos que tinham uma visão mais progressista. 
Diziam que isso é uma espécie de falsidade, porque não existe humanidade, 
e sim o país, a raça. Agora, nós estamos vendo que pelo fato de tantas 
transformações terem ocorrido, pelo fato de tomarmos consciência dos 
limites que a natureza impõe às transformações que o homem deseja 
acrescentar a ela, exigindo uma consciência ecológica que vai além do 
interesse regional, começa a existir uma consciência sobre algo que diz 
respeito a todos os homens. Quem sabe a paz comece a ser sentida, à la 
kant, como uma necessidade universal.
Estou aqui fazendo digressão, estamos no começo do século XXL Se 
formos nessa direção, estaremos assistindo a um século que vai criar um 
novo ancoradouro da história - se der certo. Porém, ao mesmo tempo, 
estamos usando um instrumental de outra época: os Estados são nacionais, 
as instituições internacionais têm limitações que já mencionei; enfim, há 
um descompasso. É isso, quando me refiro ao déficit de governança: 
descom passo. É norm al, as sociedades não são harm ônicas, são 
contraditórias, esses processos todos são cheios de conflitos. A idéia de paz 
universal, de humanidade, são valores muito mais do que práticas. Mas
35
SEMINÁRIO - Brílsií Sécuío X X I
valores que podem orientar comportamentos. Este é o nosso desafio. Como 
vamos encarnar esses valores e preservar os interesses concretos diante de 
todas as abstrações às quais estou me referindo, mas que têm também raiz 
na vida? Existem condições para que se comece a mover o mundo nessa 
direção? Que caminhos trilhar? Que fazer diante de tudo isso? Como reagir, 
de forma crítica e inteligente, que separe os riscos e as oportunidades, ou, 
melhor, que crie oportunidades a despeito dos riscos? O caminho tradicional 
é inviável hoje. O caminho tradicional é “vamos nos fechar”, autarquia. Em 
certa época, esse foi o caminho quase que normal.
A Alemanha do século XIX cresceu prussianamente. O modelo de 
crescimento era fechar porque a Inglaterra estava na frente dela, era defensora 
do livre comércio. O List (Friedrich List), como economista, propôs o oposto: 
protege, pois a Inglaterra, m esm o a França, estavam com m aior 
produtividade. O Brasil fez isso também, à nossa moda: substituição de 
importações e implantação de tarifas altas, porque se não fosse assim não 
teríamos como avançar. Só que o mundo foi mudando. E, independentemente 
das vontades políticas - há quem pense que basta vontade política; ah, se 
fosse assim! - , as realidades existem. O que aconteceu é que, num dado 
momento, era impossível deixar de ver que existia uma intercomunicação, 
graças à Internet e outros mecanismos. Os Estados não têm poder para 
controlar o fluxo de informações, inclusive os financeiros, que não passam 
materialmente pelas fronteiras. Quem ficou com o passado ficou com uma 
idéia que perdeu vitalidade, foi sendo estiolada pela transformação que a 
vida impôs. Ao dizer isso não se pode imaginar que tenha desaparecido o 
interesse nacional. Pelo contrário. A questão é: como fazer prevalecer os 
interesses nacionais nas novas condições? Freqüentemente, as respostas 
são antigas, não fazem prevalecer nada. Em vez do interesse nacional, o 
que prevalece é o atraso nacional. E o mundo não permite mais isso.
Certa vez, um líder do Partido Comunista Italiano esteve aqui e deu 
uma entrevista, acho que para IstoÉ, na qual disse que o problema não é 
saber se haverá ou não internacionalização; é saber se eles nos irão 
internacionalizar ou nós vamos nos internacionalizar. A diferença pode 
parecer sutil, mas é fundamental. O processo está aí, e não há mais como 
fechar. Agora, como se faz esse processo? Quem comanda os momentos? 
De que maneira se estabelecem regras de legitimidade? Como fica o Direito? 
Como se negocia? Estas são as questões.
Um país como o nosso só no fim dos anos 80 e início dos anos 90 
promoveu uma abertura da economia, mas sem negociação. Essa falta de
36
o D ire ito na Era d a G lobalização: M ercosu l , A lca e União Européia
negociação até hoje é lamentada, com razão, por muitos setores industriais 
importantes. Isso não é aceitável. Tudo tem de ser feito, numa expressão 
vulgar, no dá-cá-toma-lá. Sobre a mesa, o que está posto hoje, no plano 
econômico, é saber até que ponto um país como o nosso vai se incorporar - 
a que blocos, a que custo e com que vantagens. Um, óbvio, é o Mercosul. 
Obvio e, me parece ser de consciência comum, achar que vale a pena manter 
e aperfeiçoar o Mercosul. Os espaços nacionais, por maiores que sejam - e 
o nosso é enorme - não são suficientes. O setor produtivo requer escalas 
muito grandes, requer mercados maiores. Há uma concentração também 
grande de capacitação, de investimento etc, e, nos parece, do ponto de vista 
de interesse nacional, vale a pena manter mecanismos que levem a uma 
associação crescente e, se possível, na minha perspectiva sul-americana, 
que fortaleçam a posição não só do Brasil, mas de toda a região. Mesmo 
quando isso implique em algumas negociações que aparentemente não são 
vantajosas.
Deixe-me explicar melhor isso. Vou explicar contando uma pequena 
história. Quando estive na Alemanha, depois de eleito, almocei com o então 
chanceler Helmut Khol. Ele me disse: presidente, nasci numa regiãoperto 
de Bonn que foi ocupada, na guerra, pelos franceses. Tenho parentes que 
perderam a vida na guerra contra a França. Quando era jovem, houve a 
ocupação pelos aliados e a região onde eu morava era francesa. Quando 
cruzava na rua com um oficial, eu tinha que sair da calçada para evitar 
agressões. Fomos criados com esse sentimento antifrancês, até que percebi 
que isso ia dar em outra guerra e mais gente iria morrer. Então aderi 
fortemente à idéia da União Européia, que na época ainda não tinha esse 
nome. E claro que a Alemanha tem população maior que a França, é mais 
rica, mais forte, e por isso mesmo temos que fazer mais concessões. Ele 
disse ainda: o senhor é presidente de um país que, na sua região, tem o 
mesmo papel que a Alemanha - eu não acredito nisso, não, sou mais 
igualitário. Ele disse: o senhor tem que fazer uma aliança com os seus 
vizinhos, com a Argentina, especialmente. E se tiver que fazer algum acordo, 
quem tem de entender a necessidade do acordo é o Brasil, que é mais forte. 
Bem, com exagero ou sem exagero, se nós olharmos os interesses nacionais, 
não apenas no curto prazo, é verdade que a manutenção de uma região na 
América do Sul integrada, de paz, de democracia, de progresso, é vital para 
o Brasil. Esta me parece ser a primeira e a mais fácil de nossas decisões: o 
fortalecim ento de mecanismos integradores na nossa região. Esses 
mecanismos partem de tratados. É preciso fortalecer as regras de Direito
37
SEMINÁRIO - B ras ií Sécuío X X I
relativas a eles. Pessoalmente, acho que devíamos avançar mais - o momento 
é ruim para dizer isso, estamos aí com vários desacordos com nossos vizinhos
- na direção como ocorreu na Europa, de criar mais mecanismos de solução 
de controvérsias. Isso tem a ver com a soberania, que tem de ser pensada 
nos termos atuais, e não nos termos do século XIX. É preciso um sentimento 
de compartilhar, porque os outros também têm os interesses nacionais. E 
preciso que haja mecanismos para dirimir essas questões. Enfim, me parece 
que esse é o lado mais simples para nós, brasileiros.
Está claro que nesse processo de globalização tem os uma 
oportunidade, e essa oportunidade é tão verdadeira que é só olhar os fluxos 
de investimentos que aconteceram na nossa região. Esses investimentos 
vieram maciçamente para o Brasil. Tivemos investimentos da ordem de 
100 bilhões de dólares nos últimos cinco anos, sendo que no ano passado 
foram 30 bilhões. Investimentos produtivos, não é capital especulativo. Por 
que vêm para o Brasil? Porque aqui temos universidade, temos tecnologia, 
temos mercado. Nesta ordem: universidade, tecnologia, mercado. E 
investimentos numa enorme concentração, até perigosa do ponto de vista 
dos interesses do conjunto da região, pois não podemos imaginar que nossos 
parceiros ficarão felizes se houver muita concentração no Brasil. Mas a 
solução para isso não pode ser imposta por regras que não tenham aceitação. 
A solução é pensar no espaço geográfico e nas cadeias produtivas nesse 
espaço geográfico - uma parte produzida aqui e outra acolá. Ou é isso ou 
teremos uma concentração tão grande de desenvolvimento científico, 
tecnológico e empresarial num dos países, que os outros não irão aceitar. É 
preciso um esforço construído de distribuição do espaço geográfico. Refiro- 
me não só à Argentina, como também ao Paraguai, Bolívia, Uruguai, amanhã 
a Venezuela, que quer se aproximar. Nós temos que ter uma compreensão 
mais ampla do que é o interesse nacional. O interesse nacional não é, num 
dado momento, favorecer um setor produtivo brasileiro apenas e, amanhã, 
por causa desse setor, impedir um processo muito mais amplo, que interessa 
ao conjunto da região - sobretudo, a nós. Mas esse, digamos, é o lado mais 
simples.
Um segundo grau de facilidade para se aceitar a idéia integracionalista, 
é a relação entre o Mercosul, o Brasil e a União Européia. Percebe-se que 
há uma aceitação maior porque - imagina-se - há menos riscos naquilo que 
todos temem, que é a perda de soberania, da nossa capacidade própria de 
decidir. Nós imaginamos - não sei nem se com razão - que a Europa terá 
menos capacidade de limitar nossa ação do que o nosso parceiro maior do
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0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercasul. A lc a e União Européia
hemisfério. Parece ser mais fácil, ideologicamente, falar de relação com a 
União Européia do que com a Alca ou com o Nafta. E, politicamente, sem 
dúvida. Economicamente, é extremamente complicado. Complicado porque 
o que acontece no caso do Brasil, Argentina e Uruguai é que são altamente 
produtivos em matéria agrícola. Altamente produtivos. Para se ter uma idéia, 
a produção de grãos no Brasil cresceu, de 1990 até agora, de 57 milhões de 
toneladas para 98 milhões de toneladas, embora a área plantada tenha 
aumentado muito pouco. Ou seja, a produtividade cresceu violentamente. 
Hoje somos altamente competitivos. O preço do produto brasileiro, eu diria, 
é quase imbatível em matéria agrícola. E começa a ser em matéria pecuária. 
Este ano vamos exportar o dobro da Argentina, cerca de um bilhão de dólares 
em carnes.
Isto entra em choque com os interesses agrícolas e a política agrícola 
comum da Europa. E um ponto delicado, mas não é insuperável. O preço da 
política agrícola comum é pago na Europa basicamente pelos países não- 
agrícolas - Alemanha e Inglaterra. Quem se beneficia mais são a França, 
Itália e Espanha. Agora a União Européia discute a entrada da Polônia. A 
Polônia é um país agrícola. Se estenderem a ela os mesmos benefícios dados 
aos outros países da Europa, os contribuintes inglês e alemão vão ter de 
pagar muito. Então, temos aliados objetivos para uma negociação que nos 
seja proveitosa, pois não podemos entrar nessa negociação com a União 
Européia sem colocar, com muita clareza, que precisamos, efetivamente, 
de acesso ao mercado agrícola. Porque nós exportamos para a Europa muito 
mais agricultura do que manufatura.
O Brasil hoje exporta 52% de manufatura. Nós não somos um país 
basicamente de exportação agrícola. Vinte e cinco por cento são de 
produtos semi-industrializados e, o resto, de commodities. Com a Europa, 
são basicamente commodities. Não só na Europa. E que nós competimos 
com a Europa em terceiros mercados, como o Oriente Médio. E os 
subsídios nos prejudicam na competição por esses mercados. Então, há 
uma oportunidade que nós temos de aproveitar. Como a União Européia 
nos apresentou uma proposta de negociação, vamos fazer uma contra­
proposta em Montevidéu, creio. O Brasil é partidário de uma contra­
proposta agressiva. Estamos dispostos a entrar numa negociação comercial 
com a Europa. Dispostos, sim, a fazer algumas concessões, desde que nos 
sejam feitas outras tantas.
O outro bloco de oportunidades e riscos é a questão da negociação no 
seio do hemisfério. Como todos sabem, a posição do Brasil foi apresentada
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SEMINÁRIO - Brí?sií Século X X I
no tempo do presidente Itamar (Franco) - a proposta de fazermos um ALCA. 
Eu assisti a reunião em Miami, eu era o presidente eleito, mas confesso que 
não estava informado dos termos da negociação. Fiz um discurso, naquele 
momento, dizendo que achava difícil, no prazo que se queria, uma integração. 
De lá para cá, o Brasil tem procurado dizer: olha, nós queremos negociar, 
sim, ponto a ponto, dentro de certas condições, mas queremos também prazo, 
porque precisamos de mecanismos que permitam a nossa produção se adaptar 
ao regime de concorrência. Essa negociação está em curso. Há vários grupos 
negociando, e é preciso que a sociedade brasileira participe mais ativamente 
dessa negociação. O Brasil vai jogar muito favoravelmente à negociação 
com a União Européia. Precisamos entender que o que está em curso é uma 
negociação comercial. Porque, no caso, não há integração de tarifa externa 
comum. E comércio. Só Montesquieu dizia que comércioera instrumento 
de civilidade. Que o comerciante faz contato, conversa, socializa, e que, 
portanto, é uma forma avançada de civilização que levava - digo eu, não 
ele - a democracia. Isso naquela época. Hoje, o comércio não tem nada de 
soft. Comércio é negociação dura. Vamos nos inspirar em Montesquieu, 
mas não vamos nos esquecer de outras armas menos sofisticadas da 
negociação comercial.
Fui à reunião hemisférica no Canadá. Estavam presentes o presidente 
Bush (George W.) e todos os demais presidentes da região. Eu disse quais 
eram as nossas condições, com muita tranqüilidade, na língua deles. Nós 
precisamos entrar numa negociação que seja, como costumamos dizer na 
linguagem diplomática, tudo de uma vez só. Não venham negociar o que 
interessa a vocês para depois negociarmos o que interessa a nós. Ou 
negociamos tudo, e só quando todos os pontos estiverem acordados, ou 
então não é negociação. E especifiquei: nosso problema não é de estarmos 
contra o livre mercado. Ao contrário. É que nós queremos que ele seja 
livre. O que não queremos é um livre mercado sujeito a salvaguardas, que 
tenha um instituto, como há nos Estados Unidos, que nem do governo é, 
que se reúne e diz: os EUA estão importando calçados demais; logo, os 
calçados importados estão prejudicando nossa produção, e aí impõem 
salvaguardas. Não podemos aceitar anti-dumping indiscriminado. Quem é 
que decide dumping, é só um lado? Não podemos aceitar o que se chama 
pico tarifárico. Nos EUA, a média das tarifas é muito baixa, mas quando 
chega a tarifa do produto que nos interessa, vai lá para cima. A nossa média 
é relativamente elevada - de 12,13% - mas nunca ultrapassa 35%. Lá, pode 
ultrapassar. Então, a negociação deve ser objetiva, e precisa de advogado
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o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l , A lc a e União Européia
nisso. Alguém precisa escrever o texto de modo que fique claro. Não é uma 
questão política, abstrata.
Esse mundo que está sendo recriado é cheio de regras, e se não tiver 
regras, pior para nós. Precisamos de um Estado de Direito Internacional. 
Um comércio internacional baseado em regras também livres. Isso está 
em elaboração, com maior consciência da nossa parte. Essa negociação 
está em curso, com relação à integração do mercado comum. Nós 
brasileiros não precisamos ficar com medo. Temos que ter é consciência, 
coragem e disposição. Somos produtivos em muitos setores. Ainda agora, 
esse institu to am ericano a que me referi está falando em propor 
salvaguardas contra o aço brasileiro. Por quê? Porque a nossa indústria 
de aço é extremamente produtiva, é competitiva. A nossa indústria têxtil 
é com petitiva. Aviões, nem se fala. Nós temos de passar de uma 
mentalidade que pensa que a defesa do Brasil é olhar para trás, concentrar 
renda, para uma mentalidade mais aberta, em que temos presente que é 
preciso ter regras, é preciso lutar, defender o interesse nacional, mas com 
competição. Porque a competição é que permite baratear o produto, 
oferecer mais vantagens à população, e, por último, dar riqueza ao país. O 
que não pode é uma negociação, em nome do livre comércio, que leva ao 
protecionismo por parte daqueles que são mais poderosos. Essa é a questão 
que está posta na mesa de negociação. Não é uma questão ideológica. Se 
não for assim, não se assina um acordo. Mas, se for um bom acordo, se 
faz. Quando estavam discutindo quando seria o acordo, eu declarei, 
claramente: um bom acordo é amanhã. Um mau acordo é nunca. O Brasil 
tem que ter consciência de sua própria força - não há de se exagerar nessa 
força - mas nós a temos. E a força principal, hoje em dia, é a do cérebro. 
Temos que ajustar nossos cérebros, precisamos de gente sintonizada com 
os ares do mundo e com competência para defender os nossos interesses. 
Esse processo de globalização, de oportunidades e riscos no plano 
comercial está posto.
No plano dos investimentos, vai depender, basicamente, do nosso 
desenvolvimento, das universidades, da tecnologia e da melhoria da 
distribuição de renda para que nosso mercado seja mais poderoso. Isto 
não se resolve com um botão. E um processo, que está avançando. A 
discussão se desse processo todo vai derivar uma estrangeirização do setor 
produtivo foi mal colocada. Uma revista publicou, recentemente, a relação 
das 50 maiores empresas. Entre as 50, 28 são nacionais, puramente 
nacionais. Não existe mais, em nenhum país, a possibilidade de imaginar
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SEMINÁRIO - B rasií Sécwío X X I
que seja 100%. Não é verdade que o setor produtivo nacional foi arrasado, 
como alguns mais exagerados dizem. Nem é verdade que houve um 
sucateamento. Nesses dez anos, o que se exporta é manufatura. E produto 
sucateado? Não. Houve um avanço enorme da nossa capacidade. Grandes 
setores de produção estão sendo reorganizados e estão em mãos nacionais: 
siderurgia, petroquímica, minério de ferro, papel e celulose etc. E, o quanto 
possível, são fundos de pensão que participam deles. É uma certa 
socialização do controle do sistema produtivo. Precisamos criar um 
mecanismo pelo qual as bolsas possam sobreviver melhor, não apenas 
diminuindo o CPMF, mas fazendo com que, efetivamente, as empresas 
brasileiras de segunda e terceira linhas lancem títulos nas bolsas. E as 
primeiras, onde o governo pode influenciar, através das privatizações, 
para que elas sejam feitas também na bolsa e que possam disseminar mais 
o capital, criando um mercado de capitais que dê sustentação a um 
crescimento endógeno mais forte.
As grandes corporações, essas vão se capitalizar nos Estados Unidos, 
ou, eventualmente, em Londres. No mundo todo é assim. Vão lançar por lá 
seus recibos de açÕes porque querem se capitalizar em dólares. Isto não é 
uma questão de decisão política, mas porque o mercado é assim. Mas o que 
é de decisão política, e fortalecimento do mercado de capital local, é a 
possibilidade de se fazer o que estamos fazendo agora. Espero aprovar, 
nesses dias, a nova Lei de Sociedades Anônimas para proteger o sócio 
minoritário, para que a pessoa compre uma ação e não seja lograda. Esses 
mecanismos levam muitos anos para votar - democracia é assim mesmo - 
, mas estamos fortalecendo-os para que possamos entrar com mais firmeza 
e menos temor nesse processo de globalização que aí está, minimizando os 
riscos e tirando mas vantagens das oportunidades.
Quero fazer mais um comentário. Acho que estamos, agora, num 
momento muito delicado por causa dos acontecimentos de 11 de setembro, 
que mostraram o que já se sabia: por mais forte que seja uma potência 
predominante, ela não pode mandar sozinha. Não funciona. Na prática, 
começa a surgir a percepção de que temos de criar uma ordem menos 
assimétrica no mundo - tanto econômica quanto politicamente. Esta 
assimetria é que leva às reações que estamos assistindo, contra tudo o que é 
reunião de instituições, até multilaterais. E o sentimento de não-participação. 
Ou se aumenta a participação nos foros decisórios, ou então esse processo 
vai ter travas. Agora mesmo, a maior potência, para se mover contra um 
desafio que é de todos - o terrorismo - buscou alianças. Espero que daí
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o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia
derive um aprendizado: temos que marchar rumo a uma outra visão de 
mundo. Vai levar um século, eu sei, mas é preciso marchar para uma 
globalização mais solidária.
Uma globalização que tem povos como de boa parte da África, não 
vai funcionar a longo prazo. A consciência universal não vai aceitar mais 
isso. É a revalorização da ética. Porque o mundo dispõe de meios materiais 
tão poderosos que eticamente é inaceitável uma desigualdade grande assim. 
Esse processo começa com mercado a impor regras, mas agora é o 
contrário: são os valores que contam. Sem valores não há cimento para 
sustentar uma ordem, por mais poderosa que ela seja materialmente,ou 
por mais forte que seja militarmente. Acho que é essa a missão do Brasil. 
Nosso País tem a possibilidade - não é o único, nem tem tanta força que 
possa pensar ser capaz de fazer isso ou aquilo pois somos um país 
plural, efetivamente, com muitas raças, muitas religiões, muitos imigrantes, 
realmente vocacionado para paz. A nossa voz no mundo tem de ser ética, 
para chamar a atenção para esses fatos. Nós podemos fazer isso sem 
suspeição, pois praticamos aqui o convívio. Hoje mesmo, venho como 
cidadão falar com a OAB, que é freqüentemente crítica. Nós fazemos 
isso. E, se fazemos isso, temos força moral para falar lá fora a respeito 
desses temas sem hipocrisia, sem cinismo, sem passadismo, sem recusar 
o que é irrecusável, que são as oportunidades e os fatos da globalização. 
Mas também sem aceitar as desigualdades que ela gera, sem que se faça a 
ligação mecânica “quanto mais globalizado, mais pobre” . Não é verdade 
quando dizem isso. O problema é que podia ser muito menos pobre. 
Aceitou-se uma situação em que as assimetrias foram sendo mantidas. E 
muito importante, em um seminário de Direito, o tema dos riscos e das 
oportunidades da globalização. Que se discuta isso com a consciência de 
que hoje temos um país que, sem muita pretensão, é capaz, pela força de 
seu povo, de tomar decisões próprias, que não o afaste da globalização, 
que o faça não um parceiro solidário da globalização assimétrica, mas um 
parceiro ativo para que essa globalização seja cada vez mais solidária.
Muito obrigado.
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PAINÉIS
0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia
A INTEGRAÇAO
DE MERCADOS
E O PODER JUDICIÁRIO
Conselheiro Federal Roberto Rosas:
Meus prezados amigos, estamos dando início a esse Painel, intitulado 
“A Integração de Mercados e o Poder Judiciário”. Este Painel tem como 
finalidade básica o exame dos mercados e, mais de perto, o Mercosul. Como 
os senhores sabem, desde 1988 temos feito tratativas com os nossos vizinhos, 
principalmente a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, para a integração de 
um mercado comum, pelo menos à semelhança da União Européia.
Para este tema, relativo ao Poder Judiciário, várias questões já 
surgiram, já foram debatidas, para a integração de um sistema judiciário 
para o novo bloco que se formará ou que já está sendo formado, que se 
intitula o Mercosul.
Há uma discussão acentuada sobre o papel de uma Corte para o 
Mercosul e qual é a jurisdição dessa Corte, a localização dessa Corte. Algo 
já foi feito, por escrito, principalmente no Protocolo de Las Lenas sobre o 
cumprimento de decisões judiciais do países integrantes do Mercosul, 
principalmente sentenças, até de arbitragem, que o Supremo Tribunal Federal 
tem enfrentado e tem dado cumprimento ao Protocolo de Las Lefias, 
facilitando, intensamente, o cumprimento dessas decisões.
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SEMINÁRIO - B rasií Sécuío X X I
Temos aqui, também, ainda, em debate, o problema das soluções para as 
controvérsias, que não sejam somente aquelas soluções via judicial e, 
principalmente, pela via arbitrai.
Nesse Painel, temos três eminentes figuras, que são conhecidas do 
Conselho Federal da Ordem dos Advogados e dos advogados. Inicialmente, 
convido, como anfitrião, o Doutor Reginaldo Oscar de Castro, ex-Presidente 
do Conselho Federal e que teve uma marca muito incisiva, na direção desta 
Casa. E eu posso dar este testemunho pois estou no sétimo mandato do 
Conselho Federal e, por isso, convivi, portanto, com sete Presidentes. Todos 
eles deram uma grande contribuição, uma abnegação, sacrifício pessoal, 
para a construção da Ordem dos Advogados do Brasil, o nome do Conselho 
Federal, os interesses dos advogados, acima de tudo, todos eles preservaram 
isso. E, mais, posso destacar que o Doutor Reginaldo Oscar de Castro teve 
um papel significativo na Ordem dos Advogados do Brasil e no Conselho 
Federal.
É muito difícil a posição do Presidente do Conselho Federal. Não 
raras vezes, ou diariamente, ele tem que arrostar, enfrentar interesses e 
combater determinadas situações, enfrentar determinadas posições. Mas, 
ele nunca teve dúvida em ir ao Congresso, em ir ao Judiciário discutir, 
enfrentar e criando, muitas vezes, um confronto, mas confronto que foi 
benéfico para a Ordem dos Advogados, para a classe dos advogados.
Portanto, peço à Sua Excelência que inicie esses trabalhos, como, 
também, um co-anfitrião.
Doutor Reginaldo Oscar de Castro:
Senhoras e senhores, o tema que me foi proposto - Integração de 
Mercados e Poder Judiciário - envolve questões complexas e de urgente 
solução, sobretudo nos chamados países periféricos. Trata-se de desafio - 
monumental desafio: político, econômico e social - que pressupõe reformas 
estruturais urgentes e profundas, lamentavelmente não de todo assimiladas 
pelas elites governantes de nosso País.
Basta ver o que ocorre com a reforma do Judiciário, que chegou ao 
Congresso há quase dez anos, foi pouco debatida pela sociedade, acabou 
parcialmente aprovada pela Câmara dos Deputados e hoje, no Senado, está 
submetida a um lobby corporativista que ameaça suprimir os poucos avanços 
já acolhidos no âmbito da Câmara.
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o D ire ilo na Era da G luha lização: M ercosu l , A lca e União Européia
Sabemos que a globalização é uma realidade inapelável, imposição dos 
tempos que vivemos, marcados pelo avanço tecnológico, que suprime fronteiras, 
reduz distâncias e coloca o planeta em conexão permanente.
Não significa, porém, que os países não devam dispor de salvaguardas 
e critérios para aderir ao processo. Ao contrário, exatamente em função das 
transformações que a globalização impõe, é preciso que os países - em 
especial os emergentes, mais vulneráveis às instabilidades do sistema 
financeiro internacional - se preparem para uma adesão segura e gradual, 
que não agrave ainda mais suas fragilidades econômicas e sociais.
Os países da Europa Ocidental, que estão longe de ser periféricos, 
assim o fizeram. Aderiram gradualmente, preparando sua sociedade para a 
mudança. Optaram por fortalecer o bloco econômico continental e negociar 
nessa condição. O Brasil não agiu assim. A partir do governo Collor, abriu 
sua economia sem critérios, desorganizando-a, fragilizando-a, agravando 
os problemas de ordem social.
Não cuidou de estabelecer salvaguardas, não pactuou com o setor 
produtivo as condições dessa abertura. Não providenciou reformas 
indispensáveis, como a tributária e fiscal, sem a qual a integração será apenas 
uma anexação de mercado.
M as, para não fug ir aqui ao tem a proposto , quero me ater 
especificamente ao papel que o Poder Judiciário exerce no processo de 
integração de mercados. Penso que é fator fundamental na sinalização aos 
investidores externos. Em ambiente de insegurança jurídica - e a tanto 
conduz uma estrutura judiciária anacrônica, impotente diante das demandas 
do país os investidores retraem-se.
Quem quer arriscar seu capital num país em que os conflitos judiciais 
se arrastam por anos ou mesmo décadas? Um país onde o Estado se serve 
da ineficiência dessa estrutura judiciária e de uma legislação processual 
absurda para não cumprir seus débitos, recorrendo de sentenças que sabe 
desde já perdidas, apenas para ganhar tempo. Um país que convive com um 
instrumento como o precatório e chega ao requinte de desdobrá-lo por dez 
anos?
Habitualmente, analisamos a crise de Justiça no País pelo ângulo ético 
e humanitário. Mas é claro que há um custo econômico - um dos mais 
caros, aliás, do chamado Custo Brasil. E esse custo econômico agrava ainda 
mais o custo social, impedindo que se criem novos empregos e aumentando 
o contingente de excluídos.
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SEMINÁRIO - BrílSÍÍ Sécnío X X I
Chegamos a um ponto, nessa questão da crise do Judiciário, em que até 
os organismos financeiros internacionais, como FMI e Banco Mundial,

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