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Brasil Século XXI O Direito na Em da Globalização Mercosul, Alca e União Européia REALIZAÇÃO CONSELHO FEDERAL Rubens A p p ro b a te M achado Presidente S E M IN Á R IO Brasil Século X X I O Direito na Era da Globalização Mercosuly Alca e União Européia PALESTRAS DIRETORIA Rubens Approbato M achado : Presidente Roberto Antonio Busato : Vice-Presidente Gilberto Gomes : Secretário-Geral Sérgio Alberto Frazão do Couto : Secretário-Geral Adjunto Esdras Dantas de Souza : Diretor-Tesoureiro MEMBROS HONORÁRIOS VITALÍCIOS; Alberto Barreto de Melo, Laudo de Almeida Camargo, José Cavalcanti Neves, Caio Mário da Silva Pereira, Raymundo Faoro, Eduardo Seabra Fagundes, J, Bernardo C ^ ra l , Mário Sérgio Duarte Garcia, Hermann Assis Baeta, Márcio Thomaz Bastos, Ophir Filgueiras Cavalcante, Marcello Lavenère Machado, José Roberto Batochio, Emando Uchoa Lima e Reginaldo Oscar de Castro. CONSELHEIROS FEDERAIS AC: Marcelo Lavocat Galvão, Roberto Rosas, Sergio Ferraz; AL: Adilson Cavalcante de Souza, Antonio Nabor Areias Bulhões, Marcos Bemardes de Mello; AM: Eloi Pinto de Andrade, José Alfredo Ferreira de Andrade, Ornara Oliveira de Gusmão; AP: Guaracy da Silva Freitas, Paulo Alberto dos Santos, Sebastião Cristovam Fortes Magalhães; BA: Gilberto Gomes, Joselito Barreto de Abreu, Marcelo Cintra Zarif; CE: José Feliciano de Carvalho Júnior, Marcos Antonio Paiva Colares, Rosa Júlia Piá Coêlho; DF: Esdras Dantas de Souza, José Cruz Macedo, Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira; ES: Antonio José Ferreira Abikair, ímero Devens, Luiz Antonio de Souza Basilio; GO: Ana Maria Morais, José Porfírio Teles, Waldemar Pereira Júnior; MA: Carlos Sebastião Silva Nina, José Brito de Souza, José Carlos Sousa Silva; MG: João Otávio de Noronha, José Murilo Procópio de Carvalho, Paulo Roberto de Gouvêa Medina; MS: Afeife Mohamad Hajj, Evandro Paes Barbosa, José Sebastião Espíndola; MT: Henrique Augusto Vieira, Renato Cesar Vianna Gomes, Roberto Dias de Campos; PA: Clovis Cunha da Gama Malcher Filho, Maria Avelina Imbiriba Hesketh, Sérgio Alberto Frazão do Couto: PB: Delosmar Domingos de Mendonça Junior, José Araújo Agra, José Edisio Simões Souto; PE: Aluísio José de Vasconcelos Xavier, Júlio Alcino de Oliveira Neto, Maurício Rands Coelho Barros; PI: Fides Angélica de Castro Veiloso Mendes O m m ati, João Pedro Ayrimoraes Soares, Roberto Gonçalves de Freitas Filho; PR: Alberto de Paula Machado, Edgard Luiz Cavalcanti de Albuquerque, Roberto Antonio Busato; RJ: Alfredo Bumachar, Orquinézio de Oliveira, Oscar Argollo; RN: Emmanoel Pereira, Heriberto Escolástico Bezerra, Paulo Lopo Saraiva; RO: Gilberto Piselo do Nascimento, Ney Luiz de Freitas Leal, Odair Martini; RR: Ednaldo do Nascimento Silva, Helder Figueiredo Pereira, Jorge da Silva Fraxe; RS: Gabriel Pauli Fadei, Nereu Lima, Reginald Delmar Hintz Felker; SC: Ferdinando Damo, Jefferson Luis Kravchychyn, Marcus Antonio Luiz da Silva; SE: Clovis Barbosa de Melo, Edson Ulisses de Melo, Raimundo Cezar Britto Aragao; SP: Marcelo Guimarães da Rocha e Silva, Michel Elias Zamari, Rosana Chiavassa; TO: Ercilio Bezerra de Castro Filho, Ivair Martins dos Santos Diniz, Sady Antonio Boessio Pigatto. Comissão de Relações Internacionais (2001-2004): Reginaldo Oscar de Castro (Presidente), Emmanoel Pereira (Vice-Presidente), Membros Efetivos: Alfredo de Assis Gonçalves Neto, Horácio Bemardes Neto, José Martins Pinheiro, Paulo Lins e Silva. Membros Consultores: Aluísio José Vasconcelos de Xavier, Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Aristóteles Atheniense, Dourimar Nunes de Moura, Isabel Franco, Luiz Carlos Stuzenegger e Vera Helena de Moraes Dantas. Colaboração: Paola Barreiros Barbieri (Assistente Técnica). ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL CONSELHO FEDERAL S E M I N Á R I O Brasil Século X X I O Direito na Era da Globalização Mercosul,Alca e União Européia PALESTRAS Brasília, 24 de outubro de 2001 Sede do Conselho Federal da OAB Brasília - DF, 2002 © Ordem dos Advogados do Brasil Conselho Federal, 2002 Distribuição: Gerência de Documentação e Informação Setor de Autarquias Sul - Q. 5 - Lote 1 - Bl. M - 7® andar Brasília - DF CEP 70070-939 Fones; (61) 316-9631 e 316-9605 Fax: (61) 316-9632 e-mail: gdi@oab.org.br Tiragem: 3.000 exemplares Editoração: Sapiens Comunicação Capa: Susele Bezerra Miranda Organização: Luiz Carlos Maroclo Seminário Brasil Século XXI (2001 : Brasília, DF) O Direito na era da globalização : Mercosul, Alca e União Européia : Palestras. Brasília : OAB, Conselho Federal, 2002. 192 p. ISBN 85-87260-20-0 1. Globalização da Economia - Direito - Brasil. I. Ordem dos Advogados do Brasil. Conselho Federal. II.. Título. CDD: 338.94 OAB-CF/GDI/Luiz Carlos Maroclo SUMARIO NOTAS INTRODUTÓRIAS Apresentação........................................................................................... 9 Rubens Approbato Machado M ensagem...............................................................................................13 Reginaldo Oscar de Castro The Challenges, Opportunities and Risks of Globalization 15 Antonio Carlos Rodrigues do Amaral SEMINÁRIO Brasií Século X X I O Direito na Era da Globalização - Mercosuí, Alca e União Européia PALAVRAS INICIAIS Antonio Carlos Rodrigues do Amaral.................................................21 ABERTURA Rubens Approbato Machado................................................................ 23 CONFERÊNCIA INAUGURAL O Brasil no Século XXI: Desafios, Oportunidades e Riscos da Globalização.........................29 Fernando Henrique Cardoso PAINÉIS A Integração de Mercados e o Poder Judiciário............................ 47 Roberto Rosas Reginaldo Oscar de Castro Joaquim de Arruda Falcão Neto Carlos Mário da Silva Velloso Aspectos Econômicos e Sociais da Integração de M ercados 85 Rubens Approbato Machado Francisco Oswaldo Neves Domelles Sérgio Silva do Amaral Pedro Videla A Integração de Mercados e as Questões Tributárias. Repercussões Sociais...........................................................................107 Antonio Carlos Rodrigues do Amaral Leonardo de Andrade Costa Ives Gandra da Silva Martins Everardo Maciel Maria Cristina Irigoyen Peduzzi Integração de Mercados e a Concorrência Internacional.............151 Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira Nuno de Azevedo Ruiz João Grandino Rodas Cristovam Buarque ENCERRAMENTO Reginaldo Oscar de Castro...................................................................187 PROGRAMA 189 NOTAS INTRODUTÓRIAS o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e U nião Européia APRESENTAÇÃO A edição desta obra é fruto de uma perturbadora questão que motivou a decisão da Ordem dos Advogados do Brasil em organizar o Seminário “Brasil Século XXI: o Direito na era da globalização - Mercosul, Alca e União Européia: a globalização hegemônica em curso, afetando processos econômicos, sociais, políticos e culturais das sociedades nacionais, tem sido ou não perniciosa aos valores da promoção humana e do ideal da cidadania? A globalização, bem o sabemos, é um fenômeno irreversível, mas as maneiras como se processa, os modos como afeta a qualidade de vida de milhões de habitantes do Planeta, as conseqüências que gera sobre o plano institucional das Nações, particularmente o de países periféricos e em lento estágio de desenvolvim ento, hão de ser exaustiva e rigorosam ente examinadas, até para se encontrar balizamentos capazes de diminuir os efeitos nocivos da interpendência e interpenetração dos sistemas econômicos mundiais. O ponto central da crítica que se faz à globalização relaciona-se ao caráter utilitarista do fenômeno, que atende ao poder hegemônico dos interesses dos grandes empreendimentos econômicos, incrustadosnos países centrais e nas economias emergentes de alto teor financeiro, cuja inspiração se volta fundamentalmente para o lucro. Em decorrência, surge um super- 9 SEMINÁRIO - B ra s ií Sécuío X X I poder emissor, que parte do topo da pirâmide social, invertendo o sentido de uma globalização de amplas nuances sociais e privilegiando parcelas mínimas da sociedade. Não por acaso, tenho recorrido ao bordão de que “nào nos globalizamos, fomos globalizados''. Os efeitos dessa tendência já começam a se manifestar no plano das coletividades, que não sentem melhorias acentuadas em suas vidas, observando-se que algumas sociedades até vêem agravados os desajustes e as disparidades entre as classes, observados principalmente pelas taxas de distribuição de renda e pelo IDH (índice de Desenvolvimento Humano), que coloca o Brasil na sexagésima-nona posição. Entre nós, por exemplo, a distância entre as classes sociais tem aumentado, o que é um atestado da incapacidade do país em expandir por igual os efeitos de sua inserção nos espaços da globalização econômica. O rendimento individual do trabalhador, bem como a renda das famílias, vem caindo desde 1996. Segundo os dados do IGBGE, em cinco anos ocorreu perda real de 10% na remuneração média da população ocupada, passando de R$ 662,00 mensais por trabalhador para R$ 595,00. Os 10% de trabalhadores com menor remuneração têm rendimento médio 45 vezes menor que os 10% com salários mais altos. Mais ainda: os 10% mais ricos recebem 45,7% de toda a renda gerada, enquanto os 10% mais pobres recebem apenas 1%. E o 1 % mais rico recebe mais de 12% de toda a renda gerada no país. A situação descrita é alarmante. Aumentam as legiões de excluídos, os contingentes marginalizados do mercado de consumo, os bolsões periféricos que, somando mais de 50 milhões de brasileiros, constituem, na expressão de Cristovam Buarque, os nossos 'Hnsírangeiros' \ porque estes brasileiros são estrangeiros - estranhos, distantes - dentro da própria Nação. Deparamo-nos, portanto, com um efeito devastador da globalização: se países estão se integrando, pela via econômica, parcelas ponderáveis das forças sociais estão se desintegrando, separados pelo facão afiado das políticas econômicas de viés utilitarista. Neste ponto, somos levados a fazer a recorrente indagação, que tem aparecido como a mais inquietante e veemente dúvida de todos aqueles que se debruçam sobre os problemas decorrentes da globalização: “ é possível unir o que a globalização tem separado e separar o que a globalização tem unido?” 10 o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia Por trás da angústia inerente à dúvida, aflora o sentimento de que, ao lado da globalização hegemônica, é preciso criar uma outra, que se origine nas bases da sociedade, de caráter mais amplo, de inspiração solidária, e cujos objetivos estejam apontados para as lutas contra a exclusão social, a precarização do trabalho, a destruição do meio ambiente, a desmoralização da vida publica e as dúbias práticas políticas, o desemprego, as violações dos direitos humanos, as pandemias que consomem contingentes humanos, os ódios étnicos e os conflitos entre irmãos e vizinhos. Há de se conferir ao conceito de globalização a essencialidade do Humanismo, tão vivo e forte no pensamento de perfis iluminados, como o de Teilhard de Chardin, que só vê sentido em um fenômeno como este se a ele estiverem agregadas as significações de totalidade, unanimização, universalismo, planetização, que tem como luz de inspiração a idéia de fraternidade entre os homens. Ou seja, a globalização só terá significação, quando voltada para a descoberta da Alma comum da Humanidade, pois, segundo o grande teólogo francês, “no fundo do homem dorme uma necessidade de universalidade que só espera a hora de despertar". Trata- se, portanto, de salvar o valor da pessoa humana, o valor social, sendo este valor o caminho de uma socialização, sinônimo de uma unidade, que é a comunhão universal dos homens e das coisas. Mas, essa totalidade não quer significar um amontoado de indivíduos, de números em série, de peças mutáveis entre si, e sim a personalização de cada pessoa, pela promoção de seus valores. Utopia ou não, o esforço por uma globalização paralela, que junte as forças organizativas da sociedade mundial, os movimentos e lutas das entidades, se faz necessário para dar vazão aos sonhos das comunidades e a seus anseios de Liberdade, de Justiça, de Dignidade e de Cidadania. A presente obra, que ora apresentamos, traz à luz os pensamentos e as propostas daqueles que meditaram, refletiram, analisaram, participaram e expuseram suas idéias, e tem por finalidade motivar, no cenário brasileiro, a ampla discussão do tema “globalização”. Rubens Approbato Machado Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil 11 o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosul, A lc a e União Européia MENSAGEM Ao patrocinar a realização do Seminário Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização: Mercosul, Alca e União Européia, a Ordem dos Advogados do Brasil pretende ampliar a discussão em tomo dos complexos temas que envolvem a inserção do Brasil nas novas práticas de convivência entre as nações. A sociedade brasileira tem sido conduzida a um desconhecido destino sem ter tido, até aqui, a oportunidade de se manifestar sobre a ação de seus representantes políticos e, se tivesse ensejo, talvez não pudesse com segurança aprovar, ou não, tudo o que já está consolidado, pois poucos detêm as informações indispensáveis a qualquer avaliação do cenário no qual foi incluído o País. No momento em que o Estado se separa da Nação para isoladamente decidir sem consultá-la, corre o risco de se tomar presa fácil do poder econômico que, por óbvias razões, não terá outro objetivo senão a realização de seus objetivos econômicos. A opinião pública é a mais eficaz parceira dos governantes, mas para que possa desempenhar o papel que a ela é destinado, deverá ser dotada de 13 SEMINÁRIO - B ríisií Sécwío X X I informações hauridas, sobretudo, na transparência dos atos de seus representantes políticos. Aí está o alvo que busca atingir a OAB com a edição deste livro, cujo conteúdo certamente contribuirá para a ampliação do conhecimento de todos que se preocupam com o impacto a que estão expostas as futuras gerações de brasileiros. Regínaldo Oscar de Castro Presidente da Comissão de Relações Internacionais do Conselho Federal da OAB 0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosu l. A lc a e União Européia “Seminar Brazil, 2P ' Century: Law in the Globalization Era Mercosul, FTAA and European Union” THE CHALLENGES, OPPORTUNITIES AND RISKS OF GLOBALIZATION In no other period of our civilization has the world been as small and as subject to deep and ongoing changes in term s of organization, communication, production and distribution. From new information technology to incredible scientific progress in the most varied areas of human knowledge, everything concurs to the relentless transformation of economic, political and social relations between nations. The rich get richer, while the excluded masses cannot many times benefit from such an admirable new world. Given these huge transformations that surprise everyone with their galloping speed and the intensity of their implications on everyday life, the jurist must interpret this new and complex reality, in the light of the Law and Justice. Inserted in the dynamics of markets and, indeed, from a true economic and social perspective, new juridical categories and appropriate legal instruments are required to preserve good order in domestic and international relations, thereby preserving the fundamental rights and 15 SEMINÁRIO- B rdsií Sécuío X X I guarantees of citizens and their business. Globalization offers unique opportunities, it being a fact that countries that have strayed away from the international economic flow are those that present the most disappointing growth rates and the worst social indicators. The internationalization of economies enables access to capital, new technologies, corporate and management techniques, educational and scientific progress, labor qualification, modem environmental preservation and control systems, development of economies of scale, competitive stimulus, deepening of the intelligence of markets and increase in exportation levels. The risks are also known: unequal distribution of benefits, abuse of economic power due to market flaws and to an inefficient regulatory environment, the relentless impact on already established or new non competitive domestic sectors, as well as serious impacts resulting from the contamination caused by financial crises or international catastrophes. Additionally, globalization imposes the destruction of barriers on the foreign trade, due to the pressure of richer countries, while such countries continue to maintain structures for protecting their non-competitive sectors. All this concurs to an unbalanced competition between ferocious competitors on a global scale. All of us, Brazilian lawyers and jurists, are called upon to analyze this dramatic context. New, creative and suitable legal solutions are necessary to build this formidable and challenging contemporaneous reality, in the quest for the stability and development of nations, from various perspectives. Therefore, the insertion of Brazil in the world scenario, with appropriate competitive conditions, with a juridical regime and modem legal instruments that are fair, efficient and compatible with our intemational peers, will undoubtedly concur to achieving sustainable economic growth, the harmonization of social relations and the much desired elimination of the exclusion of a great proportion of Brazilians from the benefits produced by globalization. It is in this dynamic context and in view of the issue on how to benefit from the internationalization of the flow of goods, services and capital, minimizing costs and risks resulting therefrom, that the seminar “Brazil, 2 P ‘ Century: Law in the Globalization Era - Mercosul, FTAA and European Union” is set. It was conceived by the President of the Federal Council of the Brazilian Bar Association, Rubens Approbate Machado, by the President of its Commission for Intemational Relations, Reginaldo de Castro, and by the Brazilian branch of the Harvard Law School Alumni Association. It 16 o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l. A lc a e U nião Européia represents an extraordinary opportunity to bring lawyers closer to the most prominent authorities from governmental, academic and corporate circles, concerned with the structuring of appropriate strategies for the insertion and development of Brazil in the global scenario. The seminar was honored by the opening talk given by the President of Brazil, Fernando Henrique Cardoso, and by speeches of highly ranked authorities, such as Justice Carlos Mário Velloso, of the Supreme Federal Court, the Minister of Labor, Francisco Domelles, the Minister of Industry, Trade and Tourism, Ambassador Sergio Amaral, the Inland Revenue Secretary, Everardo Maciel and other authorities from the Brazilian and foreign academic world. Antonio Carlos Rodrigues do Amaral Coordinator o f the seminar. President o f the Harvard Law School Association o f Brazill Member o f the Commission fo r International Relations o f the Federal Council o f the Brazilian Bar Association. Professor at Universidade Mackenzie and lawyer in São Paulo, Brazil 17 SEIVIINÁRIO Brasil SécMÍo X X I O Direito na Era da Globalização Mercosul, Alca e União Européia Senhoras e Senhores, o Senhor Presidente da República. Acompanham o Senhor Presidente da República à Mesa Diretora, o Dr. Rubens Approbato Machado, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal, o Dr. Reginaldo Oscar de Castro, Presidente da Comissão de Relações Internacionais do Conselho Federal da OAB, o Dr. Gilberto Gomes, Secretário- Geral do Conselho Federal da OAB, e o Dr. Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Presidente da Harvard Law School Association do Brasil. o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia Cerimônia de Abertura do Seminário “Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização: Mercosul, Alca e União Européia.” Palavras de apresentação do Dr. Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Coordenador do Evento e Presidente da Harvard Law School Association do Brasil: Bom dia a todos. Antes da abertura oficial dos trabalhos, gostaria de agradecer ao nosso Presidente, Rubens Approbato Machado, e ao Presidente da Comissão de Relações Internacionais, Dr. Reginaldo Oscar de Castro, pela honra de me terem incumbido da coordenação de tão importante e histórico Seminário. No entanto, sou apenas a parte visível do valoroso time de profissionais que, com grande dedicação e afinco, nestes últimos dois meses, se dedicou a este evento, a quem agradeceria nas pessoas de Paola Barbieri, Comarci N unes, Paulo G uim arães, B artolom eu R odrigues e Jorge V ieira, Superintendente desta Casa. O evento de hoje - valorizado sobremaneira pelas presenças dos Excelentíssimos Senhores Presidente da República, Professor Fernando Henrique Cardoso, do Ministro Carlos Mário Velloso, do Supremo Tribunal Federal e demais expressivas autoridades governamentais e acadêmicas - discutirá, nos seus diversos painéis, com nomes da mais alta qualificação, aspectos de real relevância voltados à integração de mercados, analisando os riscos, as oportunidades e os desafios da globalização. 21 SEMINÁRIO - B ras ií Sécnío X X I E é esta globalização que faz chegar a nós uma realidade que vai muito além da simples unificação de mercados. O conceito de “integração” é muito mais profundo, abrangente e muito mais complexo, porque traduz a idéia de culturas diferentes, pensamentos diversos e linhas de raciocínio muitas vezes conflitantes. Integrar significa aparar arestas entre as Nações, para que não apenas estejam “juntas”, mas para que possam adaptar-se umas às outras, e passem a trabalhar em perfeita harmonia. A integração de mercados deve propiciar um sistema novo de idéias e paradigmas, equilibrado com as peças das mais diversas origens deste grande calidoscópio humano que compõe a civilização. O resultado fmal deve satisfatoriamente atender, na maior dimensão possível, as necessidades de todos os envolvidos, além de criar opções reais a tantos quanto dela possam e devam se beneficiar. No seu ministério privado, além de unir as várias pontas envolvidas em uma transação comercial, é o advogado o profissional que deve ter não apenas o conhecimento técnico, mas o talento e a sensibilidade para compreender as idéias em debate e as peculiaridades das partes, de forma a construir estruturas jurídicas que efetivamente atendam aos seus legítimos interesses e necessidades. A responsabilidade do advogado vai muito além de montar estruturas legais que garantam lucro para os seus clientes e segurança jurídica para suas operações. Nas mãos dos juristas também está a responsabilidade de criar mecanismos que façam com que a união de mercados marque uma era de benefícios para o País e para a humanidade como um todo, tendo o Direito como grande marco civilizador na vida das Nações. Diante desta perspectiva é que ouviremos o Presidente Nacional da OAB, Dr. Rubens Approbate Machado, para a abertura oficial dos trabalhos, 0 quefaço pedindo uma salva de palmas a todos os profissionais desta Casa que tanto se dedicaram para a realização e êxito deste evento. Obrigado. 22 0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia Pronunciamento do Presidente Nacional da OAB, Dr. Rubens Approbato Machado, na abertura do Seminário Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização “Vi todas as nações do mundo reunidas, e aprendi a não me envergonhar da minha. Medindo de per to os grandes e os fortes, achei-os menores e mais fracos do que a Justiça e o Direito”, Ruy Barbosa A Ordem dos Advogados do Brasil, na abertura do serminário “Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização: Mercosul, Alca e União Européia”, deseja registrar, desde logo, a sua imensa honra em poder receber, em sua nova casa, a presença ilustre do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, que, ao longo de sua vida pública, com aberto espírito democrático, vem buscando caminhos para a inserção do Brasil no concerto das Nações mais avançadas do Mundo. A OAB, por imperativos constitucionais e legais, além de seus objetivos de defesa, representação e disciplina dos advogados, incorpora finalidades institucionais expressas, quais sejam, as de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas. Em razão de sua histórica e tradicional missão em defesa 23 SEMINÁRIO - Brasil Século X X I permanente e corajosa de tais preceitos é que a OAB não mantém e nem pode manter qualquer vínculo funcional ou hierárquico com órgãos da Administração Pública. Sua ação crítica se projeta para o bem comum, o bem estar coletivo, a harmonia e a paz social, que é o mesmo objetivo governamental. Por essa concepção construtiva, perante a sociedade brasileira, a OAB se legitima para tecer críticas, nunca de caráter pessoal ou político-partidário, quando se fizerem necessárias, o que é próprio de um regime democrático. Em função dessas resumidas razões, a ORDEM se, de um lado, faz críticas, de outro aplaude as ações governamentais e a elas adere, sempre que o objetivo se revele capaz de produzir o crescimento econômico e social da nação brasileira. Com esse escopo, a OAB se alia à ação governamental na discussão de tema tão importante para o Brasil, que é a “globalização das economias”. Em recente manifestação que, em nome da advocacia brasileira, fiz no 45° Congresso da União Internacional dos Advogados, realizado em Turim, na Itália, (reproduzida, integralmente, no jornal “OAB Nacional”, ano XII, n. 94, setembro/2.001, págs.10/11), após apontar as disparidades econômicas entre os Países, foi, por mim, ressaltado que ''não houve e nem parece haver qualquer preocupação em preservar interesses essenciais da nação. Países europeus, perfeitam ente integrados à globalização, estabeleceram critérios dualísticos para aderir, buscando evitar traumas para a população e o sistema produtivo. Entre nós, em face de nossas fragilidades sociais e econômicas, essa gradualidade é ainda mais imperativa. Mas inexiste" e foi sublinhado que “fom os inseridos sem qualquer critério ou cuidado no processo de globalização. A rigor não nos globalizamos: fom os globalizados"'. Trouxe, naquela oportunidade, à colação, o pensamento do Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao qual aderi, desde logo, quando a respeito do tem a se manifestou dizendo ter sido criada “uma economia mundial sem que surgissem paralelamente mecanismos satisfatórios de governança, para não fa lar de mecanismos de governo''. E, com a adequada apreciação conceituou que “existe um déficit de democracia, um déficit de cidadania planetária. Cada vez mais, a vida de todos nós é afetada por eventos globalizados, mas os instrum entos de participação ou mesmo de 24 o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosu l, A lc a e União Européia deliberação no plano global ainda são insuficientes, para não dizer inexistentes. Esse descompasso cria a percepção de que, na globalização, o mercado é tudo e o cidadão é nada". Em sum a, a g lobalização e in terpenetração das econom ias contemporâneas só terão sentido quando se puser a serviço da valorização do homem, implicando, assim, na globalização dos processos decisórios, da co-participação das Nações nas estratégias mundiais de desenvolvimento. Globalizar problemas, sem globalizar soluções, parece-nos uma equação perversa. Sintonizados com esse ideário, entendemos que a globalização das economias impõe a integração de pessoas buscando um objetivo comum. Desse modo, ainda que com visões diferentes, todos devem participar da construção de países mais fortes, mais solidários e internacionalmente competitivos. Impõe-se a criação, em âmbito internacional, de uma cultura de abertura dos mercados, voltada para o objetivo de melhorar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos cidadãos, respeitada a soberania de cada país. Não se pode, contudo, sob a proteção do estatuto da soberania, aceitar, passivamente, a constatação de que os países desenvolvidos, líderes do processo de globalização econômica, não pratiquem as chamadas virtudes do livre comércio, criando, para si, ferramentas protecionistas, que acabam se tomando práticas abusivas, incapacitando a efetiva participação dos países periféricos e menos desenvolvidos nos benefícios globais. De outra sorte, não se deve permitir que a abertura da economia imponha graves riscos, pela contaminação gerada por crises internacionais, pela ausência de competição leal e transparente entre os países, pela outorga de subsídios injustos e pelo abuso do poder econômico e político no cenário mundial. Para o Brasil, em sua planificação de busca de competitividade global e para a sua adequada inserção na economia internacional, o fomento às exportações se toma vital. A legislação brasileira, nesse setor, deve se adequar aos modelos e técnicas do livre comércio, aprimorando-se um estatuto de direito privado internacional e a elaboração de um regimento básico aplicável ao comércio exterior, matérias essas que se inserem, naturalmente, na atividade do operador do direito, campo em que a OAB, 25 SEMINÁRIO - B rasií Sécwío X X I pela capilaridade de sua atuação no âmbito nacional, em todas as suas esferas, pode colaborar com a ação governamental. Além disso, outros instrumentos deverão adensar a pauta das discussões, como a modernização da legislação em geral, com a necessária reforma tributária, bem como o aprimoramento urgente do aparelho judiciário, os quais, certamente, deverão colaborar para a justiça social, o desenvolvimento econômico do Brasil e a captação de recursos externos de investimento. Nesse terreno, os advogados brasileiros, diante das oportunidades e crescentes exigências de um mercado globalizado, têm o dever, até no interesse do seu desenvolvimento profissional, de se tomar competitivos em relação aos advogados estrangeiros. As Escolas de Advocacia regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil, tanto na esfera do Conselho Federal, quanto dos Conselhos Seccionais, podem e devem ampliar os cursos nessas áreas de conhecimento, além de promover eventos, no país e no exterior, da mesma grandeza do que ora se faz, inclusive em parceria com entidades do exterior, tal como a mantida com a Harvard Law School Association do Brasil. Sem qualquer conotação de xenofobia, a Ordem dos Advogados do Brasil , ciente e consciente da globalização em curso, estabeleceu um moderno Provimento para que a prestação de serviços jurídicos por advogados de outros países possa ser realizada, mediante a sua inscrição nos quadros da OAB, na qualidadede consultores estrangeiros. Eventos como este, “Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização”, servem para o advogado brasileiro estar mais próximo das autoridades públicas encarregadas da formulação das políticas que irão influenciar a vida nacional nos próximos anos, contribuir para a tão desejada inserção do país no conjunto de países líderes do processo de globalização, além, evidentemente, do objetivo de colaborar com a preparação cultural do advogado. A participação e o trabalho dos advogados brasileiros se mostram imprescindíveis no aprimoramento do comércio exterior. São esses operadores do direito os mais indicados, com capacidade intelectual e técnica, para unir as duas pontas da relação comercial, dando-lhe o necessário suporte jurídico, tanto no âmbito do cumprimento das normas legais, quanto no 26 o D ire ito na Era da C lohalizaçao: M ercosul, A lc a e União Européia encaminhamento contratual adequado para os negócios, levando as partes a uma relação pacífica, que gera, por óbvio, o aprimoramento da democracia e da justiça social. Convém ouvirmos, dentro da concepção pluralista de idéias que é uma das características da OAB, todos os segmentos e pensamentos, inclusive das autoridades governamentais, a fim de se poder fazer o encaminhamento de todas essas idéias e propostas à definição dos rumos a serem adotados pela nossa Entidade, sempre no interesse maior da cidadania brasileira. Que este evento, pequena colaboração da OAB no esforço nacional para fortalecer a posição do país no cenário internacional, se transforme em uma grande alavanca para aorir as portas a uma justa, eficaz e distributiva globalização da economia, com a adequada e necessária participação do profissional da advocacia. Bom trabalho a todos. Obrigado. Rubens Approbate Machado Presidente Nacional da OAB 27 o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l . A lc a e União E uropéia Conferência do Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil Doutor Fernando Henrique Cardoso no Seminário Brasil Século XXI - O Direito na Era da Globalização % Dr. Rubens Approbate Machado, Presidente do Conselho Federal da OAB; Ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal; Dr. Reginaldo Oscar de Castro, Presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB; Dr. Gilberto Gomes que é o Secretário-Geral, Dr. Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, Presidente da Harvard Law School Association do Brasil; senhoras e senhores participantes deste Seminário. Quero manifestar a minha satisfação de comparecer à OAB uma vez mais. Tive o prazer de comparecer à transmissão de cargo quando o Dr. Reginaldo de Castro assumiu a Presidência desta entidade, mas soube há pouco que sou o primeiro Presidente da República que vem à Ordem dos Advogados do Brasil para participar de um debate. Isto é muito significativo. Mostra, por um lado, que a OAB está discutindo temas de tal relevância que justifica inclui-los na agenda do Presidente; por outro, que o clima de debate democrático no Brasil está consolidado. O Presidente vem aqui como cidadão, com tranqüilidade. Isto me permite afastar do texto escrito para falar mais à vontade, mais amplamente, sobre o tema proposto. Gostaria de dividir a minha exposição em dois momentos. No primeiro, algumas reflexões, apenas para reafirmar o que já foi dito pelo Dr. Rubens Approbato, que teve a gentileza 29 SEMINÁRIO - B rasií Século X X I de me citar, sobre a questão mais genérica da globalização e dos desafios que se colocam a todos os países - e ao nosso, em particular. Em um segundo momento, para que se possa vislumbrar os caminhos a serem trilhados para que possamos ter uma inserção soberana nesta nova ordem global que está se formando. O tema globalização, embora tenha ganhado ímpeto recentemente, não é novo. O grande debate da expansão do capitalismo no século XIX, e mesmo antes, foi o da globalização. Todos aqueles que pensaram a formação do sistema capitalista - dos conservadores até (Karl) Marx - mencionavam a tendência à expansão de um mesmo sistema produtivo. E a tendência, portanto, de que pouco a pouco se consolidasse uma ordem mundial. Já no século XX, alguns pensadores bastante críticos - Rosa de Luxemburgo à frente - mostravam que existia, realmente, uma tendência incontrastável no sentido de que a homogeneização das forças produtivas seria impor uma ordem econômica só. A discussão que se travou mais tarde seria saber que ordem seria essa - se capitalista ou socialista. Por uma razão óbvia: é que as transformações tecnológicas foram de tal monta que era fácil prever a expansão do sistema produtivo e, com ele, os valores entranhados. O que houve, recentemente, foi uma imensa aceleração desse processo, também em função de transformações no modo de produzir: no plano dos transportes e das comunicações. O computador coroou esse processo. Em um primeiro momento, o que chamava mais a atenção era a homogeneização das formas de produção. Depois, veio a dispersão das formas de produção. Nos anos 60, quando trabalhei nas Nações Unidas, na Comissão Econômica para a América Latina, escrevi um livro chamado “Dependência e Desenvolvimento da América Latina” , com um companheiro chileno chamado Enzo Faleto. Naquela época, não existia a expressão multinacional. Chamava-se trust (cartéis). A expressão multinacional foi criada no fim dos anos 60 e começo dos anos 70, e, para fazer referência a esse processo, eu usei nesse livro a expressão, hoje insuficiente, de internacionalização do mercado interno. Mas não era isso o que estava ocorrendo. Aliás, isso também, mas estava ocorrendo uma internacionalização da produção. A produção começava a se deslocar dos centros para países da periferia. Cada vez mais surgiam investimentos na periferia. Isto, nos anos 70, gerou um debate imenso na América Latina. Muitos achavam que isto não iria acontecer porque haveria uma aliança entre o imperialismo - assim chamado - e o latifúndio, que impedia o desenvolvimento daqueles países. Eu me pus do outro lado: a transformação está ocorrendo; há investimentos, em 30 o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosul, A lc a e União Européia grande quantidade, em alguns dos países chamados de periferia do sistema capitalista. O que estava acontecendo era um processo que chamei, na época, de desenvolvimento dependente associado. Ou seja, uma associação. As forças produtivas estavam se integrando com todas as transformações nas relações de produção, societárias e na política também, no modo como se concebe o papel do país no conjunto das nações. Mas ainda estávamos engatinhando nessa discussão. Nos anos 70, voltou à m oda, entre os econom istas, os sociólogos, a econom ia internacional, a in ternacionalização. Nos anos 80, isso explodiu. Principalmente pelo fato de que, com o computador, com a informação em tempo real, importa pouco onde está o quartel-general da empresa. Importa menos ainda onde se produz - pode-se produzir dispersamente, pois existe uma integração através das técnicas modernas de comunicação e de transporte. Isto é a base da internacionalização. O que ninguém imaginava é que, ao invés de esse processo se dar através de uma integração apenas crescente das forças produtivas, ele se deu através de uma integração rapidíssima do capital financeiro. O que hoje se chama vulgarmente globalização é, muito mais, um processo, já na sua etapa final, aonde chegou o sistema financeiro. Isso teve uma repercussão imensa no mundo. Mudou, inclusive, a capacidade dos Estados nacionais, mesmo os mais poderosos, de regularem os fluxos de capital. Os bancos centrais ficaram pequenos diante da velocidade com que os fluxos privados de transferência de capital ocorrem. É um outro mundo. Se eu quisesse ser provocativo,diria: é uma época pós-imperíalista, porque na época chamada imperialista, as economias, as empresas, o mercado enfim, precisavam do Estado para se imporem. Hoje, as grandes empresas querem tudo, menos o Estado - do ponto de vista econômico, pois do ponto de vista político, estamos vendo que é diferente. Portanto, estamos em outra época, e as pessoas, às vezes, custam a se adaptar. É uma época, se quiserem dar um nome, pós-imperialista, com mecanismos que não dependem do poder estatal para que tenham eficiência. Quando terminou a Segunda Grande Guerra, na ordem que estava se constituindo - anos 40, portanto antes das grandes transformações às quais me referi - , as grandes nações se organizaram no sistema de Nações Unidas. Também ocorreu uma organização das instituições que hoje chamam globais, que deveriam processar as relações entre as economias. A fixação, na época, era comercial. O Fundo Monetário Internacional e o 31 SEMINÁRIO - Brfl5ÍÍ SécMÍo X X I Banco Mundial nasceram aí. Mas o Fundo Monetário, crescentemente, passou a ser uma instituição para cuidar das solvências dos países, porque no fluxo de comércio entre as nações alguns países podiam ficar sem condições de pagar aquilo que deviam. Então, o FMI era uma espécie de banco central, mas não com todas as funções. Os empréstimos do Fundo passaram a ser, grandemente, destinados a certificar se o país seria solvente ou não. O problema da solvência era fundamental para os países mais ricos. Era uma questão de ajustar os fluxos financeiros aos fluxos de comércio. Muito bem. O processo que está ocorrendo, agora, não é apenas de desajuste dos fluxos de comércio, mas de uma imensa transformação entre os fluxos financeiros. O próprio FMI ficou frágil - ao contrário do que muita gente pensa - diante do poder imenso criado por essas novas tecnologias do capital financeiro. Lorde Keynes, que era uma pessoa de visão, propôs algo diferente. Quando as instituições de Bretton Woods foram criadas - o FMI para dar liquidez aos países insolventes e o Banco Mundial para criar condições ao desenvolvimento econômico, a partir da experiência do Plano Marshall - o Fundo Monetário devia ser um banco central dos bancos centrais. Ou seja, ele percebeu que existiria uma massa de recursos financeiros muito grande que podia provocar crises de liquidez, interrupção do fluxo de dinheiro. Isto não foi aceito, sob o argumento - que se repete a cada instante - de evitar o que os ingleses chamam de risco moral: se quem vai emprestar está seguro de que vai receber de volta, não presta muita atenção às condições de pagamento do devedor. Logo, se o FMI fosse sempre resolver as questões, os bancos iriam emprestar muito “irresponsavelmente” aos países necessitados. Então, não era bom. Era melhor deixar que o mercado penalizasse aqueles que tivessem errado no seu cálculo de risco. Keynes não pensava isso naquele momento. Ele pensava que era necessário - embora não fosse favorável, obviamente, a empréstimos sem uma análise de risco - uma instituição mundial com grande liquidez para poder fazer face aos gargalos financeiros que fossem ocorrer depois. Mas não aconteceu isso. O que nós vimos, sobretudo nessa última década de 90, de grande expansão econôm ica no mundo, de enorme mobilidade dos fluxos financeiros, foi a substituição progressiva do papel dos bancos oficiais - o BIRD, o BID, os grandes bancos multinacionais perdendo força relativamente aos empréstimos privados. Em seguida nós vimos crises por falta da capacidade de liquidez, e, de repente, o mercado seca e deixa de fazer empréstimos. 32 o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e U nião Européia Como tudo isso ficou interligado, passou a haver o que se chama hoje de contágio, que não se entende muito bem o que seja, mas funciona assim: se a Argentina está com dificuldade, contagia o Brasil. Por quê, não sei; mas é assim. Passamos então a assistir a uma série de crises. Só no meu governo, nem me lembro quantas foram. Em 1995, era a crise do México; em 97, da Ásia; em 96 não houve, graças aos céus; em 98, da Rússia; em 99, a do Brasil; em seguida, a da Rússia de novo, a crise da Turquia, da Argentina... crise, crise, interrupção do fluxo... Ou seja, a globalização passa por um momento de extrema dificuldade porque não possui os mecanismos globais de governança. Estou me referindo, por enquanto, aos aspectos financeiros. Depois falaremos dos aspectos políticos. Os mecanismos ficaram frágeis. É claro que o Fundo Monetário, nesses últimos anos, se atualizou. Hoje, o FMI dispõe - não sei exatamente - de cerca de 100 bilhões de dólares nos fundos especiais de saques, que é um mecanismo de pronto-atendimento. Com isso, tem um pouco mais de manobra. As pessoas que não conhecem os mecanismos do mundo ainda vêem o FMI como se ele fosse o responsável, o culpado. Não. Em certas circunstâncias, ou ele entra ou o país fica paralisado. O problema é saber em que condições entram. O próprio FMI foi mudando as suas políticas. Aqui, tivemos um acordo com o fundo sem que obrigasse a qualquer recessão, e, pelo contrário, incluindo a necessidade de uma cláusula de proteção social. Houve mudanças que a consciência comum não notou, na prática de funcionamento dessas instituições. O fato é que, pouco a pouco, algum recurso adicional foi sendo dado ao Fundo Monetário. Mas é insuficiente ainda, porque ele não tem propriamente essa função, e, segundo dizem, a nova administração americana está mais preocupada com o risco moral do que com a capacidade de intervenção do FMI. Essa questão não está resolvida. Estamos passando por um momento de grande turbulência na área financeira. Por outro lado, tampouco foram sendo resolvidas as questões relativas àquilo que é fundamental, e diz respeito às legitimidades das decisões. As Nações Unidas nasceram sob o signo de alguma restrição, porque a Assembléia-Geral tem todo o poder mas quem, na prática, exerce esse poder é o Conselho de Segurança, nos assuntos centrais que dizem respeito às relações dos países. E o Conselho de Segurança já nasceu com uma distinção: cinco países têm direito de veto e, os outros, que são eleitos por um período de dois anos, não têm esse direito. Ou seja, já se criou, ali, um embaraço. Simultaneamente, foi havendo a descolonização, a formação dos países com 33 SEMINÁRIO - Bvíísií Sécuío X X I vocação de autonomia nacional. O número de países cresceu enormemente. A Assembléia-Geral das Nações Unidas, hoje, é composta por uma imensa massa de países. Obviamente, os mais poderosos não aceitam, na prática, o princípio de que cada um vale um mesmo. Dirão que perdem a capacidade de exercer um poderio correspondente à sua força efetiva na economia, no campo militar etc. Progressivamente, até o Conselho de Segurança deixou de exercer as funções centrais das decisões no mundo. A Assembléia-Geral passou a se ocupar de muitos temas importantes - o papel da ONU é importante na difusão de uma cidadania global, na questão das mulheres, do meio ambiente, do trabalho etc mas, em termos políticos, de decisões efetivas no comando do mundo, ela passou a ter menos voz. E nós vimos a criação de mecanismos extra-institucionais. O G-7, o G -8 .0 que é isso? Um grupo de nações que se autoproclamam - e são - ricas e que se reúnem. Decidem o quê? Com que legitimidade? Essa legitimidade está sendo posta em dúvida agora. Eles nem podem mais se reunir, fazem reuniões em navios. Há protestos nas ruas, há um visível problema de legitimidade nesse tipo de organismo, independentemente dos desejos ou da boa-vontade que possa ter. A economia se globalizou, o sistema financeiro galopou nesse processo, as instituições disponíveis para controlar os mecanismos em nível mundial, por mais poderoso que possa ser o FMI, tomaram-se frágeisdiante da capacidade do sistema financeiro de manobrar, independente de qualquer decisão. Ao mesmo tempo, não houve um processo simultâneo, nem de formação de uma consciência planetária de Direito, de participação, e nem a formação de instituições que tivessem a capacidade e a legitimidade de atuar com precisão. Este não é todo o panorama. Outros processos ocorreram ao mesmo tempo. Alguns são bem notáveis, como o desmantelamento do mundo soviético e, portanto, a diminuição da hipótese de que o sistema global pudesse ser outro que não o capitalista - na prática, quem propõe isso são grupos residuais. Mas houve outro processo, que foi o da integração regional. Essa integração, em certos aspectos, teve avanços até mesmo no plano político, como é o caso da Europa. A União Européia e seus Altos Comissários criaram um parlamento que dá legitimidade popular às decisões que são tomadas. Com menos força, porque baseado em mecanismos meramente econômicos, comerciais, está o Nafta, reunindo Estados Unidos, Canadá e 34 o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia México. E nós, aqui, com o Mercosul, tentando também alguma coisa, com aspiração de chegarmos à união aduaneira e, portanto, na direção da União Européia. A despeito de todos os percalços que estamos sofrendo, mas com uma proposta de integração um pouco mais ampla. Também na África houve um processo dessa natureza; na Ásia, simultaneamente, começou a existir uma nova teia de países que passaram a atuar na política internacional como atores organizados. Isso está ocorrendo. Temos uma indefinição quanto à forma institucional do controle das decisões, temos a formação de grupos de países muito poderosos que se arrogam como diretório do mundo, e temos a tentativa de integração que tem êxito variável conforme a região a que estejamos nos referindo. E temos o fato de que um país - os Estados Unidos - , tem um tal predomínio cultural, econômico, tecnológico, financeiro e militar, que freqüentemente toma decisões sem realmente prestar contas até mesmo ao grupo dos mais ricos. O desafio da globalização é muito maior do que se possa imaginar, porque estamos vivendo - ousaria dizer - um outro momento da humanidade. No Rio, fiz uma palestra sobre meio ambiente. E voltei ao tema que de vez em quando gosto de abordar, que é o tema da humanidade. Estamos começando a dar razão aos ideais kantianos, da paz universal, e aos ideais hegelianos, da existência de um sujeito geral da história, que é a humanidade, que sempre foram criticadas pelos que tinham uma visão mais progressista. Diziam que isso é uma espécie de falsidade, porque não existe humanidade, e sim o país, a raça. Agora, nós estamos vendo que pelo fato de tantas transformações terem ocorrido, pelo fato de tomarmos consciência dos limites que a natureza impõe às transformações que o homem deseja acrescentar a ela, exigindo uma consciência ecológica que vai além do interesse regional, começa a existir uma consciência sobre algo que diz respeito a todos os homens. Quem sabe a paz comece a ser sentida, à la kant, como uma necessidade universal. Estou aqui fazendo digressão, estamos no começo do século XXL Se formos nessa direção, estaremos assistindo a um século que vai criar um novo ancoradouro da história - se der certo. Porém, ao mesmo tempo, estamos usando um instrumental de outra época: os Estados são nacionais, as instituições internacionais têm limitações que já mencionei; enfim, há um descompasso. É isso, quando me refiro ao déficit de governança: descom passo. É norm al, as sociedades não são harm ônicas, são contraditórias, esses processos todos são cheios de conflitos. A idéia de paz universal, de humanidade, são valores muito mais do que práticas. Mas 35 SEMINÁRIO - Brílsií Sécuío X X I valores que podem orientar comportamentos. Este é o nosso desafio. Como vamos encarnar esses valores e preservar os interesses concretos diante de todas as abstrações às quais estou me referindo, mas que têm também raiz na vida? Existem condições para que se comece a mover o mundo nessa direção? Que caminhos trilhar? Que fazer diante de tudo isso? Como reagir, de forma crítica e inteligente, que separe os riscos e as oportunidades, ou, melhor, que crie oportunidades a despeito dos riscos? O caminho tradicional é inviável hoje. O caminho tradicional é “vamos nos fechar”, autarquia. Em certa época, esse foi o caminho quase que normal. A Alemanha do século XIX cresceu prussianamente. O modelo de crescimento era fechar porque a Inglaterra estava na frente dela, era defensora do livre comércio. O List (Friedrich List), como economista, propôs o oposto: protege, pois a Inglaterra, m esm o a França, estavam com m aior produtividade. O Brasil fez isso também, à nossa moda: substituição de importações e implantação de tarifas altas, porque se não fosse assim não teríamos como avançar. Só que o mundo foi mudando. E, independentemente das vontades políticas - há quem pense que basta vontade política; ah, se fosse assim! - , as realidades existem. O que aconteceu é que, num dado momento, era impossível deixar de ver que existia uma intercomunicação, graças à Internet e outros mecanismos. Os Estados não têm poder para controlar o fluxo de informações, inclusive os financeiros, que não passam materialmente pelas fronteiras. Quem ficou com o passado ficou com uma idéia que perdeu vitalidade, foi sendo estiolada pela transformação que a vida impôs. Ao dizer isso não se pode imaginar que tenha desaparecido o interesse nacional. Pelo contrário. A questão é: como fazer prevalecer os interesses nacionais nas novas condições? Freqüentemente, as respostas são antigas, não fazem prevalecer nada. Em vez do interesse nacional, o que prevalece é o atraso nacional. E o mundo não permite mais isso. Certa vez, um líder do Partido Comunista Italiano esteve aqui e deu uma entrevista, acho que para IstoÉ, na qual disse que o problema não é saber se haverá ou não internacionalização; é saber se eles nos irão internacionalizar ou nós vamos nos internacionalizar. A diferença pode parecer sutil, mas é fundamental. O processo está aí, e não há mais como fechar. Agora, como se faz esse processo? Quem comanda os momentos? De que maneira se estabelecem regras de legitimidade? Como fica o Direito? Como se negocia? Estas são as questões. Um país como o nosso só no fim dos anos 80 e início dos anos 90 promoveu uma abertura da economia, mas sem negociação. Essa falta de 36 o D ire ito na Era d a G lobalização: M ercosu l , A lca e União Européia negociação até hoje é lamentada, com razão, por muitos setores industriais importantes. Isso não é aceitável. Tudo tem de ser feito, numa expressão vulgar, no dá-cá-toma-lá. Sobre a mesa, o que está posto hoje, no plano econômico, é saber até que ponto um país como o nosso vai se incorporar - a que blocos, a que custo e com que vantagens. Um, óbvio, é o Mercosul. Obvio e, me parece ser de consciência comum, achar que vale a pena manter e aperfeiçoar o Mercosul. Os espaços nacionais, por maiores que sejam - e o nosso é enorme - não são suficientes. O setor produtivo requer escalas muito grandes, requer mercados maiores. Há uma concentração também grande de capacitação, de investimento etc, e, nos parece, do ponto de vista de interesse nacional, vale a pena manter mecanismos que levem a uma associação crescente e, se possível, na minha perspectiva sul-americana, que fortaleçam a posição não só do Brasil, mas de toda a região. Mesmo quando isso implique em algumas negociações que aparentemente não são vantajosas. Deixe-me explicar melhor isso. Vou explicar contando uma pequena história. Quando estive na Alemanha, depois de eleito, almocei com o então chanceler Helmut Khol. Ele me disse: presidente, nasci numa regiãoperto de Bonn que foi ocupada, na guerra, pelos franceses. Tenho parentes que perderam a vida na guerra contra a França. Quando era jovem, houve a ocupação pelos aliados e a região onde eu morava era francesa. Quando cruzava na rua com um oficial, eu tinha que sair da calçada para evitar agressões. Fomos criados com esse sentimento antifrancês, até que percebi que isso ia dar em outra guerra e mais gente iria morrer. Então aderi fortemente à idéia da União Européia, que na época ainda não tinha esse nome. E claro que a Alemanha tem população maior que a França, é mais rica, mais forte, e por isso mesmo temos que fazer mais concessões. Ele disse ainda: o senhor é presidente de um país que, na sua região, tem o mesmo papel que a Alemanha - eu não acredito nisso, não, sou mais igualitário. Ele disse: o senhor tem que fazer uma aliança com os seus vizinhos, com a Argentina, especialmente. E se tiver que fazer algum acordo, quem tem de entender a necessidade do acordo é o Brasil, que é mais forte. Bem, com exagero ou sem exagero, se nós olharmos os interesses nacionais, não apenas no curto prazo, é verdade que a manutenção de uma região na América do Sul integrada, de paz, de democracia, de progresso, é vital para o Brasil. Esta me parece ser a primeira e a mais fácil de nossas decisões: o fortalecim ento de mecanismos integradores na nossa região. Esses mecanismos partem de tratados. É preciso fortalecer as regras de Direito 37 SEMINÁRIO - B ras ií Sécuío X X I relativas a eles. Pessoalmente, acho que devíamos avançar mais - o momento é ruim para dizer isso, estamos aí com vários desacordos com nossos vizinhos - na direção como ocorreu na Europa, de criar mais mecanismos de solução de controvérsias. Isso tem a ver com a soberania, que tem de ser pensada nos termos atuais, e não nos termos do século XIX. É preciso um sentimento de compartilhar, porque os outros também têm os interesses nacionais. E preciso que haja mecanismos para dirimir essas questões. Enfim, me parece que esse é o lado mais simples para nós, brasileiros. Está claro que nesse processo de globalização tem os uma oportunidade, e essa oportunidade é tão verdadeira que é só olhar os fluxos de investimentos que aconteceram na nossa região. Esses investimentos vieram maciçamente para o Brasil. Tivemos investimentos da ordem de 100 bilhões de dólares nos últimos cinco anos, sendo que no ano passado foram 30 bilhões. Investimentos produtivos, não é capital especulativo. Por que vêm para o Brasil? Porque aqui temos universidade, temos tecnologia, temos mercado. Nesta ordem: universidade, tecnologia, mercado. E investimentos numa enorme concentração, até perigosa do ponto de vista dos interesses do conjunto da região, pois não podemos imaginar que nossos parceiros ficarão felizes se houver muita concentração no Brasil. Mas a solução para isso não pode ser imposta por regras que não tenham aceitação. A solução é pensar no espaço geográfico e nas cadeias produtivas nesse espaço geográfico - uma parte produzida aqui e outra acolá. Ou é isso ou teremos uma concentração tão grande de desenvolvimento científico, tecnológico e empresarial num dos países, que os outros não irão aceitar. É preciso um esforço construído de distribuição do espaço geográfico. Refiro- me não só à Argentina, como também ao Paraguai, Bolívia, Uruguai, amanhã a Venezuela, que quer se aproximar. Nós temos que ter uma compreensão mais ampla do que é o interesse nacional. O interesse nacional não é, num dado momento, favorecer um setor produtivo brasileiro apenas e, amanhã, por causa desse setor, impedir um processo muito mais amplo, que interessa ao conjunto da região - sobretudo, a nós. Mas esse, digamos, é o lado mais simples. Um segundo grau de facilidade para se aceitar a idéia integracionalista, é a relação entre o Mercosul, o Brasil e a União Européia. Percebe-se que há uma aceitação maior porque - imagina-se - há menos riscos naquilo que todos temem, que é a perda de soberania, da nossa capacidade própria de decidir. Nós imaginamos - não sei nem se com razão - que a Europa terá menos capacidade de limitar nossa ação do que o nosso parceiro maior do 38 0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercasul. A lc a e União Européia hemisfério. Parece ser mais fácil, ideologicamente, falar de relação com a União Européia do que com a Alca ou com o Nafta. E, politicamente, sem dúvida. Economicamente, é extremamente complicado. Complicado porque o que acontece no caso do Brasil, Argentina e Uruguai é que são altamente produtivos em matéria agrícola. Altamente produtivos. Para se ter uma idéia, a produção de grãos no Brasil cresceu, de 1990 até agora, de 57 milhões de toneladas para 98 milhões de toneladas, embora a área plantada tenha aumentado muito pouco. Ou seja, a produtividade cresceu violentamente. Hoje somos altamente competitivos. O preço do produto brasileiro, eu diria, é quase imbatível em matéria agrícola. E começa a ser em matéria pecuária. Este ano vamos exportar o dobro da Argentina, cerca de um bilhão de dólares em carnes. Isto entra em choque com os interesses agrícolas e a política agrícola comum da Europa. E um ponto delicado, mas não é insuperável. O preço da política agrícola comum é pago na Europa basicamente pelos países não- agrícolas - Alemanha e Inglaterra. Quem se beneficia mais são a França, Itália e Espanha. Agora a União Européia discute a entrada da Polônia. A Polônia é um país agrícola. Se estenderem a ela os mesmos benefícios dados aos outros países da Europa, os contribuintes inglês e alemão vão ter de pagar muito. Então, temos aliados objetivos para uma negociação que nos seja proveitosa, pois não podemos entrar nessa negociação com a União Européia sem colocar, com muita clareza, que precisamos, efetivamente, de acesso ao mercado agrícola. Porque nós exportamos para a Europa muito mais agricultura do que manufatura. O Brasil hoje exporta 52% de manufatura. Nós não somos um país basicamente de exportação agrícola. Vinte e cinco por cento são de produtos semi-industrializados e, o resto, de commodities. Com a Europa, são basicamente commodities. Não só na Europa. E que nós competimos com a Europa em terceiros mercados, como o Oriente Médio. E os subsídios nos prejudicam na competição por esses mercados. Então, há uma oportunidade que nós temos de aproveitar. Como a União Européia nos apresentou uma proposta de negociação, vamos fazer uma contra proposta em Montevidéu, creio. O Brasil é partidário de uma contra proposta agressiva. Estamos dispostos a entrar numa negociação comercial com a Europa. Dispostos, sim, a fazer algumas concessões, desde que nos sejam feitas outras tantas. O outro bloco de oportunidades e riscos é a questão da negociação no seio do hemisfério. Como todos sabem, a posição do Brasil foi apresentada 39 SEMINÁRIO - Brí?sií Século X X I no tempo do presidente Itamar (Franco) - a proposta de fazermos um ALCA. Eu assisti a reunião em Miami, eu era o presidente eleito, mas confesso que não estava informado dos termos da negociação. Fiz um discurso, naquele momento, dizendo que achava difícil, no prazo que se queria, uma integração. De lá para cá, o Brasil tem procurado dizer: olha, nós queremos negociar, sim, ponto a ponto, dentro de certas condições, mas queremos também prazo, porque precisamos de mecanismos que permitam a nossa produção se adaptar ao regime de concorrência. Essa negociação está em curso. Há vários grupos negociando, e é preciso que a sociedade brasileira participe mais ativamente dessa negociação. O Brasil vai jogar muito favoravelmente à negociação com a União Européia. Precisamos entender que o que está em curso é uma negociação comercial. Porque, no caso, não há integração de tarifa externa comum. E comércio. Só Montesquieu dizia que comércioera instrumento de civilidade. Que o comerciante faz contato, conversa, socializa, e que, portanto, é uma forma avançada de civilização que levava - digo eu, não ele - a democracia. Isso naquela época. Hoje, o comércio não tem nada de soft. Comércio é negociação dura. Vamos nos inspirar em Montesquieu, mas não vamos nos esquecer de outras armas menos sofisticadas da negociação comercial. Fui à reunião hemisférica no Canadá. Estavam presentes o presidente Bush (George W.) e todos os demais presidentes da região. Eu disse quais eram as nossas condições, com muita tranqüilidade, na língua deles. Nós precisamos entrar numa negociação que seja, como costumamos dizer na linguagem diplomática, tudo de uma vez só. Não venham negociar o que interessa a vocês para depois negociarmos o que interessa a nós. Ou negociamos tudo, e só quando todos os pontos estiverem acordados, ou então não é negociação. E especifiquei: nosso problema não é de estarmos contra o livre mercado. Ao contrário. É que nós queremos que ele seja livre. O que não queremos é um livre mercado sujeito a salvaguardas, que tenha um instituto, como há nos Estados Unidos, que nem do governo é, que se reúne e diz: os EUA estão importando calçados demais; logo, os calçados importados estão prejudicando nossa produção, e aí impõem salvaguardas. Não podemos aceitar anti-dumping indiscriminado. Quem é que decide dumping, é só um lado? Não podemos aceitar o que se chama pico tarifárico. Nos EUA, a média das tarifas é muito baixa, mas quando chega a tarifa do produto que nos interessa, vai lá para cima. A nossa média é relativamente elevada - de 12,13% - mas nunca ultrapassa 35%. Lá, pode ultrapassar. Então, a negociação deve ser objetiva, e precisa de advogado 4 0 o D ire ito na Era da G loba lização: M ercosu l , A lc a e União Européia nisso. Alguém precisa escrever o texto de modo que fique claro. Não é uma questão política, abstrata. Esse mundo que está sendo recriado é cheio de regras, e se não tiver regras, pior para nós. Precisamos de um Estado de Direito Internacional. Um comércio internacional baseado em regras também livres. Isso está em elaboração, com maior consciência da nossa parte. Essa negociação está em curso, com relação à integração do mercado comum. Nós brasileiros não precisamos ficar com medo. Temos que ter é consciência, coragem e disposição. Somos produtivos em muitos setores. Ainda agora, esse institu to am ericano a que me referi está falando em propor salvaguardas contra o aço brasileiro. Por quê? Porque a nossa indústria de aço é extremamente produtiva, é competitiva. A nossa indústria têxtil é com petitiva. Aviões, nem se fala. Nós temos de passar de uma mentalidade que pensa que a defesa do Brasil é olhar para trás, concentrar renda, para uma mentalidade mais aberta, em que temos presente que é preciso ter regras, é preciso lutar, defender o interesse nacional, mas com competição. Porque a competição é que permite baratear o produto, oferecer mais vantagens à população, e, por último, dar riqueza ao país. O que não pode é uma negociação, em nome do livre comércio, que leva ao protecionismo por parte daqueles que são mais poderosos. Essa é a questão que está posta na mesa de negociação. Não é uma questão ideológica. Se não for assim, não se assina um acordo. Mas, se for um bom acordo, se faz. Quando estavam discutindo quando seria o acordo, eu declarei, claramente: um bom acordo é amanhã. Um mau acordo é nunca. O Brasil tem que ter consciência de sua própria força - não há de se exagerar nessa força - mas nós a temos. E a força principal, hoje em dia, é a do cérebro. Temos que ajustar nossos cérebros, precisamos de gente sintonizada com os ares do mundo e com competência para defender os nossos interesses. Esse processo de globalização, de oportunidades e riscos no plano comercial está posto. No plano dos investimentos, vai depender, basicamente, do nosso desenvolvimento, das universidades, da tecnologia e da melhoria da distribuição de renda para que nosso mercado seja mais poderoso. Isto não se resolve com um botão. E um processo, que está avançando. A discussão se desse processo todo vai derivar uma estrangeirização do setor produtivo foi mal colocada. Uma revista publicou, recentemente, a relação das 50 maiores empresas. Entre as 50, 28 são nacionais, puramente nacionais. Não existe mais, em nenhum país, a possibilidade de imaginar 41 SEMINÁRIO - B rasií Sécwío X X I que seja 100%. Não é verdade que o setor produtivo nacional foi arrasado, como alguns mais exagerados dizem. Nem é verdade que houve um sucateamento. Nesses dez anos, o que se exporta é manufatura. E produto sucateado? Não. Houve um avanço enorme da nossa capacidade. Grandes setores de produção estão sendo reorganizados e estão em mãos nacionais: siderurgia, petroquímica, minério de ferro, papel e celulose etc. E, o quanto possível, são fundos de pensão que participam deles. É uma certa socialização do controle do sistema produtivo. Precisamos criar um mecanismo pelo qual as bolsas possam sobreviver melhor, não apenas diminuindo o CPMF, mas fazendo com que, efetivamente, as empresas brasileiras de segunda e terceira linhas lancem títulos nas bolsas. E as primeiras, onde o governo pode influenciar, através das privatizações, para que elas sejam feitas também na bolsa e que possam disseminar mais o capital, criando um mercado de capitais que dê sustentação a um crescimento endógeno mais forte. As grandes corporações, essas vão se capitalizar nos Estados Unidos, ou, eventualmente, em Londres. No mundo todo é assim. Vão lançar por lá seus recibos de açÕes porque querem se capitalizar em dólares. Isto não é uma questão de decisão política, mas porque o mercado é assim. Mas o que é de decisão política, e fortalecimento do mercado de capital local, é a possibilidade de se fazer o que estamos fazendo agora. Espero aprovar, nesses dias, a nova Lei de Sociedades Anônimas para proteger o sócio minoritário, para que a pessoa compre uma ação e não seja lograda. Esses mecanismos levam muitos anos para votar - democracia é assim mesmo - , mas estamos fortalecendo-os para que possamos entrar com mais firmeza e menos temor nesse processo de globalização que aí está, minimizando os riscos e tirando mas vantagens das oportunidades. Quero fazer mais um comentário. Acho que estamos, agora, num momento muito delicado por causa dos acontecimentos de 11 de setembro, que mostraram o que já se sabia: por mais forte que seja uma potência predominante, ela não pode mandar sozinha. Não funciona. Na prática, começa a surgir a percepção de que temos de criar uma ordem menos assimétrica no mundo - tanto econômica quanto politicamente. Esta assimetria é que leva às reações que estamos assistindo, contra tudo o que é reunião de instituições, até multilaterais. E o sentimento de não-participação. Ou se aumenta a participação nos foros decisórios, ou então esse processo vai ter travas. Agora mesmo, a maior potência, para se mover contra um desafio que é de todos - o terrorismo - buscou alianças. Espero que daí 42 o D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul, A lc a e União Européia derive um aprendizado: temos que marchar rumo a uma outra visão de mundo. Vai levar um século, eu sei, mas é preciso marchar para uma globalização mais solidária. Uma globalização que tem povos como de boa parte da África, não vai funcionar a longo prazo. A consciência universal não vai aceitar mais isso. É a revalorização da ética. Porque o mundo dispõe de meios materiais tão poderosos que eticamente é inaceitável uma desigualdade grande assim. Esse processo começa com mercado a impor regras, mas agora é o contrário: são os valores que contam. Sem valores não há cimento para sustentar uma ordem, por mais poderosa que ela seja materialmente,ou por mais forte que seja militarmente. Acho que é essa a missão do Brasil. Nosso País tem a possibilidade - não é o único, nem tem tanta força que possa pensar ser capaz de fazer isso ou aquilo pois somos um país plural, efetivamente, com muitas raças, muitas religiões, muitos imigrantes, realmente vocacionado para paz. A nossa voz no mundo tem de ser ética, para chamar a atenção para esses fatos. Nós podemos fazer isso sem suspeição, pois praticamos aqui o convívio. Hoje mesmo, venho como cidadão falar com a OAB, que é freqüentemente crítica. Nós fazemos isso. E, se fazemos isso, temos força moral para falar lá fora a respeito desses temas sem hipocrisia, sem cinismo, sem passadismo, sem recusar o que é irrecusável, que são as oportunidades e os fatos da globalização. Mas também sem aceitar as desigualdades que ela gera, sem que se faça a ligação mecânica “quanto mais globalizado, mais pobre” . Não é verdade quando dizem isso. O problema é que podia ser muito menos pobre. Aceitou-se uma situação em que as assimetrias foram sendo mantidas. E muito importante, em um seminário de Direito, o tema dos riscos e das oportunidades da globalização. Que se discuta isso com a consciência de que hoje temos um país que, sem muita pretensão, é capaz, pela força de seu povo, de tomar decisões próprias, que não o afaste da globalização, que o faça não um parceiro solidário da globalização assimétrica, mas um parceiro ativo para que essa globalização seja cada vez mais solidária. Muito obrigado. 43 PAINÉIS 0 D ire ito na Era da G lobalização: M ercosul. A lc a e União Européia A INTEGRAÇAO DE MERCADOS E O PODER JUDICIÁRIO Conselheiro Federal Roberto Rosas: Meus prezados amigos, estamos dando início a esse Painel, intitulado “A Integração de Mercados e o Poder Judiciário”. Este Painel tem como finalidade básica o exame dos mercados e, mais de perto, o Mercosul. Como os senhores sabem, desde 1988 temos feito tratativas com os nossos vizinhos, principalmente a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, para a integração de um mercado comum, pelo menos à semelhança da União Européia. Para este tema, relativo ao Poder Judiciário, várias questões já surgiram, já foram debatidas, para a integração de um sistema judiciário para o novo bloco que se formará ou que já está sendo formado, que se intitula o Mercosul. Há uma discussão acentuada sobre o papel de uma Corte para o Mercosul e qual é a jurisdição dessa Corte, a localização dessa Corte. Algo já foi feito, por escrito, principalmente no Protocolo de Las Lenas sobre o cumprimento de decisões judiciais do países integrantes do Mercosul, principalmente sentenças, até de arbitragem, que o Supremo Tribunal Federal tem enfrentado e tem dado cumprimento ao Protocolo de Las Lefias, facilitando, intensamente, o cumprimento dessas decisões. 47 SEMINÁRIO - B rasií Sécuío X X I Temos aqui, também, ainda, em debate, o problema das soluções para as controvérsias, que não sejam somente aquelas soluções via judicial e, principalmente, pela via arbitrai. Nesse Painel, temos três eminentes figuras, que são conhecidas do Conselho Federal da Ordem dos Advogados e dos advogados. Inicialmente, convido, como anfitrião, o Doutor Reginaldo Oscar de Castro, ex-Presidente do Conselho Federal e que teve uma marca muito incisiva, na direção desta Casa. E eu posso dar este testemunho pois estou no sétimo mandato do Conselho Federal e, por isso, convivi, portanto, com sete Presidentes. Todos eles deram uma grande contribuição, uma abnegação, sacrifício pessoal, para a construção da Ordem dos Advogados do Brasil, o nome do Conselho Federal, os interesses dos advogados, acima de tudo, todos eles preservaram isso. E, mais, posso destacar que o Doutor Reginaldo Oscar de Castro teve um papel significativo na Ordem dos Advogados do Brasil e no Conselho Federal. É muito difícil a posição do Presidente do Conselho Federal. Não raras vezes, ou diariamente, ele tem que arrostar, enfrentar interesses e combater determinadas situações, enfrentar determinadas posições. Mas, ele nunca teve dúvida em ir ao Congresso, em ir ao Judiciário discutir, enfrentar e criando, muitas vezes, um confronto, mas confronto que foi benéfico para a Ordem dos Advogados, para a classe dos advogados. Portanto, peço à Sua Excelência que inicie esses trabalhos, como, também, um co-anfitrião. Doutor Reginaldo Oscar de Castro: Senhoras e senhores, o tema que me foi proposto - Integração de Mercados e Poder Judiciário - envolve questões complexas e de urgente solução, sobretudo nos chamados países periféricos. Trata-se de desafio - monumental desafio: político, econômico e social - que pressupõe reformas estruturais urgentes e profundas, lamentavelmente não de todo assimiladas pelas elites governantes de nosso País. Basta ver o que ocorre com a reforma do Judiciário, que chegou ao Congresso há quase dez anos, foi pouco debatida pela sociedade, acabou parcialmente aprovada pela Câmara dos Deputados e hoje, no Senado, está submetida a um lobby corporativista que ameaça suprimir os poucos avanços já acolhidos no âmbito da Câmara. 48 o D ire ilo na Era da G luha lização: M ercosu l , A lca e União Européia Sabemos que a globalização é uma realidade inapelável, imposição dos tempos que vivemos, marcados pelo avanço tecnológico, que suprime fronteiras, reduz distâncias e coloca o planeta em conexão permanente. Não significa, porém, que os países não devam dispor de salvaguardas e critérios para aderir ao processo. Ao contrário, exatamente em função das transformações que a globalização impõe, é preciso que os países - em especial os emergentes, mais vulneráveis às instabilidades do sistema financeiro internacional - se preparem para uma adesão segura e gradual, que não agrave ainda mais suas fragilidades econômicas e sociais. Os países da Europa Ocidental, que estão longe de ser periféricos, assim o fizeram. Aderiram gradualmente, preparando sua sociedade para a mudança. Optaram por fortalecer o bloco econômico continental e negociar nessa condição. O Brasil não agiu assim. A partir do governo Collor, abriu sua economia sem critérios, desorganizando-a, fragilizando-a, agravando os problemas de ordem social. Não cuidou de estabelecer salvaguardas, não pactuou com o setor produtivo as condições dessa abertura. Não providenciou reformas indispensáveis, como a tributária e fiscal, sem a qual a integração será apenas uma anexação de mercado. M as, para não fug ir aqui ao tem a proposto , quero me ater especificamente ao papel que o Poder Judiciário exerce no processo de integração de mercados. Penso que é fator fundamental na sinalização aos investidores externos. Em ambiente de insegurança jurídica - e a tanto conduz uma estrutura judiciária anacrônica, impotente diante das demandas do país os investidores retraem-se. Quem quer arriscar seu capital num país em que os conflitos judiciais se arrastam por anos ou mesmo décadas? Um país onde o Estado se serve da ineficiência dessa estrutura judiciária e de uma legislação processual absurda para não cumprir seus débitos, recorrendo de sentenças que sabe desde já perdidas, apenas para ganhar tempo. Um país que convive com um instrumento como o precatório e chega ao requinte de desdobrá-lo por dez anos? Habitualmente, analisamos a crise de Justiça no País pelo ângulo ético e humanitário. Mas é claro que há um custo econômico - um dos mais caros, aliás, do chamado Custo Brasil. E esse custo econômico agrava ainda mais o custo social, impedindo que se criem novos empregos e aumentando o contingente de excluídos. 49 SEMINÁRIO - BrílSÍÍ Sécnío X X I Chegamos a um ponto, nessa questão da crise do Judiciário, em que até os organismos financeiros internacionais, como FMI e Banco Mundial,
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