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Etapas de um projeto arquitetônico

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Introdução à arquitetura e urbanismo 
 
Há um método para se projetar? 
Maria Lúcia Malard 
 
Este texto é parte de um artigo - ainda não publicado - cujo título é "A lógica da invenção 
arquitetônica". 
 
O processo de projeto inclui inúmeras atividades, as quais podem ser identificadas e recortadas 
para fins analíticos. Depois essas atividades podem ser decompostas em atividades componentes 
e estas em tarefas. Podemos, também, usar o artifício de ordená-las seqüencialmente, como se 
fossem etapas distintas e subseqüentes. Propomos, de início, 7 etapas: 
 
 
1 2 3 4 5 6 7 
 
 
 
 
problema 
 
 
conhecer 
o 
problema 
ou 
levantar 
dados 
¾ locacionais 
¾ organizacionais e 
populacionais 
¾ econômicos e 
financeiros 
¾ filosóficos 
¾ operacionais e 
funcionais 
¾ da base material 
 
 
 
analisar 
ou 
processar 
dados 
 
 
fazer o pré-
dimensionamento , o 
leiaute e a 
quantificação dos 
espaços 
 
 
elaborar 
hipóteses de 
soluções 
preliminares 
(anteprojeto) 
 
 
criticar as 
soluções para 
eliminar 
problemas 
 
 
projetar 
(início de um 
novo ciclo) 
 
 
Para facilitar o entendimento das atividades e respectivas tarefas que constituem cada etapa, 
podemos recorrer a uma simulação. Tomemos, por exemplo, o problema de elaborar o projeto de 
uma creche. A etapa (1) é o surgimento e configuração do problema: há uma demanda por uma 
creche num determinado bairro e a respectiva Associação de Moradores nos procura para 
projetá-la. O nosso problema passa a ser, então, projetar uma creche. As atividades componentes 
da etapa (1) configuram-se perfeitamente como um projeto não arquitetônico. A demanda pode 
ter sido gerada a partir de um estudo feito por um grupo de assistentes sociais preocupados com 
a violência doméstica naquela região da cidade. Embora o arquiteto seja convocado ao trabalho 
após a configuração da demanda, sua entrada no circuito pode alterá-la, com um raciocínio 
tipicamente arquitetônico, que bem poderia ser este: 
Por que vocês não aproveitam aquela área residual do terreno da escola? É muito bem 
localizado, pode ser acessado por duas ruas, o que facilita a distribuição dos fluxos; 
além disso possui excelente topografia, o que barateia a construção. Uma outra 
vantagem adicional é a possibilidade de compartilhamento das áreas de lazer, num 
revezamento entre escola e creche. 
Digo que esse raciocínio é tipicamente arquitetônico porque nele há a análise dos dados e a 
síntese da solução físico/espacial ocorrendo interativamente. O discurso acima enuncia diversas 
“idéias arquitetônicas”, todas elas passíveis de se tornarem visíveis: os acessos, o assentamento 
da edificação, a integração física escola/creche. 
 
Vamos então partir para a etapa (2) que é conhecer o problema e levantar os dados sobre ele. 
¾ Os dados locacionais são relativos ao terreno onde a creche será construída. Precisamos 
conhecer sua localização, suas dimensões, sua topografia, a sua posição com relação ao sol, 
os meios de transporte até ele, as condições do logradouro público, a legislação urbanística 
aplicável e outros mais. 
O levantamento dos dados locacionais também se constitui de muitas atividades não 
arquitetônicas pois, a rigor, qualquer pessoa com escolaridade de nível médio poderia coletá-
los. Bastaria que recebesse uma listagem das informações necessárias e a especificação do 
seu formato. 
Por outro lado o arquiteto, ao analisá-los, fará múltiplas sínteses físico/espaciais: verá 
marquises para o norte, janelas para o sul, área de recreação para o leste; verá a entrada das 
crianças pela rua de menor movimento, separada do acesso de carros; quem sabe verá um 
volume trapezoidal, pois o terreno se estreita no sentido da dimensão maior; há de pensar em 
janelas para o poente, protegidas por brises, para não perder a bonita vista da praça logo 
adiante. Essas são idéias arquitetônicas que não conseguimos deixar de sintetizar quando 
analisamos os dados locacionais. 
¾ Os dados organizacionais e populacionais dizem respeito `a instituição creche. Poderíamos 
chamá-los também de dados institucionais. Precisamos saber a quantas crianças a creche vai 
atender e sua faixa etária, quantos funcionários terá, qual é o papel de cada funcionário e sua 
distribuição por idade e gênero, e qual é o organograma técnico e administrativo da creche. 
Novamente temos um caso similar ao anterior. Ao ver esses dados, o arquiteto pensará em 
berçários intercalados por salas de apoio, talvez para leste (já relacionando com os dados 
locacionais); pensará, também, em salas multiuso, para as crianças dançarem, pintarem e 
bordarem; verá espaços para as áreas de convivência dos funcionários; perceberá que a 
diretoria deve ficar próxima da entrada principal e ter uma visão – ou um controle – de todo 
o resto. Enfim, os dados organizacionais se somarão aos dados locacionais e ao problema, 
todos eles contribuindo na geração das idéias arquitetônicas. 
¾ Os dados filosóficos seriam aqueles também chamados de dados conceituais: qual é a missão 
de uma creche na nossa sociedade, qual será a sua orientação psico-pedagógica, o que 
significa cuidar bem de uma criança; quais atividades devem ocorrer para que se garanta o 
desenvolvimento físico, psicológico, mental e intelectual das crianças nas diversas faixas 
etárias, qual é o papel a ser desempenhado pelos pais e por outras pessoas da comunidade, e 
outras questões. 
Esses dados, que evidentemente não são arquitetônicos, são os preferidos pelos arquitetos. 
Entretanto, deles é muito difícil retirar idéias arquitetônicas que resolvam problemas 
práticos, como nos casos anteriores. Em compensação, fornecem inspiração de sobra para a 
composição das formas volumétricas, das ambiências, das aparências exteriores e interiores 
do edifício. Esses dados permitirão o devaneio do arquiteto e irão ciceronear sua viagem ao 
mundo das formas e das idéias (mais ao primeiro do que ao segundo); nesse momento eles 
falarão de Heidegger, de Deleuze e Gatarri, de Derridas, de Foulcaut e, mais recentemente, 
de Guy Debord e Constant; terão a oportunidade de discorrer sobre as táticas e as estratégias, 
as contaminações, os labirintos e os diagramas; poderão requentar tranqüilamente os anos 60 
e 70 sem desaguar no pós-moderno (o que, diga-se de passagem, já é um grande avanço). 
Pensarão nas formas da moda, devidamente justificadas por discursos de diversas 
procedências, às vezes de sentidos antagônicos. Mas, como as formas da moda, nos últimos 
50 anos, não se casam muito bem com os discursos, as incoerências teóricas nem são 
notadas. 
¾ Os dados econômicos e financeiros dizem respeito ao tipo de financiamento do 
empreendimento, aos recursos disponíveis e respectivos fluxos. 
¾ Os dados operacionais e funcionais abrangem os horários de funcionamento para as crianças 
e funcionários, o sistema de entrada e saída de crianças, as atividades de repouso, lazer, 
ensino/aprendizagem, alimentação, os cuidados de saúde e higiene pessoal que envolvem as 
crianças e os funcionários, as atividades que envolvem pessoas da comunidade, as atividades 
administrativas, de vigilância, limpeza e manutenção, as atividades de lazer e descanso dos 
funcionários, os equipamentos, mobiliários e utensílios utilizados em todas as atividades, 
com respectivas especificações de exigências ambientais e de instalação, outros dados 
operacionais e funcionais. 
¾ Os dados da base material referem-se às condições geomorfológicas do terreno, a 
infraestrutura instalada na rua, os materiais construtivos disponíveis no mercado, suas 
condições de oferta e sua adequação técnica, funcional, arquitetural e econômica, as 
características técnicas da mão de obra disponível, etc. 
Para todos esses dados poderemos desenvolver o mesmo raciocínio que fizemos para os 
primeiros e perceberemos, emtodos os momentos, a presença da síntese pela análise. Só isso 
seria suficiente para refutar a divisão tripartite de Jones - análise/síntese/avaliação - e demolir 
qualquer construção curricular vigente. 
 
As etapas negligenciáveis. 
A etapa (3) diz respeito à organização e interpretação dos dados levantados: o arquiteto faz 
tabelas e gráficos, traça diagramas organizacionais e fluxogramas, interage com outros 
profissionais. 
Essa é reconhecidamente uma atividade arquitetônica, mas que pode já ter sido feita no 
levantamento dos dados. 
A etapa (4) compreende o pré-dimensionamento e quantificação dos espaços necessários, pois já 
são conhecidos os elementos para elaborar leiautes funcionais e operacionais, uma vez que se 
conhecem as atividades e os seus fluxos, as pessoas, os mobiliários, os equipamentos e utensílios 
envolvidos nessas atividades. 
Essa etapa é conhecida e reconhecida como metodologia de projeto. Felizmente saiu de 
moda, mas – cuidado! - ela pode ser requentada qualquer dia desses e se transformar 
numa reputada tese de doutorado da primeira década do terceiro milênio. 
A etapa (5) é a de elaboração de esboços, modelos, maquetes, e outros meios de representação 
das idéias projetuais que ocorrem ao arquiteto. Nessa fase o arquiteto usa a autocrítica para 
selecionar as hipóteses que lhe parecem mais consistentes com os dados e com suas intenções. 
Infelizmente é pouco conhecida, pouco estudada, talvez por ser peculiarmente 
arquitetônica; os arquitetos não gostam de estudar os fatos que são peculiares ao seu 
fazer. 
A etapa (6) é quando o anteprojeto - a síntese das idéias arquitetônicas que passaram pelo crivo 
da autocrítica do arquiteto - vem à crítica de terceiros. Novamente se instaura um processo de 
idas e vindas, até que um anteprojeto seja aprovado pelas partes - arquiteto e usuários ou clientes 
- e um outro ciclo tenha início, a etapa 7, que é o projeto para execução. 
Temos aí, nas etapas 6 e 7, um outro caso de desamor. Ninguém quer estudar isso. As discussões 
que aí se tecem são muito pouco acadêmicas, beiram a intrigas e maledicências. 
 
5. Receita de bolo. 
 
Ingredientes: 
4 ovos 
1 xícara de açúcar 
2 xícaras de farinha de trigo 
1 xícara de leite 
1 colher das de sopa de fermento em pó 
2 colheres das de sopa de manteiga 
Modo de fazer: 
Misture a manteiga às gemas e ao açúcar, reservando as claras. Peneire a farinha com o fermento 
em pó e adicione à mistura, aos poucos, juntamente com o leite. Bata as claras em neve…. 
 
6. Receita de parede. 
Ingredientes: 
500 tijolos furados 
2 sacos de cimento 
6 sacos de areia 
1 saco de cal 
20 litros de água 
Modo de fazer: 
Prepare a argamassa misturando… 
 
Receita de (bom) projeto? 
 
Há 40 anos procuro nos livros, nas revistas, nas exposições, nos escritórios, nas repartições, nas 
conversas, na prática profissional, nos debates, na pesquisa aplicada, nos congressos, seminários 
e simpósios, nas ABEAs e IABs, na TV, na internet, nos projetos dos meus alunos, enfim, por 
onde ando, vivo e convivo, uma resposta para uma única questão: 
O que pode nos ajudar – a nós, arquitetos - a fazer melhores projetos? 
Qualquer estudo, pesquisa, consideração, ensaio, palpite, paper, artigo, dissertação, tese ou 
tratado que não se proponha a contribuir nessa direção, não há de me parecer relevante e, 
portanto, não há de me interessar academicamente. Justifico-me: tenho urgência – e preciso de 
ajuda - para encontrar respostas à questão que mais me angustia como professora de projeto de 
arquitetura: o que posso fazer para ajudar os meus alunos a elaborarem bons projetos? Se não 
houver perspectiva de resposta para essa pergunta, então não faz sentido haver um curso de 
arquitetura. Que a arquitetura se faça como foi feita durante séculos: pelos mestres, sem 
professores.

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