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Título do Tópico*: A Geopolítica e a Ordem Mundial Objetivo*: Esta aula tem por objetivo discutir o surgimento da Geopolítica enquanto disciplina, apresentando seu primeiros autores, suas teorias fundadoras, contextualizados em seus respectivos períodos históricos. Palavras-chave*: geopolítica, estado, capitalismo, ordem mundial, imperialismo Nesta aula analisaremos a dimensão do poder mundial a partir da Geopolítica. Vamos buscar comprender a espacialização das relações de poder, o papel do Estado e dos conflitos militares e civis. Cabe também destacar as mudanças que ocorreram nos territórios, como as divisões políticas, a formação de novos países ou a reorganização de outros países que haviam no passado. Fronteiras, Estado, Nação, Poder e Território são conceitos fundamentais para a estruturação dos conhecimentos ligado à Geopolítica. Buscaremos também fazer uma discussão em torno da idéia de um “poder mundial”, apoiada em exemplos históricos, além de uma breve apresentação sobre a Geopolítica, conhecendo seus principais autores e teorias. Veremos como a História é mais fácil de ser compreendida a partir da utilização dos conceitos oriundos do pensamento estratégico, o que nos permite, em alguns casos, “desenhar” possíveis conflitos futuros, característica esta que acabaria concedendo à Geopolítica o apelido de “ciência demoníaca”. O fato é que, muitas vezes, algumas guerras parecem ser meros resultados das teorias geopolíticas, enquanto em outras, ao contrário, é como se as teorias geopolíticas derivassem diretamente de tais guerras. Nosso objetivo aqui é explicar este paradoxo, contribuindo para um olhar que desenvolva a capacidade de raciocinar geopoliticamente, isto é, de estabelecer correlações políticas entre os diferentes lugares, buscando comprendê-las em suas mais complexas e variadas escalas. Um dos elementos-chave para a análise de tais cenrários é o Estado, entendido por um de seus primeiros teóricos, Friedrich Ratzel, com “um pedaço de humanidade e um pedaço de Terra”. Por outro lado, é preciso se observar que a crescente pressão sobre os recursos naturais e a intensificação das trocas de marcadorias, capitais e serviços, vem promovendo o surgimento de organizações supra-estatais (conhecidos como “blocos de países”), que muitas vezes vão de encontro com as estruturas jurídico-espaciais anteriores. Dependendo da conjuntura, estas novas formas “inter-blocos” também podem ser vistas como uma espécie de freios à globalização, ou ainda, como o nacionalismo, por exemplo, poderia atuar como um estímulo ao avanço dos interesses da internacionalização do capital. De todo modo, independentemente das variadas formas que os fenômenos possam assumir em cada conjuntura específica, a questão central permanece sendo a luta contínua pelo “poder”, ou seja, pela capacidade de controlar espaços e homens, o que nos remete diretamente à política. Note-se que nessa análise tal poder está diretamente atrelado ao planeta “Terra” (Gea), daí ser examido através da “geopolítica do poder mundial”. Historicamente, os seres humanos desenvolveram seu processo civilizatório distribuindo o poder de maneira bastante desigual, constituindo opressores e oprimidos, seja nas suas relações diretas e imediatas, seja entre os Estados nacionais - enquanto aparelhos jurídicos, políticos, ideológicos e repressivos constituídos ao longo dos séculos. Assim, conhecer as razões que levaram a tamanha desigualdade de poder entre os Estados, e entre as várias regiões do espaço geográfico, torna-se indispensável para que se possam formular alternativas que nos conduzam para uma divisão mais justa dos poderes e das riquezas, de modo que não se necessite fazer uso do recurso da guerra para que se alcance tal fim. Apesar do termo “Geopolítica” ter sido usado pela primeira vez em 1899 pelo geógrafo sueco Rudolph Kjéllen, seu conteúdo já havia sido explorado por vários pensadores que observaram a influência do meio geográfico na organização e sentidos das sociedades. Aristóteles (384-322 a.C.), na Grécia clássica, já havia assinalado as relações da Ciência Política com a Geografia. Também Estrabão (63 a.C.-21 d.C.) escreveu com o objetivo de influenciar a tomada de decisões dos governantes de sua polis. Na Idade Média Alberto Magno (1206-1280), através de seus conhecimentos geográficos, chegou a prover a construção do Canal de Suez. Na Era Moderna, Montesquieu (1689-1755), um dos pensadores políticos mais influente do “iluminismo”, deu grande ênfase à influência do clima e da organização geográgica no comportamento humano. Junto com outros pensadores, eles foram precursores da Geopolítica, mas a utilização do termo deu-se somente nas primeiras décadas do século XX, quando a disciplina passou a ser ensinada nas Universidades. Também devemos reconhecer que o surgimento da Geopolítica como uma “ciência que trata da dependência dos acontecimentos políticos em relação ao solo” (como definida pela escola alemã), guarda estreita correspondência com a passagem do capitalismo à sua fase monopolista, quando o advento da grande indústria proporcinou a formação das grandes empresas multinacionais, e quando os poucos Estados nacionais industrializados buscaram novos mercados consumidores e fontes de matérias-primas, constituindo um colonialismo de novo tipo que passou a ser chamado “imperialismo”. 1 - Friederich Ratzel e a fundação da “ciência” Geopolítica É consenso entre os diversos autores de Geopolítica e Geografia Política o reconhecimento de Friederich Ratzel como o fundador desse novo ramo de conhecimento científico. Dentre as suas principais contribuições, Ratzel teve o mérito de deslocar o foco central das pesquisas geográficas da “paisagem natural” para a relação “homem-meio”, cuja tese foi defendida no livro Anthropogeographie (1882). Outra contribuição foi a fundação da Geografia Política, cujo objeto e teoria seria desenvolvida em outras duas obras importantes: Politische Geographie (1897) e O mar como fonte de grandeza das nações (1903). Dessas últimas duas obras de Ratzel citadas, podemos extrair cinco postulados de grande importância para a formulação premilinar da disciplina: 1) Que o objeto de estudo da Geografia Política deve ser a relação entre Estado, Espaço e Sociedade; 2) Que cada Estado tem sua vida política condicionada por fatores do “espaço” (pensado como a área ocupada por um Estado) e de “posição” (tendo em vista que um determinado “espaço” está relacionado com os demais, do ponto de vista global); 3) Que “espaço é poder”, ou seja, que o “espaço” não é apenas um suporte ou veículo das forças políticas. Que ele é, em si mesmo, uma força política poderosa; 4) Que o poder mundial, historicamente, se repartiu entre potências “marítimas” e “continentais”; 5) Que, estratégicamente, apenas o poder marítimo conduziria ao “verdadeiro poder mundial”, tendo em vista que a massa líquida dos oceanos abarca a massa sólida dos continentes, os quais, por sua vez, estão separados entre si, enquanto os oceanos são interligados. Foi com base nestes cinco postulados que a Geografia Política consolidou-se como novo ramo da Geografia. Mas, logo em seguida, a disciplina também recebeu outra contribuição importante, dada pelo geógrafo e almirante inglês Halford John Mackinder. Sua teoria do “pivot geográfico da História” foi reconhecida como a primeira formulação capaz de oferecer alguma previsibilidade aos acontecimentospolíticos internacionais. 2 - Halford Mackinder: a Geopolítica como ciência “aplicada” Halford Mackinder tratou a Geopolítica como ciência “aplicada” e, apesar de parecer contraditório, este almirante inglês tornou-se notável exatamente por contestar a teoria do poder marítimo defendida por Ratzel e pelo almirante norte americano Alfred Mahan. Contudo, se olharmos com mais atenção, isso é algo bastante compreensível, pois Mackinder (enquanto liberal que buscava preservar à sua pátria a condição de principal potência mundial) preocupou-se com a possibilidade de “acomodação” de seus compatriotas a tal situação, o que poderia levar a uma desatenção com o crescimento de poder em curso das demais potências bélicas. Note-se que, com a ascensão de novas potências - como os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão e a Rússia - a supremacia industrial britânica vinha sendo questionada. Especialmente porque alemães e norte americanos já haviam ultrapassado os ingleses na produção de aço (o principal componente da indústria bélica), e também porque os russos já haviam se tornado os principais concorrentes dos ingleses em âmbito mundial, sob o ponto de vista do poder terrestre (continental), em oposição aos britânicos, que detinham a supremacia do poder marítimo. Ao tomar contato com a obra de Ratzel, Mackinder também já havia compreendido que a Alemanha (um poder terrestre localizado no centro da Europa) também aspirava tornar-se uma potência marítima, tendo já iniciado um forte projeto de construção de navios de guerra. Questionando-se sobre qual o efetivo poder terrestre dos ingleses e bastante dedicado aos mapas, Mackinder, inicialmente, criticou a distorção que a projeção cartográfica provocaria, pois a Europa, ao ocupar o centro dos mapas, nos daria a impressão de ser maior e mais importante geograficamente do que ela realmente seria. Por isso, propôs uma projeção “asiocêntrica”, procurando demonstrar que a Europa seria apenas uma península da grande massa de terras (que ele denominaria “Ilha Mundial”), e que conteria, além da Europa e da Ásia, também a África. Em seguida, baseado em análises históricas de longa duração, Mackinder verificaria que, nas grandes estepes da Ásia Central localizavam-se as fontes das grandes transformações mundiais, o que, de certo modo, se comprovaria com as duas grandes “invasões bárbaras” que atingiram as grandes civilizações: a primeira delas com hunos de Átila na época do Império Romano; e a segunda, com os mongóis de Gêngis Khan, durante a Idade Média. Tais constatações o levaria a concluir que estas estepes eurasianas representavam “o pivot geográfico da História”. Além disso, o autor ressaltou que nos tempos modernos, os cavalos foram substituídos pelos trens, e o Império Mongol pela pela Rússia, mas, de todo modo, o mesmo conjunto espacial se encontrava protegido contra eventuais invasões das potências marítimas, configurando uma verdadeira “fortaleza terrestre”, mais tarde por ele denominada “Heartland” (ou “coração continental”). Para o autor, Quem dominar a Europa Oriental controlará o coração continental. Quem dominar o coração continental dominará a ilha mundial. Quem dominar a ilha mundial controlará o mundo. (MACKINDER. Conferência de Paz de 1919) De certo modo, até hoje suas teorias têm influência na prática política externa de países como o Reino Unido e Estados Unidos, cujo objetivo central é impedir uma aliança estratégica entre Rússia e Alemanha. Naquele momento, caso essa aliança ocorresse, a supremacia do “livre-comércio” e dos anglo-saxões sobre o mundo, estaria coomprometida. Torna-se, portanto, compreensível que os alemães, após serem derrotados na 1ª Guerra Mundial, levassem a sério as análises de Mackinder. Também não seria atoa que um oficial do exército alemão, Karl von Haushofer, daria continuidade ao desenvolvimento da Geopolítica. 3 - Karl von Haushofer e as “pan-regionen” Karl Haushofer foi oficial durante a 1ª Guerra Mundial, tendo comandado a retirada de suas tropas de volta para uma Alemanha que retornava derrotada e humilhada. Antes do início da 1ª Grerra ele teve a oportunidade de estudar a situação do Extremo Oriente (sob o ponto de vista de Tóquio) quando fora enviado como observador militar junto ao exército japonês. Retornou para a Alemanha admirado com as qualidades que observou no japonês, como um elevado senso de disciplina, além de uma profunda solidariedade nacional. Tomando o Japão como exemplo, Haushofer tornou-se um crítico daquilo que considerava defeituoso na formação da Alemanha: de um lado o arraigado individualismo alemão, e de outro, a ausência de um senso de fronteira definido, ou seja, de uma consciência coletiva sobre seu espaço físico - uma vez que o país não possuía limites naturais bem definidos. Para o povo japonês, ao contrário, isso era algo mais fácil, tendo em vista que o Japão era contituído territorialmente por um arquipélago. No decorrer da primeira Primeira Guerra, Haushofer considerou que seu país fizera a aliança errada, ao optar por vincular-se à Áustria-Hungria ao invés da Rússia. Sob esta perspectiva, a teoria de Mackinder reforçava uma antiga opinião (que havia sido defendida por Bismarck) de que a Rússia era um aliado em potencial da Alemanha, e não a Áustria. Cabe salientar que Bismarck era anti-austríaco, tendo inclusive liderado a Prússia contra a Áustria no interior da Confederação Germânica, no âmbito do processo de Unificação da Alemanha (1815-1870). Incluve, Bismark perderia seu posto de Chanceler por causa disso, quando mais tarde o Kaiser Guilherme Iº solidarizaria-se com seus “irmãos culturais” austríacos, defendendo o “pan-germanismo” que opunha-se ao “pan-eslavismo”, o qual aproximava a Rússia da Sérvia. Posteriormente, essa decisão alemã direcionaria toda a Europa (e o mundo) para a guerra. Haushofer compreendia que o resgate do poderio alemão dependia de uma aliança com a Rússia, e dedicou muitos esforços no convencimento dos alemães sobre esta aliança. Apesar de ideologicamente identificado com o pan-germanismo, ele teve o mérito de renunciar às suas preferências, tendo em vista o reconhecimento da teoria do Heartland (de Mackinder), a que lhe parecia uma explicação realista, do que aquela outra, muito difundida à época, de que os germânicos constituíam uma “raça superior” frente às demais. Com base nisso, e na convicção de que a tendência histórica (irreversível) apontava para o declínio das velhas potências colonialistas (Inglaterra e França), e a favor da ascensão de novas potências industriais (como Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Japão) que Haushofer desenvolveu sua teoria das “pan-regionen”, substituindo o “povo” pelo “espaço”, enquanto categoria unificadora dos grandes aglomerados geopolíticos. Assim, o autor propôs uma regionalização do espaço mundial em quatro grandes unidades, cada uma delas se articulando da seguinte maneira: um centro industrial dinâmico, galvanizador de áreas menos desenvolvidas; uma zona pouco povoada servindo de espaço de reserva para futura ocupação e também utilizada como fonte de matérias-primas; e uma outra área cuja função principal seria a de fornecer mão-de-obra barata para dar continuidade ao processo de industrialização do centro, ou também para ajudar no povoamento do espaço de reserva. Em síntese, sua teoria aparecia como um “mundo de perfeito equilíbrio”, onde cada pan-região teria bastante autonomia, já que as exigências da nova economia industrial e de uma demografia emexpansão poderiam ser atendidas pela utilização de seu próprio espaço. Haushofer, dessa maneira, acreditava que a paz mundial poderia ser assegurada, ou seja, não havendo a sobreposição de necessidades e interesses de uma potência industrial sobre outra. Resumidamente eram as seguintes as suas pan-regiões: a) Panamérica: reunindo todo o conjunto americano, onde os Estados Unidos seriam a cabeça industrial, o Canadá o espaço de reserva, e a América Latina o “viveiro” de mão-de-obra; b) Euráfrica: formada pela Europa (exceto Rússia), mais o Oriente Médio (exceto o Irã), e todo o continente africano. Nele, a posição central seria ocupada pela Alemanha, o mundo árabe entraria como espaço de reserva e fornecedor de petróleo, e a África Sub-saariana serviria de viveiro de mão-de- obra; c) Panrússia: onde a Rússia européia seria o centro industrial, a Sibéria a área-reserva e a Índia a fonte de mão-de-obra, d) Zona de Co-prosperidade asiática: nome dado pelos japoneses à vasta área em que a Austrália serviria como área-reserva, a China seria a fornecedora de braços e o Japão, representaria o centro industrial. O esquema de Haushofer não foi capaz de evitar a guerra. Ao contrário, ao subestimar a resistência franco-britânica diante de uma eventual liderança alemã na Europa, sua proposta apenas acirraria ainda mais os ânimos, tendo um destino semelhante com o Bismarck, anteriormente. Num primeiro momento, Haushofer influenciaria Hitler, sendo considerado o inspirador do pacto de não agressão russo- alemão, assinado em 1939. Contudo, dois anos depois Hitler rompeu com seu conselheiro geopolítico, decidindo invadir a União Soviética, cujas conseqüências catastróficas levaram a Alemanha para a derrota. Haushofer foi acusado como colaborador do nazismo pelo tribunal de Nuremberg1, mas não esperou por sua sentença, suicidando-se em sua cela em 1945, com 73 anos de idade. Sob o ponto de vista dos vencedores da 2ª Guera, a Geopolítica foi vista como um domínio do saber “perigoso” para a construção e manutenção da paz. Ela ficou muito conhecida pela influência de Haushofer, e esteve simbólicamente atrelado ao nazismo, sendo então estigmatizada como uma “falsa ciência”. Apesar disso, os Estados-Maiores das grandes potências remanescentes continuaram a utilizar seus conhecimentos, até que ela foi reabilitada durante a guerra do Vietnã, e também pelos franceses que tanto a repudiaram em momentos anteriores. 1 - Tribunal de Nuremberg: Durante a Segunda Guerra Mundial, os aliados e representantes dos governos exilados da Europa ocupada se encontraram algumas vezes para discutir sobre o tratamento pósguerra a ser dado aos líderes nazistas. Inicialmente, muitos dos aliados consideraram seus crimes além do alcance da justiça humana – que aquele fato era político, antes de ser uma questão legal. Em Agosto de 1945, os britânicos, franceses, americanos e soviéticos se encontraram em Londres e assinaram um acordo que criou o Tribunal de Nuremberg, oficialmente o Tribunal Militar Internacional, e acertaram as regras para o julgamento. O Tribunal de Nuremberg, em 9 de dezembro de 1946, julgou vinte e três pessoas, vinte das quais médicos, que foram consideradas como criminosos de guerra, devido aos brutais experimentos realizados em seres humanos. O Tribunal demorou oito meses para julgálos. Em 19 de agosto de 1947 o próprio Tribunal divulgou as sentenças, sendo que sete de morte, e um outro documento, que ficou conhecido como Código de Nuremberg. Este documento é um marco na história da humanidade, pois pela primeira vez foi estabelecida uma recomendação internacional sobre os aspectos éticos envolvidos na pesquisa em seres humanos. (Fonte: ACCIOLY, Hildebrando – Manual de Direito Internacional Público, 12 ed., Saraiva, São Paulo, 1996.) 4 - Yves Lacoste e a Geopolítica crítica Com perspectiva política e ideológica diferente de seus fundadores, coube ao geógrafo marxista Yves Lacoste, demonstrar de forma convincente que também as alternativas revolucionárias em oposição ao imperialismo, necessitariam de conhecimentos da “Geopolítica” para concretizarem-se. Ele utilizou exemplos históricos das experiências de caráter socialista para demonstrar que a Geopolítica, antes de ser um instrumento conservador ou revolucionário, é um instrumento indispensável de análise para se pensar as questões estratégicas ligadas ao poder. Este saber estratégico busca compreender tanto a dimensão militar do poder mundial, quanto a escala mundial do poder político. Pois, a geografia serve, em princípio, para fazer a guerra. Para toda ciência,para todo saber deve ser colocada a questão das premissas epistemológicas; o processo científico está ligado à uma história e deve ser encarado, de um lado, nas suas relações com as ideologias, de outro, como prática ou como poder. Colocar como ponto de partida que a geografia serve, primeiro, para fazer a guerra não implica afirmar que ela só serve para conduzir operações militares; ela serve também para organizar territórios, são somente como previsão das batalhas que é preciso mover contra este ou aquele adversário, mas também para melhor controlar os homens sobre os quais o aparelho de Estado exerce sua autoridade. A geografia é, de início, um saber estratégico estreitamente ligado a um conjunto de práticas políticas e militares e são tais práticas que exigem o conjunto articulado de informações extremamente variadas, heteróclitas à primeira vista, das quais não se pode compreender a razão de ser e a importância, se não se enquadra no bem fundamentado das abordagens do Saber pelo Saber. São tais práticas estratégicas que fazem com que a geografia se torne necessária, ao Chefe Supremo, àqueles que são os donos dos aparelhos do Estado. Trata-se de fato de uma ciência? Pouco importa, em última análise: a questão não é essencial, desde que se tome consciência de que a articulação dos conhecimentos relativos ao espaço, que é a geografia, é um saber estratégico, um poder. Considerações finais Referências: ARON, R. Paz e Guerra entre as Nações. Brasília: Editora Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2002. HOBSBAWM, E. A era das revoluções. 1789-1848. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2001. LACOSTE, Y. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. _______. A era do capital. 1848-1875. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2009. MARTIM, A. R. Geografia: Geopolítica e poder mundial. São Paulo: USP. S/D. VERSENTINI, J. W. Ensaios de geografia crítica: história, epistemologia e (geo)política. São Paulo: Plêiade, 2009. _______. Nova ordem, imperialismo e geopolítica global. (Coleção Papiros Educação). Campinas: Papiros, 2003. Exercício 1) (Fuvest) Sobre a inovação tecnológica no sistema fabril na Inglaterra do século XVIII, é correto afirmar que ela: a) foi adotada não somente para promover maior eficácia da produção, como também para realizar a dominação capitalista, na medida que as máquinas submeteram os trabalhadores a formas autoritárias de disciplina e a uma determinada hierarquia. (feedback: Parabéns, você acertou! Pensar a Revolução Industrial envolve pensar a questão do trabalho em sociedade) b) ocorreu graças ao investimento em pesquisa tecnológica de ponta, feito pelos industriais que participaram da Revolução Industrial. (feedback: resposta incorreta, pois o mero investimento em pesquisa não justifica as determinações da revolução industrial) c) nasceu do apoio dado pelo Estado à pesquisa nas universidades. (feedback:resposta incorreta, pois o investimento do Estado em pesquisa não justifica as determinações da revolução industrial) d) deu-se dentro das fábricas, cujos proprietários estimulavam os operários a desenvolver novas tecnologias. (feedback: resposta incorreta, pois o processo de desenvolvimento de novas tecnologias acontecia longe dos trabalhadores de “chão de fábrica”, e cujo tranbalho era bastante massificado) e) foi única e exclusivamente o produto da genialidade de algumas gerações de inventores, tendo sido adotada pelos industriais que estavam interessados em aumentar a produção e, por conseguinte, os lucros. (feedback: resposta incorreta, pois a Revolução industrial não foi, única e exclusivamente, o produto da genialidade de algumas gerações de inventore, envolvendo muitos outros fatores)
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