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ASPECTOS LINGUÍSTICOS E CULTURAIS DA LIBRAS Aula 1 IDENTIDADES SURDAS Identidades surdas Olá, estudante! Na jornada sobre as identidades surdas, exploraremos a riqueza cultural e linguística da comunidade surda. Descubra como compreender e respeitar essas identidades é essencial para a prática profissional, promovendo inclusão e diversidade. Venha se aprofundar nesse universo enriquecedor! Estamos ansiosos para compartilhar conhecimento. Bons estudos! 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 1/52 Ponto de Partida Boas-vindas à aula sobre as identidades surdas! Aqui, exploraremos as nuances e riquezas dessa temática, compreendendo como as identidades surdas se manifestam e influenciam a vida cotidiana. A importância desse conhecimento rompe barreiras, contribuindo para uma prática profissional mais inclusiva e sensível. Logicamente você já observou como somos todos diferentes, com características pessoais biológicas, emocionais e sociais. Transferindo essa observação para as pessoas com surdez, questionamos: quais são e como se constroem as identidades surdas? O que diferencia um surdo do outro e o que é comum a todos os indivíduos surdos? Por que alguns surdos usam AASI ou implante coclear e outros não? Como as diferentes identidades surdas se entrelaçam e influenciam as interações sociais? Fique atento a esses pontos, pois eles serão fundamentais para nossas reflexões. Ao longo do aprendizado, você descobrirá como reconhecer e respeitar as diversas identidades surdas pode transformar positivamente a sua prática profissional. Para finalizar esta aula, 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 2/52 discutiremos este questionamento: como o conhecimento das diferentes identidades surdas pode influenciar a interação com o indivíduo surdo? No final desta jornada, você não apenas adquirirá conhecimento teórico, mas também terá ferramentas práticas para aplicar em seu cotidiano profissional. Desperte sua curiosidade e esteja preparado para transformar a realidade ao seu redor. Vamos juntos nesta etapa do seu aprendizado! Vamos Começar! Identidades surdas Vários pensadores e filósofos da Antiguidade acreditavam que quem não ouvia não falava, não se comunicava, não pensava, não interagia e não poderia ser considerado humano. Esses estereótipos em relação às pessoas surdas se baseavam principalmente na falta da língua falada, uma característica marcante da humanidade. No contraponto desse pensamento, há a língua de sinais como forma de comunicação com pessoas surdas. É uma língua visual, com sinais convencionados e com a qual é possível expressar-se. Dessa forma, Quadros e Karnopp, 2004, afirmam que a formação da identidade da pessoa surda, uma vez que ela não é ouvinte, acontece de forma mais natural por meio da língua de sinais. O conceito de identidade pode variar dependendo do contexto em que é discutido, mas geralmente refere-se à compreensão individual ou coletiva de quem somos, o que nos torna únicos ou parte de um grupo específico. Pode envolver aspectos pessoais, como valores, crenças, emoções e características pessoais, bem como elementos sociais, como pertencimento a uma comunidade, cultura ou grupo étnico. A identidade é dinâmica e pode ser influenciada por experiências ao longo da vida, interações sociais e contextos culturais. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 3/52 Em 1997, Roy Holcomb apresentou algumas considerações sobre a diversidade na constituição de identidades surdas, sendo: surdos que sentem igualmente confortáveis em ambas as culturas surdas e ouvintes; pessoas que têm envolvimento limitado na comunidade surda, mas que podem interagir confortavelmente com pessoas surdas; pessoas que rejeitam qualquer envolvimento com outras pessoas surdas; pessoas que preferem interagir com outras pessoas surdas o máximo possível e mantêm o mínimo contato com as pessoas ouvintes; pessoas que não se sentem confortáveis na comunidade surda, nem entre os ouvintes e, ainda, pessoas surdas que não tiveram a oportunidade de conhecer outras pessoas surdas e aprender sobre cultura surda. A formação da identidade surda acontece quando o indivíduo reafirma seu lugar no mundo. Ao longo desse processo, o entorno desempenha um papel significativo, e cada pessoa surda se conecta a diversas culturas. Ao desenvolver a consciência de sua identidade como pessoa surda, ela tem a capacidade de categorizar o que a define de maneira mais precisa. É de extrema importância que o surdo interaja com outros surdos, a fim de construir sua identidade surda. Pesavento (2005) afirma que: As identidades são, pelo seu lado, um outro campo de pesquisa para a História Cultural. Enquanto representação social, a identidade é uma construção simbólica de sentido, que organiza um sistema compreensivo a partir da ideia de pertencimento. A identidade é uma construção imaginária que produz a coesão social, permitindo a identificação da parte com o todo, do indivíduo frente a uma coletividade, e se estabelece à diferença. A identidade é relacional, pois ela se constitui a partir da identificação de uma alteridade. Frente ao eu ou ao nós do pertencimento se coloca a estrangeiridade do outro (Pesavento, 2005, p. 54). 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 4/52 A construção da identidade fundamenta-se num processo de associação a determinado grupo e de dissociação com relação a outros grupos. Ainda no que se refere à identidade surda, Santana e Bergamo (2005) compartilham o seguinte entendimento: O modo como a surdez é concebida socialmente também influencia a construção da identidade. O sujeito não pode ser visto dentro de um vácuo social. Ele afeta e é afetado pelos discursos e pelas práticas produzidos. Mas o fato é que não existe uma identidade exclusiva e única, como a identidade surda. Ela é construída por papéis sociais diferentes (pode-se ser surdo, rico, heterossexual, branco, professor, pai etc.) e também pela língua que constrói nossa subjetividade (Santana; Bergamo, 2005, p. 568). Portanto, torna-se fundamental adquirir uma compreensão aprofundada da formação do ser surdo no âmbito das relações eu- outro, visto como um processo dialético que incorpora vivências, reflexões nas interações com o ambiente e consigo mesmo, bem como o autoconhecimento no desenvolvimento de sua própria identidade ou identidades. Nessa perspectiva, Ruzza (2020) destaca duas categorias de identidade. A primeira, denominada identidade de pertencimento, está associada ao nascimento ou à condição de existência dentro de uma comunidade específica que compartilha conjuntos de valores para a formação de identidade e reconhecimento. Em outras palavras, trata-se de integrar-se a um grupo e segmento cultural por pertencer a essa comunidade, independentemente do desejo individual, sendo resultado da condição de nascimento nesse grupo. A segunda identidade destacada por Ruzza (2020) refere-se à identidade de projeto, na qual as causas sociais, culturais e políticas educativas defendidas servem como referência e afinidade para a aproximação de novos participantes. Assim, Ruzza (2020) explica 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 5/52 que um indivíduo pode pertencer a uma comunidade de vida e projetar-se em outra comunidade de destino. Essas identidades, conforme apontado por Ruzza (2020), desempenham um papel fundamental na constituição do ser surdo no contexto em que estão inseridos e em processo deIFSC (2007). Por último, apresentamos os sinais utilizados para representar os números ordinais, ou seja, em contextos nos quais a ordem é enfatizada: primeiro, segundo, terceiro etc. Figura 8 | Sinais para números ordinais. Fonte: IFSC (2007). 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 44/52 Vamos Exercitar? Agora, vamos retomar este questionamento apresentado anteriormente: como as variações linguísticas na Língua Brasileira de Sinais impactam a comunicação e a compreensão entre os usuários dessa língua, considerando aspectos regionais, culturais e históricos? As variações linguísticas na Língua Brasileira de Sinais desempenham um papel significativo na comunicação e compreensão entre os usuários dessa língua, sendo influenciadas por diversos fatores, como aspectos regionais, culturais e históricos. Assim como em línguas faladas, a Libras apresenta variações regionais, sendo que diferentes regiões do Brasil podem ter sinais distintos para representar conceitos similares. Além disso, aspectos culturais também influenciam as variações linguísticas na Libras, refletindo tradições, valores e expressões culturais nos sinais utilizados. Compreender essas nuances culturais é essencial para uma comunicação eficaz, demandando sensibilidade aos contextos culturais que podem afetar a interpretação dos sinais. As interações sociais também desempenham um papel nas variações linguísticas da Libras, com sinais específicos surgindo em ambientes informais, enquanto outros são mais comuns em contextos formais ou acadêmicos. A fluência na Libras envolve a compreensão e adaptação a essas variações sociais. Saiba Mais Para que você aprofunde seus estudos e amplie seu conhecimento das variações linguísticas na Libras e outros aspectos relevantes da Língua Brasileira de Sinais e o cotidiano da pessoa surda, indicamos o site librasol.com. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 45/52 https://www.librasol.com.br/ Nessa página, você encontrará notícias, estudos, artigos, dicionários e fontes para baixar gratuitamente e glossários específicos. Referências Bibliográficas GARCIA, A. K. C.; GUIMBA, A. C. Variação linguística no léxico da língua brasileira de sinais: uma abordagem teórica. In: V CONGRESSO PARAENSE DE EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2018, Marabá. Anais [...]. Marabá: Unifess, 2018. OLIVEIRA, R.; MARQUES, R. R. Uso da variação linguística na língua brasileira de sinais. Revista Diálogos: linguagens em movimento. Caderno Estudos Linguísticos e Literários, Cuiabá, ano 2, n. 1, 2014. ORSELLI, A. R. As variações linguísticas da língua brasileira de sinais. Revista Acadêmica Integra/Ação, v. 1, n. 1, jun. 2017. STROBEL, L. S.; FERNANDES, S. Aspectos Linguísticos da língua brasileira de sinais. Secretaria de Estado da Educação, Superintendência de educação. Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998. WITKOSKI, S. A.; MAESTRI, R. de C.; OLIVEIRA, G. M. de. A importância do estudo da variação linguística dentro da disciplina da Libras no ensino superior. Revista Transmutare, Curitiba, v. 4, e1910725, p. 1-14, 2019. Disponível em: https://www.porsinal.pt/index.php? ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=547. Acesso em 6 nov. 2024. WITKOSKI, S. A. Surdez e preconceito: a norma da fala e o mito da leitura da palavra falada. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 42, p. 565-575, set.-dez. 2019. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 46/52 https://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=547 https://www.porsinal.pt/index.php?ps=artigos&idt=artc&cat=23&idart=547 Encerramento da Unidade ASPECTOS LINGUÍSTICOS E CULTURAIS DA LIBRAS Videoaula de Encerramento Estudante, é com entusiasmo que lhe damos as boas-vindas a esta videoaula! É importante explorarmos as intricadas diferenças entre a cultura surda e a cultura ouvinte, destacando as características singulares que contribuem para a riqueza da diversidade humana e linguística. A compreensão desses elementos é essencial para uma prática profissional verdadeiramente inclusiva e sensível às nuances culturais. Prepare-se para uma experiência de aprendizado que ampliará seus horizontes e fortalecerá sua habilidade de valorizar e respeitar as diversas formas de expressão cultural e linguística. Estamos prontos para embarcar juntos nessa jornada transformadora! Bons estudos! 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 47/52 Ponto de Chegada Olá, estudante! Para desenvolver a competência de identificar e diferenciar as características da cultura surda e da cultura ouvinte, valorizando a diversidade humana e linguística dos usuários dessas línguas, é imperativo iniciar suas reflexões explorando os aspectos culturais inerentes à Língua Brasileira de Sinais (Libras). Desmistificar os mitos associados à Libras é fundamental, realçando não apenas sua complexidade linguística, mas também seu status linguístico legítimo como uma língua natural e completa, detentora de todos os aspectos gramaticais que a compõem. Nesse contexto, é necessário compreender as identidades surdas presentes na comunidade escolar e, consequentemente, na sociedade em geral, reconhecendo e respeitando a singularidade de cada indivíduo. Uma abordagem que valorize as experiências e perspectivas diversificadas fortalece a construção de um ambiente que genuinamente celebra a riqueza da diversidade. A investigação das associações e organizações voltadas aos surdos oferece uma oportunidade única para aprofundar-se nas dinâmicas culturais e sociais presentes na comunidade surda. Essas entidades se empenham na promoção de atividades culturais, no fortalecimento das identidades surdas e na criação de espaços de apoio e compreensão mútua. Ao incorporar o esporte para surdos, é vital considerar as variações linguísticas que permeiam a comunidade surda. O desenvolvimento de estratégias pedagógicas inclusivas, que levem em conta essas variações, possibilita a criação de um ambiente que não apenas 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 48/52 reconhece, mas também celebra as distintas formas de expressão linguística. É Hora de Praticar! Em um cenário educacional, um grupo de estudantes surdos, originários de diversas regiões do país, integra uma turma de educação bilíngue. Embora compartilhem a identidade surda, suas expressões linguísticas revelam notáveis variações, moldadas pelas particularidades das comunidades surdas de suas origens. Paralelamente, circulam mitos sobre a Língua Brasileira de Sinais, impactando de maneira adversa a comunicação entre os estudantes surdos e seus colegas ouvintes. Reflita Reflita Propomos algumas reflexões muito importantes: Como desmistificar os mitos associados à Língua Brasileira de Sinais de maneira eficaz, promovendo uma compreensão mais precisa e respeitosa da língua, tanto entre os surdos quanto na comunidade em geral? De que forma os aspectos culturais da comunidade surda podem ser integrados de maneira significativa ao ambiente escolar, incentivando a valorização da identidade surda e promovendo uma atmosfera mais inclusiva? Quais estratégias pedagógicas podem ser adotadas para incorporar e valorizar, as variações linguísticas presentes na comunidade surda, promovendo a participação ativa e igualitária de todos os estudantes? 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 49/52 No contextodas nuances apresentadas, surge uma preocupação: Como fomentar a compreensão e aceitação das variações linguísticas entre os estudantes surdos, considerando a riqueza cultural intrínseca a essas diferenças? Resolução do estudo de caso A criação de um ambiente educacional inclusivo que não apenas respeite, mas também celebre as identidades surdas dos estudantes requer a implementação de diversas estratégias. Em primeiro lugar, é fundamental promover a conscientização e a educação para a comunidade escolar, incluindo estudantes, professores e funcionários, da riqueza da cultura surda e a diversidade linguística presente nesse grupo. A disponibilização de recursos de acessibilidade, como intérpretes de Libras, materiais visuais e tecnologias assistivas contribui para uma comunicação eficaz e para o pleno engajamento dos estudantes surdos nas atividades escolares. Além disso, a incorporação de atividades que valorizem a cultura surda, como eventos culturais, palestras e apresentações, pode enriquecer o ambiente escolar e proporcionar momentos de celebração. Estabelecer parcerias com a comunidade surda local, trazendo membros dessa comunidade para participar de atividades na escola, é outra estratégia eficaz. Isso não apenas oferece modelos positivos para os estudantes surdos, mas também ajuda a construir pontes de compreensão entre a escola e a comunidade surda. Além disso, é essencial promover uma mentalidade inclusiva entre os estudantes ouvintes, incentivando a empatia, o respeito e a compreensão das diferenças. A criação de programas de mentoria entre estudantes surdos e ouvintes pode fomentar a integração e construir laços de amizade, contribuindo para a quebra de estigmas e preconceitos. Dê o play! 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 50/52 Assimile Com a finalidade de contribuir para seu aprendizado, apresentamos um mapa conceitual contemplando os conteúdos pertinentes a esta unidade. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Lei n°. 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2002. CHOI, D. et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 51/52 MARCUSCHI, L. A. Linguística de texto: o que é e como se faz? Delta: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 26, n. 1, 2010. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/19979. Acesso em: 12 fev. 2024. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. de. Língua de sinais brasileira: Estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 52/52formação. Segundo Gládis Perlin (2008), uma autora surda, a identidade surda é atribuída ao surdo que se envolve com a política surda, cujo comportamento, cultura e língua são determinados pela experiência visual. Aqueles que utilizam a língua de sinais têm consciência de sua surdez e a aceitam. Além de enfrentar dificuldades na compreensão da língua falada, são considerados como pertencentes a essa identidade surda. Por outro lado, aqueles que não se enquadram nesse perfil vivem como ouvintes e estão sujeitos a outra constituição de identidade. Apresentamos, a seguir, as classificações das identidades surdas segundo as autoras Perlin e Strobel (2008). Siga em Frente... Identidade surda flutuante A identidade surda flutuante pode ser identificada nas pessoas surdas que não estão conectadas com a comunidade e cultura surda. Esses indivíduos podem se sentir constrangidos devido aos estereótipos associados a eles, o que pode levá-los a recusar a utilização da língua de sinais e a rejeitar a presença de intérpretes de Libras. Muitas vezes, preferem assimilar-se ao mundo dos ouvintes, sentindo-se orgulhosos de sua habilidade oral e capacidade de fala. Infelizmente, essa atitude pode resultar em uma sensação de inferioridade em relação aos ouvintes, pois podem perceber dificuldades em acompanhar as nuances da cultura 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 6/52 predominante. Essa identidade pode apresentar variações em contextos diferentes. Identidade surda incompleta Essa população possui uma identidade distinta devido a uma característica que a diferencia da identidade surda tradicional. Essa distinção reside no fato de que a captação de mensagens por parte dessas pessoas não é exclusivamente baseada na experiência visual, que geralmente define a identidade surda. Apresentamos, a seguir, algumas características dessa população: Possuem certa porcentagem de surdez, mas conduzem suas vidas predominantemente como ouvintes. Para eles, o uso de aparelhos auditivos é crucial para facilitar a audição. Esses indivíduos surdos enfrentam desafios na busca por sua identidade, uma vez que não se enquadram completamente na categoria de surdos nem na de ouvintes, resultando em uma situação intermediária.Parte superior do formulário. Identidade surda de transição A integração dos surdos com a comunidade surda com frequência ocorre tardiamente, resultando na transição da comunicação visual- oral, muitas vezes de forma truncada, para a comunicação visual sinalizada. Durante esse processo, os surdos enfrentam um conflito cultural, evidenciado pelos seguintes aspectos: Eles vivenciam um momento de transição entre essas duas entidades comunicativas. Quando a imersão na cultura surda não ocorre na infância, o que é comum entre surdos filhos de pais ouvintes, a maioria deles precisa atravessar esse período de transição. Ao estabelecerem contato com a comunidade surda, esses indivíduos passam por um processo de des-ouvintização, 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 7/52 marcado pela rejeição da representação da identidade ouvinte. O percurso envolve uma mudança da comunicação visual/oral para a comunicação visual/sinalizada, sinalizando um caminho a ser percorrido nesse processo de adaptação e transformação. Identidade surda híbrida Os surdos que inicialmente eram ouvintes, mas ao longo do tempo perderam a audição devido a doenças, acidentes ou outros fatores, desenvolvem uma dualidade linguística, mantendo uma dependência tanto dos sinais quanto do pensamento na língua oral. Nesse contexto: Dependendo da idade em que a surdez se manifestou, esses indivíduos possuem conhecimento da estrutura do português falado, e ocasionalmente enviam ou recebem mensagens na forma da língua oral. Utilizam tanto a língua oral quanto a língua de sinais para compreender mensagens. Essa identidade é bastante distinta, pois alguns optam por não utilizar mais a língua oral, preferindo sempre a linguagem de sinais. Demonstram comportamentos típicos de pessoas surdas, como o uso de tecnologias adaptadas para surdos. Convivem harmoniosamente com as diferentes identidades surdas, integrando-se de maneira equilibrada nos contextos em que se encontram. Identidade surda pura A expressão identidade surda pura refere-se à vivência de uma pessoa surda que possui uma conexão profunda e exclusiva com a 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 8/52 comunidade surda e sua cultura. Essa identidade é muitas vezes caracterizada por: Uso primário da língua de sinais: Indivíduos com identidade surda pura frequentemente utilizam a língua de sinais como principal meio de comunicação. Essa escolha pode ser influenciada por fatores como a presença de pais surdos ou devido à imersão precoce na comunidade surda. Culturalização surda integral: Essas pessoas tendem a estar imersas na cultura surda desde cedo, participando ativamente de eventos, instituições e práticas que caracterizam a comunidade surda. Aceitação da surdez: A aceitação da surdez é central na identidade surda pura. Indivíduos que se identificam dessa forma frequentemente abraçam sua surdez como uma parte integral de quem são, sem tentativas de assimilação ao mundo dos ouvintes. Participação ativa na comunidade surda: Além do uso da língua de sinais, a participação ativa em eventos, organizações e atividades dentro da comunidade surda é uma característica comum dessa identidade. É importante destacar que a terminologia pode variar, e o conceito de identidade surda pura pode ser percebido de maneiras diferentes por diferentes pessoas surdas. Além disso, a diversidade dentro da comunidade surda significa que as experiências e identidades individuais podem variar consideravelmente. Vamos Exercitar? Agora, vamos retomar este questionamento apresentado anteriormente: como o conhecimento das diferentes identidades surdas pode influenciar a interação com o indivíduo surdo? 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 9/52 É fundamental estar ciente das preferências linguísticas individuais, reconhecendo que alguns surdos podem preferir a língua de sinais, enquanto outros optam por métodos de comunicação oral, o que possibilita uma abordagem mais sensível e adequada para garantir uma comunicação eficaz. Adaptar a comunicação conforme necessário é outra faceta importante. Isso pode envolver o uso de intérpretes de Libras, tecnologias assistivas ou ajustes na forma como nos comunicamos, garantindo que as interações sejam acessíveis e compreensíveis. Entender as experiências únicas enfrentadas pelos surdos, como estigmas, barreiras comunicativas e desafios diários, história de vida e a compreensão da própria surdez cultivará a empatia. Isso permitirá uma abordagem mais sensível e compreensiva em todas as interações. Ao reconhecer e valorizar as diferentes identidades surdas, contribuímos para um ambiente mais inclusivo, promovendo oportunidades iguais e garantindo que as necessidades individuais sejam consideradas. Saiba Mais Aprofunde seus estudos das identidades surdas e os aspectos heterogêneos da surdez, consultando o material Surdez e linguagem, em nossa biblioteca virtual. A autora faz uma reflexão sobre as visões médicas, fonoaudiológicas, sociais e (neuro) linguísticas da condição do surdo. Com base em pesquisas e em entrevistas com sujeitos surdos e seus familiares e educadores, a autora revela a importância de considerar múltiplos aspectos quando se trata desse tipo de deficiência, fugindo dos lugares-comuns e preconceitos. Indicamos: Parte 1 – A busca pela identidade e Parte 3– A heterogeneidade da surdez e suas implicações neurolinguísticas. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 10/52 https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/177963/epub/0?code=W0zeENxOREjtfRwsDAfZ9uyI6vqNNsiCOgiAj1NZCHXLIn6Gepiup51RErS67s/DjydhtNPwssCRi5O96J2U/A== https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/177963/epub/0?code=W0zeENxOREjtfRwsDAfZ9uyI6vqNNsiCOgiAj1NZCHXLIn6Gepiup51RErS67s/DjydhtNPwssCRi5O96J2U/A== Referências Bibliográficas HOLCOMB, R.; HOLCOMB, S.; HOLCOMB, T. Deaf culture our way: anecdotes from the deaf community. 3. ed. San Diego: Dawn Sign Press, 1997. PERLIN, G. O lugar da cultura surda. In: THOMAS, A. da S.; LOPES, M. C. (org.). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: Eduniscisc, 2004. PERLIN, G.; STROBEL, K. Fundamentos da educação de surdos. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. PESAVENTO, S. J. História & história cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. QUADROS, R. M. De; KARNOPP, L. Língua de sinais brasileira: estudos lingüísticos. Porto Alegre: ArtMed, 2004. RUZZA, M. L. F. de. Protagonismo surdo: currículo como construção da autoria. 2020. 290 f. Tese (Doutorado em Educação: Currículo) – Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Currículo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. SANTANA, A. P.; BERGAMO, A. Cultura e identidade surdas: encruzilhada de lutas sociais e teóricas. Educ. Soc., Campinas, v. 26, n. 91, p. 565-582, mai./ago. 2005. SANTANA, A. P. Surdez e linguagem. 5. ed. São Paulo: Summus, 2019. E-book. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 11/52 Aula 2 CULTURA SURDA Cultura surda Olá, estudante! Esta videoaula é dedicada à exploração da cultura surda. Vamos analisar as diferentes manifestações culturais presentes no cotidiano da pessoa surda. É dentro da cultura surda que atuam as diferentes identidades surdas e suas representações por meio da língua de sinais, da identidade surda, da utilização dos sinais pessoais, das comunidades e organização específicas da defesa da educação bilíngue, da valorização da arte, da cultura visual e da compreensão da história e conquistas. Não deixe de participar dessa experiência enriquecedora. Assista agora! Bons estudos! Ponto de Partida 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 12/52 Nesta aula sobre cultura surda, os conhecimentos e reflexões abrangem desde a língua de sinais até a complexidade da identidade surda, destacando a importância de organizações específicas e o papel vital do esporte nessa comunidade vibrante. Essa imersão não apenas enriquecerá sua compreensão cultural, mas também fornecerá ferramentas essenciais para uma prática profissional mais inclusiva e sensível. Ao longo do caminho apresentaremos questões fundamentais sobre como a língua de sinais molda a identidade, buscando entender qual o papel das organizações na promoção da inclusão e como o esporte para surdos supera as barreiras sociais. Também refletiremos se a sociedade atual influencia os surdos a renunciarem à sua identidade, buscando assimilar e dissimilar suas diferenças, tornando-as praticamente invisíveis, ou permite e possibilita espaços de interação e valorização da cultura surda. Convidamos você a refletir sobre esses pontos, pois eles serão os pilares das nossas discussões, incentivando uma análise crítica e aprofundada. Ao final da aula, o nosso foco será discutir esta questão: de que maneira as escolas e instituições têm adotado abordagens inclusivas que valorizam a língua de sinais e a cultura surda, contribuindo para uma formação identitária mais robusta? Usufrua dessa oportunidade ímpar de aprendizado. Bons estudos! Vamos Começar! Cultura surda As culturas são continuamente remodeladas conforme os grupos que as integram. Os surdos, enquanto uma minoria, estão em uma batalha pela inclusão de sua cultura no contexto social, buscando legitimidade. Segundo Lacerda (2009), o acesso ao conhecimento desprovido de consideração pela realidade cultural dos surdos não 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 13/52 propicia um desenvolvimento apropriado no âmbito sociolinguístico, podendo desencadear desajustes socioeducacionais. Ao nos aproximarmos da realidade surda por meio de vivências e estudos, podemos conjuntamente desvendar elementos culturais distintivos, os quais se revelam nas formas interativas dos surdos com a sociedade. A cultura, nesse contexto, oferece um espaço propício para novas reflexões e construções sociais e linguísticas, derivadas de experiências e convivências entrelaçadas e respeitosas entre as diversas entidades envolvidas. Esse processo reflexivo reflete não apenas traços culturais, mas também aspectos étnicos em um momento de transformação histórica. A cultura surda não se restringe ao uso da língua de sinais, mas perpassa uma série de valores, costumes e comportamentos que definem a convivência com os integrantes das comunidades surdas. São elementos fundamentais na construção da cultura surda: Língua de sinais: A língua de sinais é um elemento central da cultura surda, proporcionando uma forma única e rica de expressão. Identidade surda: Compreensão e aceitação da surdez como parte integral da identidade individual e coletiva. Sinais pessoais: Criação de sinais pessoais, expressões únicas que representam indivíduos dentro da comunidade surda. Comunidade e organizações: Participação em organizações específicas e a construção de uma comunidade que compartilha experiências e desafios comuns. Educação bilíngue: Promoção da educação bilíngue, envolvendo o aprendizado da língua de sinais e da língua escrita, para garantir uma educação inclusiva. Arte e cultura visual: Expressões artísticas, visuais e culturais únicas que refletem a criatividade e perspectivas da comunidade surda. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 14/52 História e conquistas: Consciência e celebração da história, conquistas e desafios enfrentados pela comunidade surda ao longo do tempo. A cultura surda, tal como a cultura ouvinte, é atravessada por valores, comportamentos e características próprias que compõem um grupo de surdos. Por meio dela, é possível processos de criação, dar sentido para as coisas e simbolizar o mundo. Assim, não podemos conceber a ideia de uma sem a outra. Além disso, é importante ressaltar que a cultura é singular: o ouvinte tem uma e os surdos outra, além de ser transmitida de geração a geração. O sinal pessoal Um aspecto cultural distintivo evidenciado pela língua de sinais é a atribuição de nomes visuais aos membros da comunidade surda. Além de possuir um nome escrito, cada pessoa surda é identificada por um nome visual que a comunidade surda utiliza na língua de sinais. Nesse contexto, a condição de não ouvir não é considerada uma deficiência, mas sim uma diferença. Os sujeitos surdos são percebidos como indivíduos dotados de singularidades originadas de sua percepção visual, conforme discutido por Karnopp (2004). Esse sinal deve ser criado e é dado por um surdo, sendo antiético ser batizado por um ouvinte, pois o batismo faz parte da cultura surda. O surdo, após observar as características da pessoa e conversar com ela, irá atribuir o sinal de identificação pessoal. Ele é usado como uma forma mais prática e visual de identificação das pessoas dentro da comunidade surda e ouvintes na sociedade. O sinal é atribuído a partir da observação detrês aspectos principais: Característica física, como rosto, cabelos, altura e corpo. Comportamento marcante, manias. Apelido. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 15/52 Quando uma pessoa surda se apresenta em Libras, é prático exibir seu sinal pessoal antes de soletrar o nome usando o manual do alfabeto, contribuindo, assim, para a construção da identidade surda e fortalecendo os laços com a comunidade. As associações e organizações As organizações e associações de surdos desempenham um papel essencial na promoção, preservação e fortalecimento da cultura surda em diversas esferas. Essas organizações, muitas vezes lideradas por membros da própria comunidade surda, são fundamentais para a criação de redes de apoio, defesa de direitos e o desenvolvimento de iniciativas que visam à inclusão e valorização da identidade surda. A busca por uma vida social compartilhada entre os surdos fortalece o sentido de comunidade, promovendo o uso da língua de sinais. Vamos explorar os tipos e a importância dessas organizações, de acordo com Strobel (2008 e 2016): Associações culturais e sociais: O objetivo é promover a cultura surda, proporcionar atividades sociais, eventos culturais e encontros que fortaleçam os laços comunitários, forneçam um espaço vital para a expressão e celebração da cultura surda, contribuindo para a construção de uma identidade coletiva e o compartilhamento de experiências. Organizações de defesa de direitos: A meta é em prol dos direitos dos surdos, incluindo acesso à educação de qualidade, serviços de saúde e igualdade de oportunidades. Essas organizações desempenham um papel fundamental na conscientização sobre questões específicas que afetam a comunidade surda e na defesa de políticas inclusivas e acessíveis. Instituições educacionais específicas para surdos: A proposta é oferecer educação inclusiva que valorize a língua de sinais e promova o desenvolvimento acadêmico, linguístico e cultural dos estudantes surdos, cuja importância contribui para 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 16/52 o fortalecimento da identidade surda ao proporcionar um ambiente educacional adaptado às necessidades específicas dos estudantes surdos. Grupos de apoio e empoderamento: Cria espaços para compartilhar experiências, oferecer suporte emocional e promover o empoderamento pessoal e coletivo, além de desenvolverem um senso de comunidade, permitindo que os surdos enfrentem desafios com o apoio de outros que compartilham vivências similares. Organizações culturais internacionais: Facilitam a colaboração e o intercâmbio cultural entre surdos de diferentes partes do mundo, ampliando as perspectivas culturais, promovendo a compreensão global da diversidade da cultura surda e fortalecendo a solidariedade internacional. Organizações de acesso à comunicação: Garantem que os surdos tenham acesso efetivo à informação por meio de interpretação em língua de sinais, legendagem e outras tecnologias assistivas, contribuindo para a igualdade de oportunidades ao remover barreiras comunicacionais, permitindo a participação plena na sociedade. Essa característica social impulsiona a convivência em comunidades surdas, envolvendo-se em associações de surdos, participando de atividades conjuntas, optando por estudar em uma mesma escola, formando tempos esportivos e participando de eventos esportivos. Siga em Frente... O esporte para surdos O esporte na comunidade surda representa um elemento cultural de extrema relevância. A participação organizada dos surdos em atividades esportivas remonta ao século XIX, conforme documentado por Sarmento (2013, p. 340), e pode-se observar que registros históricos evidenciam o início do envolvimento sistemático 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 17/52 dos surdos no esporte, destacando a importância cultural dessa prática ao longo do tempo. No início do século XX, muitas outras associações desportivas foram criadas ao redor do mundo. No Brasil, de acordo com Monteiro (2006), as associações desportivas tiveram sua origem no Grêmio Esportivo, fundado em 1930, no Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines). O Grêmio Esportivo do Ines foi responsável por elaborar ou adaptar regras de esportes e desportos, e organizar competições internas. Os eventos esportivos representavam ocasiões significativas de convívio e interação entre os surdos, promovendo a integração social dentro dessa comunidade. Impulsionados pelo desejo de retomar e expandir as oportunidades de convivência entre surdos, eles fundaram diversas associações de surdos em diferentes regiões do Brasil. Muitas dessas associações têm uma longa trajetória desde então. Algumas foram estabelecidas posteriormente e outras já não existem mais. Conforme observado por Monteiro (2006), essas associações são robustas organizações nas quais os surdos unem forças para defender seus direitos, consolidar sua cultura, conviver com seus pares e celebrar suas conquistas. O esporte frequentemente surge como uma forma de entretenimento durante jantares ou em competições exclusivas para surdos, nas quais o esporte é o destaque principal. Essa interação simbiótica entre eventos esportivos e associações de surdos é evidente, pois as associações surgiram em resposta aos eventos esportivos. Os jogos esportivos ocupam um papel tão central na vida dos surdos que foi necessário organizar as associações de maneira a supervisionar e promover esses eventos, considerando que frequentemente as atividades transcendem fronteiras municipais e estaduais. Diante dessas peculiaridades foi, então, percebida a necessidade de organizar as associações para eventos esportivos em instâncias 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 18/52 estaduais, fundando-se, assim, as federações esportivas. Parte superior do formulário As Surdolimpíadas tiveram sua origem no esforço de promover a participação esportiva e a competição entre atletas surdos, oferecendo-lhes uma plataforma global para demonstrar suas habilidades atléticas. A ideia inicial para a criação das Surdolimpíadas foi concebida por Eugène Rubens-Alcais, um educador surdo francês, durante o Congresso Mundial de Surdos em Milão, em 1924. A primeira edição oficial das Surdolimpíadas ocorreu em 1924, em Paris, França e desde então, o evento passou a ser realizado a cada quatro anos, seguindo um formato semelhantes aos Jogos Olímpicos. A realização regular desses jogos contribuiu significativamente para o fortalecimento da identidade surda no contexto esportivo e para a promoção da inclusão e compreensão global das habilidades atléticas dos surdos. Os surdoatletas não participam dos Jogos Paralímpicos. A decisão de separar os eventos para atletas surdos, como as Surdolimpíadas, dos Jogos Paralímpicos foi baseada em considerações específicas relacionadas ao desenvolvimento e à promoção de atividades esportivas para comunidades com necessidades distintas. O Comitê Paralímpico Internacional (IPC), responsável pelos Jogos Paralímpicos, e o Comitê Olímpico Internacional (COI), que lida com os Jogos Olímpicos, têm diferentes categorias e critérios para inclusão de atletas. Os atletas surdos são geralmente representados pelo Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD), que organiza as Surdolimpíadas. A separação permite que cada evento esportivo se concentre nas necessidades específicas de suas respectivas comunidades, garantindo a melhor promoção e desenvolvimento do esporte para cada grupo. Manifestações artísticas 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html19/52 As manifestações artísticas também desempenham um papel significativo na cultura surda. Por meio da dança, do teatro, da poesia e de outras formas de expressão, os surdos têm a oportunidade de compartilhar suas experiências e perspectivas de mundo. Os autores Skliar (2000) e Perlin (2004) observam que, se a base da cultura surda não estiver presente, dificilmente o sujeito surdo irá percorrer a trajetória de sua nova ordem, que será oferecida na pista das representações inerentes às manifestações culturais. A Libras desempenha um papel fundamental no contexto artístico, servindo como meio de comunicação e expressão para as criações artísticas. Assim, os aspectos linguísticos e culturais da Libras e da comunidade surda são intrinsecamente entrelaçados. Para compreender a cultura surda, torna-se relevante inferir como os surdos percebem o mundo, usam a sua língua de sinais, quais são suas ideias, quais crenças os constituem, quais são os costumes que eles têm e quais são suas práticas cotidianas. Os artefatos culturais são objetos e materiais produzidos em determinada cultura, influenciados por um povo, meio ou região. A produção de artefatos dentro da área da surdez é de extrema importância, uma vez que reconhece os surdos como cidadãos participantes de uma sociedade em sua maioria ouvinte. Isso levou os surdos a se unirem e formarem grupos a partir de experiências compartilhadas com seus pares. Essa união resultou na formação do que chamamos de comunidade surda, uma junção desses grupos em todo o país. Essa união estabelecida entre os surdos e seus pares linguísticos gerou o surgimento de artefatos culturais, que incluem experiências visuais, linguísticas, familiares, literatura surda, vida social e esportiva, artes visuais, políticas, materiais e experiências visuais. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 20/52 A literatura surda encarrega-se de resgatar as memórias das vivências surdas ao longo do tempo, abrange uma variedade de gêneros textuais, tais como poesia, história, piadas, literatura infantil, clássicos, fábulas, contos, romances, lendas, entre outras manifestações culturais, e abraça histórias autênticas e autocríticas, incorporando elementos cômicos para transmitir mensagens importantes de forma acessível (Morgado, 2011). Nessas narrativas, a língua de sinais desempenha um papel central, explorando questões de identidade e da cultura surda. Alguns desses relatos são expressos diretamente em língua de sinais, como declamações de poesias e outras formas de expressão artística. Escritores, poetas e pesquisadores surdos contribuíram significativamente para o cenário literário, publicando suas obras tanto em língua de sinais quanto em língua portuguesa, compartilhando modelos ricos de suas identidades culturais. Segundo Karnopp (2004, p. 6): Surdos reúnem-se frequentemente para contar histórias e, entre as preferidas, estão as histórias de vida, as piadas e aquelas que incluem elementos da cultura surda, com personagens surdos, com tramas que, em geral, envolvem as diferenças entre o mundo surdo e o ouvinte (Karnopp, 2004, p. 6). O humor é uma característica muito forte na literatura surda, sendo necessário ser fluente na língua de sinais para conseguir compreender algumas de suas sutilezas linguísticas (Morgado, 2011). O humor reflete a diversidade cultural e linguística únicas da comunidade surda. No âmbito da língua de sinais, como a Libras, o humor se desdobra de maneiras distintas, incorporando jogos de palavras visuais, trocadilhos e nuances gestuais. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 21/52 A ironia cultural surda é uma vertente comum, explorando situações cotidianas específicas da comunidade surda, proporcionando risadas de experiências comuns, desafios de comunicação ou aspectos únicos da cultura surda. A sátira linguística é outra abordagem, em que a língua de sinais se torna o foco de humor, explorando suas características gramaticais e estruturais de maneira divertida. Peças teatrais e performances humorísticas em língua de sinais são populares, destacando gestos, expressões faciais e movimentos corporais de maneira cativante. Desenhos humorísticos e quadrinhos também encontram espaço na literatura surda, utilizando a representação gráfica da língua de sinais para criar situações cômicas e envolventes. Essas formas de expressão humorística não apenas proporcionam entretenimento, mas também servem como veículo para promover a compreensão, construir identidade cultural e desafiar estereótipos. Assim, o humor na literatura surda transcende o simples riso, tornando-se uma ferramenta poderosa para comunicar, conectar e celebrar a singularidade da comunidade surda. É uma expressão artística enriquecedora que oferece uma perspectiva única, tanto para leitores surdos quanto para aqueles que buscam compreender a riqueza cultural e linguística dessa comunidade vibrante. Vamos Exercitar? No início da aula, indagamos: de que maneira as escolas e instituições têm adotado abordagens inclusivas que valorizam a língua de sinais e a cultura surda, contribuindo para uma formação identitária mais robusta? As escolas e instituições têm implementado diversas abordagens inclusivas para valorizar a língua de sinais e promover uma cultura surda mais significativa. Uma estratégia essencial é a integração da língua de sinais no currículo, reconhecendo-a como uma língua legítima e promovendo uma compreensão mais ampla da 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 22/52 diversidade linguística. A contratação de professores surdos também desempenha um papel importante, não apenas como educadores, mas como modelos a serem seguidos, proporcionando referências positivas em posições de autoridade e facilitando a diversidade linguística. A contratação de professores surdos também desempenha um papel importante, não apenas como educadores, mas como modelos a serem seguidos, proporcionando referências positivas em posições de autoridade e facilitando a comunicação por meio da fluência em língua de sinais. Além disso, as escolas organizam eventos culturais que destacam a riqueza da cultura surda, promovendo respeito, compreensão e valorização da identidade surda. Ao adotar práticas como essas, as instituições não apenas reconhecem a importância da língua de sinais e da cultura surda, mas também desempenham um papel essencial na formação de identidades fortes e positivas para os estudantes surdos. Saiba Mais Para que você aprofunde seus estudos, indicamos o site That Deaf Guy, criado por Matt Daigle, com a finalidade de compartilhar, por meio de tirinhas e charges de humor, a rotina de indivíduos surdos, relações entre pais e filhos, sorrisos e embaraços dessa cultura no cotidiano. O site apresenta três personagens que fazem parte da história em quadrinhos: Desmond é um designer gráfico surdo casado com Helen, uma advogada ouvinte, fluente em Língua de Sinais, que por vezes atua como intérprete. Cedric é o simpático filho do casal: com quatro anos, o pequeno transita com facilidade entre o mundo surdo e o mundo ouvinte. Uma família comum, que convive – entre piadas e frustrações – com os imperativos da surdez. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 23/52 https://handsail.net/home-tdg/ https://handsail.net/home-tdg/ Referências Bibliográficas LACERDA, C. B. F. O intérprete de libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação/Fapesp, 2009. KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. MORGADO,M. Literatura das línguas gestuais. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011. MONTEIRO, M. S. História dos movimentos dos surdos e o reconhecimento da Libras no Brasil. Campinas: Educação Temática Digital, 2006. PERLIN, G. O lugar da cultura surda. In: THOMAS, A. da S.; LOPES, M. C. (org.). A invenção da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2004. SARMENTO, F. Os surdos no desporto. In: COELHO, O.; KLEIN, M. (coord.). Cartografias da surdez: comunidades, línguas, práticas e pedagogia. Porto: Livpsic, 2013. SKLIAR, C. (org.). Educação e exclusão: abordagens socioantropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 2000. STROBEL, K. L. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: UFSC, 2008. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. 4. ed. Editora Florianópolis: UFSC, 2016. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 24/52 Aula 3 MITOS DA LIBRAS Mitos da Libras Esta videoaula é dedicada aos conceitos equivocados que cercam a utilização das línguas de sinais. No Brasil, definimos esse estudo como mitos da Libras. Naturalmente, com o passar dos anos a sociedade mudou sua maneira de compreender a surdez e isso resultou em novas concepções, terminologias mais adequadas e atitudes mais assertivas. No entanto, alguns conceitos encontram resistência e ainda, vez ou outra, aparecem nas interações com as pessoas surdas. Com a finalidade de esclarecê-los, convidamos você a participar desse momento de reflexão. Assista agora! Bons estudos! Ponto de Partida Boas-vindas ao estudo dos mitos da Libras! Este espaço foi cuidadosamente projetado para explorarmos, compreendermos e 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 25/52 desconstruirmos as diversas concepções equivocadas que cercam a Língua Brasileira de Sinais. Ao adentrarmos nessa jornada, será possível articular com outros aspectos que envolvem o ensino, o aprendizado e a utilização da língua de sinais. Os mitos da Libras são representações distorcidas que muitas vezes influenciam negativamente a percepção da comunidade surda e a valorização da língua de sinais. Mas quais são as raízes dessas representações distorcidas e como elas contribuem para a marginalização da Libras? Neste espaço, buscaremos desvendar esses equívocos, promovendo uma compreensão mais profunda e precisa da Libras. Será uma jornada de aprendizado mútuo, em que cada descoberta nos aproximará do objetivo maior: a construção de uma sociedade mais inclusiva e consciente. Para exercitarmos os nossos conhecimentos, ao final da aula buscaremos responder: como superar as representações distorcidas da Língua Brasileira de Sinais presentes na sociedade e muitas vezes no próprio ambiente educacional? Ao longo desse percurso, incentivamos a participação ativa, o diálogo aberto e o respeito pelas diferentes perspectivas. Este é um convite para desaprendermos juntos e construirmos conhecimento de forma colaborativa. Estamos empolgados com a oportunidade de desconstruir estereótipos, promover o entendimento genuíno e contribuir para um ambiente mais inclusivo e acolhedor para todos. Vamos embarcar em mais esta etapa do seu aprendizado. Vamos Começar! Os conceitos equivocados relacionados à Libras A Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhecida oficialmente no Brasil desde 2002, representa uma língua completa e complexa. A 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 26/52 desmistificação de equívocos e a correta utilização de terminologias são fundamentais para compreender a riqueza cultural e os aspectos linguísticos associados à Libras. Esses conceitos equivocados da surdez e das línguas de sinais recebem o nome de mitos. Vamos conhecê-los e desvelá-los. Mito: A língua de sinais é universal A Língua Brasileira de Sinais é específica do Brasil e não é universal, surpreendendo muitas pessoas ao descobrirem que cada país possui sua própria língua de sinais com vocabulário e organização distintos (Quadros; Karnopp, 2004). Assim como as línguas orais, as línguas de sinais são genuínas, e compreender essa realidade ajuda a explicar a diversidade existente. Da mesma forma que as línguas orais descendem do latim, como o italiano, português, espanhol e francês, as línguas de sinais também apresentam variações devido à evolução ao longo do tempo. Embora muitas línguas de sinais tenham origem na língua francesa, que foi fundamental para a educação de surdos, estudos indicam que, historicamente, línguas de sinais como a americana e a francesa têm menos de 30% de sinais semelhantes. De forma análoga, cada país tem seu próprio alfabeto manual.Parte superior do formulário É interessante destacar que também é possível encontrar mais de uma língua de sinais dentro do território nacional. Mito: a língua de sinais é o alfabeto manual Gesser (2009) destaca a importância de compreender que restringir a língua de sinais ao alfabeto manual representa uma visão limitada do potencial linguístico da Libras. A datilologia e o alfabeto manual, também conhecidos como alfabeto datilológico, têm um papel relevante na representação das letras do alfabeto, sendo úteis para soletrar nomes próprios, siglas ou termos que ainda não possuem sinais correspondentes na Libras. No entanto, deve-se reconhecer que a comunicação eficaz em Libras não se resume à soletração 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 27/52 manual de palavras. Assim como nas línguas orais, em que cada significado está ligado a um significante específico, em Libras a correspondência das “palavras” nas línguas orais é expressa por meio de “sinais” na língua de de sinais. Em uma conversa em língua portuguesa, não soletramos letra por letra, mas sim utilizamos as palavras, e da mesma forma, em Libras não ocorre a soletração letra por letra, mas sim a expressão dos significados por meio dos “sinais”. Mito: As línguas de sinais são icônicas De acordo com Quadros e Karnopp (2004), a iconicidade dos sinais seria quando a forma, o movimento e/ou a relação espacial construída pelo sujeito surdo na execução de um sinal da Libras propiciaria mesmo a um ouvinte sem o domínio da língua de sinais compreender seu significado. Alguns sinais, como CASA e BORBOLETA são considerados sinais icônicos, mas é preciso considerar que nem todos os sinais são icônicos. A maioria dos sinais são considerados arbitrários, ou seja, sem correlação visual com o seu significado, como o sinal de SUJO e BRINCAR. Mito: As línguas de sinais só expressam conceitos concretos Devido à crença equivocada de que a língua de sinais está limitada a sinais icônicos, algumas pessoas não conseguem conceber a capacidade da Libras de expressar conceitos abstratos que podem ser desafiadores de representar visualmente. No entanto, contrariando essa visão restritiva, as línguas de sinais têm a habilidade de expressar qualquer conceito, seja concreto ou abstrato, abrangendo diferentes níveis de complexidade e diversas áreas do conhecimento, incluindo discussões sobre política, filosofia, artes, cálculos matemáticos, entre outros. De acordo com Choi et al. (2011), até mesmo novos termos lexicais resultantes de mudanças culturais ou tecnológicas podem ser traduzidos para a Libras, como 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 28/52 é o caso dos sinais relacionados à covid-19, um termo recentemente incorporado ao vocabulário da língua portuguesa. Mito: As línguas de sinais são agramaticaise/ou linguisticamente inferiores Quando os ouvintes percebem que a Libras não inclui preposições e artigos, entre outros elementos, alguns tendem a interpretar, erroneamente, que se trata de um sistema linguístico inferior ou empobrecido, possivelmente carente de gramática. No entanto, essa noção é equivocada, pois, conforme evidenciado por Choi et al. (2011) e Quadros e Karnopp (2004), a Libras possui recursos linguísticos e gramaticais, que permitem marcar visualmente aspectos, normalmente, expressões por preposições, artigos e demais características das línguas orais. Quadros e Karnopp (2004) também enfatizam que há uma percepção de empobrecimento na Libras devido à ausência de vocabulário específico em certas áreas do conhecimento. No entanto, à medida que a Libras ganha maior destaque no ambiente escolar, há uma notável expansão do glossário de termos técnicos, seguindo a trajetória observada em outros países, como Estados Unidos e Canadá. É importante considerar que a língua de sinais foi, por muito tempo, proibida nas escolas, e as propostas de catalogação e divulgação de dicionários e glossários da Libras no Brasil são recentes, representando desafios para uma língua que foi reconhecida e permitida apenas recentemente. Contudo, de maneira alguma isso implica inferioridade. Siga em Frente... Uso inadequado de terminologias O uso de terminologias relacionadas à surdez, muitas vezes negligenciado, pode ter impactos significativos nas interações 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 29/52 cotidianas, na comunicação interpessoal causando situações de desconforto, bem como perpetuar estereótipos e preconceitos, contribuindo para a exclusão de grupos específicos. Por isso, é fundamental o estudo e a reflexão das terminologias corretas para referir-se aos indivíduos surdos e à língua de sinais, sobretudo em contextos técnicos e científicos. O uso inadequado de terminologias na Libras também se refere aos sinais imprecisos e gestos ofensivos, que devem ser evitados para promover um ambiente de respeito e inclusão. Observe algumas terminologias que já foram utilizadas e atualmente podem ser substituídas por termos mais adequados. Surdo x mudo x surdo-mudo O termo mudo para se referir a pessoas surdas não é mais recomendado, pois não é preciso nem respeitoso. A surdez não implica necessariamente a incapacidade de falar. Muitas pessoas surdas são capazes de falar ou optam por usar formas alternativas de comunicação, como a língua de sinais. O termo surdo-mudo é considerado desatualizado e inadequado, pois perpetua a ideia equivocada de que todas as pessoas surdas são incapazes de falar. Além disso, esse termo pode ser estigmatizante, sugerindo erroneamente uma limitação na capacidade de se comunicar. A terminologia correta e respeitosa para se referir a uma pessoa surda é simplesmente surdo ou pessoa surda. Se necessário, pode-se acrescentar informações adicionais sobre a forma de comunicação preferida da pessoa, como surdo que usa língua de sinais ou surdo que se comunica oralmente. Deficiente auditivo (DA) x Pessoa com deficiência auditiva 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 30/52 A escolha de utilizar a expressão pessoa com deficiência auditiva em vez de deficiente auditivo está relacionada a uma abordagem centrada na pessoa, que destaca a individualidade e humanidade da pessoa antes de sua condição ou características específicas. Enquanto o termo deficiente auditivo é uma linguagem centrada na deficiência, o termo pessoa com deficiência auditiva é conhecido como uma linguagem centrada na pessoa e visa promover respeito, inclusão e dignidade para as pessoas com deficiência. Ao usar a expressão pessoa com deficiência auditiva, enfatiza-se a identidade da pessoa como um todo, reconhecendo que a deficiência auditiva é apenas uma parte de quem ela é, mas não define sua totalidade. Essa escolha linguística visa evitar estigmatizações e preconceitos associados à deficiência, promovendo uma visão mais inclusiva e respeitosa. Deficiente auditivo x surdo A preferência pelo termo surdo em vez de deficiente auditivo muitas vezes está relacionada à busca por uma identidade cultural e linguística específica. A comunidade surda muitas vezes se identifica com uma cultura surda e uma língua de sinais, como a Língua Brasileira de Sinais. Para muitos surdos, a surdez não é vista apenas como uma deficiência, mas como uma parte integrante de sua identidade. Ao utilizar o termo surdo, destaca-se o pertencimento a uma comunidade específica e reconhece-se a surdez como uma característica intrínseca à identidade do indivíduo. Por outro lado, o termo deficiente auditivo pode ser percebido como mais clínico e médico, enfatizando a perda auditiva como uma deficiência em vez de uma parte da diversidade humana. É importante respeitar a escolha individual das pessoas e reconhecer que as preferências linguísticas podem variar. Algumas pessoas surdas podem preferir ser identificadas como surdas, 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 31/52 enquanto outras podem se sentir mais confortáveis com o termo deficiente auditivo. O respeito pela escolha de terminologia é fundamental para promover uma comunicação inclusiva e respeitosa. Características que garantem o status de língua à Libras Historicamente, a Libras foi vista por muitos como simples “gestos” ou como a “linguagem dos sinais”, “a linguagem dos surdos”, entre outras nomenclaturas equivocadas. Descontruir essas concepções e comprovar que a Libras é uma língua e que perpassa por todos os níveis linguísticos como qualquer outra língua tem sido uma tarefa árdua a estudiosos, pesquisadores, professores e comunidade surda (Streiechen; Kendrick, 2022) Dessa forma, algumas concepções da língua e suas características, adaptado de Marcuschi (2009): Representação do pensamento: A língua é o espelho do pensamento e as circunstâncias não afetam o seu funcionamento. Nessa concepção, prevalece a ideia de que, se alguém se expressa mal, é porque não pensa. Forma ou estrutura: A língua é um sistema de regras ou um sistema de signos (significante – parte acústica da palavra e significado – parte conceitual da palavra). Instrumento de comunicação: A língua é um código e é capaz de transmitir uma mensagem de um emissor a um receptor. Nessa concepção, a língua é tida como um instrumento de fácil manuseio. A transmissão de informações seria natural e a compreensão objetiva. Atividade sociointerativa: A língua é uma atividade que tem fundamentação cognitiva, sócio-histórica e sociointerativa. Segundo essa concepção, a língua não é autônoma nem abstrata. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 32/52 Há características fundamentais da Língua Brasileira de Sinais que a legitimam como língua, destacando sua evolução histórica, reconhecimento legal e características gramaticais e culturais. A Libras, estruturada no Brasil a partir do século XIX, proveniente do francês, foi oficializada como língua em 2002 pela Lei n° 10.436. O artigo 1º dessa lei regulamenta a Libras como meio legal de comunicação, destacando seu caráter linguístico com estrutura gramatical própria. A Lei n° 10.436, art. 1º, é clara quando diz que: Art. 1º – É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituium sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (Brasil, 2002). A Libras apresenta uma organização gramatical única que se diferencia das outras formas de comunicação. Quadros e Karnopp (2004) destacam que as línguas de sinais são modalidades gestuais-visuais em que a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos, apresentando princípios de construção semelhantes às línguas orais. A Libras, como todas as línguas, revela níveis linguísticos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, configurando-se como uma língua completa. A noção de língua é multifacetada, estabelecida por diferentes perspectivas teóricas, mas a Libras desempenha um papel fundamental como língua de sinais. Conforme apontado por Cecato (2017), a língua é um sistema que permite a comunicação entre 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 33/52 falantes, destacando sua natureza estruturada e constante, com o elemento social como componente fundamental. A Libras atua como língua de instrução e aprendizado para a comunidade surda, facilitando a comunicação, promovendo a inclusão e garantindo o acesso à educação de qualidade. Suas características fundamentam seu reconhecimento como uma língua essencial para a inclusão e comunicação eficaz entre surdos e ouvintes. Vamos Exercitar? Agora, vamos tratar sobre este questionamento apresentado anteriormente: como superar as representações distorcidas da Língua Brasileira de Sinais presentes na sociedade e muitas vezes no próprio ambiente educacional? Historicamente, a sociedade tendeu a perceber as línguas de sinais como formas inferiores de comunicação, comparadas às línguas orais, contribuindo para a crença de que a Libras seria uma língua empobrecida. No contexto educacional, a predominância do modelo médico de surdez, que enfatiza a deficiência e a necessidade de correção, também contribuiu para a marginalização da Libras. A falta de reconhecimento oficial da língua de sinais em diversos espaços, incluindo instituições educacionais, perpetuou o estigma de que a comunicação por meio de sinais seria uma forma menos válida de expressão. A superação dessas representações distorcidas exige uma abordagem abrangente e colaborativa. Em primeiro lugar, é fundamental promover a conscientização e a educação a respeito da 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 34/52 Libras, destacando sua complexidade gramatical, sua riqueza cultural e a capacidade de expressar nuances linguísticas. Isso pode ser feito por meio de iniciativas educacionais, campanhas de sensibilização e inclusão da temática nos currículos escolares. Além disso, é essencial combater estereótipos e preconceitos, desafiando a ideia de inferioridade associada à Libras. Incentivar o uso da língua em diversos contextos sociais e valorizar as expressões artísticas, literárias e culturais em Libras são estratégias poderosas para construir uma visão mais positiva e enriquecedora da língua. A promoção de políticas inclusivas e o reconhecimento oficial da Libras como língua de direitos e garantias são passos cruciais para combater a marginalização. Essas medidas podem ocorrer por meio de legislações específicas, adaptações curriculares que valorizem a educação bilíngue e a criação de ambientes educacionais verdadeiramente inclusivos. Saiba Mais Aprofunde seus estudos consultando a Unidade 2 (páginas 45 até 64), da obra Língua brasileira de sinais: libras, de Silva (2015). Nesse estudo, o autor aborda os aspectos linguísticos e culturais da Libras, de um ponto de vista inusitado que, ao mostrar como as coisas funcionam na prática, possibilita ao leitor um processo intensivo (e real) da aprendizagem. O livro está disponível em nossa Biblioteca Virtual. Referências Bibliográficas 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 35/52 https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/35534/pdf/0?code=LGR2QhfxwsaV1d2BSSic0eXPSZXlc61cKJy2MrUZP3tSN3srEwE73e3GzHo3mttNnFowxAAb6oqSuw/paLABFw== BRASIL. Ministério da Educação. Lei n°. 10.436, de 24 de abril de 2002. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2002. CECATO, C. Introdução aos fundamentos teóricos da linguística. Curitiba: InterSaberes, 2017. CHOI, D. et al. Libras: conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. GESSER, A. Libras? Que língua é essa? Crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009. MARCUSCHI, L. A. Linguística de texto: o que é e como se faz? Delta: Documentação e Estudos em Linguística Teórica e Aplicada, v. 26, n. 1, 2010. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/19979. Acesso em: 12 fev. 2024. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. de. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. SILVA, R. D. (org.). Língua brasileira de sinais: libras. São Paulo: Pearson, 2015. E-book. STREIECHEN, E. M.; KENDRICK, D. Aspectos linguísticos da Libras. In: LEMKE, C. K.; ANGELO, M. P.; COSTA, L. T. da (org.). Debates contemporâneos na área da linguagem: diversidade e multiculturalismo. 1. ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2022. Aula 4 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 36/52 https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/19979 Variações linguísticas Esta videoaula é dedicada ao estudo das variações linguísticas presentes na Língua Brasileira de Sinais, que contribui para a pesquisa linguística e para o entendimento mais aprofundado da estrutura da língua visando à comunicabilidade com eficiência. O reconhecimento, o respeito e a valorização da diversidade linguística existente na comunidade surda garantem que todos tenham acesso à informação, ao conhecimento, à aprendizagem e participem plenamente da vida cultural e social. Bons estudos! Ponto de Partida Boas-vindas ao estudo das variações linguísticas na Libras! As variações linguísticas desempenham um papel fundamental na comunicação, refletindo a diversidade cultural e social de diferentes comunidades ao redor do mundo. Essas variações não apenas enriquecem a forma como nos expressamos, mas também são essenciais para a preservação das identidades culturais e étnicas. Cada região, grupo étnico e comunidade tem suas próprias formas de falar, expressar emoções e transmitir significados. Isso contribui 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 37/52 para a riqueza da diversidade linguística, que, por sua vez, está intrinsecamente ligada à identidade individual e coletiva. Além disso, as variações linguísticas desempenham um papel vital na expressão criativa. Elas oferecem uma paleta rica de expressões que podem capturar nuances e detalhes que seriam perdidos em uma linguagem mais padronizada. Essa expressividade contribui para a evolução contínua das línguas, acompanhando as mudanças sociais, culturais e tecnológicas. No entanto, será que nas línguas de sinais, mais especificamente na Libras, a presença das variações linguísticas é fator preponderante na comunicação? Como o surdo utiliza, ou não, a variação linguística na língua de sinais? Será que há semelhanças com as variações da língua portuguesa? Ao refletir sobre esses aspectos, promovemos a inclusão social e combatemos preconceitos associados à forma como as pessoas falam, o que é essencial para criar sociedades mais justas e abertas à diversidade. A compreensão das variações linguísticastambém é decisiva para facilitar a comunicação intercultural em um mundo cada vez mais globalizado. Valorizar essas diferenças linguísticas contribui para uma comunicação mais eficiente e significativa em contextos diversos. Sabendo disso, ao final desta aula, focaremos nesta questão: como as variações linguísticas na Língua Brasileira de Sinais impactam a comunicação e a compreensão entre os usuários dessa língua, considerando aspectos regionais, culturais e históricos? Bons estudos! Vamos Começar! Variações linguísticas Sabe-se que na língua portuguesa existe a variação linguística e que ela se refere às mudanças que acontecem com a língua 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 38/52 decorrentes de alguns fatores, como o espaço, o tempo, o nível cultural e a situação de comunicação que cada pessoa se manifesta. Assim, as variações linguísticas são objeto de estudo na linguística, proporcionando percepções valiosas da evolução e da estrutura das línguas (Orselli, 2017, p. 3). As variações linguísticas geográficas, históricas e sociais estão presentes em todas as línguas, sejam elas orais ou visuais, como é o caso das línguas de sinais. Na Libras, as variações linguísticas também acontecem, e é comum encontrarmos dialetos, reforçando, assim, o seu status de língua natural. Vamos considerar as variações linguísticas na Libras abordadas por Strobel e Fernandes (1998). Acompanhe adiante! Siga em Frente... Variação diatópica A variação diatópica, também conhecida como variação regional ou geográfica, está presente em todas as formas de expressão linguística, seja na oralidade de uma língua ou na língua de sinais. No contexto da língua portuguesa, essa variação ocorre quando há diferentes termos utilizados para se referir ao mesmo conceito, dependendo da região analisada. Dessa forma, as diferentes designações para um mesmo objeto linguístico são influenciadas pelo local do emissor do discurso. Exemplos: Pipa x pandorga x papagaio. Semáforo x farol x sinal x sinaleiro. Bolita x burquinha x bolinha de gude. Em Libras, variações diatópicas também acontecem. Observe a variação na emissão do sinal da conjunção adversativa mas, dependendo da região em que o discurso acontece. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 39/52 Figura 1 | Variação na emissão do sinal da conjunção adversativa mas. Fonte: Strobel e Fernandes (1998). Observam-se, também, as variações diatópicas nos sinais de VERDE, BRANCO e ABACAXI, entre outros. Variação diacrônica A variação diacrônica é a variante linguística que se refere às nuances históricas, pois estão associadas a mudanças ao longo do tempo cronológico. A evolução diacrônica é responsável por termos como você serem utilizados para se dirigir diretamente ao interlocutor. Essa palavra passou por diversas modificações ao longo do tempo até se consolidar como tal: Vossa mercê Vosmecê Vossemecê Vosmecê Vomincê Vancê Você Ocê Cê Vc Essa variação resulta do transcorrer do tempo, uma vez que a língua está em constante evolução, impulsionada pela criatividade dos falantes, que buscam novas expressões para uma comunicação mais eficaz. Em Libras, destacamos a mudança no sinal de JUNHO. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 40/52 Figura 2 | Mudança no sinal de junho. Fonte: Witkoski, Maestri e Oliveira (2019). É fundamental ressaltar que boa parte das inovações linguísticas não perdura, o que reforça a importância de observar a estabilização das formas faladas e escritas somente ao longo do tempo. Variação diastrática A variação diastrática é entendida como aquela que diz respeito às variações linguísticas associadas a diferentes grupos sociais, levando em consideração fatores como idade, gênero, classe social, profissão, entre outros. Podemos destacar o uso de gírias ou expressões específicas por jovens de determinada região que podem não ser comuns entre pessoas mais velhas ou de outra classe social: Linguagem médica. Linguagem dos advogados. Linguagem dos surfistas. Em Língua Brasileira de Sinais, a variação diastrática se reflete em alterações nas configurações das mãos e/ou no movimento do sinal, sem, no entanto, modificar seu significado semântico. Os demais parâmetros fonológicos, como ponto de articulação, movimento, orientação/direção e expressão não-manual (ENM) permanecem constantes. É possível observar diferentes formas de expressar o sinal da palavra avião em situações que envolvem maior ou menor grau de formalidade/informalidade, destacando a diversidade de desempenho nesse contexto linguístico. 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 41/52 Figura 3 | Variação no sinal para a palavra avião. Fonte: Strobel e Fernandes (1998). Variação diafásica A variação diafásica é quando as variações linguísticas ocorrem de acordo com o contexto ou situação comunicativa, ou seja, a linguagem varia conforme o ambiente, o propósito da comunicação, da formalidade/informalidade, ou seja, ao falar com o chefe em uma videoconferência sobre relatórios importantes, a tendência é usar a língua de modo mais formal. Mas, se estivermos entre colegas de trabalho em um happy hour, na sexta-feira à noite, o vocabulário utilizado será mais informal. Essas variações acontecem por causa do contexto da comunicação, ou seja, o local e a ocasião determinam se devemos falar de maneira mais formal ou informal com a pessoa com quem estamos interagindo. E, aí? Beleza? Tipo isso. Valeu! Estamos gratos pela presença de todos. Na Libras, durante a apresentação de um trabalho acadêmico em sala de aula, é comum observar o uso de sinais mais formais, acompanhados por uma expressão facial neutra. Nesse contexto, a comunicação busca transmitir seriedade e foco no conteúdo discutido. Em contrapartida, em situações informais, como uma conversa entre amigos, a abordagem é diferente. É evidente a utilização de sinais mais descontraídos, expressões faciais mais expressivas e gestos informais, contribuindo para uma interação mais relaxada e amigável. Essa flexibilidade na linguagem de sinais 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 42/52 destaca como a variação diafásica em Libras se adapta aos diferentes cenários e propósitos comunicativos. Variação numérica A variação numérica na Língua Brasileira de Sinais diz respeito à maneira como os números são representados e expressos por meio dos sinais (configuração da mão e movimento). Ressalta-se a importância de conhecer os sinais específicos para os diferentes contextos comunicativos envolvendo aspectos numéricos. Sinais utilizados para representar numerais como código representativo: número de documentos, telefone, número da casa ou ônibus, entre outros. Figura 4 | Sinais utilizados para numerais. Fonte: IFSC (2007). Sinais utilizados para representar quantidade. Tudo aquilo que pode ser “contado”: objetos, dias, entre outros. Figura 5 | Sinais utilizados para quantidade. Fonte: IFSC (2007). 16/02/2025, 12:49 Aspectos Linguísticos e Culturais da Libras https://alexandria-html-published.platosedu.io/29ab641a-11be-4be8-9391-3d24d2baab6c/v1/index.html 43/52 Na imagem seguinte, é possível observar a diferença no movimento. Esses sinais são utilizados para indicar o horário (mas não a duração). Figura 6 | Sinais utilizados para horário. Fonte: IFSC (2007). Sinais utilizados para representar numerais em contexto monetário brasileiro: preços e valores em reais. Figura 7 | Sinais para preços e valores reais. Fonte: