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AUGUSTO COMTE RESUMO

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AUGUSTO COMTE: O PENSAMENTO POSITIVISTA E AS RELAÇÕES SOCIAIS
FERREIRA, D. Manual de Sociologia. 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 36-40
Comte iniciou suas reflexões partindo da realidade histórica de seu tempo, percebendo a emergência de uma crise, que era, a seu ver, resultante do confronto histórico entre a antiga ordem feudal e a nova ordem capitalista, fundada na indústria e na ciência. Esse confronto estaria a provocar o que ele entendeu corno desagregação moral e intelectual da sociedade do século XIX, gerando um estado de caos, no qual ele acreditava encontrar-se a Europa após as revoluções francesa e industrial. 
Para ele, o sustentáculo fundamental da sociabilidade humana, ponto de apoio para a unidade social, era constituído por um conjunto de princípios admitidos em consenso pela coletividade, que configuravam os modos de pensar, as representações de mundo e as crenças. Era esse conjunto consensual que se desagregava diante do surgimento da nova ordem social burguesa. Essa crise só seria superada por meio da construção de uma nova coesão de pensamento que fosse capaz de reconstituir a ordem a partir da modernização industrial e científica. O que Comte propôs não se limitava ao ato de compreender as relações sociais, seu intuito era entender para interferir diretamente na ordem social, no sentido de acelerar e otimizar seu desenvolvimento. 
Ele acreditava que o espírito positivo conquistado recentemente pela sociedade industrial levaria sua reorganização em novas bases consensuais. Por isso, ligou a nova ciência, por ele definida em 1839 como Sociologia, ao positivismo, denominando-a de Física-social. Em sua concepção, essa disciplina deveria adotar os paradigmas do método positivo das ciências naturais, urna vez que "há leis tão determinadas para o desenvolvimento da espécie humana como há para a queda de uma pedra". Comte aceitava plenamente os pontos de vista mecanicista e reducionista da física newtoniana corno modelos capazes de promover a descrição correta da realidade social, por isso os adotou corno fundamentos para suas teorias. Assim, o surgimento da Física-social não significava apenas uma adoção do método positivo a um novo ramo do conhecimento. Com ela, o espírito positivo deveria alcançar a maturidade e oferecer os elementos fundadores da formação do espírito da nova ordem burguesa. 
Assim corno Saint-Simon, Comte admitia que a sociedade industrial necessitava passar por mudanças morais importantes para que seu curso fosse reajustado na direção correta. Essas mudanças seriam comandadas também pelos cientistas e industriais, para que o progresso pudesse ter livre fluxo, como conseqüência da ordem instalada. A Sociologia, ao estudar, explicar e intervir nos fatos da sociedade, seria o elo científico que ligaria a ordem da sociedade ao progresso em curso contínuo. 
Comte estruturou seu pensamento a partir de urna Filosofia da História peculiar. Em sua visão, os estudos sobre a fisiologia cerebral do homem revelavam que este era dotado de uma natureza caracterizada por uma irresistível tendência social. Devido a tal sociabilidade, sua história constituiria no percurso do desenvolvimento e do progresso da natureza humana. O homem seria, portanto, um ser histórico porque na História, e apenas nela, é que ele realizaria sua natureza invariável: ser social. Para que se desenvolvesse completamente, a sociedade deveria passar por três estágios, ou estados, necessários para que o homem aprendesse a utilizar sua inteligência (razão) corno fonte inspiradora de suas ações. Estava estabelecida a primeira lei natural da humanidade, definida pela física social: a chamada Lei dos três estados. 
Segundo essa lei, o primeiro estado da humanidade foi definido corno teológico. Nele, Deus seria o centro de todas as referências humanas, a medida de tudo na sociedade. Nesse estágio, o homem viveria em um estado de aculturação ainda incipiente, que justificaria sua íntima ligação com a divindade. Deus seria o regen- te da vida social, e o homem a ele diretamente vinculado, fosse por meio da relação direta ou pela mediação do Estado teocrático. Essa concepção teocêntrica da vida social era fundada na impossibilidade humana de, nesse estado, abalizar suas explicações na razão, urna vez que o espírito teológico era alicerçado na fé irracional. Esse espírito fornecia, outrossim, tanto às inquirições humanas quanto à organização social urna proto-idéia de ordem, de sistema, que explicava e justificava a ordenação do mundo social. 
O estado seguinte, definido pela lei comteana, foi denominado de metafísico. Ele seria o elo intermediário entre os três, no qual a explicação da sociedade já não passaria apenas pela fundamentação na iniciativa divina. Por ser urna negação da ordem anterior, o espírito metafísico não conseguiria sistematizar seus princípios, servido apenas de transição histórica para o estágio seguinte. Deus não seria mais o regente absoluto da vida social, e sim urna essência onipresente a ela. Nesse estado, os dogmas da fé anterior seriam questionados profundamente, pondo em dúvida seus fundamentos e dissolvendo o caráter orgânico de seu saber. Se o estágio anterior definia-se por ordem, este, por ser de transição, revelava um sentido de progresso no percurso da civilização humana. 
O último dos estados da Teoria da História comteana seria o positivo, ponto de chegada histórico ao qual o espírito humano havia, naturalmente, sempre aspirado. Esse estágio encontraria sua expressão na sociedade capitalista moderna. O homem, partindo de uma conexão antropocêntrica, se colocaria na condição de regente da vida social. Esse estágio só se afirmaria em plenitude quando seu método, após edificada a física social, passasse a coordenar todos os domínios da ciência, conferindo-lhe urna unidade lógica voltada ara a explicação racional dos fenômenos naturais, resultando em um conjunto estável e coerente de leis invariáveis que, uma vez reconhecidas universalmente, deveriam ser aceitas corno dogmas. Dessa forma, o espírito positivo forneceria os preceitos fundamentais para a concepção de uma unidade consensual para a nova ordem, assentada definitivamente, daquela hora em diante, na razão. Seu objetivo central seria conduzir o pensamento humano para a coerência racional à qual ele estivera sempre destinado. Nesse sentido é que o estado positivo do desenvolvimento humano só encontraria o ápice de sua maturidade racional com a Sociologia. 
Essa nova ciência foi subdividida por seu instituidor em dois campos de estudo: estática e dinâmica não por acaso conceitos oriundos da mecânica newtoniana. A estática definiu seu objeto de estudo na ordem social, elemento responsável pela preservação de toda a estrutura social, das instituições que mantinham a coesão e garantiam o funcionamento da sociedade: a família, a religião, a propriedade, a língua em, o direito etc. A idéia central que sustentaria os estudos era a do consenso que tornaria a pluralidade dos indivíduos e instituições uma unidade social. A dinâmica, por seu lado, deveria voltar seu interesse para o progresso evolutivo da sociedade objetivando determinar suas leis e seu percurso sucessivo e inalterável. Voltado para a compreensão da passagem da sociedade para formas mais complexas de convivência, como a urbano-industrial, esse campo de estudo deveria complementar estrategicamente o primeiro, conferindo uma abordagem completa à investigação sociológica. 
Comte relacionou teoricamente esses dois campos de forma a privilegiar o estático sobre o dinâmico, ou seja, a conservação sobre a mudança, sinalizando com isso que o progresso destinava-se a aperfeiçoar os elementos da ordem, e não destruí-los, Aqui, revela-se o conteúdo conservador, não revolucionário, da teoria comteana. 
O positivismo deveria, após afirmar-se em plenitude, tornar-se a expressão do poder espiritual da sociedade moderna, com a função de governar e manter os preceitos reguladores das relações sociais. Esse poder seria exercido pelos filósofos e cientistas, que substituiriam,orientadores da razão que eram, os antigos sacerdotes do estágio teológico. A teoria comteana desenvolveu-se ao ponto de propor a criação de uma religião positivista que representaria de fato esse novo poder espiritual. O poder temporal por sua vez seria exercido pelos industriais, uma vez que era natural que os ricos detivessem, por estar no topo da hierarquia das capacidades, o controle da autoridade econômica e social. 
Para Comte, a nova ordem industrial, fundada na expropriação e na organização científica do trabalho social, concentradora de capitais e meios de produção nas mãos da burguesia, era uma decorrência positiva do progresso material e espiritual da natureza humana. O confronto de interesses entre trabalhadores e empresários era, a seu ver, produto de uma organização equivocada da sociedade e poderia ser superado com reformas que não alterassem a ordem maior. Elas aconteceriam em conseqüência de um movimento de opinião pública liderado pelo poder espiritual positivista, que demonstraria aos donos do capital a origem e o objetivo social deste, impedindo, pela conscientização dos de cima, que a riqueza social fosse administrada em prejuízo dos trabalhadores, que deveriam, por seu turno, limitar suas pretensões e reivindicações materiais às possibilidades de cada momento. 
O pressuposto era de que a incorporação do mundo do trabalho à nova ordem social dependia de mudanças na concepção política e econômica que servia de paradigma ara a sociedade industrial. Os estatutos da propriedade, da posse e da gestão do capital e da organização do trabalho deveriam mudar, sem rupturas revolucionárias. A inclusão dos trabalhadores à ordem industrial compreendia sua transformação em agentes morais, sem, contudo, alterar substancialmente as condições concretas de sua existência. Resolver moralmente dificuldades de ordem material, este o conteúdo social do positivismo comteano. 
No tocante à economia, sua compreensão opunha-se à concepção liberal do Estado, que o encara como um mal necessário, o que toma sua ingerência na gestão econômica ilegítima, indesejável mesmo. No momento em que concebeu a economia como uma das partes do organismo social, ele entendeu ser necessária uma coordenação maior que impedisse a radicalização da expressão do desejo do lucro, preexistente de modo egoístico em cada membro da sociedade, e tendente a gerar desordem devido ao conflito de interesses. O saneamento preventivo desse problema viria por meio do poder público, que deveria, não só promover, mas também manter sob controle os rumos do desenvolvimento econômico e corrigir os desvios da economia de mercado. Em relação à política, suas posições foram imperativas: o governo deveria ser exercido em nome de todos e sua ação se daria elo exercício da forma material impondo seu poder coercitivamente. Governar equivalia a ditar as normas de coordenação do todo social; para isso, todo governo deveria constituir-se em uma ditadura de conteúdo autocrático e republicano.O poder legislativo deveria ser extinto, uma vez que sua função perderia sentido. Em seu lugar, existiria um coletado eletivo com funções estritamente financeiras, dedicado apenas ao controle rígido da ação administrativa relacionada ao erário público, objetivando o exercício do governo de acordo com os princípios do equilíbrio orçamentário, não se admitindo ações de despesa sem receita correspondente. Tais condutas no exercício da política deveriam levar a sociedade no sentido da manutenção da ordem e da continuidade do progresso.
Produto teórico de uma época de transformações sociais importantes, na qual a burguesia consolidava seu poder econômico e o assumia politicamente, a filosofia proposta por Comte sinalizava a possibilidade de enquadramento do mundo industrial em uma ordem que seria organicamente harmônica e de fundamento exclusivamente moral. Seu positivismo aceitava como natural a ordem de dominação burguesa em processo de consolidação, buscando contrapor a ela um poder espiritual regulador que, ao influenciar moralmente os homens e reformular suas representações sociais, ofereceria um discurso sobre o social no qual o ponto de vista da burguesia apareceria como universal a todos os sujeitos, uma vez que apenas esse ponto de vista garantiria a manutenção da ordem. Nesse sentido, o Estado absorveria e ocultaria tanto a divisão quanto a luta de classes, configurando-se como elemento aglutinador e homogeneizador das relações sociais. A liberdade era válida e aceita nesse contexto até o ponto em que não se tomasse ameaça ou desafio à dominação burguesa, expressão final da ordem pública. 
O pensamento sociológico-comteano exerceu marcante influência sobre inúmeros autores em diversas áreas do pensamento social do século XX, entre eles Spencer, Espinas, Ward, Durkheim e seus seguidores, Raymond Aron e Claude Lévi-Strauss, por meio de Mauss. Sua filosofia social e política exerceu notável presença em alguns países latino-americanos, como México, Chile e Brasil, em especial. Aqui, foi um dos fatores determinantes na proclamação da República, na definição do atual pavilhão nacional - ver o lema Ordem e Progresso -, em diversas diretrizes constitucionais republicanas e no espírito da legislação trabalhista legada pelo governo de Getúlio Vargas. As idéias de Comte ganharam, no Brasil (Superti, 1998:32, 141 e 143), realidade prática no embate político-ideológico que marcou o nascimento da República. Por trazer em seu bojo uma proposta de reformulação moral da sociedade, na qual ordem e progresso se compunham como partes de um processo único de realização da natureza humana, o positivismo atraiu seguidores em virtude do conteúdo progressista que continha, quando do final do período imperial brasileiro. Nesse sentido, suas teorias participaram ativamente da construção do Estado moderno no Brasil. 
EXERCÍCIOS
Descreva brevemente os três estágios elaborados por Comte e explique sua intenção em construir essa teoria!
O que Comte entende por progresso?
Quais os motivos pelos quais Comte não admite questionar a ordem estabelecida pela sociedade industrial?

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